O documento descreve as desigualdades sociais presentes no bairro da Pedreira em Belém do Pará. Grandes construções e empresas estão se instalando no bairro, atraídas pela localização, ao mesmo tempo em que casas humildes ainda existem. Ricos e pobres convivem lado a lado, revelando contrastes como carros de luxo e pequenas mercearias na mesma rua. Apesar dos investimentos, a pobreza continua sendo uma realidade para muitos moradores antigos.
1. Ano 1 nº 1
Jornal Laboratório da Turma de Impresso I 2011
Problemas e qualidades
relatados por quem vive
“Não só aqui, mas o bairro todo é uma contradição, com gente rica e gente
pobre andando na mesma rua”
Pág. 6
Campina
Terra Terra Firme, como todos
“O bairro da
Firme Barreiro
Quase todos os dias, o Barreiro,
os bairros de Belém, é um bom local de situado na região oeste de Belém,
se viver, mas sofre preconceito porque aparece nos mais diversos meios
o índice de criminalidade é grande e as de comunicação como exemplo de
pessoas muitas vezes tem medo de de- bairro violento. De fato, motivos
nunciar para não sofrer represálias” diz não faltam para isso: o bairro é um
a dona de casa Rosilene Oliveira, mora- dos campeões em crimes contra o
dora do bairro há 36 anos. patrimônio, como roubo, furto, la-
Pág. 17 trocínio e receptação. Pág. 4
Diagramação: Caio Luan e Gustavo Aguiar
2. ZONA OESTE vemos casas e edifícios de classe mé-
dia ao lado de casas bem humildes.
A Pedreira está localizada na região
norte de Belém, entre o centro e a
lizam, não só na Pedreira como em
outros bairros também. Mostrando
Assim como também vemos reven- periferia. Ele faz limite com cinco mais uma vez que o progresso chega,
dedoras de motos e carros de empre- bairros: Marco, Umarizal, Fátima, mas não para todos.
sas nacionais ao lado de pequenas Telégrafo, Sacramenta, e Souza. Amanda Campelo,
mercearias. 17 anos. Mora na Pedreira há 10
Nas avenidas planejadas por Antônio anos e acha seu bairro o melhor do
mundo para se viver.
O bairro da Pedreira foi planejado Lemos que deveriam possuir 40m de
por Antônio Lemos, intendente de largura e transversais medindo 20m
Belém na virada do século XIX para de largura observamos os edifícios de
o XX com os recursos das exporta- classe média que vão surgindo, e ao
ções da borracha. Devido ao grande lado deles as casas humildes, que vão
número de pedras que existiam em sobrevivendo a essa expulsão con-
suas imediações recebeu este nome. tínua que as grandes empresas rea-
Opostos sociais são casa. A moradora recusou porque
além de não querer deixar o lugar zareno Figueiredo conta que apesar
vizinhos no bairro da onde foi criada, também não queria
mudar de bairro, pois julga o bairro
de morar em um bairro considerado
periférico, atualmente os terrenos
estão altamente valorizados. Quan-
Pedreira da Pedreira como um dos menos pe-
rigosos em comparação aos outros da do se mudou há 7 anos, comprou seu
O
bairro da Pedreira só um conforto maior para seus mo- capital. terreno por R$16.000. Agora, um
não é só o bairro do radores, mas, principalmente, des- terreno na mesma rua e com dimen-
Entretanto, nem todos resistem as sões menores, está custando entre
samba e do amor, pertou o interesse de empresas nos
ofertas das empresas de médio e R$70.000 e R$80.000.
é também mais um imóveis da área. O bairro é um dos
grande porte. Avenidas como a Dou-
bairro de grandes desigualdades so- maiores polos comerciais da capital
tor Freitas e Pedro Miranda estão se Seu Nazareno relata também que
ciais na Região Metropolitana de Be- paraense, e mesmo com as transfor-
tornando quase que integralmente viaja para fora do Estado duas vezes
lém. Nele vemos o luxo convivendo mações que estão ocorrendo, ainda
comerciais. A extinção parcial de ao ano, possui TV a cabo, internet,
lado a lado com a pobreza. Ao mes- tem como coração comercial o Mer-
residências nestas avenidas traz be- empregada doméstica e paga colé-
mo tempo em que grandes constru- cado Municipal da Pedreira, locali-
nefícios e malefícios, principalmen- gio particular para o filho e faculda-
toras realizam projetos nas princi- zado na Avenida Pedro Miranda.
te quando se trata da segurança dos de particular para a filha. Tem uma
pais avenidas do bairro, os casebres
Dos novos investimentos, em sua moradores. A estudante Aline Coim- vida financeira estável e não passa
ainda existem. Certamente a grande
grande maioria, os pontos comer- bra, moradora da travessa Perebebuí por dificuldades. A rua onde mora é
procura por áreas e imóveis, que
ciais são de lojas relacionadas a au- afirma que durante o dia, os pontos asfaltada, com um bom saneamento
vem ocorrendo nos últimos
tomóveis, além dos grandes edifícios comerciais deixam as ruas movimen- básico e luz elétrica.
anos, está agravando
que estão cada vez mais verticalizan- tadas, mas durante a noite quando as
O luxo
convivendo
essas contradições.
A Pedreira não é o
do o bairro. Estes tipos de negócios
necessitam uma vasta área, e as cons-
lojas estão fechadas, essas mesmas
ruas ficam desertas, tornando-se um
Diversidade do bairro Enquanto isso, três quarteirões
adiante, mora a família Costa que
lado a lado
com a
único bairro onde
trutoras fazem o que podem para ambiente propício para assaltos.
de Val-de-Cans divide a renda de um salário míni-
A
as desigualdades es- mo para 6 pessoas. O marido de Rosa
pobreza. comprar tais terrenos. A maioria
tão presentes, mas Ao caminhar pelas ruas do bairro da alvenaria e o bom aca- rentam nem ter saneamento básico. Costa é pedreiro e ela lava, passa e
destas compras são realizadas com
é um dos quais es- Pedreira, é impossível separar qual bamento se contrastam A desigualdade social está presen- faz pequenos reparos em roupas de
sucesso, todavia há casos em que isso
sas contradições estão parte seria considerada rica e qual com a fragilidade da te no bairro de Val-de-cans, assim clientes. “Nem sempre tem serviço
não ocorre. Como o da Dona Ivete,
cada vez mais nítidas. seria a parte pobre, não há divisa. madeira, obras inaca- como em toda a cidade de Belém. para mim e para o meu marido, é di-
moradora da Avenida Doutor Frei-
Contudo, podemos sim observar que badas e mal feitas, espaços pequenos fícil juntar R$545,00 reais por mês.
O aumento dos investimentos da tas há mais de 50 anos, ela recusou a A família Figueiredo é formada por
ambos convivem no mesmo am- e mal planejados. Enquanto vemos Mas a gente dá um jeito”, diz ela em
prefeitura no urbanismo das princi- oferta de uma empresa que lhe ofe- quatro membros, possui três veícu-
biente. Com exceção dos chamados casas seguras e com mais de um veí- um tom triste, mas conformado.
pais avenidas do bairro trouxe não receu R$ 200 mil pela compra de sua los e uma casa bem estruturada. Na-
becos, nas principais ruas do bairro culo, também vemos outras que apa-
2 Ano 1 nº 1 Ano 1 nº 1 3
3. A rua em que D. Rosa mora não é sagem de avião. Tenho até medo!”, Esses contrastes mostram que a de- Foto|Caio Oliveira
formar um só.
asfaltada e muitos de seus vizinhos confessa. Mesmo com o financia- sigualdade social está presente. Mes-
praticam o famoso “gato” para não mento de viagens e promoção de mo que os defeitos nos serviços pú- Logo nos primeiros anos, o bairro
pagar luz elétrica, que eles definem passagens, não é raro encontrar fa- blicos sejam resolvidos, o emprego, desenvolveu um sistema comercial
como um serviço caro. O serviço de mílias como as de D. Rosa que não a renda e a vida financeira e social onde as matérias-primas são duas
água e esgoto é considerado razoá- tem condições para viajar. das famílias nunca será a mesma. Um coisas inerentes a realidade da po-
vel pelos que vivem na área, porém quadro que infelizmente não tem so- pulação: pobreza e criminalidade. A
A estrutura do aeroporto e a idéia
algumas casas não possuem uma lução. famosa Feira do Barreiro é um lugar
de viagem ainda é uma realidade
estrutura que conservem higiene e onde falta de qualidade e legalidade
inacessível para muitas pessoas. Por Jéssica Sobral,
acabam prejudicando os vizinhos. dos produtos são compensadas com
pagar um aluguel caro, os estabele- Moradora do
D. Rosa reclama que têm vizinhos bairro de Val-de- preços exíguos. A necessidade dos
cimentos do aeroporto cobram caro Cans e estudante
com banheiros mal estruturados que vendedores e a dos consumidores
por seus produtos. Uma xícara de de Comunicação
comprometem a higiene da rua. Al- Social/Jornalismo faz com que esta feira totalmente
café expresso pode custar até R$6,00.
guns terrenos abandonados acumu- na UFPA paralela à lei passe despercebida (ou
Outro motivo que impede o consu-
lam possas de água quando chove e ignorada) pelas autoridades respon-
mo não só da população do bairro,
representam um perigo para a pro- sáveis.
mas das pessoas que geralmente via-
liferação do mosquito da Dengue,
jam e freqüentam o local. Outro centro comercial impor-
muito comum nesta época de
chuva constante. tante é a feira da São Benedito, mais classe baixa, o que não significa que bém da dignidade dos moradores.
“Nem sempre
A desigualdade é Pobreza e riqueza um exemplo da condição das neces-
sidades consumistas dos moradores
as coisas não estejam gradativamente
evoluindo.
Muito ainda deve ser feito para que
no Barreiro: bairro
visível no bairro do bairro. A feira é uma das mais o Barreiro seja considerado um lugar
tem serviço para
de Val-de-cans. carentes da cidade. Saneamento e “Eu acho que com o tempo, as coi- bom para se viver, mas o povo do
mim e para o
As melhores sas vão melhorar. Já melhorou mui- bairro não cansa de dar exemplos de
meu marido, é
difícil juntar
casas estão ins-
taladas em ruas
recente, mas com muito urbanização são conceitos que ainda
não fazem parte, em sua totalidade, to e, com a cidade crescendo, nosso
bairro também vai se modernizar”
que otimismo e dignidade são duas
qualidades que nem as piores condi-
R$545,00 reais
por mês.
asfaltadas, sinali-
zadas e os terrenos
que dizer da vida dos moradores e comercian-
tes da região. Todo o bairro é corta-
do por canais, verdadeiros esgotos a
diz Délia Barroso, a Dona Lica, mo-
radora do bairro desde que ele ainda
ções materiais e econômicas podem
destruir. E assim, aquele lugar que
são vendidos a preços A fama de bairro ruim nada mais é do que um reflexo era parte da Sacramenta. “Com cer- inicialmente era apenas duas ruas la-
céu aberto, que servem de depósito
das condições precárias em que os moradores vivem.
Q
altos. As ruas sem asfalto e de lixo para vendedores de ambas as teza, a maior riqueza daqui é o povo. macentas continua crescendo e mos-
uase todos os dias, seu próprio nome. “Barreiro”, até o Por mais que tenha toda essa ban-
de iluminação pública precária abri- feiras. trando que, como em todo lugar, não
o Barreiro, situado início dos anos 1980, era uma peque- didagem, eu conheço muita gente
gam as famílias mais humildes. Por só coisas ruins fazem parte de seu
na região oeste de na região (duas ruas, no máximo) às Mas, é só de pobreza que esse bairro trabalhadora, que luta todos os dias
que será que o governo está benefi- cotidiano.
Belém, aparece nos margens do Canal São Joaquim que é feito? Aparentemente, sim. Como pelo o que é seu. Acho que isso sim,
ciando apenas uma parte da popula-
mais diversos meios de comunica- foi batizada assim por suas ruas se- já ficou claro, desde seu nascimento, é ser rico da graça de Deus”.
ção do bairro? Não seria justo que os Caio Oliveira,
ção como exemplo de bairro violen- rem totalmente cheias de barro. O o Barreiro sempre foi um bairro de 17 anos.
serviços públicos fossem distribuí-
to. De fato, motivos não faltam para lugar era habitado por famílias pau- A principal causa da criminalida- Quando nasceu,
dos de maneira igual já que todos os morava na
isso: o bairro é um dos campeões em pérrimas, sendo a palafita o principal de nesse e em todos os bairros pe-
cidadãos contribuem para que eles Sacramenta e
crimes contra o patrimônio, como tipo de moradia. riféricos da cidade é a carência da viu aos
sejam realizados? A principal causa
roubo, furto, latrocínio e receptação. infra-estrutura que é oferecida à poucos sua rua
Um ponto muito conhecido no bair-
Hoje em dia, a situação não é muito da criminalidade nesse população, sobretudo, aos jovens se tornar parte
No entanto, não existe uma preocu- do Barreiro.
diferente. Espremido entre o Val-de- e em todos os bairros habitantes. O Barreiro é carente de
ro de Val-de-cans é o Aeroporto pação por parte da grande mídia em
-Cans, a Sacramenta e o Telégrafo, o periféricos da cidade é a escolas e creches de qualidade, além
Internacional de Belém. Apesar de mostrar quais as causas da criminali-
Barreiro cresceu, agregando diversas carência da infra-estru- de uma opção decente e pública de
morar há 38 anos no bairro, D. Rosa dade na região.
ruas desses bairros ao seu território lazer para o jovem e para a criança.
diz nunca ter entrado no aeroporto. tura que é oferecida à
Desde o início, o Barreiro é um e, conseguintemente, os problemas Tudo isso contribui para o empobre-
“É um lugar pra gente rica. Eu não população
bairro marcado pela pobreza, algo sociais. As áreas mais carentes de cimento não só financeiro, mas tam-
tenho condições de pagar uma pas-
que pode ser exemplificado até pelo cada um desses bairros passaram a
4 Ano 1 nº 1 Ano 1 nº 1 5
4. CENTRO história
Campina: mistura entre mo contando com uma delegacia nas
redondezas, a Seccional do Comér-
pela frente do prédio cheirando cola
ou fumando. Na Praça, eles se con-
não passa por ali.
O vigia Carlos conta que a situação
cio, na Praça das Mercês. centram, e fica muito perigoso andar
e desenvolvimento reflete O vigia ainda ressalta o contraste
social na Campina: “aqui você en-
por lá quando escurece”.
na Riachuelo é caótica. “Não tem
iluminação boa, nem polícia a noi-
te toda. De vez em quando passa um
desigualdades
Violência, drogas e prostituição fazem parte do cenário de um dos bairros mais tradicionais da
contra gente rica, que vive bem, no
centro da cidade, perto de tudo, e
“Aqui você encontra
gente rica, que vive
carro de polícia aqui, mas não dá
jeito, tem assalto quase todo o dia.
crianças que cheiram cola e prosti- bem, no centro da ci- Não só aqui, mas o bairro todo é uma
capital. Pobreza e riqueza dividem maior avenida do centro financeiro.
tutas ganhando a vida”. dade, perto de tudo, e contradição, com gente rica e gente
crianças que cheiram pobre andando na mesma rua”, enfa-
MAIS CONTRASTES tiza o segurança.
cola e prostitutas ga-
Bairro marcado pela tranqüilidade, nhando a vida”
na Campina é fácil encontrar casas Gustavo Ferreira
centenárias, com moradores idosos, 19 anos de vida
que ainda preservam um hábito, e de morador da
Na Rua Riachuelo há um dos traços Campina. Tem
em extinção, de ver o tempo passar muito orgulho
debruçados em suas janelas altas. mais marcantes da Campina: a pre- de seu bairro
Outro hábito, o de passear na Praça sença da prostituição como meio de por toda a sua
importância
da República, tornou-se tarefa qua- sustento de diversas mulheres. Vi-
histórica, porém
se impossível para muitos. O moti- vendo em casas desgastadas com o se sente inco-
tempo, a rua é considerada um dos modado com a
vo é a forte presença das drogas no
falta de segu-
local. De acordo com Rosa Maria, é pontos mais perigosos do bairro. O rança.
freqüente encontrar pessoas, muitos cenário de calçadas irregulares, bu-
deles jovens, usando algum tipo de racos no asfalto e fachadas quase caí-
entorpecente: “é o dia todo, princi- das mostra que o dinheiro que circu-
U
palmente à noite, que eles passam la nos bancos da Presidente Vargas
m dos primeiros rua dormem em frente às lojas e ao pina são os assaltos. Mesmo não es-
bairros de Belém, edifício-sede dos Correios. O mesmo tando entre os bairros mais violentos
a Campina guarda
o bucolismo de ou-
acontece nas proximidades do Hotel
Hilton, o segundo da rede no Brasil
de Belém, os casos são constantes,
em geral pequenos furtos. Carlos A diversidade de um Márcia de Souza afirma que “devido
à falta de organização do trânsito,
falta de políticas públicas, estamos
trora, misturada com traços de um (além do Hilton Morumbi, em São Santos trabalha como segurança par-
desenvolvimento mal-estruturado. Paulo). ticular no local e conta várias histó- bairro para viver um colapso no trânsito,
N
Prédios altos, modernos, ao lado de rias curiosas: “a maioria dos assaltan- isso é um verdadeiro caos, pois mes-
ele estão localizados
Rosa Maria Aquino, moradora do mo que moremos no centro, temos
casas com fachadas azulejadas, he- tes são ‘pivetes’ mesmo, e eles não alguns dos principais O bairro possui imóveis com valores
edifício Palácio do Rádio há mais que acordar cedo que nem quem
rança portuguesa. As casas antigas, poupam ninguém. Eu já peguei dois pontos turísticos elevados, mas nem por isso quem
de 20 anos, diz que o poder público
os comércios tradicionais de família, ou três só este mês tentando assaltar de Belém: o Museu vive nele desfruta de segurança e
não olha pelos mendigos que vivem
hoje dividem espaço com grandes senhoras, e já vi famílias sendo rou- Emílio Goeldi, a antiga Residência tranquilidade. Algumas das princi-
no local, e que este é um problema Enquanto pessoas
bancos. E a convivência entre esses badas”. do Governador – atual Parque da pais ruas de escoamento do trânsito
comum do bairro: “eu passo por aqui estão jogadas pelas
dois mundos revela graves proble- Residência – e o Mercado de São estão nele localizadas, como a Ave-
todos os dias e fico triste com a situ- Segundo Carlos, um dos fatores que ruas, outras estão
mas sociais. Braz. Ele também abriga o terminal nida Governador José Malcher, Av.
ação deles, não apenas na Presidente contribuem para essa violência é a pagando em média
rodoviário e um monumento em Conselheiro Furtado, Av. Magalhães
A Avenida Presidente Vargas, anti- Vargas. No Espaço da Palmeira e na iluminação precária, inexistente em R$4.000,00 pelo me-
forma de capacete em homenagem Barata, entre outras. Sendo assim,
ga 15 de Agosto, reconhecida como própria Praça da República, eles são vários trechos do bairro. “Isto só fa- tro quadrado no mes-
ao mais famoso governador do Pará, nos horários de alta circulação de
o centro financeiro da capital, é um muitos”. cilita a vida dos bandidos”, afirma o mo local.
Magalhães Barata. Este é São Braz, veículos, fica quase impossível tran-
dos maiores exemplos de desigualda- segurança, que faz rondas durante a
VIOLÊNCIA um dos bairros mais importantes da sitar por lá sem ficar estressado.
de entre ricos e pobres no bairro da madrugada. Também não há um po-
capital paraense.
Campina. Dezenas de moradores de Outro problema freqüente na Cam- liciamento ostensivo na região, mes- Moradora de São Braz há 22 anos,
6 Ano 1 nº 1 Ano 1 nº 1 7
5. mora longe, porque senão chegamos
atrasados devido ao congestiona-
mento”. Ela ainda reclama do baru-
Floriano Peixoto e ver vários garo-
tos de rua cheirando cola, dormindo
pelo chão e logo atrás o Mercado de
urina e também há muito lixo joga-
do. Não é preciso ninguém informar
o que está acontecendo, basta passar
Os
lho das buzinas, que não só deixam
os motoristas estressados, como tam-
São Braz, um prédio histórico em es-
tilo art noveau e neoclássico. Acaba
de carro, ônibus, moto ou andando
que se poderá ver a oposição de re-
conflitos
bém os próprios moradores.
Contudo, Márcia diz que apesar de
que não se pode desfrutar da beleza
da obra arquitetônica, vendo tanta
desigualdade.
alidades.
A taxa de criminalidade do bairro
de Batista
haver esses problemas, gosta de vi-
ver neste bairro, pois “é perto de
tudo, supermercados, rede de farmá-
Ao lado do Mercado está o Termi-
nal Rodoviário de Belém, que tam-
não é tão baixa, como em toda a capi-
tal paraense não é. Entretanto, “ain-
da é possível caminhar sozinho por
CamposUma das principais
cias e ainda há fácil condução, você bém possui uma pequena praça a sua determinadas partes, sem grandes
consequências dessa dispari-
pode pegar ônibus para todos os lu- frente, a Praça do Operário. Nela preocupações, só tomando alguns
gares”. Além disso, há bons locais de também há os meninos, meninas, cuidados” explica Márcia de Sou- dade é a violência. O bairro
lazer por perto, como duas filiais da homens e mulheres que ficam va- za. A moradora diz que a violência concentra riqueza, porém é
famosa sorveteria local, Cairu - na gando por lá, sem ter para onde ir ou tem aumentado e que sente falta de cercado por favelas.
José Malcher e uma do bonde dentro o que comer, só lhe restando seguir quando ela podia caminhar “tantas
do Parque da Residência- e a doce- o caminho das drogas para esquecer horas da noite” sem preocupações.
Observa-se também a presença mas-
ria, Abelhuda. a fome e a vida que têm. Enquan-
Os problemas do bairro de São Braz siva de moradores de rua. Esses são
to estas pessoas estão jogadas pelas
DESIGUALDADE são um dos vários que não somente frequentemente expulsos das portas
ruas, outras estão pagando em média
A
Belém, como diversos outros locais de colégios particulares, shopping
Mesmo que São Braz seja considera- R$4.000,00 pelo m² no mesmo local.
do mundo possuem e que só podem mais bela praça da ci- população predominante das classes e lojas, numa ação muito praticada
do um bairro rico, pois morar nele pelos habitantes, a de tentar ignorar
Por não terem moradia, essas pessoas ser resolvidos a partir de políticas dade, shopping, área D e E, podem ser facilmente delimi-
requer um custo de vida um pouco elementos que não condizem com a
fazem todas as suas necessidades na públicas e conscientização da popu- de intenso comércio, tadas, tamanha é a mudança visual
mais elevado, você sente um con- imagem de sofisticação nessas áreas
própria rua. Com isso, nessas praças lação. Afinal, o lixo que está degra- hospitais, escolas e mi- de um bairro para outro. Esse cená-
traste ao passar em frente à Praça do bairro. A ausência destes na prin-
de São Braz, há um forte cheiro de dando a cidade, não foi simplesmen- lhares de prédios. O bairro de Batista rio começa a mudar recentemente:
te jogado lá pelos políticos. Campos é considerado por muitos a expansão imobiliária obriga a ins- cipal praça da área também reflete o
como um lugar completo para se vi- talação de condomínios de luxo nos quanto essa tentativa se estende até
ver. Mas por mais completo e plane- bairros vizinhos, devido à superlota- áreas públicas de lazer.
jado que seja, as disparidades sociais ção na área. A população de Batista
ainda são uma patologia visível aos Campos ainda é, em
Uma das principais consequências Não há horá-
passantes e moradores da região. sua maioria, per-
dessa disparidade é a violência. O rios ou locais
tencente à classe
O bairro surgiu no período da Belle número de assaltos cresce continua- específicos, os
Natália Araújo
Époque paraense e recebeu o nome mente na região e os moradores re- média local, por
tem 20 anos e mora em assaltos ocor-
do Cônego João Batista Gonçalves clamam que a principal fonte desses isso é notável o
São Braz desde que nasceu. rem até mesmo
Gosta da tranquilidade e Campos, importante figura do mo- assaltos provém dos bairros vizinhos, número de es-
dos pontos turísticos de seu em horários de
vimento cabano. Ironicamente, foi gerando discriminação com essa po- tabelecimentos,
bairro. pico.
criado com a intenção de abrigar a pulação. Não há horários ou locais imobiliários, em-
elite paraense do período, designan- específicos, os assaltos ocorrem até presariais e de lazer
do status que permanece ainda hoje mesmo em horários de pico, tanto voltados para essa parcela
no imaginário de parte da população. em regiões movimentadas, como a da população. Por outro lado, a
Praça Batista Campos onde inclusive mão de obra que circula diariamente
Os primeiros conflitos sociais podem no bairro é de renda baixa e prove-
há ação da Guarda Municipal, quan-
ser observados na geografia do bair- niente de outras partes da cidade, o
to em áreas residenciais, geralmente
ro. As fronteiras com bairros como que constitui mais um choque social
mais desertas.
Jurunas, Condor e Cremação, com nessa área.
8 Ano 1 nº 1 Ano 1 nº 1 9
6. OUTROS BAIRROS
IMPORTANTES
Nazaré:
Bairro nobre e
Telégrafo: bem estruturado de
destaque Belém,
para o concentra as opções
campus da de moradia mais
UEPA (foto) valorizadas.
Cidade Velha:
Umarizal:
bairro mais
conhecido reduto
antigo de Belém,
de intelectuais,
onde surgiu
boêmios e
a cidade
sambistas nas
décadas de 1970
e 1980
10 Ano 1 nº 1 Ano 1 nº 1 11
7. A área comercial é constituída por
milhares de lojas populares voltadas
ZONA SUL
As disparidades Dentro dos muros
rões e roupas de grife entre os carro-
ceiros e pessoas humildes dentro do
pobres e violentos? E o que faz com
que ele seja tão esquecido pelas au-
para o público de baixa renda, assim
da Cidade Universi- bairro. Um retrato fiel dessa contra- toridades?” Negligenciar o bairro do
como pequenas lojas de luxo que,
apesar do porte, recebem maiores
econômicas e sociais tária José da Silveira
Netto circula-se con-
hecimento e intelec-
dição é a Avenida Bernardo Sayão,
um dos caminhos que levam à Ci-
Guamá seria então ignorar grande
parte da população belenense, que
do bairro do Guamá
níveis de investimento, e todas reu- dade Universitária. Por ser estreita, não pode mais ser estereotipada e
nidas nas vias de maior movimento
tualidade em nível há uma verdadeira disputa entre car- subestimada.
em compra e venda como a famo-
elevado enquanto nas ros, motos, bicicletas, carroças e pe-
Considerado o bairro mais populoso de Belém, a região redondezas há um
sa Rua dos 48. Além dessas vias há é marcado pela pobreza e pela violência sem controle. destres. Um conflito que vai além da
também a presença de um shopping,
grande número de disputa por espaço físico entre meios
constituído de 198 lojas e praça de
analfabetos. de locomoção, é a representação de
alimentação, e uma galeria popular, cente violência da pobreza vigente. diversas realidades sociais unidas e
assim como diversos vendedores A violência é tida como consequên- mescladas em um mesmo local.
ambulantes espalhados pela região. cia da falta de bens econômicos e Mayra Leal
O Guamá lidera o índice de popu- tem 17 anos e mora há dois
oportunidades que poderiam gerar
Se ainda vive em um momento de lação, possuindo cerca de 25.000 meses no Guamá. Gosta do
progresso e educação. No bairro,
habitantes a mais que seu suces- seu novo bairro por causa da
maior uniformidade, a realidade do infelizmente há um pensamento já proximidade com a UFPA.
bairro de Batista Campos está prestes sor, o bairro da Pedreira. Sendo as-
instaurado de que àqueles que não
a mudar. A tendência geral é que siga sim, criam-se dois questionamentos:
tiveram grandes oportunidades, ou
o movimento de diversificação de “Por que o bairro mais populoso da
entrarão para o crime ou trabalharão
classes que acontece na cidade como capital paraense é ainda um dos mais
na popular Feira do Guamá.
um todo. O crescimento da classe
Além disso, pode-se ressaltar tam-
média e o surgimento de novas áreas
de centro e periferia tornam a dinâ-
mica social mais ativa e favorecem o
bém uma desigualdade cultural e
intelectual. Um dos maiores exemp-
Educação e violência
crescimento da cidade.
los e fatores é a presença da Univer-
sidade Federal do Pará no bairro. A evidenciam diferenças
S
maior universidade da região norte
e você procurar na in-
ternet pelo bairro Gua-
bana.
Não há só uma diferença entre bair-
cria uma contrariedade forte no que
diz respeito à tecnologia e conheci-
em Canudos
A fama de bairro ruim nada mais é do que um reflexo
má, terá como resultado
A
ros vizinhos, existe também uma mento. Dentro dos muros da Cidade
“bairro marcado pela po- das condições precárias em que os moradores vivem.
contradição muito forte dentro do Universitária José da Silveira Netto
breza e violência sem controle” em ltos índices de violên- coexistem na vida de cada um. Pois,
próprio bairro em questão. É comum circula-se conhecimento e intelec-
diversas fontes. O bairro é dispar- cia e má qualidade na andando pelo bairro percebem-se as
em uma rua deparar-se com casas tualidade em nível elevado enquan-
adamente o mais populoso de Belém educação demonstram grandes distinções na infra-estrutu-
primitivas e rústicas, verdadeiros to nas redondezas há um grande
e recebe esse nome pela presença de contrastes no bairro ra, nas escolas, na unidade de saú-
Mariana Castro, barracos, e ao dobrar a esquina en- número de analfabetos. Poucos são
um dos principais rios da região, o de Canudos em Belém. A população de e nas casas. O maior contraste é
17 . Mora há um contrar residências luxuosas. Uma os projetos de integração com a co-
ano na Batista Rio Guamá que o corta. deste bairro reclama dos constantes percebido com relação ás escolas do
Campos. Adora paisagem bastante contrastante, munidade local, e muitos dos que
assaltos e da violência no ambiente bairro. São poucas as escolas públicas
seu bairro por Acoplado ao bairro de São Brás tor- típica de quase todas as grandes ci- ali residem têm probabilidade quase
não precisar escolar. Esses são alguns dos muitos e muitas escolas particulares. Mais
na-se difícil a distinção territorial dades brasileiras. zero de ingressar nesta universidade
sair dele para problemas vividos por todos os mo- precisamente essas escolas são de ní-
encontrar o que do término de um e início do outro, próxima apenas fisicamente, poré-
Apesar de a classe baixa ser domi- radores deste bairro, o que evidencia vel fundamental.
quer. Mas, como porém a realidade econômica distin- mutópica quando se refere à possibi-
toda a cidade de nante em número, há uma elite ali mais ainda as diferenças socioeconô-
ta é bem evidente. Quem passa pela lidade de ser parte dela. Um fator marcante para determinar
Belém, acha que instalada.Estes estão presos por trás micas entre eles no bairro em ques-
a violência é o região, iniciando seu trajeto a partir Dentro deste mesmo exemplo tam- essas desigualdades é a constante
de muros e grades, afugentados pelo tão.
principal prob- de São Brás em direção ao Guamá violência nas escolas. De acordo com
lema. perigo, que por sua vez já se tornou bém há a desigualdade econômica. É
se depara com a contrariedade que comum vermos professores e alunos Os moradores desta região possuem o depoimento de universitária Lilian
símbolo do Guamá. Na realidade
começa a ser percebida desde a ar- da UFPA desfilando com seus car- condições econômicas bem diversas. Chucre, de 19 anos, esse é um fator
atual é impossível dissociar a cres-
quitetura, arborização e limpeza ur- Pode-se dizer que essas diferenças que evidencia mais ainda as diferen-
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8. Por serem muito
altos, os pré-
dios diminuem
a ventilação da
cidade, prin-
cipalmente os
situados às mar-
gens da Baía do
Guajará. Isso é
um fato que vem
se constatando,
pois o número
de prédios a
beira da Baía
vêm aumentan-
do significativa-
mente.
ças e preconceitos, já que as escolas quando estudava na Escola Acácio um lado uma demonstra a pobreza
particulares são um pouco mais cui-
dadosas nessa questão. De família
Felício Sobral. Um jovem tentou
matar um estudante dessa escola
de um pequeno bairro e por outro as
melhores condições de poucas pes-
As desigualdades no Bairro
humilde a universitária conta que com um tiro por um motivo até hoje soas. As escolas particulares do bair-
estudou em escola pública e par- desconhecido. Ele entrou na escola ro apresentam nesse contexto a pe- do Jurunas
O
ticular, logo teve oportunidade de e atirou para cima enquanto muitos quena riqueza existente neste bairro Jurunas é um dos vida entre os moradores dos aparta- morou na avenida, mas a prefeitura
viver em dois ambientes distintos. alunos estavam na quadra de espor- de Belém que por sua vez divide suas principais e mais mentos e dos cidadãos que já mora- alocará grande parte dos moradores
As discordâncias existem e são no- tes na hora do intervalo. Nenhum atenções para muitas questões em- antigos bairros de vam naquela rua há mais tempo. e disponibilizará a área para con-
táveis, pois enquanto alguns jovens estudante se feriu e nem mesmo o blemáticas. Ainda que as condições Belém. Esse bairro Segundo a moradora do bairro e domínios de alto padrão, gerando
e crianças podem desfrutar de uma jovem infrator foi preso. Ironica- de vida se tornem favoráveis a todos possui uma grande diversidade cul- aposentada Helena Pinheiro, 76, os uma inflação nas proximidades da
educação de qualidade, inúmeros mente a estudante afirma “Acácio sempre haverá aspectos que se opõe tural e maior ainda é a desigualdade prédios de luxo trazem um benefí- área e poderá mudar a condição so-
sinônimo de periculosidade. em uma sociedade como a nossa. socioeconômica. Pessoas que vivem cio, pois a segurança aumenta, mas cioeconômica do bairro.
sobre um esgoto a céu aberto têm também trazem um grande proble- Algumas riquezas do bairro do Ju-
Segundo a universitária, a educação
A educação de quali- Gabriela Amorim condomínios de luxo como vizinhos. ma que é a falta de ventilação. Por runas são o Polo Joalheiro, a Praça
de qualidade seria o melhor cami-
dade seria o melhor Essa grande desigualdade social pode serem muito altos, os prédios di- Amazonas e as grandes escolas de
nho para dar oportunidades para
caminho para dar opor- ser vista principalmente nas Av. Ber- minuem a ventilação da cidade, prin- samba do Bairro “Rancho não posso
muitos jovens pobres que por não
tunidades para muitos nardo Saião, Av. Fernando Guilhon, cipalmente os situados às margens da me amofinar” e “Deixa falar”, verda-
terem condições acabam entrando
jovens pobres que por Av. Roberto Camelier, na Rua dos Baía do Guajará. Isso é um fato que deiros exemplos da cultura do povo
na criminalidade. Com a intenção
Tamoios e na Rua dos Mundurucus. vem se constatando, pois o número jurunense, o que enriquece ainda
não terem condições de melhorar a situação em questão,
Enquanto na Av. Bernardo Saião, de prédios a beira da Baía vêm au- mais a população desse bairro.
acabam entrando na a estudante sonha em um dia poder mora há 15 dos seus 19 anos no
bairro de Canudos. Insegurança e grande parte dos moradores vive mentando significativamente. Apesar de o Jurunas ser um bairro
criminalidade. contribuir para a melhoria da edu-
alto índice de criminalidade são os em cima da vala, nas outras, os seus Recentemente, a prefeitura começou predominantemente pobre, as Av.
cação no bairro onde vive com a principais problemas do bairro. habitantes têm um grande número o projeto “Portal da Amazônia” que Roberto Camelier e Fernando Guil-
profissão que pretende exercer, a de
tem como única alternativa o ensino de prédios e casas de luxo a sua dis- visa melhorar a orla de Belém e a hon são exemplos da sociedade de
professora. Pois, acredita na educa-
público. Essa é uma das divergências posição. Mas isso não significa que estrutura dos moradores da Av. Ber- alto poder aquisitivo que mora no
ção como melhor caminho para ter
mais eminentes em qualquer bairro a desigualdade não esteja presente nardo Saião. Mas a população que bairro. Assim como na Av. Bernardo
melhor condição de vida.
de Belém. De fato, segrega classes so- nessas quatro ruas, muito pelo con- mora na área está sendo remanejada Saião, muitos condomínios de luxo
ciais e ratifica desigualdades. Ficam evidentes as divergências en- trário, a desigualdade aumenta por para outras localidades. O autônomo foram e estão sendo construídos no
tre ambas as redes de ensino. Por causa da diferença de qualidade de Walter Silva, 45, afirma que sempre bairro. Além disso, os moradores da
Lilian conta uma situação que viveu
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