Este documento discute a terapêutica farmacológica nas perturbações do espectro autista. Aborda três categorias terapêuticas: terapêutica específica para doenças associadas, terapêutica sintomática e terapêutica inespecífica do autismo. Dentro destas categorias, descreve vários medicamentos e suas indicações terapêuticas, como neurolépticos típicos e atípicos, ISRS e antidepressivos tricíclicos.
Terapia farmacológica nas perturbações do espectro autista
1. Terapêutica Farmacológica nasTerapêutica Farmacológica nas
Perturbações do Espectro AutistaPerturbações do Espectro Autista
Unidade de Desenvolvimento
Leonor Real Mendes, Armando FernandesLeonor Real Mendes, Armando Fernandes
Serviço de PediatriaServiço de Pediatria
Hospital Santa MariaHospital Santa Maria
2. §DSM IV - Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais,
4ª edição (Academia Americana de Psiquiatria) - 1994
§ICD 10 - Classificação Internacional de Doenças
(Organização Mundial de Saúde) - 1993
§ 3 Alterações Major:
• alteração qualitativa da interacção social;
• alteração qualitativa da comunicação (verbal e não verbal);
• padrões de comportamento, interesses e actividades repetitivas,
restritos e estereotipados.
Início precoce (30-36 meses)
Autismo ou Síndrome de Kanner
3. Perturbações que partilham características com a síndrome “central” do autismo
sem preencherem todos os seus critérios:
Perturbações do espectro autista
=
Contínuo Autista
=
Alterações pervasivas do desenvolvimento
Englobam:
üAutismo
üSíndrome de Rett
üSíndrome de Asperger
üSíndrome de Heller
üOutras perturbações não especificadas (incluindo autismo atípico)
Perturbações do Espectro Autista
4. Etiologia
üGrupo heterogéneo de indivíduos com manifestações semelhantes,
mas etiologias biológicas múltiplas
üCorresponde a uma verdadeira síndrome (conjunto de sintomas
e de sinais de etiologias diferentes)
2000 Gillberg
ü Base genética: várias mutações? (C4B – Cr6; SPCH1 – Cr7)
ü 80% congénito - 1989 Wing
ü Envolvimento do Sistema Dopaminérgico
ü Hiperserotoninémia
ü Desequilíbrio de endorfinas
Perturbações do Espectro Autista
5. Diagnóstico
üClínico
üEscalas de pontuações
v Childhood Autism Rating Scale (CARS)
v Gilliam Autism Rating Scale (GARS)
v Autism Behavior Checklist (ABC)
v Autism Diagnostic Interview (ADI)
v Autism Diagnostic Observation Scale (ADOS)
v Checklist for Autism in Toddlers (CHAT)
üInvestigação etiológica (SXF? => Genética, etc.)
Perturbações do Espectro Autista
6. Intervenção
üObjectivos principais:
Melhoria da socialização, da autonomia e da
comunicação, permitindo a integração plena na
comunidade, e a aquisição de autonomia social, da
escolaridade e da profissionalização.
üEquipa multidisciplinar
Perturbações do Espectro Autista
7. Intervenção
üIntegração em estabelecimento educativo regular com
programa de intervenção precoce (tipo "Treatment and
Education of Autistic and Related Communication-Handicapped
Children" (TEACCH) ou afim) e/ou apoio educativo;
üTerapia da Fala (incluindo a comunicação aumentativa e a "terapia pelo
jogo");
üIntervenções comportamentais (incluindo as tarefas sociais);
üFavorecimento dos comportamentos convencionais desejados e, eventual,
encaminhamento das alterações comportamentais => Psicologia e/ou
Pedopsiquiatria.
Perturbações do Espectro Autista
8. Perturbações do Espectro Autista
Intervenção
üAvaliação regular por Oftalmologia e por ORL;
üApoio familiar e comunitário (contacto com a Sociedade Portuguesa de
Autismo -Tel. 21 361 62 50), e com o Secretariado Nacional de Reabilitação -
Linha Directa: 21 795 95 45).
üPonderar avaliações mais específicas: CARS, PEP-R, entre outras.
üManter o seguimento pelo Médico Assistente e os apoios já existentes.
üTERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA
9. Terapêutica Farmacológica
Nunca isoladamente !
Acompanha o programa educação / intervenção
• Três categorias terapêuticas:
v Terapêutica específica para doenças que cursam com autismo
v Terapêutica sintomática
v Terapêutica inespecífica do autismo
10. Terapêutica Farmacológica
1-Terapêutica específica para doenças que cursam
com autismo
•• D. BipolarD. Bipolar AutísticaAutística InfantilInfantil
Fluoxetina (Prozac®)
Lítio (Priadel®)
CBZ (Tegretol®); Valproato (Depakine®) (estabilizadores do humor)
Buspirona (Ansiten®); Risperidona (Risperdal®)
•• Autismo por alterações do metabolismo da PurinaAutismo por alterações do metabolismo da Purina
Dieta restrita em purina
Alopurinol (Zyloric®)
•• Autismo por fenilcetonúriaAutismo por fenilcetonúria
Dieta restrita em fenilalanina
11. Terapêutica Farmacológica
• Hiperactividade, impulsividade, desatençãoHiperactividade, impulsividade, desatenção
ü Metilfenidato (Ritalina ®)
ü Respiridona (Risperdal®)
ü Clonidina (Catapresan®)/ Naltrexona (Antaxone®)
ü Bromocriptina (Parlodel®)
•• Perturbações do sonoPerturbações do sono
ü Niaprazina
ü Melatonina
ü Benzodiazepinas
•• Comportamentos agressivosComportamentos agressivos
ü Propranolol (Inderal®)
ü Clonidina (Catapresan®)
ü Buspirona (Ansiten®)
ü Risperidona (Risperdal®)
2-Terapêutica sintomática
12. Terapêutica Farmacológica
•• AutomutilaçãoAutomutilação
ü Naltrexona (Antaxone®)
•• ComportamentosComportamentos pervasivospervasivos
ü ISRS (Fluoxetina (Prozac®), etc.)
•• EstereotipiasEstereotipias
ü Clomipramina (Anafranil®)
•• ConvulsõesConvulsões (em 25(em 25--33% dos doentes com perturbações do espectro autista)33% dos doentes com perturbações do espectro autista)
ü Valproato de sódio (Depakine®)
ü Carbamazepina (Tegretol®)
2-Terapêutica sintomática
13. Terapêutica Farmacológica
3-Terapêutica inespecífica do autismo
a) – Neurolépticos típicos – Haloperidol (Serenelfi®)
üConsiderado, no passado, o único medicamento que
poderia modificar os sintomas centrais do autismo;
üAntagonista dos receptores D2 da dopamina;
üMelhoria dos sintomas: Hiperactividade, impulsividade,
agressividade e estereotipias;
üEfeitos secundários: § sintomas extrapiramidais (mov. distónicos, crises oculógiras e
discinésia tardia);
§ efeitos anticolinérgicos;
§ hipotensão ortostática;
§ arritmias;
§ alts gastrointestinais, endócrinas e hematológicas;
§ síndrome maligna dos neurolépticos (febre, rigidez e CK ↑↑).
14. Terapêutica Farmacológica
3-Terapêutica inespecífica do autismo
b) Neurolépticos atípicos
(Risperidona (Risperdal®), Olazanpina (Zyprexa®), Clozapina (Leponex®),
Tiapride (Tiapridal®))
üAntagonistas dos receptores da dopamina e da serotonina;
üMelhoria dos sintomas: Comportamentos repetitivos,
agressividade, ansiedade, depressão e irritabilidade;
üEfeitos secundários: § aumento de peso;
§ hepatotoxicidade;
§ efeitos extrapiramidais menos marcados (que os neurolépticos
típicos);
§ risperidona + valproato edema;
§ risperidona + I.S.R.S. enurese.
15. Terapêutica Farmacológica
3-Terapêutica inespecífica do autismo
b) Neurolépticos atípicos
(Risperidona (Risperdal®), Olazanpina (Zyprexa®), Clozapina (Leponex®),
Tiapride (Tiapridal®))
“ ...está a ser usada em crianças com apenas 23 meses para melhorar
a sua interacção social e reduzir a sua agressividade... “
Posey et al. 1999
“ ...eficaz e relativamente segura no tratamento a longo prazo das
alterações comportamentais observadas nas crianças e adolescentes
autistas. ”
JJ Child Adolesc PsychopharmacolChild Adolesc Psychopharmacol 2000; 10(2): 792000; 10(2): 79--9090
16. Terapêutica Farmacológica
3-Terapêutica inespecífica do autismo
b) Neurolépticos atípicos
(Risperidona (Risperdal®), Olazanpina (Zyprexa®), Clozapina (Leponex®),
Tiapride (Tiapridal®))
üAntagonista dos receptores adrenérgicos, colinérgicos,
histaminérgicos e serotoninérgicos;
üMelhoria dos sintomas: Hiperactividade e agressividade;
üPoucos estudos sobre o seu uso no autismo;
üEfeitos secundários: § agranulocitose;
§ crises convulsivas.
17. Terapêutica Farmacológica
3-Terapêutica inespecífica do autismo
c) Inibidores selectivos da recaptação da serotonina (ISRS)
(FluoxetinaFluoxetina ((ProzacProzac®), SertalinaSertalina ((ZoloftZoloft®),, FluvoxaminaFluvoxamina ((DumyroxDumyrox®),,
ParoxetinaParoxetina ((SeroxatSeroxat®)))
üPotenciação da neurotransmissão serotoninérgica;
üMelhora os sintomas “centrais” do autismo;
üMelhoria dos sintomas: Ansiedade, agressão, auto-agressão,
estereotipias e sintomas obsessivo-compulsivos;
üEfeitos secundários: § irritabilidade;
§ hiperactividade motora;
§ diminuição do apetite;
§ alterações gastrointestinais.
18. Terapêutica Farmacológica
3-Terapêutica inespecífica do autismo
c) Inibidores selectivos da recaptação da serotonina (ISRS)
üFluoxetina ((ProzacProzac®) – frequentemente mais activadora que os
outros ISRS – maior incidência de insónia e de hiperactividade;
üSertralina ((ZoloftZoloft®) – menor activação e hiperactividade, maior
incidência de náuseas e diarreia;
üFluvoxamina ((DumyroxDumyrox®) – maior sedação, maior acção nos
comportamentos compulsivos e obsessivos;
üParoxetina ((SeroxatSeroxat®) – maior sedação, maior incidência de
xerostomia e obstipação.
19. Terapêutica Farmacológica
3-Terapêutica inespecífica do autismo
d) Antidepressivos tricíclicos – Clomipramina (Anafranil®)
üEfeitos serotoninérgicos clinicamente significativos;
üEficaz nos comportamentos agressivos, auto-agressivos,
obsessivo-compulsivos, bem como nas estereotipias;
üPode baixar limiar convulsivo e ter efeitos taquicardizantes
– logo os ISRS são melhor alternativa.
20. Terapêutica Farmacológica
3-Terapêutica inespecífica do autismo
e) Terapêuticas controversas
üImunoterapia – evidência de disfunção imune em algumas
crianças com autismo;
üChoques Vitamínicos - ácido ascórbico, piridoxina (vit. B6),
magnésio...;
üAgonistas do glutamato;
üManipulação da dieta
üRestrição de leite (Callahan 1987, Braffet 1949)
üRestrição de trigo (relação com doença celíaca ?).
21. Prognóstico
üQG aos 5-7A <50
üAusência de linguagem aos 5-7A
ADULTOS TOTALMENTE DEPENDENTES
üQG aos 5-7A >70
50% ADULTOS INDEPENDENTES
üEpilepsia: pior prognóstico
üPrograma de intervenção
üDepende da situação de base
22. Conclusões
• Nenhuma terapêutica farmacológica mostrou alterar,
consistente e permanentemente, o curso das
perturbações do espectro autista;
• A medicação não é o tratamento principal na
perturbação do espectro autista, mas pode atenuar
sintomas específicos (agressividade, hiperactividade,
estereotipias, ansiedade…);
• Não há terapêutica farmacológica que substitua um
programa de educação/intervenção individualizado e
atempado.
23. ““ ...o autismo, embora possa ser...o autismo, embora possa ser
visto como uma condiçãovisto como uma condição
médica, também deve sermédica, também deve ser
encarado como um modo de serencarado como um modo de ser
completo, uma forma decompleto, uma forma de
identidade profundamenteidentidade profundamente
diferente...“diferente...“
Oliver SacksOliver Sacks
““ Autismo quer dizer queAutismo quer dizer que
uma pessoa é muitouma pessoa é muito
esperta em algumasesperta em algumas
coisas, mas precisa decoisas, mas precisa de
muita ajuda noutras...”muita ajuda noutras...”
Ms.Ms. FizzelFizzel´s 2nd Grade´s 2nd Grade
classclass -- 19971997