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ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL

   1. INTRODUÇÃO

Bronislaw Malinowski, antropólogo britânico de origem polaca, combateu a abordagem
evolucionista em antropologia e as interpretações assentes em reconstituições históricas
sem fiabilidade, defendendo em vez disso um estudo baseado em estadas prolongadas
no terreno no seio das populações a estudar. À importância conferida ao “trabalho de
campo” em antropologia – que levou a cabo principalmente na Melanésia – acrescentou
uma teorização das culturas, em que estas eram vistas como assentando, em última
instância, na satisfação das necessidades biológicas dos indivíduos. Cada cultura
constitui, na sua teoria, uma totalidade, em que cada costume, objecto material, ideia ou
crença satisfaz uma função vital para a mesma, cabendo ao antropólogo estudar as
relações entre o todo e a parte – tal é o postulado básico do funcionalismo de
Malinowski. Assim, o conceito de função aparece como o instrumento que permite
reconstruir, a partir dos dados aparentemente caóticos que se oferecem à observação de
um pesquisador de outra cultura, os sistemas que ordenam e dão sentido aos costumes
nos quais se cristaliza o comportamento dos homens.

A grande inovação de Malinowski no trabalho de campo consistiu na prática do que é
chamado hoje em dia observação participante. Ele alterou radicalmente as práticas
seguidas até então, passando a viver permanentemente na aldeia, afastado do convívio
de outros homens brancos e aprendendo a língua nativa. Assim, embora não podendo
dispensar o uso de informantes, substituiu-o em grande parte pela observação directa,
que só é possível através da convivência diária, da participação nas conversas e
acontecimentos da vida da aldeia. O fundamento desta técnica passa por um processo de
“aculturação” do observador que consiste na assimilação das categorias inconscientes
que ordenam o universo cultural investigado. Desta forma, a totalidade e a integração da
cultura transformam-se numa realidade que é intuitivamente atingida pelo investigador
através da sua vivência da situação de pesquisa.

Por outro lado, este trabalho de Malinowski difere bastante das monografias
tradicionais. Não é nem uma descrição de toda a cultura trobriandesa, nem uma análise
especializada de um dos aspectos nos quais geralmente os antropólogos decompõem a
cultura: economia, parentesco e organização social, religião, ritual e mitologia, cultura
material. Na realidade, é uma análise de todos esses aspectos vistos da perspectiva de
uma única instituição, o Kula. Esta instituição aparece pois como uma projecção parcial
da totalidade da cultura e não como um dos seus aspectos ou partes. A descrição


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ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL

desenvolve-se sempre no sentido de mostrar, simultaneamente, como a instituição em
apreço permeia toda a cultura e, inversamente, como toda a cultura está presente na
instituição. Podemos assim depreender que a cultura, para Malinowski, não é um todo
indiferenciado, mas uma totalidade integrada que apresenta núcleos de ordenação e
correlação – as instituições. A instituição é uma unidade multidimensional que
compreende: uma constituição ou código, um grupo humano organizado e um
equipamento material manipulado pelo grupo na realização das suas actividades.

Esta pesquisa etnográfica desenvolveu-se num período de seis anos (1914-1920).
Malinowski fez três expedições diferentes à região onde desenvolveu os seus trabalhos
e, nos intervalos entre elas, analisou o material obtido e estudou a literatura etnográfica
especializada de que dispunha na época.

   2. A METODOLOGIA

Como o próprio autor diz “um trabalho etnográfico só terá valor científico irrefutável se
nos permitir distinguir claramente, de um lado, os resultados da observação directa e das
declarações e interpretações nativas e, do outro, as inferências do autor, baseadas em
seu próprio bom-senso e intuição psicológica” (Malinowski, 1977: 18). As fontes de
informação do etnógrafo não estão incorporadas a documentos materiais fixos, mas sim
ao comportamento e memória de seres humanos que, embora acessíveis se podem
mostrar extremamente enganosas e complexas. Assim, o segredo da pesquisa de campo
eficaz está na aplicação sistemática e paciente de algumas regras de bom-senso e de
princípios científicos conhecidos. Segundo Malinowski, “os princípios metodológicos
podem ser agrupados em três unidades: em primeiro lugar, o pesquisador deve possuir
objectivos genuinamente científicos e conhecer os valores e critérios da etnografia
moderna. Em segundo lugar, deve assegurar boas condições de trabalho, o que significa,
basicamente, viver mesmo entre os nativos, sem depender de outros brancos.
Finalmente, deve aplicar certos métodos especiais de colecta, manipulação e registro da
evidência” (Idem: 20).

De facto, existe uma enorme diferença entre o relacionamento esporádico com os
nativos e estar efectivamente em contacto com eles. O etnógrafo deve procurar que a
sua vida na aldeia assuma um carácter natural em plena harmonia com o ambiente que o
rodeia. Só dessa forma, tudo o que se passa está plenamente ao seu alcance e não pode,
assim, escapar à sua observação. O etnógrafo tem de aprender a comportar-se como os
nativos e desenvolver uma certa percepção para o que eles consideram como “boas” ou

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“más” maneiras. Só assim pode entrar realmente em contacto com os nativos o que
constitui, sem dúvida, um dos requisitos preliminares essenciais à realização e ao bom
êxito da pesquisa de campo.

Mas, isso só por si não é suficiente. São ainda necessários métodos mais eficazes na
procura de factos etnográficos. O etnógrafo deve inspirar-se nos resultados mais
recentes do estudo científico, em seus princípios e objectivos, deve conhecer bem a
teoria científica e estar a par das suas últimas descobertas. Mas isso não significa estar
sobrecarregado de ideias preconcebidas. Deve ser capaz de mudar os seus pontos de
vista, abandonando-os sem hesitar ante a pressão da evidência. “As ideias
preconcebidas são perniciosas a qualquer estudo científico; a capacidade de levantar
problemas, no entanto, constitui uma das maiores virtudes do cientista – esses
problemas são revelados ao observador através de seus estudos teóricos” (Ibidem: 22).

Por outro lado, o objectivo fundamental da pesquisa etnográfica de campo é definir o
contorno da constituição tribal e delinear as leis e os padrões de todos os fenómenos
culturais, isolando-os de factos irrelevantes. O etnógrafo deve, assim, “perscrutar a
cultura nativa na totalidade de seus aspectos. A lei, a ordem e a coerência que
prevalecem em cada um desses aspectos são as mesmas que os unem e fazem deles um
todo coerente” (Ibidem: 24).

O etnógrafo tem então o dever e a responsabilidade de estabelecer todas as leis e
regularidades que regem a vida tribal, de apresentar a anatomia da cultura e descrever a
constituição social. O grande problema com que se debate é que, contrariamente ao que
acontece nas sociedades civilizadas em que cada uma das suas instituições possui, em
seu meio, historiadores, arquivos e documentos, no caso da sociedade nativa, nada disso
existe. A resposta de Malinowski a este problema é o que ele chama de método de
documentação estatística por evidência concreta, ou seja,”cada fenómeno deve ser
estudado a partir do maior número possível de suas manifestações concretas; cada um
deve ser estudado através de um levantamento exaustivo de exemplos detalhados.
Quando possível, os resultados obtidos através dessa análise devem ser dispostos na
forma de um quadro sinóptico, o qual então será utilizado como instrumento de estudos
e apresentado como documento etnológico. Por meio de documentos como esse e
através do estudo de factos concretos, é possível apresentar um esboço claro e
minucioso da estrutura da cultura nativa, em seu sentido mais lato, e da sua constituição
social” (Ibidem: 27).


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Isto deve ser complementado ainda com o que o autor chama de factos imponderáveis
da vida real e do comportamento típico, que devem ser recolhidos através de
observações detalhadas e minuciosas que só são possíveis através do contacto íntimo
com a vida nativa e que devem ser registradas nalgum tipo de diário etnográfico. Por
último, o corpus inscriptionum – uma colecção de asserções, narrativas típicas, palavras
características, elementos folclóricos e fórmulas mágicas – deve também ser
apresentado como documento da mentalidade nativa. Só assim será possível atingir o
objectivo final da pesquisa, “o de apreender o ponto de vista dos nativos, seu
relacionamento com a vida, sua visão de seu mundo” (Ibidem: 33-34).

   3. DESCRIÇÃO DO CENÁRIO E DOS ACTORES

Ao longo de toda esta monografia encontramos estas regras gerais que Malinowski
definiu e aplicou no seu trabalho. Tendo como finalidade a análise do Kula, ele acaba
por nos fazer uma descrição da cultura trobriandesa, analisando os seus vários aspectos:
organização social, religião, rituais e mitologia, etc.

Malinowski começa por nos fazer uma descrição dos nativos das ilhas Trobriand.
Descreve-nos as relações de “poder” e a posição social das mulheres. Realça os hábitos
sexuais dos nativos, que se iniciam numa idade bastante precoce e sem
constrangimentos de qualquer ordem, pelo menos numa primeira fase. Gradualmente,
porém, vão-se envolvendo em casos mais sérios e duradouros, um dos quais termina em
casamento, o qual não está associado a nenhum acto cerimonial. O casamento tem
implicações “económicas”, pois a família da esposa tem por obrigação contribuir
substancialmente para a economia do novo lar e prestar vários serviços ao marido.
Sociologicamente a aldeia é uma unidade importante nas ilhas Trobriand. Os chefes
exercem autoridade primariamente sobre a sua própria aldeia, e apenas secundariamente
sobre o distrito. A comunidade da aldeia explora colectivamente suas próprias terras de
cultivo, realiza cerimónias, faz a guerra, empreende expedições comerciais e navega na
mesma canoa ou na mesma frota como um grupo.

Ao debruçar-se sobre a organização do trabalho agrícola, Malinowski acaba por destruir
a noção do “Homem Económico Primitivo”. O nativo de Trobriand trabalha movido por
razões de natureza social e tradicional altamente complexas. Os seus objectivos não se
restringem ao simples atendimento de necessidades imediatas nem a propósitos
utilitaristas. Ele é guiado por um complexo sistema de deveres e obrigações, de forças
tradicionais, de crenças mágicas, ambições sociais e vaidade.

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Malinowski faz também uma descrição mais ou menos detalhada sobre a chefia e
divisões políticas a fim de que seja possível entender bem as principais instituições
políticas nativas, que são, por sua vez, essenciais ao entendimento do Kula. Todos os
aspectos da vida nativa, a religião, a magia, a economia estão inter-relacionadas. Mas é
a organização social que as fundamenta a todas.

No que diz respeito ao parentesco, é uma sociedade matrilinear. Tanto a sucessão na
hierarquia como a participação nos grupos sociais e a herança dos bens materiais são
transmitidos em linha materna. O tio materno de um menino é considerado seu
verdadeiro guardião. Por outro lado, embora a paternidade fisiológica seja desconhecida
pois não se supõe existir nenhum tipo de parentesco entre pai e filho, a não ser aquele
entre o marido da mãe e o filho da esposa, apesar disso, o pai é o amigo mais próximo e
afectuoso de seus filhos.

O autor enfatiza ainda o papel importante das crenças mágico-religiosas dos nativos de
Trobriand. Todas as coisas que vitalmente afectam o nativo estão de um modo ou de
outro associadas à magia. Por um lado os nativos canalizam todos os seus temores e
apreensões à magia negra, às bruxas voadoras, aos seres malévolos causadores de
doenças mas, acima de tudo, aos feiticeiros e bruxas. Por outro lado, a magia, tentativa
de controlo directo sobre as forças da natureza através de conhecimentos especiais, é um
factor fundamental nas suas vidas.

   4. O KULA

O Kula é uma forma de troca com um carácter inter-tribal bastante amplo. É praticado
por comunidades localizadas num círculo de ilhas que formam um circuito fechado.
Dois tipos de artigos, e só esses dois, viajam constantemente em direcções opostas
sendo que, no sentido horário se movimentam os soulava, longos colares feitos de
conchas vermelhas, enquanto no sentido oposto se movem os mwali, braceletes feitos de
conchas brancas. Estes artigos viajam sempre no seu próprio sentido, cruzando-se com
os artigos da classe oposta e sendo constantemente trocados por eles. Cada um dos
participantes do Kula recebe periodicamente um ou vários braceletes, ou colares, que
deve entregar a um dos seus parceiros, do qual recebe em troca o artigo oposto.
Ninguém conserva consigo nenhum artigo por muito tempo. A parceria entre dois
indivíduos do Kula é permanente, para toda a vida. Esses artigos encontram-se sempre
em movimento, nunca ficam retidos com um só dono.



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Embora a troca cerimonial dos dois artigos um pelo outro seja o aspecto fundamental e
central do Kula, associados a ela encontramos numerosas características e actividades
secundárias. O Kula é, portanto, uma instituição enorme e extraordinariamente
complexa, não apenas na sua extensão geográfica como também na multiplicidade de
seus objectivos. Ele engloba um grande número de tribos e abarca um enorme conjunto
de actividades inter-relacionadas e interdependentes que formam um todo orgânico.

Como diz Malinowski, “ o etnógrafo deve procurar descobrir as leis e regras de todas as
transacções. A ele cabe construir o quadro ou esquema total da grande instituição, da
mesma forma que o cientista formula toda a sua teoria baseado em dados experimentais
que, embora sempre ao alcance de todos, precisam de interpretação coerente e
organizada” (Ibidem: 72).

Assim, o Kula está sustentado pelas leis da tradição e cingido por rituais mágicos. As
transacções nele processadas são cerimoniais e levadas a efeito segundo regras bem
definidas. O Kula realiza-se periodicamente, ao longo de rotas comerciais definidas,
conduzindo a locais fixos de encontro. Baseia-se num status fixo e numa parceria
permanentes, que unem em pares alguns milhares de indivíduos. Constitui, assim, um
tipo de relacionamento inter-tribal feito em grande escala. Por outro lado, o Kula não se
realiza sob a pressão de quaisquer necessidades, visto que o seu principal objectivo é o
de permuta de artigos sem nenhuma utilidade prática.

Muitas actividades preliminares estão intimamente relacionadas ao Kula: a construção
de canoas, a preparação do equipamento, o aprovisionamento da expedição, o
estabelecimento das datas e a organização social do empreendimento, assim como o
comércio secundário, são actividades subsidiárias ao kula e executadas para atender às
suas finalidades. É óbvio que se observarmos essas actividades avaliando apenas a sua
verdadeira utilidade, o comércio e a construção de canoas surgirão como as realizações
verdadeiramente importantes, e seremos levados a considerar o Kula apenas como um
estímulo indirecto que impele os nativos a navegar e a efectuar o comércio. Ao definir o
Kula como a actividade primária e as demais como secundárias Malinowski quer fazer
ver que essa prioridade está implícita nas próprias instituições. “As datas são fixadas, as
actividades preliminares estabelecidas, as expedições organizadas, a organização social
determinada, não em função do comércio, mas sim em função do Kula. A grande festa
cerimonial realizada ao iniciar-se uma expedição, refere-se ao Kula; a cerimónia final
da avaliação e contagem dos espólios refere-se ao Kula e não aos objectos obtidos pelo


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comércio. Finalmente, a magia, que constitui um dos principais elementos de todo esse
processo, refere-se exclusivamente ao Kula, e isto se aplica até mesmo ao conjunto de
mágicas com que se encantam as canoas” (ibidem: 84).

   5. AS CANOAS

Para nos dar a compreender tudo aquilo que a canoa representa para o nativo, para além
de o autor se debruçar sobre as suas finalidades económicas e os diversos usos a que é
submetida, analisa também dados sociológicos suplementares, referentes à sua posse, a
especificação das pessoas que a usam e a descrição de como o fazem, as informações
referentes às cerimónias e costumes de sua construção. Para o nativo, a sua pesada e
desajeitada canoa representa uma conquista admirável e quase miraculosa, que lhe
permite tornar-se senhor da natureza. Como diz o autor:”quando abordamos o assunto
cientificamente devemos, por um lado, abster-nos de distorcer os factos e, por outro,
procurar analisar as nuances mais subtis do pensamento e sentimento nativos quanto às
suas próprias criações” (ibidem: 87).

Malinowski analisa, em primeiro lugar, a impressão geral produzida pela canoa e a sua
importância psicológica, em segundo lugar as características fundamentais da sua
tecnologia e, por último, as implicações sociais da canoa marítima. Dá-nos uma
perspectiva da organização do trabalho na construção de uma canoa, debruçando-se
sobre dois aspectos principais: a diferenciação sociológica das funções e a regulação do
trabalho por meio da magia. Este último aspecto é de realçar pois, para os nativos, tanto
os resultados da capacidade técnica como a eficácia mágica são consideradas
imprescindíveis tendo, cada uma das duas, a sua própria função.

Por outro lado, o autor analisa detalhadamente a instituição da cerimónia de lançamento
de uma canoa que “não é uma simples formalidade ditada pelo costume; corresponde às
necessidades psicológicas da comunidade, desperta grande interesse e conta com a
presença de muitos nativos” (ibidem: 117). Também aqui, os rituais mágicos têm um
papel importante.

   6. ECONOMIA TRIBAL

Para não fazer a descrição do Kula, considerado como uma forma de troca, fora do seu
contexto mais íntimo, o que contrariaria o seu princípio metodológico mais importante,
Malinowski dá-nos um esboço geral das modalidades de pagamento, presentes e
escambo existentes entre os nativos. Nesta análise, Malinowski faz uma crítica bastante


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feroz ao que ele chama de «falsas concepções» sobre os povos nativos. Como ele
próprio diz: “Ao estudar quaisquer questões sociológicas nas ilhas Trobriand, ao
descrever o aspecto cerimonial da vida tribal, constantemente deparamos com esse «dar
e receber», com a permuta de presentes e pagamentos” (ibidem: 136). Ele ressalva ainda
que, em quase todas as modalidades de troca existentes nas ilhas Trobriand, não há
qualquer vestígio de lucro, ou seja, não há aumento da utilidade mútua através da
permuta, pelo que, segundo ele, não há razão para as analisar de um ponto de vista
puramente utilitário ou económico. Malinowski acrescenta mesmo que “a doação por si
mesma constitui uma das características mais marcantes da sociologia trobriandesa e, a
julgar por sua natureza tão geral e tão básica, defendo o ponto de vista de que essa é
uma característica universal de todas as sociedades primitivas” (ibidem: 137).

Sendo o kula a mais significativa expressão da concepção nativa de valor, é necessário
entender o processo psicológico que o fundamenta, se queremos entender todos os seus
actos e costumes, no seu próprio contexto. Assim, Malinowski faz um levantamento
completo de todas as modalidades de pagamento e de presentes, apresentando uma
classificação aproximada de cada uma das transacções, de acordo com o princípio da
equivalência. Como Malinowski declara, nos relatos etnográficos não pode existir nada
mais falso do que a descrição dos factos das civilizações nativas nos termos da nossa
própria civilização. “A compreensão final e mais profunda da natureza dos factos deve
ser obtida sempre através do estudo do comportamento, através da análise etnográfica
dos costumes e dos casos concretos de aplicação das regras tradicionais” (ibidem: 138)

   7. SOCIOLOGIA DO KULA

Para melhor compreensão desta instituição, Malinowski discute, uns após outros, os
diversos aspectos da sociologia do Kula. Por um lado, existem limitações sociológicas à
participação no Kula. Nem todos os nativos que vivem na sua esfera cultural podem
participar. “As restrições quanto à participação no Kula existem apenas nos grandes
distritos Kula e são, em parte locais, excluindo aldeias inteiras e, em parte, sociais,
excluindo certos nativos de posição social mais baixa” (ibidem: 208). O autor faz-nos
também uma análise das relações de parceria e das condições necessárias para que um
nativo possa iniciar uma relação Kula. Como último ponto, o autor debruça-se sobre a
participação – ou falta dela – de mulheres no Kula. Embora a posição das mulheres
esteja longe da insignificância social, atingindo mesmo, a sua influência, em certos
casos e em certas tribos, um papel de grande importância, o Kula é, no entanto,


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essencialmente uma actividade dos homens. As mulheres não participam nas grandes
expedições, não praticam o Kula ultramarino, nem entre si mesmas nem com os
homens.

Um aspecto a realçar é que a troca de presentes obedece sempre a certos rituais. A
mistura de minuciosidade e decoro, de um lado, e de ressentimento feroz e avidez, de
outro, está subjacente em todas as transacções, como característica psicológica principal
do interesse nativo. Uma característica universalmente considerada censurável e
desonrosa é a tendência de reter objectos de valor e mostrar-se vagaroso ao passá-los
adiante.

   8. A MAGIA

A magia assume uma importância primordial na maneira do nativo encarar o Kula, ela
tem uma influência dominante sobre a vida tribal e entra profundamente na estrutura da
mentalidade nativa. “Todas as fórmulas mágicas deixam transparecer traços essenciais
de crenças e ilustram as ideias típicas de um modo tão completo e significativo que
nenhum caminho nos levaria mais directamente ao conhecimento da mentalidade do
nativo” (ibidem: 288). “Pode-se dizer que a crença na magia é uma das principais forças
psicológicas que possibilitam a organização e a sistematização dos esforços económicos
nas ilhas Trobriand” (ibidem: 290). Para os nativos, a magia sempre existiu desde o
princípio das coisas; ela cria, mas nunca é criada; ela modifica, mas nunca deve nem
pode ser modificada. Por outro lado, a magia é considerada como algo essencialmente
humano. É, essencialmente, a afirmação do poder intrínseco do homem sobre a
natureza. Consiste num poder inerente ao homem sobre as coisas que o afectam
vitalmente, poder esse transmitido pela tradição.

Ao analisar os detalhes concretos dos desempenhos mágicos, Malinowski faz a
distinção entre a fórmula, o rito, e a condição do executor. Na sociedade trobriandesa, a
importância relativa destes três factores que se destacam de uma forma bastante clara e
precisa, não é exactamente a mesma. A fórmula é, sem dúvida, o componente mais
importante da magia. É a parte da magia que é mantida em segredo e é somente
conhecida pelo grupo esotérico de praticantes. A natureza do rito é sempre do domínio
público. A condição do feiticeiro, assim como o rito, é essencial à realização da magia,
mas também é considerada pelos nativos como subordinada à fórmula mágica. “A força
da magia, cristalizada nas fórmulas mágicas, é carregada pelos homens da geração
presente em seus próprios corpos. Eles são o receptáculo do legado mais valioso do

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passado. A força da magia não reside nas coisas; ela está dentro do homem e só pode
escapar através da voz” (ibidem: 299)

Os efeitos da magia são considerados como algo muito diferente dos efeitos de outras
actividades humanas. Embora os nativos compreendam que a velocidade e a capacidade
de flutuação de uma canoa se devem ao conhecimento e trabalho do construtor, para
eles, a magia da rapidez acrescenta algo mais, mesmo à canoa mais bem construída. “A
influência da magia exerce-se paralela e independentemente dos efeitos do trabalho
humano e das condições naturais. Ela produz aquelas diferenças e resultados
inesperados que não podem ser explicados por nenhum outro factor” (ibidem: 304).

   9. AS RAMIFICAÇÕES DO KULA

Malinowski, neste seu trabalho, considera imprescindível fazer uma descrição das partes
restantes do Kula, assim como das suas ramificações, ou seja, o comércio e as
expedições empreendidas regularmente de certos pontos do anel para lugares afastados.
Ressalva, no entanto, que estes dados que apresenta não são da mesma categoria do
resto das informações contidas no seu estudo, que foram obtidas de nativos entre os
quais viveu e que, na sua maior parte, foram verificadas e controladas por observações e
experiências pessoais. Como ele próprio diz, “o material referente ao ramo sudeste foi
obtido por meio de uma investigação superficial, realizada com nativos daquele distrito,
que eu encontrei fora de sua terra natal, desde que eu não estive pessoalmente em
nenhum dos lugares entre a ilha de Woodlark e Dobu” (ibidem: 355).

Apesar destas limitações, o autor dá-se conta de que os pontos fundamentais da
transacção são idênticos em todo o anel, embora possam ocorrer algumas variações nos
detalhes. Embora não tenha muito material disponível sobre os diversos detalhes das
expedições e técnicas do Kula que ocorrem nestas outras subdivisões, “as regras da
troca, a cerimónia de tocar búzio, o código de honra ou moralidade ou talvez de
vaidade, que leva as pessoas a darem artigos equivalentes aos que receberam, tudo isso
é igual em todo o circuito. Assim o é também a magia kula, com variações nos detalhes”
(ibidem: 358).

   10. CONCLUSÃO – O SIGNIFICADO DO KULA

“A ciência precisa analisar e classificar factos para colocá-los num todo orgânico, para
incorporá-los a um dos sistemas nos quais tenta agrupar os vários aspectos da realidade”
(ibidem: 365). Nesta parte final do seu trabalho, Malinowski faz algumas reflexões


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sobre os aspectos mais gerais da instituição, tentando exprimir o que lhe parece
constituir a atitude mental subjacente aos vários costumes do Kula. Deparamo-nos
assim, até certo ponto, com um novo tipo de facto etnológico. A sua originalidade reside
em parte, na sua enorme extensão, tanto sociológica como geográfica. É um mecanismo
sociológico de dimensão e complexidade insuperáveis, considerando-se o nível de
cultura no qual o encontramos. A sua mitologia altamente desenvolvida e o seu ritual
mágico mostram-nos quão profundamente o Kula se enraizou na tradição destes nativos
e como deve ser antiga a sua origem.

Um aspecto interessante é o próprio carácter da transacção, substância primordial do
Kula. Uma troca semi-comercial, semi-cerimonial que satisfaz um profundo desejo de
possuir. Mas este é um tipo especial de posse, apenas por um curto período de tempo e
de uma forma alternada, de espécimes individuais de duas classes de objectos. Outro
aspecto de grande importância e que revela bem o carácter pouco comum do Kula é a
atitude mental dos nativos em relação aos símbolos de riqueza. Estes objectos não são
usados nem considerados como dinheiro ou moeda e assemelham-se muito pouco com
estes instrumentos económicos. Nunca são usados como meio de troca ou medida de
valor, as duas funções mais importantes do dinheiro ou moeda.

Cada peça tem um objectivo principal que se mantêm durante toda a sua existência – ser
possuída e trocada; e serve a um propósito principal – circular ao longo do anel do Kula,
ser possuída e ser exibida. Até mesmo a troca que cada peça sofre constantemente é de
um tipo muito especial: é limitada na direcção geográfica na qual pode ocorrer, é
circunscrita ao círculo social de homens entre os quais deve ser efectuada e está
submetida a toda a sorte de regulamentos e regras rigorosas. Com efeito, o Kula é uma
troca de um tipo inteiramente novo. Estes objectos constituem um dos interesses
centrais na vida nativa, e são um dos itens principais no inventário de sua cultura.
Assim, um dos aspectos mais importantes do Kula é a existência do vaygu’a kula, os
objectos sempre trocáveis e de circulação incessante, que devem seu valor e seu carácter
a esta própria circulação. O cerimonial associado ao acto da troca, assim como a forma
de transportar e manipular o vaygu’a, mostra claramente que ele é encarado como algo
mais do que uma simples mercadoria. Para o nativo é algo que lhe confere dignidade,
que o exalta e que, consequentemente, ele trata com veneração e afecto.




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ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL

No Kula, a iniciativa económica e o ritual mágico formam um todo inseparável, onde as
forças da crença mágica e os esforços do homem se moldam e se influenciam
mutuamente.

Como Malinowski sublinha, “minha convicção, repetidamente expressa, é de que o que
realmente importa não é o detalhe, não é o facto, mas o uso científico que fazemos dele.
Assim, os detalhes e pormenores técnicos do Kula adquirem seu significado apenas na
medida em que expressam alguma atitude mental fundamental e assim ampliam nosso
conhecimento, alargam nossa visão e aprofundam nossa compreensão da natureza
humana” (ibidem: 370). “Não podemos chegar à sabedoria final socrática de conhecer-
nos a nós mesmos se nunca deixarmos os estreitos limites dos costumes, crenças e
preconceitos em que todo homem nasceu. Nada nos pode ensinar melhor lição nesse
assunto de máxima importância do que o hábito mental que nos permite tratar as crenças
e valores de outro homem do seu próprio ponto de vista” (ibidem: 370)




                                                                                     12
ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL




   11.       BIBLIOGRAFIA
Malinowski, Bronislaw, 1977 (1922), Argonautas do Pacífico Ocidental, São Paulo,
Abril




                                                                             13

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Metodologia de Malinowski para estudos etnográficos

  • 1. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL 1. INTRODUÇÃO Bronislaw Malinowski, antropólogo britânico de origem polaca, combateu a abordagem evolucionista em antropologia e as interpretações assentes em reconstituições históricas sem fiabilidade, defendendo em vez disso um estudo baseado em estadas prolongadas no terreno no seio das populações a estudar. À importância conferida ao “trabalho de campo” em antropologia – que levou a cabo principalmente na Melanésia – acrescentou uma teorização das culturas, em que estas eram vistas como assentando, em última instância, na satisfação das necessidades biológicas dos indivíduos. Cada cultura constitui, na sua teoria, uma totalidade, em que cada costume, objecto material, ideia ou crença satisfaz uma função vital para a mesma, cabendo ao antropólogo estudar as relações entre o todo e a parte – tal é o postulado básico do funcionalismo de Malinowski. Assim, o conceito de função aparece como o instrumento que permite reconstruir, a partir dos dados aparentemente caóticos que se oferecem à observação de um pesquisador de outra cultura, os sistemas que ordenam e dão sentido aos costumes nos quais se cristaliza o comportamento dos homens. A grande inovação de Malinowski no trabalho de campo consistiu na prática do que é chamado hoje em dia observação participante. Ele alterou radicalmente as práticas seguidas até então, passando a viver permanentemente na aldeia, afastado do convívio de outros homens brancos e aprendendo a língua nativa. Assim, embora não podendo dispensar o uso de informantes, substituiu-o em grande parte pela observação directa, que só é possível através da convivência diária, da participação nas conversas e acontecimentos da vida da aldeia. O fundamento desta técnica passa por um processo de “aculturação” do observador que consiste na assimilação das categorias inconscientes que ordenam o universo cultural investigado. Desta forma, a totalidade e a integração da cultura transformam-se numa realidade que é intuitivamente atingida pelo investigador através da sua vivência da situação de pesquisa. Por outro lado, este trabalho de Malinowski difere bastante das monografias tradicionais. Não é nem uma descrição de toda a cultura trobriandesa, nem uma análise especializada de um dos aspectos nos quais geralmente os antropólogos decompõem a cultura: economia, parentesco e organização social, religião, ritual e mitologia, cultura material. Na realidade, é uma análise de todos esses aspectos vistos da perspectiva de uma única instituição, o Kula. Esta instituição aparece pois como uma projecção parcial da totalidade da cultura e não como um dos seus aspectos ou partes. A descrição 1
  • 2. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL desenvolve-se sempre no sentido de mostrar, simultaneamente, como a instituição em apreço permeia toda a cultura e, inversamente, como toda a cultura está presente na instituição. Podemos assim depreender que a cultura, para Malinowski, não é um todo indiferenciado, mas uma totalidade integrada que apresenta núcleos de ordenação e correlação – as instituições. A instituição é uma unidade multidimensional que compreende: uma constituição ou código, um grupo humano organizado e um equipamento material manipulado pelo grupo na realização das suas actividades. Esta pesquisa etnográfica desenvolveu-se num período de seis anos (1914-1920). Malinowski fez três expedições diferentes à região onde desenvolveu os seus trabalhos e, nos intervalos entre elas, analisou o material obtido e estudou a literatura etnográfica especializada de que dispunha na época. 2. A METODOLOGIA Como o próprio autor diz “um trabalho etnográfico só terá valor científico irrefutável se nos permitir distinguir claramente, de um lado, os resultados da observação directa e das declarações e interpretações nativas e, do outro, as inferências do autor, baseadas em seu próprio bom-senso e intuição psicológica” (Malinowski, 1977: 18). As fontes de informação do etnógrafo não estão incorporadas a documentos materiais fixos, mas sim ao comportamento e memória de seres humanos que, embora acessíveis se podem mostrar extremamente enganosas e complexas. Assim, o segredo da pesquisa de campo eficaz está na aplicação sistemática e paciente de algumas regras de bom-senso e de princípios científicos conhecidos. Segundo Malinowski, “os princípios metodológicos podem ser agrupados em três unidades: em primeiro lugar, o pesquisador deve possuir objectivos genuinamente científicos e conhecer os valores e critérios da etnografia moderna. Em segundo lugar, deve assegurar boas condições de trabalho, o que significa, basicamente, viver mesmo entre os nativos, sem depender de outros brancos. Finalmente, deve aplicar certos métodos especiais de colecta, manipulação e registro da evidência” (Idem: 20). De facto, existe uma enorme diferença entre o relacionamento esporádico com os nativos e estar efectivamente em contacto com eles. O etnógrafo deve procurar que a sua vida na aldeia assuma um carácter natural em plena harmonia com o ambiente que o rodeia. Só dessa forma, tudo o que se passa está plenamente ao seu alcance e não pode, assim, escapar à sua observação. O etnógrafo tem de aprender a comportar-se como os nativos e desenvolver uma certa percepção para o que eles consideram como “boas” ou 2
  • 3. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL “más” maneiras. Só assim pode entrar realmente em contacto com os nativos o que constitui, sem dúvida, um dos requisitos preliminares essenciais à realização e ao bom êxito da pesquisa de campo. Mas, isso só por si não é suficiente. São ainda necessários métodos mais eficazes na procura de factos etnográficos. O etnógrafo deve inspirar-se nos resultados mais recentes do estudo científico, em seus princípios e objectivos, deve conhecer bem a teoria científica e estar a par das suas últimas descobertas. Mas isso não significa estar sobrecarregado de ideias preconcebidas. Deve ser capaz de mudar os seus pontos de vista, abandonando-os sem hesitar ante a pressão da evidência. “As ideias preconcebidas são perniciosas a qualquer estudo científico; a capacidade de levantar problemas, no entanto, constitui uma das maiores virtudes do cientista – esses problemas são revelados ao observador através de seus estudos teóricos” (Ibidem: 22). Por outro lado, o objectivo fundamental da pesquisa etnográfica de campo é definir o contorno da constituição tribal e delinear as leis e os padrões de todos os fenómenos culturais, isolando-os de factos irrelevantes. O etnógrafo deve, assim, “perscrutar a cultura nativa na totalidade de seus aspectos. A lei, a ordem e a coerência que prevalecem em cada um desses aspectos são as mesmas que os unem e fazem deles um todo coerente” (Ibidem: 24). O etnógrafo tem então o dever e a responsabilidade de estabelecer todas as leis e regularidades que regem a vida tribal, de apresentar a anatomia da cultura e descrever a constituição social. O grande problema com que se debate é que, contrariamente ao que acontece nas sociedades civilizadas em que cada uma das suas instituições possui, em seu meio, historiadores, arquivos e documentos, no caso da sociedade nativa, nada disso existe. A resposta de Malinowski a este problema é o que ele chama de método de documentação estatística por evidência concreta, ou seja,”cada fenómeno deve ser estudado a partir do maior número possível de suas manifestações concretas; cada um deve ser estudado através de um levantamento exaustivo de exemplos detalhados. Quando possível, os resultados obtidos através dessa análise devem ser dispostos na forma de um quadro sinóptico, o qual então será utilizado como instrumento de estudos e apresentado como documento etnológico. Por meio de documentos como esse e através do estudo de factos concretos, é possível apresentar um esboço claro e minucioso da estrutura da cultura nativa, em seu sentido mais lato, e da sua constituição social” (Ibidem: 27). 3
  • 4. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL Isto deve ser complementado ainda com o que o autor chama de factos imponderáveis da vida real e do comportamento típico, que devem ser recolhidos através de observações detalhadas e minuciosas que só são possíveis através do contacto íntimo com a vida nativa e que devem ser registradas nalgum tipo de diário etnográfico. Por último, o corpus inscriptionum – uma colecção de asserções, narrativas típicas, palavras características, elementos folclóricos e fórmulas mágicas – deve também ser apresentado como documento da mentalidade nativa. Só assim será possível atingir o objectivo final da pesquisa, “o de apreender o ponto de vista dos nativos, seu relacionamento com a vida, sua visão de seu mundo” (Ibidem: 33-34). 3. DESCRIÇÃO DO CENÁRIO E DOS ACTORES Ao longo de toda esta monografia encontramos estas regras gerais que Malinowski definiu e aplicou no seu trabalho. Tendo como finalidade a análise do Kula, ele acaba por nos fazer uma descrição da cultura trobriandesa, analisando os seus vários aspectos: organização social, religião, rituais e mitologia, etc. Malinowski começa por nos fazer uma descrição dos nativos das ilhas Trobriand. Descreve-nos as relações de “poder” e a posição social das mulheres. Realça os hábitos sexuais dos nativos, que se iniciam numa idade bastante precoce e sem constrangimentos de qualquer ordem, pelo menos numa primeira fase. Gradualmente, porém, vão-se envolvendo em casos mais sérios e duradouros, um dos quais termina em casamento, o qual não está associado a nenhum acto cerimonial. O casamento tem implicações “económicas”, pois a família da esposa tem por obrigação contribuir substancialmente para a economia do novo lar e prestar vários serviços ao marido. Sociologicamente a aldeia é uma unidade importante nas ilhas Trobriand. Os chefes exercem autoridade primariamente sobre a sua própria aldeia, e apenas secundariamente sobre o distrito. A comunidade da aldeia explora colectivamente suas próprias terras de cultivo, realiza cerimónias, faz a guerra, empreende expedições comerciais e navega na mesma canoa ou na mesma frota como um grupo. Ao debruçar-se sobre a organização do trabalho agrícola, Malinowski acaba por destruir a noção do “Homem Económico Primitivo”. O nativo de Trobriand trabalha movido por razões de natureza social e tradicional altamente complexas. Os seus objectivos não se restringem ao simples atendimento de necessidades imediatas nem a propósitos utilitaristas. Ele é guiado por um complexo sistema de deveres e obrigações, de forças tradicionais, de crenças mágicas, ambições sociais e vaidade. 4
  • 5. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL Malinowski faz também uma descrição mais ou menos detalhada sobre a chefia e divisões políticas a fim de que seja possível entender bem as principais instituições políticas nativas, que são, por sua vez, essenciais ao entendimento do Kula. Todos os aspectos da vida nativa, a religião, a magia, a economia estão inter-relacionadas. Mas é a organização social que as fundamenta a todas. No que diz respeito ao parentesco, é uma sociedade matrilinear. Tanto a sucessão na hierarquia como a participação nos grupos sociais e a herança dos bens materiais são transmitidos em linha materna. O tio materno de um menino é considerado seu verdadeiro guardião. Por outro lado, embora a paternidade fisiológica seja desconhecida pois não se supõe existir nenhum tipo de parentesco entre pai e filho, a não ser aquele entre o marido da mãe e o filho da esposa, apesar disso, o pai é o amigo mais próximo e afectuoso de seus filhos. O autor enfatiza ainda o papel importante das crenças mágico-religiosas dos nativos de Trobriand. Todas as coisas que vitalmente afectam o nativo estão de um modo ou de outro associadas à magia. Por um lado os nativos canalizam todos os seus temores e apreensões à magia negra, às bruxas voadoras, aos seres malévolos causadores de doenças mas, acima de tudo, aos feiticeiros e bruxas. Por outro lado, a magia, tentativa de controlo directo sobre as forças da natureza através de conhecimentos especiais, é um factor fundamental nas suas vidas. 4. O KULA O Kula é uma forma de troca com um carácter inter-tribal bastante amplo. É praticado por comunidades localizadas num círculo de ilhas que formam um circuito fechado. Dois tipos de artigos, e só esses dois, viajam constantemente em direcções opostas sendo que, no sentido horário se movimentam os soulava, longos colares feitos de conchas vermelhas, enquanto no sentido oposto se movem os mwali, braceletes feitos de conchas brancas. Estes artigos viajam sempre no seu próprio sentido, cruzando-se com os artigos da classe oposta e sendo constantemente trocados por eles. Cada um dos participantes do Kula recebe periodicamente um ou vários braceletes, ou colares, que deve entregar a um dos seus parceiros, do qual recebe em troca o artigo oposto. Ninguém conserva consigo nenhum artigo por muito tempo. A parceria entre dois indivíduos do Kula é permanente, para toda a vida. Esses artigos encontram-se sempre em movimento, nunca ficam retidos com um só dono. 5
  • 6. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL Embora a troca cerimonial dos dois artigos um pelo outro seja o aspecto fundamental e central do Kula, associados a ela encontramos numerosas características e actividades secundárias. O Kula é, portanto, uma instituição enorme e extraordinariamente complexa, não apenas na sua extensão geográfica como também na multiplicidade de seus objectivos. Ele engloba um grande número de tribos e abarca um enorme conjunto de actividades inter-relacionadas e interdependentes que formam um todo orgânico. Como diz Malinowski, “ o etnógrafo deve procurar descobrir as leis e regras de todas as transacções. A ele cabe construir o quadro ou esquema total da grande instituição, da mesma forma que o cientista formula toda a sua teoria baseado em dados experimentais que, embora sempre ao alcance de todos, precisam de interpretação coerente e organizada” (Ibidem: 72). Assim, o Kula está sustentado pelas leis da tradição e cingido por rituais mágicos. As transacções nele processadas são cerimoniais e levadas a efeito segundo regras bem definidas. O Kula realiza-se periodicamente, ao longo de rotas comerciais definidas, conduzindo a locais fixos de encontro. Baseia-se num status fixo e numa parceria permanentes, que unem em pares alguns milhares de indivíduos. Constitui, assim, um tipo de relacionamento inter-tribal feito em grande escala. Por outro lado, o Kula não se realiza sob a pressão de quaisquer necessidades, visto que o seu principal objectivo é o de permuta de artigos sem nenhuma utilidade prática. Muitas actividades preliminares estão intimamente relacionadas ao Kula: a construção de canoas, a preparação do equipamento, o aprovisionamento da expedição, o estabelecimento das datas e a organização social do empreendimento, assim como o comércio secundário, são actividades subsidiárias ao kula e executadas para atender às suas finalidades. É óbvio que se observarmos essas actividades avaliando apenas a sua verdadeira utilidade, o comércio e a construção de canoas surgirão como as realizações verdadeiramente importantes, e seremos levados a considerar o Kula apenas como um estímulo indirecto que impele os nativos a navegar e a efectuar o comércio. Ao definir o Kula como a actividade primária e as demais como secundárias Malinowski quer fazer ver que essa prioridade está implícita nas próprias instituições. “As datas são fixadas, as actividades preliminares estabelecidas, as expedições organizadas, a organização social determinada, não em função do comércio, mas sim em função do Kula. A grande festa cerimonial realizada ao iniciar-se uma expedição, refere-se ao Kula; a cerimónia final da avaliação e contagem dos espólios refere-se ao Kula e não aos objectos obtidos pelo 6
  • 7. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL comércio. Finalmente, a magia, que constitui um dos principais elementos de todo esse processo, refere-se exclusivamente ao Kula, e isto se aplica até mesmo ao conjunto de mágicas com que se encantam as canoas” (ibidem: 84). 5. AS CANOAS Para nos dar a compreender tudo aquilo que a canoa representa para o nativo, para além de o autor se debruçar sobre as suas finalidades económicas e os diversos usos a que é submetida, analisa também dados sociológicos suplementares, referentes à sua posse, a especificação das pessoas que a usam e a descrição de como o fazem, as informações referentes às cerimónias e costumes de sua construção. Para o nativo, a sua pesada e desajeitada canoa representa uma conquista admirável e quase miraculosa, que lhe permite tornar-se senhor da natureza. Como diz o autor:”quando abordamos o assunto cientificamente devemos, por um lado, abster-nos de distorcer os factos e, por outro, procurar analisar as nuances mais subtis do pensamento e sentimento nativos quanto às suas próprias criações” (ibidem: 87). Malinowski analisa, em primeiro lugar, a impressão geral produzida pela canoa e a sua importância psicológica, em segundo lugar as características fundamentais da sua tecnologia e, por último, as implicações sociais da canoa marítima. Dá-nos uma perspectiva da organização do trabalho na construção de uma canoa, debruçando-se sobre dois aspectos principais: a diferenciação sociológica das funções e a regulação do trabalho por meio da magia. Este último aspecto é de realçar pois, para os nativos, tanto os resultados da capacidade técnica como a eficácia mágica são consideradas imprescindíveis tendo, cada uma das duas, a sua própria função. Por outro lado, o autor analisa detalhadamente a instituição da cerimónia de lançamento de uma canoa que “não é uma simples formalidade ditada pelo costume; corresponde às necessidades psicológicas da comunidade, desperta grande interesse e conta com a presença de muitos nativos” (ibidem: 117). Também aqui, os rituais mágicos têm um papel importante. 6. ECONOMIA TRIBAL Para não fazer a descrição do Kula, considerado como uma forma de troca, fora do seu contexto mais íntimo, o que contrariaria o seu princípio metodológico mais importante, Malinowski dá-nos um esboço geral das modalidades de pagamento, presentes e escambo existentes entre os nativos. Nesta análise, Malinowski faz uma crítica bastante 7
  • 8. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL feroz ao que ele chama de «falsas concepções» sobre os povos nativos. Como ele próprio diz: “Ao estudar quaisquer questões sociológicas nas ilhas Trobriand, ao descrever o aspecto cerimonial da vida tribal, constantemente deparamos com esse «dar e receber», com a permuta de presentes e pagamentos” (ibidem: 136). Ele ressalva ainda que, em quase todas as modalidades de troca existentes nas ilhas Trobriand, não há qualquer vestígio de lucro, ou seja, não há aumento da utilidade mútua através da permuta, pelo que, segundo ele, não há razão para as analisar de um ponto de vista puramente utilitário ou económico. Malinowski acrescenta mesmo que “a doação por si mesma constitui uma das características mais marcantes da sociologia trobriandesa e, a julgar por sua natureza tão geral e tão básica, defendo o ponto de vista de que essa é uma característica universal de todas as sociedades primitivas” (ibidem: 137). Sendo o kula a mais significativa expressão da concepção nativa de valor, é necessário entender o processo psicológico que o fundamenta, se queremos entender todos os seus actos e costumes, no seu próprio contexto. Assim, Malinowski faz um levantamento completo de todas as modalidades de pagamento e de presentes, apresentando uma classificação aproximada de cada uma das transacções, de acordo com o princípio da equivalência. Como Malinowski declara, nos relatos etnográficos não pode existir nada mais falso do que a descrição dos factos das civilizações nativas nos termos da nossa própria civilização. “A compreensão final e mais profunda da natureza dos factos deve ser obtida sempre através do estudo do comportamento, através da análise etnográfica dos costumes e dos casos concretos de aplicação das regras tradicionais” (ibidem: 138) 7. SOCIOLOGIA DO KULA Para melhor compreensão desta instituição, Malinowski discute, uns após outros, os diversos aspectos da sociologia do Kula. Por um lado, existem limitações sociológicas à participação no Kula. Nem todos os nativos que vivem na sua esfera cultural podem participar. “As restrições quanto à participação no Kula existem apenas nos grandes distritos Kula e são, em parte locais, excluindo aldeias inteiras e, em parte, sociais, excluindo certos nativos de posição social mais baixa” (ibidem: 208). O autor faz-nos também uma análise das relações de parceria e das condições necessárias para que um nativo possa iniciar uma relação Kula. Como último ponto, o autor debruça-se sobre a participação – ou falta dela – de mulheres no Kula. Embora a posição das mulheres esteja longe da insignificância social, atingindo mesmo, a sua influência, em certos casos e em certas tribos, um papel de grande importância, o Kula é, no entanto, 8
  • 9. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL essencialmente uma actividade dos homens. As mulheres não participam nas grandes expedições, não praticam o Kula ultramarino, nem entre si mesmas nem com os homens. Um aspecto a realçar é que a troca de presentes obedece sempre a certos rituais. A mistura de minuciosidade e decoro, de um lado, e de ressentimento feroz e avidez, de outro, está subjacente em todas as transacções, como característica psicológica principal do interesse nativo. Uma característica universalmente considerada censurável e desonrosa é a tendência de reter objectos de valor e mostrar-se vagaroso ao passá-los adiante. 8. A MAGIA A magia assume uma importância primordial na maneira do nativo encarar o Kula, ela tem uma influência dominante sobre a vida tribal e entra profundamente na estrutura da mentalidade nativa. “Todas as fórmulas mágicas deixam transparecer traços essenciais de crenças e ilustram as ideias típicas de um modo tão completo e significativo que nenhum caminho nos levaria mais directamente ao conhecimento da mentalidade do nativo” (ibidem: 288). “Pode-se dizer que a crença na magia é uma das principais forças psicológicas que possibilitam a organização e a sistematização dos esforços económicos nas ilhas Trobriand” (ibidem: 290). Para os nativos, a magia sempre existiu desde o princípio das coisas; ela cria, mas nunca é criada; ela modifica, mas nunca deve nem pode ser modificada. Por outro lado, a magia é considerada como algo essencialmente humano. É, essencialmente, a afirmação do poder intrínseco do homem sobre a natureza. Consiste num poder inerente ao homem sobre as coisas que o afectam vitalmente, poder esse transmitido pela tradição. Ao analisar os detalhes concretos dos desempenhos mágicos, Malinowski faz a distinção entre a fórmula, o rito, e a condição do executor. Na sociedade trobriandesa, a importância relativa destes três factores que se destacam de uma forma bastante clara e precisa, não é exactamente a mesma. A fórmula é, sem dúvida, o componente mais importante da magia. É a parte da magia que é mantida em segredo e é somente conhecida pelo grupo esotérico de praticantes. A natureza do rito é sempre do domínio público. A condição do feiticeiro, assim como o rito, é essencial à realização da magia, mas também é considerada pelos nativos como subordinada à fórmula mágica. “A força da magia, cristalizada nas fórmulas mágicas, é carregada pelos homens da geração presente em seus próprios corpos. Eles são o receptáculo do legado mais valioso do 9
  • 10. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL passado. A força da magia não reside nas coisas; ela está dentro do homem e só pode escapar através da voz” (ibidem: 299) Os efeitos da magia são considerados como algo muito diferente dos efeitos de outras actividades humanas. Embora os nativos compreendam que a velocidade e a capacidade de flutuação de uma canoa se devem ao conhecimento e trabalho do construtor, para eles, a magia da rapidez acrescenta algo mais, mesmo à canoa mais bem construída. “A influência da magia exerce-se paralela e independentemente dos efeitos do trabalho humano e das condições naturais. Ela produz aquelas diferenças e resultados inesperados que não podem ser explicados por nenhum outro factor” (ibidem: 304). 9. AS RAMIFICAÇÕES DO KULA Malinowski, neste seu trabalho, considera imprescindível fazer uma descrição das partes restantes do Kula, assim como das suas ramificações, ou seja, o comércio e as expedições empreendidas regularmente de certos pontos do anel para lugares afastados. Ressalva, no entanto, que estes dados que apresenta não são da mesma categoria do resto das informações contidas no seu estudo, que foram obtidas de nativos entre os quais viveu e que, na sua maior parte, foram verificadas e controladas por observações e experiências pessoais. Como ele próprio diz, “o material referente ao ramo sudeste foi obtido por meio de uma investigação superficial, realizada com nativos daquele distrito, que eu encontrei fora de sua terra natal, desde que eu não estive pessoalmente em nenhum dos lugares entre a ilha de Woodlark e Dobu” (ibidem: 355). Apesar destas limitações, o autor dá-se conta de que os pontos fundamentais da transacção são idênticos em todo o anel, embora possam ocorrer algumas variações nos detalhes. Embora não tenha muito material disponível sobre os diversos detalhes das expedições e técnicas do Kula que ocorrem nestas outras subdivisões, “as regras da troca, a cerimónia de tocar búzio, o código de honra ou moralidade ou talvez de vaidade, que leva as pessoas a darem artigos equivalentes aos que receberam, tudo isso é igual em todo o circuito. Assim o é também a magia kula, com variações nos detalhes” (ibidem: 358). 10. CONCLUSÃO – O SIGNIFICADO DO KULA “A ciência precisa analisar e classificar factos para colocá-los num todo orgânico, para incorporá-los a um dos sistemas nos quais tenta agrupar os vários aspectos da realidade” (ibidem: 365). Nesta parte final do seu trabalho, Malinowski faz algumas reflexões 10
  • 11. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL sobre os aspectos mais gerais da instituição, tentando exprimir o que lhe parece constituir a atitude mental subjacente aos vários costumes do Kula. Deparamo-nos assim, até certo ponto, com um novo tipo de facto etnológico. A sua originalidade reside em parte, na sua enorme extensão, tanto sociológica como geográfica. É um mecanismo sociológico de dimensão e complexidade insuperáveis, considerando-se o nível de cultura no qual o encontramos. A sua mitologia altamente desenvolvida e o seu ritual mágico mostram-nos quão profundamente o Kula se enraizou na tradição destes nativos e como deve ser antiga a sua origem. Um aspecto interessante é o próprio carácter da transacção, substância primordial do Kula. Uma troca semi-comercial, semi-cerimonial que satisfaz um profundo desejo de possuir. Mas este é um tipo especial de posse, apenas por um curto período de tempo e de uma forma alternada, de espécimes individuais de duas classes de objectos. Outro aspecto de grande importância e que revela bem o carácter pouco comum do Kula é a atitude mental dos nativos em relação aos símbolos de riqueza. Estes objectos não são usados nem considerados como dinheiro ou moeda e assemelham-se muito pouco com estes instrumentos económicos. Nunca são usados como meio de troca ou medida de valor, as duas funções mais importantes do dinheiro ou moeda. Cada peça tem um objectivo principal que se mantêm durante toda a sua existência – ser possuída e trocada; e serve a um propósito principal – circular ao longo do anel do Kula, ser possuída e ser exibida. Até mesmo a troca que cada peça sofre constantemente é de um tipo muito especial: é limitada na direcção geográfica na qual pode ocorrer, é circunscrita ao círculo social de homens entre os quais deve ser efectuada e está submetida a toda a sorte de regulamentos e regras rigorosas. Com efeito, o Kula é uma troca de um tipo inteiramente novo. Estes objectos constituem um dos interesses centrais na vida nativa, e são um dos itens principais no inventário de sua cultura. Assim, um dos aspectos mais importantes do Kula é a existência do vaygu’a kula, os objectos sempre trocáveis e de circulação incessante, que devem seu valor e seu carácter a esta própria circulação. O cerimonial associado ao acto da troca, assim como a forma de transportar e manipular o vaygu’a, mostra claramente que ele é encarado como algo mais do que uma simples mercadoria. Para o nativo é algo que lhe confere dignidade, que o exalta e que, consequentemente, ele trata com veneração e afecto. 11
  • 12. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL No Kula, a iniciativa económica e o ritual mágico formam um todo inseparável, onde as forças da crença mágica e os esforços do homem se moldam e se influenciam mutuamente. Como Malinowski sublinha, “minha convicção, repetidamente expressa, é de que o que realmente importa não é o detalhe, não é o facto, mas o uso científico que fazemos dele. Assim, os detalhes e pormenores técnicos do Kula adquirem seu significado apenas na medida em que expressam alguma atitude mental fundamental e assim ampliam nosso conhecimento, alargam nossa visão e aprofundam nossa compreensão da natureza humana” (ibidem: 370). “Não podemos chegar à sabedoria final socrática de conhecer- nos a nós mesmos se nunca deixarmos os estreitos limites dos costumes, crenças e preconceitos em que todo homem nasceu. Nada nos pode ensinar melhor lição nesse assunto de máxima importância do que o hábito mental que nos permite tratar as crenças e valores de outro homem do seu próprio ponto de vista” (ibidem: 370) 12
  • 13. ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL 11. BIBLIOGRAFIA Malinowski, Bronislaw, 1977 (1922), Argonautas do Pacífico Ocidental, São Paulo, Abril 13