O documento discute a natureza biológica, sociocultural e biossociocultural da mente humana. A mente é influenciada pelo cérebro e corpo, mas também pela cultura e experiências sociais de uma pessoa. O pensamento e comportamento são produtos complexos dessas diversas dimensões.
2. A natureza biológica da mente
O cérebro é encarado com o núcleo processador da mente, uma
peça essencial do hardware.
O cérebro apresenta um funcionamento global, sistémico. Os
estudos sobre o funcionamento do cérebro reforçam a concepção em
que sobressai o aspecto activo, transformador e total do
funcionamento da mente e, neste funcionamento está implicado o corpo
na sua totalidade com características próprias relacionadas com a
pertença à nossa espécie, enquanto seres humanos.
3. A natureza sociocultural da mente
O cérebro sofre
alterações, quer ao nível da
sua estrutura física, que ao
nível do seu funcionamento,
provocadas pela vivência
social e pela cultura: as
redes de funcionamento
cerebral transformam-se e
aprendem nas diversas
interacções com o meio
social. Todo o corpo sofre
modificações resultantes da
interacção com o meio.
Dos comportamentos mais
simples aos mais complexos
está presente a marca da
vida em sociedade.
4. A natureza biossociocultural da
mente
A complexidade humana pode ser compreendida se tivermos
em conta as dimensões biológica e sociocultural.
O modo como nos comportamos, aquilo que somos e como
somos, é resultado das características biológicas, da influência dos
contextos e das situações. Para se compreenderem as
características da situação e do contexto, é importante ter em
conta a cultura e os modos de interacção social e também a história
de vida de cada um, por isso, é impossível compreender como somos,
como pensamos, como agimos, sem referência ao mundo em que
vivemos.
O funcionamento mental não é independente das
características quer do indivíduo quer da situação, constitui-se
através do envolvimento activo do ser humano nos seus contextos ao
longo da sua existência.
5. Alimentação
Sabemos que precisamos de nos alimentar quando
sentimos fome. Esta sensação é provocada pelas contracções do
estômago, que desencadeiam estímulos internos que nos movem a
procurar alimentos, contudo, não é este órgão que controla o
impulso da fome. Passadas umas horas após a ingestão de
alimentos, o nível do açúcar no sangue desce, situação que é
detectada pelo hipotálamo. É este estado que nos leva a orientar
o nosso comportamento com o objectivo de encontrar alimento.
6. Nos seres humanos, a aprendizagem desempenha um
papel fundamental na satisfação deste impulso: o que
comemos, quando comemos e como comemos ultrapassa as
determinações orgânicas. O tipo de alimentos, o modo
como são cozinhados e até as horas das refeições são
manifestações culturais significativas. Por exemplo, a
carne de porco, muito apreciada entre nós, é um alimento
proibido pela religião dos judeus e dos muçulmanos; a
carne de vaca, por sua vez, não é ingerida pelos hindus.
Dentro da mesma cultura, as preferências individuais por
diferentes alimentos variam, o que se relaciona com o
processo de socialização.
Algumas situações podem levar-
nos a ingerir alimentos mesmo que
não tenhamos fome: comemos
para fazer companhia a alguém ou
comemos porque estamos
ansiosos, por exemplo. A
alimentação humana, para além da
sua natureza biológica, está
fortemente marcada por factores
de ordem social e psicológica.
7. A Sexualidade O comportamento
sexual nos seres humanos está
relacionado com o
funcionamento de determinados
mecanismos fisiológicos: com o
sistema endócrino (glândula
sexuais), com a hipófise e com
o hipotálamo. A sexualidade
tem uma matriz biológica.
A influência cultural –
sistema de valorespadrões
culturais – faz-se sentir de uma
forma muito intensa no
comportamento sexual humano.
A aceitação ou
interdição da masturbação, o
relacionamento sexual antes do
casamento, a homossexualidade
e o adultério são encarados de
forma diferente em diferentes
épocas históricas e em
diferentes culturas.
8. As respostas sexuais variam também
nos diferentes estádios etários e de
pessoa para pessoa. Mesmo dentro da
mesma cultura, os comportamentos
sexuais variam entre diferentes
grupos sociais.
A sexualidade humana manifesta-se
em comportamentos de grande
complexidade envolvendo várias
dimensões.
9. Necessidades
Uma das características do
nosso corpo humano, no sentido
biológico e evolutivo, é que traz
consigo não apenas potencialidades –
de agir, de comunicar, de manipular,
de imaginar, de trocar, de
compreender -, mas também
necessidades. Estas não podem ser
descuradas sem que a nossa
sobrevivência, a manutenção do nosso
corpo vivo, seja posta em causa:
necessidade de alimento de repouso,
de abrigo e protecção de estimulação
sensorial adequada.
10. A satisfação destas
necessidades marca a forma como
pensamos e como orientamos as
nossas acções e comportamentos,
nomeadamente como vamos
construindo as nossas rotinas.
Foi a satisfação das
necessidades uma das razões que
levaram os seres humanos a
organizaram-se em grupos sociais
complexos, criando culturas. Os
elementos socioculturais marcam
a forma como as necessidades se
manifestam e satisfazem.
11. Desejos
A dimensão do desejo – geralmente associado a aspiração,
a anseio – está presente em todas as nossas acções e
comportamentos. No que pensamos e fazemos há um propósito e
essa finalidade liga-se ao que desejamos e queremos, na forma
como estabelecemos objectivos e nos esforçamos para os
cumprir, no modo como nos envolvemos nas mais diversas
situações e actividades.
12. O desejo relaciona-se com uma aspiração de alguma coisa que nos
falta, que não temos e, por vezes, definem-no pela insatisfação, a partir do
momento em que o desejo é realizado, deixa de ser desejo.
Os desejos não têm de ser concretizados de forma imperiosa na
medida em que a sobrevivência não está posta em causa, estes fazem parte
do plano de vida de cada um motivando o comportamento, a acção. Somos
livres de desejar “qualquer coisa”, de ter um desejo que reconhecemos como
impossível (um sonho, uma utopia).
O desejo tem uma dimensão psicossocial uma vez que os
conhecimentos que temos do que somos, das nossas capacidades, do
contexto em que estamos inseridos afectam o tipo de desejos que sentimos.
13. É com a mente que O Pensamento
pensamos: pensar é ter uma
mente que funciona e o
pensamento exprime,
precisamente, o funcionamento
total da mente.
O pensamento é uma
operação da mente que é
contínua e que abrange quase
todos os nossos processos
mentais, remete-nos para
ideias, símbolos, percepções,
imagens, palavras, proposições,
conceitos, intenções, memórias,
etc., envolve todas as
actividades mentais associadas
com a formação de conceitos, a
resolução de problemas, a
decisão, a compreensão, a
descoberta, a planificação, a
criatividade, a aprendizagem
complexa, a imaginação, a
memória…
14. Existem três tipos de
representações cognitivas:
As imagens mentais;
Os conceitos ou representações
conceptuais;
As representações ligadas à
acção.
Os conceitos ou
representações conceptuais
podem ser concretos, como livro,
fotografia, ou abstractos, como
liberdade, ambição ou
construtivismos. Alguns conceitos
reportam-se a uma unidade, a um
acontecimento, outros reportam-
se a um grupo que apresenta as
mesmas características. Estes
permitem-nos, numa palavra só,
traduzir um conjunto enorme de
informações.
15. Pensamento e
Acção
O pensamento está
dependente da acção. É a partir
da acção, relacionando-se a cada
momento com esta, que o
pensamento se constitui.
É em relação que cada ser
humano conhece o mundo, o que
sente e age sobre ele. É um
processo que acontece a cada
momento e de forma integrada.
Não conhecemos sem
sentir e sem agir, não agimos sem
conhecer e sentir… e não sentimos
sem agir e conhecer.
16. Imaginação
É a imaginação que permite que o pensamento vá para além dos
limites da realidade percebida. Esta amplia o pensamento: analogia,
metáforas e outras relações vão favorecer o estabelecimento de pontes
entre experiências vividas e imaginadas, entre significados presentes e
alternativos, assim, a imaginação abre ao pensamento novas oportunidades
em termos de apropriação dos significado.
É pela imaginação que encontramos alternativas para os
sabermos, para as formas de sentir, é pela imaginação que nos é possível
antecipar as intenções próprias ou dos outros.
17. Existem dois processos diferentes de
pensamento:
Pensamento convergente: caracteriza-se pela
síntese de informação e de conhecimento orientados
para a solução de um problema, é um pensamento
dominado pela lógica e pela objectividade, em que
dominam os raciocínios hipotético-dedutivos. Este
pensamento está associado à resolução de problemas
de solução única.
Pensamento divergente: caracteriza-se por um
processo de exploração em várias direcções, por um
divergir de ideias, de modo a contemplar vários
aspectos, face a um problema surgem várias soluções.
Neste pensamento domina a intuição sobre as
operações mentais de tipo lógico-dedutivo que
caracterizam o pensamento convergente. É um
pensamento associado à criatividade, por sugerir
novas ideias e soluções originais.
Estes dois tipos de pensamento estão
presentes na vida quotidiana dos seres humanos.
18. A criatividade implica sempre
invenção, originalidade. A criatividade
está presente em todas as produções Criatividade
humanas: científicas, políticas, técnicas,
até na resolução inovadora de um
problema que ocorra no dia-a-dia.
Os psicólogos têm recorrido ao
estudo dos processos cognitivos, da
motivação, das características da
personalidade, das histórias de vida,
para explicar os actos criativos.
Um ambiente social estimulante,
que encoraje a diferença e a fantasia, que
estimule a autonomia e a liberdade de
escolha, cria condições para que uma
pessoa possa desenvolver uma actividade
criativa. Características pessoais, como a
curiosidade, o empenho, o inconformismo,
o gosto pela complexidade, pelo
desconhecido e pela novidade, a
autonomia, a inquietação, a insatisfação
face ao que existe, são factores que
favorecem a produção criativa.
19. Há um grande número de elementos que participam no nosso
pensamento. Quando pensamos, fazemo-lo mobilizando as
características do nosso corpo, assim como as características da situação
ou contexto em que nos encontramos; mobilizamos conhecimentos, formas
de sentir e modos de fazer; mobilizamos necessidades, intenções, desejos e
ainda planos para o futuro, etc. O pensamento organiza todos estes
elementos e cria a possibilidade de eles se integrarem de forma
significativa e pessoal na nossa experiência.
O pensamento organiza todos estes elementos de acordo com
regras próprias: diz-se, por isso, que o pensamento é auto-organizado, isto
é, que se organiza de forma não determinada por nenhum dos seus
elementos, mas a partir das regras que emergem da interacção complexa
entre os seus elementos.
Auto-organização
20. A auto-organização é
importante para se compreender
a forma como os seres humanos
conseguem encontrar significados
próprios para as suas vivências e
agir com alguma autonomia – isto
é, actuar a partir de regras que
não são determinadas à partida,
mas em cuja especificação
também participam. Estas
características são centrais para
a compreensão do EU psicológico
e da sua identidade.
O pensamento incorpora
todos os aspectos das
interacções entre os indivíduos e
o seu ambiente. Pensar é viver
num permanente envolvimento
criativo com um mundo que se
constrói e nos constrói à medida
que se vive.
21. O pensamento
permite-nos construir o
nosso dia-a-dia através da
nossa criatividade e
constrói-nos a nós próprios
através das nossas
experiências, da nossa
forma de ver as coisas.
O pensamento, ao
longo da vida, muda os
nossos comportamentos e
as nossas formas de
pensar.