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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

ALINE MERIANE DO CARMO DE FREITAS

ENTRE O GATILHO E OS LAÇOS DE AMIZADE: uma análise de
recepção sobre a Representação Social da Periferia de Belém.

BELÉM
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

ALINE MERIANE DO CARMO DE FREITAS

ENTRE O GATILHO E OS LAÇOS DE AMIZADE: uma análise de
recepção sobre a Representação Social da Periferia de Belém.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Comunicação Social, habilitação em
Jornalismo, na Universidade Federal do Pará.
Orientador: Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro.

BELÉM
2011
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
_________________________________________________________________
_____
305
F866p

Freitas, Aline Meriane do Carmo de
Entre o gatilho e os laços de amizade: uma análise de recepção sobre a
representação social da periferia de Belém / Aline Meriane do Carmo de
Freitas. - 2011.
85 f.: il.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) -- Faculdade de
Comunicação Social, Universidade Federal do Pará, 2011.
Orientador: Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro.
1. Periferia. 2. Representações Sociais. 3. Videoclipe. 4. Juventude. 5.
Cidade. I. Castro, Fábio Fonseca de, orient. II. Título.

___________________________________________________________________
___
ALINE MERIANE DO CARMO DE FREITAS

ENTRE O GATILHO E OS LAÇOS DE AMIZADE: uma análise de
recepção sobre a Representação Social da Periferia de Belém.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Comunicação Social, habilitação em
Jornalismo, na Universidade Federal do Pará.
Orientador: Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro.

Aprovado em:
Conceito:

Banca examinadora:

______________________________________
Orientador: Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro

______________________________________
Professor

______________________________________
Professor
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos moradores das periferias
brasileiras, em especial aos jovens, que são as
principais vítimas dos pormenores de se habitar
espaços ausentes de infraestrutura adequada.
AGRADECIMENTOS
Ao Rei dos reis e Senhor dos senhores seja toda honra, glória e louvor. A
Yeshua Hamashia meus agradecimentos por mais um ciclo que se encerra na minha
vida e pela certeza de que um novo tempo começa, a partir da defesa deste trabalho. À
Deus pela oportunidade de estudar em uma das maiores universidades públicas desse
país, algo ainda restrito em nossos dias. Ao amigo Espírito Santo que me guardou, me
livrou e esteve comigo durante todos os dias desse curso e que em meio às lutas e crises
não me deixou desistir. Obrigada papai do céu pela convicção de que o melhor de Deus
ainda estar por vir.
Aos maravilhosos pais Walmir e Rosemeire Freitas que me ensinaram tudo que
eu sei hoje e que mesmo não tendo a oportunidade de cursar uma universidade quando
jovens lutaram contra todas as dificuldades para que eu chegasse até aqui. São por
vocês, meus pais, o esforço e a dedicação empregados para terminar essa monografia.
Meus amores, eu tenho muito orgulho da história de vida de cada um e sou muito grata
por terem me amado, educado, protegido, mas também por terem sido sábios e me
disciplinado quando foi preciso, isso fez com que eu não me perdesse em meio a tantas
“ofertas” do mundo. Amo vocês! E saibam que eu sou muito feliz, porque a minha casa
é um pedacinho do céu.
À minha irmã Amanda Freitas que sempre será minha caçulinha amada
independente da sua idade. Maninha, eu te amo e agradeço os conselhos, as piadas, o
ombro amigo e principalmente por ser mãe da pessoinha mais importante do mundo pra
mim, a minha sobrinha Sofia Freitas que com um sorriso no rosto e fazendo um coração
com as mãozinhas me alegra diariamente. Escuta-la dizer: “Titia, eu te amo!” é um das
minhas maiores felicidades. Amo!
Aos meus avós maternos Carlos Alberto e Maria de Lourdes do Carmo e aos
paternos Aristotes e Filomena Freitas que eu ainda tenho o privilégio de conviver e
escutar sábios conselhos. Aos meus tios e primos o agradecimento pela torcida e por
desejarem meu sucesso tanto quanto os seus.
Ao Fernando Garcia um dos homens mais admiráveis que eu conheço pelo
companheirismo, cumplicidade, parceria e atenção, várias vezes suportando as
inconstâncias de humor que se tornaram bem mais acentuadas nessa fase. Nanando, a
você meus sinceros agradecimentos e que independente da real distância existente entre
nós, hoje, será sempre lembrado como o meu Último Romance. Para nós fica a
pergunta: “Ah, será que o tempo tem tempo pra amar? Ou só me quer tão só?”. Amo-te,
Garcia.
Ao grande amigo Paulo Dias, pela cumplicidade e por ser o irmão que eu não
tenho. À amiga Camila Barreto que chegou tão sem querer na minha vida e que se
tornou essencial. Às minhas colegas de turma Paula Catarina e Killzy Lucena com quem
compartilhei momentos importantes na graduação e que hoje mesmo morando em outro
estado posso continuar contando, né Killzy? Á Cecília Meirelles pela amizade que já
rompeu a barreira do tempo e a melhor amiga Maryellen Reis pela amizade que cresce
na distância e que se faz presente nem que seja por uma mídia social.
Á professora Rosaly Brito e Scarleth O‟Hara pelo profissionalismo e amor com
que educam. Saibam que o meu desejo em seguir a carreira acadêmica é estimulado
pelo exemplo de “fessoras” como vocês, comprometidas com a educação superior desse
país. Ao meu orientador Fábio Castro, pela paciência em orientar este trabalho e por
estar sempre disponível em me ajudar, mesmo diante de uma agenda lotada. Obrigada
pelas orientações fundamentais na produção desta monografia.
“O Que os novos movimentos sociais e minorias - as
etnias e as raças, as mulheres, os jovens, ou os
homossexuais - demandam, não é tanto ser
representados, mas sim reconhecidos; fazerem-se
visíveis em sua diferença”.
Jesús Martín Barbero.
RESUMO
Este trabalho teve o objetivo de analisar a maneira com que jovens da rede pública de
ensino constroem as representações sociais da periferia de Belém, a partir da influência
midiática de videoclipes que utilizaram como cenário esses espaços. O primeiro vídeo
utilizado na pesquisa chama-se Devorados e foi gravado na comunidade Vila da Barca,
no bairro do Telégrafo, pela banda Madame Saatan, já o segundo denominado Matinha
do Cruzeiro é uma produção do Coletivo Rádio Cipó e foi rodado na comunidade
Álvaro Adolfo, situada na Pedreira. O aporte teórico empregado nessa monografia
foram os autores Serge Moscovici, Jodelet e Abric e, além disso, os conceitos de cidade
e periferia de Milton Santos que possibilitaram alcançar o objetivo da pesquisa, o de
verificar e analisar as representações sociais engendradas pelos jovens sobre Belém do
Pará.

Palavras-chave: Periferia, Representações Sociais, Videoclipes, Juventude, Cidade.
ABSTRACT
This coursework had the goal of analyze the way young people of public schools build
the social representation of Belém‟s outskirt, due to the media influence of music videos
that used these spaces as setting. The first video used in the research is
called Devorados and was filmed in the community of Vila da Barca, neighborhood
of Telégrafo, by the band Madame Saatan; on the other hand, the second one,
called Matinha do Cruzeiro is a production of Coletivo Rádio Cipó and was shooted in
the community of Álvaro Adolfo, located in Pedreira. The theoretical support in this
monograph was the authors Serge Moscovici, Jodelet e Abric and, furthermore, the
concepts of city and outskirt of Milton Santos, which made possible to reach the
objective of the research, to verify and analyze the social representations engendered by
young people about Belém do Pará.

KEYWORDS: Outskirt, Social representation, Music videos, Young, City.
LISTA DE SIGLAS
CF

Constituição Federal

CRC

Coletivo Rádio Cipó

ECS

Escola Camilo Salgado

ESF

Escola Serra Freire

FACOM Faculdade de Comunicação
MPB

Música Popular Brasileira

MS

Madame Saatan

NC

Núcleo Central

MTV

Music Television.

PAC

Programa de Aceleração do Crescimento

RC

Representações coletivas.

RS

Representações Sociais

SEDUC

Secretaria de Educação do Estado do Pará

TAS

Teoria da Agenda Setting

TRC

Teoria das Representações Coletivas

TRS

Teoria das Representações Sociais

TNC

Teoria do Núcleo Central

UFPA

Universidade Federal do Pará

UFRJ

Universidade Federal do Rio de Janeiro
LISTA DE ILUSTRAÇÕES.
Imagem 1- Loja de produtos de luxo Paris n‟América e a direita a foto da Avenida
Presidente Vargas (15 de Agosto) no início do séc. XX.
37
Imagem 2 – Ilustração sobre a periferia de Belém

48

Imagem 3 – Ilustração sobre a periferia de Belém

51

Imagem 4 – Ilustração sobre a periferia de Belém

56

Imagem 5 – Ilustração sobre a periferia de Belém

58

Imagem 6 – Ilustração sobre a periferia de Belém

60

Imagem 7 – Ilustração sobre a periferia de Belém

61

Organograma 1 - O Campo de Estudos da Representação Social

24

Organograma 2- As Representações Sociais no Contexto da Teia de Significados
Construídos pelo Homem ao Longo da História.
26
Gráfico 1 - Quanto à escola

43

Gráfico 2 - Quanto ao sexo

44

Gráfico 3- Quanto à idade

45

Gráfico 4- Quanto ao tempo de permanência na instituição de ensino

45

Gráfico 5- Quanto ao bairro

46

Gráfico 6- Em relação ao bairro de sua residência e a periferia

50

Gráfico 7- Em relação o bairro que sua escola está localizada e a periferia

52

Gráfico 8 – Em relação a identificação com os videoclipes

53

Gráfico 9- Quanto a avaliação dos videoclipes

54

Gráfico 10 - Quanto à representação de periferia

55

Gráfico 11- Quanto ao parecer sobre os videoclipes

57

Gráfico 12- Definição de periferia

59

Gráfico 13 - Representações Sociais de periferia

62

Gráfico 14 – Quanto ao acesso às informações

62

Gráfico 15- Sobre o ritmo musical que mais representa a periferia

64
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA .............................................................................................................V
AGRADECIMENTOS ................................................................................................ VI
RESUMO....................................................................................................................... IX
ABSTRACT ....................................................................................................................X
LISTA DE SIGLAS ..................................................................................................... XI
LISTA DE ILUSTRAÇÕES. ...................................................................................... XII
SUMÁRIO ..................................................................................................................... 13
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 16
2.1 – QUESTÕES DE PARTIDA .................................................................................. 16
2.2 – JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 16
2.3 – OBJETIVOS .......................................................................................................... 17
2.3.1 – Objetivos Gerais ............................................................................................... 17
2.3.2 – Objetivos Específicos ........................................................................................ 17
2.4 – METODOLOGIA .................................................................................................. 18
2.5 – HIPÓTESES .......................................................................................................... 19
2.6 – DELIMITAÇÕES DO ESTUDO .......................................................................... 19
3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS .............................................................................. 20
3.1 DO SENSO COMUM À CIÊNCIA ......................................................................... 24
3.2 TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL (TNC) ............................................................ 30
4 O QUE É PERIFERIA? ............................................................................................ 33
4.1 A PERIFERIA NA CIDADE DE BELÉM .............................................................. 34
5 O LUGAR DA PESQUISA DE CAMPO ................................................................ 38
5.1 INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES: ...................................................................... 38
5.2 AS BANDAS: MADAME SAATAN E COLETIVO RÁDIO CIPÓ. ..................... 40
5.3 A MÍDIA: VIDEOCLIPES ...................................................................................... 40
5.4 A IMPORTÂNCIA DOS DESENHOS PARA PESQUISA. ................................... 41
5.5 APRESENTAÇÕES DOS SUJEITOS DA PESQUISA: ALUNOS...................... 41
6 ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA PERIFERIA DE BELÉM
...................................................................................................................................... 46
6.1 QUEM É O MORADOR DA PERIFERIA? .......................................................... 46
6.2 O QUE É PERIFERIA?.......................................................................................... 56
6.3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: O NÚCLEO CENTRAL. .......................... 63
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 68
1- QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA DE CAMPO .............................................. 73
2- VIDEOCLIPES UTILIZADOS NA MOSTRA AUDIOVISUAL .......................... 76
DEVORADOS (MADAME SAATAN) ..................................................................... 76
MATINHA DO CRUZEIRO (COLETIVO RÁDIO CIPÓ) ........................................ 77
3 – LETRAS SUGERIDAS PELOS ESTUDANTES DURANTE A PESQUISA...... 78
NEGRO DRAMA (MC RACIONAIS) ........................................................................ 78
VERMELHÃO FAIXA DE GAZA (MC ORELHA) .................................................. 79
DEPOIMENTO DE UM VICIADO (REALIDADE CRUEL) .................................... 81
14

1 INTRODUÇÃO
A possibilidade de ouvir a voz daqueles que não têm espaço na grande mídia
para expressar seus anseios, angústias e perspectivas são o diferencial da pesquisa de
campo, seja ela de cunho quantitativo ou qualitativo. Este trabalho utilizou-se dos dois
instrumentais com o intuito de elaborar a presente monografia, requisito para obtenção
do diploma de comunicação social, habilitação em jornalismo.
Através de questionários e entrevistas desenvolveu-se o trabalho de campo, uma
vez que apesar da pesquisa de cunho quantitativo ter abrangência limitada por
apresentar um roteiro pré-definido, ela foi fundamental na reunião dos dados estatísticos
que legitima esse estudo. A entrevista individual por ser um método que permite maior
liberdade entre o pesquisador e seus entrevistados, já que não há um roteiro definido e
sim perguntas motivadoras pensadas com a finalidade de estimular a discussão
contribuiu de forma significativa para perceber as entrelinhas das entrevistas.
Outro fator relevante que justifica a utilização das entrevistas é a própria
percepção do observador de um olhar, um gesto, um sorriso, tudo se torna relevante. A
sensibilidade do pesquisador ao semblante do observado no momento da entrevista,
também, foi um material interessante para o desenvolvimento desse estudo. Por esse
motivo, optou-se pelos dois métodos, a fim de que eles desempenhassem a função
complementar e tornassem a pesquisa mais abrangente e interessante.
Este trabalho por entender a importância desse espaço, teve o objetivo de
analisar a maneira com que jovens do terceiro ano do Ensino Médio de duas escolas
públicas de Belém, veem a periferia da sua cidade, a partir da mostra audiovisual de
dois videoclipes que utilizaram como locais de filmagens bairros da periferia.
O objetivo dessa monografia foi verificar e analisar as representações sociais
produzidas pelos jovens de diferentes instituições escolares sobre a temática em
questão, a periferia de Belém. Estar mais próximo dessa realidade é um fator
preponderante para a maneira que a percebem? E os discursos dos jovens sobre o tema
se cruzam? Na tentativa de responder esses questionamentos foram selecionadas duas
escolas de Belém que atendem públicos diferentes e possuem o terceiro ano do ensino
médio. Como referencial teórico utilizou–se a Teoria das Representações Sociais de
Moscovici, complementado por Jodelet e Abric, além de uma discussão sobre cidade e a
formação das periferias de Belém.
15

O capítulo 1 desta pesquisa apresenta uma introdução sobre a TRS, além de
discorrer sobre as características das periferias brasileiras.
No capítulo 2 é encontrada a descrição da metodologia utilizada em que são
apresentadas as questões de partida, a justificativa para escolha do tema, as hipóteses a
serem testadas, os objetivos gerais e específicos do trabalho, e a delimitação de estudo.
O capítulo 3 aborda os fundamentos teóricos da TRS, tendo como base os
processos de Ancoragem e Objetivação empregados com a finalidade de explicar a
apropriação popular de um objeto, ideia ou valor até torná-la senso comum.
O capítulo 4 faz uma abordagem sobre o conceito de periferia discutido na
presente pesquisa e contextualiza a origem das periferias de Belém. Além de uma
explanação sobre a dinâmica das periferias de Belém.
O capítulo 5 aborda uma explanação sobre os sujeitos desta pesquisa (alunos),
objeto midiático (videoclipes) e as escolas participantes.
O capítulo 6 evidencia os dados sistematizados acerca da pesquisa de campo,
através dos resultados obtidos por meio dos questionários, das entrevistas em
profundidade e da interpretação dos desenhos.
O capítulo 7 discute o cerne da pesquisa de campo, através da teoria do núcleo
central (TNC) tendo como aporte teórico Abric.
16

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este trabalho teve o objetivo de analisar a maneira com que os concluintes do
terceiro ano do ensino médio, de duas escolas públicas de Belém, veem a periferia da
cidade. Tendo como base as representações sociais apresentadas em dois produtos
audiovisuais que utilizaram como cenário esses espaços: Devorados da banda Madame
Saatan foi gravado na Vila da Barca antes do programa de aceleração do crescimento
(PAC) que urbanizou o espaço, na época o lugar ainda era constituído de palafitas, já o
segundo trabalhado é do Núcleo de Mídias Digitais Coletivo Rádio Cipó de nome
Matinha do Cruzeiro, este videoclipe foi produzido na comunidade Álvaro Adolfo, no
bairro da Pedreira.
A partir da mostra audiovisual, seguida das respostas obtidas nos questionários,
desejou-se discorrer sobre a concepção individual e coletiva de periferia que o públicoalvo da pesquisa possui, além de analisar a opinião desses atores sociais em relação à
representação social de Periferia apresentada nos dois produtos.
2.1 – QUESTÕES DE PARTIDA
Quais são as Representações Sociais, acerca da periferia de Belém, engendradas
pelos alunos concluintes do Ensino Médio?
Como os videoclipes utilizados na mostra audiovisual contribuíram para a
formulação das Representações Sociais pelos estudantes supracitados?
As Representações Sociais de periferia são semelhantes, apesar dos fatores que
distinguem os alunos de diferentes classes sociais como: escolas, faixas etárias e
localidades?
2.2 – JUSTIFICATIVA
A explosão demográfica nas grandes cidades teve início com o processo de
industrialização que impulsionou a migração campo-cidade. As cidades se tornaram um
atrativo para quem almejava melhores condições de trabalho e moradia, muito embora a
falta de preparo para receber o grande contingente migratório, a ausência de condições
fundamentais para o exercício da cidadania e a ineficácia de políticas públicas para o
setor habitacional tornou este cenário desfavorável, fazendo com que as cidades
brasileiras passassem a ter espaços segregados – as periferias.
17

Por este leque de motivos, discutir periferia é um assunto atual, complexo,
amplo e rico em possibilidades de abordagem, já que estas são regiões importantes,
tanto em aspectos socioeconômicos quanto ambientais e culturais para o país. Outro
fator que impulsionou a escolha da temática foi a explosão de produções audiovisuais
no Brasil que, nos últimos anos, estão investindo ostensivamente em produtos que
mostrem a realidade das periferias. Isso está ocorrendo não por uma concessão dos
grandes centros ou dos veículos de comunicação, mas porque a periferia vem
conquistando seu espaço, à medida que está organizada na busca por melhores
condições de vida ou mesmo pelo destaque que vem sendo dado para a já consolidada e
nomeada, segundo Vianna (2006) “indústria do entretenimento popular”. Tal evidência
aumentou o interesse pessoal por uma pesquisa de Representação Social.
Nesse contexto, a Teoria das Representações Sociais (TRS) proposta por Serge
Moscovici (1981) e complementada por Jodelet (1984) e Abric (1998) se tornaram
imprescindíveis para a análise de práticas do cotidiano, principalmente urbanas. Ao
sugerir os instrumentos de Ancoragem e Objetivação Moscovici, propõe o entendimento
da maneira que é constituído o senso comum, fato que inspirou o desenvolvimento deste
trabalho, após a leitura do livro “O conhecimento no cotidiano – as Representações
Sociais na perspectiva da psicologia social”, organizado por Spink (1993).
Apurar cientificamente a maneira como é enraizado o senso comum entre grupos
sociais, interpretá-los e analisá-los de modo que os comportamentos dos mesmos
possam ser compreendidos são fatores importantes para a área de Comunicação Social,
já que a mesma estuda a relação comunicativa homem-sociedade-mídia. Por este
motivo, o presente trabalho vem a contribuir com a pesquisa do curso de Jornalismo da
Universidade Federal do Pará, que está fundamentado no tripé ensino, pesquisa e
extensão, cumprindo seu papel de Responsabilidade Social – gerar integração entre o
saber científico e o popular.
2.3 – OBJETIVOS
2.3.1 – Objetivos Gerais
Analisar a RS de periferia apresentada por alunos do último ano do Ensino
Médio, a partir da mostra de videoclipes gravados em comunidades da periferia de
Belém.
2.3.2 – Objetivos Específicos
18

Apresentar os fundamentos teóricos da RS;
Explanar sobre a dinâmica das periferias de Belém;
Evidenciar a RS de Periferia, demonstrada por alunos do último ano do Ensino
Médio; e
2.4 – METODOLOGIA
Concordando com Morin (2001, p.126), “devemos interrogar a ciência na sua
história, no seu desenvolvimento, no seu devir; sob todos os ângulos possíveis”. Isto
implica dizer que em se tratando da Teoria das Representações Sociais (TRS), um
objeto de estudo amplo e complexo, que precisa ser analisado por várias perspectivas, se
obteve sucesso ao fazer o método qualitativo e quantitativo caminharem juntos,
enriquecendo o trabalho.
Este trabalho teve como principal objetivo verificar as representações sociais
existentes acerca da periferia de Belém, tendo como base entrevistas de campo
estruturadas e semiestruturadas, desenvolvidas com jovens do último ano do ensino
médio de duas escolas da cidade, além de pesquisa bibliográfica. Optou-se pela TRS
como referencial teórico devido esta possibilitar o acesso às práticas sociais cotidianas
ocorridas principalmente em solo urbano.
No que diz respeito à técnica de coletas de dados escolheu-se tanto o método
quantitativo quanto o qualitativo. Para isso, 100 estudantes de duas escoas públicas de
Belém: Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Camilo Salgado, localizada no
Jurunas e a Escola Estadual Maria Antonieta Serra Freire, no distrito de Icoaraci,
responderam aos questionários, sendo que 12 deles, escolhidos de forma aleatória,
também participaram de uma entrevista em profundidade. O método qualitativo foi
utilizado pela flexibilidade de não se estar preocupado em apenas quantificar os dados,
mas sim em fazer uma análise descritiva e exploratória que possibilite maior liberdade e
atenção dispensada a cada entrevistado. O que importa não é apenas o que é dito pela
pessoa, mas também a maneira com que ela se expressa.
A pesquisa de campo ocorreu no período da manhã ou da tarde, com
consentimento dos diretores das instituições e dos professores que estavam ministrando
as disciplinas no momento. Dessa forma, a primeira fase do trabalho teve início com a
apresentação dos videoclipes seguida da aplicação dos questionários, os quais possuíam
16 questões sendo nove objetivas e sete subjetivas sobre o tema da pesquisa. Já para
19

segunda etapa foram marcados locais, datas e horas de acordo com a disponibilidade de
cada entrevistado.
2.5 – HIPÓTESES
A abordagem dos videoclipes influencia na concepção de periferia;
A RS de periferia é a mesma independente dos fatores externos a que os alunos
estão submetidos;
A definição de periferia está intimamente ligada a dois fatores: ausência de
urbanização e a distância do centro.
2.6 – DELIMITAÇÕES DO ESTUDO
O presente trabalho se destina a analisar de forma qualitativa e quantitativa a RS
de periferia, a partir da percepção dos alunos concluintes do Ensino Médio de duas
escolas públicas da cidade de Belém, através da mostra audiovisual e, na sequência, da
aplicação de questionários. Por este motivo, não é escopo desta pesquisa avaliar RS
positivas e negativas, e sim interpretar os dados existentes.
20

3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Para analisar a maneira com que os jovens de Belém representam a periferia de
sua cidade optou-se pela utilização da TRS, de Serge Moscovici (1961) como aporte
teórico. Nesse sentido iniciou-se o trabalho pelo conceito que originou as discussões
sobre as representações, trata-se da noção de representações coletivas (TRC) de Émile
Durkheim (1970).
O autor foi o responsável por conceituar as RC como a gênese do fato social. De
acordo com este fato social1 é: “toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer
sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é geral na extensão de uma sociedade dada,
apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que
possa ter”. (DURKHEIM, 1966, p.12).
Segundo o teórico, a sociedade não é, apenas, uma junção da totalidade de
indivíduos, mas é constituída de múltiplas consciências individuais que independentes
não conseguiriam elaborar uma representação coletiva, já que cada sujeito é parte
fundamental na formação de uma mentalidade de grupo, isto é, a colaboração individual
é indispensável na elaboração de um pensamento social e, portanto, nos diferentes
modos de pensar, ser, estar e (re) apresentar o mundo.
As RC são uma tentativa de entender fenômenos sociais, como a religião, a
ciência e a cultura que aglutinam diferentes indivíduos em um mesmo grupo e ainda
assim, mantém as pessoas unidas por um ideal. “As representações coletivas são o
produto de uma imensa cooperação que se estende não apenas no espaço, mas no
tempo: para fazê-las uma multidão de espíritos diversos, associaram, misturaram,
combinaram suas ideias e sentimentos, longas séries de gerações acumularam aqui sua
experiência e saber”. (DURKHEIM, P.216, 1970). Nesse sentido, reduzir as RC ao
conceito das representações individuais é suprimir sua amplitude.
Para Durkheim (1970), existe uma distinção radical entre o pensamento
individual, objeto de responsabilidade da psicologia e o pensamento social estudado
pela sociologia. Ele aponta inúmeras discordâncias em relação às proposições de Serge
Moscovici no que tange a TRS presente na obra La psychanalyse, son image et son

1

O fato social tem como características básicas a autonomia, exterioridade e a coercitividade, atributos
que possibilitam o entendimento de que o pensamento coletivo é externo e impõe-se ás pessoas,
independente das suas vontades, podendo ter maior ou menor poder de coerção.
21

public (1961, 1976), principalmente, no que diz respeito a abordagem dada ao tema.
Durkheim propunha uma separação sociológica e psicológica para explicar a
existência de dois níveis de fenômenos: os individuais e coletivos, seus estudos
mostraram que os indivíduos sempre estarão atuando sob a égide de uma ideologia
dominante como, por exemplo, das instituições religiosas e da família, enquanto que
Moscovici preocupou-se em analisar como o conhecimento é socialmente produzido e
em que instante ele se torna uma prática social, isto é, senso comum, uma vez que para
o autor, as Representações sociais são uma “forma sociológica de Psicologia Social”.
(FARR, 1995, p. 31).
Para Moscovici, o estudo da TRS permitiu um entendimento mais amplo da vida
em sociedade do que já discutia, anteriormente, as representações coletivas, uma vez
que as RS têm como base a maneira que os homens se (re) apresentam, tanto enquanto
cópia da realidade quanto na interpretação cotidiana da vivência em grupo, ou seja, a
maneira que percebem o fato de ser e estar no mundo independente de fatores sociais,
culturais, políticos e das condições socioeconômicas.
A TRS encontra-se sob o domínio da psicologia social, uma ciência híbrida e
intermediária, que se preocupa em entender a relação entre dois mundos: o individual e
o coletivo. Essa ciência funciona como uma espécie de mediadora entre a sociologia que
trabalha fenômenos coletivos e a própria psicologia que tem como objeto de estudo a
subjetividade individual.
As RS apesar de serem complexas e de utilizarem ferramentas distintas vêm, nos
últimos anos, sendo objeto de estudo de muitos pesquisadores nas diversas áreas do
conhecimento. Isso ocorre devido o caráter transdisciplinar da TRS, isto é, das suas
múltiplas dimensões e possibilidades de estudo voltadas para análise da prática
cotidiana do viver em grupo.
Segundo Aurélio (2003), o substantivo representação remete tanto a um ato ou
efeito de representar (se) quanto à coisa que se representa, além da própria reprodução
daquilo que se pensa e o conteúdo concreto apreendido pelos sentidos, imaginação,
memória ou pensamento que somado ao adjetivo social assume vários significados a
começar pelo mais notório deles, os grupos sociais. Para Moscovici (1976, p.26), a
justificativa para esta denominação é devido essa área ser “uma modalidade de
conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a
comunicação entre indivíduos”.
22

De acordo com Moscovici, o conceito das RS é de difícil definição e isso ocorre
devido sua posição intermediária entre a sociologia e a psicologia. Nesse sentido, o
exercício de observação da realidade é uma possibilidade na tentativa de melhor
compreender essa área, uma vez que:
As representações sociais são entidades quase tangíveis. Elas circulam,
cruzam-se e se cristalizam incessantemente, através de uma fala, um gesto,
um encontro, em nosso universo do cotidiano. A maioria das relações sociais
estabelecidas, os objetos produzidos ou consumidos, as comunicações
trocadas, delas estão impregnados. Sabemos que as representações sociais
correspondem, por um lado, à substância simbólica que entra na elaboração e,
por outro, à prática que produz a dita substância, tal como a ciência ou os
mitos correspondem a uma prática científica e mítica. (MOSCOVICI, 1978,
p.41).

Desse modo, discutir acerca das RS é considerar as representações cotidianas
elaboradas pelos diferentes grupos sociais, nos diversos meios em que estão inseridos.
O autor propõe, ainda, uma estrutura clássica visando explicar a TRS,
No real, a estrutura de cada representação nos aparece desdobrada; ela tem
duas faces tão pouco dissociáveis quanto à frente e o verso de uma folha de
papel: a face figurativa e a face simbólica. Nós escrevemos que:
Representação figura , entendendo por isso que ela faz compreender
Significação
em toda figura um sentido e em todo sentido uma figura. (MOSCOVICI,
1976, p.63).

Com esse esquema o autor procurou analisar o caráter figurativo e simbólico das
RS, elementos que não podem ser analisados de maneira separada ou distinta, por serem
fundamentais na compreensão desse campo. Spink (1993) também criou um esquema
visando explicar e ilustrar os principais sujeitos e objetos da TRS. A autora criou um
gráfico adaptado da obra de Jodelet (1989a) que destaca, de um lado, o processo de
construção das RS tendo como base a contribuição do pensamento individual-coletivo
dos múltiplos sujeitos e do outro, a interpretação dos objetos sociais que juntamente
com os símbolos expressam a tentativa de entender a maneira com que são produzidas
as RS, isto é, o modo pelo qual elas são criadas, deixando de ser um objeto estranho ao
grupo social para se tornar uma prática cotidiana.
Organograma 1 - O Campo de Estudos da Representação Social
23

Forma de
Conhecimento

Construção

Interpretação

Objeto

Representação

Sujeito

Expressão

Simbolização
Prático

Fonte: SPINK, Mary. The Concept of Social Representations in Social Psychology. Cad. Saúde Públ., Rio
de Janeiro, 9 (3): 300-308, jul/sep, 1993 apud adaptado Jodelet (1989a).

Moscovici (1961) propõe, ainda, inúmeros questionamentos acerca da expressão
representações sociais. Por exemplo, quais os parâmetros que definem se uma
representação é ou não social? Quais os valores que precisam ser respeitados para
adequar a representação a um grupo social? Por não ter respostas para tais perguntas o
teórico optou pela alternativa de analisar os processos de produção das representações,
isto é, de que forma elas são produzidas na sociedade? Diante dessa indagação ele
levantou a hipótese de que para se qualificar como RS é necessário ser engendrada no
seio da coletividade e mais do que isso é preciso perceber as causas que a produzem.
Para Moscovici saber como é originada a TRS é importante,
Para qualificar uma representação de social não basta definir o “agente” que a
produz. Tampouco nos mostra, ficou agora claro, em que se ela distingue de
outros sistemas que são igualmente coletivos. Saber “quem” produz esses
sistemas é menos instrutivo do que saber “por que” se produzem. Em outras
palavras, para se poder apreender o sentido do qualificativo social é
preferível enfatizar a função a que ele corresponde do que as circunstâncias e
as entidades que reflete. Esta lhe é própria, na medida em que a representação
contribui exclusivamente para os processos de formação de condutas e de
orientação das comunidades sociais. (MOSCOVICI, 1976, p.76-77)

Isto implica dizer que, para o teórico, o objetivo desse estudo é analisar a maneira
pelo qual são engendradas as representações em detrimento de quem as criou, o qual é
um ponto importante, mas não é o essencial, já que o cerne da TRS é a apropriação
24

popular de um objeto, idéia ou valor a fim de torná-lo consenso. Nesse sentido,
Moscovici propõe interpretar esse processo de consolidação de um objeto transformado
em prática social entre grupos.
3.1 DO SENSO COMUM À CIÊNCIA
O imaginário social é imbuído de conteúdos históricos e, portanto, estruturas
figurando como força-motriz das mudanças sociais. Sendo assim, para existir RS é
necessário que haja vida em sociedade e, além disso, a reprodução de um pensamento já
consolidado em um determinado campo2 que é estruturado por um habitus3. Este pode
ser qualquer ambiente ou ocasião em que ocorra o encontro de pessoas bastando que
para isso exista comunicação.
Para Jodelet (1984, p.36), senso comum significa a materialização de estruturas
sociais abstratas, isto é, a subjetividade posta em prática. A definição proposta pela
autora é consenso entre os pesquisadores. Para esta “RS é uma maneira de se
compartilhar conhecimento socialmente elaborado, a partir de um ponto de vista prático
tendo em vista a construção de uma realidade comum a um grupo social, o já falado
Senso Comum.” Nesse sentido, a teórica propõe,
O conceito de Representação Social designa uma forma específica de
conhecimento, o saber do senso comum, cujos conteúdos manifestam a
operação de processos generativos e funcionais socialmente marcados. Mais
amplamente, designa uma forma de pensamento social. As Representações
sociais são modalidades de pensamento prático orientadas para comunicação,
a compreensão e o domínio do ambiente social, material e ideal. Enquanto
tais, elas apresentam características específicas no plano da organização dos
conteúdos, das operações mentais e da lógica. A marcação social dos
conteúdos ou dos processos de representação refere-se às condições e aos
contextos nos quais emergem as representações, às comunidades pelas quais
elas circulam as funções que elas servem na interação com o mundo e com os
outros. (Id. 1984, pp.361-2).

Assim, portanto, Jodelet procurou conceituar a TRS tendo como base o senso
comum, a partir da explicação dos fatores que possibilitam a construção dessa teoria,
2

Pierre Bourdieu propôs o conceito de Campo como sendo um espaço social em que o indivíduo vai
exercitar o habitus adquirido perante o convívio em sociedade. O que implica dizer que em determinado
campo um ator social pode ter maior ou menor influência e isso pode mudar dependendo do acúmulo de
capital que ele possui e que deve ser o capital correspondente ao campo. Existem diversos tipos de
capital, como: financeiro, simbólico, cultural, comercial, etc.
3

Para Bourdieu é o Habitus que fundamenta a reprodução social, já que ele é formado a partir do
convívio do indivíduo em sociedade. A ação das forças sociais e a estrutura interna do campo social em
que os indivíduos estão inseridos influenciam o seu habitus. Para o autor o indivíduo não consegue pensar
racionalmente o tempo inteiro, sendo influenciado pelos diferentes capitais e agentes sociais.
25

como o diálogo entre diferentes atores sociais ocorridos diariamente e em diversos
meios, já que são estes os responsáveis pela construção das representações. No
organograma 2 é apresentada por Spink (1993) uma estrutura a fim de ilustrar a maneira
pela qual são construídas as RS.
Para a autora, as RS são formadas a partir da junção de conteúdos maleáveis e,
portanto, mais sujeitos à mudança e outros permanentes ou sólidos que estão
cristalizados, logo são mais difíceis de serem modificados. No topo da pirâmide está o
imaginário social que é constituído pela apropriação popular da ciência tornada senso
comum, ele é mais rígido, uma vez que sofre poucas modificações e que depende,
diretamente, da transformação de determinadas práticas sociais. Na segunda plataforma
está a epistéme, isto é, a ciência que origina o habitus e o sistema de normas reguladoras
das diferentes sociedades, já na base da pirâmide consta a ciência que contribui para
gerar o senso comum, sendo que a soma de ambos sustentam as práticas sociais.
Organograma 2- As Representações Sociais no Contexto da Teia de Significados
Construídos pelo Homem ao Longo da História.
Imaginário
Social

Epistéme

Meta-Sistema
de Normas

Habitus
Ciência

Senso comum

Fonte: Spink (1993)

As RS são um campo de estudo importante e estruturado tanto quanto o saber
científico, já que as mesmas esclarecem e interpretam práticas cotidianas e processos de
interação social. Estas não possuem conceitos claramente definidos, devido sua origem
ser simbólica e como tal, utilizar as já mencionadas práticas sociais, fato que torna o
conhecimento sobre o assunto marcadamente diverso e empírico.
26

A TRS é um campo de estudo que surge de discussões cotidianas sobre as mais
diversas temáticas, as quais obedecem a uma hierarquização de fatos respeitando alguns
critérios, como a atualidade da notícia, a polêmica ocasionada pela informação, o
interesse que ela provoca nas pessoas, além do grau de conhecimento que cada
indivíduo possui sobre o tema. De acordo com esses pontos um assunto passa ou não a
ser pertinente para as rodas de diálogo e isso independe do local de encontro do grupo,
podendo ser a fila do banco, mas também a parada de ônibus, durante as refeições, as
praças e bares, salões de beleza, nos jogos de bilhar ou ainda após a “pelada” do fim de
semana.
As representações sociais são, também, transmitidas entre as gerações e
fortalecidas pela memória coletivo-familiar, à medida que a sociedade é levada a
recorrer, constantemente, às suas tradições para realizar escolhas e opinar sobre
determinados assuntos, ainda que não o faça de forma consciente. O respeito à vivência
(subjetividade) dos indivíduos, seus conhecimentos religiosos, acadêmicos e sua própria
história de vida é uma constante na análise das RS.
Ao sentar em uma mesa de bar e iniciar uma discussão sobre pena de morte e
diminuição da maioridade penal no Brasil, provavelmente, existirão diversas opiniões
sobre o assunto, alguns irão defender outros discordar, mas independente de qual seja a
atitude tomada pelos indivíduos a sua exposição falará muito ao seu respeito e sobre
suas origens.
Cada cidadão recebe influências diretas do meio em que está inserido, como: a
família, religião, escola, bairro e cultura. Uma família cristã que more na área nobre da
cidade tende a olhar a pena de morte de uma forma, talvez, diferenciada do indivíduo
que é ateu e residente em um bairro violento. Isso ocorre, porque o indivíduo é um ser
pensante, mas que recebe fortes influências externas como, por exemplo, o poder
exercido pela instituição familiar desde o nascimento até o último dia de vida do ser
humano.
Essa é a gênese das RS que para Psicossociologia, não considera o indivíduo um
mero reprodutor de informação, crenças, ideologias prontas e definidas historicamente,
mas sim seres pensantes que produzem e comunicam suas ideias, seus posicionamentos
e opiniões, são, portanto, os mentores de suas próprias representações. Para Moscovici,
“Representar uma coisa (...) não é, com efeito, simplesmente duplicá-la, repeti-la; é
reconstituí-la, retocá-la, modificar-lhe o texto. A comunicação que se estabelece entre o
27

conceito e a percepção, um penetrando no outro, transformando a substância concreta
comum, criam a impressão de „realismo‟”. (Op.cit., pp.56-7).
Moscovici (1961) propôs a existência de um sistema de pensamento divido em
duas classes diferentes, o universo consensual e o reificado. Enquanto o último
corresponde ao pensamento rebuscado, formal, erudito, objetivo e metodológico das
ciências em geral, o primeiro está relacionado ao surgimento de práticas sociais tendo
como base a simplicidade das relações humanas e do convívio com o outro. É por isso
que o senso comum está enquadrado nesta abordagem do cotidiano.
Os universos reificados, a sociedade se vê como um sistema com diferentes
papéis e categorias, cujos ocupantes não são igualmente autorizados para
representá-la e falar em seu nome. O grau de participação é determinado
exclusivamente pelo nível de qualificação. (...) Há um comportamento
próprio para cada circunstância, um estilo adequado para fazer afirmações em
cada ocasião e, claro, informações adequadas para determinados contextos.
Nos universos consensuais, a sociedade se vê como um grupo feito de
indivíduos que são de igual valor e irredutíveis. Nessa perspectiva, cada
indivíduo é livre para se comportar como um “amador” e um “observador”
curioso, (...) que manifesta suas opiniões, apresenta suas teorias e tem uma
resposta para todos os problemas (A arte da conversação) cria gradualmente
núcleos de estabilidade e maneiras habituais de fazer coisas, uma
comunidade de significados entre aqueles que participam dela.
(MOSCOVICI, 1981, p. 186-7).

O teórico defende ainda que o universo reificado não é, contudo contrário às
realidades consensuais, já que os dois se entrelaçam no momento em que as RS são
originadas pelo primeiro. Conforme Moscovici e Hewstone (1986, p.544), o senso
comum

é

compreendido

como

“um

corpo

de

conhecimentos

produzidos

espontaneamente pelos membros de um grupo e fundado na tradição e no consenso”.
Para Moscovici o universo consensual é conceituado da seguinte maneira:
O propósito de todas as representações é o de transformar algo não familiar,
ou a própria não familiaridade, em familiar (...) O que eu quero dizer é que os
universos consensuais são lugares onde todos querem se sentir em casa, a
salvo de qualquer risco de atrito ou disputa. Tudo o que é aí dito e feito
apenas confirma crenças e interpretações adquiridas, corrobora mais do que
contradiz a tradição. (...) No todo, a dinâmica dos relacionamentos é uma
dinâmica de familiarização, onde objetos, indivíduos e eventos são
percebidos e compreendidos em relação a encontros ou paradigmas prévios.
Como resultado, a memória prevalece sobre a dedução, o passado sobre o
presente, a resposta sobre o estímulo, às imagens sobre a “realidade”.
(MOSCOVICI, 1984, pp.23-4).

Por esse motivo, o universo consensual está presente no saber cotidiano, isto é,
ele emerge nas relações entre diferentes indivíduos e tem a função de transformar o
universo reificado, ou seja, o não familiar em algo familiar e, portanto, em universo
28

consensual. Os meios de comunicação são uma importante ferramenta neste processo, já
que são fundamentais no processo de divulgação da ciência devido a vários fatores,
como: o alcance e a influência que exercem na construção da opinião pública, a função
social que desempenham - divulgar saberes científicos, noticiar fatos importantes
ocorridos diariamente e que despertam o interesse das pessoas, como também, entreter e
orientar. Atributos que legitimam e atribuem prestígio à mídia.
As notícias veiculadas afetam diretamente o cotidiano da população, fato
ratificado pelas conversas interpessoais, constantemente, pautadas pela imprensa e isso
ocorre, entre outros motivos, devido à massificação da informação, a hierarquização das
notícias e à própria importância atribuída às matérias pelos veículos que, respeitando a
lógica capitalista de atender a demanda de público, os interesses dos proprietários dos
grupos de comunicação, a audiência e o interesse social, decidem o que, onde, quando e
de que forma será transmitido.
O fato dos veículos midiáticos se interessarem mais por determinadas matérias
em detrimento de outras, faz com que o universo reificado se entrelace com o saber
consensual, à medida que os assuntos presentes na tela de um computador, no jornal
impresso, nos programas radiofônicos ou nas imagens da TV chegam até as discussões
nas ruas, casas, famílias, salões de beleza e bares. A realidade passa a ser
representada/contada pela edição dos meios de comunicação de massa. Inúmeras vezes
a maneira como as notícias são contadas e editadas pelos veículos de comunicação não
representam o fato na sua essência. A estereotipação é um dos vários problemas
enfrentados pelas minorias sociais do país, como os moradores das periferias que são
massivamente mostrados em matérias retratando a violência.
A função social da grande mídia, o prestígio e o alcance já mencionados
anteriormente, fazem dela a principal fonte de informação de uma parcela significativa
da população brasileira. Ainda hoje é comum encontrar pessoas que acreditam
integralmente em tudo que é dito na TV; para estas, o que dizem o Jornal Nacional ou o
Domingo Espetacular é senso comum e, portanto, deve ser respeitado. Isso ocorre
devido à credibilidade que esses programas possuem no Brasil. Apesar de terem sido
mencionados jornais de, apenas, duas emissoras, o primeiro da Rede Globo e o outro da
Rede Record o fato se repete nas demais.
O enorme alcance desses veículos de comunicação de massa, também, pode ser
prejudicial à sociedade no instante em que boa parte do público não tem acesso à
29

totalidade da notícia, as quais inúmeras vezes são incompletas, apelativas, tendenciosas
e estereotipadas. O próprio tratamento e a edição dispensados às matérias quando
prioriza a audiência em detrimento do interesse social, contribui negativamente para
difundir preconceito e a discriminação no país.
Para explicar o processo pelo qual são elaboradas as RS, Moscovici tomou como
base a proposta de teóricos da psicologia, entre os quais Piaget, Lévy-Bruhl e Freud.
Para eles, é interessante analisar o funcionamento do raciocínio das crianças, já que elas
reproduzem esquemas mentais já alocados e naturalizados em seu cérebro que são
usados para comunicar e materializar as suas representações mentais.
Moscovici

organizou

tais

fundamentos

apresentando

dois

processos

fundamentais para a elaboração das representações sociais: ancoragem e objetivação,
responsáveis por tornar familiar o desconhecido. Para ele (1984a, p.30), faz-se
necessário classificar e nomear os objetos sociais pela necessidade de naturalizar o
inexplicado: “coisas que não são classificadas nem denominadas são estranhas, não
existentes e ao mesmo tempo ameaçadoras”.
As RS têm como princípio básico tornar familiar algo não familiar, como já foi
mencionado anteriormente, essa finalidade de incorporar o novo à realidade consensual
é o pilar de sustentação desse campo, já que a matéria-prima para elaboração do senso
comum é converter o que é estranho e desconhecido em práticas sociais que passem a
ser consenso na sociedade. A busca por entender, explicar, analisar o diferente,
contribui de forma positiva para estimular as pessoas a novas descobertas, as quais
seriam antes impensadas se não existisse a “tensão” com o que não é natural. Percebe-se
a importância atribuída por Moscovici ao processo de familiarização lendo o trecho
abaixo:
O processo social no conjunto é um processo de familiarização pelo qual os
objetos e os indivíduos vêm a ser compreendidos e distinguidos na base de
modelos ou encontros anteriores. A predominância do passado sobre o
presente, da resposta sobre o estímulo, da imagem sobre a realidade tem
como única razão fazer com que ninguém ache nada de novo sob o sol. A
familiaridade constitui ao mesmo tempo um estado das relações no grupo e
uma norma de julgamento de tudo o que acontece. (Id. 1961, p.26)

Isto implica dizer que com a finalidade de naturalizar o que lhe é estranho o
autor propôs a ancoragem, por entendê-la como um processo cognitivo que visa inserir
ideias, valores e princípios em determinado grupo, isto é, aquela idéia já moldada o
indivíduo utiliza para enraizar objetos e sua representação em meio a um cenário, com a
30

finalidade de subtrair o estranhamento causado pelo que está obscuro, a fim de retirá-lo
do “anonimato perturbador”.
Ao admitir a possibilidade de se compreender novas perspectivas de vida e a
compartilhá-las com base nos conhecimentos e valores incorporados e já tidos como
consenso, estimula-se a produção das representações e evita-se que as pessoas cessem a
busca por explicar o “anormal”.
Para completar o processo o teórico propõe a objetivação que segundo ele
consiste em materializar e naturalizar, isto é, tornar real um conceito que também pode
ser uma idéia ou um valor antes abstrato. De acordo com Moscovici (1961, p.111)
objetivar é: “reabsorver um excesso de significado materializando-as (e adotando assim
certa distância a seu respeito). É também transplantar para o nível de observação o que
era apenas inferência ou símbolo”, este é o instante em que os esquemas figurativos
passam a ser correntes na sociedade tornando-se, então, a representação social.
3.2 TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL (TNC)
Com o objetivo de complementar a TRS Abric desenvolveu a Teoria do Núcleo
Central (TNC) em 1976, apresentando a hipótese de que toda Representação Social é
constituída por um núcleo central destinado a organizar e gerar sentido às
representações e por elementos periféricos que permitem maior flexibilidade ao
processo. De acordo com o autor o núcleo central “é determinado pela natureza do
objeto representado e também pela relação que o sujeito/grupo mantém com este”
(ABRIC, 1994, p.83).
De acordo com o teórico, as RS são organizadas da seguinte maneira:
A organização de uma representação apresenta uma característica particular:
não apenas os elementos de representação são hierarquizados, mas, além
disso, toda representação é organizada em torno de um núcleo central,
constituído de um ou de alguns elementos que dão a representação o seu
significado (ABRIC, 1994a, p.19)

Para o autor, essa compreensão é importante visando entender a relação
existente entre representações e comportamento. Abric (1994a, p.73) defende a
necessidade de analisar o assunto por ser este essencial para o entendimento da RS, “o
núcleo central é um subconjunto das representações, composto por um ou alguns
elementos cuja ausência desestruturaria a representação ou lhe daria uma significação
completamente diferente.”
31

De acordo com o teórico, o NC está relacionado à memória coletiva e por esse
motivo torna as representações estáveis, duradouras e resistentes, enquanto que os
elementos periféricos estão relacionados ao pensamento individual, originado da
vivência de cada um e, portanto, funcionam como “para-choques”, conceito de Flament
(2001), devido possuir flexibilidade e facilidade de adaptar-se a elementos e
experiências novas.
São os elementos periféricos que protegem e conservam o núcleo central; logo,
defendem a força das RS que podem ser dividas em fracas e fortes. Como
representações fortes têm-se aquelas bem estruturadas e plenas de fazer sentido,
enquanto que as fracas são menos organizadas e ainda não estão completamente
consolidadas no grupo.
Abric afirma que o núcleo central e os elementos periféricos não são estagnados:
O sistema central é, portanto, estável, coerente, consensual e historicamente
definido. O sistema periférico, por sua vez, constitui o complemento
indispensável do sistema central, do qual ele depende. Isso porque, se o
sistema central é essencialmente normativo, o sistema periférico, por sua vez,
é funcional. Isto quer dizer que é graças a ele que a representação pode se
ancorar na realidade do momento. (Abric, 1989, apud Sá, 1998 p.4)

Essa percepção torna-se fundamental no instante em que se busca transformar
determinadas

representações

por

acreditar

que

elas

sejam

prejudiciais

ao

desenvolvimento de práticas sociais alternativas (ABRIC, 1994). Assim a TNC busca
perceber a maneira que as representações sociais são construídas tendo como base o
núcleo central e dessa forma, complementar as proposições de Moscovici.
Abric propôs ainda a verificação da seguinte hipótese geral: “o comportamento
dos sujeitos ou grupos não são determinados pelas características objetivas da situação,
mas pela representação dessa situação” (Abric, 1989, apud Sá, 1998 p.54).
De acordo com ele (1994a), existem quatro funções fundamentais para
manutenção das RS: (1) Funções de saber que visam explicar a realidade (2) Funções
identitárias que são importantes para definir a identidade de um grupo (3) Funções de
orientação, as quais objetivam direcionar as práticas sociais e a (4) Funções
justificatórias.
O campo de estudo das RS ainda é recente, ele acaba de completar 50 anos.
Durante os 10 primeiros anos ele foi pouco difundido e aceito pelos pesquisadores, a
TRS recebeu duras críticas em vários aspectos, entre eles, sobre a falta de clareza em se
tratando de conceito, para esses Moscovici (1987, p.514) respondeu: “vários autores me
32

recriminam por ser vago e me recusar a definir o significado das representações sociais.
Poderia citar vários textos de Bacon e Freud que sustentariam o valor de minha posição,
mas minha recusa também representa um modo de assumir posição contra uma
tendência de dar definições fáceis”. O autor afirmou, ainda, não saber aonde chegariam
os estudos sobre o tema, mas fez projeções esperançosas.
33

4 O QUE É PERIFERIA?
Segundo o dicionário Aurélio (2001), periferia é em uma cidade a região mais
afastada do centro urbano em geral carente de infraestrutura e serviços urbanos e que
abriga os setores de baixa renda da população, hoje essa definição se tornou simplista,
uma vez que as cidades possuem vários centros. De acordo com Barros (2011) o termo
periferia diz respeito a lugares e sujeitos objetos de abandono das políticas públicas. “A
grande maioria das favelas está na zona sul, na zona leste, mas estão na periferia do
ponto de vista econômico”. Para Santos, morar na periferia é ser duplamente
sentenciado à pobreza:
A pobreza gerada pelo modelo econômico, segmentador do mercado de
trabalho e das classes sociais, superpõe-se a pobreza gerada pelo modo
territorial. Este, afinal, determina quem deve ser mais ou menos pobre
somente por morar neste ou naquele lugar. Onde os bens sociais existem
apenas na forma mercantil, reduz-se o número dos que potencialmente lhes
têm acesso, os quais se tornam ainda mais pobres por terem de pagar o que,
em condições democráticas normais, teria de lhes ser entregue gratuitamente
pelo poder público. (SANTOS, 2007, p.143-144).

Isso implica dizer que a noção de cidadania está intimamente atrelada ao
território, uma vez que para ser um cidadão integral se faz necessário a garantia dos
direitos expressos na Constituição Federal de 1988, no Art.3º que diz: I - Construir uma
sociedade livre, justa e solidária; II- garantir o desenvolvimento nacional; III- erradicar
a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IVPromover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.
Entretanto, o Brasil, nação capitalista e com grandes disparidades entre os mais
ricos e os mais pobres, se vê diante de desafios permanentes de gerir seus conflitos
sociais. Grupos politicamente dominantes beneficiados com grande parte das ações
desenvolvidas pelo Estado, o qual apesar de constitucionalmente possuir como
fundamentos a soberania, a cidadania e a dignidade da pessoa humana (artigo 1º CF
1988 incisos I, II, III) não vem, na prática, se efetivando como uma entidade acima dos
grupos sociais.
Fator preponderante para gerar um embate de interesses, uma vez que as
minorias dominantes não abrem mão de seus objetivos econômicos e principalmente,
dos políticos ocasionando uma série de problemas para o país, como por exemplo, o
34

histórico impasse para a efetivação da reforma agrária ou mesmo a real crise
habitacional, empecilhos que o Estado tem tentado resolver ao longo de décadas.
4.1 A PERIFERIA NA CIDADE DE BELÉM
A realidade habitacional da cidade Belém não é diferente das demais capitais
brasileiras, já que a ocupação é um retrato da disputa de território entre diferentes
classes sociais. Belém foi fundada em 12 de janeiro de 1616 e desenvolveu-se a partir
do leito do rio até meados do século XVIII, sendo sua ocupação inicial às margens do
Rio Guamá e da Baía do Guajará. Os primeiros bairros da capital paraense são a Cidade
Velha e a Campina. Somente após a segunda metade do século XIX é que a apropriação
do território passou a se interiorizar e a caminhar em direção aos rios e igarapés levando
à apropriação, primeiramente, dos terrenos mais altos. De acordo com Cruz (1994), as
áreas mais baixas passaram a ser utilizadas nas atividades agropastoris com a criação de
fazendas, vacarias, sítios e rocinhas.
É no contexto de Belle Époque, das reformas urbanas que ocorriam na Europa,
no desenvolvimento da economia do látex na Amazônia, juntamente com o fato de
Belém ter se tornado o principal porto de escoamento da borracha, produto conhecido
no mercado internacional como o “Ouro Branco”, que surgiu à necessidade de
modernizar a cidade. No período de 1887-1911 a capital passou por intensas reformas
urbanas e por medidas excludentes que prejudicaram a população de baixa renda, como
é o caso da política de remoção dos cortiços (casas habitadas pelas classes de menor
poder aquisitivo) das regiões centrais da cidade em direção a áreas periféricas, visando
combater a feiura e a falta de higiene, sinônimos de atraso para o governo da época.
Apesar das intervenções urbanas terem sido planejadas ainda no governo de
Jerônimo Coelho, foi a partir do Intendente Antônio Lemos que ocorreram as mudanças
mais significativas no espaço urbano de Belém. Para Lemos, era necessário que a cidade
passasse por um processo de embelezamento e medidas enérgicas eram fundamentais
para trazer progresso à região. Em 1901 foi criado o Código de Polícia Municipal que
tinha como um dos principais objetivos controlar as autoconstruções.
De acordo com Oliveira, as autoconstruções consistem em:
Obra sem apoio técnico, de baixa qualidade, que gera desperdício de
material, obriga chefes de famílias a sacrificarem dias de folga em canteiro
improvisados, além de favorecer ocupação de áreas irregulares - sem falar
nos danos à economia formal. Há o predomínio de casas semiconstruídas ou
construídas com material de baixa qualidade e geralmente simboliza um
35
espaço de segregação sócio espacial em locais Periferizados, alagados, fonte
de uma mão-de-obra de baixo poder de compra. Ainda hoje a autoconstrução
é muito exercida no Brasil - a prática responde por quase 80% da produção
anual de unidades. (OLIVEIRA, 2008).

Através do código de postura o governo combateu estas habitações visando
modernizar a cidade. Para isso, determinou desde questões técnicas que precisavam ser
obedecidas pelos moradores, até a proibição de materiais como a palha e a argila.
Após a retirada esses cidadãos passaram a ocupar, principalmente, as áreas de
baixadas que por serem regiões alagadas e abaixo da linha do mar eram locais
impróprios para construir habitações. A ocupação desses espaços funcionou como uma
alternativa para população que, sem ter outro local para habitar, se sujeitou à ausência
de uma política ampla que visasse não somente a mudança do território, mas também a
transformação nas práticas de vida. A política desenvolvida pelo Estado não foi
acompanhada da infraestrutura necessária para que os moradores pudessem morar com
dignidade.
As periferias reproduziram as mesmas condições anteriores, uma vez que os
problemas decorrentes do abandono estatal se repetiram, como: a favelização, a
violência, o desemprego, a informalidade, doenças endêmicas e de pele, entre tantos
outros por menores a que foram e ainda hoje são vítimas os moradores de periferia.
Além disso, houve a degradação dos recursos naturais em virtude da ocupação do leito
dos igarapés. Por outro lado, nas áreas centrais houve uma intensa intervenção do poder
público favorecendo o surgimento de hotéis, magazines, lojas, teatros e restaurantes.
Fenômeno que ocasionou disparidades na reprodução do espaço urbano de Belém.
Figura 3- Imagem da Loja de produtos de luxo Paris n‟América e à direita a foto da
Avenida Presidente Vargas (15 de Agosto) no início do séc. XX.
36

Fonte: http://parahistorico.blogspot.com/2009/02/belle-epoque-e-era-lemos.html

As áreas nobres passaram por um intenso processo de urbanização e por causa
desses benefícios se tornaram valorizadas economicamente. Após o processo de
remoção e valorização dos terrenos surgiu, em Belém, um mercado de imóveis
destinados a alugar e/ou vender lotes de terra. Fato que beneficiou as classes de maior
poder aquisitivo que se apropriaram das regiões centrais, principalmente, dos bairros do
Umarizal, Nazaré e do entorno da Avenida Doca de Souza Franco. Este episódio
transformou significativamente o cenário da metrópole paraense.
De acordo com ABELÉM (1986) nos anos 60 houve o crescimento populacional
na cidade de Belém impulsionado entre outros fatores pelo êxodo rural, isto é, a
migração campo – cidade que gerou inchaço na capital paraense. Para suprir essa
demanda houve a multiplicação das vilas e passagens nos terrenos não alagados, fato
que extinguiu várias árvores da cidade, além do aumento de palafitas em locais que
recebiam os esgotos das áreas altas e a ocupação de indústrias e conjuntos habitacionais.
A partir dos anos 70 a cidade sofreu mudanças mais latentes, como o processo
de desorganização e de reorganização do espaço urbano. As ocupações das áreas de
baixada começam a representar problemas para o setor imobiliário e para o Estado.
Segundo Cruz (1994, p. 53): “O setor imobiliário terá problemas com a população
habitante das periferias e/ ou baixadas porque na medida em que a cidade se expande
suas áreas vão valorizando e, portanto, sendo disputadas com mais intensidade”.
Já na década de oitenta e noventa a cidade se expandiu em direção a áreas
distantes ocupando as regiões vizinhas ao que é hoje o Entroncamento, em dois eixos
37

principais: um em direção ao Distrito de Icoaraci pelas Avenidas Augusto Montenegro e
Tavares Bastos e o segundo rumo à Ananindeua. Outro caminho também utilizado foi a
Rodovia Arthur Bernardes. Essas vias empurraram a população de baixa renda para
lugares cada vez mais distantes dos bairros centrais.
Em 2002, o governo do Estado do Pará retomou o discurso modernizador de
Lemos ao propor o embelezamento da cidade, através de uma política de reformas,
principalmente, nos edifícios históricos e culturais localizados no centro. É o caso do
projeto que revitalizou a Estação das Docas - esse espaço antes da intervenção apenas
fazia parte da região portuária da cidade e hoje, nove anos após sua inauguração é um
importante ponto turístico.
Essa ação estatal teve como base o projeto arquitetônico do Puerto Madero, de
Buenos Aires, e objetivou fortalecer a imagem de cidade ribeirinha e Amazônia. As
obras faziam parte de um projeto de marketing urbano para Belém que visava estimular
o turismo e os investimentos na região, ainda hoje, a indústria hoteleira regional utiliza
o slogan de Belém como capital da Amazônia.
Atualmente a cidade de Belém vivencia um processo de crescimento horizontal,
principalmente, ao longo da Avenida Augusto Montenegro em direção ao Distrito de
Icoaraci. Esta via representa hoje um dos espaços de maior circulação de pessoas e
veículos, além de ser o principal acesso a condomínios fechados, supermercados,
faculdades, clubes, lojas e até um shopping que será inaugurado em 2012. Nota-se que é
crescente a urbanização no entorno da avenida e por isso é comum encontrar quem a
chame de canteiro de obras.
Se antes esse espaço representava um território habitado pelas classes de menor
poder aquisitivo devido, entre outros motivos, o preço mais acessível dos terrenos, hoje,
a grande valorização de alguns trechos da avenida faz com que os imóveis estejam
sendo comercializados pelos mesmos preços dos bairros centrais. Fato que provoca,
novamente, a expulsão da população de baixa renda para territórios ainda mais
longínquos.
38

5 O LUGAR DA PESQUISA DE CAMPO
O lugar escolhido para o desenvolvimento da pesquisa de campo foi o ambiente
escolar, mais especificamente a sala de aula, por ser este um espaço importante no
desenvolvimento de relações coletivas entre diferentes sujeitos sociais. Mesmo sendo
um lugar rico, várias vezes ele passa despercebido, e muitas das suas potencialidades
ficam subjugadas a um segundo plano: o de preparar o aluno para o mercado de trabalho
ou para ter acesso ao ensino superior. Para Cardoso (2006), a sala de aula é um espaço
singular para ser observado.
A sala de aula é um desses espaços. Lugar de encontro de diferentes sujeitos,
ela é palco no qual se apresentam diferentes expressões sociais, de vida e do
cotidiano. Palco que revela expectativas daqueles que o habitam. Alunos e
professores. Sujeitos que transitam entre a formalidade do universo
institucional escolar e a informalidade dos universos do cotidiano local (do
bairro, da região na qual vivem) e global (expressa pelas mídias). Universos
que podem ser criadores de mecanismos de controle, indução, reprodução, ou
mesmo de reflexão e libertação do pensamento. (CARDOSO, p.13, 2006).

A escola tem, portanto, um importante papel social na formação individual e
coletiva e por isso é um interessante objeto de estudo para diversas áreas do
conhecimento, uma vez que ela permite, ao pesquisador, analisar a maneira que se
processam as RS.
Visando este objetivo foram escolhidas duas instituições de ensino para
subsidiar o trabalho: a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora
Maria Antonieta Serra Freire e a também Escola Estadual Professor Camilo Salgado.
5.1 INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES:
5.1.1 A escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Maria
Antonieta Serra Freire (SF)
A escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Maria Antonieta
Serra Freire (SF) foi fundada em 28 de abril de 1982 e está localizada no Distrito de
Icoaraci, na Avenida Contorno Sul, s/n, distante 14 km das áreas centrais de Belém. A
escola possui uma estrutura física de grande porte, mas que ainda está deteriorada,
mesmo após um ciclo de reformas implementadas pela atual diretoria, a qual é
coordenada pela professora Ojeci Valente.
39

O SF é uma das maiores e mais importantes escolas do Distrito. Ela possui
cinco turmas do 3º ano do ensino médio regular, das quais, duas participaram da
pesquisa de campo, estas foram escolhidas por uma questão de acessibilidade a
instituição e para que a pesquisa pudesse ser realizada no mesmo horário, o turno da
tarde, em ambas as escolas. A instituição tem 23124 alunos matriculados divididos nos
turnos da manhã, tarde e noite. As turmas, de acordo com os dados da SEDUC,
deveriam ter 40 alunos por sala, mas essa estatística não foi confirmada, já que a
somatória dos alunos entrevistados nas duas turmas do SF foi de 60 estudantes.
Para realização da atividade marcou-se uma conversa inicial com a diretora da
escola, a qual se mostrou bastante solícita e disse que os alunos gostavam de trabalhos
semelhantes ao da pesquisa. Nesse primeiro momento foi entregue o ofício assinado
pelo diretor da Faculdade de Comunicação5 solicitando a utilização do espaço e
equipamento de vídeo para realização da mostra audiovisual. A escola disponibilizou
notebook, data show e caixa acústica e a atividade ocorreu no auditório.
5.1.2 Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Camilo Salgado
A escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio professora Camilo Salgado,
está localizada na Avenida Roberto Camelier, n°823, no bairro do Jurunas. A frente da
unidade está à diretora Maria Cortes. De acordo com as informações da SEDUC, a
instituição possui 1762 alunos regularmente matriculados, divididos nos três turnos de
funcionamento (manhã, tarde e noite). Segundo a Secretaria a instituição possui oito
turmas do 3º ano do Ensino Médio, com 40 alunos cada uma, mas ao desenvolver a
pesquisa obteve-se que a soma de questionários respondidos, em duas turmas, foram de
40 entrevistas.
A instituição é uma das escolas mais conhecidas do bairro e tem uma estrutura
física avaliada como boa em relação às demais. Para mostra audiovisual foi solicitado o
empréstimo de equipamento de vídeo mediante ofício entregue a direção, a qual
disponibilizou seu DVD e TV. A pesquisa foi realizada no auditório, o qual é um dos
poucos locais refrigerados da unidade e ocorreu sem maiores problemas.

4

5

Informações retiradas do site da Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC).
Na época da pesquisa a FACOM contava com um diretor interino, o professor Ronaldo Guerra.
40

5.2 AS BANDAS: MADAME SAATAN E COLETIVO RÁDIO CIPÓ.
A banda Madame Saatan foi criada em 2003, em Belém do Pará, e atualmente
reside em São Paulo. O grupo se define como alternativo e diz tocar um som que é uma
mistura de heavy-metal com letras em português, ao som de música brasileira que vai
do Lundú até a Música Popular Brasileira (MPB). O primeiro videoclipe gravado pelo
grupo foi Devorados que teve como cenário a comunidade Vila da Barca, na época, o
local era constituído de palafitas, 50 pessoas trabalharam na produção do vídeo que foi
exibido em várias emissoras, como: a MTV, o Multishow, e a Rede Globo.
O núcleo de produção de mídia sonora e vídeo arte Coletivo Rádio Cipó, teve
início em 2004 quando um grupo de amigos se uniu para fazer produção sonora e
gráfica, anos mais tarde eles decidiram organizar tudo no disco: “Formigando nas
calçadas do Brasil”, este trabalho foi 90% produzido em estúdio caseiro. O trabalho é
uma homenagem à Comunidade Álvaro Adolfo, localizada na Pedreira, por ser este o
espaço em que o grupo organizava oficinas de percussão e ritmos eletrônicos. Em 2005,
o grupo gravou o DVD de nome EletroFunkDubSocial que tem como proposta ser um
documentário com depoimentos e videoclipes, entre eles, Matinha do Cruzeiro, um dos
produtos apresentados na mostra audiovisual organizada pela presente pesquisa.
5.3 A MÍDIA: VIDEOCLIPES
Objetivando fazer com que o público-alvo tivesse um objeto midiático para
analisar visando confirmar ou não a hipótese inicial desta monografia, a de que a mídia
influencia na constituição das representações sociais, foram escolhidos dois videoclipes
de bandas paraenses que se autodefendem como integrantes do mercado independente
de Belém.
A opção por clipes se deu pelo caráter rápido desse tipo de produção, já que ele é
a versão filmada de uma música e, portanto, um curta-metragem. Esta foi a melhor
estratégia encontrada para que se conseguisse adentrar no ambiente escolar sem
prejudicar o andamento das aulas. Com essa ferramenta os estudantes perderam o
mínimo de aula possível e o objetivo da pesquisa foi alcançado, o de fazer com que eles
participassem e respondessem os questionários.
Os videoclipes selecionados (Devorados e Matinha do Cruzeiro) foram
escolhidos por serem trabalhos conceituais, gravados em cenários cotidianos e que
pretendem ser muito mais que a ilustração de uma canção, propõe a representação de
41

um tema, nesse caso: da periferia. Esses produtos tornaram-se interessantes por
possuírem um enfoque de documentário. Devorados, foi dirigido pela cineasta paraense
Priscila Brasil.
5.4 A IMPORTÂNCIA DOS DESENHOS PARA A PESQUISA
A psicologia é a ciência que utiliza a técnica dos desenhos como instrumental de
análise seja em clínicas, no trabalho ou ainda nas escolas. Isso ocorre porque os
desenhos do examinado representam seu modo de interpretar dada situação, ou seja, de
exteriorizá-la, eles são usados tanto para avaliar um candidato nos processos seletivos
das empresas, como também em clínicas.
Os desenhos produzidos pelos estudantes são, portanto, uma interessante
ferramenta a ser analisada, uma vez que eles constituem não uma representação fiel da
realidade, mas a interpretação por parte da população da pesquisa sobre o lugar em
vivem. A maneira pela qual percebem e interpretam o tema periferia será observado nos
desenhos.
Para a análise foram selecionados 12 trabalhos, escolhidos por respeitarem o
quesito legibilidade e possuírem elementos comuns nos demais trabalhos. Dos 100
estudantes, 90 produziram um desenho que representasse, a seu ver, a periferia de
Belém. Ao observar os desenhos notou-se que as abordagens eram principalmente: (1)
violência, (2) Infraestrutura inadequada (3) momentos de lazer entre grupos e (4)
concentração populacional.
5.5 APRESENTAÇÕES DOS SUJEITOS DA PESQUISA: ALUNOS
O questionário elaborado para pesquisa de campo teve início com perguntas de
caráter pessoal, como sexo, escola, idade e bairro, ao fazê-lo, obtiveram-se os seguintes
resultados: dos 100 estudantes entrevistados, 80% são do sexo feminino e 20% do
masculino.
A interpretação desses dados pode ser explicada, entre outros motivos, pela
elevada taxa de evasão escolar, principalmente, no que tange a EEEFM Professor
Camilo Salgado (CS) que de uma totalidade de 80 alunos matriculados em duas turmas
do terceiro ano do médio tinham frequentando cerca de 50 alunos, sendo que em dias de
42

provas esse número alcançava seu maior índice; nos demais menos alunos assistiam às
aulas, segundo os relatos dos professores e alunos6.
No dia da pesquisa na CS estiveram presentes, somando as duas turmas, 40
alunos, o que justifica o fato do número de estudantes da EEEFM Maria Antonieta Serra
Freire (SF) ter sido maior, já que dos 80 alunos matriculados 60 participaram da
pesquisa. Esta escola também enfrenta a mesma dificuldade, no que tange ao abandono
do ano letivo, mas em menor proporção.
Gráfico 1 – Evasão escolar

Fonte: Dados da Pesquisa

Os entrevistados disseram que são os homens os mais suscetíveis a abandonar os
estudos precocemente, em virtude da necessidade de começarem a trabalhar e ter em
que ajudar na renda da família ou ainda sustentarem sozinhos a sua casa. Entre as
mulheres, constatou-se que a evasão escolar é menor, mas ocorre por ser necessário
ajudar a complementar a renda dos pais, ter que se auto-sustentar ou ainda por uma
gravidez indesejada. De acordo com a informação passada pelos jovens, várias colegas
largaram os estudos por causa de uma gestação.
Com este resultado a inferência que foi feita é de que a evasão escolar ainda é
um problema. O desafio de fazer com que o aluno permaneça na sala de aula parece
estar longe de ser superado e isso ocorre por vários motivos, como: a estrutura
inadequada das escolas, o número reduzido de instituições, fato que não supre a real
demanda da comunidade fazendo a distância casa-escola ser mais um empecilho, além
disso, um ensino distante da realidade do aluno. São fatores citados por eles como
pontos que não colaboram para a sua permanência na escola.
6

A pesquisa foi realizada no período de janeiro a fevereiro de 2011.
43

Gráfico 2 - Quanto ao sexo

Fonte: Dados da pesquisa

No que diz respeito à idade do público-alvo foram propostas quatro
possibilidades de escolha: (1)15-17; (2)18-20; (3) 21-23; (4) Outras. Qual? Com essa
informação conseguiu-se identificar qual a faixa etária da maioria dos entrevistados e
sua incidência em porcentagem, ao analisar os questionários verificou-se que a idade
mais abrangente assinalada pelos jovens compreende o intervalo 2 seguido da
frequência 1, mas também, ainda que em menor proporção, foi escolhido o número 3 e o
4. Aos que marcaram a alternativa 4 foi proposto que dissessem qual a sua idade e com
essas repostas encontraram-se concluintes de até 30 anos de idade.
O resultado obtido mostrou que o público-alvo da pesquisa tem de 15 a 30 anos.
Como justificativa para essa disparidade defende-se os motivos já citados
anteriormente, como a evasão escolar, ocasionada pela gravidez na adolescência, a
exigência de ter que trabalhar mais cedo para se auto-sustentar e ainda o ingresso tardio
nas instituições de ensino.
Gráfico 3- Quanto à idade

Fonte: Dados da Pesquisa
44

Em relação à pergunta sobre o tempo em que o aluno estuda na respectiva
escola, obteve-se o resultado de que a maior parte dos participantes está inseridas no
intervalo de tempo de 1 a 3 anos (47%), já os demais estudam na mesma escola de 4 a 6
anos (28%) e de 7 a 9 anos são (25%), como análise percebeu-se que boa parte dos 25%
que disseram frequentar a mesma unidade de ensino estudam, sobretudo, no SF.
Enquanto que a maior parte dos estudantes do CS marcaram a primeira opção.
Essa estatística pode estar atrelada ao fato do Distrito de Icoaraci e Outeiro
estarem mais distantes do centro, ter poucas escolas de grande porte, isto é, com mais de
2.000 alunos e que disponibilizem vagas da 5º série do ensino fundamental ao 3º ano do
Ensino Médio, além da própria organização da instituição e sua “localização geográfica
privilegiada”.
Para vários estudantes o SF é bem localizado e por isso é um lugar bom de
estudar. Esse relato pode explicar a opção destes e de suas famílias por permanecerem
na mesma escola durante mais tempo, já no CS o intervalo de 1-3 anos, talvez, ocorra
com freqüência pela poucas vagas oferecidas anualmente, partindo da hipótese de que
os jovens só conseguiram se matricular na instituição para cursar o Ensino Médio.
Vários estudantes também disseram gostar de estudar no CS, apesar de não ser essa a
instituição dos seus sonhos.
Gráfico 4 - Quanto ao tempo de permanência na instituição de ensino

Fonte: Dados da Pesquisa

No que diz respeito ao bairro, o público da pesquisa mora principalmente no
Distrito de Icoaraci 52 alunos, e isso mostra que a maioria dos estudantes residem
próximo à escola, nesse caso ao SF. O segundo bairro mais citado é o Jurunas com 28 e
a Condor 11 pessoas, também foram citados o bairro da Batista Campos 1, conhecido
por ser um dos bairros nobres de Belém, além do Tapanã 3 estudantes e a Ilha de
45

Caratateua, conhecida como Distrito do Outeiro 5. Nota-se que dos bairros citados
apenas Batista Campos é tido como área nobre da cidade, os outros são conhecidos por
constituírem a periferia de Belém. O bairro do Tapanã, o distrito de Icoaraci e Outeiro
foram citados, principalmente, em relação à distância que os separa da capital do
Estado.
Gráfico 5 - Quanto ao bairro

Fonte: Dados da Pesquisa
46

6 ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA PERIFERIA DE BELÉM.
Ao interpretar os dados da pesquisa de campo podem-se constatar diferentes
representações sociais, as quais serão apresentadas ao longo desse capítulo. Esses dados
foram obtidos por meio da aplicação de questionários, dos desenhos elaborados pelos
estudantes, das músicas e palavras destacadas, além da entrevista em profundidade
realizada com os jovens. Para apresentar os resultados, optou-se pela estratégia de
classificá-los em cinco temas, tomando como base o conteúdo das entrevistas e do
referencial teórico: (A) Conceitos e definições sobre periferia; (B) Violência; (C)
Concentração populacional (D) Infraestrutura deficiente (E) União entre vizinhos.
6.1 QUEM É O MORADOR DA PERIFERIA?
Uma das representações mais fortemente presentes nos discursos dos alunos é a
infraestrutura deficiente nas áreas de periferia. Ao serem questionados sobre a
localização do seu bairro constituir ou não a periferia 63 pessoas responderam
positivamente à indagação, 29 disseram não fazer parte e 8 estudantes deixaram em
branco. Nas entrevistas em profundidade, percebeu-se que a opinião sobre morar ou não
na periferia estava diretamente ligada à infraestrutura do lugar e ao sentimento de
pertença em relação ao bairro, já que para alguns alunos residir nessas áreas não os faz
se identificar com o local:
A- Onde eu moro não é bem periferia, apesar de ser um bairro conhecido
como periferia eu considero bem tranquilo. Um lugar que não tem muito
roubo, assalto, não é feio, dá para se viver. Não me considero um jovem da
periferia, porque não me vejo nesse estilo “amalandrado”. Minha mãe diz
que tenho tudo como pobre, mas sempre dá para ter mais. (Trecho da
entrevista com jovem).
A- Moro na periferia, mas não me considero da periferia, pelo fato de
pensar diferente, de conhecer outras coisas. Eu tenho uma visão diferente
da maioria das pessoas daqui. (Trecho da entrevista com jovem).

Isso implica dizer que habitar ou não esses espaços, está para além de fixar
residência em determinado território. Para os jovens citados, significa se sentir
pertencente ao bairro, isto é, se identificar com o lugar. Outro ponto que se pode
destacar é a agilidade com que os estudantes dos bairros do Jurunas, Condor e Tapanã
responderam a pergunta e isso talvez tenha ocorrido pelo fato dessas áreas serem alvos
diários de notícias, inúmeras delas relacionadas: (B) Violência, (C) Concentração
populacional e (D) Infraestrutura.
47

Imagem 2 – Ilustração sobre a periferia de Belém

Fonte: Dados da pesquisa

Essa hipótese lembra a teoria da Agenda Setting, a qual trabalha a mídia como a
responsável por pautar os assuntos que serão discutidos nas rodas de conversa e, além
disso, como responsável pela propagação de ideias cristalizadas. Para os alunos,
periferia é:
B- Um lugar abandonado, o Estado não faz nada por ela. São bairros sem
segurança, onde reina a violência e as pessoas têm medo, quem manda na
periferia são os bandidos, não a polícia. (Trecho da entrevista com jovem).
D - Pra mim periferia é um lugar feio, que mora muita gente, é sujo, pobre e
as casas são construídas de forma precária e em regiões perigosas. As pessoas
que moram ali ficam vulneráveis a várias coisas, como a fúria da natureza.
Vi, na televisão, os desmoronamentos no Rio de Janeiro. Famílias que
perderam tudo, porque as casas foram feitas nos morros, aqui em Belém elas
sempre alagam quando chove. (Trecho da entrevista com jovem).
48

As respostas possibilitaram perceber que os estereótipos reproduzidos pela
mídia influenciaram na opinião dos jovens, uma vez que a multiplicação de ideias e
valores, como também dos elementos mencionados acima contribuíram para que a
maioria dos entrevistados, residentes nestes bairros, dissessem morar na periferia. É o
que Moscovici conceitua como senso comum, isto é, uma verdade compartilhada nesse
caso, a ideia tornada consenso é a periferia como o lugar da ausência, um espaço sem
infraestrutura de qualidade, violento e de elevada concentração populacional.
No que diz respeito aos desenhos, a maioria dos entrevistados também
representou estas temáticas como, por exemplo, nas ilustrações na página anterior. A
primeira imagem faz referência à elevada taxa de natalidade da população de baixa
renda, isto é, a alta concentração populacional nas periferias de Belém que na ausência
de uma infraestrutura adequada está sujeita a ação de roedores e, portanto, a
leptospirose. Já o segundo trabalho aborda a questão da violência, em que um dos
garotos apresenta uma fisionomia agressiva e uma faca na mão, contrastando com o
rapaz que está de costas e com a cabeça inclinada. Este parece olhar para o alto, talvez,
uma representação da morte enquanto encontro com um ser superior, Deus.
Já para os estudantes que disseram não ser da periferia observou-se que esta foi a
resposta, principalmente, dos residentes no Distrito de Icoaraci e Outeiro e isso pode ter
acontecido, entre outros fatores, devido a distância geográfica do centro da cidade até
esses bairros, o que possibilita terem uma logística diferenciada e certa autonomia no
que diz respeito à infraestrutura comercial. Outro ponto importante que foi verificado é
que mesmo dentro dos distritos as pessoas responderam tendo como base a
infraestrutura ao redor da sua casa.
Por exemplo, em Icoaraci, os estudantes que moravam próximo à orla da praia
do Cruzeiro inferiram que não estão na periferia, enquanto que os residentes em áreas
próximas a ocupações não planejadas e ao rio Paracuri I e II disseram morar na
periferia. Essa diversidade de opinião ou mesmo a atitude de preferir não opinar, mostra
o conflito existente para se definir o que é ou não a periferia de uma cidade. Notou-se
que os questionários sem respostas eram de alunos residentes nesses bairros.
Gráfico 6 - Em relação ao bairro de sua residência e a periferia
49

Fonte: Dados da Pesquisa

Ao serem questionados sobre a localização das suas escolas se elas estão ou não
na periferia percebeu-se, também, a existência de um conflito, no que tange à definição
do que é estar ou não na periferia. Ao ser perguntado sobre o assunto (58) alunos
responderam sim, para eles sua escola está localizada na periferia, (36) disseram não e
(6) estudantes deixaram em branco, pediu-se ainda que justificassem suas respostas,
alguns o fizeram, outros não.
Aos que responderam negativamente, utilizaram como justificativa a qualidade
da infraestrutura do lugar. D -“minha escola não faz parte da periferia porque ela se
encontra em uma rua bem diferente, a rua é pavimentada”, para esse aluno estar ou não
na periferia depende em grande medida da infraestrutura que o local apresenta já outros
disseram que a escola faz parte por ser um lugar que tem muitas casas e elas são todas
próximas, para esses indivíduos a representação feita está intimamente ligada à estrutura
inadequada e à alta concentração populacional.
Esses temas foram bastante relatados nos desenhos dos estudantes como nas
ilustrações abaixo, em que a primeira retrata a concentração populacional e a violência.
Este tema foi representado pela figura de dois jovens que do alto da laje simbolizam um
traficante que atira, devido o não pagamento de uma dívida. Esse ato ocorre enquanto o
devedor brinca de papagaio, uma alusão à infância/juventude roubada, já a segunda cena
são várias casas no alto de um morro com uma criança ou jovem empinando papagaio.
Essa imagem é uma representação muito presente no videoclipe Devorados e talvez isso
explique os inúmeros desenhos contendo esses elementos.

Imagem 3 – Ilustração sobre a periferia de Belém
50

Fonte: Dados da pesquisa

Para alguns estudantes a resposta que melhor define se sua escola está ou não
na periferia é : A-“É periferia porque fica no Jurunas e Jurunas é periferia”. Esse aluno
acredita que basta ele dizer o nome do bairro para que o termo seja auto-explicativo.
Para o aluno este nome já apresenta carga simbólica e uma imagem consolidada na
cabeça das pessoas, tal qual na sua mente, uma vez que a opinião dele é a mesma
reproduzida pela mídia, isto é, os estereótipos difundidos lagarmente pelos veículos de
comunicação e já discutidos anteriormente, exercem forte influência na definição do que
é estudar ou não em um bairro de periferia.
Gráfico 7- Em relação o bairro que sua escola está localizada e a periferia
51

Fonte: Dados da Pesquisa

A questão de número oito propôs aos alunos que respondessem se existe
identificação entre eles e o que foi mostrado nos dois videoclipes. O resultado alcançado
é que a maioria dos entrevistados 58 pessoas não se reconhecem nos vídeos, entre
outros motivos, por não concordarem com o exposto, já que eles vivem uma realidade
diferente da mostrada: B- “na localidade que eu moro é um conjunto habitacional e lá
não existe muita violência”.
Outro ponto relatado pelos alunos é que por não morarem em palafitas ou em
vilas, não se identificam com os trabalhos que foram gravados em localidades do
gênero. Devorados foi gravado na Vila da Barca, antes do PAC, em que as habitações
eram do tipo palafitas e o vídeo Matinha do Cruzeiro em vilas, ao redor do canal de
mesmo nome, além disso foi justificada a não identificação pelo fato de existirem
lugares e situações bem piores do que foi mostrado. Esta resposta teve como justifcativa
que, para o estudante, o seu bairro sofre com vários problemas não retratados pelas
produções.
Já para os (36) alunos que responderam sim, o dia-a-dia dos moradores se parece
com o seu, justificaram dizendo que existe identificação com o exposto, já que estes
vivem em uma realidade semelhante à proposta pelas bandas, e para eles os problemas
enfrentados pelos moradores desses bairros são resultados do abandono do poder
público. Quanto aos que não responderam foram 6 alunos que talvez não tenham
entendido a proposta.
A representações sociais reproduzidas aqui estão ligadas à diversidade e
complexidade das áreas de periferias que, para a maior parte dos estudantes, não foi
mostrada. Para os entrevistados, os videoclipes estigmatizaram as comunidades
mostrando repetidamente o que falta, o que não tem nesses locais ou a real violência,
52

mas não retrataram ás manifestações culturais, de resistência, a organização popular e
ação dos centros comunitários. De acordo com Souza, a periferia é diversa:
Outra forma possível de perceber-se a periferia passa pelo reconhecimento de
que os seus habitantes desenvolvem formas ativas e contrastantes para
enfrentarem suas dificuldades do dia-a-dia, de acordo com suas trajetórias
pessoais e coletivas, as características socioculturais e geográficas do seu
território e a postura assumida pelas suas lideranças e pelas instituições
locais, dentre outras variáveis. Naturalmente, a superação dos evidentes
limites presentes nas condições de vida dos habitantes da periferia é uma
necessidade, a ser encarada pelos poderes públicos e pelos setores sociais
identificados com a democracia e a justiça social. (SOUZA, 2005).

Nesse sentido, os videoclipes não abordaram o cotidiano dos moradores, as
dificuldades enfrentadas por eles e a maneira que se organizam na luta por melhores
condições de vida. Outro ponto citado como uma característica da periferia é a união
entre vizinhos.
Gráfico 8 – Em relação à identificação com os videoclipes

Fonte: Dados da Pesquisa

A pergunta de número nove diz respeito à avaliação que os jovem fizeram sobre
os videoclipes, o objetivo era saber o que pensavam os estudantes sobre a maneira que
as bandas representaram a periferia de Belém. A opção selecionada pela maioria 57
pessoas foi a palavra bastante; para estes, o vídeo representa bem o tema 24 pessoas
acharam que representa pouco e justificam dizendo que a abordagem feita pela banda
trabalha apenas os problemas das periferias, principalmente, a questão da violência
deixando de contemplar, por exemplo, a riqueza cultural do lugar. Para 19 alunos a
palavra que mais se adequa é fielmente pelo fato dos produtos transmitirem fidelidade
ao cotidiano das periferias, apesar de ter sido sugerida pela pesquisa a palavra não 0
nenhum entrevistado a escolheu.
53

Gráfico 9- Quanto a avaliação dos videoclipes

Fonte: Dados da Pesquisa

Como na questão anterior (24) pessoas haviam dito que os videoclipes
representavam pouco a realidade, perguntou-se na questão 10 sobre a maneira que
deveria ser abordado o tema, os resultados encontrados discorrem sobre a necessidade
de abordar pontos como, o clima amistoso entre vizinhos:
E- na periferia todo mundo se conhece é um lugar bom de viver porque aqui
a gente aprende mesmo a viver, a respeitar as diferenças, eu gosto dos meus
vizinhos e acho legal morar aqui. (Trecho da entrevista com jovem)
E- Existem vantagens de se morar na periferia porque aqui temos
acessibilidade com os vizinhos, conversamos com eles. Se acontecer alguma
coisa na tua casa eles te ajudam, tem muitas periferias que ficam próximas
aos centros. A periferia tem de tudo, pessoas classes média alta, baixa e que
acabam morando na periferia por opção ou falta dela. (Trecho da entrevista
com jovem).

Isso implica dizer, que para os entrevistados a periferia, também, representa um
lugar de povo alegre e unido e que os vizinhos convivem bem. Os alunos disseram,
ainda que os videoclipes não representaram a complexa logística do crime e os
diferentes contextos sociais das periferias de Belém, de acordo com eles existem
periferias mais estruturadas do que outras, uma vez que elas não são homogêneas, pelo
contrário, periferia é sinônimo de diferentes realidades e um videoclipe que se propõe
abordar o tema precisa mostrar isso. Essas foram às representações mais encontradas
para a questão.
Gráfico 10 - Quanto à representação de periferia
54

Fonte: Dados da Pesquisa

O espaço destinado para que os alunos escrevessem sua opinião sobre os
videoclipes foi a questão 11, que, por ser uma questão aberta, possibilitou múltiplas
respostas. No gráfico abaixo foram colocadas as de maior incidência, mas é importante
lembrar que não são os únicos entendimentos por parte dos entrevistados.
As respostas avaliativas do produto resultaram nas seguintes representações:
48% acharam o vídeo uma representação fiel da realidade, 14% relataram que o vídeo
mostra bastante a criminalidade que acontece diariamente nas periferias; para 11% o
que

mais foi mostrado é a estrutura inadequada das periferias brasileiras com a

presença de habitações do tipo palafitas e casebres, a ausência de saneamento básico de
qualidade, além da falta de oportunidade e de cidadania.
Para 10% os vídeos são interessantes ou muitos interessantes, de boa
musicalidade e foi bem gravado, eles também gostaram da iniciativa de se gravar nas
comunidades. 8% estão divididos entre os que não responderam e aqueles que acharam
os vídeos reducionistas, pelo fato de eles mostrarem apenas um lado das periferias, o
negativo, uma vez que para estes a periferia tem muito mais a ser mostrado:
A- Periferia é uma comunidade onde moram pessoas bem simples, humildes
e que têm diversos problemas como à criminalidade. A violência
normalmente se concentra nas periferias de qualquer cidade, mas ela,
também, tem coisas boas como o surgimento de cantores, jogadores de
futebol, atores, uma cultura da periferia. (Trecho da entrevista com
jovem).

O que disse o estudante acima é consenso para 8% dos entrevistados, os quais
disseram que faltou, no vídeo, mostrar a cultura da periferia. 6% acham que o vídeo
mostrou o descaso do poder público com as periferias. Os estudantes também citaram,
em menor proporção, outras percepções que não estavam no trabalho como o medo da
violência ocasionado pela inexistência de policiamento, o que torna a periferia um lugar
triste.
55

Os desenhos também abordaram a questão da infraestrutura precária nas
periferias, como nos exemplos abaixo que representam as palafitas construídas sobre os
rios de Belém, habitações feitas de madeira e que sinalizam risco a saúde da população.
Nas imagens também é retratada uma mulher lavando roupa no giral, uma espécie de
tanque feito de madeira, destinado a ser um espaço para que as pessoas lavem roupas e
louças. No segundo desenho são mostradas crianças brincando de bola e empinando
pipa o que sugere a interação entre os vizinhos e a precariedade a que estão expostos os
habitantes desses locais.
Imagem 4 – Ilustração sobre a periferia de Belém

Gráfico 11- Quanto ao parecer sobre os videoclipes.
ENTRE O GATILHO E OS LAÇOS DE AMIZADE: uma análise de recepção sobre a Representação Social da Periferia de Belém.
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ENTRE O GATILHO E OS LAÇOS DE AMIZADE: uma análise de recepção sobre a Representação Social da Periferia de Belém.

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ALINE MERIANE DO CARMO DE FREITAS ENTRE O GATILHO E OS LAÇOS DE AMIZADE: uma análise de recepção sobre a Representação Social da Periferia de Belém. BELÉM 2011
  • 2. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ALINE MERIANE DO CARMO DE FREITAS ENTRE O GATILHO E OS LAÇOS DE AMIZADE: uma análise de recepção sobre a Representação Social da Periferia de Belém. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, na Universidade Federal do Pará. Orientador: Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro. BELÉM 2011
  • 3. Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) _________________________________________________________________ _____ 305 F866p Freitas, Aline Meriane do Carmo de Entre o gatilho e os laços de amizade: uma análise de recepção sobre a representação social da periferia de Belém / Aline Meriane do Carmo de Freitas. - 2011. 85 f.: il. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) -- Faculdade de Comunicação Social, Universidade Federal do Pará, 2011. Orientador: Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro. 1. Periferia. 2. Representações Sociais. 3. Videoclipe. 4. Juventude. 5. Cidade. I. Castro, Fábio Fonseca de, orient. II. Título. ___________________________________________________________________ ___
  • 4. ALINE MERIANE DO CARMO DE FREITAS ENTRE O GATILHO E OS LAÇOS DE AMIZADE: uma análise de recepção sobre a Representação Social da Periferia de Belém. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, na Universidade Federal do Pará. Orientador: Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro. Aprovado em: Conceito: Banca examinadora: ______________________________________ Orientador: Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro ______________________________________ Professor ______________________________________ Professor
  • 5. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos moradores das periferias brasileiras, em especial aos jovens, que são as principais vítimas dos pormenores de se habitar espaços ausentes de infraestrutura adequada.
  • 6. AGRADECIMENTOS Ao Rei dos reis e Senhor dos senhores seja toda honra, glória e louvor. A Yeshua Hamashia meus agradecimentos por mais um ciclo que se encerra na minha vida e pela certeza de que um novo tempo começa, a partir da defesa deste trabalho. À Deus pela oportunidade de estudar em uma das maiores universidades públicas desse país, algo ainda restrito em nossos dias. Ao amigo Espírito Santo que me guardou, me livrou e esteve comigo durante todos os dias desse curso e que em meio às lutas e crises não me deixou desistir. Obrigada papai do céu pela convicção de que o melhor de Deus ainda estar por vir. Aos maravilhosos pais Walmir e Rosemeire Freitas que me ensinaram tudo que eu sei hoje e que mesmo não tendo a oportunidade de cursar uma universidade quando jovens lutaram contra todas as dificuldades para que eu chegasse até aqui. São por vocês, meus pais, o esforço e a dedicação empregados para terminar essa monografia. Meus amores, eu tenho muito orgulho da história de vida de cada um e sou muito grata por terem me amado, educado, protegido, mas também por terem sido sábios e me disciplinado quando foi preciso, isso fez com que eu não me perdesse em meio a tantas “ofertas” do mundo. Amo vocês! E saibam que eu sou muito feliz, porque a minha casa é um pedacinho do céu. À minha irmã Amanda Freitas que sempre será minha caçulinha amada independente da sua idade. Maninha, eu te amo e agradeço os conselhos, as piadas, o ombro amigo e principalmente por ser mãe da pessoinha mais importante do mundo pra mim, a minha sobrinha Sofia Freitas que com um sorriso no rosto e fazendo um coração com as mãozinhas me alegra diariamente. Escuta-la dizer: “Titia, eu te amo!” é um das minhas maiores felicidades. Amo! Aos meus avós maternos Carlos Alberto e Maria de Lourdes do Carmo e aos paternos Aristotes e Filomena Freitas que eu ainda tenho o privilégio de conviver e escutar sábios conselhos. Aos meus tios e primos o agradecimento pela torcida e por desejarem meu sucesso tanto quanto os seus. Ao Fernando Garcia um dos homens mais admiráveis que eu conheço pelo companheirismo, cumplicidade, parceria e atenção, várias vezes suportando as inconstâncias de humor que se tornaram bem mais acentuadas nessa fase. Nanando, a você meus sinceros agradecimentos e que independente da real distância existente entre nós, hoje, será sempre lembrado como o meu Último Romance. Para nós fica a
  • 7. pergunta: “Ah, será que o tempo tem tempo pra amar? Ou só me quer tão só?”. Amo-te, Garcia. Ao grande amigo Paulo Dias, pela cumplicidade e por ser o irmão que eu não tenho. À amiga Camila Barreto que chegou tão sem querer na minha vida e que se tornou essencial. Às minhas colegas de turma Paula Catarina e Killzy Lucena com quem compartilhei momentos importantes na graduação e que hoje mesmo morando em outro estado posso continuar contando, né Killzy? Á Cecília Meirelles pela amizade que já rompeu a barreira do tempo e a melhor amiga Maryellen Reis pela amizade que cresce na distância e que se faz presente nem que seja por uma mídia social. Á professora Rosaly Brito e Scarleth O‟Hara pelo profissionalismo e amor com que educam. Saibam que o meu desejo em seguir a carreira acadêmica é estimulado pelo exemplo de “fessoras” como vocês, comprometidas com a educação superior desse país. Ao meu orientador Fábio Castro, pela paciência em orientar este trabalho e por estar sempre disponível em me ajudar, mesmo diante de uma agenda lotada. Obrigada pelas orientações fundamentais na produção desta monografia.
  • 8. “O Que os novos movimentos sociais e minorias - as etnias e as raças, as mulheres, os jovens, ou os homossexuais - demandam, não é tanto ser representados, mas sim reconhecidos; fazerem-se visíveis em sua diferença”. Jesús Martín Barbero.
  • 9. RESUMO Este trabalho teve o objetivo de analisar a maneira com que jovens da rede pública de ensino constroem as representações sociais da periferia de Belém, a partir da influência midiática de videoclipes que utilizaram como cenário esses espaços. O primeiro vídeo utilizado na pesquisa chama-se Devorados e foi gravado na comunidade Vila da Barca, no bairro do Telégrafo, pela banda Madame Saatan, já o segundo denominado Matinha do Cruzeiro é uma produção do Coletivo Rádio Cipó e foi rodado na comunidade Álvaro Adolfo, situada na Pedreira. O aporte teórico empregado nessa monografia foram os autores Serge Moscovici, Jodelet e Abric e, além disso, os conceitos de cidade e periferia de Milton Santos que possibilitaram alcançar o objetivo da pesquisa, o de verificar e analisar as representações sociais engendradas pelos jovens sobre Belém do Pará. Palavras-chave: Periferia, Representações Sociais, Videoclipes, Juventude, Cidade.
  • 10. ABSTRACT This coursework had the goal of analyze the way young people of public schools build the social representation of Belém‟s outskirt, due to the media influence of music videos that used these spaces as setting. The first video used in the research is called Devorados and was filmed in the community of Vila da Barca, neighborhood of Telégrafo, by the band Madame Saatan; on the other hand, the second one, called Matinha do Cruzeiro is a production of Coletivo Rádio Cipó and was shooted in the community of Álvaro Adolfo, located in Pedreira. The theoretical support in this monograph was the authors Serge Moscovici, Jodelet e Abric and, furthermore, the concepts of city and outskirt of Milton Santos, which made possible to reach the objective of the research, to verify and analyze the social representations engendered by young people about Belém do Pará. KEYWORDS: Outskirt, Social representation, Music videos, Young, City.
  • 11. LISTA DE SIGLAS CF Constituição Federal CRC Coletivo Rádio Cipó ECS Escola Camilo Salgado ESF Escola Serra Freire FACOM Faculdade de Comunicação MPB Música Popular Brasileira MS Madame Saatan NC Núcleo Central MTV Music Television. PAC Programa de Aceleração do Crescimento RC Representações coletivas. RS Representações Sociais SEDUC Secretaria de Educação do Estado do Pará TAS Teoria da Agenda Setting TRC Teoria das Representações Coletivas TRS Teoria das Representações Sociais TNC Teoria do Núcleo Central UFPA Universidade Federal do Pará UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • 12. LISTA DE ILUSTRAÇÕES. Imagem 1- Loja de produtos de luxo Paris n‟América e a direita a foto da Avenida Presidente Vargas (15 de Agosto) no início do séc. XX. 37 Imagem 2 – Ilustração sobre a periferia de Belém 48 Imagem 3 – Ilustração sobre a periferia de Belém 51 Imagem 4 – Ilustração sobre a periferia de Belém 56 Imagem 5 – Ilustração sobre a periferia de Belém 58 Imagem 6 – Ilustração sobre a periferia de Belém 60 Imagem 7 – Ilustração sobre a periferia de Belém 61 Organograma 1 - O Campo de Estudos da Representação Social 24 Organograma 2- As Representações Sociais no Contexto da Teia de Significados Construídos pelo Homem ao Longo da História. 26 Gráfico 1 - Quanto à escola 43 Gráfico 2 - Quanto ao sexo 44 Gráfico 3- Quanto à idade 45 Gráfico 4- Quanto ao tempo de permanência na instituição de ensino 45 Gráfico 5- Quanto ao bairro 46 Gráfico 6- Em relação ao bairro de sua residência e a periferia 50 Gráfico 7- Em relação o bairro que sua escola está localizada e a periferia 52 Gráfico 8 – Em relação a identificação com os videoclipes 53 Gráfico 9- Quanto a avaliação dos videoclipes 54 Gráfico 10 - Quanto à representação de periferia 55 Gráfico 11- Quanto ao parecer sobre os videoclipes 57 Gráfico 12- Definição de periferia 59 Gráfico 13 - Representações Sociais de periferia 62 Gráfico 14 – Quanto ao acesso às informações 62 Gráfico 15- Sobre o ritmo musical que mais representa a periferia 64
  • 13. SUMÁRIO DEDICATÓRIA .............................................................................................................V AGRADECIMENTOS ................................................................................................ VI RESUMO....................................................................................................................... IX ABSTRACT ....................................................................................................................X LISTA DE SIGLAS ..................................................................................................... XI LISTA DE ILUSTRAÇÕES. ...................................................................................... XII SUMÁRIO ..................................................................................................................... 13 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 16 2.1 – QUESTÕES DE PARTIDA .................................................................................. 16 2.2 – JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 16 2.3 – OBJETIVOS .......................................................................................................... 17 2.3.1 – Objetivos Gerais ............................................................................................... 17 2.3.2 – Objetivos Específicos ........................................................................................ 17 2.4 – METODOLOGIA .................................................................................................. 18 2.5 – HIPÓTESES .......................................................................................................... 19 2.6 – DELIMITAÇÕES DO ESTUDO .......................................................................... 19 3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS .............................................................................. 20 3.1 DO SENSO COMUM À CIÊNCIA ......................................................................... 24 3.2 TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL (TNC) ............................................................ 30 4 O QUE É PERIFERIA? ............................................................................................ 33 4.1 A PERIFERIA NA CIDADE DE BELÉM .............................................................. 34 5 O LUGAR DA PESQUISA DE CAMPO ................................................................ 38 5.1 INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES: ...................................................................... 38 5.2 AS BANDAS: MADAME SAATAN E COLETIVO RÁDIO CIPÓ. ..................... 40 5.3 A MÍDIA: VIDEOCLIPES ...................................................................................... 40 5.4 A IMPORTÂNCIA DOS DESENHOS PARA PESQUISA. ................................... 41 5.5 APRESENTAÇÕES DOS SUJEITOS DA PESQUISA: ALUNOS...................... 41
  • 14. 6 ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA PERIFERIA DE BELÉM ...................................................................................................................................... 46 6.1 QUEM É O MORADOR DA PERIFERIA? .......................................................... 46 6.2 O QUE É PERIFERIA?.......................................................................................... 56 6.3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: O NÚCLEO CENTRAL. .......................... 63 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 68 1- QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA DE CAMPO .............................................. 73 2- VIDEOCLIPES UTILIZADOS NA MOSTRA AUDIOVISUAL .......................... 76 DEVORADOS (MADAME SAATAN) ..................................................................... 76 MATINHA DO CRUZEIRO (COLETIVO RÁDIO CIPÓ) ........................................ 77 3 – LETRAS SUGERIDAS PELOS ESTUDANTES DURANTE A PESQUISA...... 78 NEGRO DRAMA (MC RACIONAIS) ........................................................................ 78 VERMELHÃO FAIXA DE GAZA (MC ORELHA) .................................................. 79 DEPOIMENTO DE UM VICIADO (REALIDADE CRUEL) .................................... 81
  • 15. 14 1 INTRODUÇÃO A possibilidade de ouvir a voz daqueles que não têm espaço na grande mídia para expressar seus anseios, angústias e perspectivas são o diferencial da pesquisa de campo, seja ela de cunho quantitativo ou qualitativo. Este trabalho utilizou-se dos dois instrumentais com o intuito de elaborar a presente monografia, requisito para obtenção do diploma de comunicação social, habilitação em jornalismo. Através de questionários e entrevistas desenvolveu-se o trabalho de campo, uma vez que apesar da pesquisa de cunho quantitativo ter abrangência limitada por apresentar um roteiro pré-definido, ela foi fundamental na reunião dos dados estatísticos que legitima esse estudo. A entrevista individual por ser um método que permite maior liberdade entre o pesquisador e seus entrevistados, já que não há um roteiro definido e sim perguntas motivadoras pensadas com a finalidade de estimular a discussão contribuiu de forma significativa para perceber as entrelinhas das entrevistas. Outro fator relevante que justifica a utilização das entrevistas é a própria percepção do observador de um olhar, um gesto, um sorriso, tudo se torna relevante. A sensibilidade do pesquisador ao semblante do observado no momento da entrevista, também, foi um material interessante para o desenvolvimento desse estudo. Por esse motivo, optou-se pelos dois métodos, a fim de que eles desempenhassem a função complementar e tornassem a pesquisa mais abrangente e interessante. Este trabalho por entender a importância desse espaço, teve o objetivo de analisar a maneira com que jovens do terceiro ano do Ensino Médio de duas escolas públicas de Belém, veem a periferia da sua cidade, a partir da mostra audiovisual de dois videoclipes que utilizaram como locais de filmagens bairros da periferia. O objetivo dessa monografia foi verificar e analisar as representações sociais produzidas pelos jovens de diferentes instituições escolares sobre a temática em questão, a periferia de Belém. Estar mais próximo dessa realidade é um fator preponderante para a maneira que a percebem? E os discursos dos jovens sobre o tema se cruzam? Na tentativa de responder esses questionamentos foram selecionadas duas escolas de Belém que atendem públicos diferentes e possuem o terceiro ano do ensino médio. Como referencial teórico utilizou–se a Teoria das Representações Sociais de Moscovici, complementado por Jodelet e Abric, além de uma discussão sobre cidade e a formação das periferias de Belém.
  • 16. 15 O capítulo 1 desta pesquisa apresenta uma introdução sobre a TRS, além de discorrer sobre as características das periferias brasileiras. No capítulo 2 é encontrada a descrição da metodologia utilizada em que são apresentadas as questões de partida, a justificativa para escolha do tema, as hipóteses a serem testadas, os objetivos gerais e específicos do trabalho, e a delimitação de estudo. O capítulo 3 aborda os fundamentos teóricos da TRS, tendo como base os processos de Ancoragem e Objetivação empregados com a finalidade de explicar a apropriação popular de um objeto, ideia ou valor até torná-la senso comum. O capítulo 4 faz uma abordagem sobre o conceito de periferia discutido na presente pesquisa e contextualiza a origem das periferias de Belém. Além de uma explanação sobre a dinâmica das periferias de Belém. O capítulo 5 aborda uma explanação sobre os sujeitos desta pesquisa (alunos), objeto midiático (videoclipes) e as escolas participantes. O capítulo 6 evidencia os dados sistematizados acerca da pesquisa de campo, através dos resultados obtidos por meio dos questionários, das entrevistas em profundidade e da interpretação dos desenhos. O capítulo 7 discute o cerne da pesquisa de campo, através da teoria do núcleo central (TNC) tendo como aporte teórico Abric.
  • 17. 16 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este trabalho teve o objetivo de analisar a maneira com que os concluintes do terceiro ano do ensino médio, de duas escolas públicas de Belém, veem a periferia da cidade. Tendo como base as representações sociais apresentadas em dois produtos audiovisuais que utilizaram como cenário esses espaços: Devorados da banda Madame Saatan foi gravado na Vila da Barca antes do programa de aceleração do crescimento (PAC) que urbanizou o espaço, na época o lugar ainda era constituído de palafitas, já o segundo trabalhado é do Núcleo de Mídias Digitais Coletivo Rádio Cipó de nome Matinha do Cruzeiro, este videoclipe foi produzido na comunidade Álvaro Adolfo, no bairro da Pedreira. A partir da mostra audiovisual, seguida das respostas obtidas nos questionários, desejou-se discorrer sobre a concepção individual e coletiva de periferia que o públicoalvo da pesquisa possui, além de analisar a opinião desses atores sociais em relação à representação social de Periferia apresentada nos dois produtos. 2.1 – QUESTÕES DE PARTIDA Quais são as Representações Sociais, acerca da periferia de Belém, engendradas pelos alunos concluintes do Ensino Médio? Como os videoclipes utilizados na mostra audiovisual contribuíram para a formulação das Representações Sociais pelos estudantes supracitados? As Representações Sociais de periferia são semelhantes, apesar dos fatores que distinguem os alunos de diferentes classes sociais como: escolas, faixas etárias e localidades? 2.2 – JUSTIFICATIVA A explosão demográfica nas grandes cidades teve início com o processo de industrialização que impulsionou a migração campo-cidade. As cidades se tornaram um atrativo para quem almejava melhores condições de trabalho e moradia, muito embora a falta de preparo para receber o grande contingente migratório, a ausência de condições fundamentais para o exercício da cidadania e a ineficácia de políticas públicas para o setor habitacional tornou este cenário desfavorável, fazendo com que as cidades brasileiras passassem a ter espaços segregados – as periferias.
  • 18. 17 Por este leque de motivos, discutir periferia é um assunto atual, complexo, amplo e rico em possibilidades de abordagem, já que estas são regiões importantes, tanto em aspectos socioeconômicos quanto ambientais e culturais para o país. Outro fator que impulsionou a escolha da temática foi a explosão de produções audiovisuais no Brasil que, nos últimos anos, estão investindo ostensivamente em produtos que mostrem a realidade das periferias. Isso está ocorrendo não por uma concessão dos grandes centros ou dos veículos de comunicação, mas porque a periferia vem conquistando seu espaço, à medida que está organizada na busca por melhores condições de vida ou mesmo pelo destaque que vem sendo dado para a já consolidada e nomeada, segundo Vianna (2006) “indústria do entretenimento popular”. Tal evidência aumentou o interesse pessoal por uma pesquisa de Representação Social. Nesse contexto, a Teoria das Representações Sociais (TRS) proposta por Serge Moscovici (1981) e complementada por Jodelet (1984) e Abric (1998) se tornaram imprescindíveis para a análise de práticas do cotidiano, principalmente urbanas. Ao sugerir os instrumentos de Ancoragem e Objetivação Moscovici, propõe o entendimento da maneira que é constituído o senso comum, fato que inspirou o desenvolvimento deste trabalho, após a leitura do livro “O conhecimento no cotidiano – as Representações Sociais na perspectiva da psicologia social”, organizado por Spink (1993). Apurar cientificamente a maneira como é enraizado o senso comum entre grupos sociais, interpretá-los e analisá-los de modo que os comportamentos dos mesmos possam ser compreendidos são fatores importantes para a área de Comunicação Social, já que a mesma estuda a relação comunicativa homem-sociedade-mídia. Por este motivo, o presente trabalho vem a contribuir com a pesquisa do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Pará, que está fundamentado no tripé ensino, pesquisa e extensão, cumprindo seu papel de Responsabilidade Social – gerar integração entre o saber científico e o popular. 2.3 – OBJETIVOS 2.3.1 – Objetivos Gerais Analisar a RS de periferia apresentada por alunos do último ano do Ensino Médio, a partir da mostra de videoclipes gravados em comunidades da periferia de Belém. 2.3.2 – Objetivos Específicos
  • 19. 18 Apresentar os fundamentos teóricos da RS; Explanar sobre a dinâmica das periferias de Belém; Evidenciar a RS de Periferia, demonstrada por alunos do último ano do Ensino Médio; e 2.4 – METODOLOGIA Concordando com Morin (2001, p.126), “devemos interrogar a ciência na sua história, no seu desenvolvimento, no seu devir; sob todos os ângulos possíveis”. Isto implica dizer que em se tratando da Teoria das Representações Sociais (TRS), um objeto de estudo amplo e complexo, que precisa ser analisado por várias perspectivas, se obteve sucesso ao fazer o método qualitativo e quantitativo caminharem juntos, enriquecendo o trabalho. Este trabalho teve como principal objetivo verificar as representações sociais existentes acerca da periferia de Belém, tendo como base entrevistas de campo estruturadas e semiestruturadas, desenvolvidas com jovens do último ano do ensino médio de duas escolas da cidade, além de pesquisa bibliográfica. Optou-se pela TRS como referencial teórico devido esta possibilitar o acesso às práticas sociais cotidianas ocorridas principalmente em solo urbano. No que diz respeito à técnica de coletas de dados escolheu-se tanto o método quantitativo quanto o qualitativo. Para isso, 100 estudantes de duas escoas públicas de Belém: Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Camilo Salgado, localizada no Jurunas e a Escola Estadual Maria Antonieta Serra Freire, no distrito de Icoaraci, responderam aos questionários, sendo que 12 deles, escolhidos de forma aleatória, também participaram de uma entrevista em profundidade. O método qualitativo foi utilizado pela flexibilidade de não se estar preocupado em apenas quantificar os dados, mas sim em fazer uma análise descritiva e exploratória que possibilite maior liberdade e atenção dispensada a cada entrevistado. O que importa não é apenas o que é dito pela pessoa, mas também a maneira com que ela se expressa. A pesquisa de campo ocorreu no período da manhã ou da tarde, com consentimento dos diretores das instituições e dos professores que estavam ministrando as disciplinas no momento. Dessa forma, a primeira fase do trabalho teve início com a apresentação dos videoclipes seguida da aplicação dos questionários, os quais possuíam 16 questões sendo nove objetivas e sete subjetivas sobre o tema da pesquisa. Já para
  • 20. 19 segunda etapa foram marcados locais, datas e horas de acordo com a disponibilidade de cada entrevistado. 2.5 – HIPÓTESES A abordagem dos videoclipes influencia na concepção de periferia; A RS de periferia é a mesma independente dos fatores externos a que os alunos estão submetidos; A definição de periferia está intimamente ligada a dois fatores: ausência de urbanização e a distância do centro. 2.6 – DELIMITAÇÕES DO ESTUDO O presente trabalho se destina a analisar de forma qualitativa e quantitativa a RS de periferia, a partir da percepção dos alunos concluintes do Ensino Médio de duas escolas públicas da cidade de Belém, através da mostra audiovisual e, na sequência, da aplicação de questionários. Por este motivo, não é escopo desta pesquisa avaliar RS positivas e negativas, e sim interpretar os dados existentes.
  • 21. 20 3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS Para analisar a maneira com que os jovens de Belém representam a periferia de sua cidade optou-se pela utilização da TRS, de Serge Moscovici (1961) como aporte teórico. Nesse sentido iniciou-se o trabalho pelo conceito que originou as discussões sobre as representações, trata-se da noção de representações coletivas (TRC) de Émile Durkheim (1970). O autor foi o responsável por conceituar as RC como a gênese do fato social. De acordo com este fato social1 é: “toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter”. (DURKHEIM, 1966, p.12). Segundo o teórico, a sociedade não é, apenas, uma junção da totalidade de indivíduos, mas é constituída de múltiplas consciências individuais que independentes não conseguiriam elaborar uma representação coletiva, já que cada sujeito é parte fundamental na formação de uma mentalidade de grupo, isto é, a colaboração individual é indispensável na elaboração de um pensamento social e, portanto, nos diferentes modos de pensar, ser, estar e (re) apresentar o mundo. As RC são uma tentativa de entender fenômenos sociais, como a religião, a ciência e a cultura que aglutinam diferentes indivíduos em um mesmo grupo e ainda assim, mantém as pessoas unidas por um ideal. “As representações coletivas são o produto de uma imensa cooperação que se estende não apenas no espaço, mas no tempo: para fazê-las uma multidão de espíritos diversos, associaram, misturaram, combinaram suas ideias e sentimentos, longas séries de gerações acumularam aqui sua experiência e saber”. (DURKHEIM, P.216, 1970). Nesse sentido, reduzir as RC ao conceito das representações individuais é suprimir sua amplitude. Para Durkheim (1970), existe uma distinção radical entre o pensamento individual, objeto de responsabilidade da psicologia e o pensamento social estudado pela sociologia. Ele aponta inúmeras discordâncias em relação às proposições de Serge Moscovici no que tange a TRS presente na obra La psychanalyse, son image et son 1 O fato social tem como características básicas a autonomia, exterioridade e a coercitividade, atributos que possibilitam o entendimento de que o pensamento coletivo é externo e impõe-se ás pessoas, independente das suas vontades, podendo ter maior ou menor poder de coerção.
  • 22. 21 public (1961, 1976), principalmente, no que diz respeito a abordagem dada ao tema. Durkheim propunha uma separação sociológica e psicológica para explicar a existência de dois níveis de fenômenos: os individuais e coletivos, seus estudos mostraram que os indivíduos sempre estarão atuando sob a égide de uma ideologia dominante como, por exemplo, das instituições religiosas e da família, enquanto que Moscovici preocupou-se em analisar como o conhecimento é socialmente produzido e em que instante ele se torna uma prática social, isto é, senso comum, uma vez que para o autor, as Representações sociais são uma “forma sociológica de Psicologia Social”. (FARR, 1995, p. 31). Para Moscovici, o estudo da TRS permitiu um entendimento mais amplo da vida em sociedade do que já discutia, anteriormente, as representações coletivas, uma vez que as RS têm como base a maneira que os homens se (re) apresentam, tanto enquanto cópia da realidade quanto na interpretação cotidiana da vivência em grupo, ou seja, a maneira que percebem o fato de ser e estar no mundo independente de fatores sociais, culturais, políticos e das condições socioeconômicas. A TRS encontra-se sob o domínio da psicologia social, uma ciência híbrida e intermediária, que se preocupa em entender a relação entre dois mundos: o individual e o coletivo. Essa ciência funciona como uma espécie de mediadora entre a sociologia que trabalha fenômenos coletivos e a própria psicologia que tem como objeto de estudo a subjetividade individual. As RS apesar de serem complexas e de utilizarem ferramentas distintas vêm, nos últimos anos, sendo objeto de estudo de muitos pesquisadores nas diversas áreas do conhecimento. Isso ocorre devido o caráter transdisciplinar da TRS, isto é, das suas múltiplas dimensões e possibilidades de estudo voltadas para análise da prática cotidiana do viver em grupo. Segundo Aurélio (2003), o substantivo representação remete tanto a um ato ou efeito de representar (se) quanto à coisa que se representa, além da própria reprodução daquilo que se pensa e o conteúdo concreto apreendido pelos sentidos, imaginação, memória ou pensamento que somado ao adjetivo social assume vários significados a começar pelo mais notório deles, os grupos sociais. Para Moscovici (1976, p.26), a justificativa para esta denominação é devido essa área ser “uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos”.
  • 23. 22 De acordo com Moscovici, o conceito das RS é de difícil definição e isso ocorre devido sua posição intermediária entre a sociologia e a psicologia. Nesse sentido, o exercício de observação da realidade é uma possibilidade na tentativa de melhor compreender essa área, uma vez que: As representações sociais são entidades quase tangíveis. Elas circulam, cruzam-se e se cristalizam incessantemente, através de uma fala, um gesto, um encontro, em nosso universo do cotidiano. A maioria das relações sociais estabelecidas, os objetos produzidos ou consumidos, as comunicações trocadas, delas estão impregnados. Sabemos que as representações sociais correspondem, por um lado, à substância simbólica que entra na elaboração e, por outro, à prática que produz a dita substância, tal como a ciência ou os mitos correspondem a uma prática científica e mítica. (MOSCOVICI, 1978, p.41). Desse modo, discutir acerca das RS é considerar as representações cotidianas elaboradas pelos diferentes grupos sociais, nos diversos meios em que estão inseridos. O autor propõe, ainda, uma estrutura clássica visando explicar a TRS, No real, a estrutura de cada representação nos aparece desdobrada; ela tem duas faces tão pouco dissociáveis quanto à frente e o verso de uma folha de papel: a face figurativa e a face simbólica. Nós escrevemos que: Representação figura , entendendo por isso que ela faz compreender Significação em toda figura um sentido e em todo sentido uma figura. (MOSCOVICI, 1976, p.63). Com esse esquema o autor procurou analisar o caráter figurativo e simbólico das RS, elementos que não podem ser analisados de maneira separada ou distinta, por serem fundamentais na compreensão desse campo. Spink (1993) também criou um esquema visando explicar e ilustrar os principais sujeitos e objetos da TRS. A autora criou um gráfico adaptado da obra de Jodelet (1989a) que destaca, de um lado, o processo de construção das RS tendo como base a contribuição do pensamento individual-coletivo dos múltiplos sujeitos e do outro, a interpretação dos objetos sociais que juntamente com os símbolos expressam a tentativa de entender a maneira com que são produzidas as RS, isto é, o modo pelo qual elas são criadas, deixando de ser um objeto estranho ao grupo social para se tornar uma prática cotidiana. Organograma 1 - O Campo de Estudos da Representação Social
  • 24. 23 Forma de Conhecimento Construção Interpretação Objeto Representação Sujeito Expressão Simbolização Prático Fonte: SPINK, Mary. The Concept of Social Representations in Social Psychology. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 300-308, jul/sep, 1993 apud adaptado Jodelet (1989a). Moscovici (1961) propõe, ainda, inúmeros questionamentos acerca da expressão representações sociais. Por exemplo, quais os parâmetros que definem se uma representação é ou não social? Quais os valores que precisam ser respeitados para adequar a representação a um grupo social? Por não ter respostas para tais perguntas o teórico optou pela alternativa de analisar os processos de produção das representações, isto é, de que forma elas são produzidas na sociedade? Diante dessa indagação ele levantou a hipótese de que para se qualificar como RS é necessário ser engendrada no seio da coletividade e mais do que isso é preciso perceber as causas que a produzem. Para Moscovici saber como é originada a TRS é importante, Para qualificar uma representação de social não basta definir o “agente” que a produz. Tampouco nos mostra, ficou agora claro, em que se ela distingue de outros sistemas que são igualmente coletivos. Saber “quem” produz esses sistemas é menos instrutivo do que saber “por que” se produzem. Em outras palavras, para se poder apreender o sentido do qualificativo social é preferível enfatizar a função a que ele corresponde do que as circunstâncias e as entidades que reflete. Esta lhe é própria, na medida em que a representação contribui exclusivamente para os processos de formação de condutas e de orientação das comunidades sociais. (MOSCOVICI, 1976, p.76-77) Isto implica dizer que, para o teórico, o objetivo desse estudo é analisar a maneira pelo qual são engendradas as representações em detrimento de quem as criou, o qual é um ponto importante, mas não é o essencial, já que o cerne da TRS é a apropriação
  • 25. 24 popular de um objeto, idéia ou valor a fim de torná-lo consenso. Nesse sentido, Moscovici propõe interpretar esse processo de consolidação de um objeto transformado em prática social entre grupos. 3.1 DO SENSO COMUM À CIÊNCIA O imaginário social é imbuído de conteúdos históricos e, portanto, estruturas figurando como força-motriz das mudanças sociais. Sendo assim, para existir RS é necessário que haja vida em sociedade e, além disso, a reprodução de um pensamento já consolidado em um determinado campo2 que é estruturado por um habitus3. Este pode ser qualquer ambiente ou ocasião em que ocorra o encontro de pessoas bastando que para isso exista comunicação. Para Jodelet (1984, p.36), senso comum significa a materialização de estruturas sociais abstratas, isto é, a subjetividade posta em prática. A definição proposta pela autora é consenso entre os pesquisadores. Para esta “RS é uma maneira de se compartilhar conhecimento socialmente elaborado, a partir de um ponto de vista prático tendo em vista a construção de uma realidade comum a um grupo social, o já falado Senso Comum.” Nesse sentido, a teórica propõe, O conceito de Representação Social designa uma forma específica de conhecimento, o saber do senso comum, cujos conteúdos manifestam a operação de processos generativos e funcionais socialmente marcados. Mais amplamente, designa uma forma de pensamento social. As Representações sociais são modalidades de pensamento prático orientadas para comunicação, a compreensão e o domínio do ambiente social, material e ideal. Enquanto tais, elas apresentam características específicas no plano da organização dos conteúdos, das operações mentais e da lógica. A marcação social dos conteúdos ou dos processos de representação refere-se às condições e aos contextos nos quais emergem as representações, às comunidades pelas quais elas circulam as funções que elas servem na interação com o mundo e com os outros. (Id. 1984, pp.361-2). Assim, portanto, Jodelet procurou conceituar a TRS tendo como base o senso comum, a partir da explicação dos fatores que possibilitam a construção dessa teoria, 2 Pierre Bourdieu propôs o conceito de Campo como sendo um espaço social em que o indivíduo vai exercitar o habitus adquirido perante o convívio em sociedade. O que implica dizer que em determinado campo um ator social pode ter maior ou menor influência e isso pode mudar dependendo do acúmulo de capital que ele possui e que deve ser o capital correspondente ao campo. Existem diversos tipos de capital, como: financeiro, simbólico, cultural, comercial, etc. 3 Para Bourdieu é o Habitus que fundamenta a reprodução social, já que ele é formado a partir do convívio do indivíduo em sociedade. A ação das forças sociais e a estrutura interna do campo social em que os indivíduos estão inseridos influenciam o seu habitus. Para o autor o indivíduo não consegue pensar racionalmente o tempo inteiro, sendo influenciado pelos diferentes capitais e agentes sociais.
  • 26. 25 como o diálogo entre diferentes atores sociais ocorridos diariamente e em diversos meios, já que são estes os responsáveis pela construção das representações. No organograma 2 é apresentada por Spink (1993) uma estrutura a fim de ilustrar a maneira pela qual são construídas as RS. Para a autora, as RS são formadas a partir da junção de conteúdos maleáveis e, portanto, mais sujeitos à mudança e outros permanentes ou sólidos que estão cristalizados, logo são mais difíceis de serem modificados. No topo da pirâmide está o imaginário social que é constituído pela apropriação popular da ciência tornada senso comum, ele é mais rígido, uma vez que sofre poucas modificações e que depende, diretamente, da transformação de determinadas práticas sociais. Na segunda plataforma está a epistéme, isto é, a ciência que origina o habitus e o sistema de normas reguladoras das diferentes sociedades, já na base da pirâmide consta a ciência que contribui para gerar o senso comum, sendo que a soma de ambos sustentam as práticas sociais. Organograma 2- As Representações Sociais no Contexto da Teia de Significados Construídos pelo Homem ao Longo da História. Imaginário Social Epistéme Meta-Sistema de Normas Habitus Ciência Senso comum Fonte: Spink (1993) As RS são um campo de estudo importante e estruturado tanto quanto o saber científico, já que as mesmas esclarecem e interpretam práticas cotidianas e processos de interação social. Estas não possuem conceitos claramente definidos, devido sua origem ser simbólica e como tal, utilizar as já mencionadas práticas sociais, fato que torna o conhecimento sobre o assunto marcadamente diverso e empírico.
  • 27. 26 A TRS é um campo de estudo que surge de discussões cotidianas sobre as mais diversas temáticas, as quais obedecem a uma hierarquização de fatos respeitando alguns critérios, como a atualidade da notícia, a polêmica ocasionada pela informação, o interesse que ela provoca nas pessoas, além do grau de conhecimento que cada indivíduo possui sobre o tema. De acordo com esses pontos um assunto passa ou não a ser pertinente para as rodas de diálogo e isso independe do local de encontro do grupo, podendo ser a fila do banco, mas também a parada de ônibus, durante as refeições, as praças e bares, salões de beleza, nos jogos de bilhar ou ainda após a “pelada” do fim de semana. As representações sociais são, também, transmitidas entre as gerações e fortalecidas pela memória coletivo-familiar, à medida que a sociedade é levada a recorrer, constantemente, às suas tradições para realizar escolhas e opinar sobre determinados assuntos, ainda que não o faça de forma consciente. O respeito à vivência (subjetividade) dos indivíduos, seus conhecimentos religiosos, acadêmicos e sua própria história de vida é uma constante na análise das RS. Ao sentar em uma mesa de bar e iniciar uma discussão sobre pena de morte e diminuição da maioridade penal no Brasil, provavelmente, existirão diversas opiniões sobre o assunto, alguns irão defender outros discordar, mas independente de qual seja a atitude tomada pelos indivíduos a sua exposição falará muito ao seu respeito e sobre suas origens. Cada cidadão recebe influências diretas do meio em que está inserido, como: a família, religião, escola, bairro e cultura. Uma família cristã que more na área nobre da cidade tende a olhar a pena de morte de uma forma, talvez, diferenciada do indivíduo que é ateu e residente em um bairro violento. Isso ocorre, porque o indivíduo é um ser pensante, mas que recebe fortes influências externas como, por exemplo, o poder exercido pela instituição familiar desde o nascimento até o último dia de vida do ser humano. Essa é a gênese das RS que para Psicossociologia, não considera o indivíduo um mero reprodutor de informação, crenças, ideologias prontas e definidas historicamente, mas sim seres pensantes que produzem e comunicam suas ideias, seus posicionamentos e opiniões, são, portanto, os mentores de suas próprias representações. Para Moscovici, “Representar uma coisa (...) não é, com efeito, simplesmente duplicá-la, repeti-la; é reconstituí-la, retocá-la, modificar-lhe o texto. A comunicação que se estabelece entre o
  • 28. 27 conceito e a percepção, um penetrando no outro, transformando a substância concreta comum, criam a impressão de „realismo‟”. (Op.cit., pp.56-7). Moscovici (1961) propôs a existência de um sistema de pensamento divido em duas classes diferentes, o universo consensual e o reificado. Enquanto o último corresponde ao pensamento rebuscado, formal, erudito, objetivo e metodológico das ciências em geral, o primeiro está relacionado ao surgimento de práticas sociais tendo como base a simplicidade das relações humanas e do convívio com o outro. É por isso que o senso comum está enquadrado nesta abordagem do cotidiano. Os universos reificados, a sociedade se vê como um sistema com diferentes papéis e categorias, cujos ocupantes não são igualmente autorizados para representá-la e falar em seu nome. O grau de participação é determinado exclusivamente pelo nível de qualificação. (...) Há um comportamento próprio para cada circunstância, um estilo adequado para fazer afirmações em cada ocasião e, claro, informações adequadas para determinados contextos. Nos universos consensuais, a sociedade se vê como um grupo feito de indivíduos que são de igual valor e irredutíveis. Nessa perspectiva, cada indivíduo é livre para se comportar como um “amador” e um “observador” curioso, (...) que manifesta suas opiniões, apresenta suas teorias e tem uma resposta para todos os problemas (A arte da conversação) cria gradualmente núcleos de estabilidade e maneiras habituais de fazer coisas, uma comunidade de significados entre aqueles que participam dela. (MOSCOVICI, 1981, p. 186-7). O teórico defende ainda que o universo reificado não é, contudo contrário às realidades consensuais, já que os dois se entrelaçam no momento em que as RS são originadas pelo primeiro. Conforme Moscovici e Hewstone (1986, p.544), o senso comum é compreendido como “um corpo de conhecimentos produzidos espontaneamente pelos membros de um grupo e fundado na tradição e no consenso”. Para Moscovici o universo consensual é conceituado da seguinte maneira: O propósito de todas as representações é o de transformar algo não familiar, ou a própria não familiaridade, em familiar (...) O que eu quero dizer é que os universos consensuais são lugares onde todos querem se sentir em casa, a salvo de qualquer risco de atrito ou disputa. Tudo o que é aí dito e feito apenas confirma crenças e interpretações adquiridas, corrobora mais do que contradiz a tradição. (...) No todo, a dinâmica dos relacionamentos é uma dinâmica de familiarização, onde objetos, indivíduos e eventos são percebidos e compreendidos em relação a encontros ou paradigmas prévios. Como resultado, a memória prevalece sobre a dedução, o passado sobre o presente, a resposta sobre o estímulo, às imagens sobre a “realidade”. (MOSCOVICI, 1984, pp.23-4). Por esse motivo, o universo consensual está presente no saber cotidiano, isto é, ele emerge nas relações entre diferentes indivíduos e tem a função de transformar o universo reificado, ou seja, o não familiar em algo familiar e, portanto, em universo
  • 29. 28 consensual. Os meios de comunicação são uma importante ferramenta neste processo, já que são fundamentais no processo de divulgação da ciência devido a vários fatores, como: o alcance e a influência que exercem na construção da opinião pública, a função social que desempenham - divulgar saberes científicos, noticiar fatos importantes ocorridos diariamente e que despertam o interesse das pessoas, como também, entreter e orientar. Atributos que legitimam e atribuem prestígio à mídia. As notícias veiculadas afetam diretamente o cotidiano da população, fato ratificado pelas conversas interpessoais, constantemente, pautadas pela imprensa e isso ocorre, entre outros motivos, devido à massificação da informação, a hierarquização das notícias e à própria importância atribuída às matérias pelos veículos que, respeitando a lógica capitalista de atender a demanda de público, os interesses dos proprietários dos grupos de comunicação, a audiência e o interesse social, decidem o que, onde, quando e de que forma será transmitido. O fato dos veículos midiáticos se interessarem mais por determinadas matérias em detrimento de outras, faz com que o universo reificado se entrelace com o saber consensual, à medida que os assuntos presentes na tela de um computador, no jornal impresso, nos programas radiofônicos ou nas imagens da TV chegam até as discussões nas ruas, casas, famílias, salões de beleza e bares. A realidade passa a ser representada/contada pela edição dos meios de comunicação de massa. Inúmeras vezes a maneira como as notícias são contadas e editadas pelos veículos de comunicação não representam o fato na sua essência. A estereotipação é um dos vários problemas enfrentados pelas minorias sociais do país, como os moradores das periferias que são massivamente mostrados em matérias retratando a violência. A função social da grande mídia, o prestígio e o alcance já mencionados anteriormente, fazem dela a principal fonte de informação de uma parcela significativa da população brasileira. Ainda hoje é comum encontrar pessoas que acreditam integralmente em tudo que é dito na TV; para estas, o que dizem o Jornal Nacional ou o Domingo Espetacular é senso comum e, portanto, deve ser respeitado. Isso ocorre devido à credibilidade que esses programas possuem no Brasil. Apesar de terem sido mencionados jornais de, apenas, duas emissoras, o primeiro da Rede Globo e o outro da Rede Record o fato se repete nas demais. O enorme alcance desses veículos de comunicação de massa, também, pode ser prejudicial à sociedade no instante em que boa parte do público não tem acesso à
  • 30. 29 totalidade da notícia, as quais inúmeras vezes são incompletas, apelativas, tendenciosas e estereotipadas. O próprio tratamento e a edição dispensados às matérias quando prioriza a audiência em detrimento do interesse social, contribui negativamente para difundir preconceito e a discriminação no país. Para explicar o processo pelo qual são elaboradas as RS, Moscovici tomou como base a proposta de teóricos da psicologia, entre os quais Piaget, Lévy-Bruhl e Freud. Para eles, é interessante analisar o funcionamento do raciocínio das crianças, já que elas reproduzem esquemas mentais já alocados e naturalizados em seu cérebro que são usados para comunicar e materializar as suas representações mentais. Moscovici organizou tais fundamentos apresentando dois processos fundamentais para a elaboração das representações sociais: ancoragem e objetivação, responsáveis por tornar familiar o desconhecido. Para ele (1984a, p.30), faz-se necessário classificar e nomear os objetos sociais pela necessidade de naturalizar o inexplicado: “coisas que não são classificadas nem denominadas são estranhas, não existentes e ao mesmo tempo ameaçadoras”. As RS têm como princípio básico tornar familiar algo não familiar, como já foi mencionado anteriormente, essa finalidade de incorporar o novo à realidade consensual é o pilar de sustentação desse campo, já que a matéria-prima para elaboração do senso comum é converter o que é estranho e desconhecido em práticas sociais que passem a ser consenso na sociedade. A busca por entender, explicar, analisar o diferente, contribui de forma positiva para estimular as pessoas a novas descobertas, as quais seriam antes impensadas se não existisse a “tensão” com o que não é natural. Percebe-se a importância atribuída por Moscovici ao processo de familiarização lendo o trecho abaixo: O processo social no conjunto é um processo de familiarização pelo qual os objetos e os indivíduos vêm a ser compreendidos e distinguidos na base de modelos ou encontros anteriores. A predominância do passado sobre o presente, da resposta sobre o estímulo, da imagem sobre a realidade tem como única razão fazer com que ninguém ache nada de novo sob o sol. A familiaridade constitui ao mesmo tempo um estado das relações no grupo e uma norma de julgamento de tudo o que acontece. (Id. 1961, p.26) Isto implica dizer que com a finalidade de naturalizar o que lhe é estranho o autor propôs a ancoragem, por entendê-la como um processo cognitivo que visa inserir ideias, valores e princípios em determinado grupo, isto é, aquela idéia já moldada o indivíduo utiliza para enraizar objetos e sua representação em meio a um cenário, com a
  • 31. 30 finalidade de subtrair o estranhamento causado pelo que está obscuro, a fim de retirá-lo do “anonimato perturbador”. Ao admitir a possibilidade de se compreender novas perspectivas de vida e a compartilhá-las com base nos conhecimentos e valores incorporados e já tidos como consenso, estimula-se a produção das representações e evita-se que as pessoas cessem a busca por explicar o “anormal”. Para completar o processo o teórico propõe a objetivação que segundo ele consiste em materializar e naturalizar, isto é, tornar real um conceito que também pode ser uma idéia ou um valor antes abstrato. De acordo com Moscovici (1961, p.111) objetivar é: “reabsorver um excesso de significado materializando-as (e adotando assim certa distância a seu respeito). É também transplantar para o nível de observação o que era apenas inferência ou símbolo”, este é o instante em que os esquemas figurativos passam a ser correntes na sociedade tornando-se, então, a representação social. 3.2 TEORIA DO NÚCLEO CENTRAL (TNC) Com o objetivo de complementar a TRS Abric desenvolveu a Teoria do Núcleo Central (TNC) em 1976, apresentando a hipótese de que toda Representação Social é constituída por um núcleo central destinado a organizar e gerar sentido às representações e por elementos periféricos que permitem maior flexibilidade ao processo. De acordo com o autor o núcleo central “é determinado pela natureza do objeto representado e também pela relação que o sujeito/grupo mantém com este” (ABRIC, 1994, p.83). De acordo com o teórico, as RS são organizadas da seguinte maneira: A organização de uma representação apresenta uma característica particular: não apenas os elementos de representação são hierarquizados, mas, além disso, toda representação é organizada em torno de um núcleo central, constituído de um ou de alguns elementos que dão a representação o seu significado (ABRIC, 1994a, p.19) Para o autor, essa compreensão é importante visando entender a relação existente entre representações e comportamento. Abric (1994a, p.73) defende a necessidade de analisar o assunto por ser este essencial para o entendimento da RS, “o núcleo central é um subconjunto das representações, composto por um ou alguns elementos cuja ausência desestruturaria a representação ou lhe daria uma significação completamente diferente.”
  • 32. 31 De acordo com o teórico, o NC está relacionado à memória coletiva e por esse motivo torna as representações estáveis, duradouras e resistentes, enquanto que os elementos periféricos estão relacionados ao pensamento individual, originado da vivência de cada um e, portanto, funcionam como “para-choques”, conceito de Flament (2001), devido possuir flexibilidade e facilidade de adaptar-se a elementos e experiências novas. São os elementos periféricos que protegem e conservam o núcleo central; logo, defendem a força das RS que podem ser dividas em fracas e fortes. Como representações fortes têm-se aquelas bem estruturadas e plenas de fazer sentido, enquanto que as fracas são menos organizadas e ainda não estão completamente consolidadas no grupo. Abric afirma que o núcleo central e os elementos periféricos não são estagnados: O sistema central é, portanto, estável, coerente, consensual e historicamente definido. O sistema periférico, por sua vez, constitui o complemento indispensável do sistema central, do qual ele depende. Isso porque, se o sistema central é essencialmente normativo, o sistema periférico, por sua vez, é funcional. Isto quer dizer que é graças a ele que a representação pode se ancorar na realidade do momento. (Abric, 1989, apud Sá, 1998 p.4) Essa percepção torna-se fundamental no instante em que se busca transformar determinadas representações por acreditar que elas sejam prejudiciais ao desenvolvimento de práticas sociais alternativas (ABRIC, 1994). Assim a TNC busca perceber a maneira que as representações sociais são construídas tendo como base o núcleo central e dessa forma, complementar as proposições de Moscovici. Abric propôs ainda a verificação da seguinte hipótese geral: “o comportamento dos sujeitos ou grupos não são determinados pelas características objetivas da situação, mas pela representação dessa situação” (Abric, 1989, apud Sá, 1998 p.54). De acordo com ele (1994a), existem quatro funções fundamentais para manutenção das RS: (1) Funções de saber que visam explicar a realidade (2) Funções identitárias que são importantes para definir a identidade de um grupo (3) Funções de orientação, as quais objetivam direcionar as práticas sociais e a (4) Funções justificatórias. O campo de estudo das RS ainda é recente, ele acaba de completar 50 anos. Durante os 10 primeiros anos ele foi pouco difundido e aceito pelos pesquisadores, a TRS recebeu duras críticas em vários aspectos, entre eles, sobre a falta de clareza em se tratando de conceito, para esses Moscovici (1987, p.514) respondeu: “vários autores me
  • 33. 32 recriminam por ser vago e me recusar a definir o significado das representações sociais. Poderia citar vários textos de Bacon e Freud que sustentariam o valor de minha posição, mas minha recusa também representa um modo de assumir posição contra uma tendência de dar definições fáceis”. O autor afirmou, ainda, não saber aonde chegariam os estudos sobre o tema, mas fez projeções esperançosas.
  • 34. 33 4 O QUE É PERIFERIA? Segundo o dicionário Aurélio (2001), periferia é em uma cidade a região mais afastada do centro urbano em geral carente de infraestrutura e serviços urbanos e que abriga os setores de baixa renda da população, hoje essa definição se tornou simplista, uma vez que as cidades possuem vários centros. De acordo com Barros (2011) o termo periferia diz respeito a lugares e sujeitos objetos de abandono das políticas públicas. “A grande maioria das favelas está na zona sul, na zona leste, mas estão na periferia do ponto de vista econômico”. Para Santos, morar na periferia é ser duplamente sentenciado à pobreza: A pobreza gerada pelo modelo econômico, segmentador do mercado de trabalho e das classes sociais, superpõe-se a pobreza gerada pelo modo territorial. Este, afinal, determina quem deve ser mais ou menos pobre somente por morar neste ou naquele lugar. Onde os bens sociais existem apenas na forma mercantil, reduz-se o número dos que potencialmente lhes têm acesso, os quais se tornam ainda mais pobres por terem de pagar o que, em condições democráticas normais, teria de lhes ser entregue gratuitamente pelo poder público. (SANTOS, 2007, p.143-144). Isso implica dizer que a noção de cidadania está intimamente atrelada ao território, uma vez que para ser um cidadão integral se faz necessário a garantia dos direitos expressos na Constituição Federal de 1988, no Art.3º que diz: I - Construir uma sociedade livre, justa e solidária; II- garantir o desenvolvimento nacional; III- erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IVPromover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Entretanto, o Brasil, nação capitalista e com grandes disparidades entre os mais ricos e os mais pobres, se vê diante de desafios permanentes de gerir seus conflitos sociais. Grupos politicamente dominantes beneficiados com grande parte das ações desenvolvidas pelo Estado, o qual apesar de constitucionalmente possuir como fundamentos a soberania, a cidadania e a dignidade da pessoa humana (artigo 1º CF 1988 incisos I, II, III) não vem, na prática, se efetivando como uma entidade acima dos grupos sociais. Fator preponderante para gerar um embate de interesses, uma vez que as minorias dominantes não abrem mão de seus objetivos econômicos e principalmente, dos políticos ocasionando uma série de problemas para o país, como por exemplo, o
  • 35. 34 histórico impasse para a efetivação da reforma agrária ou mesmo a real crise habitacional, empecilhos que o Estado tem tentado resolver ao longo de décadas. 4.1 A PERIFERIA NA CIDADE DE BELÉM A realidade habitacional da cidade Belém não é diferente das demais capitais brasileiras, já que a ocupação é um retrato da disputa de território entre diferentes classes sociais. Belém foi fundada em 12 de janeiro de 1616 e desenvolveu-se a partir do leito do rio até meados do século XVIII, sendo sua ocupação inicial às margens do Rio Guamá e da Baía do Guajará. Os primeiros bairros da capital paraense são a Cidade Velha e a Campina. Somente após a segunda metade do século XIX é que a apropriação do território passou a se interiorizar e a caminhar em direção aos rios e igarapés levando à apropriação, primeiramente, dos terrenos mais altos. De acordo com Cruz (1994), as áreas mais baixas passaram a ser utilizadas nas atividades agropastoris com a criação de fazendas, vacarias, sítios e rocinhas. É no contexto de Belle Époque, das reformas urbanas que ocorriam na Europa, no desenvolvimento da economia do látex na Amazônia, juntamente com o fato de Belém ter se tornado o principal porto de escoamento da borracha, produto conhecido no mercado internacional como o “Ouro Branco”, que surgiu à necessidade de modernizar a cidade. No período de 1887-1911 a capital passou por intensas reformas urbanas e por medidas excludentes que prejudicaram a população de baixa renda, como é o caso da política de remoção dos cortiços (casas habitadas pelas classes de menor poder aquisitivo) das regiões centrais da cidade em direção a áreas periféricas, visando combater a feiura e a falta de higiene, sinônimos de atraso para o governo da época. Apesar das intervenções urbanas terem sido planejadas ainda no governo de Jerônimo Coelho, foi a partir do Intendente Antônio Lemos que ocorreram as mudanças mais significativas no espaço urbano de Belém. Para Lemos, era necessário que a cidade passasse por um processo de embelezamento e medidas enérgicas eram fundamentais para trazer progresso à região. Em 1901 foi criado o Código de Polícia Municipal que tinha como um dos principais objetivos controlar as autoconstruções. De acordo com Oliveira, as autoconstruções consistem em: Obra sem apoio técnico, de baixa qualidade, que gera desperdício de material, obriga chefes de famílias a sacrificarem dias de folga em canteiro improvisados, além de favorecer ocupação de áreas irregulares - sem falar nos danos à economia formal. Há o predomínio de casas semiconstruídas ou construídas com material de baixa qualidade e geralmente simboliza um
  • 36. 35 espaço de segregação sócio espacial em locais Periferizados, alagados, fonte de uma mão-de-obra de baixo poder de compra. Ainda hoje a autoconstrução é muito exercida no Brasil - a prática responde por quase 80% da produção anual de unidades. (OLIVEIRA, 2008). Através do código de postura o governo combateu estas habitações visando modernizar a cidade. Para isso, determinou desde questões técnicas que precisavam ser obedecidas pelos moradores, até a proibição de materiais como a palha e a argila. Após a retirada esses cidadãos passaram a ocupar, principalmente, as áreas de baixadas que por serem regiões alagadas e abaixo da linha do mar eram locais impróprios para construir habitações. A ocupação desses espaços funcionou como uma alternativa para população que, sem ter outro local para habitar, se sujeitou à ausência de uma política ampla que visasse não somente a mudança do território, mas também a transformação nas práticas de vida. A política desenvolvida pelo Estado não foi acompanhada da infraestrutura necessária para que os moradores pudessem morar com dignidade. As periferias reproduziram as mesmas condições anteriores, uma vez que os problemas decorrentes do abandono estatal se repetiram, como: a favelização, a violência, o desemprego, a informalidade, doenças endêmicas e de pele, entre tantos outros por menores a que foram e ainda hoje são vítimas os moradores de periferia. Além disso, houve a degradação dos recursos naturais em virtude da ocupação do leito dos igarapés. Por outro lado, nas áreas centrais houve uma intensa intervenção do poder público favorecendo o surgimento de hotéis, magazines, lojas, teatros e restaurantes. Fenômeno que ocasionou disparidades na reprodução do espaço urbano de Belém. Figura 3- Imagem da Loja de produtos de luxo Paris n‟América e à direita a foto da Avenida Presidente Vargas (15 de Agosto) no início do séc. XX.
  • 37. 36 Fonte: http://parahistorico.blogspot.com/2009/02/belle-epoque-e-era-lemos.html As áreas nobres passaram por um intenso processo de urbanização e por causa desses benefícios se tornaram valorizadas economicamente. Após o processo de remoção e valorização dos terrenos surgiu, em Belém, um mercado de imóveis destinados a alugar e/ou vender lotes de terra. Fato que beneficiou as classes de maior poder aquisitivo que se apropriaram das regiões centrais, principalmente, dos bairros do Umarizal, Nazaré e do entorno da Avenida Doca de Souza Franco. Este episódio transformou significativamente o cenário da metrópole paraense. De acordo com ABELÉM (1986) nos anos 60 houve o crescimento populacional na cidade de Belém impulsionado entre outros fatores pelo êxodo rural, isto é, a migração campo – cidade que gerou inchaço na capital paraense. Para suprir essa demanda houve a multiplicação das vilas e passagens nos terrenos não alagados, fato que extinguiu várias árvores da cidade, além do aumento de palafitas em locais que recebiam os esgotos das áreas altas e a ocupação de indústrias e conjuntos habitacionais. A partir dos anos 70 a cidade sofreu mudanças mais latentes, como o processo de desorganização e de reorganização do espaço urbano. As ocupações das áreas de baixada começam a representar problemas para o setor imobiliário e para o Estado. Segundo Cruz (1994, p. 53): “O setor imobiliário terá problemas com a população habitante das periferias e/ ou baixadas porque na medida em que a cidade se expande suas áreas vão valorizando e, portanto, sendo disputadas com mais intensidade”. Já na década de oitenta e noventa a cidade se expandiu em direção a áreas distantes ocupando as regiões vizinhas ao que é hoje o Entroncamento, em dois eixos
  • 38. 37 principais: um em direção ao Distrito de Icoaraci pelas Avenidas Augusto Montenegro e Tavares Bastos e o segundo rumo à Ananindeua. Outro caminho também utilizado foi a Rodovia Arthur Bernardes. Essas vias empurraram a população de baixa renda para lugares cada vez mais distantes dos bairros centrais. Em 2002, o governo do Estado do Pará retomou o discurso modernizador de Lemos ao propor o embelezamento da cidade, através de uma política de reformas, principalmente, nos edifícios históricos e culturais localizados no centro. É o caso do projeto que revitalizou a Estação das Docas - esse espaço antes da intervenção apenas fazia parte da região portuária da cidade e hoje, nove anos após sua inauguração é um importante ponto turístico. Essa ação estatal teve como base o projeto arquitetônico do Puerto Madero, de Buenos Aires, e objetivou fortalecer a imagem de cidade ribeirinha e Amazônia. As obras faziam parte de um projeto de marketing urbano para Belém que visava estimular o turismo e os investimentos na região, ainda hoje, a indústria hoteleira regional utiliza o slogan de Belém como capital da Amazônia. Atualmente a cidade de Belém vivencia um processo de crescimento horizontal, principalmente, ao longo da Avenida Augusto Montenegro em direção ao Distrito de Icoaraci. Esta via representa hoje um dos espaços de maior circulação de pessoas e veículos, além de ser o principal acesso a condomínios fechados, supermercados, faculdades, clubes, lojas e até um shopping que será inaugurado em 2012. Nota-se que é crescente a urbanização no entorno da avenida e por isso é comum encontrar quem a chame de canteiro de obras. Se antes esse espaço representava um território habitado pelas classes de menor poder aquisitivo devido, entre outros motivos, o preço mais acessível dos terrenos, hoje, a grande valorização de alguns trechos da avenida faz com que os imóveis estejam sendo comercializados pelos mesmos preços dos bairros centrais. Fato que provoca, novamente, a expulsão da população de baixa renda para territórios ainda mais longínquos.
  • 39. 38 5 O LUGAR DA PESQUISA DE CAMPO O lugar escolhido para o desenvolvimento da pesquisa de campo foi o ambiente escolar, mais especificamente a sala de aula, por ser este um espaço importante no desenvolvimento de relações coletivas entre diferentes sujeitos sociais. Mesmo sendo um lugar rico, várias vezes ele passa despercebido, e muitas das suas potencialidades ficam subjugadas a um segundo plano: o de preparar o aluno para o mercado de trabalho ou para ter acesso ao ensino superior. Para Cardoso (2006), a sala de aula é um espaço singular para ser observado. A sala de aula é um desses espaços. Lugar de encontro de diferentes sujeitos, ela é palco no qual se apresentam diferentes expressões sociais, de vida e do cotidiano. Palco que revela expectativas daqueles que o habitam. Alunos e professores. Sujeitos que transitam entre a formalidade do universo institucional escolar e a informalidade dos universos do cotidiano local (do bairro, da região na qual vivem) e global (expressa pelas mídias). Universos que podem ser criadores de mecanismos de controle, indução, reprodução, ou mesmo de reflexão e libertação do pensamento. (CARDOSO, p.13, 2006). A escola tem, portanto, um importante papel social na formação individual e coletiva e por isso é um interessante objeto de estudo para diversas áreas do conhecimento, uma vez que ela permite, ao pesquisador, analisar a maneira que se processam as RS. Visando este objetivo foram escolhidas duas instituições de ensino para subsidiar o trabalho: a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Maria Antonieta Serra Freire e a também Escola Estadual Professor Camilo Salgado. 5.1 INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES: 5.1.1 A escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Maria Antonieta Serra Freire (SF) A escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Maria Antonieta Serra Freire (SF) foi fundada em 28 de abril de 1982 e está localizada no Distrito de Icoaraci, na Avenida Contorno Sul, s/n, distante 14 km das áreas centrais de Belém. A escola possui uma estrutura física de grande porte, mas que ainda está deteriorada, mesmo após um ciclo de reformas implementadas pela atual diretoria, a qual é coordenada pela professora Ojeci Valente.
  • 40. 39 O SF é uma das maiores e mais importantes escolas do Distrito. Ela possui cinco turmas do 3º ano do ensino médio regular, das quais, duas participaram da pesquisa de campo, estas foram escolhidas por uma questão de acessibilidade a instituição e para que a pesquisa pudesse ser realizada no mesmo horário, o turno da tarde, em ambas as escolas. A instituição tem 23124 alunos matriculados divididos nos turnos da manhã, tarde e noite. As turmas, de acordo com os dados da SEDUC, deveriam ter 40 alunos por sala, mas essa estatística não foi confirmada, já que a somatória dos alunos entrevistados nas duas turmas do SF foi de 60 estudantes. Para realização da atividade marcou-se uma conversa inicial com a diretora da escola, a qual se mostrou bastante solícita e disse que os alunos gostavam de trabalhos semelhantes ao da pesquisa. Nesse primeiro momento foi entregue o ofício assinado pelo diretor da Faculdade de Comunicação5 solicitando a utilização do espaço e equipamento de vídeo para realização da mostra audiovisual. A escola disponibilizou notebook, data show e caixa acústica e a atividade ocorreu no auditório. 5.1.2 Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Camilo Salgado A escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio professora Camilo Salgado, está localizada na Avenida Roberto Camelier, n°823, no bairro do Jurunas. A frente da unidade está à diretora Maria Cortes. De acordo com as informações da SEDUC, a instituição possui 1762 alunos regularmente matriculados, divididos nos três turnos de funcionamento (manhã, tarde e noite). Segundo a Secretaria a instituição possui oito turmas do 3º ano do Ensino Médio, com 40 alunos cada uma, mas ao desenvolver a pesquisa obteve-se que a soma de questionários respondidos, em duas turmas, foram de 40 entrevistas. A instituição é uma das escolas mais conhecidas do bairro e tem uma estrutura física avaliada como boa em relação às demais. Para mostra audiovisual foi solicitado o empréstimo de equipamento de vídeo mediante ofício entregue a direção, a qual disponibilizou seu DVD e TV. A pesquisa foi realizada no auditório, o qual é um dos poucos locais refrigerados da unidade e ocorreu sem maiores problemas. 4 5 Informações retiradas do site da Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC). Na época da pesquisa a FACOM contava com um diretor interino, o professor Ronaldo Guerra.
  • 41. 40 5.2 AS BANDAS: MADAME SAATAN E COLETIVO RÁDIO CIPÓ. A banda Madame Saatan foi criada em 2003, em Belém do Pará, e atualmente reside em São Paulo. O grupo se define como alternativo e diz tocar um som que é uma mistura de heavy-metal com letras em português, ao som de música brasileira que vai do Lundú até a Música Popular Brasileira (MPB). O primeiro videoclipe gravado pelo grupo foi Devorados que teve como cenário a comunidade Vila da Barca, na época, o local era constituído de palafitas, 50 pessoas trabalharam na produção do vídeo que foi exibido em várias emissoras, como: a MTV, o Multishow, e a Rede Globo. O núcleo de produção de mídia sonora e vídeo arte Coletivo Rádio Cipó, teve início em 2004 quando um grupo de amigos se uniu para fazer produção sonora e gráfica, anos mais tarde eles decidiram organizar tudo no disco: “Formigando nas calçadas do Brasil”, este trabalho foi 90% produzido em estúdio caseiro. O trabalho é uma homenagem à Comunidade Álvaro Adolfo, localizada na Pedreira, por ser este o espaço em que o grupo organizava oficinas de percussão e ritmos eletrônicos. Em 2005, o grupo gravou o DVD de nome EletroFunkDubSocial que tem como proposta ser um documentário com depoimentos e videoclipes, entre eles, Matinha do Cruzeiro, um dos produtos apresentados na mostra audiovisual organizada pela presente pesquisa. 5.3 A MÍDIA: VIDEOCLIPES Objetivando fazer com que o público-alvo tivesse um objeto midiático para analisar visando confirmar ou não a hipótese inicial desta monografia, a de que a mídia influencia na constituição das representações sociais, foram escolhidos dois videoclipes de bandas paraenses que se autodefendem como integrantes do mercado independente de Belém. A opção por clipes se deu pelo caráter rápido desse tipo de produção, já que ele é a versão filmada de uma música e, portanto, um curta-metragem. Esta foi a melhor estratégia encontrada para que se conseguisse adentrar no ambiente escolar sem prejudicar o andamento das aulas. Com essa ferramenta os estudantes perderam o mínimo de aula possível e o objetivo da pesquisa foi alcançado, o de fazer com que eles participassem e respondessem os questionários. Os videoclipes selecionados (Devorados e Matinha do Cruzeiro) foram escolhidos por serem trabalhos conceituais, gravados em cenários cotidianos e que pretendem ser muito mais que a ilustração de uma canção, propõe a representação de
  • 42. 41 um tema, nesse caso: da periferia. Esses produtos tornaram-se interessantes por possuírem um enfoque de documentário. Devorados, foi dirigido pela cineasta paraense Priscila Brasil. 5.4 A IMPORTÂNCIA DOS DESENHOS PARA A PESQUISA A psicologia é a ciência que utiliza a técnica dos desenhos como instrumental de análise seja em clínicas, no trabalho ou ainda nas escolas. Isso ocorre porque os desenhos do examinado representam seu modo de interpretar dada situação, ou seja, de exteriorizá-la, eles são usados tanto para avaliar um candidato nos processos seletivos das empresas, como também em clínicas. Os desenhos produzidos pelos estudantes são, portanto, uma interessante ferramenta a ser analisada, uma vez que eles constituem não uma representação fiel da realidade, mas a interpretação por parte da população da pesquisa sobre o lugar em vivem. A maneira pela qual percebem e interpretam o tema periferia será observado nos desenhos. Para a análise foram selecionados 12 trabalhos, escolhidos por respeitarem o quesito legibilidade e possuírem elementos comuns nos demais trabalhos. Dos 100 estudantes, 90 produziram um desenho que representasse, a seu ver, a periferia de Belém. Ao observar os desenhos notou-se que as abordagens eram principalmente: (1) violência, (2) Infraestrutura inadequada (3) momentos de lazer entre grupos e (4) concentração populacional. 5.5 APRESENTAÇÕES DOS SUJEITOS DA PESQUISA: ALUNOS O questionário elaborado para pesquisa de campo teve início com perguntas de caráter pessoal, como sexo, escola, idade e bairro, ao fazê-lo, obtiveram-se os seguintes resultados: dos 100 estudantes entrevistados, 80% são do sexo feminino e 20% do masculino. A interpretação desses dados pode ser explicada, entre outros motivos, pela elevada taxa de evasão escolar, principalmente, no que tange a EEEFM Professor Camilo Salgado (CS) que de uma totalidade de 80 alunos matriculados em duas turmas do terceiro ano do médio tinham frequentando cerca de 50 alunos, sendo que em dias de
  • 43. 42 provas esse número alcançava seu maior índice; nos demais menos alunos assistiam às aulas, segundo os relatos dos professores e alunos6. No dia da pesquisa na CS estiveram presentes, somando as duas turmas, 40 alunos, o que justifica o fato do número de estudantes da EEEFM Maria Antonieta Serra Freire (SF) ter sido maior, já que dos 80 alunos matriculados 60 participaram da pesquisa. Esta escola também enfrenta a mesma dificuldade, no que tange ao abandono do ano letivo, mas em menor proporção. Gráfico 1 – Evasão escolar Fonte: Dados da Pesquisa Os entrevistados disseram que são os homens os mais suscetíveis a abandonar os estudos precocemente, em virtude da necessidade de começarem a trabalhar e ter em que ajudar na renda da família ou ainda sustentarem sozinhos a sua casa. Entre as mulheres, constatou-se que a evasão escolar é menor, mas ocorre por ser necessário ajudar a complementar a renda dos pais, ter que se auto-sustentar ou ainda por uma gravidez indesejada. De acordo com a informação passada pelos jovens, várias colegas largaram os estudos por causa de uma gestação. Com este resultado a inferência que foi feita é de que a evasão escolar ainda é um problema. O desafio de fazer com que o aluno permaneça na sala de aula parece estar longe de ser superado e isso ocorre por vários motivos, como: a estrutura inadequada das escolas, o número reduzido de instituições, fato que não supre a real demanda da comunidade fazendo a distância casa-escola ser mais um empecilho, além disso, um ensino distante da realidade do aluno. São fatores citados por eles como pontos que não colaboram para a sua permanência na escola. 6 A pesquisa foi realizada no período de janeiro a fevereiro de 2011.
  • 44. 43 Gráfico 2 - Quanto ao sexo Fonte: Dados da pesquisa No que diz respeito à idade do público-alvo foram propostas quatro possibilidades de escolha: (1)15-17; (2)18-20; (3) 21-23; (4) Outras. Qual? Com essa informação conseguiu-se identificar qual a faixa etária da maioria dos entrevistados e sua incidência em porcentagem, ao analisar os questionários verificou-se que a idade mais abrangente assinalada pelos jovens compreende o intervalo 2 seguido da frequência 1, mas também, ainda que em menor proporção, foi escolhido o número 3 e o 4. Aos que marcaram a alternativa 4 foi proposto que dissessem qual a sua idade e com essas repostas encontraram-se concluintes de até 30 anos de idade. O resultado obtido mostrou que o público-alvo da pesquisa tem de 15 a 30 anos. Como justificativa para essa disparidade defende-se os motivos já citados anteriormente, como a evasão escolar, ocasionada pela gravidez na adolescência, a exigência de ter que trabalhar mais cedo para se auto-sustentar e ainda o ingresso tardio nas instituições de ensino. Gráfico 3- Quanto à idade Fonte: Dados da Pesquisa
  • 45. 44 Em relação à pergunta sobre o tempo em que o aluno estuda na respectiva escola, obteve-se o resultado de que a maior parte dos participantes está inseridas no intervalo de tempo de 1 a 3 anos (47%), já os demais estudam na mesma escola de 4 a 6 anos (28%) e de 7 a 9 anos são (25%), como análise percebeu-se que boa parte dos 25% que disseram frequentar a mesma unidade de ensino estudam, sobretudo, no SF. Enquanto que a maior parte dos estudantes do CS marcaram a primeira opção. Essa estatística pode estar atrelada ao fato do Distrito de Icoaraci e Outeiro estarem mais distantes do centro, ter poucas escolas de grande porte, isto é, com mais de 2.000 alunos e que disponibilizem vagas da 5º série do ensino fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, além da própria organização da instituição e sua “localização geográfica privilegiada”. Para vários estudantes o SF é bem localizado e por isso é um lugar bom de estudar. Esse relato pode explicar a opção destes e de suas famílias por permanecerem na mesma escola durante mais tempo, já no CS o intervalo de 1-3 anos, talvez, ocorra com freqüência pela poucas vagas oferecidas anualmente, partindo da hipótese de que os jovens só conseguiram se matricular na instituição para cursar o Ensino Médio. Vários estudantes também disseram gostar de estudar no CS, apesar de não ser essa a instituição dos seus sonhos. Gráfico 4 - Quanto ao tempo de permanência na instituição de ensino Fonte: Dados da Pesquisa No que diz respeito ao bairro, o público da pesquisa mora principalmente no Distrito de Icoaraci 52 alunos, e isso mostra que a maioria dos estudantes residem próximo à escola, nesse caso ao SF. O segundo bairro mais citado é o Jurunas com 28 e a Condor 11 pessoas, também foram citados o bairro da Batista Campos 1, conhecido por ser um dos bairros nobres de Belém, além do Tapanã 3 estudantes e a Ilha de
  • 46. 45 Caratateua, conhecida como Distrito do Outeiro 5. Nota-se que dos bairros citados apenas Batista Campos é tido como área nobre da cidade, os outros são conhecidos por constituírem a periferia de Belém. O bairro do Tapanã, o distrito de Icoaraci e Outeiro foram citados, principalmente, em relação à distância que os separa da capital do Estado. Gráfico 5 - Quanto ao bairro Fonte: Dados da Pesquisa
  • 47. 46 6 ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA PERIFERIA DE BELÉM. Ao interpretar os dados da pesquisa de campo podem-se constatar diferentes representações sociais, as quais serão apresentadas ao longo desse capítulo. Esses dados foram obtidos por meio da aplicação de questionários, dos desenhos elaborados pelos estudantes, das músicas e palavras destacadas, além da entrevista em profundidade realizada com os jovens. Para apresentar os resultados, optou-se pela estratégia de classificá-los em cinco temas, tomando como base o conteúdo das entrevistas e do referencial teórico: (A) Conceitos e definições sobre periferia; (B) Violência; (C) Concentração populacional (D) Infraestrutura deficiente (E) União entre vizinhos. 6.1 QUEM É O MORADOR DA PERIFERIA? Uma das representações mais fortemente presentes nos discursos dos alunos é a infraestrutura deficiente nas áreas de periferia. Ao serem questionados sobre a localização do seu bairro constituir ou não a periferia 63 pessoas responderam positivamente à indagação, 29 disseram não fazer parte e 8 estudantes deixaram em branco. Nas entrevistas em profundidade, percebeu-se que a opinião sobre morar ou não na periferia estava diretamente ligada à infraestrutura do lugar e ao sentimento de pertença em relação ao bairro, já que para alguns alunos residir nessas áreas não os faz se identificar com o local: A- Onde eu moro não é bem periferia, apesar de ser um bairro conhecido como periferia eu considero bem tranquilo. Um lugar que não tem muito roubo, assalto, não é feio, dá para se viver. Não me considero um jovem da periferia, porque não me vejo nesse estilo “amalandrado”. Minha mãe diz que tenho tudo como pobre, mas sempre dá para ter mais. (Trecho da entrevista com jovem). A- Moro na periferia, mas não me considero da periferia, pelo fato de pensar diferente, de conhecer outras coisas. Eu tenho uma visão diferente da maioria das pessoas daqui. (Trecho da entrevista com jovem). Isso implica dizer que habitar ou não esses espaços, está para além de fixar residência em determinado território. Para os jovens citados, significa se sentir pertencente ao bairro, isto é, se identificar com o lugar. Outro ponto que se pode destacar é a agilidade com que os estudantes dos bairros do Jurunas, Condor e Tapanã responderam a pergunta e isso talvez tenha ocorrido pelo fato dessas áreas serem alvos diários de notícias, inúmeras delas relacionadas: (B) Violência, (C) Concentração populacional e (D) Infraestrutura.
  • 48. 47 Imagem 2 – Ilustração sobre a periferia de Belém Fonte: Dados da pesquisa Essa hipótese lembra a teoria da Agenda Setting, a qual trabalha a mídia como a responsável por pautar os assuntos que serão discutidos nas rodas de conversa e, além disso, como responsável pela propagação de ideias cristalizadas. Para os alunos, periferia é: B- Um lugar abandonado, o Estado não faz nada por ela. São bairros sem segurança, onde reina a violência e as pessoas têm medo, quem manda na periferia são os bandidos, não a polícia. (Trecho da entrevista com jovem). D - Pra mim periferia é um lugar feio, que mora muita gente, é sujo, pobre e as casas são construídas de forma precária e em regiões perigosas. As pessoas que moram ali ficam vulneráveis a várias coisas, como a fúria da natureza. Vi, na televisão, os desmoronamentos no Rio de Janeiro. Famílias que perderam tudo, porque as casas foram feitas nos morros, aqui em Belém elas sempre alagam quando chove. (Trecho da entrevista com jovem).
  • 49. 48 As respostas possibilitaram perceber que os estereótipos reproduzidos pela mídia influenciaram na opinião dos jovens, uma vez que a multiplicação de ideias e valores, como também dos elementos mencionados acima contribuíram para que a maioria dos entrevistados, residentes nestes bairros, dissessem morar na periferia. É o que Moscovici conceitua como senso comum, isto é, uma verdade compartilhada nesse caso, a ideia tornada consenso é a periferia como o lugar da ausência, um espaço sem infraestrutura de qualidade, violento e de elevada concentração populacional. No que diz respeito aos desenhos, a maioria dos entrevistados também representou estas temáticas como, por exemplo, nas ilustrações na página anterior. A primeira imagem faz referência à elevada taxa de natalidade da população de baixa renda, isto é, a alta concentração populacional nas periferias de Belém que na ausência de uma infraestrutura adequada está sujeita a ação de roedores e, portanto, a leptospirose. Já o segundo trabalho aborda a questão da violência, em que um dos garotos apresenta uma fisionomia agressiva e uma faca na mão, contrastando com o rapaz que está de costas e com a cabeça inclinada. Este parece olhar para o alto, talvez, uma representação da morte enquanto encontro com um ser superior, Deus. Já para os estudantes que disseram não ser da periferia observou-se que esta foi a resposta, principalmente, dos residentes no Distrito de Icoaraci e Outeiro e isso pode ter acontecido, entre outros fatores, devido a distância geográfica do centro da cidade até esses bairros, o que possibilita terem uma logística diferenciada e certa autonomia no que diz respeito à infraestrutura comercial. Outro ponto importante que foi verificado é que mesmo dentro dos distritos as pessoas responderam tendo como base a infraestrutura ao redor da sua casa. Por exemplo, em Icoaraci, os estudantes que moravam próximo à orla da praia do Cruzeiro inferiram que não estão na periferia, enquanto que os residentes em áreas próximas a ocupações não planejadas e ao rio Paracuri I e II disseram morar na periferia. Essa diversidade de opinião ou mesmo a atitude de preferir não opinar, mostra o conflito existente para se definir o que é ou não a periferia de uma cidade. Notou-se que os questionários sem respostas eram de alunos residentes nesses bairros. Gráfico 6 - Em relação ao bairro de sua residência e a periferia
  • 50. 49 Fonte: Dados da Pesquisa Ao serem questionados sobre a localização das suas escolas se elas estão ou não na periferia percebeu-se, também, a existência de um conflito, no que tange à definição do que é estar ou não na periferia. Ao ser perguntado sobre o assunto (58) alunos responderam sim, para eles sua escola está localizada na periferia, (36) disseram não e (6) estudantes deixaram em branco, pediu-se ainda que justificassem suas respostas, alguns o fizeram, outros não. Aos que responderam negativamente, utilizaram como justificativa a qualidade da infraestrutura do lugar. D -“minha escola não faz parte da periferia porque ela se encontra em uma rua bem diferente, a rua é pavimentada”, para esse aluno estar ou não na periferia depende em grande medida da infraestrutura que o local apresenta já outros disseram que a escola faz parte por ser um lugar que tem muitas casas e elas são todas próximas, para esses indivíduos a representação feita está intimamente ligada à estrutura inadequada e à alta concentração populacional. Esses temas foram bastante relatados nos desenhos dos estudantes como nas ilustrações abaixo, em que a primeira retrata a concentração populacional e a violência. Este tema foi representado pela figura de dois jovens que do alto da laje simbolizam um traficante que atira, devido o não pagamento de uma dívida. Esse ato ocorre enquanto o devedor brinca de papagaio, uma alusão à infância/juventude roubada, já a segunda cena são várias casas no alto de um morro com uma criança ou jovem empinando papagaio. Essa imagem é uma representação muito presente no videoclipe Devorados e talvez isso explique os inúmeros desenhos contendo esses elementos. Imagem 3 – Ilustração sobre a periferia de Belém
  • 51. 50 Fonte: Dados da pesquisa Para alguns estudantes a resposta que melhor define se sua escola está ou não na periferia é : A-“É periferia porque fica no Jurunas e Jurunas é periferia”. Esse aluno acredita que basta ele dizer o nome do bairro para que o termo seja auto-explicativo. Para o aluno este nome já apresenta carga simbólica e uma imagem consolidada na cabeça das pessoas, tal qual na sua mente, uma vez que a opinião dele é a mesma reproduzida pela mídia, isto é, os estereótipos difundidos lagarmente pelos veículos de comunicação e já discutidos anteriormente, exercem forte influência na definição do que é estudar ou não em um bairro de periferia. Gráfico 7- Em relação o bairro que sua escola está localizada e a periferia
  • 52. 51 Fonte: Dados da Pesquisa A questão de número oito propôs aos alunos que respondessem se existe identificação entre eles e o que foi mostrado nos dois videoclipes. O resultado alcançado é que a maioria dos entrevistados 58 pessoas não se reconhecem nos vídeos, entre outros motivos, por não concordarem com o exposto, já que eles vivem uma realidade diferente da mostrada: B- “na localidade que eu moro é um conjunto habitacional e lá não existe muita violência”. Outro ponto relatado pelos alunos é que por não morarem em palafitas ou em vilas, não se identificam com os trabalhos que foram gravados em localidades do gênero. Devorados foi gravado na Vila da Barca, antes do PAC, em que as habitações eram do tipo palafitas e o vídeo Matinha do Cruzeiro em vilas, ao redor do canal de mesmo nome, além disso foi justificada a não identificação pelo fato de existirem lugares e situações bem piores do que foi mostrado. Esta resposta teve como justifcativa que, para o estudante, o seu bairro sofre com vários problemas não retratados pelas produções. Já para os (36) alunos que responderam sim, o dia-a-dia dos moradores se parece com o seu, justificaram dizendo que existe identificação com o exposto, já que estes vivem em uma realidade semelhante à proposta pelas bandas, e para eles os problemas enfrentados pelos moradores desses bairros são resultados do abandono do poder público. Quanto aos que não responderam foram 6 alunos que talvez não tenham entendido a proposta. A representações sociais reproduzidas aqui estão ligadas à diversidade e complexidade das áreas de periferias que, para a maior parte dos estudantes, não foi mostrada. Para os entrevistados, os videoclipes estigmatizaram as comunidades mostrando repetidamente o que falta, o que não tem nesses locais ou a real violência,
  • 53. 52 mas não retrataram ás manifestações culturais, de resistência, a organização popular e ação dos centros comunitários. De acordo com Souza, a periferia é diversa: Outra forma possível de perceber-se a periferia passa pelo reconhecimento de que os seus habitantes desenvolvem formas ativas e contrastantes para enfrentarem suas dificuldades do dia-a-dia, de acordo com suas trajetórias pessoais e coletivas, as características socioculturais e geográficas do seu território e a postura assumida pelas suas lideranças e pelas instituições locais, dentre outras variáveis. Naturalmente, a superação dos evidentes limites presentes nas condições de vida dos habitantes da periferia é uma necessidade, a ser encarada pelos poderes públicos e pelos setores sociais identificados com a democracia e a justiça social. (SOUZA, 2005). Nesse sentido, os videoclipes não abordaram o cotidiano dos moradores, as dificuldades enfrentadas por eles e a maneira que se organizam na luta por melhores condições de vida. Outro ponto citado como uma característica da periferia é a união entre vizinhos. Gráfico 8 – Em relação à identificação com os videoclipes Fonte: Dados da Pesquisa A pergunta de número nove diz respeito à avaliação que os jovem fizeram sobre os videoclipes, o objetivo era saber o que pensavam os estudantes sobre a maneira que as bandas representaram a periferia de Belém. A opção selecionada pela maioria 57 pessoas foi a palavra bastante; para estes, o vídeo representa bem o tema 24 pessoas acharam que representa pouco e justificam dizendo que a abordagem feita pela banda trabalha apenas os problemas das periferias, principalmente, a questão da violência deixando de contemplar, por exemplo, a riqueza cultural do lugar. Para 19 alunos a palavra que mais se adequa é fielmente pelo fato dos produtos transmitirem fidelidade ao cotidiano das periferias, apesar de ter sido sugerida pela pesquisa a palavra não 0 nenhum entrevistado a escolheu.
  • 54. 53 Gráfico 9- Quanto a avaliação dos videoclipes Fonte: Dados da Pesquisa Como na questão anterior (24) pessoas haviam dito que os videoclipes representavam pouco a realidade, perguntou-se na questão 10 sobre a maneira que deveria ser abordado o tema, os resultados encontrados discorrem sobre a necessidade de abordar pontos como, o clima amistoso entre vizinhos: E- na periferia todo mundo se conhece é um lugar bom de viver porque aqui a gente aprende mesmo a viver, a respeitar as diferenças, eu gosto dos meus vizinhos e acho legal morar aqui. (Trecho da entrevista com jovem) E- Existem vantagens de se morar na periferia porque aqui temos acessibilidade com os vizinhos, conversamos com eles. Se acontecer alguma coisa na tua casa eles te ajudam, tem muitas periferias que ficam próximas aos centros. A periferia tem de tudo, pessoas classes média alta, baixa e que acabam morando na periferia por opção ou falta dela. (Trecho da entrevista com jovem). Isso implica dizer, que para os entrevistados a periferia, também, representa um lugar de povo alegre e unido e que os vizinhos convivem bem. Os alunos disseram, ainda que os videoclipes não representaram a complexa logística do crime e os diferentes contextos sociais das periferias de Belém, de acordo com eles existem periferias mais estruturadas do que outras, uma vez que elas não são homogêneas, pelo contrário, periferia é sinônimo de diferentes realidades e um videoclipe que se propõe abordar o tema precisa mostrar isso. Essas foram às representações mais encontradas para a questão. Gráfico 10 - Quanto à representação de periferia
  • 55. 54 Fonte: Dados da Pesquisa O espaço destinado para que os alunos escrevessem sua opinião sobre os videoclipes foi a questão 11, que, por ser uma questão aberta, possibilitou múltiplas respostas. No gráfico abaixo foram colocadas as de maior incidência, mas é importante lembrar que não são os únicos entendimentos por parte dos entrevistados. As respostas avaliativas do produto resultaram nas seguintes representações: 48% acharam o vídeo uma representação fiel da realidade, 14% relataram que o vídeo mostra bastante a criminalidade que acontece diariamente nas periferias; para 11% o que mais foi mostrado é a estrutura inadequada das periferias brasileiras com a presença de habitações do tipo palafitas e casebres, a ausência de saneamento básico de qualidade, além da falta de oportunidade e de cidadania. Para 10% os vídeos são interessantes ou muitos interessantes, de boa musicalidade e foi bem gravado, eles também gostaram da iniciativa de se gravar nas comunidades. 8% estão divididos entre os que não responderam e aqueles que acharam os vídeos reducionistas, pelo fato de eles mostrarem apenas um lado das periferias, o negativo, uma vez que para estes a periferia tem muito mais a ser mostrado: A- Periferia é uma comunidade onde moram pessoas bem simples, humildes e que têm diversos problemas como à criminalidade. A violência normalmente se concentra nas periferias de qualquer cidade, mas ela, também, tem coisas boas como o surgimento de cantores, jogadores de futebol, atores, uma cultura da periferia. (Trecho da entrevista com jovem). O que disse o estudante acima é consenso para 8% dos entrevistados, os quais disseram que faltou, no vídeo, mostrar a cultura da periferia. 6% acham que o vídeo mostrou o descaso do poder público com as periferias. Os estudantes também citaram, em menor proporção, outras percepções que não estavam no trabalho como o medo da violência ocasionado pela inexistência de policiamento, o que torna a periferia um lugar triste.
  • 56. 55 Os desenhos também abordaram a questão da infraestrutura precária nas periferias, como nos exemplos abaixo que representam as palafitas construídas sobre os rios de Belém, habitações feitas de madeira e que sinalizam risco a saúde da população. Nas imagens também é retratada uma mulher lavando roupa no giral, uma espécie de tanque feito de madeira, destinado a ser um espaço para que as pessoas lavem roupas e louças. No segundo desenho são mostradas crianças brincando de bola e empinando pipa o que sugere a interação entre os vizinhos e a precariedade a que estão expostos os habitantes desses locais. Imagem 4 – Ilustração sobre a periferia de Belém Gráfico 11- Quanto ao parecer sobre os videoclipes.