1. Curso de Escatologia (7)
O Juízo de Deus e o purgatório
Afonso Murad
(Material em elaboração)
2. O Juízo parcial na nossa
existência
O juízo já se exercita em parte
na existência:
Pessoal: avaliar minhas ações e
posturas.
Interpessoal: emitir juízo sobre
os outros.
Jurídico: com a mediação da lei.
Histórico: sobre acontecimentos,
pessoas, grupos e estruturas
sociais e culturais.
Mas, nossos juízos são limitados e
parciais.
3. O Juízo de Deus
O juízo de Deus não é um ato arbitrário e
meramente jurídico (heteronômico).
Não se trata de um mero autojuízo, e sim de
deixar-se confrontar com o amor e a misericórdia
de Deus (autonomia sob a luz divina).
O juízo comporta, portanto:
- Revelar algo que estava confuso ou escondido.
- Receber o dom de Deus, que ilumina e
transforma.
- Acolher o apelo de Deus à conversão.
- Unificar a existência
4. O juízo de Deus na Bíblia
O juízo está ligado à fidelidade à aliança.
Depende da atitude do povo (Dt 30,15-20)
Nos profetas, Deus é o juiz dos pobres e dos
oprimidos. Ele perdoa, recria os corações e a
mentes, e dá condições de uma nova sociedade,
ao mesmo tempo que combate a injustiça.
Nos Salmos, a pessoa perseguida e injustiçada
pede para que Deus a salve (Sl 7; 9; 26)
O juízo de Deus, portanto é salvador e libertador,
mas alerta os maus, fazendo ver que seu
caminho de vida é destruidor.
5. Que tipo de Juiz é Jesus ?
Jesus não aparece como juiz, mas como a mão
misericordiosa do Pai. Jesus quer trazer o ser
humano para o bem. Recria a cada um e as
relações humanas.
Jesus adverte que o coração fechado, o egoísmo
e a ambição impedem o ser humano de abraçar
a proposta do Reino e a acolher o terno calor de
Deus
O juízo de Deus se exercita a partir da
solidariedade (Mt 25) e da resposta ao confronto
com Jesus (Jo 3,16-21 e 6,24)
6. Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o
seu filho único, para que todo que nele acredita
não morra, mas tenha a vida eterna. De fato,
Deus enviou o seu Filho ao mundo não para
condená-lo, mas para que o mundo seja salvo. O
julgamento é este: a luz veio ao mundo... Quem
pratica o mal tem ódio da luz, para que as suas
obras não sejam desmascaradas. Mas quem age
segundo a verdade, se aproxima da luz, para que
se manifeste que suas obras são feitas em Deus
(Jo 4).
7. Textos bíblicos sobre o juízo de Deus
Javé espera a hora de mostrar piedade; ele toma
a iniciativa de mostrar sua compaixão para com
vocês, pois Javé é um Deus de justiça (Is 30,18)
Eis que Javé sentou-se para sempre, firmou o seu
trono para o julgamento. Ele julga o mundo com
justiça e governa os povos com retidão. Que
Javé seja fortaleza para o oprimido, força no
tempo de angústia. Em ti confiam os que
conhecem teu nome, pois não abandonas os que
te procuram (Sl 9, 8-10).
8. O juízo de Deus em Jesus: perdão e
confiança
Jesus é o juiz dos vivos e dos mortos. Todo
aquele que nele crer, receberá o perdão dos
pecados (At 10,42s).
Nisto consiste a perfeição do amor entre nós:
o fato de termos plena confiança no dia do
julgamento. Porque, tal como Jesus é, somos
nós neste mundo. No amor não existe medo;
pelo contrário, o amor perfeito lança fora o
medo, porque o medo supõe castigo. O que
sente medo ainda não é perfeito no amor.
Quanto a nós, amemos, pois ele nos amou
primeiro (1 Jo 4,17-19).
9. Como entender o Juízo de Deus hoje
O juízo de Deus é antes de tudo oferta de graça, em
Jesus. Ele nos desacomoda, nos põe em crise,
pedindo uma vida mais autêntica e generosa, na busca
de realização do Reino de Deus.
O juízo já começa na nossa existência e se consuma
no após-morte, quando poderemos ver toda nossa
vida em totalidade, sob a luz amorosa de Deus.
Juízo não quer dizer condenação, mas ir até a raiz das
situações, descer até a verdade que lhes sustentam.
Do ponto de vista de Deus, o juízo é oferta de
salvação. Mas o ser humano pode rejeitá-lo. Por isso,
em princípio implica também uma possível
condenação.
10. Purgatório: acesso humano
Experiências humanas positivas e purificantes, são
antecipadoras do purgatório:
Psicoterapia e autoconhecimento. Acesso à verdade
interior, superando os enganos. Dor e alegria de se descobrir e
se aceitar
Perdão
- Autoperdão: acolher sua fraqueza e integrá-la
- Perdoar e ser perdoado: reconciliação interpessoal
- Perdão de Deus: reconciliação com Senhor da Vida
Sofrimento
Quebra a auto-suficiência
Coloca-nos diante dos nossos limites
Gera mais capacidade de compreensão do outro
11. Purgatório: acesso humano
Sacrifício e penitência
- Exercício de saída de si
- Entrega a algo que lhe supera
- Priorização dos impulsos e tendências
O amor solidário
- Purifica da maior fonte de impureza: egocentrismo
- Implica saída de si, sem se perder
- Toca no centro da experiência de Deus
O compromisso social
- Supera os preconceitos sociais.
- Inicia novas estruturas e relações
Crises existenciais
- Perda, purificação e conquistas
12. Purgatório: reflexão teológica
Não existe dado bíblico direto sobre o purgatório. Não é
aceito pelos protestantes e ortodoxos.
A reflexão da comunidade eclesial teve longo processo,
consolidando-se no século XII.
Purgatório:
- Processo positivo de maturação total da vida na fé
- Processo de integração, na dor, daquilo que a pessoa
tem de resistente à graça de Deus
- Momento de purificação das imperfeições e
ambiguidades adquiridas na história, em vista do
encontro definitivo com Deus.
Neste caminhar, contamos com as orações dos outros.