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Obstrução das vias aéreas - 10/08/2013 - Página 1 de 3 - © ANSB 
- Associação Nacional dos Sapadores-Bombeiros 
ANSB 
SAPADORES-­‐BOMBEIROS 
DO 
BRASIL 
Obstrução das vias aéreas – mito e realidade 
Já há algum tempo circulam no Facebook documentos que se propõem a explicar o que fazer diante de uma vítima 
que sufoca. Alguns desses documentos explicam o que fazer face a um adulto, outros face a um bebê. Infelizmente, 
apesar de quase todos apresentarem ações corretas, também apresentam informações falsas e, em alguns casos, 
perigosas. Vejamos como distinguir as informações verdadeiras das falsas. 
Comentar e justificar 
Quando formamos adultos, é fácil dizer “é assim que devemos fazer”. Mas a experiência mostra que a 
demonstração de uma técnica não prova que ela é boa, principalmente em primeiros socorros e combate a incêndio. 
Demonstramos isso durante o curso de pedagogia da ANSB: o formador de formadores mostra uma ou duas 
técnicas, totalmente falsas, demonstrando assim facilmente aos novos formadores que, bem apresentada, por 
alguém que fala bem e pode gabar-se de alguns diplomas, a maior bobagem passa por verdade. 
É preciso saber fazer (por isso, o formador comenta o que está fazendo), mas é preciso igualmente saber por quê (a 
ação, realizada passo a passo, deve ser justificada pelo formador). Sem a justificativa, o gesto se deforma, de 
formação em formação, e nós vemos surgir justificativas fajutas, que depois de algum tempo tornam-se verdadeiras 
lendas urbanas. A mais espantosa, bastante recente, foi de que tossir podia retardar a parada cardíaca! 
Sem justificação dos gestos, é melhor duvidar da qualidade das informações que você recebe. Por isso mesmo, seja 
no curso de primeiros socorros, incêndio ou qualquer outro assunto, a cada vez que o formador lhe dá uma 
informação ou lhe diz “é assim que você tem que fazer” pergunte “por quê ?” Se ele não sabe, ou responde somente 
“porque é melhor”, comece a desconfiar! 
Obstrução total ou parcial? 
Face a uma vítima que se asfixia, a primeira coisa a fazer será determinar exatamente o que está acontecendo. É 
preciso aprender a distinguir dois casos: a obstrução total das vias aéreas e a obstrução parcial. Esta distinção é 
importante pois é ela que permite escolher a técnica. No caso de uma obstrução total, a vítima não pode mais 
respirar, nem tossir, nem emitir som nenhum. Ela geralmente leva as mãos ao pescoço ou à boca e fica em pânico 
rapidamente. Ela está em perigo de morte em pouco tempo. No caso de uma obstrução parcial, a vítima pode 
respirar (com dificuldade, evidentemente) emite sons e geralmente pode tossir (às vezes também com dificuldade). 
A primeira coisa que vem à cabeça é que um líquido não pode provocar a obstrução total das vias aéreas: somente 
um objeto pode fazer isso. Ou seja, é o pedaço de carne que não passa direito, ou o objeto que a criança coloca na 
boca. Mas o leite materno, o café que a gente engole atravessado, a cerveja que desce errado, nada disso provoca 
obstrução total. 
A conduta a adotar 
Agora que sabemos reconhecer a obstrução total, vejamos a conduta a adotar no caso de um adulto. 
Em primeiro lugar, nós vamos deixar a pessoa na posição onde ela está: Sentada se estiver sentada; em pé se estiver 
em pé. Por quê? Porque mudá-la de posição não ajuda nada, pode demorar, e cada segundo conta. Vamos colocar 
uma das mãos contra o peito da pessoa, e em seguida baixá-la um pouco para a frente e bater, com o calcanhar da 
mão, no máximo 5 vezes, vigorosamente, entre as duas omoplatas. Para quê? Para expulsar o objeto? Nada disso. 
Pegue um tubo, enganche um objeto no interior e bata no tubo. Você vai constatar que, na maior parte das vezes, o 
objeto não vai subir: ele vai descer! Ora, não é isso o que a gente quer! Nós queremos que ele saia. 
Então, por que bater? De fato, as batidas nas costas não vão fazer o objeto sair: Elas vão provocar uma vibração 
que vai provocar o movimento do objeto e é este movimento que vai provocar uma tosse. Lembre-se que, no caso 
de uma obstrução total, a vítima não pode mais tossir porque esse reflexo desapareceu. A ejeção do objeto não é 
provocada diretamente pelas palmadas nas costas. É provocada pela tosse, que é provocada pelo movimento do 
objeto, que é provocado pelas batidas nas costas. Isso justifica várias coisas. Em primeiro lugar, colocar a mão
sobre o tórax da pessoa para apoiá-la a fim de que ela não se mova, e que os tapas nas costas façam o máximo de 
efeito possível. Pegue uma castanha do Pará na mão e tente quebrá-la acertando-a com um martelo. Isso não 
funciona porque, a cada vez que você bate, a força da batida é absorvida quando sua mão se move sob efeito do 
mesmo choque. Por outro lado, se você colocar a castanha sobre a mesa e acertá-la, você consegue quebrá-la. Com 
a nossa vítima é a mesma coisa: segurando-a com a mão apoiando seu tórax, você aumenta o efeito das palmadas 
nas costas. Você abaixa a vítima um pouco, pois é mais fácil bater numa superfície inclinada do que numa bem 
vertical. 
Se o objeto sai, o socorrista para imediatamente, pois as palmadas nas costas são fortes, doem e podem até 
provocar lesões. 5 vezes parece um bom número pois com frequência as primeiras batidas não são muito eficazes, 
já que o socorrista tem medo de bater forte demais. 
Se após 5 vezes o objeto não saiu, é preciso tentar outra solução. O socorrista se posiciona atrás da vítima e passa 
os braços sob os dela. Se a vítima está sentada, ele a deixa sentada (ele fica meio agachado). Ele pressiona a mão 
fechada (punho) abaixo do externo da vítima, com um movimento de rotação para o alto. A outra mão vem sobre a 
primeira, apoiando-a. Por que fazer este gesto? Na verdade, sempre resta um pouco de ar nos pulmões. Este gesto 
vai, então, comprimir rapidamente o ar residual, provocando uma espécie de efeito de pistão. A gente pode simulá-lo 
usando uma garrafa de plástico com a tampa apenas ligeiramente rosqueada. Quando a gente aperta a garrafa, a 
Obstrução das vias aéreas - 10/08/2013 - Página 2 de 3 - © ANSB 
- Associação Nacional dos Sapadores-Bombeiros 
tampa salta. Aqui, é a mesma coisa. 
Esta manobra, tanto quanto as batidas nas costas, podem provocar lesões. Vamos relembrar isso mais adiante. 
No bebê, o princípio é globalmente o mesmo. Em caso de obstrução total, nós vamos utilizar o princípio dos tapas 
nas costas e, se elas são ineficazes, o princípio das compressões. Mas atenção: o bebê, ao contrário do adulto, não 
tem a capacidade de segurar a cabeça. É por isso que, quando você segura um bebê nos braços, você segura a 
cabeça dele. Quando você vai bater nas costas dele, sua pobre cabecinha arrisca mover-se e você pode machucá-lo. 
Para evitar isso, é preciso pegá-lo no braço e apoiar o braço sobre a perna ligeiramente estendida. Assim, o bebê 
será sustentado (como o adulto quando você coloca a mão sobre o seu tórax) e terá a cabeça ligeiramente mais 
baixa que o corpo. Simplesmente segurar o bebê nos braços não fornece o apoio suficiente. Em seguida, com a mão 
que sustenta o bebê, segure a cabeça colocando seus dedos de um lado e de outro de sua boca. Assim, quando você 
lhe der os tapas nas costas, a cabeça estará imobilizada. Após 5 tapas nas costas, vire o bebê e observe na sua boca 
pois, ao contrário do adulto, que cospe o objeto que o asfixiava, o bebê geralmente vai conservá-lo na boca. Se os 
tapas nas costas não deram o resultado esperado, faça-lhe 5 compressões torácicas. Torácicas?! Sim. Abdominais, 
de jeito nenhum. Por quê? Porque o bebê é um ser humano em formação, e o seu abdômen é muito sensível. As 
compressões abdominais arriscam provocar lesões. As compressões devem ser feitas no nível do tórax, sendo que a 
flexibilidade da caixa torácica dos bebês permite obter o mesmo efeito de compressão do ar residual que se faz no 
adulto por meio das compressões abdominais. 
Acrescente-se que, no caso das mulheres grávidas ou pessoas obesas, nós também vamos optar pelas compressões 
torácicas. No caso da mulher grávida, a fim de evitar lesões ao bebê que ainda vai nascer. E no caso do obeso, 
porque a circunferência grande pode dificultar as compressões abdominais eficazes. 
Obstrução parcial 
A partir do momento em que nós explicamos e, principalmente, justificamos as técnicas no caso de uma obstrução 
total, é bastante fácil analisar o problema das obstruções parciais. 
Os tapas nas costas têm o objetivo de fazer o objeto se movimentar, a fim de provocar a tosse. Mas, no caso de uma 
obstrução parcial, a pessoa consegue tossir. Os tapas nas costas não vão servir para nada! E pior, eles arriscam de 
agravar a situação. Lembre-se que, no caso de batermos num tubo onde está um objeto preso, geralmente ele irá 
descer. Se a pessoa tossindo não consegue expulsar o objeto, batendo nós arriscamos prendê-lo ainda mais. É o 
efeito inverso do desejado. 
Se o objeto não saiu e nós optamos pela compressão abdominal, vamos novamente cometer um erro. Pois o efeito 
de pistão só funciona, logicamente, se o objeto obstrui totalmente a passagem de ar. Caso contrário, não terá 
nenhum efeito positivo, e pior, pode agravar a situação e provocar lesões. Na verdade, as compressões vão expulsar 
o ar residual dos pulmões, o que pode até mesmo fazer o objeto descer ainda mais.
Com isso, vemos que os primeiros socorros sempre devem ser feitos comparando o risco do gesto com o risco da 
situação. Os tapas nas costas e as compressões são gestos que podem provocar lesões. Mas se a obstrução é total, 
há perigo de morte a curto prazo. O perigo de lesões é menor, então é preciso agir. 
Numa obstrução parcial, não há perigo de morte, pois a pessoa respira. Nesse caso, os tapas nas costas e as 
compressões são mais perigosas do que a situação, pois podem levar a uma obstrução total. 
Alguém poderá responder evidentemente que “eu dei tapas nas costas quando ele estava tossindo e a obstrução 
saiu!” Sim. Mas não foram os tapas nas costas que produziram esse resultado. Foi a tosse. Os tapas nas costas só 
tiveram três efeitos: lhe dar boa consciência, produzir dor em quem você bateu e perturbar a tosse dele. Não muito 
benéfico... 
Mas então, o que fazer? A resposta, nós encontramos, entre outros, no documento Francês sobre primeiros 
socorros, feito por médicos, urgentistas, socorristas, etc. e validado oficialmente naquele país. Traduzimos abaixo: 
Na presença de uma vítima com uma obstrução parcial: 
- Jamais fazer a técnica de desobstrução porque o objeto pode deslocar-se e agravar a situação 
- Instalar a vítima na posição em que ela se sentir melhor 
- Encorajar a tossir 
- Procurar aconselhamento médico e seguir as orientações 
- Vigiar atentamente a vítima 
- Se a obstrução se tornar completa, devem ser tomadas as medidas apropriadas. 
E o bebê que engole atravessado? 
Esse é um clássico! Quando o bebê engole rápido demais ele pode fazer o que se chama de “engolir atravessado”. 
Ele parece estar se asfixiando e fica meio em pânico. É preciso acalmá-lo e segurá-lo apoiado no seu ombro. Os 
tapinhas nas costas que você lhe dá são principalmente para mostrar que você está prestando atenção. Ele vai 
arrotar ou até vomitar em cima de você. Só isso. Se acontecer frequentemente, basta fazê-lo beber aos poucos e não 
deixá-lo mamar sem observá-lo. Ser mãe é uma profissão! 
Em todo caso, nada de tapas nas costas e compressões, pois você arrisca fazer mal ao bebê. 
Obstrução das vias aéreas - 10/08/2013 - Página 3 de 3 - © ANSB 
- Associação Nacional dos Sapadores-Bombeiros

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Obstrução das vias aéreas – mito e realidade

  • 1. Obstrução das vias aéreas - 10/08/2013 - Página 1 de 3 - © ANSB - Associação Nacional dos Sapadores-Bombeiros ANSB SAPADORES-­‐BOMBEIROS DO BRASIL Obstrução das vias aéreas – mito e realidade Já há algum tempo circulam no Facebook documentos que se propõem a explicar o que fazer diante de uma vítima que sufoca. Alguns desses documentos explicam o que fazer face a um adulto, outros face a um bebê. Infelizmente, apesar de quase todos apresentarem ações corretas, também apresentam informações falsas e, em alguns casos, perigosas. Vejamos como distinguir as informações verdadeiras das falsas. Comentar e justificar Quando formamos adultos, é fácil dizer “é assim que devemos fazer”. Mas a experiência mostra que a demonstração de uma técnica não prova que ela é boa, principalmente em primeiros socorros e combate a incêndio. Demonstramos isso durante o curso de pedagogia da ANSB: o formador de formadores mostra uma ou duas técnicas, totalmente falsas, demonstrando assim facilmente aos novos formadores que, bem apresentada, por alguém que fala bem e pode gabar-se de alguns diplomas, a maior bobagem passa por verdade. É preciso saber fazer (por isso, o formador comenta o que está fazendo), mas é preciso igualmente saber por quê (a ação, realizada passo a passo, deve ser justificada pelo formador). Sem a justificativa, o gesto se deforma, de formação em formação, e nós vemos surgir justificativas fajutas, que depois de algum tempo tornam-se verdadeiras lendas urbanas. A mais espantosa, bastante recente, foi de que tossir podia retardar a parada cardíaca! Sem justificação dos gestos, é melhor duvidar da qualidade das informações que você recebe. Por isso mesmo, seja no curso de primeiros socorros, incêndio ou qualquer outro assunto, a cada vez que o formador lhe dá uma informação ou lhe diz “é assim que você tem que fazer” pergunte “por quê ?” Se ele não sabe, ou responde somente “porque é melhor”, comece a desconfiar! Obstrução total ou parcial? Face a uma vítima que se asfixia, a primeira coisa a fazer será determinar exatamente o que está acontecendo. É preciso aprender a distinguir dois casos: a obstrução total das vias aéreas e a obstrução parcial. Esta distinção é importante pois é ela que permite escolher a técnica. No caso de uma obstrução total, a vítima não pode mais respirar, nem tossir, nem emitir som nenhum. Ela geralmente leva as mãos ao pescoço ou à boca e fica em pânico rapidamente. Ela está em perigo de morte em pouco tempo. No caso de uma obstrução parcial, a vítima pode respirar (com dificuldade, evidentemente) emite sons e geralmente pode tossir (às vezes também com dificuldade). A primeira coisa que vem à cabeça é que um líquido não pode provocar a obstrução total das vias aéreas: somente um objeto pode fazer isso. Ou seja, é o pedaço de carne que não passa direito, ou o objeto que a criança coloca na boca. Mas o leite materno, o café que a gente engole atravessado, a cerveja que desce errado, nada disso provoca obstrução total. A conduta a adotar Agora que sabemos reconhecer a obstrução total, vejamos a conduta a adotar no caso de um adulto. Em primeiro lugar, nós vamos deixar a pessoa na posição onde ela está: Sentada se estiver sentada; em pé se estiver em pé. Por quê? Porque mudá-la de posição não ajuda nada, pode demorar, e cada segundo conta. Vamos colocar uma das mãos contra o peito da pessoa, e em seguida baixá-la um pouco para a frente e bater, com o calcanhar da mão, no máximo 5 vezes, vigorosamente, entre as duas omoplatas. Para quê? Para expulsar o objeto? Nada disso. Pegue um tubo, enganche um objeto no interior e bata no tubo. Você vai constatar que, na maior parte das vezes, o objeto não vai subir: ele vai descer! Ora, não é isso o que a gente quer! Nós queremos que ele saia. Então, por que bater? De fato, as batidas nas costas não vão fazer o objeto sair: Elas vão provocar uma vibração que vai provocar o movimento do objeto e é este movimento que vai provocar uma tosse. Lembre-se que, no caso de uma obstrução total, a vítima não pode mais tossir porque esse reflexo desapareceu. A ejeção do objeto não é provocada diretamente pelas palmadas nas costas. É provocada pela tosse, que é provocada pelo movimento do objeto, que é provocado pelas batidas nas costas. Isso justifica várias coisas. Em primeiro lugar, colocar a mão
  • 2. sobre o tórax da pessoa para apoiá-la a fim de que ela não se mova, e que os tapas nas costas façam o máximo de efeito possível. Pegue uma castanha do Pará na mão e tente quebrá-la acertando-a com um martelo. Isso não funciona porque, a cada vez que você bate, a força da batida é absorvida quando sua mão se move sob efeito do mesmo choque. Por outro lado, se você colocar a castanha sobre a mesa e acertá-la, você consegue quebrá-la. Com a nossa vítima é a mesma coisa: segurando-a com a mão apoiando seu tórax, você aumenta o efeito das palmadas nas costas. Você abaixa a vítima um pouco, pois é mais fácil bater numa superfície inclinada do que numa bem vertical. Se o objeto sai, o socorrista para imediatamente, pois as palmadas nas costas são fortes, doem e podem até provocar lesões. 5 vezes parece um bom número pois com frequência as primeiras batidas não são muito eficazes, já que o socorrista tem medo de bater forte demais. Se após 5 vezes o objeto não saiu, é preciso tentar outra solução. O socorrista se posiciona atrás da vítima e passa os braços sob os dela. Se a vítima está sentada, ele a deixa sentada (ele fica meio agachado). Ele pressiona a mão fechada (punho) abaixo do externo da vítima, com um movimento de rotação para o alto. A outra mão vem sobre a primeira, apoiando-a. Por que fazer este gesto? Na verdade, sempre resta um pouco de ar nos pulmões. Este gesto vai, então, comprimir rapidamente o ar residual, provocando uma espécie de efeito de pistão. A gente pode simulá-lo usando uma garrafa de plástico com a tampa apenas ligeiramente rosqueada. Quando a gente aperta a garrafa, a Obstrução das vias aéreas - 10/08/2013 - Página 2 de 3 - © ANSB - Associação Nacional dos Sapadores-Bombeiros tampa salta. Aqui, é a mesma coisa. Esta manobra, tanto quanto as batidas nas costas, podem provocar lesões. Vamos relembrar isso mais adiante. No bebê, o princípio é globalmente o mesmo. Em caso de obstrução total, nós vamos utilizar o princípio dos tapas nas costas e, se elas são ineficazes, o princípio das compressões. Mas atenção: o bebê, ao contrário do adulto, não tem a capacidade de segurar a cabeça. É por isso que, quando você segura um bebê nos braços, você segura a cabeça dele. Quando você vai bater nas costas dele, sua pobre cabecinha arrisca mover-se e você pode machucá-lo. Para evitar isso, é preciso pegá-lo no braço e apoiar o braço sobre a perna ligeiramente estendida. Assim, o bebê será sustentado (como o adulto quando você coloca a mão sobre o seu tórax) e terá a cabeça ligeiramente mais baixa que o corpo. Simplesmente segurar o bebê nos braços não fornece o apoio suficiente. Em seguida, com a mão que sustenta o bebê, segure a cabeça colocando seus dedos de um lado e de outro de sua boca. Assim, quando você lhe der os tapas nas costas, a cabeça estará imobilizada. Após 5 tapas nas costas, vire o bebê e observe na sua boca pois, ao contrário do adulto, que cospe o objeto que o asfixiava, o bebê geralmente vai conservá-lo na boca. Se os tapas nas costas não deram o resultado esperado, faça-lhe 5 compressões torácicas. Torácicas?! Sim. Abdominais, de jeito nenhum. Por quê? Porque o bebê é um ser humano em formação, e o seu abdômen é muito sensível. As compressões abdominais arriscam provocar lesões. As compressões devem ser feitas no nível do tórax, sendo que a flexibilidade da caixa torácica dos bebês permite obter o mesmo efeito de compressão do ar residual que se faz no adulto por meio das compressões abdominais. Acrescente-se que, no caso das mulheres grávidas ou pessoas obesas, nós também vamos optar pelas compressões torácicas. No caso da mulher grávida, a fim de evitar lesões ao bebê que ainda vai nascer. E no caso do obeso, porque a circunferência grande pode dificultar as compressões abdominais eficazes. Obstrução parcial A partir do momento em que nós explicamos e, principalmente, justificamos as técnicas no caso de uma obstrução total, é bastante fácil analisar o problema das obstruções parciais. Os tapas nas costas têm o objetivo de fazer o objeto se movimentar, a fim de provocar a tosse. Mas, no caso de uma obstrução parcial, a pessoa consegue tossir. Os tapas nas costas não vão servir para nada! E pior, eles arriscam de agravar a situação. Lembre-se que, no caso de batermos num tubo onde está um objeto preso, geralmente ele irá descer. Se a pessoa tossindo não consegue expulsar o objeto, batendo nós arriscamos prendê-lo ainda mais. É o efeito inverso do desejado. Se o objeto não saiu e nós optamos pela compressão abdominal, vamos novamente cometer um erro. Pois o efeito de pistão só funciona, logicamente, se o objeto obstrui totalmente a passagem de ar. Caso contrário, não terá nenhum efeito positivo, e pior, pode agravar a situação e provocar lesões. Na verdade, as compressões vão expulsar o ar residual dos pulmões, o que pode até mesmo fazer o objeto descer ainda mais.
  • 3. Com isso, vemos que os primeiros socorros sempre devem ser feitos comparando o risco do gesto com o risco da situação. Os tapas nas costas e as compressões são gestos que podem provocar lesões. Mas se a obstrução é total, há perigo de morte a curto prazo. O perigo de lesões é menor, então é preciso agir. Numa obstrução parcial, não há perigo de morte, pois a pessoa respira. Nesse caso, os tapas nas costas e as compressões são mais perigosas do que a situação, pois podem levar a uma obstrução total. Alguém poderá responder evidentemente que “eu dei tapas nas costas quando ele estava tossindo e a obstrução saiu!” Sim. Mas não foram os tapas nas costas que produziram esse resultado. Foi a tosse. Os tapas nas costas só tiveram três efeitos: lhe dar boa consciência, produzir dor em quem você bateu e perturbar a tosse dele. Não muito benéfico... Mas então, o que fazer? A resposta, nós encontramos, entre outros, no documento Francês sobre primeiros socorros, feito por médicos, urgentistas, socorristas, etc. e validado oficialmente naquele país. Traduzimos abaixo: Na presença de uma vítima com uma obstrução parcial: - Jamais fazer a técnica de desobstrução porque o objeto pode deslocar-se e agravar a situação - Instalar a vítima na posição em que ela se sentir melhor - Encorajar a tossir - Procurar aconselhamento médico e seguir as orientações - Vigiar atentamente a vítima - Se a obstrução se tornar completa, devem ser tomadas as medidas apropriadas. E o bebê que engole atravessado? Esse é um clássico! Quando o bebê engole rápido demais ele pode fazer o que se chama de “engolir atravessado”. Ele parece estar se asfixiando e fica meio em pânico. É preciso acalmá-lo e segurá-lo apoiado no seu ombro. Os tapinhas nas costas que você lhe dá são principalmente para mostrar que você está prestando atenção. Ele vai arrotar ou até vomitar em cima de você. Só isso. Se acontecer frequentemente, basta fazê-lo beber aos poucos e não deixá-lo mamar sem observá-lo. Ser mãe é uma profissão! Em todo caso, nada de tapas nas costas e compressões, pois você arrisca fazer mal ao bebê. Obstrução das vias aéreas - 10/08/2013 - Página 3 de 3 - © ANSB - Associação Nacional dos Sapadores-Bombeiros