SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 5
Descargar para leer sin conexión
DIÁRIO DA REVOLTA

                                “O povo não é carneiro. De vez em quando, é bom a negrada saber morrer como homem.
                                Tem que mostrar ao governo que ele não põe o pé no pescoço do povo.”
                                                                                                                A Tribuna

                               10 DE NOVEMBRO                                                                      12 DE NOVEMBRO
                                    A polícia, que recebera ordens de proibir reuniões públicas,                        Cerca de 4 mil pessoas comparecem à sede da Liga. Vicente de Souza,
                                tenta prender um grupo de estudantes que pregava resistência à                      Lauro Sodré e Barbosa Lima discursam, conclamando o povo à
                                vacinação. A população reage com pedradas e é espancada.                            resistência, mas aconselhando prudência. A multidão sai em passeata em
                                Ocorrem as primeiras prisões.                                                       direção ao Catete, fortemente guardado. Rodrigues Alves convoca os
                                                                                                                    militares para intervir na rebelião.

                                                                                                                   13 DE NOVEMBRO
                                                                                                                        O conflito generaliza-se e assume um caráter mais violento.
                                                                                                                    A multidão lota a Praça Tiradentes e não atende à ordem de dispersar.
                                                                                                                    A cavalaria investe e o local se torna uma praça de guerra. Tiros partem
                                                                                                                    dos dois lados. A luta se espalha pelas ruas adjacentes. Pessoas caem
                                                                                                                    mortas e feridas. A população incendeia bondes, quebra combustores da
                                                                                                                    iluminação e vitrines de lojas. O centro da cidade enche-se de barricadas.
                                                                                                                    Prostitutas da Rua São Jorge entram em
                                                                                                                    choque com a polícia. O povo ataca
                                                                                                                    delegacias e o quartel da Cavalaria na
                                                                                                                    Frei Caneca. Os distúrbios se
                                                                                                                    espalham e chegam à
                                                                                                                    Tijuca, Gamboa, Saúde,
                                                                                                                    Botafogo, Laranjeiras,
                                                                                                                    Catumbi, Rio Comprido
                                                                                                                    e Engenho Novo.

“Guerra Vacino Obrigateza.”
O Malho, outubro de 1904.
Autor: Leônidas.               11 DE NOVEMBRO
Acervo Casa de Oswaldo Cruz.
                                    A população acorre em massa para o Largo de São Francisco, onde estava
                                previsto um comício da Liga contra a Vacinação Obrigatória. Forças policiais e
                                militares ocupam o local. O confronto é inevitável. A cavalaria investe contra a
                                multidão, de sabre em punho, ferindo pessoas e obrigando o fechamento do
                                comércio. O tumulto se generaliza e atinge outras áreas do centro.                    “Vacina Obrigatória.” Correio do Brasil, outubro de 1904.
                                                                                                                             Autor: Leônidas. Acervo Casa de Oswaldo Cruz.
DOMINGO SANGRENTO

                                                      14 DE NOVEMBRO
                                                                  Os choques começam na madrugada,
                                                              concentrando-se principalmente no distrito do
                                                              Sacramento (proximidades da Praça Tiradentes)
                                                              e na Saúde. As barricadas do centro da cidade, reforçadas
                                                              por carroças da limpeza pública, resistem às investidas.
                                                              A polícia ataca e é rechaçada à bala. A população
                                                              incendeia e quebra bondes, ataca a barca de
                                                              Petrópolis e assalta lojas de armas.
                                                                  Na Saúde, cerca de 2 mil manifestantes
                                                              entrincheiram-se na Praça da Harmonia. Revoltosos
                                                              investem contra duas delegacias. O tiroteio estende-se
                                                              por todo o dia. O povo ataca uma fábrica
                                                              de velas em São Cristóvão, o Moinho Inglez na Gamboa                                                         “Na noite de 14.” O Malho, novembro de 1904.
                                                                                                                                                                           Acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa.
                                                              e os gasômetros do Mangue, Vila Isabel e Botafogo.
                                                                  Oficiais dissidentes reúnem-se no Clube Militar com as lideranças
                                                              da Liga. À saída, Vicente de Souza é preso. À noite, o major Gomes de Castro e o empresário
                                                              monarquista Pinto de Andrade são detidos ao tentar sublevar a Escola Preparatória e
                                                              Tática do Realengo. O general Travassos, o senador Lauro Sodré e os deputados Barbosa Lima
                                                                                                        e Alfredo Varela levantam a Escola Militar da Praia Vermelha.
                                                                                                            Cerca de 300 cadetes saem da Escola em direção ao Palácio
                                                                                                        do Governo para depor o presidente. No caminho, recebem a adesão
                                                                                                        de um esquadrão da Cavalaria e uma companhia de Infantaria.
                                                                                                        Na Rua da Passagem, encontram-se com as tropas governamentais.
                                                                                                        Segue-se um intenso tiroteio. O general Travassos sofre ferimentos
                                                                                                        graves e morre dias depois. Lauro Sodré também é atingido.
                                                                                                        A debandada é geral. Os cadetes retornam à Praia Vermelha.
                                                                                                        O governo tivera 32 baixas, nenhuma fatal.
                                                                                                        Os rebeldes, três mortos e sete feridos.




   Grupo de cadetes da Escola Militar em 1904. Acervo particular.
O PRATA PRETA

                15 DE NOVEMBRO
                      Três couraçados e dois cruzadores
                 postam-se à frente da Escola da Praia
                 Vermelha. O Deodoro dispara contra a laje
                 da Urca. Os cadetes depõem as armas.
                 Estava debelado o levante militar.
                      O conflito continua. Os maiores focos
                 ainda são o Sacramento e a Saúde.
                 As trincheiras resistem. Persistem os ataques                                                           “Relíquias de Porto Arthur.”
                                                                                                                          O Malho, dezembro de 1904.
                 às delegacias policiais, ao gasômetro,                                                                  Acervo Casa de Oswaldo Cruz.

                 às lojas de armas. Cerca de 600 operários têxteis de três fábricas do Jardim
                 Botânico investem contra seus locais de trabalho e contra uma delegacia e
                 formam barricadas. Estivadores e foguistas percorrem empresas de navegação,
                 intimando-as a suspender os serviços. Os choques se estendem ao Méier,
                 Engenho de Dentro, Encantado, Catumbi, São Diogo, Vila Isabel, Andaraí,
                 Aldeia Campista, Matadouro e Laranjeiras.
                      Na Saúde, chamada pelos jornais de Porto Arthur, em referência à resistência
                 daquela fortaleza durante a guerra russo-japonesa, destaca-se a figura de
                 Horácio José da Silva, o Prata Preta, comandando as barricadas. Jornalistas
                 visitam as trincheiras na praia, na Rua da Harmonia e no Morro do Livramento
                 e descrevem a “multidão sinistra, de homens descalços, em mangas de camisa,
                 de armas ao ombro uns, de garruchas e navalhas à mostra”.
                      Chegam os batalhões de Minas e São Paulo. A polícia pede à
                 Marinha que ataque os rebeldes da Saúde pelo mar. Famílias começam
                  a fugir com medo do bombardeio.




                                                                                  “O Porto Arthur da Saúde.”
                                                                                  O Malho, novembro de 1904.
                                                                                  Acervo Fundação Casa de Rui Barbosa.
ESTADO DE SÍTIO

                                                                     16 DE NOVEMBRO
                                                                          É decretado o estado de sítio. No Sacramento continuam
                                                                      os choques entre a população e a polícia, mas com menor intensidade.
                                                                      No Jardim Botânico, os rebeldes assaltam bondes e tomam a delegacia.
                                                                      A fábrica de tecidos Confiança, em Vila Isabel, é atacada.
                                                                          As atenções voltam-se para a Saúde. A polícia prepara uma
                                                                      emboscada e prende Prata Preta. Este oferece feroz resistência,
                                                                      matando um soldado e ferindo gravemente dois agentes,
                                                                      e é brutalmente espancado.
                                                                          O Deodoro toma posição em frente ao Mercado Velho. Tropas
                                                                      do Exército e da Marinha invadem a Saúde e encontram as trincheiras
                                                                      abandonadas. “Nem um tiro, um único tiro, foi empregado no ataque
                                                                      e na ocupação do famoso reduto. À última hora, verificou-se que a
                                                                      fortaleza, suas trincheiras (...) não passavam de uma formidável
                                                                      blague”, conta o repórter de A Notícia.
                                                                          O governo revoga a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola.

                                                                     O DIA SEGUINTE
                                                                          O governo retoma o controle da cidade, que está em ruínas.
                                                                      Em todos os lugares, há marcas da revolta. Os delegados de polícia
                                                                      começam a varrer as ruas, realizando prisões em massa. Acontecem
                                                                      alguns incidentes esparsos: um tiroteio numa pedreira do Catete
                                                                      no dia 18, ataque a uma fábrica e alguns quebra-quebras no dia 19.
                                                                      O Apostolado Positivista e algumas entidades classistas, como a
                                                                      Sociedade União Operária dos Estivadores, procuram os jornais,
                                                                      negando qualquer associação com a rebelião.



                                                                                                                                              Acima, “Na prensa nacional”.
                                                                                                                                              A Avenida, dezembro de 1904.
                                                                                                                                              Acervo Fundação Casa de Rui Barbosa.




                                                                                                                                              “Dois emblemas.” O Malho,
                                                                                                                                              novembro de 1904.
   Mapa da Revolta da Vacina. Acervo Fundação Casa de Rui Barbosa.                                                                            Acervo Casa de Oswaldo Cruz.
A CAMINHO DO ACRE

                                           “Um progresso! Até agora se fazia isto sem ser preciso estado de sítio; o Brasil
                                           já estava habituado a essa história. (...) Creio que se modificará o nome: estado
                                           de sítio passará a ser estado de fazenda. De sítio para fazenda, há sempre
                                           um aumento, pelo menos no número de escravos.”
                                                                                                                        Lima Barreto

                                         TRINTA MORTOS, 110 feridos hospitalizados, 945 presos,
                                           sendo 461 deportados – este foi o saldo da Revolta.
                                                Os cadetes foram embarcados para o Rio Grande do Sul e distribuídos pelos postos da
                                           fronteira. Ao fim do ano, foram excluídos do Exército e a Escola da Praia Vermelha foi
                                           desativada. Das lideranças civis, só quatro foram processadas: Vicente de Souza, Alfredo Varela,
                                           Pinto de Andrade e Artur Rodrigues.
                                                Mas foi sobre a população pobre que a repressão se exerceu de forma brutal. A polícia
                                           aproveitou a oportunidade para limpar a cidade, prendendo pessoas a torto e a direito pelas ruas.
                                           Bastava ser maltrapilho ou não ter residência e emprego fixo. Seu destino era cruel: enviadas à Ilha
                                           das Cobras, espancadas, amontoadas em navios-prisão e, sem as mínimas condições de higiene
                                           e alimentação, deportadas para o Acre, a fim de trabalhar nos seringais. Muitos não resistiram à
                                           viagem. Em 2 de setembro de 1905, todos os participantes da Revolta foram anistiados. Os cadetes
                                           retornaram às fileiras militares. Já os deportados para o Acre... Estes, como disse Euclides
                                           da Cunha, “levavam a dolorosíssima missão de desaparecerem”.

                                         NOS DOIS PRIMEIROS MESES DE 1907, somente
                                           duas pessoas morreram do mal amarílico no Rio de Janeiro. Em março, Oswaldo Cruz
                                           informava ao governo: “A febre amarela já não devasta, sob a forma epidêmica, a
                                           capital da República”. O sucesso de suas campanhas sanitárias começava a virar a
                                           opinião pública a seu favor. Mas sua consagração só veio com o reconhecimento
                                           internacional. Em 1907, o XIV Congresso de Higiene e Demografia de Berlim
                                           concedeu a Oswaldo Cruz e ao Instituto de Manguinhos a medalha de ouro
                                           pelas campanhas de saneamento do Rio. O cientista virava herói nacional. Em
                                           1908, nova epidemia de varíola devastou o Rio de Janeiro, matando mais de
                                           6 mil pessoas. A população acorreu em massa para os postos de vacinação...
Medalha de ouro recebida por Oswaldo
    Cruz no XIV Congresso de Higiene
       e Demografia, em Berlim, 1907.
        Acervo Casa de Oswaldo Cruz.
                                           “Nenhuma vitória mais bela registra a nossa história, porque
                   “Cólera de Bexiga.”
                                           nenhuma jamais foi tão humana nas suas conseqüências, nem mais
            O Degas, outubro de 1908.
                       Autor: Calixto.
                                           brilhante na demonstração da nossa energia e capacidade científica.”
        Acervo Casa de Oswaldo Cruz.                                                                    Lauro Muller

Más contenido relacionado

Destacado

Semninário Febre Amarela
Semninário Febre AmarelaSemninário Febre Amarela
Semninário Febre AmarelaNathy Oliveira
 
NoSQL误用和常见陷阱分析
NoSQL误用和常见陷阱分析NoSQL误用和常见陷阱分析
NoSQL误用和常见陷阱分析iammutex
 
Influence of foreign portfolio investment on stock market indicators
Influence of foreign portfolio investment on stock market indicatorsInfluence of foreign portfolio investment on stock market indicators
Influence of foreign portfolio investment on stock market indicatorsIAEME Publication
 
Social Media B2B Expert Class
Social Media B2B Expert ClassSocial Media B2B Expert Class
Social Media B2B Expert ClassEnergize
 
Cepal presentacion para el salvador
Cepal presentacion para el salvadorCepal presentacion para el salvador
Cepal presentacion para el salvadorASI El Salvador
 
Categorizacio¦ün de energi¦üas renovables
Categorizacio¦ün de energi¦üas renovablesCategorizacio¦ün de energi¦üas renovables
Categorizacio¦ün de energi¦üas renovablesASI El Salvador
 
รูปแบบการให้สุขศึกษาผู้ป่วยโรคหลอดเลือดสมอง
รูปแบบการให้สุขศึกษาผู้ป่วยโรคหลอดเลือดสมองรูปแบบการให้สุขศึกษาผู้ป่วยโรคหลอดเลือดสมอง
รูปแบบการให้สุขศึกษาผู้ป่วยโรคหลอดเลือดสมองDMS Library
 
Влад Андрусенко “Мобільний маркетинг для e-commerce”
Влад Андрусенко “Мобільний маркетинг для e-commerce”Влад Андрусенко “Мобільний маркетинг для e-commerce”
Влад Андрусенко “Мобільний маркетинг для e-commerce”Lviv Startup Club
 
01 vive arlanza. mayo 2014 r
01  vive arlanza. mayo 2014 r01  vive arlanza. mayo 2014 r
01 vive arlanza. mayo 2014 rJuan Carlos Utiel
 
Sistemas operativos y correo electrónico
Sistemas operativos  y correo electrónicoSistemas operativos  y correo electrónico
Sistemas operativos y correo electrónicorichardpel
 
Europa Destinazioni Low Cost Su Mxp
Europa   Destinazioni Low Cost Su MxpEuropa   Destinazioni Low Cost Su Mxp
Europa Destinazioni Low Cost Su MxpGianfranco Conti
 

Destacado (20)

Módulo 1
Módulo 1Módulo 1
Módulo 1
 
Modulo 1
Modulo 1Modulo 1
Modulo 1
 
Ed06 art01
Ed06 art01Ed06 art01
Ed06 art01
 
M8
M8M8
M8
 
Febre amarela no Brasil
Febre amarela no BrasilFebre amarela no Brasil
Febre amarela no Brasil
 
Semninário Febre Amarela
Semninário Febre AmarelaSemninário Febre Amarela
Semninário Febre Amarela
 
Academia cerebro v2
Academia cerebro v2Academia cerebro v2
Academia cerebro v2
 
NoSQL误用和常见陷阱分析
NoSQL误用和常见陷阱分析NoSQL误用和常见陷阱分析
NoSQL误用和常见陷阱分析
 
Influence of foreign portfolio investment on stock market indicators
Influence of foreign portfolio investment on stock market indicatorsInfluence of foreign portfolio investment on stock market indicators
Influence of foreign portfolio investment on stock market indicators
 
Momento divino
Momento divinoMomento divino
Momento divino
 
Social Media B2B Expert Class
Social Media B2B Expert ClassSocial Media B2B Expert Class
Social Media B2B Expert Class
 
Cepal presentacion para el salvador
Cepal presentacion para el salvadorCepal presentacion para el salvador
Cepal presentacion para el salvador
 
Categorizacio¦ün de energi¦üas renovables
Categorizacio¦ün de energi¦üas renovablesCategorizacio¦ün de energi¦üas renovables
Categorizacio¦ün de energi¦üas renovables
 
E Primavera no nosso amor
E Primavera no nosso amorE Primavera no nosso amor
E Primavera no nosso amor
 
Das leben A vida
Das leben A vidaDas leben A vida
Das leben A vida
 
รูปแบบการให้สุขศึกษาผู้ป่วยโรคหลอดเลือดสมอง
รูปแบบการให้สุขศึกษาผู้ป่วยโรคหลอดเลือดสมองรูปแบบการให้สุขศึกษาผู้ป่วยโรคหลอดเลือดสมอง
รูปแบบการให้สุขศึกษาผู้ป่วยโรคหลอดเลือดสมอง
 
Влад Андрусенко “Мобільний маркетинг для e-commerce”
Влад Андрусенко “Мобільний маркетинг для e-commerce”Влад Андрусенко “Мобільний маркетинг для e-commerce”
Влад Андрусенко “Мобільний маркетинг для e-commerce”
 
01 vive arlanza. mayo 2014 r
01  vive arlanza. mayo 2014 r01  vive arlanza. mayo 2014 r
01 vive arlanza. mayo 2014 r
 
Sistemas operativos y correo electrónico
Sistemas operativos  y correo electrónicoSistemas operativos  y correo electrónico
Sistemas operativos y correo electrónico
 
Europa Destinazioni Low Cost Su Mxp
Europa   Destinazioni Low Cost Su MxpEuropa   Destinazioni Low Cost Su Mxp
Europa Destinazioni Low Cost Su Mxp
 

Similar a M4

Republica do-cafe-com-leite-aula-pronta
Republica do-cafe-com-leite-aula-prontaRepublica do-cafe-com-leite-aula-pronta
Republica do-cafe-com-leite-aula-prontaFabio Santos
 
Acontecimentos da crise de 138385
Acontecimentos da crise de 138385Acontecimentos da crise de 138385
Acontecimentos da crise de 138385Ricardo Pinto
 
Revolta da vacina
Revolta da vacinaRevolta da vacina
Revolta da vacinapoxalivs
 
A Revol. 1383 E A FormaçãO Da Identidade Nacional
A Revol. 1383 E A FormaçãO Da Identidade NacionalA Revol. 1383 E A FormaçãO Da Identidade Nacional
A Revol. 1383 E A FormaçãO Da Identidade NacionalHist8
 
Movimentos sociais na república velha (1889 1930)
Movimentos sociais na república velha (1889 1930)Movimentos sociais na república velha (1889 1930)
Movimentos sociais na república velha (1889 1930)Jorge Marcos Oliveira
 
A Crise do Séc. XIV
A Crise do Séc. XIVA Crise do Séc. XIV
A Crise do Séc. XIVCarlos Vieira
 
Revoltas na primeira república 3º. ano ensino médio
Revoltas na primeira república   3º. ano ensino médioRevoltas na primeira república   3º. ano ensino médio
Revoltas na primeira república 3º. ano ensino médioFatima Freitas
 

Similar a M4 (9)

Republica do-cafe-com-leite-aula-pronta
Republica do-cafe-com-leite-aula-prontaRepublica do-cafe-com-leite-aula-pronta
Republica do-cafe-com-leite-aula-pronta
 
Acontecimentos da crise de 138385
Acontecimentos da crise de 138385Acontecimentos da crise de 138385
Acontecimentos da crise de 138385
 
Revolta da vacina
Revolta da vacinaRevolta da vacina
Revolta da vacina
 
A Revol. 1383 E A FormaçãO Da Identidade Nacional
A Revol. 1383 E A FormaçãO Da Identidade NacionalA Revol. 1383 E A FormaçãO Da Identidade Nacional
A Revol. 1383 E A FormaçãO Da Identidade Nacional
 
Movimentos sociais na república velha (1889 1930)
Movimentos sociais na república velha (1889 1930)Movimentos sociais na república velha (1889 1930)
Movimentos sociais na república velha (1889 1930)
 
Favelas
FavelasFavelas
Favelas
 
Favelas
FavelasFavelas
Favelas
 
A Crise do Séc. XIV
A Crise do Séc. XIVA Crise do Séc. XIV
A Crise do Séc. XIV
 
Revoltas na primeira república 3º. ano ensino médio
Revoltas na primeira república   3º. ano ensino médioRevoltas na primeira república   3º. ano ensino médio
Revoltas na primeira república 3º. ano ensino médio
 

Último

Ressonancia_magnetica_basica_slide_da_net.pptx
Ressonancia_magnetica_basica_slide_da_net.pptxRessonancia_magnetica_basica_slide_da_net.pptx
Ressonancia_magnetica_basica_slide_da_net.pptxPatriciaFarias81
 
Como fazer um Feedback Eficaz - Comitê de Gestores
Como fazer um Feedback Eficaz - Comitê de GestoresComo fazer um Feedback Eficaz - Comitê de Gestores
Como fazer um Feedback Eficaz - Comitê de GestoresEu Prefiro o Paraíso.
 
O-P-mais-importante.pptx de Maria Jesus Sousa
O-P-mais-importante.pptx de Maria Jesus SousaO-P-mais-importante.pptx de Maria Jesus Sousa
O-P-mais-importante.pptx de Maria Jesus SousaTeresaCosta92
 
Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...
Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...
Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...Colaborar Educacional
 
FORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de história
FORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de históriaFORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de história
FORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de históriaBenigno Andrade Vieira
 
Slides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Caça palavras - BULLYING
Caça palavras  -  BULLYING  Caça palavras  -  BULLYING
Caça palavras - BULLYING Mary Alvarenga
 
Atividade de matemática para simulado de 2024
Atividade de matemática para simulado de 2024Atividade de matemática para simulado de 2024
Atividade de matemática para simulado de 2024gilmaraoliveira0612
 
A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...
A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...
A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...Unidad de Espiritualidad Eudista
 
SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123
SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123
SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123JaineCarolaineLima
 
AS REBELIÕES NA AMERICA IBERICA (Prof. Francisco Leite)
AS REBELIÕES NA AMERICA IBERICA (Prof. Francisco Leite)AS REBELIÕES NA AMERICA IBERICA (Prof. Francisco Leite)
AS REBELIÕES NA AMERICA IBERICA (Prof. Francisco Leite)profesfrancleite
 
Aula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptx
Aula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptxAula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptx
Aula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptxMarceloDosSantosSoar3
 
Cruzadinha da dengue - Mosquito Aedes aegypti
Cruzadinha da dengue - Mosquito Aedes aegyptiCruzadinha da dengue - Mosquito Aedes aegypti
Cruzadinha da dengue - Mosquito Aedes aegyptiMary Alvarenga
 
Verbos - transitivos e intransitivos.pdf
Verbos -  transitivos e intransitivos.pdfVerbos -  transitivos e intransitivos.pdf
Verbos - transitivos e intransitivos.pdfKarinaSouzaCorreiaAl
 
Poema sobre o mosquito Aedes aegipyti -
Poema sobre o mosquito Aedes aegipyti  -Poema sobre o mosquito Aedes aegipyti  -
Poema sobre o mosquito Aedes aegipyti -Mary Alvarenga
 
aula 1.pptx Ementa e Plano de ensino Filosofia
aula 1.pptx Ementa e  Plano de ensino Filosofiaaula 1.pptx Ementa e  Plano de ensino Filosofia
aula 1.pptx Ementa e Plano de ensino FilosofiaLucliaResende1
 
Peixeiras da Coruña. O Muro da Coruña. IES Monelos
Peixeiras da Coruña. O Muro da Coruña. IES MonelosPeixeiras da Coruña. O Muro da Coruña. IES Monelos
Peixeiras da Coruña. O Muro da Coruña. IES MonelosAgrela Elvixeo
 

Último (20)

Ressonancia_magnetica_basica_slide_da_net.pptx
Ressonancia_magnetica_basica_slide_da_net.pptxRessonancia_magnetica_basica_slide_da_net.pptx
Ressonancia_magnetica_basica_slide_da_net.pptx
 
Como fazer um Feedback Eficaz - Comitê de Gestores
Como fazer um Feedback Eficaz - Comitê de GestoresComo fazer um Feedback Eficaz - Comitê de Gestores
Como fazer um Feedback Eficaz - Comitê de Gestores
 
O-P-mais-importante.pptx de Maria Jesus Sousa
O-P-mais-importante.pptx de Maria Jesus SousaO-P-mais-importante.pptx de Maria Jesus Sousa
O-P-mais-importante.pptx de Maria Jesus Sousa
 
Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...
Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...
Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...
 
FORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de história
FORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de históriaFORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de história
FORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de história
 
Slides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
Abordagem 1. Análise textual (Severino, 2013).pdf
Abordagem 1. Análise textual (Severino, 2013).pdfAbordagem 1. Análise textual (Severino, 2013).pdf
Abordagem 1. Análise textual (Severino, 2013).pdf
 
Caça palavras - BULLYING
Caça palavras  -  BULLYING  Caça palavras  -  BULLYING
Caça palavras - BULLYING
 
Atividade de matemática para simulado de 2024
Atividade de matemática para simulado de 2024Atividade de matemática para simulado de 2024
Atividade de matemática para simulado de 2024
 
A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...
A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...
A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...
 
SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123
SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123
SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123
 
AS REBELIÕES NA AMERICA IBERICA (Prof. Francisco Leite)
AS REBELIÕES NA AMERICA IBERICA (Prof. Francisco Leite)AS REBELIÕES NA AMERICA IBERICA (Prof. Francisco Leite)
AS REBELIÕES NA AMERICA IBERICA (Prof. Francisco Leite)
 
Abordagem 2. Análise temática (Severino, 2013)_PdfToPowerPoint.pdf
Abordagem 2. Análise temática (Severino, 2013)_PdfToPowerPoint.pdfAbordagem 2. Análise temática (Severino, 2013)_PdfToPowerPoint.pdf
Abordagem 2. Análise temática (Severino, 2013)_PdfToPowerPoint.pdf
 
Aula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptx
Aula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptxAula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptx
Aula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptx
 
Cruzadinha da dengue - Mosquito Aedes aegypti
Cruzadinha da dengue - Mosquito Aedes aegyptiCruzadinha da dengue - Mosquito Aedes aegypti
Cruzadinha da dengue - Mosquito Aedes aegypti
 
(42-ESTUDO - LUCAS) DISCIPULO DE JESUS
(42-ESTUDO - LUCAS)  DISCIPULO  DE JESUS(42-ESTUDO - LUCAS)  DISCIPULO  DE JESUS
(42-ESTUDO - LUCAS) DISCIPULO DE JESUS
 
Verbos - transitivos e intransitivos.pdf
Verbos -  transitivos e intransitivos.pdfVerbos -  transitivos e intransitivos.pdf
Verbos - transitivos e intransitivos.pdf
 
Poema sobre o mosquito Aedes aegipyti -
Poema sobre o mosquito Aedes aegipyti  -Poema sobre o mosquito Aedes aegipyti  -
Poema sobre o mosquito Aedes aegipyti -
 
aula 1.pptx Ementa e Plano de ensino Filosofia
aula 1.pptx Ementa e  Plano de ensino Filosofiaaula 1.pptx Ementa e  Plano de ensino Filosofia
aula 1.pptx Ementa e Plano de ensino Filosofia
 
Peixeiras da Coruña. O Muro da Coruña. IES Monelos
Peixeiras da Coruña. O Muro da Coruña. IES MonelosPeixeiras da Coruña. O Muro da Coruña. IES Monelos
Peixeiras da Coruña. O Muro da Coruña. IES Monelos
 

M4

  • 1. DIÁRIO DA REVOLTA “O povo não é carneiro. De vez em quando, é bom a negrada saber morrer como homem. Tem que mostrar ao governo que ele não põe o pé no pescoço do povo.” A Tribuna 10 DE NOVEMBRO 12 DE NOVEMBRO A polícia, que recebera ordens de proibir reuniões públicas, Cerca de 4 mil pessoas comparecem à sede da Liga. Vicente de Souza, tenta prender um grupo de estudantes que pregava resistência à Lauro Sodré e Barbosa Lima discursam, conclamando o povo à vacinação. A população reage com pedradas e é espancada. resistência, mas aconselhando prudência. A multidão sai em passeata em Ocorrem as primeiras prisões. direção ao Catete, fortemente guardado. Rodrigues Alves convoca os militares para intervir na rebelião. 13 DE NOVEMBRO O conflito generaliza-se e assume um caráter mais violento. A multidão lota a Praça Tiradentes e não atende à ordem de dispersar. A cavalaria investe e o local se torna uma praça de guerra. Tiros partem dos dois lados. A luta se espalha pelas ruas adjacentes. Pessoas caem mortas e feridas. A população incendeia bondes, quebra combustores da iluminação e vitrines de lojas. O centro da cidade enche-se de barricadas. Prostitutas da Rua São Jorge entram em choque com a polícia. O povo ataca delegacias e o quartel da Cavalaria na Frei Caneca. Os distúrbios se espalham e chegam à Tijuca, Gamboa, Saúde, Botafogo, Laranjeiras, Catumbi, Rio Comprido e Engenho Novo. “Guerra Vacino Obrigateza.” O Malho, outubro de 1904. Autor: Leônidas. 11 DE NOVEMBRO Acervo Casa de Oswaldo Cruz. A população acorre em massa para o Largo de São Francisco, onde estava previsto um comício da Liga contra a Vacinação Obrigatória. Forças policiais e militares ocupam o local. O confronto é inevitável. A cavalaria investe contra a multidão, de sabre em punho, ferindo pessoas e obrigando o fechamento do comércio. O tumulto se generaliza e atinge outras áreas do centro. “Vacina Obrigatória.” Correio do Brasil, outubro de 1904. Autor: Leônidas. Acervo Casa de Oswaldo Cruz.
  • 2. DOMINGO SANGRENTO 14 DE NOVEMBRO Os choques começam na madrugada, concentrando-se principalmente no distrito do Sacramento (proximidades da Praça Tiradentes) e na Saúde. As barricadas do centro da cidade, reforçadas por carroças da limpeza pública, resistem às investidas. A polícia ataca e é rechaçada à bala. A população incendeia e quebra bondes, ataca a barca de Petrópolis e assalta lojas de armas. Na Saúde, cerca de 2 mil manifestantes entrincheiram-se na Praça da Harmonia. Revoltosos investem contra duas delegacias. O tiroteio estende-se por todo o dia. O povo ataca uma fábrica de velas em São Cristóvão, o Moinho Inglez na Gamboa “Na noite de 14.” O Malho, novembro de 1904. Acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa. e os gasômetros do Mangue, Vila Isabel e Botafogo. Oficiais dissidentes reúnem-se no Clube Militar com as lideranças da Liga. À saída, Vicente de Souza é preso. À noite, o major Gomes de Castro e o empresário monarquista Pinto de Andrade são detidos ao tentar sublevar a Escola Preparatória e Tática do Realengo. O general Travassos, o senador Lauro Sodré e os deputados Barbosa Lima e Alfredo Varela levantam a Escola Militar da Praia Vermelha. Cerca de 300 cadetes saem da Escola em direção ao Palácio do Governo para depor o presidente. No caminho, recebem a adesão de um esquadrão da Cavalaria e uma companhia de Infantaria. Na Rua da Passagem, encontram-se com as tropas governamentais. Segue-se um intenso tiroteio. O general Travassos sofre ferimentos graves e morre dias depois. Lauro Sodré também é atingido. A debandada é geral. Os cadetes retornam à Praia Vermelha. O governo tivera 32 baixas, nenhuma fatal. Os rebeldes, três mortos e sete feridos. Grupo de cadetes da Escola Militar em 1904. Acervo particular.
  • 3. O PRATA PRETA 15 DE NOVEMBRO Três couraçados e dois cruzadores postam-se à frente da Escola da Praia Vermelha. O Deodoro dispara contra a laje da Urca. Os cadetes depõem as armas. Estava debelado o levante militar. O conflito continua. Os maiores focos ainda são o Sacramento e a Saúde. As trincheiras resistem. Persistem os ataques “Relíquias de Porto Arthur.” O Malho, dezembro de 1904. às delegacias policiais, ao gasômetro, Acervo Casa de Oswaldo Cruz. às lojas de armas. Cerca de 600 operários têxteis de três fábricas do Jardim Botânico investem contra seus locais de trabalho e contra uma delegacia e formam barricadas. Estivadores e foguistas percorrem empresas de navegação, intimando-as a suspender os serviços. Os choques se estendem ao Méier, Engenho de Dentro, Encantado, Catumbi, São Diogo, Vila Isabel, Andaraí, Aldeia Campista, Matadouro e Laranjeiras. Na Saúde, chamada pelos jornais de Porto Arthur, em referência à resistência daquela fortaleza durante a guerra russo-japonesa, destaca-se a figura de Horácio José da Silva, o Prata Preta, comandando as barricadas. Jornalistas visitam as trincheiras na praia, na Rua da Harmonia e no Morro do Livramento e descrevem a “multidão sinistra, de homens descalços, em mangas de camisa, de armas ao ombro uns, de garruchas e navalhas à mostra”. Chegam os batalhões de Minas e São Paulo. A polícia pede à Marinha que ataque os rebeldes da Saúde pelo mar. Famílias começam a fugir com medo do bombardeio. “O Porto Arthur da Saúde.” O Malho, novembro de 1904. Acervo Fundação Casa de Rui Barbosa.
  • 4. ESTADO DE SÍTIO 16 DE NOVEMBRO É decretado o estado de sítio. No Sacramento continuam os choques entre a população e a polícia, mas com menor intensidade. No Jardim Botânico, os rebeldes assaltam bondes e tomam a delegacia. A fábrica de tecidos Confiança, em Vila Isabel, é atacada. As atenções voltam-se para a Saúde. A polícia prepara uma emboscada e prende Prata Preta. Este oferece feroz resistência, matando um soldado e ferindo gravemente dois agentes, e é brutalmente espancado. O Deodoro toma posição em frente ao Mercado Velho. Tropas do Exército e da Marinha invadem a Saúde e encontram as trincheiras abandonadas. “Nem um tiro, um único tiro, foi empregado no ataque e na ocupação do famoso reduto. À última hora, verificou-se que a fortaleza, suas trincheiras (...) não passavam de uma formidável blague”, conta o repórter de A Notícia. O governo revoga a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola. O DIA SEGUINTE O governo retoma o controle da cidade, que está em ruínas. Em todos os lugares, há marcas da revolta. Os delegados de polícia começam a varrer as ruas, realizando prisões em massa. Acontecem alguns incidentes esparsos: um tiroteio numa pedreira do Catete no dia 18, ataque a uma fábrica e alguns quebra-quebras no dia 19. O Apostolado Positivista e algumas entidades classistas, como a Sociedade União Operária dos Estivadores, procuram os jornais, negando qualquer associação com a rebelião. Acima, “Na prensa nacional”. A Avenida, dezembro de 1904. Acervo Fundação Casa de Rui Barbosa. “Dois emblemas.” O Malho, novembro de 1904. Mapa da Revolta da Vacina. Acervo Fundação Casa de Rui Barbosa. Acervo Casa de Oswaldo Cruz.
  • 5. A CAMINHO DO ACRE “Um progresso! Até agora se fazia isto sem ser preciso estado de sítio; o Brasil já estava habituado a essa história. (...) Creio que se modificará o nome: estado de sítio passará a ser estado de fazenda. De sítio para fazenda, há sempre um aumento, pelo menos no número de escravos.” Lima Barreto TRINTA MORTOS, 110 feridos hospitalizados, 945 presos, sendo 461 deportados – este foi o saldo da Revolta. Os cadetes foram embarcados para o Rio Grande do Sul e distribuídos pelos postos da fronteira. Ao fim do ano, foram excluídos do Exército e a Escola da Praia Vermelha foi desativada. Das lideranças civis, só quatro foram processadas: Vicente de Souza, Alfredo Varela, Pinto de Andrade e Artur Rodrigues. Mas foi sobre a população pobre que a repressão se exerceu de forma brutal. A polícia aproveitou a oportunidade para limpar a cidade, prendendo pessoas a torto e a direito pelas ruas. Bastava ser maltrapilho ou não ter residência e emprego fixo. Seu destino era cruel: enviadas à Ilha das Cobras, espancadas, amontoadas em navios-prisão e, sem as mínimas condições de higiene e alimentação, deportadas para o Acre, a fim de trabalhar nos seringais. Muitos não resistiram à viagem. Em 2 de setembro de 1905, todos os participantes da Revolta foram anistiados. Os cadetes retornaram às fileiras militares. Já os deportados para o Acre... Estes, como disse Euclides da Cunha, “levavam a dolorosíssima missão de desaparecerem”. NOS DOIS PRIMEIROS MESES DE 1907, somente duas pessoas morreram do mal amarílico no Rio de Janeiro. Em março, Oswaldo Cruz informava ao governo: “A febre amarela já não devasta, sob a forma epidêmica, a capital da República”. O sucesso de suas campanhas sanitárias começava a virar a opinião pública a seu favor. Mas sua consagração só veio com o reconhecimento internacional. Em 1907, o XIV Congresso de Higiene e Demografia de Berlim concedeu a Oswaldo Cruz e ao Instituto de Manguinhos a medalha de ouro pelas campanhas de saneamento do Rio. O cientista virava herói nacional. Em 1908, nova epidemia de varíola devastou o Rio de Janeiro, matando mais de 6 mil pessoas. A população acorreu em massa para os postos de vacinação... Medalha de ouro recebida por Oswaldo Cruz no XIV Congresso de Higiene e Demografia, em Berlim, 1907. Acervo Casa de Oswaldo Cruz. “Nenhuma vitória mais bela registra a nossa história, porque “Cólera de Bexiga.” nenhuma jamais foi tão humana nas suas conseqüências, nem mais O Degas, outubro de 1908. Autor: Calixto. brilhante na demonstração da nossa energia e capacidade científica.” Acervo Casa de Oswaldo Cruz. Lauro Muller