SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 7
Descargar para leer sin conexión
J1JI!I!III.. .
                                                                                  .   ~                                     ..   !""


                  30
                                                              PANORAMA    DA ANTROPOLOGIA


                   nhecível como humana. As armas e os instrumentos eram m.
                   Complexos, e os caçadores matavam animais maiores. Nos. acam-
                   pamentos dêsses homens primitivos, devem ter-se desenvolvido ràpi-
                   damente os hábitos e atitudes, a herança cultural do grupo humano,
                  tal como o conhecemos. Durante 500 mil anos, a caça e a coleta
                  de alimentos constituíram a forma universal de organização eco-
                  nômica. Embora as comunidades agrícolas estáveis apresentem vida
                  social humana altamente complexa, há apenas 10 000 anos atrás
                 todos os homens viviam da caça e da coleta de alimentos, e é den-
                 seqüente. contexto que sf! deve encarar tôda a história humana sub-
                 tro dêsse                                         .

                      Atualmente, a história da evolução do homem, através do longo                                 CUFFORDGEERTZnasceu em São Francisco, em 1926. Gra-
                período pré-histórico, é ainda um grande quebra-cabeça, do qual                                     duou-se como doutor em Filosofia' em Harvard, em 1956. 2,         :    ::

                só possuímos algumas peças desencontradas. A medida que novos                                       atualmente, professor-a.ssistente de Antropologia, na Universi-   ~    r
                indícios se acumulam     - fornecidos pela pá do arqueologista, pelo
                estudo das tribos caçadoras contemporâneas, pela história natural de
                                                                                                                    dade de Chicago, e pesquisador associado do Comit§ para o
                                                                                                                    Estudo Comparativo das Novas Nações. Foi, anteriormente,
                                                                                                                    professor-assistente do Departamento de Antropologia da Uni-
                                                                                                                                                                                       !
                                                                                                                                                                                      .,
                                                                                                                                                                                      ,
                                                                                                                                                                                      il
                                                                                                                                                                                      ti
                macacos   e símios   -   vai-se tornando cada dia mais possível des-                                versidade da Califórnia. Em 1958, tornou-se membro do Cen-
                                                                                                                    tro de Estudos Superiores das Ci§ncias do Comportamento.
                cobrir como 'o homem passou, de um ancestral comum a todos os                                       Foi docente da Universidade de Harvard. e tem trabalhado
                primatas, para o atuàl padrão de vida, próprio Unicamente do homem.                                 também como pesquisador associado do Centro de Estudos
                                                                                                                    Internacionais do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. 2
                                                                                                                    membro do corpo de consultores editoriais do Joumal af Asian
                                                                                                                    Studies e autor de inúmeros artigos e livros s6bre antropo-
                                                                                                                     logia do sudeste da Asia, religião comparada e desenvolvi-
                                                                                                                     mento econ6mico das novas áreas polftico-sociais.

    ''j   {E~

,~               {axl ~t: (/9U)                           .

                                                                                                     A tem
                                                                                                           QUESTÃODO ~ARENTBSCO. o homem
                                                                                                                               d
                                                                                                                                                 '
                                                                                                                                                             com 9s..~u~Q!!. ani-
                                                                                                 mais ._-~ sido uma constante nâs.'CiênCias1íüõ:iãiiâs.. Desde Darwin,
I          ?OJ~                      ~       4n1ro~J1Cz,                                                              ,~            ,. ,". . .-'    .
                                                                                                 poucas vêzes se têm levantado dÚVlaas quanto à existência de tal
                                                                                                 parentesco, porém, quanto a sua natureza e, principalmente, quanto
                                                                                                 ao seu grau de proximidade, o debate tem sido muito maior, e
I ;aO ailanU.ev, .5ãD?a..Jo e t-:sMa, ~                                                          nem sempre esc1arecedor. Alguns estudiosos, especialmente os de
    tÚ      {!/{e.~.                                                                              Ciências Biológicas   -        Zoologia, Paleontologia,   Anatomia   e Fisiologia
                                                                                                 -     têm procurado enfatizar o parentesco entre O homem e os cha-
                                                                                            "      m~lIios animais inferiores; vêem a evolução como um processo bio-
                                                                                            .I   . lógico mais QU menos ininterrupto, e tendem a encarar o homem,
                                                                                                   tal como o dinossauro, o rato-branco, o delfim, apenas como uma
                                                                                                   das mais interessantes formas que a vida assumiu. O que impres-



                                                                                          ,c
;,{                                                                       "~           . -                            '         '-~-
                                                                                      '..         
                                                                                                       J               '-'                        .




                                                                                                            r
          I:
          I                                                                                           '.
          I
          ,                                                                                                                                                                                                  'I
      "
                     32
                                                             PANORAMA DA ANTROPOLOGIA                       o.:
                                                                                                            I: A TRANSIQAOPARA HUMANIDADB                                                               33
      ,J
      "                                                                                                                                                                                                      I
                                                                                                                                                                                                             I'
     "
      ;1
                   ' siona tUs cientistasé a cootinuidade,a uuidade iotdnseca ao mundo;!
                                                                                                            i      ~                                   "íti
                                                                                                                             se poderia chamar .!t0l;!o:r
                                                                                                                                                                             ". A expressão não é ~inba:
                                                                                                                                                                        ::;ão da Antropologia amencana,
                                                                                                                                                                                                             i!
                                                                                                                                                                                                             "
                                                                                                                                                                                                             'i
     I,
     "
                         Os estudiososde de Ciência
                                 estudiosos                              -
                     sociólogos,universalidadeabsoluta dos princlpios que o psicólogo.,
                     orgfulico,a                                              regem.
                                                       Política-, emboranão neguem
                                            CiêncIa. Socia;g,entrctanto   OS
                                                                                                       i'.'i 101utitizada por ~ e;
                                                                                                        (' ; recentemente lalect ~,
                                                                                                             VOIVim
                                                                                                                                                              ~ ç.;     à teoria que postula s'7 o des~-
                                                                                                                                                              :; aadulrir culturaum acontecuneoto
                                                                                                                                                                                                su-          )1
                                                                                                            .                            ento da capacl~t e ~tita~vo na filogenia dos Prima                  'J
     I'                                                                                                                                                                                    tas.        S_~
     :,           ' a natureza anbnal do homem, tendem a encará-I como .endo único,
                                                                o                                       ~'bito,                      .
                                                                                                                                         um completo   ~~9u da "homlnldização".
                                                                                                                                                                             Istoé,.da              hum~-    :1
                                                                                                                                                                                                             "
                                           -                         -
                                                                                                                j...




                                                                                                                                                        .~ n;:""maprimata, .~e logar. u",a. alter~çao
                                                                                                                                                                                                .

                  ' difere!,te, ão ap~as
                              n                dizem m,iientemente       ~   "~u",          ma.         I., .~~~.?!'Iomeotoda
                      tambemem "espécoe"..o        m e o anunal que laboca 1OStnuncn- :i                                     El'a~.. U1!D.-!,"IlO ab ra bém pe<jÚena t!nn~I~~Ioun-'30U
                                                                                                                                   d                               em
                     ~a,            que adota slmbolos. S ment~em         n; s mente
                     ~_ho!"em """'-<ttie mOrrerá; sómemeêJe uão mantém relsçãe.
                                                                                         ;
                                                                                         i
                                                                                                                         '~.'mIl'Odogoosa, em Q. '.
                                                                                                                             geoéucosll'!"yàveJ'!';nte.
                                                                                                                                                                .       ,.           -.   ..
                                                                                                                                                              resumivelmente,ua estrutura corU-
                                                                                                                                                                                                        .
                     "..ais c,,:", sua mãe ou sua inoã; sómeute êle tem essas visões                                         .     Tal mudança, qoe " .de~ pcujo. asceudente. eram Incap~,
                    de uma VIdaem outros muudos, criando o que Santayana cham, -..                                            cal, fêz com que um an.m , de "exprimlr..e, apreuder, eu~ar,
                   ";;nili~'~        ~ "Mlos de lama meutUs", chiumodospor CyriI
                                ~-'::.                                                                                        "goudo as palavr~ d~ Kroeberrti, a infinita cadela de seus~çoe;;e
                                                                                                                                                                d
                                  '.
                       onnoUy arte. ApeniíSõ"l,omem possui (pros"gue a a~en-
                    !ação) uão SÓ'lnteligência,como também coosciência;não só ne-
                                                                                                                              e de fazer general_oco a pa a az de tudo ;.so. A -p~ des~
                                                                                                                              objetivosIsolados", se. ~mas"ul~ Pa. e teudo começado,.p"""gU'u
                   ce"idades, como também valôres; não só temores, mas também "USO                                           animal, começou a eJUS", a ~ os';"ira iutprámeute;"depeudente
                                                                                                                                                                    .


                    moral; não .ó um passa1!n,mas também nma história. Sômenteo                                            "U curso, deseuvo~veudo-;:;e;: homem./Todo o proce,!,o pel~
                   homem, em .uma, tem cultura.                                                                          . da' po.terior evolnçao~rgd C; h mem moderno de produzo:e uo-
i
I                   . Reconciliar ê doi. pontos de vista.não tem sido láci~ espe-
                   Clahnenteem se tratando da Antropolog>a;que, pelo menos no.
                                                                                                                          'qual fui criada a ~apaCld~:d: .:: tênoos de uma ",u~ança q~an-
                                                                                                                           Iizar a cul",,:, 1m ""!''7' d   ma diferença qualitativa rad.cal.
II                 Estados Unidos, nunca" rituou ciaramente nom ou noutro campo.                                           titativa m~ual,     ongoum o ~ãO o processode congelementoda
                   Pur um lado, os antropologistastêm ridn os que mais estudam a
                   evoluçãoflricado homem,traçando''" etapasatravésd", quai. se                                            água, cuja ~pera~                   ~
                                                                                                                           Kroeber utilizou, como com!araer ;'duzida de grau em grau, s.,,?
                                                                                                                                                     po Sque silblta';cute, o liquido se sohd.-
                   deu a evolução humana, de um ancestral primata comum até o
                  homem moderno. Por outro lado, us antropologiatastambém têm
                                                                                                                           qualquer perda de fiar ~           ;
                                                                                                                                                            Outro antropologista com~arou o
                                                                                                                           fica a zero graus centigra os~vião que vai rodando pela pISta,ga-
                  rido OSestudiosospa.-exceUenceda cultura, mesmo não tendo, êles                                          proces.o à decolagemded~ ue. Perco"" o solo, até o instante,de
                  próprio., idéia muito clara da significaçãodêsse tênoo. Ao coa-                                          nbando velocodadeà m~ . a. q Um antropolugiataffsico, contr"'!o
                  trário de aigun. cientistas sociais, uão poderiam os aotropologistas                                     transição, em 9"e 'à'" a ",:-o:ferinamentecomo sendo uma teona
                  ignorar a vida cultural humana, consideraudo-aas.unto "pertcucente                                       à noção,. refenu-se . me: do homem p';' uma "nomeaçã? para o
                  ao campo da Arte", e, de modo geral, situando-a além dos limites                                         que exphca o aparec'j,en m tivesse sido promovido,.~ilb.tamente,
                  d~ ciêucia. A~ co~trário de al!:.?uscientistas sociais,.uão poderiam                                     cargo", "como" oe a1~brigada'" Surgir.aa condoçanh~mana,
                  dispensara hlStóna da evoluçaodo homem, coa..deraud                 de                                     de co~one1 ara geu r
                                                                                                                                      p                       e a chamade um fósforoque é nscado.
                 pouca importânciapara a compreensãu da atual condição humana.                repentíuamente,como su~g        levaram a essa opinião geral, e.que
                 O resultadoé que o problema da origemda cultura, apesar de muit"                 Há três grandes !'zoes q?';,. a arentemeutetremendo almmo
                  vezes ter rido iguorado como desprovido de importância, na ridicula-
                  rizado como Insoiúvel, ontInuamentee apresentaante nós, exI-
                                           c              s
                                                                                       .      a apóiaD). Empnmcu?I;gar,- .ti" homem e a de seus parOUte'
                                                                                         'existente en!re ~ capaClrlae mcu.iID'ô. O homem é capaz de falar,
                                                                                                                                                                             d:
                 gindo a maior ateução,à medida que recoustituimos,pouco a ponco'Viv.Os            mais ,P.'Óx.mos, ~d:~ :"iro;'entos ete. Nenhum sni,?a!,
                                                                                                                  os
                 a hi.tória da evoluçãoflrica do homo "'piem. Constitui caracterio-      .    de adotar sunholos, de Ia nc       e sequer reaIixaralgo que d.sso
                 tica peculiar da ciência variada, que é a Antropologia americana,o      'dos     que existematuahn"àte, c~...go.. dos pri;'at'" empreendeu,mes-
                 lato de que o t<iunCode um de seu. ramos venha, justamente, expor            "aproxime,    Um ~I . e os .~soem seu lar, como se lôsse um
                 os fracasso.dos outros,e . assimmesmoqUe" coustróia Ciência. . r                                            mo, a heró"a ,:"peneu~ de cn.%t.amum chimpanzé quemde-
                                                                                                                                                                          a
                 aceita para o problema da origem da cultura tem sido solução mais,
                   ~  Nos últimos cinqüenta anos, mais ou menos, a a teoria que                                              moãozinho aadoovo 'li.ICU a e, mesm~ educação e cuidado que s~
                                                                                                                             ram, com maIOrd         Idadqnea

                                                                                                            )

                                                                                              ;. ~IJ..
'--.-                                                  -"   , .D.!                                          ~

                                                                                                                                                                                                                 35

          34                                                 PANORAMA   DA ANTROPOLOGIA                     ~            A TRANBIÇAO       pARA HUMANIDADE


                                                                                                                                                                                                             "
          dá a uma .criança. Entretanto, embora            b'       ,                                                         .    .                       .'               d . 1-
          boa quantidade de coi,as nada               o um chimpanzé(como utili-
                                                          c Imp:mzetenba aprendido                          ,"                                                       - d reumam-oe
                                                                                                                                                                          "
                                                                                                                         a Psicologta teoria do "ponto crítico"da Etnologta d '
                                                                                                                         para apoiar aComparada, a Semântica e ' aorigem da cultura,
          zar um revólverde água tirar co~um ad                              '
                                                                              h "                                                                            ,,"'
          P "
             arafuso ' e " - momento ' de g'ória'ampa e latas com uma c ave de
                                             a ' - puxar um bnnqued  .                                      '             ;'    Um dos ramos da Antropologia, porem, uao ve.o ar apo'o a
          no Por m            d
          se quer, ~ ap!endera falar, e, também ima 'nário) ,n~
                       CIO e um cordão iocapazde f;;ar I                  o começou,
                                                                             Imagma-                                     essa teoria      -
                                                                                                                                   por a I'.aIe<mtologtaHumana, ~s~oe,~.a..ev,!!,!ç'!.o. . ' ' '
                                                                                                                         .~umaoa meioda d"",-o~er!'! ,da anábsede r.,los fóssel'.Desde
                                                                                                                                                         ~
          por sua !rIDahumana, meoos ágil porém'               ' ogo fm ultrapassado.                                                                                                 f 1
                                                                                                                         qú.'o original médico 1891 a J)u!IotS encontroUd 'ialota cerebral
                                                                                                                                  "avanês" em Eogene Antropologia Física Histórica dvem
                                                                                                                                                                         a
          a desenvolver-separa chegar ou: dia' e e seloquaz, 9ue continuou'
                                                      ,;lIa"     P~e~umIr,a elaborar                                     um rio }
                                                                                                                         do pi'hecan'h,opus ereelUS,o "homem-macaco ereto', no leito de
          complexas teorias sôbre a singularidade d a con dlçao hum
                 Em segundo lugar a             r                          ana.                             I
                                                                                                                          acumulando constantemente, dados que tornam ca a vez:{'latS IIC.
                                                                                                                                                                        "            h
                                                                                                                          tomamos por base 'a Anatomia.' Apesar de algumast tlmldas tenta-
                                                                                                                                                         b
                                                                                                                                                           '       b 1
                                                                                                                                                                                          ti
                                                                                                                                                                                                                 ,   '



          p:u=m ser, no cam~ pur::::'Ó       '                           -
                                                       .a abstração,..a~i~boli~ç.ão
                                                     gIC9, ass~t.os b~m definidos'
                                                                               ..           "''''   '
                                                                                                            I
                                                                                                                          traçar uma' linha divisória
                                                                                                                                                    ' Rnitida entrel" homem e nã~-ti.omem, se
                                                                                                                                                                          I     "d d   d
                                                                 sim                                                                                         d
                                                     '



          diante dos quais é necessári dIzercIaramente -
                            -             o                                         "
          ou fala ou nao fala' ou fabri ca Instrumentos ou na9!!-!!!!Q; lguéni
          .    '            ~"'
          Im agl na d emomos ou não os imag " '                       o
                                                                          f ba
                                               . ina N'ao podemoso,nem nca; ou
                                                                               '

                                                                           a mesmo
                                                                                                            I
                                                                                                            'I.
                                                                                                                                                       "

                                                                                                                           dutahumana Perfeitamente .con cere ra
                                                                                                                                                                    '




                                                                                                                                                                                   -     1
                                                                                                                           tivas para estabelecerum ' udesenvolvida, tal como amanI o brotou
                                                                                                                                                                            um Atenas cn C<J
                                                                                                                           de cérebro, que, uma vez atlngt o, prooUZlssea capaCl a e e cou-
                                                                                                                                                                                             ,




          conceber a existência de uma mela-re li aião"                                                      I                                ,,'
                                                                                                                                                            .-
                                                                                                                                                                                                   '



               ,
                 li
          mCI~- nguagem, pois que o pro                  ~. ' uma me.a-arte, uma                                           da testa da Zeus o P'onto' em que afirmações categóricas sôbre o
                                                                                                                                                as d.scobertas dos estudIOSOS Pa eonto ogta
                                                                                                                                                                            de
                                                                                                            ,              cia humana até
          ~OSlçãode um sistema da signi';ssO   Icaçoes simbólicas as origina, à rea-
                                                   :Sse~ClaI 9ue arbitrário a im-                           I
                                                                                                            r              têm, pouco a pouco, fóssil por fóssil, traçado claramente a ascendên.
          hdade, não é" do tipo que ossa ser
                                            '




                                                                                                                                       '
                                                                                                            ;
                                                             '                                                                                                                 "  "
          pr<wesso haVl~ na passage':: da sim l;eaI.~~o peJa metade. - O                                    "             . que é ou não ~orpo human? formou-se aOSpoucos, quer essa ~r-
                                                                                                                            afi~ar 'l?e o, humano tomam-se puram"'" arb.tránas. podem?,
          respostas"condlc~onadas ',«:?9.com orta~e s atividade ref,le:1t:a
                                                                        .para as                            ,
                                                                                                                          , maçao seja válidaa em relaçao à mente ousensacionais fósseis d nao.
                                                                                                                                    Em relação êsse assunto, os mais alma humana, quer     desco-        "


          a detCrtJlJn!!!!Q unI, e dai para ~. 'ens nto co~plexo. em~",posta
                          m                                                                                                                                                            d
          rado como uma série de saltos e nã~ coaIDentostmbóhc(),}oi enca-                                      
                                                   m,,?um processo contínuo e
          ascendente, 'Entre a percepç ão da "rel açao natural exist t entre
                                                                                        '               '        ,

                                                                                                                                    q
                                                                                                                                      têm sido os achados na de "homens-macacos"
                                                                                                                                                    ,'",'
                                                                                                                                                                                         es C que
                                                                                                                             bertos ue vêm sendodiversos tiposÁfrica onental e do sul,australopte-
                                                                                                                                                                                            e  '   ,-,


                                                                   ..ene "'                                      I         ..'cos ,
                                                                                    '



          nuvens escuras e chuva e o estabelecmento d
           "
                                               l                  ça    b
          na . entre nuv~~ escuras e desespêro não h e uma rela o ar .tra-                                       i             Raymond DarI desenterrou Q primeiro, em 1924, no Transvaal. ons-
          qu..squer estagtos intermediários.           ouv. - pensava"'e -                                       i             tituindo, certamente, a maior descoberta da história da pa!eontologia
      .-
      - .      Havia ainda, em terceiro lu               d   .
           umdadapslq.ulca homem".~' 0ro:;'cadoproblema chamada!
                         do                                                    ~                                1              Humana, ê<sesfósseis, que devem datar de 750000 a I 750000 anUS
                                                                                                                               a.trás, colocam.diante. d~. Uó, imP~ssionante mosaico de .caracteIb-
          a tese - hOJepràticamenteace't perna estava.relaclonado
                                                                com                                             ~              Ucas morfológu:as
                                                                                                                                               prmntivase m... avanç~das,das qu... as m..s
          se preze         -   que declara não h~v~'p0ra qualqu~r antrupolugista que                             1             interessante' são a formnção da polve e da perna, nltldam.nte seme-
      I do se adm.te que "cultura sur raç.. r.;des dtfe.reuçasna natureza
        Se process.omental das várias . as                                                                                     lhantes às dos homem moderoo, A tendeneta IDIÇlaI conmderar
                                                                                                                               superior à do macacos atu..s. e a ~pa~id~d~. crani.ana, "'UCO
     ''                                             anas aJO'tentes atualmente.                                                                                                    fOI
.
,/

      i m~tu ade um periodo anteri;'u a~ ;~.c.o da e~ determinado mo-
        entllO referida tese toma-se r
                                             Ja ;o~pleta,
                                                           diferenciação racial
                                                                                                                ,.
                                                                                                                     i
                                                                                                                               que essa estranha conjunção, num só animal, de um sistema de loco-
                                                                                                                               moção bipedal "tlpo homem", e de um cérebro "tlpo macaco", indi-
                                                                                                                                         "              '                                '
        nha-se a impressão de que lav.;.er ,o problema SImplesdedução. Ti:
                                           a~ a eira por de que poderia haver
                                                               '
                                                                                                                     i          cava que osfadada à extinção, independenteuma linha linhaevolução
                                                                                                                                aberrante e australoptecOSrepresentavam tanto da de humana
        dIferençasna capacidadede adqUlnr cultura d d f
                         '
        de . ho m~ deos, ISto é, dos vários ti os d "
              . "                                         as ,~erentes espécies                                                 como da autor grandes lenda da mitologia grega, segundo a qualmUltorei dos
                                                                 .
                                                                                                                 .                 . o dos alude à sIm'os. É melhor ser um macaco Zeus, aper-
          e,}á extintos - era levantar ta p     e homem então existentes                                        ,i                  deuses, acometido de violenta dor de cabeça, ordenou ao deus Vulcano que lhe
          diferentes raças humanas    d I problema, também, em relação às                                                           vibrasse um golpe de malho na testa. Vulcano obedeceu, e do crânio de Zeus
                                                                                                                 !                  saltou, armada de escudo e lança, sua filha Palas-Atenas, deusa da guerra e da
          tên~ia de tais diferençasme~t;~nas; e ,c?mo as provas da não-exis-                                                        sabedoria. (N.T.)
          saplens eram, e são, esmagadoras, a v~n?s grupamentos do Assim,
                                          os hlpotese parecia falsa, homo
                                                                                                             ""
                                                                                                             I
                                                                                                             ;r,
                                                                                                            ,," ,
                                                                                                             l", .
,,-~       iT~""'~

      I
     ~I.


                                                                                                                                                                                    37
             36                                         PANORAMA   DA ANTROPOLOGIA
                                                                                                          A TRANSIÇAO   PARA HUMANIDADE


             feiçoado, do que meio-homem, disse certa vez Ernest Hooton. A                                posteriores alterações n.0,sistema nervoso. O fato de ser errônea essa
             opinião atual, porém, é de que tais criaturas representaJ!1 as mais                          teoria, ao que pare~eL(pois o desenvolvimento cultural já se vinha
             antigas formas conhecidas do processo de evolução que produziu,                              processando bem antes de cessar o aesenvolvimento orgânico )~é de
             por fim, o homem moderno, ~ p-ar.!ir--~I::
                                                      ,uJ!1a..ra.ç!lÇoIDum,~k,sfl1J!o.s.
                                                                   ,                                       importância fundamental para nosso ponto. de vista sôbre 'a natureza
             Nesses bizarros semi-homens, encontram-se as raízes de nossa própria                         do homem, ,gue~..ton1:~. assim, não apenas o prod':1tor da cultura,
             e completa humanidade.                                                                        fIl3.-stambém, num -sentido especificamente' biológico, o pródüto da
                   Meu interêsse em tratar, aqui, dêsses "homens-macacos" é mo-                           cultura.          '                ,,'       ,           .
             tivado pelo quesuil existência implica para a t~9ria qq "ponto crí-                                Na verdade, oppo. de pressões seleti,vas,que ocorreratn durante
             ttco" da origem da cultura. ':E:s$es prato-homens, mais ou menos                             as fases terminais da evolução do ànim~l humano foi parcialmente
             eretos, dotados de pequenos cérebros, não necessitando de utilizar as
                                                                                                          determinado pelas fases iniciais do desenvolvimento da cultura hu-
             mãos para a locomoção, manufaturavam instrumentos e provàvel-                                mana, e não simplesmente pelos fatôres do meio ambiente. A de-
             roente caçavam pêquenos animais, ou, pelo menos" alguns dentre
             êles o faziam. Parece, entretanto, altamente improvável que tais                             pendência dos instrumentos manufaturados, por exemplo, exige o
                                                                                                          desenvolvimentoda destreza manual e da pontaria. Num grupo de
             criaturas pudessem ter tido um desenvolvimento cultural comparável,                          australoptecos, um indivíduo mais bem dotado dessas características
             digamos, ao dos aborígines australianos, ou que possuíssem uma lin-                          teria uma vantagem seletivaem relação a outro que não fôsse tão bem
             guagem, na moderna acepção da 'palavra, tendo, como tinham, um                                dotado. Caçar pequenos' animais com armas primitivas requer, entre
             cérebro que media, apenas, cêrca de 1/3 do tamanho do nosso. O                                outras coisas, grande paciência e persistência. O indivíduo mais
             australopteco parece ser, portapto, uma espécie de "homem" que,                               dotado dessas sóbrias virtudes levari.a uma vantagem em relação a
             evidentemente, ,era capaz de adquirir alguns elementos de cultura                             outro mais irrequieto e inconstante, menos dotado delas. Tôdas essas
             -    fabricação de instrumentos simples, caça esporádica, e talvez um
                                                                                                           aptidõe~,habilidades, disposições, ou como quer que as chamemos,
             sistema de comunicação mais avançado do que o dos macacos con-
             temporâneos, emborá ma~s atrasado do que o da fala humana,-,                                  dependem, por sua vez, do desenvolvimento dI:?sistema nervosO.
                                                                                                           Dessa maneira, a introdução da manufatura de insrumentos e da
             porém incapaz de adquirir qutros, o que lança certa dúvida sôbre a                            câça 'deve-ter' alterado o curso das pressões seletivas, de modo a
             teoria do "ponto crítico' O que se supunha improvável, ou mesmo                               favorecer o rápido,de,senvolvimento lobo frontal do cérebro, como
                                                                                                                                                do
             logicamenteimpossível,tinha sido empiricamenteverdadeiro: ta!.como
                                                                                                            ~'fizeram, muito provàvelmente, os progressos na organi,zaç~osocial,
           i o próprio homem, a capacidade de aquisição de cultura surgiu gra-                              nâ' comunicação, as ):lorrrias moral que
                                                                                                                           n             de                    -       há razões que nos
             dual e continuamente, pouco a' pouco, durante ,longo período de
             tempo.,                                          .
                                                                                                            levam a crê':'lo    -   tambéfll ocorreram durante êsse período demu-
                                                                                                            danças culturais e biológicas inter-t:.elacionadas.     ,
                   A situação, entretanto, tbrna-se ainda mais difícil, pois se os
             australoptecos possuíam forma elementar de cultura (denominada,                                      Grande parte do tr!lbalho, nesse setor, é claro, é ainda especula-
             por um antropologista, "protoêultura"), com um cérebro que media                               tiva, e o que estamos co~eçando a fazer é muitp mais levantar ques-
             1/3 do tamanho do nos~o, segue-se, logicamente, que a maior parte                              tões do que, propriamente, responder a elas. O estudo sistemático
             do crescimento cortical hUIUanofoi posterior, e não anterior ao "iní-                          da conduta dos primatas, em seu habitat natural, por exemplo, que
             cio" da cultura. O hom~m era considerado, pela teoria do "ponto-                               tanta influência tem exercido em nossas interpretações sôbre a vida
                                                                                                     ,.
             crítico", como quase completo, neurologicamente,pelo menos, antes                       f       dos homens primitivos, mal data de uma década, com poucas ex-
             que a cultura tivesse começadq a se desenvolver, isso porque a capa-                            ceções. A documentação relativa aos' fósseis cresce em proporção
             cidade biológica necessária à aquisição de cultura era tida como                                tão extraordinária, os métodos para a determinação da idade tor-
             algo que não admitia meio-têrmo; uma vez adquirida, era-o por                                   nam-se dia a dia t&o minuciosos, que só um imprudente tentaria
             completo; tudo mais era II1era adição de novos hábitos, ou desen-                               formar opiniões definitivas           ~
                                                                                                                                                respeito de determinadas questões.
             volvimento dos antigos. A eyolução orgânica ia até certo ponto, e                                Pondo de parte, porém, os detalhes, as provas e as hipóteses especí-
             então, uma vez cruzando o Rubicon cerebral, tinha lugar a evolu-                                 ficas, o fato essencial é que a constituição genérica e inata do homem
             ção cultural, processo autônomo, nem dependente nem produtor de                                 moderno,   (o que      antigamente,   quandQ as coisas eram mais simples,




..                                                                                           :~
"
    ~
    ,/
     /'      ,

    !!               38
                                                                   PANORAMA    DA ANTROPOLOGIA                      A TRANSIQAO    PARA HUMANIDADE                                                  39

    Ii
    'i
                       se chamava "natureza humana"t parece-nos, agora, ser tanto u~                                mulação das considerações teóricas sôbre as quais se apoiava, ante-
11                    produto cultural quanto biol6gico~                                                            riormente, a teoria do pOQtocríti~o. ficou evidente, agora, que o
                                                                  -
                                                                                                            ,
:1
'I                 '.        "E, provàveImente, mais correto      escreve o antropologista                          argumento da Psic910gia Prima~a Çomparada, por exemplo, esta.:
I
f
                       físico Sherwood Washbum      - encararmos nossa estrutura (física)
                      como sendo, em grande medida, o resultado da cultura, em vez"de
                                                                                                                    belece não a singularidade do homem moderno, mas sim o caráter
                                                                                                                    distinto da linhagem hominídea, que tem de cinco a vinte e cinco'
I
r                     imaginarmos homens,' anatômicamente semelhantes a nós, descobrin-                             milhões de anos, e da qual o homem moderno é, apenas, o resul- j
                      do, passo a passo, a cultura." O refrão "o homem se faz por si                                tado final e: casualmente, o' único 'representan,te vivo, mas que:
I
!
!
                      originalmente.
                      pr6prio" adquire, agora, significação mais literal do que o suposto                           inclui inúmeras espécies de animais diferentes, hoje extintos, e todos
                                                                                                                    muito mais "próximos" do ho~em do que qualquer dos macacos)
                                                                                                                                                                                                         
                      ~ A idade glacial, que produziu modificações rápidas e radicais                               atualmente existentes. O fato de que' chimpanzés não falam é in..-
                    no clima, nas forma~ões terrestres e na vegetação,.11ámuito vem                                 teressante, e também importante; mas concluir, daí, que a fala é
                    sendo considerada como ulp p~ríodo e,Wque houve condições ideais                                um fenômeno que não admite meio-têrm9 seria o mesmo que supor
                    para um mais rápido e eficiente desenvolvimento evoJutivo do ho-                                que a girafa, já que é o único quadrupede dotado de tão grande
                    meJ]]. Parece-nos, agora, que' êsse período também foi o em que                                 pescoço, deve tê-Io adquirido por uma espécie de esticamento. Os
                    o meio cultural passou a suplementar, cada vez mais, o meio am-                                 grandes símios podem ser os parentes mais próximos do homem,
                    biente natural no processo seletivo, intensificando, de maneira sem                             mas "próximo" é, também, para fazermos um trocadilho, um têrmo
                   precedentes, e fazendo avançar aceleradamente o processo de evolu-                               relativo.* Em se considerando uma escala de tempo que corres-
                                                                                                    f
                   ção do ser humano. Não parece tratar-se, unicamente, de' uma                     I               ponda à realidade, os sÍmios não estão, de forma alguma, assim tão
                   época em que se deu o desaparecimento das saliências frontais e a                j               próximos de nós, uma vez que o último antepassado comum viveu
                   diminuição' da mandíbula, mas sim de uma época em que foram                      f               há, pelo menos, cinqüenta mil séculos passados, no período denomi-
                   forjadas, quase_.~ôdas as, características mais tipicamente humanas:                             nado pelos geólogos Plioceno, e talvez, mesmo, ainda há mais
                  iodu--õ sistema nervoso,encefálico do homem, sua estrutura social                                 tempo atrás.                                                         '



                   baseada na proibição do incesto e sua capacidade           de criar   e utili-               ,         Quanto ao argumento lógico, também sôpre êle pesam dúvidas,
                  zar símbolos. O fato de terem essas características distintivas da                                presentemente. O crescente interêsse, que ràpidamente se vem desen-
                 -human'idadesurgido ao mesmo tempo, e em complexa interaçâo, e                         ,           volvendó, em relação à .comunicação, cdnsiderada como processo geral,
                  não umas após outras, como durante tanto tempo se supôs, é de                                     e que se. vem manifestando há uma ou duas décadas, em diversas
                .sxcepcional importância para a interpretação da mente humanaÍpois                                  disciplinas, desde a Engenharia até a Etnologia, veio, por um lado,
             ~j !parece indicar que o sistema nervoso do homem não só o )ôrfia
                 apto a adquirir cultura, Co                                                                        reduzir a}a.l~_.~, _I!P~J}~~, Jl1ecapjsma., embora,reconhecida-
                                                                                                                                                _u~              ==",

                 /o homem                     ~
                            adquira essa cultur~.
                                                        também exige, para funcionar, que
                                                        A cultura, portanto, não agiria ape-
                  lias suplementando, desenvo do e ampliando capacidades depen-
                   dentes do organismo, geneticamente anteriores a ela, mas seria uma
                                                                                                                    mente, de alta flexibilidade e eficiência - ,entre os muitos existeQtes
                                                                                                                    para a transmissão' do p.t:nsamento, e, por Qutro lado, forneceu",nos
                                                                                                                    uma base 'teórica; ~de--ácõrdp' com a qual é, possível conceber--uma
                                                                                                                    série de etapas progressivas, que' nos teriam conduzido, .fi,~,I!!w..~nte,
                  componente dessas próprias capacidades. Um ser humano despro-                                     à fala humana.                                    '
                  vido de cultura não seria um macaco intrinsecamente talentoso, em-                                     Não nos ocuparemos, aqui, com' essa pesquisa, mas, apenas
                  bora sem ter êsse talento desenvolvido,mas sim um ser inteiramente                                para dar um exemplo, diremos que um lingüista comparou oito dife-
                  desprovido de mente, e, conseqüentemente,uma monstruosidade ina-                                  rentes sistemas de comunicação, desde a dança das abelhas, a ma-
                  proveitáveI. Tal como o repôlho, com o qual tanto se parece, o                                    neira pela qual os peixes fazem a côrte, o canto dos pássaros, até
                  cérebro do homo .rapiens,tendo-se desenvolvidona estrutura cultural
                 ,humana, não seria viável fora dela.                                                               os gritos dos gibões, à música instrumental e à linguagem humana.
                                                                                                                    Em vez de fazer girar tôda sua análise em tôrno da distinção
                 ~ Muitas são as implicações desta revisão da teoria da transição
                 para a humanidade, das quais mencionaremos apenas algumas, neste                                        * A palavra relative significa, em inglês, tanto "parente"   como "relativo".
                 artigo. Por um lado, tal revisão obrigou à reinvestigação e refor-                                 dai o trocadilho.
. '-:....--.
                                                                                . '---:-'       ~
                                                                                         ;-   f
                                                                                              : ,
                                                                                                                                                                                 41
                                                                                                       .( A    TRANSIQAO        PARA HUMANIDADE
          40                                           PANORAMA   DA ANTROPOLOGIA
                                                                                                  r
          simplista, e já agora um tanto "batida" demais, sinal símbolo, dis-                            medida que o homem criava seus ~nstrumentos,longe de enfraquecer
          tingue êle treze características principais da linguagem, e procura,                         . a doutrina da unidade física, torna-a ainda mais explícita e' espe-
          de acôrdo com elas, analisar as diferenças existentes entre a comu-                            cífica, conferindo-lhe base histórica real, que anteriormente lhe
          nicação humana e a subumana, de maneira ~ais precisa, e traçar                                 faltava.
                                                                                                               Mais importante, porém, que a revisão ou reinterpretação das
          a {>rovávelrajetória seguida, desde que se iniciou o desenvolvimento
                      t                                                              I

          gradual da fala, a partir da protofala, durante a era glacial. Esse                            antigas teses, necessária à teoria que considera a relação entre' a
          tipo de pesquisa, também, está, ainda, apenas no início, mas, parece,                          evoluçãoda anatomia do homem e a origem da cu1tur~humana como
          estamos chegando ao fim da época em que a única coisa aproveitável                             relação mais sincrônica do que sucessiva, são as implicações dessa
          que se podia dizer, quanto às origens da linguagem, era que, assim                              teoria para uma nova maneira de. encarar a própria cultura.
          como todos os sêres humanos a possuem, todos os não-humanos,                                          Se o homem cresceu, por assim dizer, no contexto de um am-
                                                                                                                     .


          por sua vez, são desprovidos dela.                                                              biente cultural em desenvolvimentQ,então êsse ambiente dev~ ser
               Finalmente, a postulação da existência de diferenças na capa-                              encarado não apenas comó mera extensão,~xtra-somática, uma espé-
          cidade de adquirir cultura, entre os diversos tipos de proto-homens,                             ~ie de ampliação artificial d~ capacidades inatas já existentes, mas
          não vem contradizer o fato comprovado de que não há diferenças                                   sim como um fator indispensável da existência dessas próprias
          significativas na capacidade mental inata das várias raças humanas                               capacidades.
          atuais, mas, pelo contrário, vem apoiar e fortalecer as afirmações                                     O fato, agora evideI).te,de que os estágios finais da evoluç~o
          nesse sentido.   f As   diferenças físicas das raças humanas constituem,                         biológica do homem ocorreram após os estágios iniciais do desen-
          está claro, qualquer coisa de muito recente, tendo tido início, pro-                             volvimento da cultura implica, como já fizemos notar, que natureza
          vàvelmente, há apenas 50 000 anos, mais ou menos, ou seja, segun-                                humana "básica", "pura" ou "incondicionada", no sentido de cons-
          do as mais conservadoras estimativas, menos de 1/100 do período                                  tituição inata do homem, é noção tão funcionalmente incompleta,
          de duração de tôda a linhagemhominídea, isto é: a linha de formação                               que chega a ser inutilizável.
          do homem.I Assim sendo, não só um processo comum de evolução                                            Instrumentos, caça, orgánização familiar e, posteriormente,
          ocupou imenso períado da história da humanidade, como também                                      arte, religião é certa forma primitiva de "Ciência", moldaram o ho-
:1        êsse período parece ter sido, precisamente, aquêle durante o qual                                 mem somàticamente, sendo, portanto necessários não só à sua sobre-
          foram forjadas as características fundamentais da natureza humana.                                vivência, ~as também à sua' realização existencial., :B verdade que,
               As raças modernas são, justamente, isso: modernas. Represen-                                 sem o homem, não haveria formas de cultura; m'as também é ver- .
     ..   tam adaptações, muito recentes e secundárias, da côr da pele, da                                   dade que sem formas de cultura não haveria o homem.
          estrutura facial etc - sem dúvida adaptaçõesàs diferençasclimá-                                         Tôda a estrutura de crença, expressão e valor, em que vivemos,
          ticas, principalmente - que se processaram quando o homo sapiens                                   fornece-nos os mecanismos para uma conduta ordenada, mecanismos
          se dispersou pelo mundo, por volta do fim do período glacial. Tais                                 êsses geneticamente estabe'ecidos no corpo dos animais inferiores,
          adaptações são, portanto, tôdas elas, subseqüentes ao processo bási-                               porém não no nosso. A singularidade da natureza humana tem
          co formativo do desenvolvimentoneural e anatômico, ocorrido desde                                   ~i4o,muitas vêzes',expressa em têrmos de quantas e quão diferentes
          o início da linhagem hominídea, até o aparecimento', de cinqüenta                                   coisas o homem é "capaz de aprender, e, embora a existência de
          a cento e cinqüenta milênios atrás, do homo sapiens.                                                chimpanzés que aprendem a brincar com brinquedos imaginários nos
                Mentalmente, o homem foi formado na idade glacial, e a fôrça                                  possa criar alguma incerteza, essa formulação ainda é bastante válida,
          realmente decisiva, que plasmou e produziu a singularidade da natu-                                 Entretanto, talvez 19~ importância teórica fundamental' ainda maior
          reza humana - a interação das fases iniciais do desenvolvimento
                                                                                                   I
                                                                                                             ~ o quanto. o home:tI1tem que aprender. Sem os padrões orienta-
          cultural com as fases culminantes da transformação biológica -                           I                 oores da cultura humana, a vida intelectual do homem seria, apenas,
          é parte do passado comum de tôdas as raças modernas. Dessa                              -~                 um zunido, uma confusão ruidosa, como a denominava William
          maneira, a teoria de que a capacidade de conseguir cultura não                                             James; a cognição, no homem, depende, de tal maneira, da existên-
          brotou, já totalmente desenvolvida, em determinado momento, mas                                            cia de modelos simbólicos externos da realidade, que não pode ser
          que foi sendo forjada por longo período, na idade da pedra, à                                          .       comparada à de nenhum macaco. Emocionalmente, dá-se o mesmo.


                              .                                                                    r
~   I       .
                                                                                    "

                                                                                ,
                                                                                .


                                                                                        1                                                                            43
                                                                        i
42                                     PANORAMA DA ANTROPOLOGIA                                     A TRANSIQAO   pARA HUMANIDADE



Sem a orientação das idéias comumente aceitas, encontradas nos                          l           publicado por Meggers, B. em Evolution and Anthropology: a Cen-
ritos, no mito e na arte, não saberíamos, literalmente, como sentir.                                tennial Appraisal (Washington, D.C., Atithropological Society of
Tal como o. próprio cérebro anterior expandido, as idéias e emo-                        ,           Washington, 1959), é também útil em relação ao assunto. Bom
ções são, no homem, artefatosculturais.                                 .                           resumo, feito em têrmos simples, da teoria que admite a relação
     Essas afirmações prenunciam, na nossa opinião, uma revisão                         1            entre o uso de instrumentos e a mudança neurológica, pode ser en-
fundamental na própria teoria da, cultura. Estamos caminhando para,                                  contrado em' Washington, S.L., "Tools and' Human Evolution",
nas próximas décadas, encararmos os padrões culturais considerando,                                  Scientific American, setembro de 1960, págs. 62-75, sendo que, aliás,
cada vez menos, a maneira pela qual êles se impõem à natureza                               I        tôda essa edição especial, ''The Human Species", é importante. Fi-
humana, atualizando-a para melhor ou para pior; considerando-os,                                     nalmente, devo esclarecer que os argumentos aqui apresentados fo-
cada vez menos, como uma acumulação de engenhosos estratage~s                               I         ram por mim desenvolvidos mais extensamente e de forma mais
para expandir capacidades "inatas pré-existentes, e, cada vez mats,                                   técnica em "The Growth of Culture and the Evolution of Mind",
como parte dessas próprias capacidades; considerando-ós, cada vez                                     Scher, J. (ed), Towarda Dejinitionof Mind (Nova lorque: Free
menos, como uma massa superorgânica de hábitos, e, cada vez mais,                                      Press, a ser publicado), e que, para o presente capítulo, adaptei
segundo a brilhante expressão do falecido Clyde Kluckhohn, como                                        diversas passagens dessa obra. .
projetos para a vida. O homem é o único animal vivo que neces-
sita de tais projetos, pois é também o único animal vivo a p.ossuir.
tal história evolutiva, que seu ser físico foi, em grande parte, mol-
dado pela existência dêsses projetos, sendo, portanto, irrevogàvel-
mente por êles qualificado. À medida que se fôr reconhecendo
tôda a importância dêsse fato, irá desaparecendo o antagonismo
entre a teoria que considera o homem apenas como um animal ta-
lentoso e a que o considera um animal inexplicàvelmente único,
juntamente com as concepções errôneas que deram origem a tal
antagonismo.
NOTA BIBLIOGRAFICA

     A exposição de Kroeber da teoria do "ponto crítico" será en-
contrada em sua obra Anthropology (Nova lorque: Harcourt Brace,
1948, págs. 71-72). Uma formulação um tanto diferente e mais
ousada da mesma teoria, enfatizando a descontinuidade entre o uso
do símbolo e as outras formas de pensamento, pode ser encontrada
em White, L., The Science of Culture (Nova lorque: Grove Press,
1949). Para breve discussão dos australoptecos e sua significação,
vide Leakey, L.S.B. "The Origin of the Genus Homo", em Tax, S.
(ed), The Evolution of Man (Chicago: University of Chicago Press,
1960, págs. 17-22), e Washburn, S.L., e F. Clark Howell, "Human
Evolution and Culture", no 'mesmo volume, págs. 33-56; alguns co-                                                                                       .
mentários a respeito das realizações culturais dos australoptecos                               J
podem ser encontrados em Hallowell, A.I., "Self, Society and Cultu-
re in Phylogenetic Perspective", ibid, págs: 309-372. O artigo de
HaIloweIl, "Behavioral Evolution and the Emergence of the Self",'

Más contenido relacionado

Último

Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveaulasgege
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfIedaGoethe
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxIsabellaGomes58
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxIsabelaRafael2
 
Educação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPEducação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPanandatss1
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfHenrique Pontes
 
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundogeografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundonialb
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOColégio Santa Teresinha
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasRosalina Simão Nunes
 
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxSlide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxconcelhovdragons
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfManuais Formação
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxOsnilReis1
 
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
Atividade com a letra da música Meu Abrigo
Atividade com a letra da música Meu AbrigoAtividade com a letra da música Meu Abrigo
Atividade com a letra da música Meu AbrigoMary Alvarenga
 
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxAula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxBiancaNogueira42
 
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfCurrículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfIedaGoethe
 
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfCultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfaulasgege
 

Último (20)

Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
 
Educação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPEducação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SP
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
 
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundogeografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
 
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptxSlide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
Slide de exemplo sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo.pptx
 
Em tempo de Quaresma .
Em tempo de Quaresma                            .Em tempo de Quaresma                            .
Em tempo de Quaresma .
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
 
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
Atividade com a letra da música Meu Abrigo
Atividade com a letra da música Meu AbrigoAtividade com a letra da música Meu Abrigo
Atividade com a letra da música Meu Abrigo
 
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxAula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
 
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfCurrículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
 
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdfCultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
Cultura e Sociedade - Texto de Apoio.pdf
 

Destacado

Everything You Need To Know About ChatGPT
Everything You Need To Know About ChatGPTEverything You Need To Know About ChatGPT
Everything You Need To Know About ChatGPTExpeed Software
 
Product Design Trends in 2024 | Teenage Engineerings
Product Design Trends in 2024 | Teenage EngineeringsProduct Design Trends in 2024 | Teenage Engineerings
Product Design Trends in 2024 | Teenage EngineeringsPixeldarts
 
How Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental Health
How Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental HealthHow Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental Health
How Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental HealthThinkNow
 
AI Trends in Creative Operations 2024 by Artwork Flow.pdf
AI Trends in Creative Operations 2024 by Artwork Flow.pdfAI Trends in Creative Operations 2024 by Artwork Flow.pdf
AI Trends in Creative Operations 2024 by Artwork Flow.pdfmarketingartwork
 
PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024
PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024
PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024Neil Kimberley
 
Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)
Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)
Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)contently
 
How to Prepare For a Successful Job Search for 2024
How to Prepare For a Successful Job Search for 2024How to Prepare For a Successful Job Search for 2024
How to Prepare For a Successful Job Search for 2024Albert Qian
 
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie InsightsSocial Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie InsightsKurio // The Social Media Age(ncy)
 
Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024
Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024
Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024Search Engine Journal
 
5 Public speaking tips from TED - Visualized summary
5 Public speaking tips from TED - Visualized summary5 Public speaking tips from TED - Visualized summary
5 Public speaking tips from TED - Visualized summarySpeakerHub
 
ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd
ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd
ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd Clark Boyd
 
Getting into the tech field. what next
Getting into the tech field. what next Getting into the tech field. what next
Getting into the tech field. what next Tessa Mero
 
Google's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search Intent
Google's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search IntentGoogle's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search Intent
Google's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search IntentLily Ray
 
Time Management & Productivity - Best Practices
Time Management & Productivity -  Best PracticesTime Management & Productivity -  Best Practices
Time Management & Productivity - Best PracticesVit Horky
 
The six step guide to practical project management
The six step guide to practical project managementThe six step guide to practical project management
The six step guide to practical project managementMindGenius
 
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...RachelPearson36
 
Unlocking the Power of ChatGPT and AI in Testing - A Real-World Look, present...
Unlocking the Power of ChatGPT and AI in Testing - A Real-World Look, present...Unlocking the Power of ChatGPT and AI in Testing - A Real-World Look, present...
Unlocking the Power of ChatGPT and AI in Testing - A Real-World Look, present...Applitools
 

Destacado (20)

Everything You Need To Know About ChatGPT
Everything You Need To Know About ChatGPTEverything You Need To Know About ChatGPT
Everything You Need To Know About ChatGPT
 
Product Design Trends in 2024 | Teenage Engineerings
Product Design Trends in 2024 | Teenage EngineeringsProduct Design Trends in 2024 | Teenage Engineerings
Product Design Trends in 2024 | Teenage Engineerings
 
How Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental Health
How Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental HealthHow Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental Health
How Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental Health
 
AI Trends in Creative Operations 2024 by Artwork Flow.pdf
AI Trends in Creative Operations 2024 by Artwork Flow.pdfAI Trends in Creative Operations 2024 by Artwork Flow.pdf
AI Trends in Creative Operations 2024 by Artwork Flow.pdf
 
Skeleton Culture Code
Skeleton Culture CodeSkeleton Culture Code
Skeleton Culture Code
 
PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024
PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024
PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024
 
Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)
Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)
Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)
 
How to Prepare For a Successful Job Search for 2024
How to Prepare For a Successful Job Search for 2024How to Prepare For a Successful Job Search for 2024
How to Prepare For a Successful Job Search for 2024
 
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie InsightsSocial Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
 
Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024
Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024
Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024
 
5 Public speaking tips from TED - Visualized summary
5 Public speaking tips from TED - Visualized summary5 Public speaking tips from TED - Visualized summary
5 Public speaking tips from TED - Visualized summary
 
ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd
ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd
ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd
 
Getting into the tech field. what next
Getting into the tech field. what next Getting into the tech field. what next
Getting into the tech field. what next
 
Google's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search Intent
Google's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search IntentGoogle's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search Intent
Google's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search Intent
 
How to have difficult conversations
How to have difficult conversations How to have difficult conversations
How to have difficult conversations
 
Introduction to Data Science
Introduction to Data ScienceIntroduction to Data Science
Introduction to Data Science
 
Time Management & Productivity - Best Practices
Time Management & Productivity -  Best PracticesTime Management & Productivity -  Best Practices
Time Management & Productivity - Best Practices
 
The six step guide to practical project management
The six step guide to practical project managementThe six step guide to practical project management
The six step guide to practical project management
 
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
 
Unlocking the Power of ChatGPT and AI in Testing - A Real-World Look, present...
Unlocking the Power of ChatGPT and AI in Testing - A Real-World Look, present...Unlocking the Power of ChatGPT and AI in Testing - A Real-World Look, present...
Unlocking the Power of ChatGPT and AI in Testing - A Real-World Look, present...
 

Antropologia evolução humana parentesco animais

  • 1. J1JI!I!III.. . . ~ .. !"" 30 PANORAMA DA ANTROPOLOGIA nhecível como humana. As armas e os instrumentos eram m. Complexos, e os caçadores matavam animais maiores. Nos. acam- pamentos dêsses homens primitivos, devem ter-se desenvolvido ràpi- damente os hábitos e atitudes, a herança cultural do grupo humano, tal como o conhecemos. Durante 500 mil anos, a caça e a coleta de alimentos constituíram a forma universal de organização eco- nômica. Embora as comunidades agrícolas estáveis apresentem vida social humana altamente complexa, há apenas 10 000 anos atrás todos os homens viviam da caça e da coleta de alimentos, e é den- seqüente. contexto que sf! deve encarar tôda a história humana sub- tro dêsse . Atualmente, a história da evolução do homem, através do longo CUFFORDGEERTZnasceu em São Francisco, em 1926. Gra- período pré-histórico, é ainda um grande quebra-cabeça, do qual duou-se como doutor em Filosofia' em Harvard, em 1956. 2, : :: só possuímos algumas peças desencontradas. A medida que novos atualmente, professor-a.ssistente de Antropologia, na Universi- ~ r indícios se acumulam - fornecidos pela pá do arqueologista, pelo estudo das tribos caçadoras contemporâneas, pela história natural de dade de Chicago, e pesquisador associado do Comit§ para o Estudo Comparativo das Novas Nações. Foi, anteriormente, professor-assistente do Departamento de Antropologia da Uni- ! ., , il ti macacos e símios - vai-se tornando cada dia mais possível des- versidade da Califórnia. Em 1958, tornou-se membro do Cen- tro de Estudos Superiores das Ci§ncias do Comportamento. cobrir como 'o homem passou, de um ancestral comum a todos os Foi docente da Universidade de Harvard. e tem trabalhado primatas, para o atuàl padrão de vida, próprio Unicamente do homem. também como pesquisador associado do Centro de Estudos Internacionais do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. 2 membro do corpo de consultores editoriais do Joumal af Asian Studies e autor de inúmeros artigos e livros s6bre antropo- logia do sudeste da Asia, religião comparada e desenvolvi- mento econ6mico das novas áreas polftico-sociais. ''j {E~ ,~ {axl ~t: (/9U) . A tem QUESTÃODO ~ARENTBSCO. o homem d ' com 9s..~u~Q!!. ani- mais ._-~ sido uma constante nâs.'CiênCias1íüõ:iãiiâs.. Desde Darwin, I ?OJ~ ~ 4n1ro~J1Cz, ,~ ,. ,". . .-' . poucas vêzes se têm levantado dÚVlaas quanto à existência de tal parentesco, porém, quanto a sua natureza e, principalmente, quanto ao seu grau de proximidade, o debate tem sido muito maior, e I ;aO ailanU.ev, .5ãD?a..Jo e t-:sMa, ~ nem sempre esc1arecedor. Alguns estudiosos, especialmente os de tÚ {!/{e.~. Ciências Biológicas - Zoologia, Paleontologia, Anatomia e Fisiologia - têm procurado enfatizar o parentesco entre O homem e os cha- " m~lIios animais inferiores; vêem a evolução como um processo bio- .I . lógico mais QU menos ininterrupto, e tendem a encarar o homem, tal como o dinossauro, o rato-branco, o delfim, apenas como uma das mais interessantes formas que a vida assumiu. O que impres- ,c
  • 2. ;,{ "~ . - ' '-~- '.. J '-' . r I: I '. I , 'I " 32 PANORAMA DA ANTROPOLOGIA o.: I: A TRANSIQAOPARA HUMANIDADB 33 ,J " I I' " ;1 ' siona tUs cientistasé a cootinuidade,a uuidade iotdnseca ao mundo;! i ~ "íti se poderia chamar .!t0l;!o:r ". A expressão não é ~inba: ::;ão da Antropologia amencana, i! " 'i I, " Os estudiososde de Ciência estudiosos - sociólogos,universalidadeabsoluta dos princlpios que o psicólogo., orgfulico,a regem. Política-, emboranão neguem CiêncIa. Socia;g,entrctanto OS i'.'i 101utitizada por ~ e; (' ; recentemente lalect ~, VOIVim ~ ç.; à teoria que postula s'7 o des~- :; aadulrir culturaum acontecuneoto su- )1 . ento da capacl~t e ~tita~vo na filogenia dos Prima 'J I' tas. S_~ :, ' a natureza anbnal do homem, tendem a encará-I como .endo único, o ~'bito, . um completo ~~9u da "homlnldização". Istoé,.da hum~- :1 " - - j... .~ n;:""maprimata, .~e logar. u",a. alter~çao . ' difere!,te, ão ap~as n dizem m,iientemente ~ "~u", ma. I., .~~~.?!'Iomeotoda tambemem "espécoe"..o m e o anunal que laboca 1OStnuncn- :i El'a~.. U1!D.-!,"IlO ab ra bém pe<jÚena t!nn~I~~Ioun-'30U d em ~a, que adota slmbolos. S ment~em n; s mente ~_ho!"em """'-<ttie mOrrerá; sómemeêJe uão mantém relsçãe. ; i '~.'mIl'Odogoosa, em Q. '. geoéucosll'!"yàveJ'!';nte. . ,. -. .. resumivelmente,ua estrutura corU- . "..ais c,,:", sua mãe ou sua inoã; sómeute êle tem essas visões . Tal mudança, qoe " .de~ pcujo. asceudente. eram Incap~, de uma VIdaem outros muudos, criando o que Santayana cham, -.. cal, fêz com que um an.m , de "exprimlr..e, apreuder, eu~ar, ";;nili~'~ ~ "Mlos de lama meutUs", chiumodospor CyriI ~-'::. "goudo as palavr~ d~ Kroeberrti, a infinita cadela de seus~çoe;;e d '. onnoUy arte. ApeniíSõ"l,omem possui (pros"gue a a~en- !ação) uão SÓ'lnteligência,como também coosciência;não só ne- e de fazer general_oco a pa a az de tudo ;.so. A -p~ des~ objetivosIsolados", se. ~mas"ul~ Pa. e teudo começado,.p"""gU'u ce"idades, como também valôres; não só temores, mas também "USO animal, começou a eJUS", a ~ os';"ira iutprámeute;"depeudente . moral; não .ó um passa1!n,mas também nma história. Sômenteo "U curso, deseuvo~veudo-;:;e;: homem./Todo o proce,!,o pel~ homem, em .uma, tem cultura. . da' po.terior evolnçao~rgd C; h mem moderno de produzo:e uo- i I . Reconciliar ê doi. pontos de vista.não tem sido láci~ espe- Clahnenteem se tratando da Antropolog>a;que, pelo menos no. 'qual fui criada a ~apaCld~:d: .:: tênoos de uma ",u~ança q~an- Iizar a cul",,:, 1m ""!''7' d ma diferença qualitativa rad.cal. II Estados Unidos, nunca" rituou ciaramente nom ou noutro campo. titativa m~ual, ongoum o ~ãO o processode congelementoda Pur um lado, os antropologistastêm ridn os que mais estudam a evoluçãoflricado homem,traçando''" etapasatravésd", quai. se água, cuja ~pera~ ~ Kroeber utilizou, como com!araer ;'duzida de grau em grau, s.,,? po Sque silblta';cute, o liquido se sohd.- deu a evolução humana, de um ancestral primata comum até o homem moderno. Por outro lado, us antropologiatastambém têm qualquer perda de fiar ~ ; Outro antropologista com~arou o fica a zero graus centigra os~vião que vai rodando pela pISta,ga- rido OSestudiosospa.-exceUenceda cultura, mesmo não tendo, êles proces.o à decolagemded~ ue. Perco"" o solo, até o instante,de próprio., idéia muito clara da significaçãodêsse tênoo. Ao coa- nbando velocodadeà m~ . a. q Um antropolugiataffsico, contr"'!o trário de aigun. cientistas sociais, uão poderiam os aotropologistas transição, em 9"e 'à'" a ",:-o:ferinamentecomo sendo uma teona ignorar a vida cultural humana, consideraudo-aas.unto "pertcucente à noção,. refenu-se . me: do homem p';' uma "nomeaçã? para o ao campo da Arte", e, de modo geral, situando-a além dos limites que exphca o aparec'j,en m tivesse sido promovido,.~ilb.tamente, d~ ciêucia. A~ co~trário de al!:.?uscientistas sociais,.uão poderiam cargo", "como" oe a1~brigada'" Surgir.aa condoçanh~mana, dispensara hlStóna da evoluçaodo homem, coa..deraud de de co~one1 ara geu r p e a chamade um fósforoque é nscado. pouca importânciapara a compreensãu da atual condição humana. repentíuamente,como su~g levaram a essa opinião geral, e.que O resultadoé que o problema da origemda cultura, apesar de muit" Há três grandes !'zoes q?';,. a arentemeutetremendo almmo vezes ter rido iguorado como desprovido de importância, na ridicula- rizado como Insoiúvel, ontInuamentee apresentaante nós, exI- c s . a apóiaD). Empnmcu?I;gar,- .ti" homem e a de seus parOUte' 'existente en!re ~ capaClrlae mcu.iID'ô. O homem é capaz de falar, d: gindo a maior ateução,à medida que recoustituimos,pouco a ponco'Viv.Os mais ,P.'Óx.mos, ~d:~ :"iro;'entos ete. Nenhum sni,?a!, os a hi.tória da evoluçãoflrica do homo "'piem. Constitui caracterio- . de adotar sunholos, de Ia nc e sequer reaIixaralgo que d.sso tica peculiar da ciência variada, que é a Antropologia americana,o 'dos que existematuahn"àte, c~...go.. dos pri;'at'" empreendeu,mes- lato de que o t<iunCode um de seu. ramos venha, justamente, expor "aproxime, Um ~I . e os .~soem seu lar, como se lôsse um os fracasso.dos outros,e . assimmesmoqUe" coustróia Ciência. . r mo, a heró"a ,:"peneu~ de cn.%t.amum chimpanzé quemde- a aceita para o problema da origem da cultura tem sido solução mais, ~ Nos últimos cinqüenta anos, mais ou menos, a a teoria que moãozinho aadoovo 'li.ICU a e, mesm~ educação e cuidado que s~ ram, com maIOrd Idadqnea ) ;. ~IJ..
  • 3. '--.- -" , .D.! ~ 35 34 PANORAMA DA ANTROPOLOGIA ~ A TRANBIÇAO pARA HUMANIDADE " dá a uma .criança. Entretanto, embora b' , . . .' d . 1- boa quantidade de coi,as nada o um chimpanzé(como utili- c Imp:mzetenba aprendido ," - d reumam-oe " a Psicologta teoria do "ponto crítico"da Etnologta d ' para apoiar aComparada, a Semântica e ' aorigem da cultura, zar um revólverde água tirar co~um ad ' h " ,,"' P " arafuso ' e " - momento ' de g'ória'ampa e latas com uma c ave de a ' - puxar um bnnqued . ' ;' Um dos ramos da Antropologia, porem, uao ve.o ar apo'o a no Por m d se quer, ~ ap!endera falar, e, também ima 'nário) ,n~ CIO e um cordão iocapazde f;;ar I o começou, Imagma- essa teoria - por a I'.aIe<mtologtaHumana, ~s~oe,~.a..ev,!!,!ç'!.o. . ' ' ' .~umaoa meioda d"",-o~er!'! ,da anábsede r.,los fóssel'.Desde ~ por sua !rIDahumana, meoos ágil porém' ' ogo fm ultrapassado. f 1 qú.'o original médico 1891 a J)u!IotS encontroUd 'ialota cerebral "avanês" em Eogene Antropologia Física Histórica dvem a a desenvolver-separa chegar ou: dia' e e seloquaz, 9ue continuou' ,;lIa" P~e~umIr,a elaborar um rio } do pi'hecan'h,opus ereelUS,o "homem-macaco ereto', no leito de complexas teorias sôbre a singularidade d a con dlçao hum Em segundo lugar a r ana. I acumulando constantemente, dados que tornam ca a vez:{'latS IIC. " h tomamos por base 'a Anatomia.' Apesar de algumast tlmldas tenta- b ' b 1 ti , ' p:u=m ser, no cam~ pur::::'Ó ' - .a abstração,..a~i~boli~ç.ão gIC9, ass~t.os b~m definidos' .. "'''' ' I traçar uma' linha divisória ' Rnitida entrel" homem e nã~-ti.omem, se I "d d d sim d ' diante dos quais é necessári dIzercIaramente - - o " ou fala ou nao fala' ou fabri ca Instrumentos ou na9!!-!!!!Q; lguéni . ' ~"' Im agl na d emomos ou não os imag " ' o f ba . ina N'ao podemoso,nem nca; ou ' a mesmo I 'I. " dutahumana Perfeitamente .con cere ra ' - 1 tivas para estabelecerum ' udesenvolvida, tal como amanI o brotou um Atenas cn C<J de cérebro, que, uma vez atlngt o, prooUZlssea capaCl a e e cou- , conceber a existência de uma mela-re li aião" I ,,' .- ' , li mCI~- nguagem, pois que o pro ~. ' uma me.a-arte, uma da testa da Zeus o P'onto' em que afirmações categóricas sôbre o as d.scobertas dos estudIOSOS Pa eonto ogta de , cia humana até ~OSlçãode um sistema da signi';ssO Icaçoes simbólicas as origina, à rea- :Sse~ClaI 9ue arbitrário a im- I r têm, pouco a pouco, fóssil por fóssil, traçado claramente a ascendên. hdade, não é" do tipo que ossa ser ' ' ; ' " " pr<wesso haVl~ na passage':: da sim l;eaI.~~o peJa metade. - O " . que é ou não ~orpo human? formou-se aOSpoucos, quer essa ~r- afi~ar 'l?e o, humano tomam-se puram"'" arb.tránas. podem?, respostas"condlc~onadas ',«:?9.com orta~e s atividade ref,le:1t:a .para as , , maçao seja válidaa em relaçao à mente ousensacionais fósseis d nao. Em relação êsse assunto, os mais alma humana, quer desco- " a detCrtJlJn!!!!Q unI, e dai para ~. 'ens nto co~plexo. em~",posta m d rado como uma série de saltos e nã~ coaIDentostmbóhc(),}oi enca- m,,?um processo contínuo e ascendente, 'Entre a percepç ão da "rel açao natural exist t entre ' ' , q têm sido os achados na de "homens-macacos" ,'",' es C que bertos ue vêm sendodiversos tiposÁfrica onental e do sul,australopte- e ' ,-, ..ene "' I ..'cos , ' nuvens escuras e chuva e o estabelecmento d " l ça b na . entre nuv~~ escuras e desespêro não h e uma rela o ar .tra- i Raymond DarI desenterrou Q primeiro, em 1924, no Transvaal. ons- qu..squer estagtos intermediários. ouv. - pensava"'e - i tituindo, certamente, a maior descoberta da história da pa!eontologia .- - . Havia ainda, em terceiro lu d . umdadapslq.ulca homem".~' 0ro:;'cadoproblema chamada! do ~ 1 Humana, ê<sesfósseis, que devem datar de 750000 a I 750000 anUS a.trás, colocam.diante. d~. Uó, imP~ssionante mosaico de .caracteIb- a tese - hOJepràticamenteace't perna estava.relaclonado com ~ Ucas morfológu:as prmntivase m... avanç~das,das qu... as m..s se preze - que declara não h~v~'p0ra qualqu~r antrupolugista que 1 interessante' são a formnção da polve e da perna, nltldam.nte seme- I do se adm.te que "cultura sur raç.. r.;des dtfe.reuçasna natureza Se process.omental das várias . as lhantes às dos homem moderoo, A tendeneta IDIÇlaI conmderar superior à do macacos atu..s. e a ~pa~id~d~. crani.ana, "'UCO '' anas aJO'tentes atualmente. fOI . ,/ i m~tu ade um periodo anteri;'u a~ ;~.c.o da e~ determinado mo- entllO referida tese toma-se r Ja ;o~pleta, diferenciação racial ,. i que essa estranha conjunção, num só animal, de um sistema de loco- moção bipedal "tlpo homem", e de um cérebro "tlpo macaco", indi- " ' ' nha-se a impressão de que lav.;.er ,o problema SImplesdedução. Ti: a~ a eira por de que poderia haver ' i cava que osfadada à extinção, independenteuma linha linhaevolução aberrante e australoptecOSrepresentavam tanto da de humana dIferençasna capacidadede adqUlnr cultura d d f ' de . ho m~ deos, ISto é, dos vários ti os d " . " as ,~erentes espécies como da autor grandes lenda da mitologia grega, segundo a qualmUltorei dos . . . o dos alude à sIm'os. É melhor ser um macaco Zeus, aper- e,}á extintos - era levantar ta p e homem então existentes ,i deuses, acometido de violenta dor de cabeça, ordenou ao deus Vulcano que lhe diferentes raças humanas d I problema, também, em relação às vibrasse um golpe de malho na testa. Vulcano obedeceu, e do crânio de Zeus ! saltou, armada de escudo e lança, sua filha Palas-Atenas, deusa da guerra e da tên~ia de tais diferençasme~t;~nas; e ,c?mo as provas da não-exis- sabedoria. (N.T.) saplens eram, e são, esmagadoras, a v~n?s grupamentos do Assim, os hlpotese parecia falsa, homo "" I ;r, ,," , l", .
  • 4. ,,-~ iT~""'~ I ~I. 37 36 PANORAMA DA ANTROPOLOGIA A TRANSIÇAO PARA HUMANIDADE feiçoado, do que meio-homem, disse certa vez Ernest Hooton. A posteriores alterações n.0,sistema nervoso. O fato de ser errônea essa opinião atual, porém, é de que tais criaturas representaJ!1 as mais teoria, ao que pare~eL(pois o desenvolvimento cultural já se vinha antigas formas conhecidas do processo de evolução que produziu, processando bem antes de cessar o aesenvolvimento orgânico )~é de por fim, o homem moderno, ~ p-ar.!ir--~I:: ,uJ!1a..ra.ç!lÇoIDum,~k,sfl1J!o.s. , importância fundamental para nosso ponto. de vista sôbre 'a natureza Nesses bizarros semi-homens, encontram-se as raízes de nossa própria do homem, ,gue~..ton1:~. assim, não apenas o prod':1tor da cultura, e completa humanidade. fIl3.-stambém, num -sentido especificamente' biológico, o pródüto da Meu interêsse em tratar, aqui, dêsses "homens-macacos" é mo- cultura. ' ,,' , . tivado pelo quesuil existência implica para a t~9ria qq "ponto crí- Na verdade, oppo. de pressões seleti,vas,que ocorreratn durante ttco" da origem da cultura. ':E:s$es prato-homens, mais ou menos as fases terminais da evolução do ànim~l humano foi parcialmente eretos, dotados de pequenos cérebros, não necessitando de utilizar as determinado pelas fases iniciais do desenvolvimento da cultura hu- mãos para a locomoção, manufaturavam instrumentos e provàvel- mana, e não simplesmente pelos fatôres do meio ambiente. A de- roente caçavam pêquenos animais, ou, pelo menos" alguns dentre êles o faziam. Parece, entretanto, altamente improvável que tais pendência dos instrumentos manufaturados, por exemplo, exige o desenvolvimentoda destreza manual e da pontaria. Num grupo de criaturas pudessem ter tido um desenvolvimento cultural comparável, australoptecos, um indivíduo mais bem dotado dessas características digamos, ao dos aborígines australianos, ou que possuíssem uma lin- teria uma vantagem seletivaem relação a outro que não fôsse tão bem guagem, na moderna acepção da 'palavra, tendo, como tinham, um dotado. Caçar pequenos' animais com armas primitivas requer, entre cérebro que media, apenas, cêrca de 1/3 do tamanho do nosso. O outras coisas, grande paciência e persistência. O indivíduo mais australopteco parece ser, portapto, uma espécie de "homem" que, dotado dessas sóbrias virtudes levari.a uma vantagem em relação a evidentemente, ,era capaz de adquirir alguns elementos de cultura outro mais irrequieto e inconstante, menos dotado delas. Tôdas essas - fabricação de instrumentos simples, caça esporádica, e talvez um aptidõe~,habilidades, disposições, ou como quer que as chamemos, sistema de comunicação mais avançado do que o dos macacos con- temporâneos, emborá ma~s atrasado do que o da fala humana,-, dependem, por sua vez, do desenvolvimento dI:?sistema nervosO. Dessa maneira, a introdução da manufatura de insrumentos e da porém incapaz de adquirir qutros, o que lança certa dúvida sôbre a câça 'deve-ter' alterado o curso das pressões seletivas, de modo a teoria do "ponto crítico' O que se supunha improvável, ou mesmo favorecer o rápido,de,senvolvimento lobo frontal do cérebro, como do logicamenteimpossível,tinha sido empiricamenteverdadeiro: ta!.como ~'fizeram, muito provàvelmente, os progressos na organi,zaç~osocial, i o próprio homem, a capacidade de aquisição de cultura surgiu gra- nâ' comunicação, as ):lorrrias moral que n de - há razões que nos dual e continuamente, pouco a' pouco, durante ,longo período de tempo., . levam a crê':'lo - tambéfll ocorreram durante êsse período demu- danças culturais e biológicas inter-t:.elacionadas. , A situação, entretanto, tbrna-se ainda mais difícil, pois se os australoptecos possuíam forma elementar de cultura (denominada, Grande parte do tr!lbalho, nesse setor, é claro, é ainda especula- por um antropologista, "protoêultura"), com um cérebro que media tiva, e o que estamos co~eçando a fazer é muitp mais levantar ques- 1/3 do tamanho do nos~o, segue-se, logicamente, que a maior parte tões do que, propriamente, responder a elas. O estudo sistemático do crescimento cortical hUIUanofoi posterior, e não anterior ao "iní- da conduta dos primatas, em seu habitat natural, por exemplo, que cio" da cultura. O hom~m era considerado, pela teoria do "ponto- tanta influência tem exercido em nossas interpretações sôbre a vida ,. crítico", como quase completo, neurologicamente,pelo menos, antes f dos homens primitivos, mal data de uma década, com poucas ex- que a cultura tivesse começadq a se desenvolver, isso porque a capa- ceções. A documentação relativa aos' fósseis cresce em proporção cidade biológica necessária à aquisição de cultura era tida como tão extraordinária, os métodos para a determinação da idade tor- algo que não admitia meio-têrmo; uma vez adquirida, era-o por nam-se dia a dia t&o minuciosos, que só um imprudente tentaria completo; tudo mais era II1era adição de novos hábitos, ou desen- formar opiniões definitivas ~ respeito de determinadas questões. volvimento dos antigos. A eyolução orgânica ia até certo ponto, e Pondo de parte, porém, os detalhes, as provas e as hipóteses especí- então, uma vez cruzando o Rubicon cerebral, tinha lugar a evolu- ficas, o fato essencial é que a constituição genérica e inata do homem ção cultural, processo autônomo, nem dependente nem produtor de moderno, (o que antigamente, quandQ as coisas eram mais simples, .. :~
  • 5. " ~ ,/ /' , !! 38 PANORAMA DA ANTROPOLOGIA A TRANSIQAO PARA HUMANIDADE 39 Ii 'i se chamava "natureza humana"t parece-nos, agora, ser tanto u~ mulação das considerações teóricas sôbre as quais se apoiava, ante- 11 produto cultural quanto biol6gico~ riormente, a teoria do pOQtocríti~o. ficou evidente, agora, que o - , :1 'I '. "E, provàveImente, mais correto escreve o antropologista argumento da Psic910gia Prima~a Çomparada, por exemplo, esta.: I f físico Sherwood Washbum - encararmos nossa estrutura (física) como sendo, em grande medida, o resultado da cultura, em vez"de belece não a singularidade do homem moderno, mas sim o caráter distinto da linhagem hominídea, que tem de cinco a vinte e cinco' I r imaginarmos homens,' anatômicamente semelhantes a nós, descobrin- milhões de anos, e da qual o homem moderno é, apenas, o resul- j do, passo a passo, a cultura." O refrão "o homem se faz por si tado final e: casualmente, o' único 'representan,te vivo, mas que: I ! ! originalmente. pr6prio" adquire, agora, significação mais literal do que o suposto inclui inúmeras espécies de animais diferentes, hoje extintos, e todos muito mais "próximos" do ho~em do que qualquer dos macacos) ~ A idade glacial, que produziu modificações rápidas e radicais atualmente existentes. O fato de que' chimpanzés não falam é in..- no clima, nas forma~ões terrestres e na vegetação,.11ámuito vem teressante, e também importante; mas concluir, daí, que a fala é sendo considerada como ulp p~ríodo e,Wque houve condições ideais um fenômeno que não admite meio-têrm9 seria o mesmo que supor para um mais rápido e eficiente desenvolvimento evoJutivo do ho- que a girafa, já que é o único quadrupede dotado de tão grande meJ]]. Parece-nos, agora, que' êsse período também foi o em que pescoço, deve tê-Io adquirido por uma espécie de esticamento. Os o meio cultural passou a suplementar, cada vez mais, o meio am- grandes símios podem ser os parentes mais próximos do homem, biente natural no processo seletivo, intensificando, de maneira sem mas "próximo" é, também, para fazermos um trocadilho, um têrmo precedentes, e fazendo avançar aceleradamente o processo de evolu- relativo.* Em se considerando uma escala de tempo que corres- f ção do ser humano. Não parece tratar-se, unicamente, de' uma I ponda à realidade, os sÍmios não estão, de forma alguma, assim tão época em que se deu o desaparecimento das saliências frontais e a j próximos de nós, uma vez que o último antepassado comum viveu diminuição' da mandíbula, mas sim de uma época em que foram f há, pelo menos, cinqüenta mil séculos passados, no período denomi- forjadas, quase_.~ôdas as, características mais tipicamente humanas: nado pelos geólogos Plioceno, e talvez, mesmo, ainda há mais iodu--õ sistema nervoso,encefálico do homem, sua estrutura social tempo atrás. ' baseada na proibição do incesto e sua capacidade de criar e utili- , Quanto ao argumento lógico, também sôpre êle pesam dúvidas, zar símbolos. O fato de terem essas características distintivas da presentemente. O crescente interêsse, que ràpidamente se vem desen- -human'idadesurgido ao mesmo tempo, e em complexa interaçâo, e , volvendó, em relação à .comunicação, cdnsiderada como processo geral, não umas após outras, como durante tanto tempo se supôs, é de e que se. vem manifestando há uma ou duas décadas, em diversas .sxcepcional importância para a interpretação da mente humanaÍpois disciplinas, desde a Engenharia até a Etnologia, veio, por um lado, ~j !parece indicar que o sistema nervoso do homem não só o )ôrfia apto a adquirir cultura, Co reduzir a}a.l~_.~, _I!P~J}~~, Jl1ecapjsma., embora,reconhecida- _u~ ==", /o homem ~ adquira essa cultur~. também exige, para funcionar, que A cultura, portanto, não agiria ape- lias suplementando, desenvo do e ampliando capacidades depen- dentes do organismo, geneticamente anteriores a ela, mas seria uma mente, de alta flexibilidade e eficiência - ,entre os muitos existeQtes para a transmissão' do p.t:nsamento, e, por Qutro lado, forneceu",nos uma base 'teórica; ~de--ácõrdp' com a qual é, possível conceber--uma série de etapas progressivas, que' nos teriam conduzido, .fi,~,I!!w..~nte, componente dessas próprias capacidades. Um ser humano despro- à fala humana. ' vido de cultura não seria um macaco intrinsecamente talentoso, em- Não nos ocuparemos, aqui, com' essa pesquisa, mas, apenas bora sem ter êsse talento desenvolvido,mas sim um ser inteiramente para dar um exemplo, diremos que um lingüista comparou oito dife- desprovido de mente, e, conseqüentemente,uma monstruosidade ina- rentes sistemas de comunicação, desde a dança das abelhas, a ma- proveitáveI. Tal como o repôlho, com o qual tanto se parece, o neira pela qual os peixes fazem a côrte, o canto dos pássaros, até cérebro do homo .rapiens,tendo-se desenvolvidona estrutura cultural ,humana, não seria viável fora dela. os gritos dos gibões, à música instrumental e à linguagem humana. Em vez de fazer girar tôda sua análise em tôrno da distinção ~ Muitas são as implicações desta revisão da teoria da transição para a humanidade, das quais mencionaremos apenas algumas, neste * A palavra relative significa, em inglês, tanto "parente" como "relativo". artigo. Por um lado, tal revisão obrigou à reinvestigação e refor- dai o trocadilho.
  • 6. . '-:....--. . '---:-' ~ ;- f : , 41 .( A TRANSIQAO PARA HUMANIDADE 40 PANORAMA DA ANTROPOLOGIA r simplista, e já agora um tanto "batida" demais, sinal símbolo, dis- medida que o homem criava seus ~nstrumentos,longe de enfraquecer tingue êle treze características principais da linguagem, e procura, . a doutrina da unidade física, torna-a ainda mais explícita e' espe- de acôrdo com elas, analisar as diferenças existentes entre a comu- cífica, conferindo-lhe base histórica real, que anteriormente lhe nicação humana e a subumana, de maneira ~ais precisa, e traçar faltava. Mais importante, porém, que a revisão ou reinterpretação das a {>rovávelrajetória seguida, desde que se iniciou o desenvolvimento t I gradual da fala, a partir da protofala, durante a era glacial. Esse antigas teses, necessária à teoria que considera a relação entre' a tipo de pesquisa, também, está, ainda, apenas no início, mas, parece, evoluçãoda anatomia do homem e a origem da cu1tur~humana como estamos chegando ao fim da época em que a única coisa aproveitável relação mais sincrônica do que sucessiva, são as implicações dessa que se podia dizer, quanto às origens da linguagem, era que, assim teoria para uma nova maneira de. encarar a própria cultura. como todos os sêres humanos a possuem, todos os não-humanos, Se o homem cresceu, por assim dizer, no contexto de um am- . por sua vez, são desprovidos dela. biente cultural em desenvolvimentQ,então êsse ambiente dev~ ser Finalmente, a postulação da existência de diferenças na capa- encarado não apenas comó mera extensão,~xtra-somática, uma espé- cidade de adquirir cultura, entre os diversos tipos de proto-homens, ~ie de ampliação artificial d~ capacidades inatas já existentes, mas não vem contradizer o fato comprovado de que não há diferenças sim como um fator indispensável da existência dessas próprias significativas na capacidade mental inata das várias raças humanas capacidades. atuais, mas, pelo contrário, vem apoiar e fortalecer as afirmações O fato, agora evideI).te,de que os estágios finais da evoluç~o nesse sentido. f As diferenças físicas das raças humanas constituem, biológica do homem ocorreram após os estágios iniciais do desen- está claro, qualquer coisa de muito recente, tendo tido início, pro- volvimento da cultura implica, como já fizemos notar, que natureza vàvelmente, há apenas 50 000 anos, mais ou menos, ou seja, segun- humana "básica", "pura" ou "incondicionada", no sentido de cons- do as mais conservadoras estimativas, menos de 1/100 do período tituição inata do homem, é noção tão funcionalmente incompleta, de duração de tôda a linhagemhominídea, isto é: a linha de formação que chega a ser inutilizável. do homem.I Assim sendo, não só um processo comum de evolução Instrumentos, caça, orgánização familiar e, posteriormente, ocupou imenso períado da história da humanidade, como também arte, religião é certa forma primitiva de "Ciência", moldaram o ho- :1 êsse período parece ter sido, precisamente, aquêle durante o qual mem somàticamente, sendo, portanto necessários não só à sua sobre- foram forjadas as características fundamentais da natureza humana. vivência, ~as também à sua' realização existencial., :B verdade que, As raças modernas são, justamente, isso: modernas. Represen- sem o homem, não haveria formas de cultura; m'as também é ver- . .. tam adaptações, muito recentes e secundárias, da côr da pele, da dade que sem formas de cultura não haveria o homem. estrutura facial etc - sem dúvida adaptaçõesàs diferençasclimá- Tôda a estrutura de crença, expressão e valor, em que vivemos, ticas, principalmente - que se processaram quando o homo sapiens fornece-nos os mecanismos para uma conduta ordenada, mecanismos se dispersou pelo mundo, por volta do fim do período glacial. Tais êsses geneticamente estabe'ecidos no corpo dos animais inferiores, adaptações são, portanto, tôdas elas, subseqüentes ao processo bási- porém não no nosso. A singularidade da natureza humana tem co formativo do desenvolvimentoneural e anatômico, ocorrido desde ~i4o,muitas vêzes',expressa em têrmos de quantas e quão diferentes o início da linhagem hominídea, até o aparecimento', de cinqüenta coisas o homem é "capaz de aprender, e, embora a existência de a cento e cinqüenta milênios atrás, do homo sapiens. chimpanzés que aprendem a brincar com brinquedos imaginários nos Mentalmente, o homem foi formado na idade glacial, e a fôrça possa criar alguma incerteza, essa formulação ainda é bastante válida, realmente decisiva, que plasmou e produziu a singularidade da natu- Entretanto, talvez 19~ importância teórica fundamental' ainda maior reza humana - a interação das fases iniciais do desenvolvimento I ~ o quanto. o home:tI1tem que aprender. Sem os padrões orienta- cultural com as fases culminantes da transformação biológica - I oores da cultura humana, a vida intelectual do homem seria, apenas, é parte do passado comum de tôdas as raças modernas. Dessa -~ um zunido, uma confusão ruidosa, como a denominava William maneira, a teoria de que a capacidade de conseguir cultura não James; a cognição, no homem, depende, de tal maneira, da existên- brotou, já totalmente desenvolvida, em determinado momento, mas cia de modelos simbólicos externos da realidade, que não pode ser que foi sendo forjada por longo período, na idade da pedra, à . comparada à de nenhum macaco. Emocionalmente, dá-se o mesmo. . r
  • 7. ~ I . " , . 1 43 i 42 PANORAMA DA ANTROPOLOGIA A TRANSIQAO pARA HUMANIDADE Sem a orientação das idéias comumente aceitas, encontradas nos l publicado por Meggers, B. em Evolution and Anthropology: a Cen- ritos, no mito e na arte, não saberíamos, literalmente, como sentir. tennial Appraisal (Washington, D.C., Atithropological Society of Tal como o. próprio cérebro anterior expandido, as idéias e emo- , Washington, 1959), é também útil em relação ao assunto. Bom ções são, no homem, artefatosculturais. . resumo, feito em têrmos simples, da teoria que admite a relação Essas afirmações prenunciam, na nossa opinião, uma revisão 1 entre o uso de instrumentos e a mudança neurológica, pode ser en- fundamental na própria teoria da, cultura. Estamos caminhando para, contrado em' Washington, S.L., "Tools and' Human Evolution", nas próximas décadas, encararmos os padrões culturais considerando, Scientific American, setembro de 1960, págs. 62-75, sendo que, aliás, cada vez menos, a maneira pela qual êles se impõem à natureza I tôda essa edição especial, ''The Human Species", é importante. Fi- humana, atualizando-a para melhor ou para pior; considerando-os, nalmente, devo esclarecer que os argumentos aqui apresentados fo- cada vez menos, como uma acumulação de engenhosos estratage~s I ram por mim desenvolvidos mais extensamente e de forma mais para expandir capacidades "inatas pré-existentes, e, cada vez mats, técnica em "The Growth of Culture and the Evolution of Mind", como parte dessas próprias capacidades; considerando-ós, cada vez Scher, J. (ed), Towarda Dejinitionof Mind (Nova lorque: Free menos, como uma massa superorgânica de hábitos, e, cada vez mais, Press, a ser publicado), e que, para o presente capítulo, adaptei segundo a brilhante expressão do falecido Clyde Kluckhohn, como diversas passagens dessa obra. . projetos para a vida. O homem é o único animal vivo que neces- sita de tais projetos, pois é também o único animal vivo a p.ossuir. tal história evolutiva, que seu ser físico foi, em grande parte, mol- dado pela existência dêsses projetos, sendo, portanto, irrevogàvel- mente por êles qualificado. À medida que se fôr reconhecendo tôda a importância dêsse fato, irá desaparecendo o antagonismo entre a teoria que considera o homem apenas como um animal ta- lentoso e a que o considera um animal inexplicàvelmente único, juntamente com as concepções errôneas que deram origem a tal antagonismo. NOTA BIBLIOGRAFICA A exposição de Kroeber da teoria do "ponto crítico" será en- contrada em sua obra Anthropology (Nova lorque: Harcourt Brace, 1948, págs. 71-72). Uma formulação um tanto diferente e mais ousada da mesma teoria, enfatizando a descontinuidade entre o uso do símbolo e as outras formas de pensamento, pode ser encontrada em White, L., The Science of Culture (Nova lorque: Grove Press, 1949). Para breve discussão dos australoptecos e sua significação, vide Leakey, L.S.B. "The Origin of the Genus Homo", em Tax, S. (ed), The Evolution of Man (Chicago: University of Chicago Press, 1960, págs. 17-22), e Washburn, S.L., e F. Clark Howell, "Human Evolution and Culture", no 'mesmo volume, págs. 33-56; alguns co- . mentários a respeito das realizações culturais dos australoptecos J podem ser encontrados em Hallowell, A.I., "Self, Society and Cultu- re in Phylogenetic Perspective", ibid, págs: 309-372. O artigo de HaIloweIl, "Behavioral Evolution and the Emergence of the Self",'