2. E saio. A noite pesa, esmaga. Nos
Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.
Ó moles hospitais! Sai das embocaduras
Um sopro que arrepia os ombros quase nus.
Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso
Ver círios laterais, ver filas de capelas,
Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,
Em uma catedral de um comprimento imenso.
As burguesinhas do Catolicismo
Resvalam pelo chão minado pelos canos;
E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,
As freiras que os jejuns matavam de histerismo.
Num cutileiro, de avental, ao torno,
Um forjador maneja um malho, rubramente;
E de uma padaria exala-se, inda quente,
Declamação Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.
3. E eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera que o real e a análise mo dessem;
Casas de confecções e modas resplandecem;
Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.
Longas descidas! Não poder pintar
Com versos magistrais, salubres e sinceros,
A esguia difusão dos vossos reverberos,
E a vossa palidez romântica e lunar!
Que grande cobra, a lúbrica pessoa,
Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo!
Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,
Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.
E aquela velha, de bandós! Por vezes,
A sua traîne imita um leque antigo, aberto,
Nas barras verticais, a duas tintas. Perto,
Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.
4. Desdobram-se tecidos estrangeiros;
Plantas ornamentais secam nos mostradores;
Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores,
E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.
Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes
Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.
"Dó da miséria!... Compaixão de mim!..."
E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de Latim!
5. 1. Apresenta uma explicação para o subtítulo
desta secção do poema.
6. O poema intitula-se “Ao Gás” para valorizar a
luz que proporcionaram os candeeiros acesos
a gás naquela noite.
7. 2. Na sua deambulação, o sujeito poético
continua a sofrer os efeitos opressivos do
ambiente da cidade.
2.1 Transcreve os verbos que, nas duas primeiras
estrofes, os mencionam.
8. “A noite pesa, esmaga.” – Primeiro Verso
“Cercam-me as lojas, tépidas.” – Quinto Verso
9. Destaca a importância de que se reveste a
quarta estrofe, atendendo à oposição
temática que estabelece com as restantes
quadras do texto.
10. A quarta estrofe é particularmente importante por se
opor às restantes do poema. A referência a um
forjador, homem de força, e ao pão (símbolo de
vida), por ser o elemento essencial para matar a
fome, remetem para a ideia do ambiente rural e
carácter saudável, vital que transmite o campo.
11. Face as circunstancias presentes, o sujeito
poético deseja concretizar uma obra com um
objetivo particular.
4.1- Refere-o
4.2- Indica os meios que lhe permitirão atingi-lo
12. 4.1 O sujeito poético escreveu um livro que
incomode, que desperte algum interesse por
quem o leia.
13. 4.2 Os meios que permitirão esse livro são a
observação do real e a sua análise através do
olhar crítico do sujeito.
14. Assim como em “ Ave Marias”, em “Ao Gás” o
mundo citadino é descrito através de processos
linguísticos e estilísticos que aproximam a
poesia de Cesário Verde da pintura
impressionista.
15. 5.1 Identifica no poema exemplos de cada um dos
recursos expressivos usados para representar a
realidade de forma fragmentária e dela
apresentar, em primeiro lugar, a impressão que
provoca.
a. Metáfora; c. Hipálage;
b. Sinestesia; d. Expressões de cariz sensitivo.
16. a. “Que grande cobra, a lúbrica pessoa”
Verso 25
b. “Um cheiro salutar e honesto a pão no
forno.”
Verso 16
c. “Um cheiro salutar e honesto a pão no
forno.”
Verso 16
17. d. Olfativo: “E de uma padaria exala-se, inda
quente”
Auditivo: “Da solidão regouga um cauteleiro
rouco;”
Visual: “Mas tudo cansa! Apagam-se nas
frentes”
Táctil: “E de uma padaria exala-se, inda
quente”