O documento descreve o Banco de Germoplasma da Macaúba (BAG-Macaúba) da Universidade Federal de Viçosa, que contém mais de 1.500 plantas de macaúba de seis estados brasileiros com o objetivo de conservar a variabilidade genética da espécie e acelerar o desenvolvimento de variedades comerciais. O BAG-Macaúba vem sendo caracterizado para identificar variabilidade em caracteres morfológicos e de produção entre os diferentes acessos.
Espécies silvestres como fontes de resistência a pragas e doenças do amendoim
BAG Macaúba: base para melhoramento genético
1. BANCO DE GERMOPLASMA DA MACAÚBA: BASE PARA O MELHORAMENTO1
GENÉTICO2
3
GUSTAVO DA SILVEIRA1
; SÉRGIO YOSHIMITSU MOTOIKE1
; FABIANA SILVA DE SOUZA1
;4
FRANCISCO DE ASSIS LOPES1
; EMILIANO HENRIQUES1
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INTRODUÇÃO7
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A produção e o uso de combustíveis limpos, biodegradáveis e provenientes de fontes renováveis9
tem sido foco de muitas discussões em congressos mundiais devido, principalmente, ao aumento na10
demanda de energia e preocupações com as mudanças climáticas. Diante deste panorama, as plantas11
oleaginosas vêm se destacando pela grande oportunidade de participação na matriz energética.12
A palmeira macaúba se destaca por ser altamente produtiva, apresentando o segundo maior13
potencial entre as plantas oleaginosas, perdendo apenas para a cultura do dendê. A macaúba tem14
produção entre 1500 e 5000 kg ha-1
de óleo, o que a torna uma espécie com grande potencial para a15
produção de biodiesel, pois além da sua grande produtividade, se mantém produtiva por dezenas de16
anos (TEIXEIRA, 2005).17
Ainda de forma extrativista, a exploração da macaúba não expressa todo o seu possível18
potencial produtivo, pois as populações naturais são altamente heterogêneas (MOTTA et al., 2002). Os19
cultivos comerciais visam potencializar a produção, mas para isso é necessário que a palmeira macaúba20
passe por processo de domesticação. Uma fase de grande importância na domesticação envolve o pré-21
melhoramento que incluem as atividades de implantação de um banco de germoplasma (BAG) e22
caracterização dos acessos de forma a quantificar a variabilidade genética existente na espécie.23
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IMPORTÂNCIA DO BANCO DE GERMOPLASMA25
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O melhoramento genético depende diretamente da variabilidade genética do germoplasma27
disponível aos melhoristas (RUBENSTEIN et al., 2005). Pesquisas envolvendo prospecção,28
conservação, caracterização e uso do germoplasma são fundamentais para subsidiar a incorporação de29
novos materiais com características agronômicas de interesse.30
Banco ativo de germoplasma (BAG) representa uma coleção de acessos que é rotineiramente31
usada para fins de pesquisa, conservação, caracterização, avaliação e uso, cujos objetivos são reduzir a32
1
Universidade Federal de Viçosa - Departamento de Fitotecnia; e-mails: gustavodasilveira.faem@gmail.com;
sergiomotoike@gmail.com; fassouza@yahoo.com.br; f.assis@ufv.br; emi_henri@yahoo.com.br
2. erosão genética, conservar fontes de genes para uso futuro e identificar e caracterizar genótipos para33
utilização em sistemas agrícolas (BARBIERI, 2003). A base para a conservação das espécies é a34
manutenção de variabilidade genética nas populações e isto é possível através de um BAG que35
comporte grande percentual da variabilidade existente em dada espécie (YEH et al., 1996).36
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BANCO DE GERMOPLASMA DA MACAÚBA: BAG - MACAÚBA38
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A Universidade Federal de Viçosa é uma das primeiras instituições credenciadas como fiel40
depositária de amostras de macaúba junto ao MMA (nº 084/2013 SECEX / CGEN) na forma de41
coleção ex situ. O BAG- Macaúba foi implantado em fevereiro de 2009 na Estação Experimental da42
UFV em Araponga – MG. Possuí hoje mais de 1.500 plantas de seis estados brasileiros (Minas Gerais,43
São Paulo, Pernambuco, Pará, Maranhão e Mato Grosso do Sul) com mais de 300 procedências (Tabela44
1).45
A maior parte dos acessos de macaúba do BAG – Macaúba da Universidade Federal de Viçosa46
(UFV) foram coletados em diversas regiões de Minas Gerais (MANFIO et al., 2010). Neste trabalho,47
adotou-se o critério de amostrar populações distintas, separadas por, no mínimo, 20 km, para obter a48
maior diversidade possível, sendo amostradas todas as regiões do estado com ocorrência natural de49
macaúba. O BAG – Macaúba da UFV foi enriquecido também com acessos provenientes de outros50
estados, garantindo assim, maior variabilidade genética.51
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Tabela 1 – Acessos de macaúba provenientes de diferentes regiões do Brasil e número de plantas53
originárias desses acessos.54
Regiões Acessos Número de plantas
Norte do Brasil 18 72
Nordeste do Brasil 3 20
Centro Oeste do Brasil - Mato Grosso do Sul 34 100
Sudeste do Brasil - São Paulo 13 52
Oeste de Minas Gerais - Cerrado/Triângulo Mineiro 65 281
Norte de Minas Gerais - Semiárido Mineiro 29 158
Centro de Minas Gerais - Ecótono Cerrado/ Floresta Atlântica 104 505
Leste de Minas Gerais - Zona da Mata Mineira 9 53
Sul de Minas Gerais - Floresta Atlântica Mineira 27 265
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O banco está dividido em cinco glebas, conforme o período de plantio. As glebas I e II cujos56
acessos foram plantados em 2009 já se encontram em fase reprodutiva, as glebas III e IV plantadas em57
2
3. 2011 e, a gleba V plantada em 2012, encontram-se em período juvenil de desenvolvimento. Todas as58
glebas vêm recebendo os tratos culturais recomendados para a cultura da macaúba (MOTOIKE et al.,59
2013). Na gleba I foram realizadas as análises de caracterizações morfológicas dos acessos na fase60
juvenil. O próximo passo é realizar as caracterizações morfológicas da fase reprodutiva de forma a se61
estabelecer os descritores morfoagronômicos da espécie desde a fase juvenil até a fase adulta. Além62
disto, análises através de marcadores moleculares também têm sido realizadas de forma a auxiliar na63
quantificação da diversidade genética entre os acessos de macaúba.64
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CARACTERIZAÇÃO DA VARIABILIDADE GENÉTICA DO BAG – MACAÚBA66
Diante da importância de se conhecer a variabilidade genética da espécie, muitos caracteres67
devem ser avaliados, no entanto, grande parte desses caracteres devem ser aqueles componentes do68
caráter objetivo do melhoramento. Para a palmeira macaúba, o caráter principal é a produção de óleo69
por planta, neste sentido, a mensuração do número de cachos, número de frutos por cacho e peso dos70
frutos é de extrema importância. Caracteres relacionados com o porte da planta podem também ser71
interessantes, por visarem à obtenção de plantas com porte baixo, o que pode facilitar a colheita e72
permitir plantio mais adensado. Outros caracteres importantes são a qualidade do óleo, a resistência às73
pragas e doenças, a precocidade de produção e a ausência de espinhos. Todos esses caracteres devem74
ser incluídos como critérios de seleção (MANFIO et al., 2011).75
Com isso, a Rede Macaúba de Pesquisa (REMAPE) tem despendido muitos esforços na76
caracterização morfológica dos acessos do BAG – Macaúba. Como as plantas da gleba I já se77
encontram em estágio mais avançado de desenvolvimento, avaliações para caracteres morfológicos,78
moleculares e algumas pré-avaliações (avaliações visuais) para o caráter produtivo têm sido realizadas.79
Os resultados obtidos têm sido bastante satisfatórios quanto à presença de variabilidade genética entre80
os acessos do BAG, o que pode ser visualizado na Figura 1.81
82
CONCLUSÃO83
Como a função primordial de um Banco de Germoplasma é aumentar a variabilidade dos84
recursos genéticos de forma a suprir os programas de melhoramento com o germoplasma necessário85
para o desenvolvimento de variedades. Além disso, conservar o material genético a médio e longo86
prazo para usos futuros, o BAG – Macaúba da UFV vem para consolidar o processo de domesticação e87
acelerar o desenvolvimento de variedades para cultivos comerciais da palmeira macaúba.88
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4. A B C
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91
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93
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Figura 1 – Variabilidade genética para arquitetura da planta (A), altura da inserção do cacho (B) e96
tamanho dos frutos (C) entre acessos do BAG – Macaúba.97
98
Agradecimentos: Aos Doutores Candia Elisa Manfio, Aurora Satiko Sato e Carlos Nick pela99
participação na elaboração e implantação iniciais do BAG – Macaúba. À Petrobras e Fapemig pelo100
apoio e recursos disponibilizados.101
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REFERÊNCIAS103
BARBIERI, R.L. Conservação e uso de recursos genéticos vegetais. In: FREITAS, L.B.; BERED, F.104
Genética e evolução vegetal. Porto Alegre: UFRGS, 2003. p. 403-414.105
MANFIO, C.E. Análise genética no melhoramento de macaúba. 2010. 52f. Tese (Doutorado em106
Genética e Melhoramento de Plantas) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.107
MANFIO, C.E.; RESENDE, M.D.V.; SANTOS, C.E.M.; MOTOIKE, S.Y.; PAES, J.M.V.108
Melhoramento Genético da Macaúba, Informe Agropecuário, Belo Horizonte, 32:265:32-40, 2011.109
MOTTA, P.E.; CURI, N.; OLIVEIRA-FILHO, A.T.; GOMES, J.B.V. Ocorrência de macaúba em110
Minas Gerais: relação com atributos climáticos, pedológicos e vegetacionais. Pesquisa Agropecuária111
Brasileira, 31:1023-1031, 2002.112
RUBENSTEIN, K.D. Crop genetic resources: an economic appraisal. Washington: USDA, 2005. 41 p.113
TEIXEIRA, L.C. Potencialidades de oleaginosas para a produção de biodiesel. Informe Agropecuário114
26:18-27, 2005.115
YEH, F.C.; YANG, R.C.; BOYLE, T.B.J.; YE, Z.H. POPGENE, the User-Friendly Shareware for116
Population Genetic Analysis Molecular Biology and Biotechnology Centre. University of Albert,117
Edmonton, 1997.118
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