Eficiência do uso da luz em acessos de macaúba de diferentes origens, submetidos à restrição hídrica thiago pires
1. EFICIÊNCIA DO USO DA LUZ EM ACESSOS DE MACAÚBA DE DIFERENTES ORIGENS, SUBMETIDOS À RESTRIÇÃO HÍDRICA
THIAGO PEREIRA PIRES; SÉRGIO YOSHIMITSU MOTOIKE; KACILDA NAOMI KUKI; ELMA DOS SANTOS SOUZA; FRANCISCO DE ASSIS LOPES.
INTRODUÇÃO
Macaúba (Acrocomia aculeata) é uma palmeira de porte arbóreo com ampla distribuição geográfica, ocorrendo em todo o Trópico Americano, do México a Argentina, exceto Equador e Peru (Lorenzi, 2006; Motta 2002). No Brasil é considerada a palmeira de maior dispersão, com ocorrência de povoamentos naturais, principalmente no cerrado e regiões de floresta atlântica (Lorenzi, 2006; Bondar, 1964; Henderson, 1995). Possui apelo econômico em função do grande potencial para produção de óleo e utilização em programas de bio-combustíveis, indústria cosmética e alimentícia em geral (Motoike e Kuki, 2009; Silva, 1994). Para o programa de domesticação da macaúba, visando a otimização da produtividade, faz-se necessária uma investigação acerca de seus diversos atributos e dentre eles suas características ecofisiológicas.
A produtividade primaria está intimamente relacionada aos parâmetros de trocas gasosas nos vegetais. Sabendo que o grau de eficiência da assimilação de carbono fotossintético e a produção de biomassa vegetal são influenciados pela disponibilidade de água e luz, é primordial se investigar como as interações entre estas variáveis podem afetar a capacidade fotossintética da macaúba. Este estudo teve como objetivo caracterizar as variações da fotossíntese liquida em função da eficiência no uso da radiação PAR em mudas de macaúba provenientes de diferentes origens, submetidas a restrição hídrica.
MATERIAL E MÉTODOS
Material Vegetal: Sementes de macaúba coletadas no estado de Minas Gerais foram germinadas de acordo com metodologia proposta por Motoike et al., (2007), no Laboratório de Melhoramento de Palmáceas da Universidade Federal de Viçosa. Após a obtenção das sementes pré- germinadas, foi realizado o preparo das mudas, no viveiro do Departamento de Fitotecnia, setor de Fruticultura da UFV e o plantio em vasos de 15 litros em casa de vegetação. Quando as mudas atingiram 6 meses de plantio foram submetidas aos tratamentos, cada qual com 4 repetições. As plantas obtidas são representativas de duas regiões morfoclimáticas contrastantes, do estado de Minas Gerais, O déficit hídrico foi induzido por suspensão da irrigação até que a taxa fotossintética liquida atingisse valores próximos a zero e as plantas controle foram mantidas em vasos na capacidade de campo, com irrigação periódica. As regiões foram classificadas quanto a sua formação fitofisionômica/morfoclimática e quanto ao bioma a que pertencem, segundo as definições de Coutinho (2006) (Tabela 01).
Avaliação das Trocas Gasosas: A taxa de assimilação líquida de carbono (A - μmol CO2 m-2s-1), foi obtida por sistema de medição de trocas gasosas, IRGA LCPro (ADC Bioscientific LTD, Hertfordshire, UK), equipado com câmara foliar de 5,8 cm2. As avaliações foram realizadas sob concentração de CO2, temperatura e vapor de água ambiental momentâneos no local da coleta. O ar de referência foi coletado a 1,50 m de altura do solo e homogeneizado em um galão de 20 litros antes de alcançar a câmara foliar. Para as medições dos parâmetros foi utilizada a porção central dos folíolos inseridos na seção mediana da raque. As avaliações de trocas gasosas foram realizadas durante três dias consecutivos, sendo utilizadas a 2ª folha completamente expandida após a flecha. A avaliação da variação fotossintética em função da intensidade da radiação RFA (Curva de Luz), foi registrada a partir da sequência de dez níveis de radiação (0, 50, 100, 200, 500, 800, 1100, 1400, 1400, 1700 e
Universidade Federal de Viçosa, Fruticultura, CEP 36570-000 Viçosa, MG.
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2. 2000 μmol photon m-2 s-1) em ordem decrescente com, 2 minutos de intervalo entre os registros da fotossíntese para cada nível RFA.
Tabela 1 – Classificação fitogeográfica das amostras das populações segundo as definições ecológicas e fitogeográficas de Coutinho (2006) e Walter (1986).
Estado
Identificação
do Acesso
Região Geográfica
de Origem
Região Morfoclimática
de Origem
Bioma
Minas Gerais
280
Centro
Floresta Semi-decídua
Floresta Atlântica
Luz
Oeste
Cerradão
Cerrado
Avaliação do Potencial Hídrico da Folha: Para o acompanhamento da disponibilidade hídrica no solo, foram realizadas medidas de potencial hídrico da folha antemanhã (Ψpd) utilizando-se uma câmara de pressão de Scholander (Scholander et al., 1965), modelo 3035 (Soil Moisture Equipment Corp., USA) antes do nascer do sol, nos mesmos folíolos onde se procedeu o registro da fotossíntese nos diferentes níveis de luminosidade. Para isso, coletou-se um folíolo por indivíduo, onde se procederam imediatamente à coleta, as medidas de potencial hídrico. Esses dados foram agrupados em função de classes de Ψpd para simular as restrições de água no solo.
Modelagem Estatística: Foi ajustada equação de regressão hiperbólica quadrática (Prioul e Chartier 1977) para as curvas de luz obtidas entre tratamento e entre acessos. Os dados de potencial hídrico obtidos foram submetidos à análise de variância, comparados pelo teste de F, utilizando o programa computacional SISVAR (Ferreira, 2011).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo Chaves et al. (2004), o Ψpd mantém uma relação de equilíbrio com o potencial hídrico do substrato, em razão das baixas taxas de transpiração apresentadas pelas plantas durante a noite, comprovando a restrição hídrica imposta. Não houve diferença estatística no potencial hídrico da folha, entre os tratamentos controle para os dois acessos. Entretanto o acesso proveniente de Luz demonstrou um potencial hídrico muito inferior ao acesso 280.
Figura 1 – Potencial hídrico (Mpa) em folhas de mudas de macaúba de dois acessos, sob status hídrico normal e restrição hídrica. Barras correspondem ao desvio padrão.
3. Com o aumento da RFA observou-se nos tratamentos controle de ambos os acessos, aumento proporcional na taxa fotossintética até um limite máximo de cerca de 17 μmol CO2 m-2s-1. A fotossíntese alcançou a saturação acerca de 300 μmol fotons m-2s-1 , e a partir deste ponto A não variou em função da RFA , considerando esta limitação consequência da incapacidade bioquímica em acompanhar o incremento luminoso, mesmo havendo disponibilidade ambiental de CO2 e água. Ainda para o tratamento controle não houve efeito fotoinibitório aparente, demonstrando grande capacidade do limbo foliar em assimilar alta incidência luminosa, uma vez que o equipamento alcançou 2000 μmol m-2 s-1 de radiação (Figura 2). Para o controle, as plantas do acesso 280 e Luz ajustaram as equações de regressão hiperbólica quadrática, com os respectivos R2 = 0,9901 e R2 = 0,9761.
Figura 2 – Curva de Fotossíntese em função do aumento do RFA (unidade) em mudas de macaúba de dois acessos, sob status hídrico normal e restrição hídrica.
No tratamento sob restrição hídrica, percebe-se uma diferença de comportamento da fotossíntese em função do incremento luminoso entre os dois acessos. As plantas do acesso Luz ajustaram a equações de regressão hiperbólica quadrática com o R2 = 0,8397 e alcançaram uma taxa fotossintética de 14 μmol m-2 s-1 maior ao PAR de 2000 μmol photon m-2 s-1 e maior variação da fotossíntese dentro dos níveis de luminosidade utilizados. As plantas do acesso 280 ajustaram a equaçõe de regressão hiperbólica quadrática com o R2 = 0,8702 e apresentaram sempre menor taxa fotossintética dentro dos níveis de luminosidade aplicados.
Considerando que o acesso Luz tem como origem o bioma cerrado, do ponto de vista ecofisiológico esta região morfoclimática possui fitofisionomia semelhante à savânica, com restrição hídrica, devido a marcada sazonalidade pluviométrica e térmica, além do elevado teor de alumínio no solo e baixa saturação por bases. Da mesma forma, o acesso 280 tem como origem o bioma floresta atlântica, que ponto de vista ecofisiológico é uma região morfoclimática com maior índice pluviométrico, disponibilidade hídrica e temperaturas amenas, consequência das particularidades geológicas e altimétricas do bioma.
Evolutivamente, estas duas populações foram expostas a fatores ambientais relacionados à sua fitofisionomia de origem e do ponto de vista genético, os acessos estariam conservando estratégias fotossintéticas relacionadas às pressões de seleção impostas por seus respectivos ambiente de origem. Flood (2011) discute que mesmo a fotossíntese sendo um processo extremamente conservado e plástico, cada ambiente exige deste processo habilidades específicas, que quando herdadas, podem aumentar o valor adaptativo das próximas gerações, fato que pode estar relacionado a diferença de comportamento entre os acessos estudados.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a FAPEMIG, UFV, PETROBRÁS e CNPq pela bolsa, infraestrutura e recursos financeiros disponibilizados para elaboração deste trabalho.
4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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