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1. INTRODUÇÃO
A velhice constitui um período de grandes
mudanças nos planos biológico, psicológico e
social, bem como no plano das relações pessoa-
mundo. Estas mudanças exigem ao idoso um es-
forço de adaptação às novas condições de vida.
Pela profunda alteração a diferentes níveis, e pe-
lo esforço que a personalidade terá de fazer para
se adaptar, trata-se de um momento de risco para
o equilíbrio e Bem Estar psicológicos da pessoa
idosa (Pinheiro & Lebres, 1998).
O genérico dos trabalhos que têm vindo a ser
realizados acerca da pessoa idosa tem focado es-
sencialmente questões inerentes a perdas e défi-
ces neste grupo etário. De facto, segundo Barreto
(1998) até há alguns anos os vários autores que se
debruçavam sobre a psicologia da idade avançada
mostravam tendência para: (a) Privilegiar os as-
pectos cognitivos em relação aos demais; (b)
Focar essencialmente perdas e défices; (c) For-
mular normas genéricas mais do que descrever
tipos e variações; (d) Esquecer a continuidade en-
tre a época da senescência e as que a precedem.
Actualmente, tal visão pessimista dá lugar a
uma orientação mais realista e construtiva. O en-
velhecimento não ocorre de forma estanque em
todos os indivíduos: Enquanto uns tendem a
apresentar padrões habituais de envelhecimento
que reflectem alterações típicas da idade, outros
tendem a alcançar um elevado nível de funciona-
mento nos domínios físico, psicológico e social,
em que apenas alguns sinais típicos da mudança
ocorrem. Segundo Paúl (1991) estas diferenças
podem explicar-se à luz da combinação de facto-
res genéticos, pessoais e ambientais.
Apesar de errada, há uma tendência para pen-
sar a velhice como universal, devendo-se tal
talvez ao facto de esta se inscrever no ciclo bio-
lógico natural de todo o ser humano: nascimento,
crescimento e morte. No entanto, é complicado
falar da velhice dentro de um quadro geral, uma
vez que ninguém envelhece de uma maneira ou
ao mesmo ritmo.
A velhice é um processo inelutável caracteri-
zado por um complexo conjunto de factores fi-
siológicos, psicológicos e sociais específicos de
cada indivíduo. Assim, se o processo de envelhe-
cimento é normal e universal as alterações cau-
sadas pelo envelhecimento desenvolvem-se a
um ritmo diferente de pessoa para pessoa depen-
dendo de uma multiplicidade de factores internos
e externos (Schroets & Birren, 1980).
Evidencia-se, assim, quão difícil é sustentar
uma uniformidade no processo de envelhecimen-
505
Análise Psicológica (2002), 3 (XX): 505-516
O bem estar da pessoa idosa em meio
rural
ARMÉNIO SEQUEIRA (*)
MARLENE NUNES SILVA (**)
(*) Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lis-
boa.
(**) Psicóloga Clínica.
to, como se se chegasse a um estádio do ciclo vi-
tal em que se esbatem as diferenças individuais.
É falso pensar nos idosos como num grupo ho-
mogéneo de indivíduos caracterizado por uma
diminuição das capacidades vitais, bem como
dos recursos sociais e económicos.
Muitas são as formas de se ser velho, impor-
tando perceber que existem idosos e idosos e que,
qualquer um deles carrega consigo a sua história
de vida, determinada tanto pelo seu património
genético como pelo seu património psicossocial.
De facto, e tal como afirmam Lima e Viegas
(1988, p. 149) «Se a velhice é o destino biológico
do homem, ela é vivida de forma muito variável
consoante o contexto em que se inscreve».
É de sublinhar que, apesar de o envelhecimen-
to ser acompanhado por alterações a diferentes
níveis, qualquer dos défices físicos, psicológicos
e sociais podem ser atenuados ou incrementados
pelo contexto em que o idoso se inscreve.
Então, muito embora se observe a existência
de factores limitantes relacionados com a idade,
eles não afectam senão modestamente a capaci-
dade de reestruturação e manutenção da saúde
intelectual e mental da pessoa idosa que se so-
corre de estratégias apropriadas. Tais capacida-
des não dependem tanto da idade que o indiví-
duo tem, quanto do contexto sócio cultural em
que se insere.
Assim sendo, as diferentes formas de estar e
sentir só são compreensíveis na perspectiva do
curso de vida e da consequente relação do idoso
com o seu cenário actual.
Defendendo que à medida que a pessoa enve-
lhece as suas capacidades de adaptação vão di-
minuindo, Lawton (1983), refere que o idoso se
torna mais sensível ao meio ambiente, meio que
se torna um agente relevante na promoção do seu
Bem Estar.
Parece então de fundamental interesse estudar
a influência do contexto na Satisfação de Vida
do idoso, na medida em que só a partir da análise
transaccional da unidade ecológica pessoa/ambi-
ente podemos compreender o Bem Estar subjec-
tivo de idosos que vivem em diferentes cenários,
sendo que cada cenário ambiental dita de forma
única a experiência do envelhecimento.
Há que pensar na pessoa idosa com programas
de vida e acções intencionais, vivendo e agindo
em cenários ambientais concretos e temporais.
Tal visão enquadra-se na perspectiva ecológi-
co/ambiental da velhice, que defende uma psico-
logia das pessoas nos seus cenários de vida
reais, dotada de validade ecológica por possibi-
litar a compreensão das transacções entre os
processos psicológicos e as acções humanas, e os
contextos e cenários quotidianos em que elas se
desenrolam (Soczka, 1993).
A este propósito Paúl (1991) afirma que o con-
ceito de velhice bem sucedida só faz sentido nu-
ma perspectiva ecológica, considerando o indiví-
duo no seu contexto actual e passado, no quadro
de uma relação dialéctica entre as pressões am-
bientais e as suas capacidades adaptativas.
Carp (1987) afirma que a problemática ambi-
ental é reconhecida como muito importante em
gerontologia. Uma das mais relevantes aborda-
gens da relação pessoa idosa/ambiente vem da
equipa de Lawton do Centro Geriátrico de Phila-
delphia. Conduzindo inúmeras pesquisas neste
campo, sistematizam toda a informação no Mo-
delo Ambiental de Lawton e Nahemow (1973).
Para Lawton a Satisfação de Vida resulta da
eficaz interacção do indivíduo com o meio em
que se insere. O modelo ecológico considera o
comportamento num dado contexto, implicando
que o desempenho do indivíduo seja visto como
o resultado de uma transacção com o meio, em
que a força relativa do indivíduo e do meio se
concertam.
Para este autor todo o comportamento é tran-
saccional, isto é, não pode ser entendido com
base em apenas uma variável, mas em função
das variáveis presentes, só sendo compreensível
na dinâmica das relações pessoa/ambiente. Sen-
do que:
- O aspecto mais importante dos traços com-
portamentais está resumido no termo «Com-
petência» manifesta em áreas como a saúde
biológica, a capacidade sensório perceptiva,
as capacidades motoras e cognitivas.
- O ambiente é definido tendo em conta o
conceito de «Pressão» visto como um de-
terminado potencial de exigência para qual-
quer indivíduo (define-se individualmente
esta pressão através das exigências que faz
às capacidades físicas, psíquicas e sociais
dos indivíduos quer do ponto de vista real,
quer subjectivo).
Para qualquer nível de competência existem
níveis de pressão que podem tornar o comporta-
506
mento e o afecto mal adaptados, do mesmo mo-
do que, para um nível de competência muito bai-
xo existem valores de pressão ambiental capazes
de promoverem um comportamento adaptado e
um afecto positivo.
De nada vale tentar caracterizar um ambiente
se não for tida em conta a pessoa que nele se ins-
creve. As características ambientais podem fun-
cionar tanto como barreiras, como facilitadores
de determinado comportamento, dependendo
das características de cada sujeito específico.
É, pois, importante encontrar e proporcionar
ao indivíduo idoso um ambiente que, no respei-
tante às exigências pessoais não peque por ex-
cesso nem por defeito, pois a adaptação tem a
ver com princípios homeostáticos: A pressão
ambiental não pode ser nem maior (o que exigi-
ria demais) nem menor (o que levaria ao subesti-
mar de competências) do que aquela que o indi-
víduo está habituado. Tal conduziria a um senti-
mento de desconforto e à desadaptação.
Não obstante, a pressão ambiental percebida
varia de indivíduo para indivíduo, consoante as
suas próprias competências para lidar com ela. A
«hipótese da docilidade ambiental» veiculada
por estes autores, defende que à medida que di-
minuem as competências o comportamento e os
afectos vão sendo cada vez mais determinados
por factores externos ao indivíduo.
Os idosos, quando há declínio em algumas
competências, tendem a ser mais vulneráveis ao
ambiente do que os mais novos. O lado positivo
desta maior vulnerabilidade prende-se com a
possibilidade de promover melhorias a nível
pessoal, realizando maior adaptação ambiental.
Neste sentido, Paúl (1991) defende que a me-
ta do trabalho desenvolvido na procura de inter-
venções ambientais adequadas, encontra o seu
sentido na conceptualização de modelos teóricos
das transacções entre o meio e o indivíduo idoso,
que assim permitam o desenvolvimento de pro-
gramas que sejam abrangentes das privações e
dificuldades às quais a população idosa está se-
lectivamente mais vulnerável. Segundo esta au-
tora, no extenso conjunto das variáveis que in-
fluenciam o Bem Estar psicológico dos idosos
destacam-se as vertentes subjectivas que incluem
a percepção que o idoso tem do seu ambiente e a
congruência com o mesmo, afirmando a impor-
tância da adequação pessoa/meio. Quando esta
se verifica, o idoso pode manter a sua Satisfação
de Vida independentemente de critérios externos
considerarem o meio pouco favorável.
A maioria dos trabalhos que tem vindo a ser
desenvolvidos em torno das temáticas afectas ao
idoso, têm focado essencialmente as perdas e dé-
fices neste grupo etário. No presente trabalho
procurou-se uma outra visão: Ao invés dos fac-
tores inerentes ao declínio, a nossa atenção re-
caiu sobre os factores inerentes à Satisfação
num grupo de residentes em meio rural.
A opção pelo meio rural pareceu-nos relevan-
te, uma vez que, atendendo ao aumento da urba-
nização, quando se coloca a questão da influên-
cia da experiência territorial e ambiental a nível
pessoal e social todos os esforços se dirigem à
avaliação das consequências de tal fenómeno a
partir da vivência da cidade.
Poucos são os estudos por nós encontrados em
relação aos contextos rurais. Seria importante
modificar esta situação, não só devido ao signi-
ficativo número de idosos que envelhece em am-
bientes rurais, mas também porque estamos
perante cenários com características específicas
que ditam de forma única a experiência de neles
envelhecer.
2. MÉTODO
2.1. Participantes
Participaram neste estudo 40 sujeitos, dos
dois sexos, com idades compreendidas entre os
65 e os 75 anos, inclusive. Para a sua selecção
tivemos em atenção:
- Idade compreendida entre os 65-75 anos;
- Ambos os sexos;
- Residência em meio rural: A escolha do
local teve em conta alguns critérios básicos
de definição do espaço rural, tais como o
número de habitantes a densidade popula-
cional, a concentração de edifícios e o sec-
tor de actividade predominante.
- Residência em comunidade, para não dei-
xar intervir os efeitos da institucionalização
ao nível da Satisfação de vida.
Para que os participantes seleccionados res-
peitassem estes critérios seguiu-se o método da
amostragem acidental por conveniência, incluin-
507
do todos os sujeitos que, preenchendo os crité-
rios de inclusão, se disponibilizaram a participar
no estudo. Com o objectivo de melhor os carac-
terizar, considera-se pertinente descrever de for-
ma mais específica o contexto residencial em
que estão inseridos, uma vez que cada contexto
residencial revela particularidades importantes.
2.1.1. A especificidade do contexto...
Para a concretização do presente estudo esco-
lhemos o Concelho de Mação, o qual cumpre
critérios básicos de definição de espaço rural:
- Aglomerados populacionais de fraca den-
sidade populacional:
Com uma área de 400 km2, e um total de 9
811 habitantes, o concelho de Mação tem uma
densidade populacional de 24.7 hab/Km2, valor
que está bastante aquém da média registada para
o distrito de Santarém (67,7 hab/km2).
O número total de habitantes está distribuído
pelas 8 freguesias que constituem o concelho:
Abobreira (680 hab.), Amendoa (8841 hab.),
Cardigos (1471 hab.), Carvoeiro (947 hab.), En-
vendos (1571 hab.), Mação (2 467 hab.), Ortiga
(706 hab.) e Penhascoso (1 128 hab.) (Censos
1991).
De acordo com o Instituto Nacional de estatís-
tica, a população residente no concelho tem vin-
do a diminuir progressivamente nos últimos
anos: de 12 234 habitantes em 1981 baixou para
os referidos 9 811 em 1991. a esta constatação
junta-se outra porventura mais grave, a actual
população encontra-se bastante envelhecida:
Cerca de 34% tem mais de 65 anos (dos quais
metade acima dos 75 anos), enquanto que os jo-
vens até aos 24 anos não vão alem dos 21.7%.
Mação apresenta um dos índices de envelheci-
mento mais elevados do país.
- Predomínio de actividades do sector pri-
mário:
Economicamente o concelho assenta na agri-
cultura e na pecuária (em regime de minifúndio),
encontrando-se ainda em desenvolvimento as
indústrias alimentar e de madeira.
- Ténue humanização da paisagem:
A paisagem envolvente é a de serras cobertas
de olivais e pinhais, aldeias de xisto e a quietude
das águas das ribeiras. A este propósito, os ido-
sos inquiridos referem frequentemente um antigo
ditado popular que afirma Mação como a terra
dos 3 «ás»: «Bons ares, boas águas e bons azei-
tes.»
Em termos geográficos o concelho de Mação
pertence ao distrito de Santarém e á diocese de
Portalegre. Fundamentalmente Beirão, este con-
celho integra-se, para fins estatísticos na unidade
territorial do Pinhal Interior e, no que respeita ao
ordenamento turístico, é parte da região de tu-
rismo dos Templários, Floresta Central e Albu-
feiras. Mação encontra-se no vértice de 3 re-
giões: Beira Baixa, Ribatejo e Alentejo, a 77 Km
de Santarém e a 170 Km de Lisboa.
As características do concelho são marcadas
pela influência das zonas que o rodeiam. As ser-
ras e os vales são característicos das Beiras, do
Ribatejo herdou os pratos típicos, a arquitectura
e as festas populares e, do Alentejo adoptou a
cultura de oliveiras, sobreiros e castanheiros.
A influência de diferentes culturas e tradições
deu aos habitantes uma personalidade especial:
tranquilos como os alentejanos, alegres como os
ribatejanos e identificados com a terra como os
beirões.
Em termos de habitabilidade a maioria das
freguesias deste concelho dispõe de electricida-
de, água, esgotos e saneamento básico.
Como principais equipamentos verifica-se
que a maior parte das aldeias destas freguesias
dispõem de escola primária (ainda que muitas
das vezes desactivada por falta de crianças que a
frequentem), igreja ou capela e clube recreativo
ou café, sendo estes os principais pontos de en-
contro e convívio da população residente.
As principais faltas denotam-se em termos de
cuidados de saúde, já que o Centro de Saúde só
conta com 5 extensões que funcionam apenas em
dias e horas específicas, e também a nível de
transportes públicos, já que há apenas um circui-
to de camioneta que percorre o concelho, passan-
do apenas nas aldeias que rodeiam a estrada
principal.
Em termos recreativos e culturais as activida-
des mais praticadas são as de carácter tradicio-
nal: os bailes, os jogos de salão e os convívios.
Estes últimos dão-se muitas vezes nos bares das
508
colectividades onde as pessoas se juntam. Deno-
ta-se ainda, em toda a população, uma forte
componente religiosa, sendo a missa semanal e o
terço também eles oportunidades não só de rezar
como de convívio e encontro.
Por todas as características apresentadas, no-
meadamente o elevado índice de envelhecimento
e o consequente peso da população idosa em re-
lação à população geral, Mação apresentou-se
como um local pertinente para a recolha dos 40
sujeitos participantes neste estudo. Sendo que
destes:
- 60% pertenciam ao sexo feminino, 40% ao
sexo masculino. O que vem de encontro às
actuais tendências demográficas (maior pro-
porção feminina com a idade);
- 60% pertenciam à faixa etária 71-75 anos,
40% à faixa etária 65-70 anos, o que parece
corroborar a tendência para o próprio enve-
lhecimento da população idosa;
- 74% eram casados, 22.5% viúvos e apenas
2.5% solteiros, não se verificando nenhum
caso de divórcio;
- 47.5% não tinham qualquer escolaridade,
47.5% frequentaram o ensino básico, 2.5%
frequentaram o ensino secundário e 2.5% o
superior. Trata-se portanto de um nível de
escolaridade predominantemente baixo, es-
pelho de uma cultura que ainda se mantém
predominantemente oral.
2.2. Instrumentos
Foi com base num questionário, já construído
e por nós adaptado aos nossos participantes, e na
Escala de Ânimo de Lawton, indicador de Satis-
fação de Vida, especificamente construída para a
população idosa, que se desenvolveu o presente
estudo, através do qual se apuraram as caracte-
rísticas de um total de 40 sujeitos residentes num
meio rural, a sua Satisfação de Vida e factores
que a influenciam.
2.2.1. O Questionário
Seguindo uma orientação ecológica, a organi-
zação do estudo teve em conta factores físicos do
ambiente, pretendendo-se um entendimento des-
tes na relação com factores sociais e pessoais, le-
vantados através de um questionário adaptado
para o meio rural com o objectivo de se conse-
guir uma linguagem mais simples e acessível à
população em questão. Procurando-se a recolha
de informações acerca das características demo-
gráficas (sexo, idade, estado civil...), factores ob-
jectivos (número de filhos, pessoas com quem
vive, tempo de residência no meio...) e caracte-
rísticas subjectivas (percepção da situação eco-
nómica, estado de saúde, contacto com a família,
nível de convívio e actividade percepcionados,
gosto de residir na casa e no meio, aspectos ne-
gativos e positivos percepcionados no meio e
motivos de preocupação e satisfação na velhice).
Tudo num total de 22 questões, 16 fechadas e 6
abertas.
2.2.2. A Escala de Ânimo: «Philadelphia Ge-
riatric Centre Morale Scale»
Esta Escala, construída por Lawton especifi-
camente para a população idosa, encontra-se
traduzida e aferida para a população portuguesa
por Paúl. Avalia 3 aspectos do Bem Estar psico-
lógico dos idosos:
- Solidão/Insatisfação: Informação acerca da
avaliação subjectiva do ambiente e do apoio
das redes sociais.
- Atitudes face ao próprio envelhecimento:
Assumindo-se como o resultado de um ba-
lanço entre a vida passada e a presente.
- Agitação: Corresponde a manifestações
comportamentais de ansiedade, à sua au-
sência ou a um gradiente dessa componen-
te.
2.3. Procedimento
A passagem dos dois instrumentos utilizados,
Questionário e Escala de Ânimo, foi realizada
num só momento e em contexto individual. O
Questionário antecedeu sempre a passagem da
escala.
Dado o grande volume de população analfa-
beta neste meio, optámos por ler nós próprios,
explicando previamente a cada idoso que seria o
investigador a registar por escrito as respostas
dadas.
Seguindo esta forma de procedimento, numa
primeira fase foi efectuado um pré-teste a 7 su-
509
jeitos, na faixa etária dos 65-75 anos, todos re-
sidentes na área rural pretendida, no sentido de
se averiguar a aplicabilidade e compreensibilida-
de dos instrumentos. Este pré-teste evidenciou
algumas dificuldades de compreensão ao nível
do questionário que determinaram a sua refor-
mulação.
Após a pré-testagem dos instrumentos, pas-
sou-se à fase de aplicação. Esta decorreu nos lo-
cais descritos, durante os meses de Março, Abril
e Maio de 2000, nomeadamente aos fins de se-
mana.
No sentido de se garantir que a escolha dos
participantes fosse o mais homogénea e aleatória
possível no que diz respeito às variáveis em estu-
do, a recolha ocorreu em diversas aldeias do
concelho.
Os sujeitos foram contactados durante os seus
tempos livres, quando se encontravam calma-
mente sentados à soleira das suas portas, costu-
me muito apreciado nesta região. Este pareceu-
-nos ser o contexto privilegiado, quer do ponto
de vista da receptividade à interacção, quer no
que se refere à possibilidade da aplicação decor-
rer em privacidade.
A passagem dos instrumentos teve uma dura-
ção aproximada de 30 a 40 minutos, não se tendo
verificado nenhum caso em que o sujeito, sendo
abordado, se tenha recusado a participar. Muito
pelo contrário, superada uma certa dificuldade
inicial, todos os sujeitos apresentaram grande
disponibilidade e afabilidade.
3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
Para a discussão dos resultados encontrados
parece-nos fundamental partir da questão inicial,
seguindo-se, para cada variável estudada, a aná-
lise da sua influência no Bem Estar dos idosos
inquiridos.
Quanto à questão inicial, segundo a qual se
procuram analisar «Quais os níveis de Bem Estar
de idosos residentes em meio rural», os resulta-
dos encontrados na Escala de Lawton revelam:
- Níveis médios de Bem Estar em termos do
total da escala (7.07 num total de 14);
- Níveis médio/altos na subescala de Soli-
dão/Insatisfação (2.90 em 5);
- Níveis médios na subescala de Agitação
(2.20 em 4);
- Níveis médio/baixos na subescala de Atitu-
des Face ao Próprio Envelhecimento.
Estes resultados vão ao encontro da pers-
pectiva defendida por Rowles (1984) ao indicar
os meios rurais como contextos privilegiados de
envelhecimento, defendendo neles diversas van-
tagens, entre as quais: (a) o facto do contexto fí-
sico dos meios rurais permanecer estável durante
longos períodos de tempo, sendo as mudanças
implementadas gradualmente, o que possibilita
às pessoas maior familiaridade com o meio; (b)
ritmo de vida mais lento, mais favorável aos ido-
sos cujos tempos de reacção possam estar lenti-
ficados, proporcionando maior inclinação para a
calma do que para as trocas sociais rápidas e
fragmentadas; (c) maior estabilidade populacio-
nal proporcionando a manutenção dos laços
afectivos, maior contacto, maior rede de vizi-
nhança que dita maior apoio prático, emocional e
psicológico.
A este propósito, o mesmo autor afirma que o
mais importante benefício da residência em meio
rural é o sentido de identidade, o sentimento de
ser-se conhecido que tal contexto promove. De
facto, apesar de alguma separação espacial, os
domínios rurais podem constituir-se como am-
bientes privilegiados pela promoção de redes de
relação em que cada indivíduo conhece os no-
mes, vida, saúde dos outros membros da comu-
nidade, reduzindo o potencial perigo de anoni-
mato e alienação.
Vão neste sentido os resultados encontrados
em termos das subescalas de solidão/insatisfação
e agitação. Na verdade, e segundo Hespanha
(1993) podem estar presentes, nos ambientes
rurais, verdadeiras redes de suporte social cons-
tituídas por vizinhos, familiares e amigos, refor-
çando a integração social. Estes laços sociais
exercem uma função protectora difusa de impor-
tantes efeitos sobre a estabilidade emocional e o
Bem Estar dos mais idosos. Também Rowles
(1984) defende a mesma posição ao afirmar a
presença em meios rurais, de uma matriz rela-
cional que dita uma estrutura de apoio, um sen-
tido de obrigação para outros membros da comu-
nidade. Tratando-se de um meio social estável
em termos de regras e normas sociais, que forne-
ce modelos de comportamento específicos e es-
510
táveis, sendo a mudança lenta. Haveria, portanto,
normas de conduta definidas e aceites por todos,
servindo de suporte às relações entre os indiví-
duos.
Os resultados obtidos na Escala de Lawton
parecem estar em concordância com a defesa
fundamental de Rowles (1984) quando afirma
que as características intrínsecas aos meios rurais
oferecem um ambiente mais contentor e de su-
porte quando as competências pessoais começam
a declinar.
Tal constatação é particularmente importante
se se tiver em conta, de acordo com Lawton
(1973), que à medida que diminuem as compe-
tências o comportamento e os afectos vão sendo
cada vez mais determinados por factores exter-
nos ao indivíduo.
Em termos do Modelo Ambiental de Lawton e
Nahemow (1973), os resultados encontrados pa-
recem apontar para um adequado nível de adap-
tação entre os idosos inquiridos e o seu meio,
meio este que parece permitir um adequado nível
de desempenho.
No entanto, a questão do ajuste ambiental tem
que ser relativizada, uma vez que, e no parecer
do próprio Lawton, ela envolve um complexo
multidimensional de atributos e variáveis, quer
no que respeita ao ambiente, quer no que respei-
ta ao indivíduo. A questão da adaptação tem a
ver com princípios homeostáticos.
A pressão ambiental não pode ser nem muito
alta, nem muito baixa em relação aquela que o
indivíduo está habituado, tal conduziria a um
sentimento de desconforto e à desadaptação.
Não obstante, a pressão ambiental que é percebi-
da varia de indivíduo para indivíduo, consoante
as suas próprias competências para lidar com ela.
Assim, tudo o que é possível afirmar é que os in-
divíduos inquiridos denotaram uma adaptação
satisfatória ao meio onde estão inseridos, propor-
cionada não só pelas características já enuncia-
das desse meio, mas também por factores ineren-
tes aos próprios indivíduos inquiridos, que se re-
flecte em níveis médios de Satisfação de Vida,
para os totais da escala de Animo, sendo pouco
frequentes os sentimentos de Solidão/Insatisfa-
ção e de Agitação.
Algo de diferente é sugerido pelos resultados
da subescala de Atitudes face ao Próprio Enve-
lhecimento, na qual os indivíduos inquiridos re-
velam níveis baixos de satisfação. Tais resulta-
dos parecem sofrer influência de certas atitudes
sociais mais discriminatórias. A este propósito
Berger (1995) afirma que as atitudes negativas
da sociedade face à velhice e aos idosos são, em
parte, responsáveis pela imagem negativa que
eles possam ter de si próprios. A velhice é mui-
tas vezes tida como uma doença incurável, como
um declínio inevitável.
Ainda segundo a mesma autora, é bom ter em
conta que os idosos são extremamente sensíveis
e vulneráveis à opinião dos outros e à atenção
que estes dão aos seus feitos e gestos.
Desta forma, um grande número de idosos en-
dossa, sem questionar, as etiquetas que lhe são
atribuídas. Acreditam nisso de tal forma que aca-
bam por se conformar identificando-se com a
imagem que a sociedade lhes confere. Este últi-
mo aspecto é particularmente visível nas últimas
duas questões do questionário. Quando interro-
gados acerca dos aspectos positivos e negativos
da velhice, os idosos interrogados refugiaram-se
muito em ideias partilhadas socialmente (ex:
«Isto para velho é sempre a piorar, não tem nada
de bom»).
Em relação à nossa segunda questão de inves-
tigação, «Que elementos se constituem como
mais importantes para importantes para o Bem
Estar destes idosos?», a análise estatística reve-
lou, para um nível de significância de 5%, os se-
guintes elementos:
3.1. Estado Civil
Em termos do estado civil a grande maioria
dos idosos inquiridos são casados (75%), ou
viúvos (22.5%), não se registando qualquer caso
de divórcio, pouco usual neste meio, dominado
por uma forte religiosidade e um sentido de que
o matrimónio é indissolúvel.
Mesmo o número de idosos solteiros é muito
baixo, apenas um, o que nos levou a considerar,
em termos de análise estatística, apenas dois gru-
pos: Casados e viúvos.
Verificaram-se diferenças significativas entre
casados e viúvos, apresentando o grupo de ido-
sos casados menos sentimentos de Solidão/Insa-
tisfação, avaliando subjectivamente mais positi-
vamente o ambiente e o apoio das redes sociais,
bem como um ânimo significativamente mais
elevado, apresentando níveis mais elevados de
Bem Estar do que os viúvos. Estes resultados es-
511
tão de acordo com os encontrados noutras inves-
tigações, nomeadamente a de Paúl (1991) quan-
do aferiu para a população Portuguesa a Escala
utilizada neste trabalho. Também Chatters (1988,
cit. Paúl, 1996) chegou a conclusões semelhan-
tes, afirmando que a situação de casado é um
preditor de Bem Estar.
A este propósito, Neto (1999) afirma a impor-
tância das relações conjugais para os mais ido-
sos, defendendo que estas têm tendência para se
tornarem mais igualitárias, o que dita uma relati-
va igualdade que pode proporcionar apoio mútuo
e partilha flexível. A morte do cônjuge constitui
um dos maiores traumas com que se deparam as
pessoas idosas, suscitando vários tipos de per-
das: corte nos laços emocionais profundos, desa-
parece a principal companhia nas actividades
quotidianas, emerge uma perda económica.
São assim de realçar os resultados encontra-
dos, apontando para maiores níveis de Bem Es-
tar, menos sentimentos de Solidão/Insatisfação e
até uma tendência, não significativa estatistica-
mente, para uma atitude mais positiva face ao
envelhecimento por parte do grupo de idosos ca-
sados face aos viúvos.
3.2. Contacto com a família
Na sequência do que foi referido anteriormen-
te, é possível afirmar que a maioria dos sujeitos
inquiridos percepciona o contacto com a família
como frequente (45%), ou até muito frequente
(40%), sendo uma minoria os idosos que referi-
ram um contacto pouco frequente com a família
(15%).
O contacto com a família revela-se importante
em termos da Satisfação de Vida destes idosos.
O grupo que percepciona um contacto muito fre-
quente com a família revela uma atitude mais
positiva face ao próprio envelhecimento do que
o grupo que afirma ter pouco contacto com a fa-
mília, revelando um balanço mais positivo entre
a vida passada e a presente.
Tais resultados vão ao encontro do estudo de
Neto (1999) o qual revela que é particularmente
importante para o idoso continuar a manter for-
tes laços emocionais e a comunicar regularmente
com a família.
Percepcionar um baixo nível de contacto com
familiares próximos, nomeadamente filhos, po-
de, nesta perspectiva, contribuir para um certo
desânimo, que, no nosso estudo se exprimiu sob
a forma de um balanço mais negativo relativa-
mente à vida presente.
Também Horley (1984) afirma que a partici-
pação familiar é um preditor importante de Bem
Estar subjectivo do idoso.
3.3. Pessoas com quem vive
Apesar das várias categorias de resposta pos-
síveis, a baixa frequência de respostas em algu-
mas delas, levou ao agrupamento dos idosos in-
quiridos: idosos a viverem sozinhos (20%) e ido-
sos a viverem acompanhados (60%), tendo-se
verificado diferenças estatisticamente significa-
tivas entre estes dois grupos, nomeadamente ao
nível da subescala de Solidão/Insatisfação e dos
totais da Escala de Animo.
Assim, os sujeitos que vivem acompanhados
diferem muito significativamente (p=0.005) dos
que vivem sozinhos, revelando menos senti-
mentos de solidão/Insatisfação, apresentando ní-
veis de satisfação superiores neste domínio. Di-
ferenças estas que também estão presentes ao ní-
vel dos totais da Escala de Ânimo (p=0.02),
apresentando o grupo que vive acompanhado, ní-
veis mais elevados de Bem Estar.
De facto, vários são os idosos a referir a im-
portância do cônjuge e dos filhos na sua vida,
afirmando sentirem-se acompanhados e seguros
por saberem que eles existem. Situação inversa
ocorre ao nível de muitos viúvos/viúvas que re-
ferem a tristeza sentida pelas casas vazias, pelas
refeições passadas a sós, falando de saudade e de
temor face à possível situação de doença ou de
dependência.
3.4. Situação Económica
Quanto à situação económica percepcionada,
a maioria dos idosos afirma-a como média
(67.5%) ou boa (25%), sendo que apenas 7.7% a
referem como má. Esta variável demonstrou ser
de grande importância para os idosos inquiridos,
exercendo influência ao nível da sua Satisfação
de Vida. Influência esta que é encontrada tanto
ao nível dos resultados totais da Escala de Âni-
mo, como das 3 subescalas. O grupo que percep-
ciona a sua situação económica como má revela
maiores níveis de Solidão/Insatisfação e de Agi-
tação do que os grupos que indicam uma situa-
512
ção económica média ou boa, revelando ainda
uma atitude mais negativa face ao envelhecimen-
to e um ânimo inferior, bem como níveis mais
baixos de Bem Estar.
Estes resultados vão no sentido dos encontra-
dos pelo projecto AGE (1990, cit. Neto, 1999)
que sublinham a importância da segurança finan-
ceira para os idosos. Por outro lado, interessa ter
em consideração que os idosos por nós inquiri-
dos revelaram ter tido vidas extremamente difí-
ceis, relatando grandes dificuldades e situações
de pobreza extrema que ultrapassaram com mui-
to trabalho e sofrimento. A reforma tem, aqui,
uma valência muito positiva, e é um dos aspec-
tos positivos da velhice mais referidos pelos
idosos, é «o dinheirinho certo ao final do mês»
(sic), que lhes permite continuar a viver ao seu
ritmo, cultivando o seu quinhão de terra e tratan-
do dos seus animais. Neste contexto, não pare-
cem verificar-se os efeitos negativos commu-
mente atribuídos à reforma: perda de status,
destruturação psicológica pela ausência de roti-
nas, diminuição dos rendimentos. Os nossos re-
sultados parecem estar de acordo com as teorias
que defendem que o meio rural proporciona
uma transição mais gradual para o estatuto de
idoso, permitindo-lhe viver ao seu ritmo.
3.5. Estado de Saúde
O termo Saúde foi interpretado, na maioria
dos casos como um estado de bem estar físico,
tendo dado origem a descrições relativamente
demoradas durante as entrevistas. A ideia que as
questões de saúde são muito importantes para os
idosos inquiridos, começou, desde aí a ganhar
contornos.
No entanto, a maioria dos idosos inquiridos
procuram posições centrais para caracterizarem a
sua saúde, afirmando que há quem esteja melhor,
mas também há quem esteja pior. Assim, 55%
afirmam a sua saúde como média, 22.5% como
boa e 22.5% como má, observando-se diferenças
significativas entre estes grupos, nomeadamente
ao nível das atitudes face ao próprio envelheci-
mento. O grupo que percepciona a sua saúde co-
mo má revela uma atitude face ao envelhecimen-
to mais negativa do que o grupo que afirma ter
boa saúde, revelando mais insatisfação. Este
grupo revela ainda maior tendência para a agita-
ção, ainda que esta não tenha assumido significa-
do estatístico (p=0.08).
Verifica-se ainda que o grupo que percepcio-
nou a sua saúde como boa tem valores médios de
Bem Estar superiores aos do grupo que se per-
cepcionou com saúde média, o mesmo aconte-
cendo entre este e o de má saúde.
Nos participantes do nosso estudo, as preocu-
pações de saúde vêm-se acrescidas com a falta e
a fraca acessibilidade aos serviços de saúde. De
facto, apontam, como principais aspectos nega-
tivos do meio, a grande dificuldade na acessibi-
lidade a serviços e recursos de cuidados médi-
cos, afirmando não existirem por perto Centros
de Saúde, o que os obriga a grandes deslocações,
dificultadas pela incipiente rede de transportes
públicos.
3.6. Actividade Diária
O nível de actividade é a questão central de
vários modelos teóricos, que fazem desta dimen-
são uma das mais investigadas quando a questão
é a Satisfação de Vida dos mais idosos.
No presente estudo sobressai a importância
deste factor. Os idosos inquiridos consideram-se
essencialmente moderadamente activos (50%)
ou até muito activos (32.5%). Apenas uma mino-
ria referiu ser pouco activo (17.5%), justificando
para tal, essencialmente, razões que se prendem
com a falta de saúde e incapacidade. Quando
analisada a influência desta variável no Bem
Estar, verificam-se diferenças significativas entre
os grupos, quer ao nível das atitudes face ao pró-
prio envelhecimento, quer ao nível dos totais da
Escala de Ânimo.
O grupo que afirma ter pouca actividade reve-
la uma atitude face ao envelhecimento mais ne-
gativa do que os grupos moderadamente e muito
activos, revelando estes últimos um balanço en-
tre a vida passada e a presente mais positivo, o
que decorre, provavelmente, do facto de ainda se
sentirem activos, úteis e capazes, com todos os
benefícios que tal pode ter ao nível da auto-es-
tima. Em termos totais, verifica-se ainda que os
sujeitos pouco activos revelam um animo mais
baixo do que os sujeitos muito activos.
Constata-se assim que, para os idosos inqui-
ridos, o nível de actividade tem influência na Sa-
tisfação de Vida, sendo os sujeitos com mais
513
actividade que apresentam níveis mais elevados
de Bem Estar.
Estes resultados vêm de encontro aos de
McClelland (1989), quando afirma que, nos ido-
sos que parecem interagir com o grupo de pares
da mesma idade, a actividade parece estar direc-
tamente envolvida na manutenção da Satisfação
de Vida. De facto, estar envolvido numa activi-
dade é muito mais que preencher tempo. Tam-
bém no presente estudo, o factor actividade pa-
rece ser importante a vários níveis.
Para Harris e Boden (cit. Fisher & Shaffer,
1993) a actividade é um factor de integração so-
cial. A sua diminuição ou extinção pode levar a
um afastamento crescente da sociedade envol-
vente. Herzog, Markers, Frances e Holmberg
(1988), por seu lado, defendem que o mecanis-
mo pelo qual as actividades influenciam a Satis-
fação de Vida se relacionam com o facto de po-
tenciarem e manterem certas dimensões do self
que são benéficas. Assim, o envolvimento em
actividades pode, de acordo com os referidos au-
tores, por exemplo, promover o sentimento de
capacidade, de controlo, de utilidade, asseguran-
do a manutenção da auto-estima, o que foi parti-
cularmente visível no nosso estudo.
Os resultados por nós encontrados, adequam-
-se às teorias que postulam que para o idoso es-
tar bem adaptado, deve sentir-se e manter-se
activo, deve ser estimulado pelo meio e fazer
parte do que se passa à sua volta. O ambiente ru-
ral no qual os idosos estão inseridos parece pre-
encher esta importante função, proporcionando-
-lhes um nível de actividade minimamente ade-
quado às suas competências e necessidades, per-
mitindo-lhes continuar activos, de acordo com o
seu ritmo.
Este último aspecto é particularmente visível
no Tipo de Actividades desempenhadas por estes
idosos.
3.7. Tipos de actividades
Como fonte de informação complementar, o
presente estudo procurou identificar quais os ti-
pos de actividades exercidas pelos idosos inqui-
ridos. Apesar de não ser possível avaliar estatis-
ticamente qual a influência de cada uma delas na
Satisfação de Vida, a leitura qualitativa não dei-
xa de ter a sua pertinência.
Verifica-se que são as actividades ocupacio-
nais (ex: agricultura e pecuária) e as actividades
de manutenção doméstica, as mais referidas,
aparecendo também outro tipo de actividades
mais viradas para o lazer e para o convívio, bem
como questões religiosas.
Os elevados níveis de actividade verificados,
mesmo em situação de reforma, vêm de encontro
às teses de Hespanha (1993) quando refere que
só na sociedade urbano-industrial foi estabeleci-
do o limite da idade activa. No meio rural, o su-
jeito apesar de receber a sua reforma, costuma
manter um nível de actividade semelhante ao
que desempenhou toda a vida. A maior disponi-
bilidade de tempo permite-lhe a dedicação a
uma actividade produtiva exercida por conta
própria, nomeadamente na agricultura e pecuá-
ria, muito referidas pelos idosos inquiridos.
A actividade, essencialmente agrícola ou pe-
cuária no meio rural, é mantida até que seja pos-
sível a autonomia motora, pois a maioria dos
idosos possui um talhão de terra que cultiva, ao
seu próprio ritmo, mantendo o nível de activi-
dade de acordo com as suas competências e
possibilidades (há idosos com grandes explora-
ções agrícolas e há idosos que afirmam já só se-
rem capazes de cuidar do próprio quintal). Esta
manutenção da actividade permite aos sujeitos
não só participarem activamente na vida da co-
munidade, partilhando interesses e motivações,
como também manterem o seu sentimento de
competência, de utilidade, de capacidade, facto-
res essenciais à promoção da satisfação de Vida.
Viver na sua própria casa é outro aspecto que
parece fundamental para os idosos em questão,
na medida em que referem valorizar muito a sua
independência, preferindo manter-se em sua casa
do que em casa de familiares ou num lar, o mes-
mo ocorrendo em relação ao meio onde residem,
do qual todos os idosos referiram não querer sair.
Paúl (1991) sublinha a importância desta ques-
tão, afirmando que todos os processos de ligação
à casa e ao meio permitem aos idosos manter o
seu eu para além de todas as mudanças por que
estão a passar. De facto, a permanência no meio
e local de residência habitual parece reduzir o
risco de possíveis desarmonias ecológicas, em
que, por mudança profunda do ambiente que o
rodeia, a interacção se pode desequilibrar.
Afigura-se importante referir a possível liga-
514
ção das variáveis mencionadas em termos da si-
tuação de relativa independência e auto-sufici-
ência que promovem, aspectos estes de impor-
tância fundamental para os idosos inquiridos.
Quando questionados acerca dos aspectos positi-
vos da velhice referem a importância da estabili-
dade financeira e de se manterem independentes,
referindo o medo que têm face à situação de per-
da de capacidades e de dependência.
Parece assim surgir, tal como o indiciado pela
literatura revista, uma certa atitude de funciona-
lidade da existência por manutenção da autono-
mia. Apesar de reconhecerem no meio a existên-
cia de redes de suporte social, estes idosos recor-
dam um passado marcado por situações de po-
breza, fome, injustiças e confrontos políticos.
Memórias muito presentes que contribuem para
a tal sensação, criada ao longo das suas vidas, de
só contarem com as suas mãos e o seu trabalho
para fazer face às necessidades com que se depa-
ram. O envelhecimento pode tornar-se assusta-
dor, antecipadamente a qualquer défice, por pôr
em causa a manutenção do estatuto autónomo,
económica e fisicamente, que permite realizar as
actividades necessárias e a permanência na pró-
pria casa.
Face a este perigo, o conjunto de variáveis in-
fluentes no Bem Estar deste grupo de idosos re-
sidentes em meio rural, indica claramente a im-
portância da manutenção do seu estatuto social
funcional e autónomo. A preocupação em não
constituírem um peso familiar, associado à cons-
tatação da distância que, por vezes, os separa dos
familiares; o facto de mesmo os amigos já terem
uma idade avançada, uma vez que o conjunto da
população residente neste meio é bastante enve-
lhecido; aliados à preocupação pela não existên-
cia de recursos apropriados, pelo menos em ter-
mos de saúde e transportes, para que possam
permanecer independentes e auto suficientes na
iminência de dificuldades futuras, determina que
a situação de doença, de quebra da estabilidade
económica e viuvez se tornem extremamente
preocupantes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Barreto, J. (1988). Aspectos psicológicos do envelheci-
mento. Psicologia, 6 (2), 159-170.
Fisher, L., & Shaffer, K. (1993). Older volunteers. A
guide to research and pratice. Newbury Park: Sage
Publications, Inc.
Herzog, A., Markers, H., & Holmberg, D. (1998).
Activities and well-being in older age: Effects of
self-concept and educational attainment. Psycholo-
gy and Aging, 13 (2), 179-189.
Hespanha, M. (1993). Para além do estado: A saúde e a
velhice na sociedade providência. Porto: Afronta-
mento.
Horley, J. (1984). Life satisfaction, hapiness and mo-
rale: Two problems with the use of subjective
well-being indicators. The Gerontologist, 24 (2),
203-209.
Lawton, M., & Nahemow, L. (1973). Toward an ecolo-
gical theory of adaptation and aging. Environmen-
tal Design Research, 1, 24-32.
Lawton, M. (1983). The varieties of well-being. Experi-
mental Aging Research, 9 (2), 159-170.
Lawton, M. (1984). Human behavior and environment,
advances in theory and research, vol 7. Eldery
People and the Environment. New York: Plenum
Press.
Lawton, M. (1985) Housing ando living environments
of older people. In R. Binstock & E. Shenes (Eds.),
Handbook of aging and social science, 2nd ed.
New York: Van Noshrand Company.
Lima, A., & Viegas, S. (1988). A diversidade cultural
do envelhecimento: A construção social da catego-
ria de velhice. Psicologia, 6 (1), 149-158.
McClelland, K. A. (1982). Self conception and life sa-
tisfaction: Integating aged subculture and activity
theory. Journal of Gerontology, 37, 723-732.
RESUMO
O presente trabalho que tem por quadro de referên-
cia o Paradigma Ecológico-Ambiental da velhice, sus-
tentado no Modelo ambiental de Lawton, procura
averiguar «Quais os níveis de Bem Estar de um grupo
de idosos residentes em meio rural», tentando ainda
identificar «Que variáveis se constituem como mais
importantes para o Bem Estar destes idosos». Consti-
tuiu-se para tal uma amostra de 40 pessoas residentes
em meio rural (concelho de Mação), às quais foi soli-
citada resposta a um questionário adaptado para o efei-
to e à Escala de Ânimo de Lawton. Os resultados evi-
denciaram a existência de níveis médios de Bem Estar,
apontando para uma adequada relação idoso/meio.
Palavras-chave: Bem estar, pessoa idosa, meio ru-
ral.
ABSTRACT
The Ecological Paradigm of old age and particular-
ly Lawton’s Ecological Model are these study frame-
515
works. We intended to know the levels of Psychologi-
cal Well-Being of rural elderly and to identify which
are the most important variables of Psychological
Well-Being in these elderly. Our sample consisted of
40 rural people (living in Mação) who completed the
Portuguese version of the Philadelphia Geriatric Cen-
ter Morale Scale and a questionnaire designed by us.
Our results show medium levels of Psychological
Well-Being, pointing to a suitable relation between the
elderly and the environment.
Key words: Well-Being, elderly, rural.
516

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O Bem-Estar de Idosos em Áreas Rurais

  • 1. 1. INTRODUÇÃO A velhice constitui um período de grandes mudanças nos planos biológico, psicológico e social, bem como no plano das relações pessoa- mundo. Estas mudanças exigem ao idoso um es- forço de adaptação às novas condições de vida. Pela profunda alteração a diferentes níveis, e pe- lo esforço que a personalidade terá de fazer para se adaptar, trata-se de um momento de risco para o equilíbrio e Bem Estar psicológicos da pessoa idosa (Pinheiro & Lebres, 1998). O genérico dos trabalhos que têm vindo a ser realizados acerca da pessoa idosa tem focado es- sencialmente questões inerentes a perdas e défi- ces neste grupo etário. De facto, segundo Barreto (1998) até há alguns anos os vários autores que se debruçavam sobre a psicologia da idade avançada mostravam tendência para: (a) Privilegiar os as- pectos cognitivos em relação aos demais; (b) Focar essencialmente perdas e défices; (c) For- mular normas genéricas mais do que descrever tipos e variações; (d) Esquecer a continuidade en- tre a época da senescência e as que a precedem. Actualmente, tal visão pessimista dá lugar a uma orientação mais realista e construtiva. O en- velhecimento não ocorre de forma estanque em todos os indivíduos: Enquanto uns tendem a apresentar padrões habituais de envelhecimento que reflectem alterações típicas da idade, outros tendem a alcançar um elevado nível de funciona- mento nos domínios físico, psicológico e social, em que apenas alguns sinais típicos da mudança ocorrem. Segundo Paúl (1991) estas diferenças podem explicar-se à luz da combinação de facto- res genéticos, pessoais e ambientais. Apesar de errada, há uma tendência para pen- sar a velhice como universal, devendo-se tal talvez ao facto de esta se inscrever no ciclo bio- lógico natural de todo o ser humano: nascimento, crescimento e morte. No entanto, é complicado falar da velhice dentro de um quadro geral, uma vez que ninguém envelhece de uma maneira ou ao mesmo ritmo. A velhice é um processo inelutável caracteri- zado por um complexo conjunto de factores fi- siológicos, psicológicos e sociais específicos de cada indivíduo. Assim, se o processo de envelhe- cimento é normal e universal as alterações cau- sadas pelo envelhecimento desenvolvem-se a um ritmo diferente de pessoa para pessoa depen- dendo de uma multiplicidade de factores internos e externos (Schroets & Birren, 1980). Evidencia-se, assim, quão difícil é sustentar uma uniformidade no processo de envelhecimen- 505 Análise Psicológica (2002), 3 (XX): 505-516 O bem estar da pessoa idosa em meio rural ARMÉNIO SEQUEIRA (*) MARLENE NUNES SILVA (**) (*) Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lis- boa. (**) Psicóloga Clínica.
  • 2. to, como se se chegasse a um estádio do ciclo vi- tal em que se esbatem as diferenças individuais. É falso pensar nos idosos como num grupo ho- mogéneo de indivíduos caracterizado por uma diminuição das capacidades vitais, bem como dos recursos sociais e económicos. Muitas são as formas de se ser velho, impor- tando perceber que existem idosos e idosos e que, qualquer um deles carrega consigo a sua história de vida, determinada tanto pelo seu património genético como pelo seu património psicossocial. De facto, e tal como afirmam Lima e Viegas (1988, p. 149) «Se a velhice é o destino biológico do homem, ela é vivida de forma muito variável consoante o contexto em que se inscreve». É de sublinhar que, apesar de o envelhecimen- to ser acompanhado por alterações a diferentes níveis, qualquer dos défices físicos, psicológicos e sociais podem ser atenuados ou incrementados pelo contexto em que o idoso se inscreve. Então, muito embora se observe a existência de factores limitantes relacionados com a idade, eles não afectam senão modestamente a capaci- dade de reestruturação e manutenção da saúde intelectual e mental da pessoa idosa que se so- corre de estratégias apropriadas. Tais capacida- des não dependem tanto da idade que o indiví- duo tem, quanto do contexto sócio cultural em que se insere. Assim sendo, as diferentes formas de estar e sentir só são compreensíveis na perspectiva do curso de vida e da consequente relação do idoso com o seu cenário actual. Defendendo que à medida que a pessoa enve- lhece as suas capacidades de adaptação vão di- minuindo, Lawton (1983), refere que o idoso se torna mais sensível ao meio ambiente, meio que se torna um agente relevante na promoção do seu Bem Estar. Parece então de fundamental interesse estudar a influência do contexto na Satisfação de Vida do idoso, na medida em que só a partir da análise transaccional da unidade ecológica pessoa/ambi- ente podemos compreender o Bem Estar subjec- tivo de idosos que vivem em diferentes cenários, sendo que cada cenário ambiental dita de forma única a experiência do envelhecimento. Há que pensar na pessoa idosa com programas de vida e acções intencionais, vivendo e agindo em cenários ambientais concretos e temporais. Tal visão enquadra-se na perspectiva ecológi- co/ambiental da velhice, que defende uma psico- logia das pessoas nos seus cenários de vida reais, dotada de validade ecológica por possibi- litar a compreensão das transacções entre os processos psicológicos e as acções humanas, e os contextos e cenários quotidianos em que elas se desenrolam (Soczka, 1993). A este propósito Paúl (1991) afirma que o con- ceito de velhice bem sucedida só faz sentido nu- ma perspectiva ecológica, considerando o indiví- duo no seu contexto actual e passado, no quadro de uma relação dialéctica entre as pressões am- bientais e as suas capacidades adaptativas. Carp (1987) afirma que a problemática ambi- ental é reconhecida como muito importante em gerontologia. Uma das mais relevantes aborda- gens da relação pessoa idosa/ambiente vem da equipa de Lawton do Centro Geriátrico de Phila- delphia. Conduzindo inúmeras pesquisas neste campo, sistematizam toda a informação no Mo- delo Ambiental de Lawton e Nahemow (1973). Para Lawton a Satisfação de Vida resulta da eficaz interacção do indivíduo com o meio em que se insere. O modelo ecológico considera o comportamento num dado contexto, implicando que o desempenho do indivíduo seja visto como o resultado de uma transacção com o meio, em que a força relativa do indivíduo e do meio se concertam. Para este autor todo o comportamento é tran- saccional, isto é, não pode ser entendido com base em apenas uma variável, mas em função das variáveis presentes, só sendo compreensível na dinâmica das relações pessoa/ambiente. Sen- do que: - O aspecto mais importante dos traços com- portamentais está resumido no termo «Com- petência» manifesta em áreas como a saúde biológica, a capacidade sensório perceptiva, as capacidades motoras e cognitivas. - O ambiente é definido tendo em conta o conceito de «Pressão» visto como um de- terminado potencial de exigência para qual- quer indivíduo (define-se individualmente esta pressão através das exigências que faz às capacidades físicas, psíquicas e sociais dos indivíduos quer do ponto de vista real, quer subjectivo). Para qualquer nível de competência existem níveis de pressão que podem tornar o comporta- 506
  • 3. mento e o afecto mal adaptados, do mesmo mo- do que, para um nível de competência muito bai- xo existem valores de pressão ambiental capazes de promoverem um comportamento adaptado e um afecto positivo. De nada vale tentar caracterizar um ambiente se não for tida em conta a pessoa que nele se ins- creve. As características ambientais podem fun- cionar tanto como barreiras, como facilitadores de determinado comportamento, dependendo das características de cada sujeito específico. É, pois, importante encontrar e proporcionar ao indivíduo idoso um ambiente que, no respei- tante às exigências pessoais não peque por ex- cesso nem por defeito, pois a adaptação tem a ver com princípios homeostáticos: A pressão ambiental não pode ser nem maior (o que exigi- ria demais) nem menor (o que levaria ao subesti- mar de competências) do que aquela que o indi- víduo está habituado. Tal conduziria a um senti- mento de desconforto e à desadaptação. Não obstante, a pressão ambiental percebida varia de indivíduo para indivíduo, consoante as suas próprias competências para lidar com ela. A «hipótese da docilidade ambiental» veiculada por estes autores, defende que à medida que di- minuem as competências o comportamento e os afectos vão sendo cada vez mais determinados por factores externos ao indivíduo. Os idosos, quando há declínio em algumas competências, tendem a ser mais vulneráveis ao ambiente do que os mais novos. O lado positivo desta maior vulnerabilidade prende-se com a possibilidade de promover melhorias a nível pessoal, realizando maior adaptação ambiental. Neste sentido, Paúl (1991) defende que a me- ta do trabalho desenvolvido na procura de inter- venções ambientais adequadas, encontra o seu sentido na conceptualização de modelos teóricos das transacções entre o meio e o indivíduo idoso, que assim permitam o desenvolvimento de pro- gramas que sejam abrangentes das privações e dificuldades às quais a população idosa está se- lectivamente mais vulnerável. Segundo esta au- tora, no extenso conjunto das variáveis que in- fluenciam o Bem Estar psicológico dos idosos destacam-se as vertentes subjectivas que incluem a percepção que o idoso tem do seu ambiente e a congruência com o mesmo, afirmando a impor- tância da adequação pessoa/meio. Quando esta se verifica, o idoso pode manter a sua Satisfação de Vida independentemente de critérios externos considerarem o meio pouco favorável. A maioria dos trabalhos que tem vindo a ser desenvolvidos em torno das temáticas afectas ao idoso, têm focado essencialmente as perdas e dé- fices neste grupo etário. No presente trabalho procurou-se uma outra visão: Ao invés dos fac- tores inerentes ao declínio, a nossa atenção re- caiu sobre os factores inerentes à Satisfação num grupo de residentes em meio rural. A opção pelo meio rural pareceu-nos relevan- te, uma vez que, atendendo ao aumento da urba- nização, quando se coloca a questão da influên- cia da experiência territorial e ambiental a nível pessoal e social todos os esforços se dirigem à avaliação das consequências de tal fenómeno a partir da vivência da cidade. Poucos são os estudos por nós encontrados em relação aos contextos rurais. Seria importante modificar esta situação, não só devido ao signi- ficativo número de idosos que envelhece em am- bientes rurais, mas também porque estamos perante cenários com características específicas que ditam de forma única a experiência de neles envelhecer. 2. MÉTODO 2.1. Participantes Participaram neste estudo 40 sujeitos, dos dois sexos, com idades compreendidas entre os 65 e os 75 anos, inclusive. Para a sua selecção tivemos em atenção: - Idade compreendida entre os 65-75 anos; - Ambos os sexos; - Residência em meio rural: A escolha do local teve em conta alguns critérios básicos de definição do espaço rural, tais como o número de habitantes a densidade popula- cional, a concentração de edifícios e o sec- tor de actividade predominante. - Residência em comunidade, para não dei- xar intervir os efeitos da institucionalização ao nível da Satisfação de vida. Para que os participantes seleccionados res- peitassem estes critérios seguiu-se o método da amostragem acidental por conveniência, incluin- 507
  • 4. do todos os sujeitos que, preenchendo os crité- rios de inclusão, se disponibilizaram a participar no estudo. Com o objectivo de melhor os carac- terizar, considera-se pertinente descrever de for- ma mais específica o contexto residencial em que estão inseridos, uma vez que cada contexto residencial revela particularidades importantes. 2.1.1. A especificidade do contexto... Para a concretização do presente estudo esco- lhemos o Concelho de Mação, o qual cumpre critérios básicos de definição de espaço rural: - Aglomerados populacionais de fraca den- sidade populacional: Com uma área de 400 km2, e um total de 9 811 habitantes, o concelho de Mação tem uma densidade populacional de 24.7 hab/Km2, valor que está bastante aquém da média registada para o distrito de Santarém (67,7 hab/km2). O número total de habitantes está distribuído pelas 8 freguesias que constituem o concelho: Abobreira (680 hab.), Amendoa (8841 hab.), Cardigos (1471 hab.), Carvoeiro (947 hab.), En- vendos (1571 hab.), Mação (2 467 hab.), Ortiga (706 hab.) e Penhascoso (1 128 hab.) (Censos 1991). De acordo com o Instituto Nacional de estatís- tica, a população residente no concelho tem vin- do a diminuir progressivamente nos últimos anos: de 12 234 habitantes em 1981 baixou para os referidos 9 811 em 1991. a esta constatação junta-se outra porventura mais grave, a actual população encontra-se bastante envelhecida: Cerca de 34% tem mais de 65 anos (dos quais metade acima dos 75 anos), enquanto que os jo- vens até aos 24 anos não vão alem dos 21.7%. Mação apresenta um dos índices de envelheci- mento mais elevados do país. - Predomínio de actividades do sector pri- mário: Economicamente o concelho assenta na agri- cultura e na pecuária (em regime de minifúndio), encontrando-se ainda em desenvolvimento as indústrias alimentar e de madeira. - Ténue humanização da paisagem: A paisagem envolvente é a de serras cobertas de olivais e pinhais, aldeias de xisto e a quietude das águas das ribeiras. A este propósito, os ido- sos inquiridos referem frequentemente um antigo ditado popular que afirma Mação como a terra dos 3 «ás»: «Bons ares, boas águas e bons azei- tes.» Em termos geográficos o concelho de Mação pertence ao distrito de Santarém e á diocese de Portalegre. Fundamentalmente Beirão, este con- celho integra-se, para fins estatísticos na unidade territorial do Pinhal Interior e, no que respeita ao ordenamento turístico, é parte da região de tu- rismo dos Templários, Floresta Central e Albu- feiras. Mação encontra-se no vértice de 3 re- giões: Beira Baixa, Ribatejo e Alentejo, a 77 Km de Santarém e a 170 Km de Lisboa. As características do concelho são marcadas pela influência das zonas que o rodeiam. As ser- ras e os vales são característicos das Beiras, do Ribatejo herdou os pratos típicos, a arquitectura e as festas populares e, do Alentejo adoptou a cultura de oliveiras, sobreiros e castanheiros. A influência de diferentes culturas e tradições deu aos habitantes uma personalidade especial: tranquilos como os alentejanos, alegres como os ribatejanos e identificados com a terra como os beirões. Em termos de habitabilidade a maioria das freguesias deste concelho dispõe de electricida- de, água, esgotos e saneamento básico. Como principais equipamentos verifica-se que a maior parte das aldeias destas freguesias dispõem de escola primária (ainda que muitas das vezes desactivada por falta de crianças que a frequentem), igreja ou capela e clube recreativo ou café, sendo estes os principais pontos de en- contro e convívio da população residente. As principais faltas denotam-se em termos de cuidados de saúde, já que o Centro de Saúde só conta com 5 extensões que funcionam apenas em dias e horas específicas, e também a nível de transportes públicos, já que há apenas um circui- to de camioneta que percorre o concelho, passan- do apenas nas aldeias que rodeiam a estrada principal. Em termos recreativos e culturais as activida- des mais praticadas são as de carácter tradicio- nal: os bailes, os jogos de salão e os convívios. Estes últimos dão-se muitas vezes nos bares das 508
  • 5. colectividades onde as pessoas se juntam. Deno- ta-se ainda, em toda a população, uma forte componente religiosa, sendo a missa semanal e o terço também eles oportunidades não só de rezar como de convívio e encontro. Por todas as características apresentadas, no- meadamente o elevado índice de envelhecimento e o consequente peso da população idosa em re- lação à população geral, Mação apresentou-se como um local pertinente para a recolha dos 40 sujeitos participantes neste estudo. Sendo que destes: - 60% pertenciam ao sexo feminino, 40% ao sexo masculino. O que vem de encontro às actuais tendências demográficas (maior pro- porção feminina com a idade); - 60% pertenciam à faixa etária 71-75 anos, 40% à faixa etária 65-70 anos, o que parece corroborar a tendência para o próprio enve- lhecimento da população idosa; - 74% eram casados, 22.5% viúvos e apenas 2.5% solteiros, não se verificando nenhum caso de divórcio; - 47.5% não tinham qualquer escolaridade, 47.5% frequentaram o ensino básico, 2.5% frequentaram o ensino secundário e 2.5% o superior. Trata-se portanto de um nível de escolaridade predominantemente baixo, es- pelho de uma cultura que ainda se mantém predominantemente oral. 2.2. Instrumentos Foi com base num questionário, já construído e por nós adaptado aos nossos participantes, e na Escala de Ânimo de Lawton, indicador de Satis- fação de Vida, especificamente construída para a população idosa, que se desenvolveu o presente estudo, através do qual se apuraram as caracte- rísticas de um total de 40 sujeitos residentes num meio rural, a sua Satisfação de Vida e factores que a influenciam. 2.2.1. O Questionário Seguindo uma orientação ecológica, a organi- zação do estudo teve em conta factores físicos do ambiente, pretendendo-se um entendimento des- tes na relação com factores sociais e pessoais, le- vantados através de um questionário adaptado para o meio rural com o objectivo de se conse- guir uma linguagem mais simples e acessível à população em questão. Procurando-se a recolha de informações acerca das características demo- gráficas (sexo, idade, estado civil...), factores ob- jectivos (número de filhos, pessoas com quem vive, tempo de residência no meio...) e caracte- rísticas subjectivas (percepção da situação eco- nómica, estado de saúde, contacto com a família, nível de convívio e actividade percepcionados, gosto de residir na casa e no meio, aspectos ne- gativos e positivos percepcionados no meio e motivos de preocupação e satisfação na velhice). Tudo num total de 22 questões, 16 fechadas e 6 abertas. 2.2.2. A Escala de Ânimo: «Philadelphia Ge- riatric Centre Morale Scale» Esta Escala, construída por Lawton especifi- camente para a população idosa, encontra-se traduzida e aferida para a população portuguesa por Paúl. Avalia 3 aspectos do Bem Estar psico- lógico dos idosos: - Solidão/Insatisfação: Informação acerca da avaliação subjectiva do ambiente e do apoio das redes sociais. - Atitudes face ao próprio envelhecimento: Assumindo-se como o resultado de um ba- lanço entre a vida passada e a presente. - Agitação: Corresponde a manifestações comportamentais de ansiedade, à sua au- sência ou a um gradiente dessa componen- te. 2.3. Procedimento A passagem dos dois instrumentos utilizados, Questionário e Escala de Ânimo, foi realizada num só momento e em contexto individual. O Questionário antecedeu sempre a passagem da escala. Dado o grande volume de população analfa- beta neste meio, optámos por ler nós próprios, explicando previamente a cada idoso que seria o investigador a registar por escrito as respostas dadas. Seguindo esta forma de procedimento, numa primeira fase foi efectuado um pré-teste a 7 su- 509
  • 6. jeitos, na faixa etária dos 65-75 anos, todos re- sidentes na área rural pretendida, no sentido de se averiguar a aplicabilidade e compreensibilida- de dos instrumentos. Este pré-teste evidenciou algumas dificuldades de compreensão ao nível do questionário que determinaram a sua refor- mulação. Após a pré-testagem dos instrumentos, pas- sou-se à fase de aplicação. Esta decorreu nos lo- cais descritos, durante os meses de Março, Abril e Maio de 2000, nomeadamente aos fins de se- mana. No sentido de se garantir que a escolha dos participantes fosse o mais homogénea e aleatória possível no que diz respeito às variáveis em estu- do, a recolha ocorreu em diversas aldeias do concelho. Os sujeitos foram contactados durante os seus tempos livres, quando se encontravam calma- mente sentados à soleira das suas portas, costu- me muito apreciado nesta região. Este pareceu- -nos ser o contexto privilegiado, quer do ponto de vista da receptividade à interacção, quer no que se refere à possibilidade da aplicação decor- rer em privacidade. A passagem dos instrumentos teve uma dura- ção aproximada de 30 a 40 minutos, não se tendo verificado nenhum caso em que o sujeito, sendo abordado, se tenha recusado a participar. Muito pelo contrário, superada uma certa dificuldade inicial, todos os sujeitos apresentaram grande disponibilidade e afabilidade. 3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para a discussão dos resultados encontrados parece-nos fundamental partir da questão inicial, seguindo-se, para cada variável estudada, a aná- lise da sua influência no Bem Estar dos idosos inquiridos. Quanto à questão inicial, segundo a qual se procuram analisar «Quais os níveis de Bem Estar de idosos residentes em meio rural», os resulta- dos encontrados na Escala de Lawton revelam: - Níveis médios de Bem Estar em termos do total da escala (7.07 num total de 14); - Níveis médio/altos na subescala de Soli- dão/Insatisfação (2.90 em 5); - Níveis médios na subescala de Agitação (2.20 em 4); - Níveis médio/baixos na subescala de Atitu- des Face ao Próprio Envelhecimento. Estes resultados vão ao encontro da pers- pectiva defendida por Rowles (1984) ao indicar os meios rurais como contextos privilegiados de envelhecimento, defendendo neles diversas van- tagens, entre as quais: (a) o facto do contexto fí- sico dos meios rurais permanecer estável durante longos períodos de tempo, sendo as mudanças implementadas gradualmente, o que possibilita às pessoas maior familiaridade com o meio; (b) ritmo de vida mais lento, mais favorável aos ido- sos cujos tempos de reacção possam estar lenti- ficados, proporcionando maior inclinação para a calma do que para as trocas sociais rápidas e fragmentadas; (c) maior estabilidade populacio- nal proporcionando a manutenção dos laços afectivos, maior contacto, maior rede de vizi- nhança que dita maior apoio prático, emocional e psicológico. A este propósito, o mesmo autor afirma que o mais importante benefício da residência em meio rural é o sentido de identidade, o sentimento de ser-se conhecido que tal contexto promove. De facto, apesar de alguma separação espacial, os domínios rurais podem constituir-se como am- bientes privilegiados pela promoção de redes de relação em que cada indivíduo conhece os no- mes, vida, saúde dos outros membros da comu- nidade, reduzindo o potencial perigo de anoni- mato e alienação. Vão neste sentido os resultados encontrados em termos das subescalas de solidão/insatisfação e agitação. Na verdade, e segundo Hespanha (1993) podem estar presentes, nos ambientes rurais, verdadeiras redes de suporte social cons- tituídas por vizinhos, familiares e amigos, refor- çando a integração social. Estes laços sociais exercem uma função protectora difusa de impor- tantes efeitos sobre a estabilidade emocional e o Bem Estar dos mais idosos. Também Rowles (1984) defende a mesma posição ao afirmar a presença em meios rurais, de uma matriz rela- cional que dita uma estrutura de apoio, um sen- tido de obrigação para outros membros da comu- nidade. Tratando-se de um meio social estável em termos de regras e normas sociais, que forne- ce modelos de comportamento específicos e es- 510
  • 7. táveis, sendo a mudança lenta. Haveria, portanto, normas de conduta definidas e aceites por todos, servindo de suporte às relações entre os indiví- duos. Os resultados obtidos na Escala de Lawton parecem estar em concordância com a defesa fundamental de Rowles (1984) quando afirma que as características intrínsecas aos meios rurais oferecem um ambiente mais contentor e de su- porte quando as competências pessoais começam a declinar. Tal constatação é particularmente importante se se tiver em conta, de acordo com Lawton (1973), que à medida que diminuem as compe- tências o comportamento e os afectos vão sendo cada vez mais determinados por factores exter- nos ao indivíduo. Em termos do Modelo Ambiental de Lawton e Nahemow (1973), os resultados encontrados pa- recem apontar para um adequado nível de adap- tação entre os idosos inquiridos e o seu meio, meio este que parece permitir um adequado nível de desempenho. No entanto, a questão do ajuste ambiental tem que ser relativizada, uma vez que, e no parecer do próprio Lawton, ela envolve um complexo multidimensional de atributos e variáveis, quer no que respeita ao ambiente, quer no que respei- ta ao indivíduo. A questão da adaptação tem a ver com princípios homeostáticos. A pressão ambiental não pode ser nem muito alta, nem muito baixa em relação aquela que o indivíduo está habituado, tal conduziria a um sentimento de desconforto e à desadaptação. Não obstante, a pressão ambiental que é percebi- da varia de indivíduo para indivíduo, consoante as suas próprias competências para lidar com ela. Assim, tudo o que é possível afirmar é que os in- divíduos inquiridos denotaram uma adaptação satisfatória ao meio onde estão inseridos, propor- cionada não só pelas características já enuncia- das desse meio, mas também por factores ineren- tes aos próprios indivíduos inquiridos, que se re- flecte em níveis médios de Satisfação de Vida, para os totais da escala de Animo, sendo pouco frequentes os sentimentos de Solidão/Insatisfa- ção e de Agitação. Algo de diferente é sugerido pelos resultados da subescala de Atitudes face ao Próprio Enve- lhecimento, na qual os indivíduos inquiridos re- velam níveis baixos de satisfação. Tais resulta- dos parecem sofrer influência de certas atitudes sociais mais discriminatórias. A este propósito Berger (1995) afirma que as atitudes negativas da sociedade face à velhice e aos idosos são, em parte, responsáveis pela imagem negativa que eles possam ter de si próprios. A velhice é mui- tas vezes tida como uma doença incurável, como um declínio inevitável. Ainda segundo a mesma autora, é bom ter em conta que os idosos são extremamente sensíveis e vulneráveis à opinião dos outros e à atenção que estes dão aos seus feitos e gestos. Desta forma, um grande número de idosos en- dossa, sem questionar, as etiquetas que lhe são atribuídas. Acreditam nisso de tal forma que aca- bam por se conformar identificando-se com a imagem que a sociedade lhes confere. Este últi- mo aspecto é particularmente visível nas últimas duas questões do questionário. Quando interro- gados acerca dos aspectos positivos e negativos da velhice, os idosos interrogados refugiaram-se muito em ideias partilhadas socialmente (ex: «Isto para velho é sempre a piorar, não tem nada de bom»). Em relação à nossa segunda questão de inves- tigação, «Que elementos se constituem como mais importantes para importantes para o Bem Estar destes idosos?», a análise estatística reve- lou, para um nível de significância de 5%, os se- guintes elementos: 3.1. Estado Civil Em termos do estado civil a grande maioria dos idosos inquiridos são casados (75%), ou viúvos (22.5%), não se registando qualquer caso de divórcio, pouco usual neste meio, dominado por uma forte religiosidade e um sentido de que o matrimónio é indissolúvel. Mesmo o número de idosos solteiros é muito baixo, apenas um, o que nos levou a considerar, em termos de análise estatística, apenas dois gru- pos: Casados e viúvos. Verificaram-se diferenças significativas entre casados e viúvos, apresentando o grupo de ido- sos casados menos sentimentos de Solidão/Insa- tisfação, avaliando subjectivamente mais positi- vamente o ambiente e o apoio das redes sociais, bem como um ânimo significativamente mais elevado, apresentando níveis mais elevados de Bem Estar do que os viúvos. Estes resultados es- 511
  • 8. tão de acordo com os encontrados noutras inves- tigações, nomeadamente a de Paúl (1991) quan- do aferiu para a população Portuguesa a Escala utilizada neste trabalho. Também Chatters (1988, cit. Paúl, 1996) chegou a conclusões semelhan- tes, afirmando que a situação de casado é um preditor de Bem Estar. A este propósito, Neto (1999) afirma a impor- tância das relações conjugais para os mais ido- sos, defendendo que estas têm tendência para se tornarem mais igualitárias, o que dita uma relati- va igualdade que pode proporcionar apoio mútuo e partilha flexível. A morte do cônjuge constitui um dos maiores traumas com que se deparam as pessoas idosas, suscitando vários tipos de per- das: corte nos laços emocionais profundos, desa- parece a principal companhia nas actividades quotidianas, emerge uma perda económica. São assim de realçar os resultados encontra- dos, apontando para maiores níveis de Bem Es- tar, menos sentimentos de Solidão/Insatisfação e até uma tendência, não significativa estatistica- mente, para uma atitude mais positiva face ao envelhecimento por parte do grupo de idosos ca- sados face aos viúvos. 3.2. Contacto com a família Na sequência do que foi referido anteriormen- te, é possível afirmar que a maioria dos sujeitos inquiridos percepciona o contacto com a família como frequente (45%), ou até muito frequente (40%), sendo uma minoria os idosos que referi- ram um contacto pouco frequente com a família (15%). O contacto com a família revela-se importante em termos da Satisfação de Vida destes idosos. O grupo que percepciona um contacto muito fre- quente com a família revela uma atitude mais positiva face ao próprio envelhecimento do que o grupo que afirma ter pouco contacto com a fa- mília, revelando um balanço mais positivo entre a vida passada e a presente. Tais resultados vão ao encontro do estudo de Neto (1999) o qual revela que é particularmente importante para o idoso continuar a manter for- tes laços emocionais e a comunicar regularmente com a família. Percepcionar um baixo nível de contacto com familiares próximos, nomeadamente filhos, po- de, nesta perspectiva, contribuir para um certo desânimo, que, no nosso estudo se exprimiu sob a forma de um balanço mais negativo relativa- mente à vida presente. Também Horley (1984) afirma que a partici- pação familiar é um preditor importante de Bem Estar subjectivo do idoso. 3.3. Pessoas com quem vive Apesar das várias categorias de resposta pos- síveis, a baixa frequência de respostas em algu- mas delas, levou ao agrupamento dos idosos in- quiridos: idosos a viverem sozinhos (20%) e ido- sos a viverem acompanhados (60%), tendo-se verificado diferenças estatisticamente significa- tivas entre estes dois grupos, nomeadamente ao nível da subescala de Solidão/Insatisfação e dos totais da Escala de Animo. Assim, os sujeitos que vivem acompanhados diferem muito significativamente (p=0.005) dos que vivem sozinhos, revelando menos senti- mentos de solidão/Insatisfação, apresentando ní- veis de satisfação superiores neste domínio. Di- ferenças estas que também estão presentes ao ní- vel dos totais da Escala de Ânimo (p=0.02), apresentando o grupo que vive acompanhado, ní- veis mais elevados de Bem Estar. De facto, vários são os idosos a referir a im- portância do cônjuge e dos filhos na sua vida, afirmando sentirem-se acompanhados e seguros por saberem que eles existem. Situação inversa ocorre ao nível de muitos viúvos/viúvas que re- ferem a tristeza sentida pelas casas vazias, pelas refeições passadas a sós, falando de saudade e de temor face à possível situação de doença ou de dependência. 3.4. Situação Económica Quanto à situação económica percepcionada, a maioria dos idosos afirma-a como média (67.5%) ou boa (25%), sendo que apenas 7.7% a referem como má. Esta variável demonstrou ser de grande importância para os idosos inquiridos, exercendo influência ao nível da sua Satisfação de Vida. Influência esta que é encontrada tanto ao nível dos resultados totais da Escala de Âni- mo, como das 3 subescalas. O grupo que percep- ciona a sua situação económica como má revela maiores níveis de Solidão/Insatisfação e de Agi- tação do que os grupos que indicam uma situa- 512
  • 9. ção económica média ou boa, revelando ainda uma atitude mais negativa face ao envelhecimen- to e um ânimo inferior, bem como níveis mais baixos de Bem Estar. Estes resultados vão no sentido dos encontra- dos pelo projecto AGE (1990, cit. Neto, 1999) que sublinham a importância da segurança finan- ceira para os idosos. Por outro lado, interessa ter em consideração que os idosos por nós inquiri- dos revelaram ter tido vidas extremamente difí- ceis, relatando grandes dificuldades e situações de pobreza extrema que ultrapassaram com mui- to trabalho e sofrimento. A reforma tem, aqui, uma valência muito positiva, e é um dos aspec- tos positivos da velhice mais referidos pelos idosos, é «o dinheirinho certo ao final do mês» (sic), que lhes permite continuar a viver ao seu ritmo, cultivando o seu quinhão de terra e tratan- do dos seus animais. Neste contexto, não pare- cem verificar-se os efeitos negativos commu- mente atribuídos à reforma: perda de status, destruturação psicológica pela ausência de roti- nas, diminuição dos rendimentos. Os nossos re- sultados parecem estar de acordo com as teorias que defendem que o meio rural proporciona uma transição mais gradual para o estatuto de idoso, permitindo-lhe viver ao seu ritmo. 3.5. Estado de Saúde O termo Saúde foi interpretado, na maioria dos casos como um estado de bem estar físico, tendo dado origem a descrições relativamente demoradas durante as entrevistas. A ideia que as questões de saúde são muito importantes para os idosos inquiridos, começou, desde aí a ganhar contornos. No entanto, a maioria dos idosos inquiridos procuram posições centrais para caracterizarem a sua saúde, afirmando que há quem esteja melhor, mas também há quem esteja pior. Assim, 55% afirmam a sua saúde como média, 22.5% como boa e 22.5% como má, observando-se diferenças significativas entre estes grupos, nomeadamente ao nível das atitudes face ao próprio envelheci- mento. O grupo que percepciona a sua saúde co- mo má revela uma atitude face ao envelhecimen- to mais negativa do que o grupo que afirma ter boa saúde, revelando mais insatisfação. Este grupo revela ainda maior tendência para a agita- ção, ainda que esta não tenha assumido significa- do estatístico (p=0.08). Verifica-se ainda que o grupo que percepcio- nou a sua saúde como boa tem valores médios de Bem Estar superiores aos do grupo que se per- cepcionou com saúde média, o mesmo aconte- cendo entre este e o de má saúde. Nos participantes do nosso estudo, as preocu- pações de saúde vêm-se acrescidas com a falta e a fraca acessibilidade aos serviços de saúde. De facto, apontam, como principais aspectos nega- tivos do meio, a grande dificuldade na acessibi- lidade a serviços e recursos de cuidados médi- cos, afirmando não existirem por perto Centros de Saúde, o que os obriga a grandes deslocações, dificultadas pela incipiente rede de transportes públicos. 3.6. Actividade Diária O nível de actividade é a questão central de vários modelos teóricos, que fazem desta dimen- são uma das mais investigadas quando a questão é a Satisfação de Vida dos mais idosos. No presente estudo sobressai a importância deste factor. Os idosos inquiridos consideram-se essencialmente moderadamente activos (50%) ou até muito activos (32.5%). Apenas uma mino- ria referiu ser pouco activo (17.5%), justificando para tal, essencialmente, razões que se prendem com a falta de saúde e incapacidade. Quando analisada a influência desta variável no Bem Estar, verificam-se diferenças significativas entre os grupos, quer ao nível das atitudes face ao pró- prio envelhecimento, quer ao nível dos totais da Escala de Ânimo. O grupo que afirma ter pouca actividade reve- la uma atitude face ao envelhecimento mais ne- gativa do que os grupos moderadamente e muito activos, revelando estes últimos um balanço en- tre a vida passada e a presente mais positivo, o que decorre, provavelmente, do facto de ainda se sentirem activos, úteis e capazes, com todos os benefícios que tal pode ter ao nível da auto-es- tima. Em termos totais, verifica-se ainda que os sujeitos pouco activos revelam um animo mais baixo do que os sujeitos muito activos. Constata-se assim que, para os idosos inqui- ridos, o nível de actividade tem influência na Sa- tisfação de Vida, sendo os sujeitos com mais 513
  • 10. actividade que apresentam níveis mais elevados de Bem Estar. Estes resultados vêm de encontro aos de McClelland (1989), quando afirma que, nos ido- sos que parecem interagir com o grupo de pares da mesma idade, a actividade parece estar direc- tamente envolvida na manutenção da Satisfação de Vida. De facto, estar envolvido numa activi- dade é muito mais que preencher tempo. Tam- bém no presente estudo, o factor actividade pa- rece ser importante a vários níveis. Para Harris e Boden (cit. Fisher & Shaffer, 1993) a actividade é um factor de integração so- cial. A sua diminuição ou extinção pode levar a um afastamento crescente da sociedade envol- vente. Herzog, Markers, Frances e Holmberg (1988), por seu lado, defendem que o mecanis- mo pelo qual as actividades influenciam a Satis- fação de Vida se relacionam com o facto de po- tenciarem e manterem certas dimensões do self que são benéficas. Assim, o envolvimento em actividades pode, de acordo com os referidos au- tores, por exemplo, promover o sentimento de capacidade, de controlo, de utilidade, asseguran- do a manutenção da auto-estima, o que foi parti- cularmente visível no nosso estudo. Os resultados por nós encontrados, adequam- -se às teorias que postulam que para o idoso es- tar bem adaptado, deve sentir-se e manter-se activo, deve ser estimulado pelo meio e fazer parte do que se passa à sua volta. O ambiente ru- ral no qual os idosos estão inseridos parece pre- encher esta importante função, proporcionando- -lhes um nível de actividade minimamente ade- quado às suas competências e necessidades, per- mitindo-lhes continuar activos, de acordo com o seu ritmo. Este último aspecto é particularmente visível no Tipo de Actividades desempenhadas por estes idosos. 3.7. Tipos de actividades Como fonte de informação complementar, o presente estudo procurou identificar quais os ti- pos de actividades exercidas pelos idosos inqui- ridos. Apesar de não ser possível avaliar estatis- ticamente qual a influência de cada uma delas na Satisfação de Vida, a leitura qualitativa não dei- xa de ter a sua pertinência. Verifica-se que são as actividades ocupacio- nais (ex: agricultura e pecuária) e as actividades de manutenção doméstica, as mais referidas, aparecendo também outro tipo de actividades mais viradas para o lazer e para o convívio, bem como questões religiosas. Os elevados níveis de actividade verificados, mesmo em situação de reforma, vêm de encontro às teses de Hespanha (1993) quando refere que só na sociedade urbano-industrial foi estabeleci- do o limite da idade activa. No meio rural, o su- jeito apesar de receber a sua reforma, costuma manter um nível de actividade semelhante ao que desempenhou toda a vida. A maior disponi- bilidade de tempo permite-lhe a dedicação a uma actividade produtiva exercida por conta própria, nomeadamente na agricultura e pecuá- ria, muito referidas pelos idosos inquiridos. A actividade, essencialmente agrícola ou pe- cuária no meio rural, é mantida até que seja pos- sível a autonomia motora, pois a maioria dos idosos possui um talhão de terra que cultiva, ao seu próprio ritmo, mantendo o nível de activi- dade de acordo com as suas competências e possibilidades (há idosos com grandes explora- ções agrícolas e há idosos que afirmam já só se- rem capazes de cuidar do próprio quintal). Esta manutenção da actividade permite aos sujeitos não só participarem activamente na vida da co- munidade, partilhando interesses e motivações, como também manterem o seu sentimento de competência, de utilidade, de capacidade, facto- res essenciais à promoção da satisfação de Vida. Viver na sua própria casa é outro aspecto que parece fundamental para os idosos em questão, na medida em que referem valorizar muito a sua independência, preferindo manter-se em sua casa do que em casa de familiares ou num lar, o mes- mo ocorrendo em relação ao meio onde residem, do qual todos os idosos referiram não querer sair. Paúl (1991) sublinha a importância desta ques- tão, afirmando que todos os processos de ligação à casa e ao meio permitem aos idosos manter o seu eu para além de todas as mudanças por que estão a passar. De facto, a permanência no meio e local de residência habitual parece reduzir o risco de possíveis desarmonias ecológicas, em que, por mudança profunda do ambiente que o rodeia, a interacção se pode desequilibrar. Afigura-se importante referir a possível liga- 514
  • 11. ção das variáveis mencionadas em termos da si- tuação de relativa independência e auto-sufici- ência que promovem, aspectos estes de impor- tância fundamental para os idosos inquiridos. Quando questionados acerca dos aspectos positi- vos da velhice referem a importância da estabili- dade financeira e de se manterem independentes, referindo o medo que têm face à situação de per- da de capacidades e de dependência. Parece assim surgir, tal como o indiciado pela literatura revista, uma certa atitude de funciona- lidade da existência por manutenção da autono- mia. Apesar de reconhecerem no meio a existên- cia de redes de suporte social, estes idosos recor- dam um passado marcado por situações de po- breza, fome, injustiças e confrontos políticos. Memórias muito presentes que contribuem para a tal sensação, criada ao longo das suas vidas, de só contarem com as suas mãos e o seu trabalho para fazer face às necessidades com que se depa- ram. O envelhecimento pode tornar-se assusta- dor, antecipadamente a qualquer défice, por pôr em causa a manutenção do estatuto autónomo, económica e fisicamente, que permite realizar as actividades necessárias e a permanência na pró- pria casa. Face a este perigo, o conjunto de variáveis in- fluentes no Bem Estar deste grupo de idosos re- sidentes em meio rural, indica claramente a im- portância da manutenção do seu estatuto social funcional e autónomo. A preocupação em não constituírem um peso familiar, associado à cons- tatação da distância que, por vezes, os separa dos familiares; o facto de mesmo os amigos já terem uma idade avançada, uma vez que o conjunto da população residente neste meio é bastante enve- lhecido; aliados à preocupação pela não existên- cia de recursos apropriados, pelo menos em ter- mos de saúde e transportes, para que possam permanecer independentes e auto suficientes na iminência de dificuldades futuras, determina que a situação de doença, de quebra da estabilidade económica e viuvez se tornem extremamente preocupantes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Barreto, J. (1988). Aspectos psicológicos do envelheci- mento. Psicologia, 6 (2), 159-170. Fisher, L., & Shaffer, K. (1993). Older volunteers. A guide to research and pratice. Newbury Park: Sage Publications, Inc. Herzog, A., Markers, H., & Holmberg, D. (1998). Activities and well-being in older age: Effects of self-concept and educational attainment. Psycholo- gy and Aging, 13 (2), 179-189. Hespanha, M. (1993). Para além do estado: A saúde e a velhice na sociedade providência. Porto: Afronta- mento. Horley, J. (1984). Life satisfaction, hapiness and mo- rale: Two problems with the use of subjective well-being indicators. The Gerontologist, 24 (2), 203-209. Lawton, M., & Nahemow, L. (1973). Toward an ecolo- gical theory of adaptation and aging. Environmen- tal Design Research, 1, 24-32. Lawton, M. (1983). The varieties of well-being. Experi- mental Aging Research, 9 (2), 159-170. Lawton, M. (1984). Human behavior and environment, advances in theory and research, vol 7. Eldery People and the Environment. New York: Plenum Press. Lawton, M. (1985) Housing ando living environments of older people. In R. Binstock & E. Shenes (Eds.), Handbook of aging and social science, 2nd ed. New York: Van Noshrand Company. Lima, A., & Viegas, S. (1988). A diversidade cultural do envelhecimento: A construção social da catego- ria de velhice. Psicologia, 6 (1), 149-158. McClelland, K. A. (1982). Self conception and life sa- tisfaction: Integating aged subculture and activity theory. Journal of Gerontology, 37, 723-732. RESUMO O presente trabalho que tem por quadro de referên- cia o Paradigma Ecológico-Ambiental da velhice, sus- tentado no Modelo ambiental de Lawton, procura averiguar «Quais os níveis de Bem Estar de um grupo de idosos residentes em meio rural», tentando ainda identificar «Que variáveis se constituem como mais importantes para o Bem Estar destes idosos». Consti- tuiu-se para tal uma amostra de 40 pessoas residentes em meio rural (concelho de Mação), às quais foi soli- citada resposta a um questionário adaptado para o efei- to e à Escala de Ânimo de Lawton. Os resultados evi- denciaram a existência de níveis médios de Bem Estar, apontando para uma adequada relação idoso/meio. Palavras-chave: Bem estar, pessoa idosa, meio ru- ral. ABSTRACT The Ecological Paradigm of old age and particular- ly Lawton’s Ecological Model are these study frame- 515
  • 12. works. We intended to know the levels of Psychologi- cal Well-Being of rural elderly and to identify which are the most important variables of Psychological Well-Being in these elderly. Our sample consisted of 40 rural people (living in Mação) who completed the Portuguese version of the Philadelphia Geriatric Cen- ter Morale Scale and a questionnaire designed by us. Our results show medium levels of Psychological Well-Being, pointing to a suitable relation between the elderly and the environment. Key words: Well-Being, elderly, rural. 516