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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO
CURSO DE ARTES VISUAIS
EXPRESSÕES DO COTIDIANO
ELIANA DOS SANTOS BARBOSA DA SILVA
Campo Grande – MS
2004
1
ELIANA DOS SANTOS BARBOSA DA SILVA
EXPRESSÕES DO COTIDIANO
Campo Grande – MS
2004
Relatório apresentado como exigência parcial
para obtenção do grau de Bacharel em Artes
Visuais à Banca Examinadora da Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul, sob orientação
da professora Dra. Carla Maria Buffo de Cápua
2
DEDICATÓRIA
A minha mãe, Evilásia, pelo seu trabalho
constante e dedicado à causa social, acreditando, aos
74 anos, que muito há que se fazer, ainda, para
mudar a dura realidade de nossa gente.
3
AGRADECIMENTOS
A Deus por tudo de bom que tem me permitido realizar.
A minha família pela colaboração e paciência.
A professora dra. Carla Maria Buffo de Cápua por me abrir as portas do conhecimento.
4
A arte requer, mais que qualquer coisa, o impulso
criativo, a liberdade de expressão, a manipulação de formas, a
materialização da idéia estética. Sem técnica, a arte torna-se
escrava da imperfeição da forma; se pura técnica, a arte converte-se
em instrumento acadêmico para a castração da livre expressão
criativa e imaginativa humana.
Eduardo Carlos Bianca Bittar
5
RESUMO
“Expressões do Cotidiano” foi influenciado por escultores como Rodin, Matisse e
principalmente por Giacometti, que, na sua última fase escultórica, dedicou-se obsessivamente à
figura humana. Essa influência permitiu a produção de esculturas retratando pessoas simples,
humildes, do campo ou dos aglomerados urbanos, em situações do cotidiano que expressam os
sentimentos e as dificuldades vividas por cada uma delas. As peças foram modeladas com uma
massa de papel que possui propriedades desenvolvidas especificamente para essa produção, o que
permitiu um maior detalhamento expressivo e inúmeras possibilidades de acabamento final. O
trabalho foi finalizado com a produção de dezessete esculturas, em diversos tamanhos,
expressando o meu inconformismo e materializando plasticamente minhas características
pessoais, além de permitir observar as influências dos autores citados. Com isso, chama a atenção
para todo um contexto social em que pessoas humildes são submetidas a uma vida de muitas
dificuldades causadas pelo abandono e pelo descaso com que são tratadas.
6
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS...................................................................................... 7
INTRODUÇÃO................................................................................................ 8
CAPÍTULO 1. AS MOTIVAÇÕES E INFLUÊNCIAS............................... 10
1.1 AS QUESTÕES SOCIAIS........................................................................ 11
1.2 INFLUÊNCIAS.......................................................................................... 13
CAPÍTULO 2. A MATERIALIZAÇÃO DO SENTIMENTO.................... 18
2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................ 18
2.2 ANÁLISE DAS OBRAS............................................................................ 23
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 41
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................. 42
ANEXO 1.......................................................................................................... 43
ANEXO 2.......................................................................................................... 44
7
LISTA DE FIGURAS
1. Madalena I
2. Nu reclinado
3. Homem caminhando II
4. Giacometti
5. Miniaturas
6. Esqueleto de arame
7. Esqueleto com atadura
8. Estrutura modelada
9. Cortadora de cana
10. Menina com seus brinquedos
11. O lavrador na caatinga
12. O roceiro e sua enxada
13. O sertanejo com a pá
14. A menina índia
15. Homem lendo jornal
16. A lavadeira e sua filha
17. Mãe amamentando o filho
18. Mãe com a criança no colo
19. Menino jornaleiro
20. Moleque e sua bola
21. O velho sentado
22. Mãe com o filho desfalecido
23. Mulher com o prato na mão
24. Senhora com o cesto
25. Mulher socando o pilão
8
INTRODUÇÃO
Hoje, não só nas grandes metrópoles, mas também nas regiões castigadas pela natureza,
nos deparamos com cenas da vida urbana que muito nos comovem, onde as oportunidades são
raríssimas. Diante dessa vida dura e sofrida, há uma grande parte da população que tem de lutar
para sobreviver no campo, nas ruas das cidades, nos vilarejos e favelas. São pessoas
perseverantes e resignadas com essa condição desumana, que inconscientemente revelam, através
dos olhares, das marcas do tempo sulcadas em seus rostos, todas as angústias, medos e sonhos.
O desejo de trabalhar dentro desse universo social, surgiu há muito tempo, ao observar e
conviver diariamente com o modo de vida dessas pessoas simples, excluídas pela sociedade, onde
o emprego, a escola e a moradia são privilégios de poucos, mas que, apesar dos obstáculos
encontrados, têm a capacidade e a altivez de enfrentar essa dura realidade e ainda assim,
conseguir sobreviver com uma certa dignidade. Com uma visão crítica e solidária, essas pessoas
foram observadas e serviram como fonte de inspiração para a criação das esculturas, as quais
foram utilizadas como veículo para traduzir os olhares, os gestos, as atitudes, enfim, as
expressões desse povo sofrido.
A sensibilidade fez aflorar um certo inconformismo que influenciou o meu estado de
espírito e caracterizou toda a minha obra. Para materializar este sentimento, descobri, na
escultura, o veículo mais eficaz para gerar uma reflexão sobre o problema abordado, além de
permitir a minha realização pessoal. As pesquisas teóricas revelaram que alguns elementos
presentes em meus trabalhos assemelhavam-se às características encontradas nas esculturas de
Rodin, Matisse e, principalmente, Giacometti.
A massa de papel foi escolhida para a produção das obras devido à grande facilidade no
seu manuseio, à maleabilidade, à resistência, e ao baixo custo, permitindo inúmeras
possibilidades de aplicação e efeitos estéticos. Assim, utilizando a técnica de modelagem com
essa massa, realizei uma série de obras expressivas nas quais externei a minha indignação diante
de um contexto social, reafirmando os pontos de semelhança com as influências acima citadas,
sem, no entanto, declinar das características pessoais que identificam esta produção escultórica.
9
O relatório está dividido em dois capítulos, um falando sobre as motivações e influências,
e outro, sobre a materialização do sentimento. Cada um dos capítulos foi dividido em duas partes,
conforme descrito a seguir.
A primeira parte do capítulo um, “As questões sociais”, relaciona as impressões
observadas no meu dia-a-dia e externadas através das obras apresentadas, com a situação social
das pessoas retratadas, passando por uma breve explanação sobre o porquê da técnica escolhida e
suas possibilidades.
A segunda parte do capítulo um, “Influências”, aborda as particularidades da obra de cada
um dos mestres da escultura citados como influências, revelando os detalhes coincidentes com
elementos encontrados em minha obra.
A primeira parte do capítulo dois, “Procedimentos metodológicos”, descreve as várias
fases do processo criativo, justifica a escolha da técnica e da massa de papel, e, também,
descreve, detalhadamente, todas as etapas de produção.
A segunda parte do capítulo dois, “Análise das obras”, faz referência às características
comuns a todas as peças, relacionando-as com as obras dos artistas citados como influências e,
faz também, uma descrição pormenorizada de cada escultura produzida.
O suporte teórico do relatório está embasado, entre outros, nas pesquisas realizadas por
Walter Zanini, na sua obra Tendências da Escultura Moderna, na qual delineia a evolução desse
período criativo e comenta com muita propriedade as particularidades da obra de cada um dos
mestres citados como influência. Do mesmo modo, na obra O Espaço Moderno, de Alberto
Tassinari, foram encontradas análises específicas da obra de Giacometti bastante úteis para a
determinação dos elementos que também são encontrados em minha obra.
10
CAPÍTULO 1 – AS MOTIVAÇÕES E INFLUÊNCIAS
1.1 AS QUESTÕES SOCIAS
Ao se observar uma obra de Cândido Portinari, como “Retirantes”, ou do mexicano José
Clemente Orozco, “A Trindade: camponeses, operários e soldado”, ambos muralistas,
expressionistas que exteriorizaram num mundo plástico elementos dos seus sentimentos,
evidenciando questões políticas e sociais, surge, no observador, o mesmo sentimento
experimentado pelos seus autores. O mesmo acontece quando se lê o texto transcrito abaixo,
abordando as diferenças entre as classes sociais no Brasil:
APARTHEID PAULISTA TEM ATÉ MURO
No noroeste da Grande São Paulo, a quarta maior renda per capita do Brasil convive com
um dos mais elevados índices de desigualdade.
No badalado condomínio, festinhas de criança como a do filho do empresário
libanês Pierre Issa são constantes.
Numa manhã ensolarada de domingo, cerca de 50 convidados — homens de
terno, mulheres de trajes finos, crianças e babás — transitam entre bandejas sempre
reabastecidas de canapés, uísque e champagne.
Pierre, de filmadora em punho, registra o corre-corre das crianças, o colorido da
festa e a desenvoltura dos convidados. Uma das convidadas, ao saber da presença da
equipe de reportagem, deu o tom: "Isso aí vai sair na Veja?".
A cerca de cinco quilômetros dali, no Jardim São Vicente de Paula, Roseneide de
Oliveira não tem motivos para comemorar. Aos 19 anos, desempregada, grávida de oito
meses e abandonada pelo namorado, a menina mal sorri. O sofrimento é compartilhado
pela amiga Maria das Graças e seus dois filhos, com quem divide o cubículo onde mora.
"A vizinhada sempre ajuda as duas", conta Jorge Bispo dos Santos, pedreiro, que
divide uma pequena casa de alvenaria com mais oito familiares.
Cristina de Oliveira, prima de Roseneide, também precisa de ajuda.
Desempregada, mora com o marido e a filha num quartinho escuro, de papelão e chão
batido, na descida de um barranco íngreme. O marido sustenta a família com trabalhos
temporários, como a montagem dos palcos do evento de moda São Paulo (Laura Diniz,
Chico Mendes – Santana do Parnaíba, 05/03/2004, www.pnud.org.br/pobreza).
Assim, a todo o momento, em qualquer lugar, deparo-me com cenas do cotidiano que
incutem em minha alma a necessidade de expressar, através da arte, o sentimento de
inconformismo e crítica social, como uma contribuição pessoal no sentido de chamar a atenção
para essa realidade, e assim, possibilitar uma melhor condição no futuro.
11
As obras escultóricas de Rodin, Matisse e Alberto Giacometti, artistas que procuraram
novas soluções ou uma nova abordagem para as relações entre forma e espaço, despertaram em
mim a paixão pela escultura, reafirmando as inúmeras possibilidades de realização pessoal.
Através da escultura é possível materializar todos os sentimentos despertados e mostrar a
realidade da maioria dos brasileiros. Expressando tridimensionalmente essas vivências e
transmitindo idéias e atitudes, certamente alguém será sensibilizado, o que, conseqüentemente,
poderá gerar uma reflexão sobre a questão social em nosso país.
Além de externar minha indignação com essas questões sociais, busco expressar-me
esteticamente, realizando plasticamente os meus sentimentos através de características que
identificam as minhas obras, como por exemplo: a forma de cada peça, em que, apesar dos
contornos delicados e detalhes expressivos, transmitem, ao mesmo tempo, uma certa rusticidade;
a desproporcionalidade presente nas figuras, acentuando a expressividade do movimento e
fazendo-o parecer natural em cada personagem; as texturas e cores criadas para mostrar a
aparência de diferentes tipos de materiais; enfim, tudo isso reunido, mais a emoção transmitida
por cada uma das peças, formam esses seres inanimados que contam uma história, um momento
de suas vidas.
As expressões do cotidiano escolhidas para serem representadas neste trabalho foram
retiradas dos grupos sociais teoricamente mais sujeitos às dificuldades do dia-a-dia, e que
carregam, visivelmente, em seus corpos, as marcas de uma dura existência também estampada
nos seus rostos.
Assim, para traduzir esteticamente essas questões, inspirei-me nas atividades rurais ou
braçais de execução difícil e sofrida; nos trabalhos domésticos de mulheres humildes buscando o
sustento dos filhos; no trabalho infantil, desumano, que impede o desenvolvimento natural das
nossas crianças; e por fim, na alegria ingênua de crianças em brincadeiras simples e
rudimentares;
O trabalho de construção das esculturas envolveu uma série de atividades específicas, a
fim de tornar efetiva, real, a idéia concebida durante o processo de criação. Entre essas
atividades, cabe destacar o ato de modelar, porque se tratou de uma etapa importantíssima do
processo criativo, uma vez que, através dele é que verdadeiramente se tornaram reais, palpáveis,
concretas as minhas impressões. As “expressões do cotidiano” devem, obrigatoriamente,
transmitir o meu sentimento, sob pena de descaracterizar o objetivo de crítica social e de
12
provocar indignação no observador. Dessa forma, a modelagem das peças constituiu-se em um
ato pessoal, intuitivo, sensorial, em que procurei exprimir toda a minha carga emocional por
intermédio do material que tinha em mãos.
O ato de modelar aguça a sensibilidade dos dedos, do olhar e da alma. Na modelagem as
mãos e os dedos do artista são as suas principais ferramentas. Uma estrutura sólida e rígida,
quando recoberta por qualquer material maleável, adquire a forma desejada pelo artista. Esse
volume de massa, sem forma, vai se transformando pouco a pouco, saindo de dentro da sua
imaginação, fazendo de suas mãos e dedos instrumentos de materialização da idéia concebida,
surgindo, assim, detalhes de lábios finos ou grossos, sulcos dos cabelos, olhos com expressões
tristes ou alegres, marcas de rugas na face, para finalmente um rosto tomar vida própria com suas
particularidades.
Dessa forma, foram criadas várias peças, cada uma delas com características próprias,
umas aparentando serem talhadas na pedra, outras parecendo fundidas em bronze, e por fim, uma
outra com o aspecto de ter sido modelada no barro. Possuem cores e texturas peculiares e contêm
uma verticalidade que contribui para acentuar a forma esguia que prevalece em todas elas, além
de revelar nos gestos ou movimentos toda a expressividade buscada pela autora.
13
1.2 INFLUÊNCIAS
O estudo da história do século XIX e XX, no campo das artes, possibilita o conhecimento
sobre os grandes mestres da escultura, os quais, cada um com seu estilo próprio, romperam
barreiras, demonstrando em suas criações o sentimento dominante e as tendências de sua época.
De acordo com Zanini1
, o precursor, entre os artistas criadores, foi Honoré Daumier (1808-1879)
que com suas modelagens de cunho caricatural cáustico, acusa, em relação à escultura de sua
época, um forte sentimento de inconformismo. Ele supera as posições do neoclassicismo e
também as do romantismo, do qual descende, colocando em sua arte os estímulos da vida
cotidiana. No seu tempo não houve artista mais integrado ao sentido da modernidade. Também, o
consagrado mestre Auguste Rodin (1840-1917), talvez o maior de sua época, que foi alvo de
violentas controvérsias entre os críticos, desprezava o aspecto externo de “acabamento”, o que
contribuiu de maneira acentuada para facilitar a aceitação do impressionismo, fora do estreito
círculo de seus admiradores na França. Mas a contribuição fundamental de Rodin2
, residiu na
compreensão genuína dos problemas da forma e de sua inserção no espaço. Foi pela regeneração
das propriedades táteis da escultura, pelo respeito ao material de que se utilizou, pela ordenação
rigorosa de suas imagens, obtida pela ciência do modelar, entendida como sendo “as saliências
dos volumes interiores”, que Rodin se tornou influente na Europa, suscitando, neste século, o
respeito dos escultores de vanguarda da criação artística.
O mesmo autor expõe que Henri Matisse (1869-1954)3
, produziu esculturas sinuosas,
tensas e emocionais, com deformações, em parte suscitadas pela incidência da arte negra.
_____________
1. ZANINI Walter, Tendências da escultura moderna, São Paulo, Cultrix, 1980, p. 19
2. ZANINI, op. cit., p. 29.
3 ZANINI, op. cit., p. 46. A escultura de Matisse – “um artista dessa espécie, em que toda a atividade
plástica tem seu ponto de partida no intelecto” (J. Cassou, catálogo da exposição retrospectiva “Henri
Matisse” realizada pelo Musée National d’Art Moderne, Paris, 1956) - constitui uma contribuição original
pela audaciosa capacidade de se liberar da representação naturalística e de procurar o que a forma possui de
mais intrínseco e vital.
14
Porém, na obra Madalena n°1 (fig. 1), em bronze(1901), figura abaixo, já surge, no pequeno
formato que se tornará peculiar ao artista, a figura-arabesco, flexível e insinuante, herdeira de
Daumier e Degas, vinculada ao impressionismo de Rodin.
(fig. 1) MATISSE, Madalena I, 1901, Bronze, 60 cm.
Coleção: Baltimore Museum of Art
15
Matisse1
cultivará em pequenas variantes uma concepção iconográfica feminina, livre e
descurada de detalhes cujos acentos expressionistas são, por vezes, agudos, a exemplo do Nu
reclinado n°1 (fig. 2), em bronze (1907).
(fig. 2) MATISSE, Nu reclinado, 1925, Bronze, 80 cm.
Coleção: Baltimore Museum of Art
___________
1. ZANINI, op. cit., p. 44.
16
Alberto Giacometti1
(1901-1966), estudou com Bourdelle em Paris, onde sofreu o influxo
passageiro do cubismo de Brancusi, tornando-se sensível às artes negras. Integrando-se ao
movimento surrealista, cujas idéias não lhe eram estranhas, seguiu livremente, a sua natureza
propensa a procura da essência inserida na realidade. Por alguns anos abandona o método de
trabalho sob o estímulo de modelo e se prende ao simbolismo interior para produzir algumas
obras, e a partir de então, suas peças foram construídas em pequenas dimensões que compuseram,
em parte, a contribuição do artista para o surrealismo. Essa fase, porém, não se encerrou sem que
ele retomasse a figura numa escala normal de proporções, as esculturas alongadas, com braços e
mãos esticados ao lado do corpo são carregadas de expressividade, demonstrando num esforço
sobre-humano, a tentativa de conhecer a realidade absoluta que supõe existir na aparência das
coisas. Giacometti buscou novas soluções ou uma nova abordagem para as relações entre forma e
espaço, formas vivas e abstrações intelectuais. A dimensão de sua experiência exteriorizada em
suas obras foram únicas, atributo criativo de sua peregrinação (fig. 3).
(fig. 3) GIACOMETTI, Homem caminhando II, 1960, Bronze, 187 cm.
Coleção: Galerie Beyeler, Basiléia.
O que fascina na escultura é o poder que esses artistas exercem, transcendendo os limites,
na tradução de expressões, no material, na técnica e até mesmo na criação. São paradigmas nessa
linguagem da arte. Conhecendo suas obras chega-se à conclusão de que sempre estiveram além
do seu tempo.
_____________
1. ZANINI, op. cit , p. 174 - 178.
17
Rodin, Matisse e Alberto Giacometti foram artistas que desprezaram convenções para
expressarem a criação sem se submeterem às normas impostas em suas épocas. Essas
características influenciaram, sobremaneira, o meu interesse pela escultura, pois, através da
identificação com esse modo de pensar, encontrei as condições ideais para dar vazão à
criatividade.
Assim, na análise das obras apresentadas neste trabalho, pode-se verificar a coincidência
de detalhes, em diversos pontos, com a obra dos artistas citados, predominando, no entanto, as
características de Alberto Giacometti, principalmente quanto à preferência por peças de formas
alongadas, esquálidas, sinuosas. Ao mesmo tempo, pode-se observar as minhas características,
marcas pessoais que me identificam através das obras (fig. 4).
(fig. 4) GIACOMETTI, Homem apontando com o dedo, 1947. Bronze 178 cm
Coleção: Tate Gallery - Londres
18
CAPÍTULO 2 – A MATERIALIZAÇÃO DO SENTIMENTO
2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O processo de materialização de uma escultura consiste de fases distintas, bem definidas,
que podem ser sintetizadas em: processo de criação, a escolha da técnica, a construção das
miniaturas e finalmente a construção das esculturas em tamanho definitivo.
O processo de criação iniciou-se com a escolha do tema que, neste trabalho, em particular,
refere-se à retratação de figuras humanas representativas de situações do cotidiano em que se
observa a expressividade provocada pelas dificuldades encontradas na vida de pessoas simples e
humildes. Após então, passou-se ao desenho, propriamente dito, que procurou materializar
graficamente as idéias e as expressões referentes ao tema. Assim, foram confeccionados vários
desenhos, conforme anexo 2, e escolhidos aqueles de maior expressividade e que mais se
adequaram à temática proposta.
A massa de papel foi escolhida, principalmente, pela relativa originalidade de sua
aplicação em esculturas, e, também, devido à possibilidade de se produzir peças com aparência
de diversos materiais sem as dificuldades e limitações impostas pelo manuseio dos mesmos. Um
outro fator, também preponderante para essa escolha, foi o fato de já ter trabalhado com essa
técnica e ter desenvolvido uma massa de papel mais resistente e mais maleável permitindo com
mais eficácia as correções e ajustes, possibilitando uma maior riqueza nos detalhes exigidos pela
complexidade dos desenhos selecionados. Essa massa é feita com embalagens de ovos, picadas e
maceradas com cola branca, fungicida, farinha de trigo e pó de serra, de maneira a se tornar uma
mistura homogênea e consistente. Isso permite que, na construção das esculturas, haja facilidade
de manuseio e, em conseqüência, um melhor resultado final. No anexo 1, pode-se verificar a
receita completa da massa de papel e o procedimento para sua confecção, bem como um breve
histórico de sua utilização.
19
A construção de miniaturas (fig. 5) teve como objetivo reproduzir os desenhos escolhidos
em tamanho reduzido, de maneira a verificar a adequação prática da técnica escolhida,
observando as dificuldades encontradas, de forma a serem corrigidas por ocasião da construção
da peça definitiva, em tamanho maior. Para isso, foi feita a estrutura metálica da peça, em
dimensões reduzidas, recoberta com ataduras gessadas e, após a secagem, modelada com a massa
de papel, procurando representar com fidelidade as expressões dos desenhos Nessa etapa do
processo verificou-se a consistência da massa, sua maleabilidade, tempo de secagem e outras
características. Também, no acabamento da miniatura, foram verificadas a funcionalidade e a
adequação das tintas e produtos utilizados, atentando para as necessidades de correção, a fim de
atingir um maior grau de perfeição.
Esgotadas as fases anteriores, criação, escolha da técnica, e produção das miniaturas, restou a
construção da escultura em tamanho definitivo. Essa fase iniciou-se com a construção de uma
caixa de madeira para servir de base da escultura. Essa base deve ser proporcional ao tamanho
final da peça, de modo a permitir a ancoragem segura da estrutura metálica vertical a uma malha
de arame horizontal colocada dentro da base, a qual, depois de recoberta com gesso, proporciona
o equilíbrio e a firmeza necessária para suportar a escultura finalizada. A estrutura metálica
vertical deverá estar já delineada com a figura a ser retratada, ao se fazer a ancoragem na malha
horizontal.
(fig. 5)
(fig. 5)
20
Para fazer a estrutura metálica vertical foi utilizado um arame grosso, n◦ 12, (fig. 6)
servindo como esqueleto principal e já moldado à silhueta da figura escolhida. A partir desse
esqueleto, com arame n◦16, foram fixadas as estruturas secundárias que servem de suporte para
os braços e outros detalhes do desenho. Finalizando a estrutura metálica, foi utilizado o arame n◦
20, tramado ao esqueleto principal a fim de preencher os espaços vazios e proporcionar uma
maior rigidez ao conjunto, além de permitir apoio para a atadura gessada e posteriormente à
massa de papel.
Concluída a estrutura metálica, passou-se então, a envolvê-la com ataduras gessadas (fig.
7). Depois da secagem, foi passada uma camada de cola branca, para possibilitar uma melhor
aderência da massa de papel, que foi aplicada em seguida. Nessa etapa é que foi realizada a
modelagem, propriamente dita, buscando reproduzir as expressões desejadas (fig. 8). Após então,
aguardou-se o tempo de secagem, em torno de sete dias, tempo esse que é variável de acordo com
as condições climáticas. Com a massa completamente seca, passou-se à fase de acabamento final
com a pintura definitiva.
(fig. 6)
21
(fig. 8)(fig. 7)
22
Três peças foram escolhidas para receberem um acabamento sugerindo o bronze fundido,
em cada uma delas foi aplicada, como base, uma demão de tinta látex acrílica, na cor branca, para
posteriormente receberem uma demão de tinta acrílica bronze iridescente e, então, serem
envelhecidas com betume da Judéia, produzindo o efeito de bronze fundido.
Oito peças receberam um acabamento que lembra pedra. Este efeito é obtido aplicando-se
uma demão de tinta látex acrílica na cor branca ou marfim, como tinta base. Após a secagem,
passa-se uma aguada de tinta acrílica para tela, já na cor da pedra desejada. Aguardar a secagem e
lixar toda a escultura para retirar o excesso de tinta depositada, fazendo surgir pontos na cor da
tinta base, sugerindo o aspecto de pedra. Em seguida, para finalizar, aplica-se o verniz fosco, em
spray, a fim de impermeabilizar a peça.
Uma peça recebeu uma demão de tinta látex acrílica na cor ocre e, após a secagem,
aplicou-se uma aguada de tinta acrílica para tela, na cor terra de siena queimada, obtendo assim, a
mesma aparência do barro. A seguir foi finalizada com o verniz fosco, em spray, para a
impermeabilização.
Em cinco peças não foi feita nenhuma cobertura com tinta, mantendo-se o aspecto
original da própria massa de papel. Logo após a secagem da massa, aplicou-se o verniz fosco, em
spray, para impermeabilizá-las e a seguir foi passada uma camada de cera incolor, em pasta.
Após a secagem, foram finalizadas, passando uma leve camada de graxa de sapato preta para
acentuar as linhas e contornos das peças, sempre utilizando um pano para retirar o excesso de
graxa, obtendo assim a cor desejada.
23
2.2 ANÁLISE DAS OBRAS
As esculturas têm como características comuns as distorções, as formas esquálidas e as
deformações causadas pela desproporcionalidade entre braços, pernas, pescoço e cabeça,
afrontando a harmonia esperada da figura humana, valorizando a expressividade de cada
personagem, cujos detalhes e expressões são delineados por meio de sulcos. Olhando-se de perfil,
pode-se observar em cada uma delas a figura estreita e alongada. A aparência áspera e porosa
transmite uma idéia, tanto na textura quanto na cor, de serem peças produzidas em pedra, barro
ou bronze, demonstrando a versatilidade da massa de papel e a qualidade do acabamento que
pode ser obtido em cada obra.
Todas possuem formas estilizadas e de simplicidade proposital. Os traços acentuam a
riqueza dos detalhes reveladores das expressões que, juntamente com os gestos, muito se
aproximam da naturalidade humana.
Observa-se a influência do mestre Rodin1
na opção por retratar a expressividade da figura
humana em movimento e, de Matisse2
, por modelar com a massa de papel, como se fosse a argila
deste genial mestre, em cujas obras, a figura-arabesco, flexível e insinuante é evidenciada como
sua marca peculiar.
Por último, e principal influência, Giacometti3
com suas figuras humanas distorcidas,
alongadas, intensas, de contornos irregulares, onde a verticalidade predomina.
A identidade própria e porque não dizer, o estilo pessoal, observa-se, inicialmente, pela
opção de expressar-se através da modelagem com massa de papel, técnica relativamente não
utilizada em trabalhos de maior preocupação estética, e ainda, pela opção de detalhar as
24
fisionomias, os gestos, os movimentos, de maneira a acentuar a naturalidade da figura
representada.
______________
1 STRICKLAND, Carol, Arte comentada, Rio de Janeiro, Ediouro, 2002, p. 110
2 ZANINI, op. cit., p. 44.
3.TASSINARI, Alberto, O espaço moderno, São Paulo, Cosac & Naify, 2001, p. 51.
25
(fig. 9)
Cortadora de Cana
Dimensões: 72 cm x 19 cm x 14,5 cm
Mulher do campo, de perfil estreito, magreza acentuada, com olhar distante, cabeça grande e
desproporcional, empunhando um facão que é a ferramenta de seu sustento. Sua posição insinua a
idéia de estar em movimento.
26
(fig. 10)
Menina com seus brinquedos
Dimensões: 55,5 cm x 10,9 cm x 15,5 cm
Menina de aparência raquítica, fisionomia delicada, cabeça desproporcional e perfil delgado. A
magreza, as pernas arcadas, os pés descalços e os brinquedos velhos e surrados enfatizam a sua
pobreza.
27
(fig. 11)
O lavrador na caatinga
Dimensões: 66 cm x 19,5 cm x 14,5 cm
Trabalhador típico das regiões áridas, muito magro, braços longos, pés descalços, de fisionomia
marcante, a face sulcada pelo sol e pela dureza do trabalho, na terra seca, onde apenas o
mandacaru resiste. Sua posição passa a idéia de movimento.
28
(fig. 12)
O roceiro e sua enxada
Dimensões: 63 cm x 19 cm x 14,5 cm
Homem de vestes surradas, pés no chão, com a enxada apoiada no ombro, passando a idéia de
movimento. A magreza, os traços marcantes e a aparência cansada revelam a dureza do seu
trabalho.
29
(fig. 13)
O sertanejo com a pá
Dimensões: 59 cm x 19 cm x 14,5 cm.
Homem de aparência castigada pela adversidade. O corpo magro, arcado, desproporcional, as
pernas cansadas, os braços finos, os pés descalços com os dedos disformes, as vestes surradas e a
fisionomia são detalhes que revelam o sofrimento e a dureza da sua vida. A pá fincada na terra
seca dá a idéia de descanso, um apoio, uma pausa.
30
(fig. 14)
A menina índia
Dimensões: 40 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.
A menina, carregando o cesto na cabeça, tem no rosto os traços da pureza e as marcas da vida
dura de quem busca nos centros urbanos o seu sustento. Os sulcos acentuam os detalhes da
fisionomia e das vestes. Os pés descalços e grosseiros representam a vida em liberdade e a
simplicidade inerente a sua cultura.
31
(fig. 15)
Homem lendo jornal
Dimensões: 51,5 cm x 19 cm x 14,5 cm
Sentado, com o olhar voltado para um velho jornal, o homem parece estar concentrado. Magro,
de pescoço comprido, traços fisionômicos salientes, perfil afilado, vestes simples e os pés
descalços representam uma pessoa humilde entretida com velhas notícias.
32
(fig. 16)
A lavadeira e sua filha
Dimensões: 70 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.
A lavadeira é muito magra, alta, de perfil fino e alongado. A face de traços salientes, marcantes,
passa a impressão de perseverança, de ainda dispor de forças para lutar. As vestes simples, os pés
em um velho par de chinelos e a enorme trouxa na cabeça representam a dureza da sua vida. A
criança, de feições realçadas, parece envergonhada, tentando se esconder com medo do mundo e
buscando a segurança da mãe.
33
(fig. 17)
Mãe amamentando o filho
Dimensões: 45 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.
Mulher de figura desproporcional, corpo arcado, cansado, perfil estreito, pescoço deformado, de
expressão marcante, as sobrancelhas curvadas, o olhar triste e sofrido, contrastando com a beleza
do ato de amamentar, de gerar vida, mostrando que ainda lhe restam forças para viver e criar seu
filho.
34
(fig. 18)
Mãe com a criança no colo
Dimensões: 67 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.
Mulher de figura alongada, magra, perfil estreito, pés grandes, pescoço comprido e a cabeça
desproporcional, carregando uma criança escanchada na cintura. A fisionomia tem traços fortes e
salientes, o olhar disperso, as sobrancelhas cerradas, passando a idéia de preocupação e tristeza.
35
(fig. 19)
Menino jornaleiro
Dimensões: 38,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.
O menino, de imagem bastante atual, representa o trabalho infantil, as dificuldades da vida
humilde em que, muito cedo, vendendo jornal, ajuda os pais a ganharem o pão de cada dia.
Apesar de tudo, tem uma expressão alegre e conserva a aparência de garoto. A franja com gel, o
bermudão e a camiseta da moda contrastam com o chinelo simples e surrado.
36
(fig. 20)
O moleque e sua bola
Dimensões: 55,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.
A figura alongada, de perfil estreito e desproporcional, mostra um menino com expressão feliz,
de traços marcantes, demonstrando que entre as pessoas simples e humildes também existem as
alegrias das brincadeiras de crianças.
37
(fig. 21)
O velho sentado
Dimensões: 28,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.
A falta de músculos, o rosto enrugado, a boca murcha e o olhar triste e distante evidenciam uma
vida longa e de muito sofrimento. A sua imagem solitária e desnuda expressa uma certa
ingenuidade de criança e denunciam o abandono em que se encontra.
38
(fig. 22)
Mãe com o filho desfalecido
Dimensões: 47 cm x 16 cm x 16 cm.
Mulher de cabeça e pés desproporcionais, perfil estreito, corpo arcado, sem maiores detalhes nas
vestes, com uma criança desfalecida nos braços. Os traços expressivos são bastante fortes,
acentuados, o olhar é triste, desolado, como se estivesse chorando sem lágrimas.
39
(fig. 23)
Mulher com o prato na mão
Dimensões: 52 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.
Mulher de perfil estreito, pescoço alongado e cabeça desproporcional. Os traços faciais são
fortes, salientes. A expressão é sofrida, passando uma idéia de viver em dificuldades. Os pés,
calçando um chinelo velho e surrado insinuam um leve movimento de caminhar.
40
(fig. 24)
Senhora com o cesto
Dimensões: 67,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.
Mulher de figura magra e alongada, perfil estreito, desproporcional, carregando um cesto preso às
costas. A expressão de cansaço e os traços marcantes, salientes, mostram a idade já avançada e
uma vida de dificuldades.
41
(fig. 25)
Mulher socando o pilão
Dimensões: 58,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm.
Mulher de figura magra e alongada, perfil estreito, corpo desproporcional, cabeça grande,
trabalhando no pilão. A expressão é de cansaço. O olhar caído e triste insinua uma vida de
privações.
42
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho apresentado deixa clara a preocupação em mostrar o cotidiano de pessoas
simples, seu modo de vida e suas dificuldades, através de situações corriqueiras, mas de grande
significado expressivo. Seus gestos, atitudes, simplicidade e espontaneidade materializam-se
através da tridimensionalidade.
A modelagem das peças, com massa de papel, permitiu, em meio a uma infinidade de
possibilidades estéticas e de acabamento, o desenvolvimento de uma linguagem artística pessoal
influenciada por algumas características encontradas nas obras de grandes mestres da escultura.
Ficaram, assim, demonstradas as qualidades da massa de papel ao surgir os aspectos de pedra,
bronze e barro, que determinaram a individualidade de cada peça, deixando em aberto a
utilização das muitas outras possibilidades que ainda restam.
As obras apresentadas evidenciam, não apenas as particularidades e sentimentos dos tipos
escolhidos, mas também o meu estado de espírito, pois, ao utilizar a arte escultórica como veículo
para gerar uma reflexão sobre o problema social, pude materializar esteticamente minha
indignação e expressar toda a emoção que o tema desperta em mim.
43
BIBLIOGRAFIA
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de Filosofia do
Direito.1ª Edição. São Paulo: Atlas, 2001.
CAVALCANTI, Carlos. História das Artes / Curso Elementar: da Renascença fora da Itália até
nossos dias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Rio – Sociedade Cultural ltda, 1978.
CLERIN, Phippe. La Sculpture:Toutes lês Techiques. Paris: Dessai et Tolva, 1995.
GOMBRICH, E. H. A história da Arte / Gombrich E. H: tradução de Álvaro Cabral. 16ª ed. Rio
de Janeiro: Editora LTC S.A. 1994.
KRAUSS, Rosalind E. Caminhos da escultura moderna / Rosalind E. Krauss: tradução de Julio
Fischer. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1998.
LOBO, Huertas. História Contemporânea das Artes Visuais / Coleção Estudos de Arte.
Lisboa: Editora Livros Horizonte, 1981.
MIDGLEY, Barry. Guia Completa de Escultura, Modelado y Cerâmica – Técnicas y
Materiales. Madrid: Blume, 1982.
READ, Herbert, O Sentido da Arte / tradução de E. Jacy Monteiro. 6ª ed. São Paulo: IBRASA,
1987.
RODRIGUES, Re. Papier Collée < http://www.cyberartes.com.br> - capturado em 11/04/04
SCHNECKENBURGER, Manfred. “Escultura”in Arte Del Siglo XX. Volume II, Kön, Madrid:
Taschen, 1999.
STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós moderno / Carol Strickland;
tradução Ângela de Andrade. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
TASSINARI, Alberto. O Espaço Moderno. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
TUCKER, William. A Linguagem da Escultura. SP: Cosac & Naify, 1999.
WITTIKOWER, Rudolf. Escultura. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
ZANINI, Walter.Tendências da Escultura moderna. 2ª ed. São Paulo: Editora Cultrix Ltda,
1971.
DINIZ, Laura, Chico Mendes, Raquel Guedes. Aparheid paulista tem até Muro.
<www.pnud.org.br/pobreza>, acessado em 23/06/04
44
ANEXO 1
45
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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO CURSO DE ARTES VISUAIS EXPRESSÕES DO COTIDIANO ELIANA DOS SANTOS BARBOSA DA SILVA Campo Grande – MS 2004
  • 2. 1 ELIANA DOS SANTOS BARBOSA DA SILVA EXPRESSÕES DO COTIDIANO Campo Grande – MS 2004 Relatório apresentado como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais à Banca Examinadora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, sob orientação da professora Dra. Carla Maria Buffo de Cápua
  • 3. 2 DEDICATÓRIA A minha mãe, Evilásia, pelo seu trabalho constante e dedicado à causa social, acreditando, aos 74 anos, que muito há que se fazer, ainda, para mudar a dura realidade de nossa gente.
  • 4. 3 AGRADECIMENTOS A Deus por tudo de bom que tem me permitido realizar. A minha família pela colaboração e paciência. A professora dra. Carla Maria Buffo de Cápua por me abrir as portas do conhecimento.
  • 5. 4 A arte requer, mais que qualquer coisa, o impulso criativo, a liberdade de expressão, a manipulação de formas, a materialização da idéia estética. Sem técnica, a arte torna-se escrava da imperfeição da forma; se pura técnica, a arte converte-se em instrumento acadêmico para a castração da livre expressão criativa e imaginativa humana. Eduardo Carlos Bianca Bittar
  • 6. 5 RESUMO “Expressões do Cotidiano” foi influenciado por escultores como Rodin, Matisse e principalmente por Giacometti, que, na sua última fase escultórica, dedicou-se obsessivamente à figura humana. Essa influência permitiu a produção de esculturas retratando pessoas simples, humildes, do campo ou dos aglomerados urbanos, em situações do cotidiano que expressam os sentimentos e as dificuldades vividas por cada uma delas. As peças foram modeladas com uma massa de papel que possui propriedades desenvolvidas especificamente para essa produção, o que permitiu um maior detalhamento expressivo e inúmeras possibilidades de acabamento final. O trabalho foi finalizado com a produção de dezessete esculturas, em diversos tamanhos, expressando o meu inconformismo e materializando plasticamente minhas características pessoais, além de permitir observar as influências dos autores citados. Com isso, chama a atenção para todo um contexto social em que pessoas humildes são submetidas a uma vida de muitas dificuldades causadas pelo abandono e pelo descaso com que são tratadas.
  • 7. 6 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS...................................................................................... 7 INTRODUÇÃO................................................................................................ 8 CAPÍTULO 1. AS MOTIVAÇÕES E INFLUÊNCIAS............................... 10 1.1 AS QUESTÕES SOCIAIS........................................................................ 11 1.2 INFLUÊNCIAS.......................................................................................... 13 CAPÍTULO 2. A MATERIALIZAÇÃO DO SENTIMENTO.................... 18 2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................ 18 2.2 ANÁLISE DAS OBRAS............................................................................ 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 41 BIBLIOGRAFIA.............................................................................................. 42 ANEXO 1.......................................................................................................... 43 ANEXO 2.......................................................................................................... 44
  • 8. 7 LISTA DE FIGURAS 1. Madalena I 2. Nu reclinado 3. Homem caminhando II 4. Giacometti 5. Miniaturas 6. Esqueleto de arame 7. Esqueleto com atadura 8. Estrutura modelada 9. Cortadora de cana 10. Menina com seus brinquedos 11. O lavrador na caatinga 12. O roceiro e sua enxada 13. O sertanejo com a pá 14. A menina índia 15. Homem lendo jornal 16. A lavadeira e sua filha 17. Mãe amamentando o filho 18. Mãe com a criança no colo 19. Menino jornaleiro 20. Moleque e sua bola 21. O velho sentado 22. Mãe com o filho desfalecido 23. Mulher com o prato na mão 24. Senhora com o cesto 25. Mulher socando o pilão
  • 9. 8 INTRODUÇÃO Hoje, não só nas grandes metrópoles, mas também nas regiões castigadas pela natureza, nos deparamos com cenas da vida urbana que muito nos comovem, onde as oportunidades são raríssimas. Diante dessa vida dura e sofrida, há uma grande parte da população que tem de lutar para sobreviver no campo, nas ruas das cidades, nos vilarejos e favelas. São pessoas perseverantes e resignadas com essa condição desumana, que inconscientemente revelam, através dos olhares, das marcas do tempo sulcadas em seus rostos, todas as angústias, medos e sonhos. O desejo de trabalhar dentro desse universo social, surgiu há muito tempo, ao observar e conviver diariamente com o modo de vida dessas pessoas simples, excluídas pela sociedade, onde o emprego, a escola e a moradia são privilégios de poucos, mas que, apesar dos obstáculos encontrados, têm a capacidade e a altivez de enfrentar essa dura realidade e ainda assim, conseguir sobreviver com uma certa dignidade. Com uma visão crítica e solidária, essas pessoas foram observadas e serviram como fonte de inspiração para a criação das esculturas, as quais foram utilizadas como veículo para traduzir os olhares, os gestos, as atitudes, enfim, as expressões desse povo sofrido. A sensibilidade fez aflorar um certo inconformismo que influenciou o meu estado de espírito e caracterizou toda a minha obra. Para materializar este sentimento, descobri, na escultura, o veículo mais eficaz para gerar uma reflexão sobre o problema abordado, além de permitir a minha realização pessoal. As pesquisas teóricas revelaram que alguns elementos presentes em meus trabalhos assemelhavam-se às características encontradas nas esculturas de Rodin, Matisse e, principalmente, Giacometti. A massa de papel foi escolhida para a produção das obras devido à grande facilidade no seu manuseio, à maleabilidade, à resistência, e ao baixo custo, permitindo inúmeras possibilidades de aplicação e efeitos estéticos. Assim, utilizando a técnica de modelagem com essa massa, realizei uma série de obras expressivas nas quais externei a minha indignação diante de um contexto social, reafirmando os pontos de semelhança com as influências acima citadas, sem, no entanto, declinar das características pessoais que identificam esta produção escultórica.
  • 10. 9 O relatório está dividido em dois capítulos, um falando sobre as motivações e influências, e outro, sobre a materialização do sentimento. Cada um dos capítulos foi dividido em duas partes, conforme descrito a seguir. A primeira parte do capítulo um, “As questões sociais”, relaciona as impressões observadas no meu dia-a-dia e externadas através das obras apresentadas, com a situação social das pessoas retratadas, passando por uma breve explanação sobre o porquê da técnica escolhida e suas possibilidades. A segunda parte do capítulo um, “Influências”, aborda as particularidades da obra de cada um dos mestres da escultura citados como influências, revelando os detalhes coincidentes com elementos encontrados em minha obra. A primeira parte do capítulo dois, “Procedimentos metodológicos”, descreve as várias fases do processo criativo, justifica a escolha da técnica e da massa de papel, e, também, descreve, detalhadamente, todas as etapas de produção. A segunda parte do capítulo dois, “Análise das obras”, faz referência às características comuns a todas as peças, relacionando-as com as obras dos artistas citados como influências e, faz também, uma descrição pormenorizada de cada escultura produzida. O suporte teórico do relatório está embasado, entre outros, nas pesquisas realizadas por Walter Zanini, na sua obra Tendências da Escultura Moderna, na qual delineia a evolução desse período criativo e comenta com muita propriedade as particularidades da obra de cada um dos mestres citados como influência. Do mesmo modo, na obra O Espaço Moderno, de Alberto Tassinari, foram encontradas análises específicas da obra de Giacometti bastante úteis para a determinação dos elementos que também são encontrados em minha obra.
  • 11. 10 CAPÍTULO 1 – AS MOTIVAÇÕES E INFLUÊNCIAS 1.1 AS QUESTÕES SOCIAS Ao se observar uma obra de Cândido Portinari, como “Retirantes”, ou do mexicano José Clemente Orozco, “A Trindade: camponeses, operários e soldado”, ambos muralistas, expressionistas que exteriorizaram num mundo plástico elementos dos seus sentimentos, evidenciando questões políticas e sociais, surge, no observador, o mesmo sentimento experimentado pelos seus autores. O mesmo acontece quando se lê o texto transcrito abaixo, abordando as diferenças entre as classes sociais no Brasil: APARTHEID PAULISTA TEM ATÉ MURO No noroeste da Grande São Paulo, a quarta maior renda per capita do Brasil convive com um dos mais elevados índices de desigualdade. No badalado condomínio, festinhas de criança como a do filho do empresário libanês Pierre Issa são constantes. Numa manhã ensolarada de domingo, cerca de 50 convidados — homens de terno, mulheres de trajes finos, crianças e babás — transitam entre bandejas sempre reabastecidas de canapés, uísque e champagne. Pierre, de filmadora em punho, registra o corre-corre das crianças, o colorido da festa e a desenvoltura dos convidados. Uma das convidadas, ao saber da presença da equipe de reportagem, deu o tom: "Isso aí vai sair na Veja?". A cerca de cinco quilômetros dali, no Jardim São Vicente de Paula, Roseneide de Oliveira não tem motivos para comemorar. Aos 19 anos, desempregada, grávida de oito meses e abandonada pelo namorado, a menina mal sorri. O sofrimento é compartilhado pela amiga Maria das Graças e seus dois filhos, com quem divide o cubículo onde mora. "A vizinhada sempre ajuda as duas", conta Jorge Bispo dos Santos, pedreiro, que divide uma pequena casa de alvenaria com mais oito familiares. Cristina de Oliveira, prima de Roseneide, também precisa de ajuda. Desempregada, mora com o marido e a filha num quartinho escuro, de papelão e chão batido, na descida de um barranco íngreme. O marido sustenta a família com trabalhos temporários, como a montagem dos palcos do evento de moda São Paulo (Laura Diniz, Chico Mendes – Santana do Parnaíba, 05/03/2004, www.pnud.org.br/pobreza). Assim, a todo o momento, em qualquer lugar, deparo-me com cenas do cotidiano que incutem em minha alma a necessidade de expressar, através da arte, o sentimento de inconformismo e crítica social, como uma contribuição pessoal no sentido de chamar a atenção para essa realidade, e assim, possibilitar uma melhor condição no futuro.
  • 12. 11 As obras escultóricas de Rodin, Matisse e Alberto Giacometti, artistas que procuraram novas soluções ou uma nova abordagem para as relações entre forma e espaço, despertaram em mim a paixão pela escultura, reafirmando as inúmeras possibilidades de realização pessoal. Através da escultura é possível materializar todos os sentimentos despertados e mostrar a realidade da maioria dos brasileiros. Expressando tridimensionalmente essas vivências e transmitindo idéias e atitudes, certamente alguém será sensibilizado, o que, conseqüentemente, poderá gerar uma reflexão sobre a questão social em nosso país. Além de externar minha indignação com essas questões sociais, busco expressar-me esteticamente, realizando plasticamente os meus sentimentos através de características que identificam as minhas obras, como por exemplo: a forma de cada peça, em que, apesar dos contornos delicados e detalhes expressivos, transmitem, ao mesmo tempo, uma certa rusticidade; a desproporcionalidade presente nas figuras, acentuando a expressividade do movimento e fazendo-o parecer natural em cada personagem; as texturas e cores criadas para mostrar a aparência de diferentes tipos de materiais; enfim, tudo isso reunido, mais a emoção transmitida por cada uma das peças, formam esses seres inanimados que contam uma história, um momento de suas vidas. As expressões do cotidiano escolhidas para serem representadas neste trabalho foram retiradas dos grupos sociais teoricamente mais sujeitos às dificuldades do dia-a-dia, e que carregam, visivelmente, em seus corpos, as marcas de uma dura existência também estampada nos seus rostos. Assim, para traduzir esteticamente essas questões, inspirei-me nas atividades rurais ou braçais de execução difícil e sofrida; nos trabalhos domésticos de mulheres humildes buscando o sustento dos filhos; no trabalho infantil, desumano, que impede o desenvolvimento natural das nossas crianças; e por fim, na alegria ingênua de crianças em brincadeiras simples e rudimentares; O trabalho de construção das esculturas envolveu uma série de atividades específicas, a fim de tornar efetiva, real, a idéia concebida durante o processo de criação. Entre essas atividades, cabe destacar o ato de modelar, porque se tratou de uma etapa importantíssima do processo criativo, uma vez que, através dele é que verdadeiramente se tornaram reais, palpáveis, concretas as minhas impressões. As “expressões do cotidiano” devem, obrigatoriamente, transmitir o meu sentimento, sob pena de descaracterizar o objetivo de crítica social e de
  • 13. 12 provocar indignação no observador. Dessa forma, a modelagem das peças constituiu-se em um ato pessoal, intuitivo, sensorial, em que procurei exprimir toda a minha carga emocional por intermédio do material que tinha em mãos. O ato de modelar aguça a sensibilidade dos dedos, do olhar e da alma. Na modelagem as mãos e os dedos do artista são as suas principais ferramentas. Uma estrutura sólida e rígida, quando recoberta por qualquer material maleável, adquire a forma desejada pelo artista. Esse volume de massa, sem forma, vai se transformando pouco a pouco, saindo de dentro da sua imaginação, fazendo de suas mãos e dedos instrumentos de materialização da idéia concebida, surgindo, assim, detalhes de lábios finos ou grossos, sulcos dos cabelos, olhos com expressões tristes ou alegres, marcas de rugas na face, para finalmente um rosto tomar vida própria com suas particularidades. Dessa forma, foram criadas várias peças, cada uma delas com características próprias, umas aparentando serem talhadas na pedra, outras parecendo fundidas em bronze, e por fim, uma outra com o aspecto de ter sido modelada no barro. Possuem cores e texturas peculiares e contêm uma verticalidade que contribui para acentuar a forma esguia que prevalece em todas elas, além de revelar nos gestos ou movimentos toda a expressividade buscada pela autora.
  • 14. 13 1.2 INFLUÊNCIAS O estudo da história do século XIX e XX, no campo das artes, possibilita o conhecimento sobre os grandes mestres da escultura, os quais, cada um com seu estilo próprio, romperam barreiras, demonstrando em suas criações o sentimento dominante e as tendências de sua época. De acordo com Zanini1 , o precursor, entre os artistas criadores, foi Honoré Daumier (1808-1879) que com suas modelagens de cunho caricatural cáustico, acusa, em relação à escultura de sua época, um forte sentimento de inconformismo. Ele supera as posições do neoclassicismo e também as do romantismo, do qual descende, colocando em sua arte os estímulos da vida cotidiana. No seu tempo não houve artista mais integrado ao sentido da modernidade. Também, o consagrado mestre Auguste Rodin (1840-1917), talvez o maior de sua época, que foi alvo de violentas controvérsias entre os críticos, desprezava o aspecto externo de “acabamento”, o que contribuiu de maneira acentuada para facilitar a aceitação do impressionismo, fora do estreito círculo de seus admiradores na França. Mas a contribuição fundamental de Rodin2 , residiu na compreensão genuína dos problemas da forma e de sua inserção no espaço. Foi pela regeneração das propriedades táteis da escultura, pelo respeito ao material de que se utilizou, pela ordenação rigorosa de suas imagens, obtida pela ciência do modelar, entendida como sendo “as saliências dos volumes interiores”, que Rodin se tornou influente na Europa, suscitando, neste século, o respeito dos escultores de vanguarda da criação artística. O mesmo autor expõe que Henri Matisse (1869-1954)3 , produziu esculturas sinuosas, tensas e emocionais, com deformações, em parte suscitadas pela incidência da arte negra. _____________ 1. ZANINI Walter, Tendências da escultura moderna, São Paulo, Cultrix, 1980, p. 19 2. ZANINI, op. cit., p. 29. 3 ZANINI, op. cit., p. 46. A escultura de Matisse – “um artista dessa espécie, em que toda a atividade plástica tem seu ponto de partida no intelecto” (J. Cassou, catálogo da exposição retrospectiva “Henri Matisse” realizada pelo Musée National d’Art Moderne, Paris, 1956) - constitui uma contribuição original pela audaciosa capacidade de se liberar da representação naturalística e de procurar o que a forma possui de mais intrínseco e vital.
  • 15. 14 Porém, na obra Madalena n°1 (fig. 1), em bronze(1901), figura abaixo, já surge, no pequeno formato que se tornará peculiar ao artista, a figura-arabesco, flexível e insinuante, herdeira de Daumier e Degas, vinculada ao impressionismo de Rodin. (fig. 1) MATISSE, Madalena I, 1901, Bronze, 60 cm. Coleção: Baltimore Museum of Art
  • 16. 15 Matisse1 cultivará em pequenas variantes uma concepção iconográfica feminina, livre e descurada de detalhes cujos acentos expressionistas são, por vezes, agudos, a exemplo do Nu reclinado n°1 (fig. 2), em bronze (1907). (fig. 2) MATISSE, Nu reclinado, 1925, Bronze, 80 cm. Coleção: Baltimore Museum of Art ___________ 1. ZANINI, op. cit., p. 44.
  • 17. 16 Alberto Giacometti1 (1901-1966), estudou com Bourdelle em Paris, onde sofreu o influxo passageiro do cubismo de Brancusi, tornando-se sensível às artes negras. Integrando-se ao movimento surrealista, cujas idéias não lhe eram estranhas, seguiu livremente, a sua natureza propensa a procura da essência inserida na realidade. Por alguns anos abandona o método de trabalho sob o estímulo de modelo e se prende ao simbolismo interior para produzir algumas obras, e a partir de então, suas peças foram construídas em pequenas dimensões que compuseram, em parte, a contribuição do artista para o surrealismo. Essa fase, porém, não se encerrou sem que ele retomasse a figura numa escala normal de proporções, as esculturas alongadas, com braços e mãos esticados ao lado do corpo são carregadas de expressividade, demonstrando num esforço sobre-humano, a tentativa de conhecer a realidade absoluta que supõe existir na aparência das coisas. Giacometti buscou novas soluções ou uma nova abordagem para as relações entre forma e espaço, formas vivas e abstrações intelectuais. A dimensão de sua experiência exteriorizada em suas obras foram únicas, atributo criativo de sua peregrinação (fig. 3). (fig. 3) GIACOMETTI, Homem caminhando II, 1960, Bronze, 187 cm. Coleção: Galerie Beyeler, Basiléia. O que fascina na escultura é o poder que esses artistas exercem, transcendendo os limites, na tradução de expressões, no material, na técnica e até mesmo na criação. São paradigmas nessa linguagem da arte. Conhecendo suas obras chega-se à conclusão de que sempre estiveram além do seu tempo. _____________ 1. ZANINI, op. cit , p. 174 - 178.
  • 18. 17 Rodin, Matisse e Alberto Giacometti foram artistas que desprezaram convenções para expressarem a criação sem se submeterem às normas impostas em suas épocas. Essas características influenciaram, sobremaneira, o meu interesse pela escultura, pois, através da identificação com esse modo de pensar, encontrei as condições ideais para dar vazão à criatividade. Assim, na análise das obras apresentadas neste trabalho, pode-se verificar a coincidência de detalhes, em diversos pontos, com a obra dos artistas citados, predominando, no entanto, as características de Alberto Giacometti, principalmente quanto à preferência por peças de formas alongadas, esquálidas, sinuosas. Ao mesmo tempo, pode-se observar as minhas características, marcas pessoais que me identificam através das obras (fig. 4). (fig. 4) GIACOMETTI, Homem apontando com o dedo, 1947. Bronze 178 cm Coleção: Tate Gallery - Londres
  • 19. 18 CAPÍTULO 2 – A MATERIALIZAÇÃO DO SENTIMENTO 2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O processo de materialização de uma escultura consiste de fases distintas, bem definidas, que podem ser sintetizadas em: processo de criação, a escolha da técnica, a construção das miniaturas e finalmente a construção das esculturas em tamanho definitivo. O processo de criação iniciou-se com a escolha do tema que, neste trabalho, em particular, refere-se à retratação de figuras humanas representativas de situações do cotidiano em que se observa a expressividade provocada pelas dificuldades encontradas na vida de pessoas simples e humildes. Após então, passou-se ao desenho, propriamente dito, que procurou materializar graficamente as idéias e as expressões referentes ao tema. Assim, foram confeccionados vários desenhos, conforme anexo 2, e escolhidos aqueles de maior expressividade e que mais se adequaram à temática proposta. A massa de papel foi escolhida, principalmente, pela relativa originalidade de sua aplicação em esculturas, e, também, devido à possibilidade de se produzir peças com aparência de diversos materiais sem as dificuldades e limitações impostas pelo manuseio dos mesmos. Um outro fator, também preponderante para essa escolha, foi o fato de já ter trabalhado com essa técnica e ter desenvolvido uma massa de papel mais resistente e mais maleável permitindo com mais eficácia as correções e ajustes, possibilitando uma maior riqueza nos detalhes exigidos pela complexidade dos desenhos selecionados. Essa massa é feita com embalagens de ovos, picadas e maceradas com cola branca, fungicida, farinha de trigo e pó de serra, de maneira a se tornar uma mistura homogênea e consistente. Isso permite que, na construção das esculturas, haja facilidade de manuseio e, em conseqüência, um melhor resultado final. No anexo 1, pode-se verificar a receita completa da massa de papel e o procedimento para sua confecção, bem como um breve histórico de sua utilização.
  • 20. 19 A construção de miniaturas (fig. 5) teve como objetivo reproduzir os desenhos escolhidos em tamanho reduzido, de maneira a verificar a adequação prática da técnica escolhida, observando as dificuldades encontradas, de forma a serem corrigidas por ocasião da construção da peça definitiva, em tamanho maior. Para isso, foi feita a estrutura metálica da peça, em dimensões reduzidas, recoberta com ataduras gessadas e, após a secagem, modelada com a massa de papel, procurando representar com fidelidade as expressões dos desenhos Nessa etapa do processo verificou-se a consistência da massa, sua maleabilidade, tempo de secagem e outras características. Também, no acabamento da miniatura, foram verificadas a funcionalidade e a adequação das tintas e produtos utilizados, atentando para as necessidades de correção, a fim de atingir um maior grau de perfeição. Esgotadas as fases anteriores, criação, escolha da técnica, e produção das miniaturas, restou a construção da escultura em tamanho definitivo. Essa fase iniciou-se com a construção de uma caixa de madeira para servir de base da escultura. Essa base deve ser proporcional ao tamanho final da peça, de modo a permitir a ancoragem segura da estrutura metálica vertical a uma malha de arame horizontal colocada dentro da base, a qual, depois de recoberta com gesso, proporciona o equilíbrio e a firmeza necessária para suportar a escultura finalizada. A estrutura metálica vertical deverá estar já delineada com a figura a ser retratada, ao se fazer a ancoragem na malha horizontal. (fig. 5) (fig. 5)
  • 21. 20 Para fazer a estrutura metálica vertical foi utilizado um arame grosso, n◦ 12, (fig. 6) servindo como esqueleto principal e já moldado à silhueta da figura escolhida. A partir desse esqueleto, com arame n◦16, foram fixadas as estruturas secundárias que servem de suporte para os braços e outros detalhes do desenho. Finalizando a estrutura metálica, foi utilizado o arame n◦ 20, tramado ao esqueleto principal a fim de preencher os espaços vazios e proporcionar uma maior rigidez ao conjunto, além de permitir apoio para a atadura gessada e posteriormente à massa de papel. Concluída a estrutura metálica, passou-se então, a envolvê-la com ataduras gessadas (fig. 7). Depois da secagem, foi passada uma camada de cola branca, para possibilitar uma melhor aderência da massa de papel, que foi aplicada em seguida. Nessa etapa é que foi realizada a modelagem, propriamente dita, buscando reproduzir as expressões desejadas (fig. 8). Após então, aguardou-se o tempo de secagem, em torno de sete dias, tempo esse que é variável de acordo com as condições climáticas. Com a massa completamente seca, passou-se à fase de acabamento final com a pintura definitiva. (fig. 6)
  • 23. 22 Três peças foram escolhidas para receberem um acabamento sugerindo o bronze fundido, em cada uma delas foi aplicada, como base, uma demão de tinta látex acrílica, na cor branca, para posteriormente receberem uma demão de tinta acrílica bronze iridescente e, então, serem envelhecidas com betume da Judéia, produzindo o efeito de bronze fundido. Oito peças receberam um acabamento que lembra pedra. Este efeito é obtido aplicando-se uma demão de tinta látex acrílica na cor branca ou marfim, como tinta base. Após a secagem, passa-se uma aguada de tinta acrílica para tela, já na cor da pedra desejada. Aguardar a secagem e lixar toda a escultura para retirar o excesso de tinta depositada, fazendo surgir pontos na cor da tinta base, sugerindo o aspecto de pedra. Em seguida, para finalizar, aplica-se o verniz fosco, em spray, a fim de impermeabilizar a peça. Uma peça recebeu uma demão de tinta látex acrílica na cor ocre e, após a secagem, aplicou-se uma aguada de tinta acrílica para tela, na cor terra de siena queimada, obtendo assim, a mesma aparência do barro. A seguir foi finalizada com o verniz fosco, em spray, para a impermeabilização. Em cinco peças não foi feita nenhuma cobertura com tinta, mantendo-se o aspecto original da própria massa de papel. Logo após a secagem da massa, aplicou-se o verniz fosco, em spray, para impermeabilizá-las e a seguir foi passada uma camada de cera incolor, em pasta. Após a secagem, foram finalizadas, passando uma leve camada de graxa de sapato preta para acentuar as linhas e contornos das peças, sempre utilizando um pano para retirar o excesso de graxa, obtendo assim a cor desejada.
  • 24. 23 2.2 ANÁLISE DAS OBRAS As esculturas têm como características comuns as distorções, as formas esquálidas e as deformações causadas pela desproporcionalidade entre braços, pernas, pescoço e cabeça, afrontando a harmonia esperada da figura humana, valorizando a expressividade de cada personagem, cujos detalhes e expressões são delineados por meio de sulcos. Olhando-se de perfil, pode-se observar em cada uma delas a figura estreita e alongada. A aparência áspera e porosa transmite uma idéia, tanto na textura quanto na cor, de serem peças produzidas em pedra, barro ou bronze, demonstrando a versatilidade da massa de papel e a qualidade do acabamento que pode ser obtido em cada obra. Todas possuem formas estilizadas e de simplicidade proposital. Os traços acentuam a riqueza dos detalhes reveladores das expressões que, juntamente com os gestos, muito se aproximam da naturalidade humana. Observa-se a influência do mestre Rodin1 na opção por retratar a expressividade da figura humana em movimento e, de Matisse2 , por modelar com a massa de papel, como se fosse a argila deste genial mestre, em cujas obras, a figura-arabesco, flexível e insinuante é evidenciada como sua marca peculiar. Por último, e principal influência, Giacometti3 com suas figuras humanas distorcidas, alongadas, intensas, de contornos irregulares, onde a verticalidade predomina. A identidade própria e porque não dizer, o estilo pessoal, observa-se, inicialmente, pela opção de expressar-se através da modelagem com massa de papel, técnica relativamente não utilizada em trabalhos de maior preocupação estética, e ainda, pela opção de detalhar as
  • 25. 24 fisionomias, os gestos, os movimentos, de maneira a acentuar a naturalidade da figura representada. ______________ 1 STRICKLAND, Carol, Arte comentada, Rio de Janeiro, Ediouro, 2002, p. 110 2 ZANINI, op. cit., p. 44. 3.TASSINARI, Alberto, O espaço moderno, São Paulo, Cosac & Naify, 2001, p. 51.
  • 26. 25 (fig. 9) Cortadora de Cana Dimensões: 72 cm x 19 cm x 14,5 cm Mulher do campo, de perfil estreito, magreza acentuada, com olhar distante, cabeça grande e desproporcional, empunhando um facão que é a ferramenta de seu sustento. Sua posição insinua a idéia de estar em movimento.
  • 27. 26 (fig. 10) Menina com seus brinquedos Dimensões: 55,5 cm x 10,9 cm x 15,5 cm Menina de aparência raquítica, fisionomia delicada, cabeça desproporcional e perfil delgado. A magreza, as pernas arcadas, os pés descalços e os brinquedos velhos e surrados enfatizam a sua pobreza.
  • 28. 27 (fig. 11) O lavrador na caatinga Dimensões: 66 cm x 19,5 cm x 14,5 cm Trabalhador típico das regiões áridas, muito magro, braços longos, pés descalços, de fisionomia marcante, a face sulcada pelo sol e pela dureza do trabalho, na terra seca, onde apenas o mandacaru resiste. Sua posição passa a idéia de movimento.
  • 29. 28 (fig. 12) O roceiro e sua enxada Dimensões: 63 cm x 19 cm x 14,5 cm Homem de vestes surradas, pés no chão, com a enxada apoiada no ombro, passando a idéia de movimento. A magreza, os traços marcantes e a aparência cansada revelam a dureza do seu trabalho.
  • 30. 29 (fig. 13) O sertanejo com a pá Dimensões: 59 cm x 19 cm x 14,5 cm. Homem de aparência castigada pela adversidade. O corpo magro, arcado, desproporcional, as pernas cansadas, os braços finos, os pés descalços com os dedos disformes, as vestes surradas e a fisionomia são detalhes que revelam o sofrimento e a dureza da sua vida. A pá fincada na terra seca dá a idéia de descanso, um apoio, uma pausa.
  • 31. 30 (fig. 14) A menina índia Dimensões: 40 cm x 14,5 cm x 14,5 cm. A menina, carregando o cesto na cabeça, tem no rosto os traços da pureza e as marcas da vida dura de quem busca nos centros urbanos o seu sustento. Os sulcos acentuam os detalhes da fisionomia e das vestes. Os pés descalços e grosseiros representam a vida em liberdade e a simplicidade inerente a sua cultura.
  • 32. 31 (fig. 15) Homem lendo jornal Dimensões: 51,5 cm x 19 cm x 14,5 cm Sentado, com o olhar voltado para um velho jornal, o homem parece estar concentrado. Magro, de pescoço comprido, traços fisionômicos salientes, perfil afilado, vestes simples e os pés descalços representam uma pessoa humilde entretida com velhas notícias.
  • 33. 32 (fig. 16) A lavadeira e sua filha Dimensões: 70 cm x 14,5 cm x 14,5 cm. A lavadeira é muito magra, alta, de perfil fino e alongado. A face de traços salientes, marcantes, passa a impressão de perseverança, de ainda dispor de forças para lutar. As vestes simples, os pés em um velho par de chinelos e a enorme trouxa na cabeça representam a dureza da sua vida. A criança, de feições realçadas, parece envergonhada, tentando se esconder com medo do mundo e buscando a segurança da mãe.
  • 34. 33 (fig. 17) Mãe amamentando o filho Dimensões: 45 cm x 14,5 cm x 14,5 cm. Mulher de figura desproporcional, corpo arcado, cansado, perfil estreito, pescoço deformado, de expressão marcante, as sobrancelhas curvadas, o olhar triste e sofrido, contrastando com a beleza do ato de amamentar, de gerar vida, mostrando que ainda lhe restam forças para viver e criar seu filho.
  • 35. 34 (fig. 18) Mãe com a criança no colo Dimensões: 67 cm x 14,5 cm x 14,5 cm. Mulher de figura alongada, magra, perfil estreito, pés grandes, pescoço comprido e a cabeça desproporcional, carregando uma criança escanchada na cintura. A fisionomia tem traços fortes e salientes, o olhar disperso, as sobrancelhas cerradas, passando a idéia de preocupação e tristeza.
  • 36. 35 (fig. 19) Menino jornaleiro Dimensões: 38,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm. O menino, de imagem bastante atual, representa o trabalho infantil, as dificuldades da vida humilde em que, muito cedo, vendendo jornal, ajuda os pais a ganharem o pão de cada dia. Apesar de tudo, tem uma expressão alegre e conserva a aparência de garoto. A franja com gel, o bermudão e a camiseta da moda contrastam com o chinelo simples e surrado.
  • 37. 36 (fig. 20) O moleque e sua bola Dimensões: 55,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm. A figura alongada, de perfil estreito e desproporcional, mostra um menino com expressão feliz, de traços marcantes, demonstrando que entre as pessoas simples e humildes também existem as alegrias das brincadeiras de crianças.
  • 38. 37 (fig. 21) O velho sentado Dimensões: 28,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm. A falta de músculos, o rosto enrugado, a boca murcha e o olhar triste e distante evidenciam uma vida longa e de muito sofrimento. A sua imagem solitária e desnuda expressa uma certa ingenuidade de criança e denunciam o abandono em que se encontra.
  • 39. 38 (fig. 22) Mãe com o filho desfalecido Dimensões: 47 cm x 16 cm x 16 cm. Mulher de cabeça e pés desproporcionais, perfil estreito, corpo arcado, sem maiores detalhes nas vestes, com uma criança desfalecida nos braços. Os traços expressivos são bastante fortes, acentuados, o olhar é triste, desolado, como se estivesse chorando sem lágrimas.
  • 40. 39 (fig. 23) Mulher com o prato na mão Dimensões: 52 cm x 14,5 cm x 14,5 cm. Mulher de perfil estreito, pescoço alongado e cabeça desproporcional. Os traços faciais são fortes, salientes. A expressão é sofrida, passando uma idéia de viver em dificuldades. Os pés, calçando um chinelo velho e surrado insinuam um leve movimento de caminhar.
  • 41. 40 (fig. 24) Senhora com o cesto Dimensões: 67,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm. Mulher de figura magra e alongada, perfil estreito, desproporcional, carregando um cesto preso às costas. A expressão de cansaço e os traços marcantes, salientes, mostram a idade já avançada e uma vida de dificuldades.
  • 42. 41 (fig. 25) Mulher socando o pilão Dimensões: 58,5 cm x 14,5 cm x 14,5 cm. Mulher de figura magra e alongada, perfil estreito, corpo desproporcional, cabeça grande, trabalhando no pilão. A expressão é de cansaço. O olhar caído e triste insinua uma vida de privações.
  • 43. 42 CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho apresentado deixa clara a preocupação em mostrar o cotidiano de pessoas simples, seu modo de vida e suas dificuldades, através de situações corriqueiras, mas de grande significado expressivo. Seus gestos, atitudes, simplicidade e espontaneidade materializam-se através da tridimensionalidade. A modelagem das peças, com massa de papel, permitiu, em meio a uma infinidade de possibilidades estéticas e de acabamento, o desenvolvimento de uma linguagem artística pessoal influenciada por algumas características encontradas nas obras de grandes mestres da escultura. Ficaram, assim, demonstradas as qualidades da massa de papel ao surgir os aspectos de pedra, bronze e barro, que determinaram a individualidade de cada peça, deixando em aberto a utilização das muitas outras possibilidades que ainda restam. As obras apresentadas evidenciam, não apenas as particularidades e sentimentos dos tipos escolhidos, mas também o meu estado de espírito, pois, ao utilizar a arte escultórica como veículo para gerar uma reflexão sobre o problema social, pude materializar esteticamente minha indignação e expressar toda a emoção que o tema desperta em mim.
  • 44. 43 BIBLIOGRAFIA BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de Filosofia do Direito.1ª Edição. São Paulo: Atlas, 2001. CAVALCANTI, Carlos. História das Artes / Curso Elementar: da Renascença fora da Itália até nossos dias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Rio – Sociedade Cultural ltda, 1978. CLERIN, Phippe. La Sculpture:Toutes lês Techiques. Paris: Dessai et Tolva, 1995. GOMBRICH, E. H. A história da Arte / Gombrich E. H: tradução de Álvaro Cabral. 16ª ed. Rio de Janeiro: Editora LTC S.A. 1994. KRAUSS, Rosalind E. Caminhos da escultura moderna / Rosalind E. Krauss: tradução de Julio Fischer. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1998. LOBO, Huertas. História Contemporânea das Artes Visuais / Coleção Estudos de Arte. Lisboa: Editora Livros Horizonte, 1981. MIDGLEY, Barry. Guia Completa de Escultura, Modelado y Cerâmica – Técnicas y Materiales. Madrid: Blume, 1982. READ, Herbert, O Sentido da Arte / tradução de E. Jacy Monteiro. 6ª ed. São Paulo: IBRASA, 1987. RODRIGUES, Re. Papier Collée < http://www.cyberartes.com.br> - capturado em 11/04/04 SCHNECKENBURGER, Manfred. “Escultura”in Arte Del Siglo XX. Volume II, Kön, Madrid: Taschen, 1999. STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós moderno / Carol Strickland; tradução Ângela de Andrade. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. TASSINARI, Alberto. O Espaço Moderno. São Paulo: Cosac & Naify, 2001. TUCKER, William. A Linguagem da Escultura. SP: Cosac & Naify, 1999. WITTIKOWER, Rudolf. Escultura. São Paulo: Martins Fontes, 1989. ZANINI, Walter.Tendências da Escultura moderna. 2ª ed. São Paulo: Editora Cultrix Ltda, 1971. DINIZ, Laura, Chico Mendes, Raquel Guedes. Aparheid paulista tem até Muro. <www.pnud.org.br/pobreza>, acessado em 23/06/04