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ACADEMIA DE LETRAS E ARTES 
Exmas Senhoras e Senhores, Doutos 
Confrades: 
Quero começar por saudar todos os 
dirigentes e antigos confrades aqui 
presentes e dizer-lhes quanto é bom vê-los 
aqui de novo nesta vossa casa de liberdade e 
de criação. 
Desejo, ainda, de modo muito particular, 
dirigir uma saudação de boas vindas aos 
novos académicos que hoje tomam posse e 
dizer-lhes que é para nós, uma honra poder 
contar, doravante, com a sua presença e 
colaboração nos nossos trabalhos. 
Quero, ainda, dirigir, a todos os confrades, 
um cumprimento, também muito especial, 
por tudo o que têm dado esforço e de mais-valia 
a esta corporação académica, 
sobretudo num tempo em que a Economia 
nos abandonou severamente, graças às 
opções erradas dos poderosos deste mundo 
de que as multidões pacíficas são as vítimas 
mais silenciosas. Quanto mais sofrimento 
faltará para que os indiferentes percebam a 
sua situação de alvo privilegiado? 
Discurso do Professor 
Doutor António de Sousa 
Lara, Presidente da 
Academia de Letras e 
Artes, na cerimónia de 
tomada de posse dos 
novos académicos em 12 
de Setembro de 2014
ACADEMIA DE LETRAS E ARTES 
Tratando-se de uma cerimónia multifacetada e que soleniza a abertura do nosso 
Ano Académico, achei que seria oportuno meditar convosco, sobre algumas 
facetas que nos dizem particularmente respeito, neste contexto e tempo 
histórico. 
A questão central para qualquer Academia e para esta Academia de Letras e 
Artes, em especial, é a Cultura. E impõe-se, volta e meia na nossa vida, parar um 
pouco e reflectir sobre os aspectos que nos movem e que nos justificam, para de 
alguma forma, tornarmos mais consciente e presente, as motivações reais do 
nosso empenho e protagonismo na Sociedade. 
A Cultura desempenha hoje em dia, infelizmente, um papel periférico, no âmbito 
da nossa vida quotidiana. Também elas foram vítimas da ditadura do 
indiferentismo de que falou o grande papa Bento XVI. 
No que toca à política, são muito recentes os ministérios da Cultura, e estes só 
nascem depois de caída a lógica do utilitarismo que os regimes ditatoriais traziam, 
usando a Cultura como instrumento ideológico. Em todo o caso, basta olhar para 
a hierarquia habitual dos Governos, para se perceber que a Cultura vem lá para o 
fim da lista dos ministérios, quando existe enquanto tal, e é a primeira a ser 
sacrificada, quando as realidades exigem um esforço de contenção financeira. 
É certo que o uso ditatorial da Cultura como instrumento, a que fiz referência, 
passou a moda. Mas o substituto real e hodierno, não é isento de culpas. As 
democracias utilizam sistematicamente a cultura de massas para conseguir a sua 
alienação e ataraxia. 
É certo também que as sociedades contemporâneas são, frequentemente, 
monótonas e obrigam a um conjunto de rotinas obrigatórias, que são 
incompatíveis com o espírito humano, criador e livre. Mas foi assim, que a 
sociedade contemporânea organizou formas de evasão pacífica e mesmo violenta, 
para lhes fugir. Lembremos o absurdo de certos desportos radicais, tão em voga, a 
procura do risco inútil, quando não mesmo o tumulto organizado feito festa.
ACADEMIA DE LETRAS E ARTES 
Uma parte do ritmo monótono do quotidiano é quebrado pela participação em 
actividades culturais, entendidas como desempenho. 
Os espectáculos, os saraus, os festivais, os Carnavais, as procissões, as festas em 
geral, são usados, e a palavra é, podem crer, muito desgastante, são usados, dizia, 
como momentos propícios para rotura com esse quotidiano monótono e cinzento. 
Esta visão interesseira da produção cultural, veio introduzir a lógica da Cultura 
como mercadoria, desvalorizando-a naquilo que ela tem de mais sublime: o 
excelso que é raro, a permanente fronteira para ir mais além, o sublime 
encontrado 
Por outro lado, transposta para níveis temporais intermitentes, desaparece 
totalmente do continuo do dia a dia, reforçando-se a condição de excepcionalidade 
e de periferia que é efectivamente ocupada. Entramos num ciclo vicioso, como já 
compreenderam. 
Não admira, pois, que o poder político democrático tenha da Cultura e da 
produção cultural, um conceito marginal e supletivo. Longe de se tratar de uma 
atitude permanente, ela própria formatante de uma maneira de estar do mundo e 
de um desempenho estruturado, a produção cultural passa, assim, a uma utilidade 
decorativa obrigatória, encaixado em nichos da vida em que a mudança de ritmo e 
de desarticulação com a parte desta que é tida por permanente e essencial, se 
torna necessária. 
Curiosamente, passa-se mesmo com a natureza e com a Ecologia. Ora, afigura-se-nos 
que uma mudança é indispensável na sociedade livre pós moderna. Esta deve 
levar a uma interiorização, cada vez maior, da pertinência da atitude cultural e 
ecológica como formatante das políticas públicas em geral, até de um ponto de 
vista económico. Trata-se de uma verdadeira revolução nas mentalidades, da 
derrota de concepções há muito instaladas, da substituição de prioridades e de 
padrões comportamento, da alteração das exigências e dos níveis de qualidade (…)
ACADEMIA DE LETRAS E ARTES 
quer por causa da permanência da Cultura e da Natureza como molduras das 
outras políticas públicas, quer por causa desta nova importância, na exigência que 
as políticas públicas e a própria Economia devem fazer à verificação permanente 
da qualidade, a nível das opções culturais, das produções culturais e das 
determinações ambientais. 
Remato estas singelas palavras com a o desejo, determinação e empenho com 
que a Academia de Letras e Artes quer transportar para o quotidiano, esta 
dimensão e valores da Cultura e da produção cultural. 
Sozinhos, naturalmente não iremos longe. Mas nós já não estamos sozinhos. 
A prova, disso mesmo, é este nosso encontro de hoje. 
Quero terminar estas palavras como comecei, saudando a todos, um por um, e 
pedir-lhes que nos ajudem na cruzada que, no fundo, nos motiva e vem dar razão 
à nossa existência. 
A todos muito obrigado. 
Monte Estoril, 12 de Setembro de 2014 
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Monte Estoril 
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  • 1. ACADEMIA DE LETRAS E ARTES Exmas Senhoras e Senhores, Doutos Confrades: Quero começar por saudar todos os dirigentes e antigos confrades aqui presentes e dizer-lhes quanto é bom vê-los aqui de novo nesta vossa casa de liberdade e de criação. Desejo, ainda, de modo muito particular, dirigir uma saudação de boas vindas aos novos académicos que hoje tomam posse e dizer-lhes que é para nós, uma honra poder contar, doravante, com a sua presença e colaboração nos nossos trabalhos. Quero, ainda, dirigir, a todos os confrades, um cumprimento, também muito especial, por tudo o que têm dado esforço e de mais-valia a esta corporação académica, sobretudo num tempo em que a Economia nos abandonou severamente, graças às opções erradas dos poderosos deste mundo de que as multidões pacíficas são as vítimas mais silenciosas. Quanto mais sofrimento faltará para que os indiferentes percebam a sua situação de alvo privilegiado? Discurso do Professor Doutor António de Sousa Lara, Presidente da Academia de Letras e Artes, na cerimónia de tomada de posse dos novos académicos em 12 de Setembro de 2014
  • 2. ACADEMIA DE LETRAS E ARTES Tratando-se de uma cerimónia multifacetada e que soleniza a abertura do nosso Ano Académico, achei que seria oportuno meditar convosco, sobre algumas facetas que nos dizem particularmente respeito, neste contexto e tempo histórico. A questão central para qualquer Academia e para esta Academia de Letras e Artes, em especial, é a Cultura. E impõe-se, volta e meia na nossa vida, parar um pouco e reflectir sobre os aspectos que nos movem e que nos justificam, para de alguma forma, tornarmos mais consciente e presente, as motivações reais do nosso empenho e protagonismo na Sociedade. A Cultura desempenha hoje em dia, infelizmente, um papel periférico, no âmbito da nossa vida quotidiana. Também elas foram vítimas da ditadura do indiferentismo de que falou o grande papa Bento XVI. No que toca à política, são muito recentes os ministérios da Cultura, e estes só nascem depois de caída a lógica do utilitarismo que os regimes ditatoriais traziam, usando a Cultura como instrumento ideológico. Em todo o caso, basta olhar para a hierarquia habitual dos Governos, para se perceber que a Cultura vem lá para o fim da lista dos ministérios, quando existe enquanto tal, e é a primeira a ser sacrificada, quando as realidades exigem um esforço de contenção financeira. É certo que o uso ditatorial da Cultura como instrumento, a que fiz referência, passou a moda. Mas o substituto real e hodierno, não é isento de culpas. As democracias utilizam sistematicamente a cultura de massas para conseguir a sua alienação e ataraxia. É certo também que as sociedades contemporâneas são, frequentemente, monótonas e obrigam a um conjunto de rotinas obrigatórias, que são incompatíveis com o espírito humano, criador e livre. Mas foi assim, que a sociedade contemporânea organizou formas de evasão pacífica e mesmo violenta, para lhes fugir. Lembremos o absurdo de certos desportos radicais, tão em voga, a procura do risco inútil, quando não mesmo o tumulto organizado feito festa.
  • 3. ACADEMIA DE LETRAS E ARTES Uma parte do ritmo monótono do quotidiano é quebrado pela participação em actividades culturais, entendidas como desempenho. Os espectáculos, os saraus, os festivais, os Carnavais, as procissões, as festas em geral, são usados, e a palavra é, podem crer, muito desgastante, são usados, dizia, como momentos propícios para rotura com esse quotidiano monótono e cinzento. Esta visão interesseira da produção cultural, veio introduzir a lógica da Cultura como mercadoria, desvalorizando-a naquilo que ela tem de mais sublime: o excelso que é raro, a permanente fronteira para ir mais além, o sublime encontrado Por outro lado, transposta para níveis temporais intermitentes, desaparece totalmente do continuo do dia a dia, reforçando-se a condição de excepcionalidade e de periferia que é efectivamente ocupada. Entramos num ciclo vicioso, como já compreenderam. Não admira, pois, que o poder político democrático tenha da Cultura e da produção cultural, um conceito marginal e supletivo. Longe de se tratar de uma atitude permanente, ela própria formatante de uma maneira de estar do mundo e de um desempenho estruturado, a produção cultural passa, assim, a uma utilidade decorativa obrigatória, encaixado em nichos da vida em que a mudança de ritmo e de desarticulação com a parte desta que é tida por permanente e essencial, se torna necessária. Curiosamente, passa-se mesmo com a natureza e com a Ecologia. Ora, afigura-se-nos que uma mudança é indispensável na sociedade livre pós moderna. Esta deve levar a uma interiorização, cada vez maior, da pertinência da atitude cultural e ecológica como formatante das políticas públicas em geral, até de um ponto de vista económico. Trata-se de uma verdadeira revolução nas mentalidades, da derrota de concepções há muito instaladas, da substituição de prioridades e de padrões comportamento, da alteração das exigências e dos níveis de qualidade (…)
  • 4. ACADEMIA DE LETRAS E ARTES quer por causa da permanência da Cultura e da Natureza como molduras das outras políticas públicas, quer por causa desta nova importância, na exigência que as políticas públicas e a própria Economia devem fazer à verificação permanente da qualidade, a nível das opções culturais, das produções culturais e das determinações ambientais. Remato estas singelas palavras com a o desejo, determinação e empenho com que a Academia de Letras e Artes quer transportar para o quotidiano, esta dimensão e valores da Cultura e da produção cultural. Sozinhos, naturalmente não iremos longe. Mas nós já não estamos sozinhos. A prova, disso mesmo, é este nosso encontro de hoje. Quero terminar estas palavras como comecei, saudando a todos, um por um, e pedir-lhes que nos ajudem na cruzada que, no fundo, nos motiva e vem dar razão à nossa existência. A todos muito obrigado. Monte Estoril, 12 de Setembro de 2014 ACADEMIA DE LETRAS E ARTES Avenida da Castelhana, nº 13 Monte Estoril www.academialetrasartes.pt geral@academialetrasartes.pt Tel. +351 21 468 56 04