Ser Professor num Mundo Líquido - Semana Acadêmica de Letras - 2014
1. Semana Acadêmica de
Letras – UCPel
2014
PALESTRA
SER
PROFESSOR EM UM
MUNDO LÍQUIDO
Adail Sobral (PPGL – UCPel)
2. O radical, comprometido com a libertação dos
homens, não se deixa prender em “círculos de
segurança’” nos quais aprisione também a
realidade. Tão mais radical quanto mais se
inscreve nesta realidade para, conhecendo-a
melhor, melhor poder transformá-la. (P. FREIRE)
3. PRÁTICAS SITUADAS
Hoje se fala de práticas “situadas”, mas
dificilmente essas práticas são mais do que
novos conteúdos incorporados à escola, sem
que se alterem os modos de inserção da escola
na realidade de que é parte. Práticas situadas
são práticas e não conteúdos. São definidas de
duas maneiras: práticas sociais das quais os
alunos participam diretamente, em vez de ouvir
ou ler sobre elas na escola, e práticas escolares
que levam em conta as vivências dos alunos e,
assim, unem o sistemático da escola com o
espontâneo da vida dos alunos fora da escola
4. UMA CONCEPÇÃO DINÂMICA DE
EDUCAÇÃO
Defendo uma concepção dinâmica de
integral, uma educação que parta da
realidade dos alunos, das culturas do país,
da cultura local, educação em que a teoria
só é legítima porque está fundada na
prática, por não ir para a estratosfera, e em
que a prática não se afasta da teoria, uma
vez que esta pode ser um ganho, pode
mostrar o que não se vê diretamente por se
estar demasiado próximo das coisas na vida
cotidiana.
5. É ESSA A REALIDADE DA
ESCOLA?
Tem a escola feito isso? Ou ela tem
confundido atividades-meio com atividades-
fim?
Pode a escola desvincular-se de seus
contextos e ainda ser útil?
O que deve ser uma escola num mundo
líquido, um mundo que q fixidez
desapareceu, em que os parâmetros já não
são os mesmos e mudam sem parar?
6. PEDAGOGO
A escola é espaço de aprendizagem formal, mas
também de socialização. Logo, lugar de convivência,
de promoção da educação integral.
Quem ensina é “pedagogo”, e não me refiro ao
profissional moderno assim chamado, mas a todo
professor
. E o que é pedagogo? Pedagogo é aquele que
possibilita o acesso à cultura, organizando o
processo de formação cultural. Não se trata de um
transmissor, mas de um facilitador, um organizador,
da aprendizagem dos alunos. E, para isso, deve estar
inserido na cultura ou culturas em que atua.
7. SER PROFESSOR HOJE
Hoje, não é possível formar professores para
esse papel sem modificar a concepção de
professor como detentor e transmissor de
saberes, entendidos como conteúdos estáticos!
Qual o novo papel dos professores? O de
pedagogos, criadores de situações de
aprendizagem, algo já defendido no Brasil por
Paulo Freire. Partir das realidades dos alunos
para promover a entrada em novas realidades.
8. SER PROFESSOR HOJE
O professor, hoje, tem de ser, como diz Mark
Prensky, um profissional humilde e capaz que orienta
e guia; cria metas e questiona; projeta o processo de
aprendizagem; descreve o contexto; estabelece
critérios de rigor; garante a qualidade.
Professores na verdade não ensinam; eles expõem o
saber aos alunos e estes dele de apropriam, ou não,
à sua própria maneira. E essas maneiras são
variadas.
9. SER PROFESSOR HOJE
Claro que não se renuncia ao papel de parceiro mais
experiente. De fato, a principal função dos
professores é se tornar inúteis, num sentido
específico: quanto menos os alunos precisarem
deles, tanto mais eficientes terão eles sido! Isso é
assustador para os professores-transmissores e os
alunos receptores!
Mas é o ideal para um mundo líquido, para
professores-guias e alunos que desejam caminhar
com os próprios pés – com ajuda para não tropeçar.
10. A ÉTICA DA ESCOLA HOJE
As instituições públicas devem estabelecer e
implementar uma política legítima de reconhecimento
das diferentes identidades existentes nas
comunidades. Naquilo que têm de específico, e não
a partir de um padrão nos termos do qual se
definiriam os “outros”. Essa ética se baseia na ideia
do igualitarismo entre os diferentes: “somos todos
diferentes e, por isso mesmo, iguais”, isto é, iguais
uns aos outros em nossas diferenças e
especificidades, e não a partir de um padrão, sempre
tendencioso, sempre “cêntrico”. As pessoas são
diferentes umas das outras. O que é igual entre elas
é seu valor social, seu direito de cidadania.
11. IMPLICAÇÕES
Os PCNs atribuem ao professor um papel
fundamental: o de modelo. Para além dos conteúdos,
ele é alguém que pode ensinar o valor do saber e da
cultura ao demonstrar o valor que têm para si, e não
apenas afirmando esse valor.
Modelo não é, portanto, alguém que impõe um
padrão, mas um exemplo de relação positiva com o
saber e com o respeito às diferenças, porque tudo
na vida humana são diferenças e a igualdade será
sempre de direitos, nunca de condição.
12. ESCOLA, UNIVERSIDADE E
SER PROFESSOR
Modelo é quem inspira, quem atua a partir, com e
para a vida real dos alunos e não para a escola.
Para inspirar, a partir, com e para a vida real dos
alunos, o professor precisa aprender a valorizar os
saberes e respeitar as diferenças.
Para que o professor possa ser um modelo de
valorização dos saberes e de respeito às
diferenças, é preciso que a escola seja um modelo
de valorização dos saberes e de respeito às
diferenças, um modelo de tolerância!
13. ESCOLA, UNIVERSIDADE E
SER PROFESSOR
Para a escola ser um modelo de tolerância,é
preciso que ela desista de impor um só
padrão para todos. E quanto a isso, a
universidade precisa formar professores
para quem a tolerância seja um valor
fundamental, para quem as diferenças são
um elemento a ser considerado e não um
defeito a ser corrigido. Num mundo líquido,
em que tudo muda muito rapidamente, a
base de tudo é conviver com as diferenças.