1. Mercadoria-Informação
Cena do filme
“A Corporação”,
de Mark Achbar,
Jennifer Abbott
e Joel Bakan
(2004)
Por Armando Levy
2. Informação = Comunicação
• Não há informação fora de
um sistema qualquer de
sinais e fora de um veículo
ou meio apto a transmitir
esses sinais
• Só pode haver informação
onde há dúvida e dúvida
implica a existência de
alternativas
• Informação tem a ver com
escolhas
3. Telégrafo
• O tráfego de informações no telégrafo era quase
que totalmente para fins comerciais
• Investimentos, cotações, notícias de negócios
• Mas para enviar ou receber uma mensagem, o
usuário dependia integralmente do operador
Samuel Morse apresentou um
projeto de telégrafo a amigos
em 02/12/1837. O projeto foi
financiado por um capitalista
chamado Alfred Vail, dono de
ferrarias.
4. Telefone e Rádio
• O telefone e o rádio, também financiados por
capitalistas, tiveram uma penetração social
muito mais ampla
• Theodore Vail, primeiro presidente da
American Telegraph and Telephone Company
(AT&T), advoga a universalização do telefone,
subsidiando o uso doméstico através de
tarifação maior para o uso comercial
Modelo
A invenção do telefone cabe
de Vail leva a forte
ao italiano Meucci, mas Bell,
expansão da telefonia.
como bom americano,
Em 1925, 40% dos lares
patenteou-a em 1876 em seu
norte-americanos
nome.
tinham um telefone. Em
1940, eram quase 100%
de casas
conectadas.
Graham Bell
5. Do uso amador ao comercial
• A telefonia consolidou-se como
O conteúdo se transforma na
negócio rapidamente, mas o rádio melhor ferramenta de venda
tinha fins pessoais do aparelho, evidenciando o
caráter de
• As pessoas o usavam para se mercantilização da informação
comunicar com outras, quase que parece ser inerente aos meios
sempre desconhecidas de comunicação de massa.
• Logo a Westinghouse vê uma
oportunidade: vender rádios
domésticos que pudessem captar
programas culturais e noticiosos
feitos por terceiros
• A indústria de equipamentos torna-
se, ela própria, produtora de
conteúdo
6. Duas visões para o rádio
• Visão de Brecht • Visão da Westinghouse
– – Rádio enviando informações
Rádio unindo as pessoas, que
trocariam informações entre si sobre produtos às pessoas
e que se assemelha, hoje, à
Internet
7. A Era da TV
• David Sarnoff e o nascimento da
televisão
– Este filme mostra o nascimento da
televisão comercial, criada por
David Sarnoff, da RCA
– O modelo de negócio pensado por
Sarnoff repete o modelo do Rádio
– Sarnoff percebe que sem um bom
conteúdo era difícil vender o Percebam a arrogância
aparelho desta indústria, que
determina todos os
– A RCA é uma joint-venture
padrões
entre AT&T, Westinghouse e
General Electric
8. Tecnologias de informação
• O progresso da microeletrônica,
a evolução dos computadores, o
advento dos satélites, oferecem
ao capital novos meios para
processar e transmitir
informações
• Inovações resultam de
investimentos diretos das
corporações, orientados para a Conheça a primeira tentativa
de dar um caráter de
busca de soluções técnicas que entretenimento a uma
tornem rápido, eficiente e ferramenta que nasceu
direcionada ao uso comercial,
barato o transporte da o computador. Veja o filme
informação que interessa ao que narra a história do
primeiro vídeo game.
capital
9. Digitalização da informação
• O transistor, criado pela
AT&T, fornece material
para a digitalização da
informação
• A digitalização da
informação é a base
técnica da produção
social geral, cujo objeto é Informação social é a
a informação social informação gerada pela
sociedade através do uso das
novas tecnologias, como
comportamento de consumo,
preferências, opiniões. Essa
informação é apropriada pelo
sistema e usada para vender
mais e melhor.
10. Informação e capital
• O capitalismo traz como principal
“Da velocidade
inovação o uso da informação como da circulação da
elemento fundamental no processo mercadoria, depende
de acumulação do capital a realização
do valor agregado
• A informação torna mais ágil a na produção
circulação de serviços e mercadorias, pelo trabalhador”
agiliza a venda, cria o desejo, cria o
mercado
• O valor da informação não se
realiza na troca (como mercadoria),
mas por meio da interação, da
comunicação
Karl Marx
11. Capital Lab
• O capital financeiro é o grande financiador das
pesquisas científicas e técnicas que
impulsionaram o desenvolvimento da tecnologia
da informação
Patente concedida
– Telégrafo
à Bell Telephone
– Eletricidade Company
– Rádio
– Televisão
– Informática
O sistema de patentes foi criado para
premiar inventores, mas acabou
sendo usado por organizações para
aprimorar tecnologias, ampliar lucro e
garantir exclusividade nos benefícios
da informação
12. Indústria da informação
• Cada vez mais, o conhecimento
incorpora-se à produção
• Por isso, o capital investe em
informação
• Na indústria da informação,
produção é imediatamente consumo
e consumo é imediatamente
produção
• Nesse sentido, o sistema busca
organizar a sociedade para consumir
bens cada vez mais carregados de
valores simbólicos e distantes da
satisfação de necessidades básicas
(comer, vestir)
13. Lucy in the Sky with Diamonds
• Conheça o trabalho “não sei se é ético,
mas é meu trabalho” de Lucy Hughes
• A Corporação: CD 1 (1:03:10)
14. Informação é a base
• O preço da mercadoria é uma unidade básica
de informação sem a qual não se pode
pensar uma relação de troca
• Mas a relação comprador-vendedor envolve
outras informações indispensáveis quanto ao
valor de uso da mercadoria
• Qualidade
• Tipo de matéria prima
• Habilidade do produtor
• Condições de produção
15. Informação agrega valor
• Informação, comunicação são
uma “força extra-econômica”,
que aparece ao lado e acima
das relações de troca
– (assim como Marx via os
Transportes)
• Nesse sentido, esta força pode
ser usada para monopolizar e
unidirecionalizar a informação
• É possível acumular informação
– (conhecimento)
16. Mercadoria - Informação
• Acumulação do conhecimento
gera dois tipos básicos de
informação:
– Informação operacional, ligada
ao processo de produção
– Informação-mercadoria, que se
agrega ao processo de produção
e pode gerar novas mercadorias
e acúmulo de capital
17. Sociedade da informação
• É justamente a fetichização da
informação-mercadoria, ligada
fundamentalmente ao processo
competitivo, que está por trás
das teses tão em voga sobre a
“sociedade da informação”
– A informação gerando
conhecimento
– O conhecimento gerando inovação
e mercados
18. Apropriação de conhecimento
• A acumulação de conhecimento
por parte do capital se dá através
de processos de apropriação
– No começo da era industrial, o
capital apropriou-se do
conhecimento dos artesãos
– Hoje, esse processo de apropriação
de conhecimento recebeu o pomposo
nome de “Gestão do Conhecimento”
20. Conhecimento tácito
Dá para fazer
Acarajé através de
uma receita, mas a
baiana domina a
arte de produzi-lo
Dá para explicar o
que é uma bicicleta,
mas poucos
conseguem
executar o lance
21. Conhecimento tácito
“Cerveja é igual bolo de
milho da avó: você pode
comprar o milho fresco,
ralar, moer, misturar com
coco da feira e fazer o
Reynaldo
Fogagnoli,
bolo. Ou então você pode
mestre cervejeiro
da Cervejaria
Universitária
comprar o pacotinho no
mercado e ver se é igualquot;
23. Tácito > Explícito
• Nonaka & Takeuchi
– A transformação de
conhecimento tácito,
intuitivo, genial,
criativo, em
conhecimento explícito,
registrado, que pode ser
programado e repetido é
o grande desafio de um
gestor do conhecimento
24. “Conversão” de conhecimentos
Tácito Tácito
Compartilhar Conceituar o
informações e conhecimento,
conhecimento passando-o de
Explícito
entre pessoas e tácito para
Tácito
equipes explícito
Socialização: Externalização:
Papo no bebedouro, Redigir texto, descrever
ouvir/dizer coisas em processo, desenhar
conferências ou escola diagrama ou modelo
Explícito
Tácito
Operacionalizar o Sistematizar o
Combinação:
Internalização:
Ler e formar opinião sobre
conhecimento Trocar relatórios, conhecimento e
um relatório, livro ou conjugar dados, reunir
(gerar resultados distribuí-lo para
acontecimento informação
pela aplicação do gerar educação
aprendizado) organizacional
Explícito Explícito
Fonte: Nonaka & Takeuchi, Criação de conhecimento na empresa (1977)
25. Megassistemas de informação
• O desenvolvimento das tecnologias de
comunicação para servir o capital
permite também o surgimento da
Indústria Cultural
• O aparecimento do rádio e dos sistemas
de telecomunicações vieram a
potencializar a capacidade de
armazenamento e processamento das
informações, abrindo uma nova rodada
no processo de apropriação do
conhecimento dos trabalhadores pelo
capital
26. Cultura Popular
• A indústria se apropriou do
conhecimento (tácito) do
artesão para criar seus produtos
• Da mesma forma, a indústria
cultural se apropria da cultura
popular que transforma em
matéria prima para seu
conteúdo
• Do folhetim à telenovela, em
um movimento sem-fim, cultura
A comunicação
popular e cultura de massa se
entre o capital e o
influenciam de forma recíproca
Estado e a massa é
mediada pela
indústria cultural
27. Indústria Cultural
• A Indústria
Cultural se
sustenta em um
triângulo que tem
Pr
de
como lados
op
a
cid
ag
indispensáveis a
bli
an
publicidade, a
Pu
da
propaganda e o
produto cultural
Produto Cultural
28. Publicidade
• Essencialmente é a
propaganda usada
pelas organizações
empresariais para
vender produtos e
serviços
• Ainda que seja uma
indústria é, ao mesmo
tempo, uma atividade
que auxilia a realização
do lucro do capital Principal financiadora dos veículos de
através da venda da comunicação de massa, a publicidade tem
como único objetivo acelerar a
mercadoria comercialização dos produtos ou serviços
engendrados pelo capital ainda que não
sejam interessantes para o consumidor ou
usuário do serviço
29. Propaganda
• Idéias e conceitos
propagados pela esfera
pública
• Perde em parte seu
caráter publicitário A propaganda omite
o fato de que as
(tornar público), passando exportações
a servir à “propaganda crescem porque o
econômica e política” poder de consumo
interno é baixo
– Propaganda de governo entre outros
omite fatos aspectos
econômicos e
sociais relevantes.
30. Produto cultural
• Produtos desenvolvidos
pela indústria cultural com
o objetivo de gerar
“audiência”
• A “audiência” é, de longe,
o principal produto da
indústria cultural porque é
justamente a “audiência”
que a indústria cultural “Valdete paquera André”,
comercializa na forma de informa o site Globo.com
referindo-se a personagens da
espaço para publicidade telenovela Belíssima da TV
(privada) e propaganda Globo
(estatal)
31. Tudo é publicidade
• Com o avanço da forma
“publicidade”
paralelamente à expansão
da lógica capitalista no
conjunto das relações
sociais, essa dialética tende
a se resolver em favor de
uma mercantilização cada
vez maior da produção
cultural
– Os telejornais, antes considerados
“jornalismo”, revelam-se
Vote no Lula!
produtos culturais como
VOTE 171!
telenovelas ou shows
Honestidade e
– A propaganda política
transparência
se torna publicidade
32. A morte do jornalismo
• Veja como a Fox News, de Rupert
Murdoch, resolve o conflito entre um
“patrocinador” (uma organização
empresarial) e a equipe de jornalistas Não
de seu telejornal “Investigators” se agrada a Deus
e ao Diabo ao
• A Corporação, CD 1 (1:29:16)
mesmo tempo,
meu caro.
Coitado do
Jornalismo, fez
tantas plásticas que
já não dava mais.
33. O futuro Filho, vou te
revelar um segredo maravilhoso.
Sua mãe… bem… sua mãe é a Monsanto.
• Com a transformação da Você é um ser geneticamente
informação em modificado, mas para melhor, muito
mercadoria, toda melhor! Espero que você se forme e
informação passível de seja um gênio e possa garantir
o futuro do seu
gerar lucro torna-se um
velho aqui,
bem capaz de ser ok?
patenteado
• Vivemos a Era do
Informacionismo
– Da digitalização da Eu quero
a mamãe!
informação o Homem segue
para a digitalização de si
mesmo
• A Corporação CD 1
1:24:11
34. Mensagem do nosso patrocinador
Contra-propaganda
produzida pela
instituição norte-
americana Ad Buster,
que se dedica a
sabotar a publicidade
das empresas.
35. Bibliografia
• Livros
– Aubenas, Florence e Benasayag, Miguel. A Fábrica da
Informação, São Paulo, Loyola, 2003
– Bolaño, César. Indústria Cultural, Informação e Capitalismo, São
Paulo, Polis, 2000
– Costa, Cristina. Ficção, Comunicação e Mídias, São Paulo,
Editora Senac, 2002.
– Dantas, Marcos. A lógica do Capital-Informação, Rio de Janeiro,
Contraponto, 2002
– Mattelart, Armand. História da Sociedade da Informação, São
Paulo, Loyola, 2002
– Nonaka, Ikujiro e Takeuchi, Hirotaka. Criação de conhecimento
na empresa, São Paulo, Campus, 1977
– Novaes, Washington. A quem pertence a informação?, Rio de
Janeiro, Vozes, 1989
– Pignatari, Décio. Informação, Linguagem, Comunicação, São
Paulo, Ateliê Editorial, 2003
• Filmes (por ordem de exibição)
– O surgimento da TV comercial – The History Channel
– O primeiro vídeo game – The History Channel
– O trabalho “ético” de Lucy Hugues – HBO
– Exportação – Secom
– A morte do jornalismo – HBO
– Patenteando o genoma humano - HBO
36. Obrigado!
• Apresentação de Armando Levy
• Mestre em Teoria e Pesquisa em
Comunicação pela ECA-USP
• Diretor da e-Press Comunicação
• armando@epress.com.br
• (11) 4082 4600