1. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas
Osteoporose
Bisfosfonados, Calcitonina, Carbonato de Cálcio,
Vitamina D, Estrógenos e Raloxifeno
Portaria SAS/MS nº 470, de 23 de julho de 2002.
1. INTRODUÇÃO
A osteoporose é a doença óssea metabólica mais comum e a principal causa de
fraturas por fragilidade esquelética.
Várias reuniões de consenso sobre osteoporose continuam aceitando a definição
sugerida pela OMS, em 1994, como uma desordem esquelética caracterizada por redução
da massa óssea com alterações da microarquitetura do tecido ósseo levando a redução da
resistência óssea e a aumento da suscetibilidade a fraturas1,2. A definição operacional de
osteoporose sugerida pela OMS (Quadro I) indica que valores da densidade mineral óssea
inferiores a 2,5 desvios padrão da média de valor de pico em adultos jovens (escore T < -2,5)
são compatíveis com o diagnóstico, devido ao alto risco de fraturas2,3.
Quadro I. Critérios Densitométricos da Organização Mundial da Saúde*:
Categoria Escore T
Normal até -1
Osteopenia entre -1 e -2,5
Osteoporose < -2,5
Osteoporose estabelecida < -2,5 associada à fratura de fragilidade
*Critérios estabelecidos para: coluna lombar, colo do fêmur e 1/3 médio do rádio.
Vários fatores de risco estão associados tanto com o desenvolvimento de osteoporo-
se quanto com suas fraturas: história prévia de fratura, baixo peso, sexo feminino, raça
branca, fatores genéticos (como existência de parente de primeiro grau com fratura sem
trauma ou com trauma mínimo), fatores ambientais (tabagismo, consumo abusivo de bebi-
das alcoólicas e cafeína, inatividade física), baixa ingestão de cálcio alimentar, estado
menstrual (menopausa precoce, menarca tardia, amenorréias), drogas (corticosteróides,
anti-epilépticos, hormônios tireoideanos, ciclosporina), doenças endocrinológicas (hiperpara-
tireoidismo primário, tireotoxicose, síndrome de Cushing, hipogonadismos e diabete melito),
hematológicas (mieloma múltiplo), reumatológicas (artrite reumatóide), gastroenterológicas
(síndrome de má-absorção, doença inflamatória intestinal, doença celíaca) e doenças neu-
rológicas (demência)2. Entretanto os fatores de risco associados a fraturas são considera-
dos mais importantes4. Estudo recente5 com mais de 200.000 mulheres corroborou que os
principais fatores de risco para fraturas osteoporóticas são: redução da massa óssea, idade
avançada, auto-avaliação da saúde como regular/ruim, história de fratura prévia, história
materna de fratura, ser da raça branca, usar glicocorticóide, fumar ou ter fumado. Contudo,
fatores previamente estabelecidos como de risco (demência, baixo peso corporal, menopau-
sa precoce ou cirúrgica, baixa ingestão de cálcio durante a vida, sedentarismo, visão reduzi-
da e história de quedas freqüentes) não representaram risco de fraturas (Quadro II).
Equipe Técnica: Andry Fiterman Costa, Paulo D. Picon e Karine Medeiros Amaral
Consultores: José A. Sisson de Castro e Mauro Antônio Czepielewski
Editores: Paulo Dornelles Picon e Alberto Beltrame
515
2. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas – Medicamentos Excepcionais
Quadro II: Fatores de risco para fraturas por osteoporose.
Não modificáveis
• História de fratura na idade adulta*
• História de fratura em familiar de primeiro-grau*
• Raça branca (não-hispânica)*
• Idade avançada (acima de 65 anos)*
• Sexo feminino*
• Demência
• Saúde comprometida/fragilidade**
Potencialmente modificáveis
• Tratamento com corticosteróides*
• Insuficiência estrogênica: amenorréia superior a 1 ano ou menopausa precoce (antes dos 45 anos
de idade)*
• Baixo peso (< 56,7kg) ou IMC < 19
• Baixa ingesta de cálcio ( ao longo da vida)
• Tabagismo*
• Alcoolismo
• Redução visual (apesar de usar óculos)
• Quedas freqüentes
• Baixa capacidade física
• Saúde comprometida/fragilidade**
* fatores de risco maiores; ** saúde comprometida/fragilidade pode ou não ser modificável.
Com base na definição operacional da OMS, estima-se que 13% a 18% das mulheres acima de 50
anos e 3% a 6% dos homens acima de 50 anos apresentem osteoporose se considerados apenas os
valores do fêmur proximal6. Quando os valores densitométricos do antebraço, da coluna lombar e do fêmur
são avaliados em conjunto, até 30% das mulheres acima dessa idade têm diminuição da massa óssea, e
esta porcentagem aumenta com o passar do tempo. Baixa densidade mineral óssea na coluna lombar é
observada, por exemplo, em 15% das mulheres na sexta década e em cerca de 50% das que se encontram
na nona década6. Deve ser considerado, entretanto, que a incidência de fraturas é significativamente menor
do que a de mulheres em risco de fraturas por osteoporose densitometricamente determinada.
A manifestação clínica mais comum é fratura vertebral, que pode ser assintomática em até 2/3 dos
casos e, portanto, apenas diagnosticada “acidentalmente” em radiografias de tórax ou abdômen. O risco de
recorrência desta fratura, no primeiro ano, é de 19% nas mulheres1. Tais fraturas podem levar a episódios de
dor intensa que podem durar vários dias e evoluir para dor crônica; esta pode persistir por períodos
prolongados, porém, mais comumente, resolve em semanas. Fraturas vertebrais consecutivas podem ocasi-
onar cifose torácica, redução da estatura e dores relacionadas a deformidades. A fratura mais grave é a do
fêmur proximal, pois está associada a maior mortalidade e a importantes limitações no deambular e em
outras funções cotidianas1.
Na avaliação de um paciente com suspeita de osteoporose, outras causas de redução de massa
óssea ou osteopenia devem ser excluídas, como osteomalácia, osteogenesis imperfecta e hiperparatireoidis-
mos. Estima-se que 30% a 60% dos casos de osteoporoses em homens e até 50% dos casos em mulheres
perimenopáusicas estejam associadas a causas secundárias2 (Quadro III). Devem-se excluir as causas
secundárias, pois são potencialmente reversíveis.
516
3. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas – Medicamentos Excepcionais
óssea e osteocalcina), apesar de extensamente estudados, apresentam resultados conflitantes2. Atualmente
não norteiam nenhuma conduta, desta forma não se faz necessário sua monitorização.
Monitorização da calciúria deve ser realizada a cada 6 meses. Caso alterada (abaixo de 50mg/24
horas), pode indicar falta da ingestão de cálcio, má absorção intestinal ou resistência à vitamina D; caso
acima de 4 mg/kg do peso/24 horas, indica hipercalciúria, e as doses de cálcio e vitamina D devem ser
reduzidas. Avaliação da calcemia e da função renal é recomendada anualmente e/ou nas situações de
alteração da calciúria.
8.1. Monitorização de Efeitos Adversos
Dentre os vários efeitos adversos dos fármacos utilizados no tratamento da osteoporose, alguns
merecem atenção especial.
8.1.1. Carbonato de Cálcio
Os pacientes devem ter nível sérico e excreção urinária de cálcio monitorizadas; nefrolitíase pode
advir de hipercalcemia14.
8.1.2. Vitamina D
Recomenda-se a avaliação periódica de calcemia e calciúria. Nos pacientes com perda de função
renal, a fosfatemia deve ser avaliada, e o produto cálcio-fósforo não deve ultrapassar 6 mmol/l14 ou 70 mg/dl.
8.1.3. Bisfosfonados
Todos os pacientes devem fazer avaliação anual da função renal e ser questionados quanto aos
sintomas gastrointestinais6,14.
8.1.4. Raloxifeno
Os principais efeitos colaterais são dores e cãibras nos membros inferiores e tromboflebites. Reco-
menda-se a avaliação periódica de perfil lipídico, hemograma e bioquímica de sangue14.
8.1.5. Calcitonina
Recomenda-se avaliação nasal se o uso do spray nasal resultar em fenômenos alérgicos, já que se
trata de uma proteína exógena14.
9. CONSENTIMENTO INFORMADO
É obrigatória a cientificação do paciente, ou de seu responsável legal, dos potenciais riscos e efeitos
colaterais relacionados ao uso dos medicamentos preconizados neste Protocolo, o que deverá ser formali-
zado por meio da assinatura de Termo de Consentimento Informado.
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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4. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Osteoporose
7.4.2. Vitamina D
Seu uso está contra-indicado em casos de hipersensibilidade conhecida à droga e de
hipercalcemia. Cautela deve ser tomada em pacientes portadores de patologias cardíacas, princi-
palmente arritmias, nos quais hipercalcemia pode causar descompensação da doença. Insuficiên-
cia renal pode ser exacerbada por hipercalcemia persistente. Portadores de insuficiência hepática
podem ter a absorção da vitamina prejudicada, assim como a sua 25-hidroxilação a calcitriol. Em
pacientes com hiperfosfatemia pode ocorrer calcificação metastática14.
7.4.3. Bisfosfonados
Seu uso está contra-indicado em casos de hipersensibilidade, doença esofágica (acalásia,
estenose), impossibilidade de o paciente se manter em ortostatismo por pelo menos 30 minutos
para uso oral, depuração da creatinina endógena abaixo de 35 e hipocalcemia (deve ser corrigida
antes do início do tratamento)14. Cautela deve ser tomada na presença de história de hipoparati-
reoidismo ou risco de hipocalcemia e problemas gastrointestinais altos, como doença péptica,
esofagite e disfagia14.
7.4.4. Raloxifeno
Seu uso está contra-indicado em pacientes com história de hipersensibilidade à droga, pré-
menopáusicas, gestantes ou com doença trombo-embólica ativa. Também não deve ser adiciona-
do em usuárias de terapia de reposição hormonal14.
7.4.5. Calcitonina
Osteoporose
Seu uso está contra-indicado em casos de hipersensibilidade conhecida à droga. Cautela é
recomendada em situações de risco de hipocalcemia pela possibilidade de tetania hipocalcêmica.
Resistência ao uso da medicação pode ocorrer pela formação de anticorpos14.
7.5. Tempo de Tratamento e Critérios de Interrupção
O benefício comprovado do tratamento, para o bisfosfonado alendronato, é de 7 anos,
porém não há motivos para supor que ele não se prolongue. Para calcitonina os benefícios estão
estabelecidos até 5 anos e, para o raloxifeno, até 4 anos. O critérios de interrupção são estabeleci-
dos no item Monitorização (item 8).
8. MONITORIZAÇÃO
A densitometria óssea da coluna lombar e do fêmur proximal pode ser repetida anualmente
nos primeiros 2 anos, de preferência no mesmo aparelho e em serviço que mantenha controle de
qualidade técnica. Nos indivíduos com fraturas ou alterações degenerativas lombares e nos ido-
sos, devem-se valorizar as medidas do colo do fêmur e fêmur proximal total para estimar a
eficiência do tratamento.
• Densitometria ao final do primeiro ano:
• igual ou melhor que a basal: manter tratamento e repetir o exame a cada 2 anos;
• pior que a basal (com redução significante do escore): manter tratamento e repetir o
exame em 1 ano.
• Densitometria ao final do segundo ano:
• igual ou melhor que uma das anteriores: manter tratamento e repetir o exame a cada
2 anos;
• pior que as duas anteriores (com redução significante do escore): considerar falha
terapêutica e suspender o tratamento;
Recomenda-se a realização de raios X da coluna vertebral torácica, no mínimo em perfil,
antes do início do tratamento e após o primeiro ano nos pacientes com osteoporose estabelecida.
Havendo diminuição das alturas vertebrais, mesmo por fraturas assintomáticas, reconsiderar a
eficácia do tratamento empregado.
Os marcadores de ressorção (telopeptídeos) e/ou de formação óssea (fosfatase alcalina
521
5. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas – Medicamentos Excepcionais
7.2. Esquema de Administração
7.2.1. Carbonato de Cálcio
A dose de cálcio deve basear-se, inicialmente, na avaliação dietética. A dose total de cálcio elemen-
tar deve ser de 1 a 2 g ao dia, e a de carbonato de cálcio deve ser a necessária para a complementação do
cálcio oriundo da dieta. O carbonato de cálcio deve ser ingerido ao desjejum para evitar a má-absorção que
pode ocorrer em pacientes com acloridria. Este sal pode causar reduzir a absorção de ferro, quando
utilizado com refeições ricas neste elemento. Doses superiores a 500 mg devem ser divididas em várias
tomadas – o ajuste da dose deve ser feito pela monitorização da calciúria e da calcemia14.
7.2.2. Vitamina D (colecalciferol)
Assim como o cálcio, a suplementação de vitamina D deve ser realizada de acordo com a ingesta
dietética. Devem ser asseguradas 400 a 800 UI ao dia, administrando-se a dose suplementar necessária
por via oral14.
7.2.3. Alendronato
A posologia do alendronato é de 10 mg ao dia, por via oral, em dose única (ingeridos de estômago
vazio, com 200ml de água, devendo o paciente permanecer por 30 minutos em ortostatismo, sem ingerir
alimentos). Pode, alternativamente, ser utilizado o esquema de 70mg uma vez por semana, mantendo-se os
mesmos cuidados no momento da ingestão14.
7.2.4. Risendronato
A posologia do risendronato é de 5mg, por via oral, em dose única ao dia14 (ingeridos de estômago
vazio, com 200ml de água, devendo o paciente permanecer por 30 minutos em ortostatismo, sem ingerir
alimentos).
7.2.5. Pamidronato
A posologia do pamidronato é de 30 a 60 mg, por via intravenosa, em infusão de 3 horas, a cada 3
meses.
7.2.6. Raloxifeno
A posologia do raloxifeno é de 60mg, por via oral, em dose única ao dia14.
7.2.7. Calcitonina
A posologia da calcitonina é de 100 UI, por via subcutânea, ou 200 UI, por via intranasal, em dose
única ao dia14.
Em pacientes que estão fazendo uso da calcitonina pela primeira vez, pode ser realizado um teste
subcutâneo para avaliação de hipersensibilidade. Administra-se 1 UI por via subcutânea, sob supervisão
médica, aguardando-se 20 minutos para avaliar anafilaxia ou reação local. Se a dose for bem tolerada, nova
injeção subcutânea com 20 UI é administrada, ainda sob supervisão médica, por mais 20 minutos. Sendo
bem toleradas ambas as doses subcutâneas, procede-se então à administração da dose completa.
7.3. Combinações de Fármacos
São sugeridas, nos casos de osteoporose ou osteoporose estabelecida, as associações de cálcio,
vitamina D e um dos seguintes medicamentos: bisfosfonados, calcitonina, estrógenos ou raloxifeno.
Terapia de reposição hormonal (estrógenos) poderá ser associada aos bisfosfonados21, mas não a
raloxifeno, pois seus efeitos colaterais podem ser somados. A associação de reposição hormonal com
calcitonina não foi adequadamente investigada.
7.4. Contra-indicações e Precauções
7.4.1. Carbonato de Cálcio
Seu uso está contra-indicado em casos de hipersensibilidade conhecida à droga e de hipercalce-
mia14. Uma vez que a administração de cálcio pode aumentar os efeitos de glicosídeos cardíacos precipitan-
do arritmias, deve haver cautela em pacientes que usam essas medicações14; pacientes com história de
nefrolitíase devem ser avaliados cuidadosamente pelo risco de recorrência.
520
6. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Osteoporose
lácteo, atividade muscular regular com carga, melhoria das condições de equilíbrio e visão e
intervenção farmacológica.
7.1. Fármacos
7.1.1. Suplementação com cálcio e vitamina D
Caso não sejam assegurados pela dieta 1.000 a 1.500mg de cálcio3,14 ao dia e de 400 a
800 UI de vitamina D3,14 , sua reposição deve ser realizada. A suplementação de cálcio e de
vitamina D mostrou-se capaz de melhorar a densidade mineral óssea e de reduzir fraturas em
vários estudos, especialmente nos idosos e institucionalizados15,16.
7.1.2. Estrogênios (com progestágeno nas mulheres com útero)
A terapia de reposição hormonal tem sido extensamente investigada17. Estudos observaci-
onais sugerem benefício desta terapia nos ossos18,19, entretanto tais estudos são passíveis de
vieses, principalmente de seleção e do efeito de “querer viver”.
Vários ensaios clínicos de prevenção primária (mulheres sem osteoporose) e de preven-
ção secundária (mulheres com osteoporose) demonstram benefício da reposição hormonal em
desfechos substitutos como densidade mineral óssea20,21. Quando se utilizam desfechos de inte-
resse clínico, como fraturas, os ensaios clínicos de prevenção primária falham em demonstrar
benefícios22,23 , mas recente metanálise, que incluiu prevenção primária e secundária, sugere a
redução de fraturas pelos estrógenos24.
Na prevenção secundária, um único ensaio clínico25, que incluiu apenas 75 mulheres
osteoporóticas com fraturas de vértebras, demonstrou benefício em reduzir o número de novas
Osteoporose
fraturas.
Desta forma, os estudos observacionais que sustentam a terapia de reposição hormonal
na prevenção primária não sustentam a indicação quando confrontados com os resultados de
ensaios clínicos. Na prevenção secundária, o embasamento origina-se de um único e pequeno
ensaio clínico publicado em 1992 e não reproduzido.
Provavelmente esta terapia não deva ser considerada de primeira escolha isoladamente no
tratamento da osteoporose estabelecida, mas poderá ser útil quando associada a um bisfosfona-
do26,27.
7.1.3. Bisfosfonados
Os bisfosfonados são a classe de drogas de primeira escolha no manejo da osteoporose,
devendo ser utilizados com suplementação de cálcio e de vitamina D conforme já definido. Estas
drogas demonstraram ser capazes de melhorar a densidade mineral óssea e reduzir a incidência
de fraturas em prevenção secundária28-37.
Entre os bisfosfonados, o alendronato e o risendronato são preferíveis devido à maior
documentação de benefício em prevenção de fraturas e à maior comodidade posológica14. Os
estudos com pamidronato são limitados, mas esta droga pode ser usada ciclicamente por via
intravenosa, o que não afeta o trato gastroesofágico.
7.1.4. Raloxifeno
O raloxifeno, um modulador seletivo dos receptores estrogênicos, comprovou ser eficaz na
redução da perda da massa óssea da menopausa e do número de fraturas vertebrais de mulheres
com osteoporose e com osteoporose estabelecida, mas não em outros tipos de fraturas osteopo-
róticas. Comparado com placebo, o raloxifeno produziu melhora da massa óssea e redução de
fraturas38.
7.1.5. Calcitonina
A calcitonina já demonstrou ser capaz de melhorar a densidade mineral óssea e de reduzir
fraturas vertebrais em pacientes com osteoporose estabelecida39,40, embora seu benefício seja
inferior aos dos bisfosfonados, especialmente em relação às demais fraturas osteoporóticas. Este
medicamento pode ser uma alternativa para casos de doença péptica ou insuficiência renal.
519
7. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas – Medicamentos Excepcionais
Quadro IV. Indicações de realização de densitometria óssea
• Mulheres com mais de 65 anos
• Mulheres com deficiência estrogênica com menos de 45 anos
• Mulheres na peri e pós-menopausa com fatores de risco (um maior ou dois menores, conforme
Quadro II)
• Mulheres com amenorréia secundária prolongada (por mais de 1 ano)
• Todos os indivíduos que tenham apresentado fratura por trauma mínimo ou atraumática
• Indivíduos com evidência radiológica de osteopenia ou fraturas vertebrais
• Homens com mais de 70 anos
• Indivíduos que apresentem perda de estatura (acima de 2,5 cm) ou hipercifose torácica
• Indivíduos em uso de corticosteróides por três meses ou mais (doses superiores ao equivalente a 5
mg de prednisona)
• Mulheres com índice de massa corporal abaixo de 19 kg/m2
• Portadores de doenças ou em uso de medicações associadas à perda de massa óssea
• Monitoramento de tratamento da osteoporose
3.3. Diagnóstico diferencial
Além dos listados anteriormente, vários outros exames são úteis no diagnóstico diferencial de
osteoporose e no diagnóstico de suas causas secundárias.
Assim, é fundamental a exclusão de hipertireoidismo no idoso, com a dosagem de TSH. Deve-se
solicitar um hemograma com VHS (ou VSG) e dosagem de creatinina sérica. Fosfatase alcalina total serve
para avaliar a presença de defeitos na mineralização ou osteomalácia, especialmente nos idosos.
Nas mulheres na menacme que apresentarem irregularidades menstruais, deve-se documentar a
etiologia do hipogonadismo.
Em todos os homens com osteoporose, devem-se avaliar as possibilidades de hipogonadismo, com
as dosagens de testosterona e de gonadotrofinas, e de alcoolismo como causas secundárias.
4. CRITÉRIO DE INCLUSÃO
Osteoporose definida por escore T igual ou inferior a –2,5 desvios padrão, com ou sem fratura
prévia.
4.1. Exames Complementares Exigidos
• Densitometria óssea recente (realizada há, no máximo, 1 ano)
• Calcemia
• Calciúria de 24 horas
5. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Ver contra-indicações e precauções de acordo com cada droga.
6. CASOS ESPECIAIS
Ver contra-indicações e precauções de acordo com cada droga.
Na osteoporose glicocorticóide induzida a suplementação de cálcio (1 g ao dia) e vitamina D (400-
800 UI ao dia) por via oral, ajuda na prevenção da perda óssea, devendo ser iniciada desde a instituição de
tratamentos com glicocorticóides que possam durar mais de 3 meses. Homens e mulheres com deficiência
de esteróides sexuais devem fazer a reposição hormonal concomitante. Para os pacientes com densitome-
tria óssea abaixo da normal (escore T < -1,0), deve-se iniciar o tratamento com um bisfosfonado12.
Mais recentemente, um estudo com homens e mulheres com osteoporose glicocorticóide induzida
tratados com risendronato, na dose de 2,5 e 5mg/dia, demonstrou ganho na massa óssea e redução do
número de fraturas vertebrais13.
7. TRATAMENTO
O tratamento preventivo das fraturas por osteoporose está fundamentado na melhora geral das
condições necessárias para a saúde esquelética que consistem de alimentação balanceada rica em cálcio
518
ZPG515a538.p65 518 30/11/02, 20:57
8. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Osteoporose
Quadro III: Causas secundárias de osteoporose
• Hipogonadismos (primário e secundário)
• Hipercortisolismos (endógeno ou exógeno)
• Hiperparatireodismo primário ou terciário
• Hipertireoidismo
• Acromegalia
• Neoplasias do sistema hematopoiético (mieloma múltiplo)
• Cirrose biliar primária
• Doenças inflamatórias intestinais
• Doença celíaca
• Pós-gastrectomia
• Homocistinúria
• Hemocromatose
• Doenças reumáticas
• Drogas: glicocorticóides, hormônios tireoidianos, heparina, warfarina, antiepilépticos (fe-
nobarbital, fenitoína, carbamazepina), lítio, metotrexato, ciclosporina.
• Tabagismo
• Alcoolismo
• Imobilização
A osteoporose glicocorticóide induzida deve ser especialmente considerada, pois esta
classe de medicamentos pode levar a perda óssea importante e a fraturas ósseas, nas doses
Osteoporose
usuais (2,5 a 7,5mg de prednisona ao dia), em período relativamente curto de uso (por ex. 3-6
meses), mesmo em homens e mulheres jovens8-10. Os glicocorticóides reduzem grandemente a
formação óssea, além de aumentarem a reabsorção ou desgaste ósseos11.
O objetivo primordial de qualquer tratamento é aumentar a sobrevida e a qualidade de
vida. Isto é o que se espera com o tratamento da osteoporose ao se prevenirem as fraturas. As
medicações propostas neste Protocolo de Tratamento já demonstraram ser capazes de alcançar
esta meta3.
2. CLASSIFICAÇÃO CID 10
• M80.- Osteoporose com fratura patológica
• M81.- Osteoporose sem fratura patológica
3. DIAGNÓSTICO
3.1. Diagnóstico Clínico
A síndrome, na maioria dos casos é silenciosa, até ocorrer uma fratura. Deve ser conside-
rada quando os fatores de risco de fraturas estiverem presentes (Quadro II) e frente à ocorrência
de fraturas não relacionadas a trauma ou relacionadas a trauma mínimo. Adequada história clínica
e o exame físico são especialmente úteis para excluir as causas secundárias (Quadro III).
3.2. Diagnóstico Laboratorial
• Radiografia
• Densitometria óssea
Rastreamento de todos os pacientes assintomáticos não é recomendado. Busca ativa do
diagnóstico pode ser realizada em pacientes considerados de alto risco2, especialmente os com
risco de fratura (Quadro IV).
Os pacientes em uso ou que irão receber glicocorticóides equivalentes às doses de 5 a 7,5 mg
ao dia de prednisona, ou maiores, devem realizar densitometria óssea da coluna e/ou do fêmur
proximal, de base12.
517
9. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Osteoporose
13. Reid DM, Hughes RA, Lann RFJM, SaccoGibson NA,Wenderoth DH, Adami S, Eusebio RA, Devogelaer J-P Efficacy
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