Este documento propõe um modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba na América Latina, considerando os aspectos socioambientais e econômicos. Atualmente, a produção de óleo de macaúba é predominantemente extrativista e insustentável a longo prazo. O modelo sugere estratégias para integrar a conservação da biodiversidade e o bem-estar social com o crescimento econômico nesta cadeia produtiva, de modo a torná-la ambientalmente resiliente.
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
Modelo conceitual sustentável da macaúba na AL
1. MODELO CONCEITUAL PARA O EXTRATIVISMO SUSTENTÁVEL 1 DA MACAÚBA, NA AMÉRICA LATINA. 2
MARCELO MENCARINI LIMA¹; EUGENIO AVILA PEDROZO²; JOSÉ CARLOS 3 FIALHO DE REZENDE³ 4
5
INTRODUÇÃO 6
A produção sustentável de macaúba (Acrocomia Aculeata), pode se tornar 7 alternativa mais sustentável do que atualmente se explora de modo extrativista, 8 predominantes nas regiões tropicais da América Latina (AL). Propõe-se com este artigo 9 estratégias sócio-ambientalmente amigáveis na adoção da visão da organização 10 industrial. Deve ser ligada às necessidades da gestão das cadeias produtivas 11 agroindustriais (CPAs) focada em aspectos distributivos do produto industrial, para 12 ajustar às novas demandas da sociedade por resiliência e biodiversidade. Atualmente as 13 CPAs do produto final óleo de macaúba, no Brasil e Paraguai predominam, nas 14 agroindústrias (AGI), com as respectivas commodities, a seguir descritas: Ynca e 15 cavallaro (sabão), Bisa, Royale, CooperRiachão e Indhor (óleo de polpa e amêndoa), 16 Paradigma (insumo para filtros e óleo da polpa com baixa acidez). Essas AGI foram 17 objeto das entrevistas desta pesquisa todas estas firmas trabalham com produto do 18 agroextrativismo, com fins estritamente econômicos. Conforme Lima (2011) o Paraguai 19 chegou a processar, em 2009, 100 mil toneladas de mBocaya (Acrocomia Totai), mas a 20 pressão sobre os maciços florestais, especialmente devido à expansão urbana diminuiu 21 em aproximadamente 30% a capacidade produtiva. O modelo aqui proposto dedica o 22 olhar do conjunto e preenche as lacunas conceituas relativas à sustentabilidade para a 23 macaúba. Baseia-se em Lima (2011) e foca nas alterações de qualidade do meio 24 ambiente, compreendida como alterações na qualidade de vida. Visa à diferenciação da 25 produção e considera elementos das dimensões do desenvolvimento sustentável (DS) na 26 busca de sustentabilidade, com impactos positivos na redução de emissão de poluentes, 27 a diminuição da degradação do material genético e sua perpetuação. 28
MATERIAL E MÉTODOS 29
A presente proposição parte do pressuposto de que a longo prazo o cresci- 30 ¹Embrapa marcelo.mencarini@embrapa.br.
² UFRGS; eapedrozo@ufrgs.br.
³ EPAMIG. jrezende@epamig.br
2. mento econômico baseado na macaúba nos moldes de baixa distribuição dos benefícios 31 das CPAs é insustentável, devido ao aumento de danos ambientais provocados sobre as 32 culturas da sociobiodiversidade. Diante do atual quadro de restrições ambientais, o 33 objetivo desta pesquisa foi propor um modelo para o extrativismo sustentável da 34 macaúba para a AL, capaz de analisar a evolução dos produtos a partir de macaúba, e 35 orienta-la para propor os próximos passos de decisão, que a diferencie como cultura 36 perene endógena dotada de sistemas de produção sustentáveis. Os parâmetros utilizados 37 foram os de Lima (2011), cujo modelo integra soluções aplicadas na CPA sustentável 38 da macaúba na AL. O foco geográfico foi nos países Brasil e Paraguai e o período de 39 coleta de dados primários e secundários foi de 2006 a 2013. Os tópicos abordados junto 40 aos entrevistados, pertencentes aos ambientes interno e externo às CPAs da macaúba na 41 AL encontram-se no quadro 1. 42
43
A) Desenvolvimento Sustentável
B) Diretrizes no nível das CPA
C) micro- macro sugestões de orientação integrativa para sistemas de produção em suas fases SP 0 e 1
a) Dimensão
a’) Elemento
a1) Econômica
a’1) Crescimento;
a’2) Eficiência;
a’3) Estabilidade.
(ESTRATÉGIA)
B1. Estratégico e econômicas
C1) ampliação da utilidade de produtos derivados
C2) aumento qualidade e diminuição dos desperdícios;
C3) adequação simultânea da regras.
a2) Ambiental
a’4) Resiliência/Biodiversidade
a’5) Recursos naturais;
a’6) Impactos.
(TECNOLOGIA)
B2) Descrever a sucessão de operações de transformação
C4) Custo de recuperação das RL/beneficio para meio ambiente;
C5) Conservação on farm;
C6) Equidade inter geracional evitando poluição e mudanças climáticas .
A3) Social
a’7) Empoderamento;
a’8) Inclusão.
(RELAÇÕES)
B3) Relações comerciais e financeiras que se estabelecem entre todos os estados de transformação
C7) Equidade intra com incentivo local;
C8) Suprimento de necessidades básicas
Quadro 1: Tópicos abordados junto aos entrevistados, nos ambientes interno e externo 44
45
De acordo com o quadro 1, Lima (2011) fez a combinação de dimensões e 46 elementos do DS e diretrizes da CPA, com sugestões de orientação integrativa para 47 sistemas de produção em suas fases SP 0 e 1. Para definir melhor o material de pesquisa 48 e montar o conceito SP0, o sistema de produção agroextrativista original no tempo zero 49 da análise, Sem Plano de Manejo, cabe aqui sistematiza-lo, em seus aspectos 50 filotécnicos e agroindustriais: 51
3. O SP0 iniciou-se por processo co-evolucionário, por se mostrar resiliente, 52 devido às suas características naturais de tolerância à seca e ao fogo, bem como 53 pelas necessidades sociais dos habitantes de 2000 anos, com a sequência de 54 operações em nível de agricultura, particularmente no segmento familiar, a 55 espécie pioneira, comum em áreas que sofreram intervenção antrópica recente, 56 principalmente as de vegetação herbácea (pastagens), e de ocorrência menos 57 comuns de mata nativa fechada. Habita áreas de vegetação aberta e com alta 58 incidência solar, desenvolve-se bem em solo fértil, mas adapta-se a solos 59 arenosos e com baixo índice hídrico, nas condições edafo-climáticas brasileira. 60 A expansão vegetativa da palmeira é rápida, chegando a crescer um metro por 61 ano até atingir seu desenvolvimento completo, em geral aos seis anos. 62 Geralmente mantém 20 a 30 folhas vivas, cada uma com 3 a 5 m de 63 comprimento, projetando copa com 3 a 4 m de diâmetro. A palmeira inicia a 64 produção quando a estipe está bem caracterizada e projetada da superfície do 65 solo, época em que ocorre a queda das primeiras folhas e acontece normalmente, 66 no sexto ou sétimo ano de vida. Na fase inicial da planta, o número de cachos e 67 de frutos é significativamente inferior quando comparado aos das plantas mais 68 velhas, em plena maturidade. A produção nos primeiros anos, como 69 consequência, é pequena e a produtividade cacho/fruto/planta é muito baixa. A 70 frutificação ocorre durante todo o ano e o amadurecimento dos frutos varia 71 conforme a região. Apresenta aparente bianualidade de produção. A produção 72 prolonga-se pelo período de vida e de produção cuja longevidade descrita em 73 sua ecologia mais de 30 anos de vida útil. É recorrente o depoimento de 74 extrativistas entrevistados de colheita em prazo superior a 100 anos e pode 75 chegar a 150 anos (NOVAES, 1952; HENDERSON et al., 1995, SCARIOT et 76 al., 1995, DA MOTTA et al., 2002, JUNQUEIRA, e BRAGA, 2005, LORENZI, 77 2006, FARIAS, 2008, RUBIO NETO, 2010, LIMA, 2011). 78
79
RESULTADOS E DISCUSSÃO 80
Os dados primários e secundários indicaram nos dois países explora-se de forma 81 emergente esta cultura agroindustrial. O contexto em ambos os países é de mudança na 82 paisagem original que se deu por intensas perturbações antrópicas aos processos 83 ecológicos em níveis que chegaram a mais de 70% de eliminação da biodiversidade 84
4. original, na qual se inclui a macaúba, tanto nos cerrados brasileiros, quanto nos Chacos 85 próximos a Asunción, onde se encontravam os maiores maciços florestais de 86 extrativismo. Consequentemente é cada vez maior a dependência de insumos externos. 87
A reflexão sobre as necessidades de alterações econômico-ambientais nos SP 88 remanescente foi realizada tomando como referencia a necessidade de alterações 89 tecnológicas com ênfase na resiliência dos sistemas. As bases da reflexão do ponto de 90 vista da teoria da resiliência, como uma propriedade dos sistemas de retornarem rápido 91 para o equilíbrio estável, quanto mais o ambiente consegue absorver um impacto 92 positivo ou negativo sem se alterar significativamente ou recompor-se rapidamente, 93 mais resiliente é esse ambiente. Considerando-se o elemento da dimensão ambiental 94 Biodiversidade para o Sistemas de produção SEM plano de manejo, entende-se que 95 apenas promove a manutenção da biodiversidade local pelo processo de conservação 96 dentro da propriedade rural (on farm) e dificulta a propagação da espécie, nas condições 97 naturais do ecossistema. Em Lima (2011) e Lima, Pedroso e Rezende (2011) encontra-98 se disponível a analise detalhada do sistema de produção do agroextrativismo, 99 especialmente com a reflexão sobre as necessidades de alterações econômico-100 ambientais. 101
CONCLUSÕES 102
A presente proposta pode integrar-se mediante o uso sustentável da 103 biodiversidade, com macaúba, planta produtora de óleo, da qual encontra-se de forma 104 incipiente na destinação para biocombustíveis. Mantem-se para usos como cosméticos e 105 na alimentação animal. Seu potencial poderá se revelar como cultura agrícola de ciclo 106 completo, pois contribui para o combate ao problema das mudanças climáticas, para a 107 questão do uso da terra em reservas legais e para diminuição da pobreza. 108
109
LIMA, Marcelo Mencarini. Subsidios para o relatório do projeto 577008/2008-0, CNPq 110 edital 24/2008, Emergência de arranjos produtivos de oleaginosas perenes, no 111 cerrado brasileiro: o caso da cadeia produtiva do biodiesel da macaúba no município 112 de Montes Claros MG./ Marcelo Mencarini Lima (responsável pela elaboração do 113 relatório), Eugenio Avila Pedrozo (orientador), José Carlos Fialho de Rezende 114 (coordenador) – Porto Alegre, 2011. 330 p: il. 115