Os principais pontos em comum no mundo árabe são a língua
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Introdução
O Império Árabe teve sua formação a partir da origem do islamismo,
religião fundada pelo profeta Maomé. Antes disso, a Arábia era
composta por povos semitas que, até o século VII, viviam em diferentes
tribos. Apesar de falarem a mesma língua, estes povos possuíam
diferentes estilos de vida e de crenças.
Os principais pontos em comum no mundo árabe são a língua, a religião e as
tradições islâmicas. Além disso, quase todos os países da região têm sua
economia assentada na exportação de petróleo e um passado de traços
coloniais. nem todos, é bem verdade, foram colonizados no sentido estrito da
palavra, mas sua história foi largamente condicionada pela presença européia,
sobretudo francesa e inglesa. Separados por inúmeras divergências, os árabes
costumam unir-se apenas quando se trata de enfrentar o inimigo comum:
otemido Estado de Israel.
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O Mundo Árabe
Dá-se o nome de Mundo Árabe ao conjunto de países africanos e do Oriente
Médio que, além de predominantemente islâmicos, tem uma cultura árabe
(influenciada por peculiaridades locais) e fazem do árabe seu idioma oficial.
São ao todo 22 países, dos quais 21 têm soberania (independência); a
palestina (formada pela Faixa de Gaza e Cisjordânia) ainda não constitui um
estado propriamente dito, devido à ocupação israelense na Cisjordânia.
Os estados árabes têm uma história política bastante recente, com exceção da
Arábia Saudita (criada em 1932), todos somente alcançaram a independência
plena após a Segunda Guerra Mundial, quando deixaram de ser colônias ou
protetorados da Inglaterra, França e Itália.
O Mundo Árabe compreende atualmente 8 monarquias e 13 repúblicas. As
monarquias (com exceção da Jordânia, que possui um regime razoavelmente
democrático) são todas autoritárias, tendo na Arábia Saudita seu modelo mais
extremado. Das repúblicas, o Líbano constituía um modelo de democracia, mas
esse quadro foi alterado após uma sangrenta guerra civil que se prolongou de
1975 a 1990. As demais repúblicas são todas autoritárias ou mesmo
abertamente ditatoriais, sendo que a Somália, desde 1991, não tem uma
autoridade nacional estruturada.
A atual crise do Mundo Árabe começou em janeiro na Tunísia, quando intensas
manifestações obrigaram o ditador Zini bem Ali – no poder havia 23 anos – a
fugir. Esse fato repercutiu no Egito, onde a pressão popular provocou a
renúncia do general Hosni Mubarak, ditador desde 1981. Pouco depois,
irrompeu na Líbia uma rebelião contra o coronel Muammar Khadafi (hoje
falecido) que, embora curiosamente não tenha cargo oficial, governou a Líbia
com mão de ferro desde 1969.
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Refletindo esses acontecimentos, vêm ocorrendo manifestações contra
diversos outros governos árabes, notadamente no Iêmen, no Bahrein e na Síria
– países nos quais a repressão tem sido mais dura.
Embora a maioria dos analistas queira ver nesses movimentos uma grande
crise política que levará à derrubada dos regimes autoritários que pesam sobre
quase todo o Mundo Árabe, é difícil fazer um prognóstico seguro devido às
particularidades de cada país: condições econômicas, diferenças étnicas,
predomínio dos laços tribais sobre o sentimento nacional, conflitos religiosos e
– mais que tudo – a ausência histórica de uma tradição democrática nos
moldes ocidentais.
Indubitavelmente existe uma crise, e ela produzirá desdobramentos. Mas
dificilmente os resultados serão homogêneos. E o Mundo Árabe, apesar de sua
grande contribuição cultural para a humanidade, continuará a ser um mosaico
que contraria a aparentemente inexorável tendência à globalização.
Islamismo
O islã é uma das mais importantes religiões mundiais (a população muçulmana
é estimada em mais de 935 milhões), originária da península da Arábia e
baseada nos ensinamentos de Maomé (570-632), chamado o Profeta. Segundo
o Alcorão, o Islã é a religião universal e primordial. O muçulmano é um
seguidor da revelação divina contida no Alcorão e formulada pelo profeta
Maomé. Já que, no Alcorão, muçulmano é o nome dado aos seguidores de
Maomé (Alcorão 22,78), os muçulmanos sentem-se ofendidos quando são
chamados de maometanos pois isto implica a idéia de um culto pessoal a
Maomé, proibido no Islã.
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Os muçulmanos consideram a Caaba, ao centro da grande mesquita de Meca,
o lugar mais sagrado da Terra. A tradição muçulmana diz que os patriarcas
Abraão e Ismael construíram o santuário sobre os primeiros alicerces postos
por Adão. Todos os muçulmanos do mundo rezam nesta direção e, todos os
que não tiverem um sério impedimento, deverão peregrinar à Meca, pelo
menos uma vez na vida. Esta imagem mostra a cerimônia na qual os
peregrinos devem beijar a Pedra Negra (Caaba). Os fiéis permanecem neste
lugar vários dias, celebrando rituais.
Doutrina e prática
As duas fontes fundamentais da doutrina e da prática islâmicas são o Alcorão e
a sunna (conduta exemplar do profeta Maomé). Os muçulmanos consideram o
Alcorão como a palavra "incriada" de Deus, revelada a Maomé através de
Gabriel, o arcanjo da revelação. Os islamitas acreditam que Deus, e não o
Profeta, é o autor destas revelações. Por isto, o Alcorão é infalível.
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O Alcorão contém as revelações transmitidas a Maomé durante os quase 22
anos de sua vida profética (610-632). A segunda fonte essencial do islã, a
sunna ou exemplo do Profeta, é conhecida através dos Hadith, recompilação
de tradições baseadas no que disse ou fez o Profeta. Ao contrário do Alcorão,
os Hadith não são considerados infalíveis.
O monoteísmo é uma matéria central para o Islã: a crença em um Deus (Alá),
único e onipotente. Deus desempenha quatro funções fundamentais no
Universo e na humanidade: criação, sustentação, orientação e julgamento, que
se conclui com o dia do Juízo, no qual a humanidade será reunida e todos os
indivíduos serão julgados de acordo com seus atos. Deus, que criou o Universo
por absoluta misericórdia, é obrigado também a mantê-lo. A natureza é
subordinada aos homens que podem explorá-la e beneficiar-se dela. Todavia, o
último objetivo humano consiste em existir para o "serviço de Deus".
No que se refere à prática islâmica, cinco deveres — conhecidos como os
"pilares do Islã"— são fundamentais:
– profissão da fé ou testemunho; "Não há nada superior a Deus e Maomé é seu
enviado". Esta profissão deve ser feita, publicamente, por cada muçulmano
pelo menos uma vez na vida.
– cinco orações diárias. Durante a oração, os muçulmanos olham em direção à
Caaba, em Meca (Makka). Antes de cada oração comunitária, é feita uma
chamada pública, pelo muezim, a partir do minarete da mesquita.
– Pagar o zakat (óbolo), instituído por Maomé.
– jejum no mês de Ramadã.
– peregrinação à Caaba, em Meca. Todo muçulmano adulto, capacitado
fisicamente e dotado de bens suficientes, deve realizá-la pelo menos uma vez
na vida.
Além destas cinco instituições básicas, o Islã impõe a proibição do consumo de
álcool e carne de porco. Além da Caaba, os centros mais importantes da vida
islâmica são as mesquitas.
Islã e sociedade
O conceito islâmico de sociedade é teocrático, sendo que o objetivo de todos
os muçulmanos é o "governo de Deus na Terra". A filosofia social islâmica
baseia-se na crença de que todas as esferas da vida constituem uma unidade
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indivisível que deve estar imbuída dos valores islâmicos. Este ideal inspira o
Direito islâmico, chamado sharia, que explica os objetivos morais da
comunidade. Por isso, na sociedade islâmica, o termo Direito tem um
significado mais amplo do que no Ocidente moderno secularizado, pois
engloba imperativos morais e legais.
A base da sociedade islâmica é a comunidade dos fiéis que permanece
consolidada no cumprimento dos cinco pilares do islã. Sua missão é "inspirar o
bem e proibir o mal" e, deste modo, reformar a Terra. A luta por este objetivo
tenta se concretizar através da jihad (guerra santa) que, se for necessário,
pode englobar o uso da violência e a utilização de exércitos. A finalidade
prescrita pela jihad não é a expansão territorial ou a tomada do poder político, e
sim a conversão dos povos ao Islã.
História do Islã
Na época de Maomé, a península da Arábia era habitada por beduínos
nômades — dedicados à criação de rebanhos e saques —, e pelos árabes que
viviam do comércio. A religião dos árabes pré-islâmicos era politeísta e idólatra,
embora existisse uma antiga tradição de monoteísmo. Maomé foi precedido por
oradores monoteístas, mas com pouco êxito. Pertencente ao clã Haxemita, da
tribo beduína Curaichita, Maomé iniciou seu ministério aos 40 anos, quando
começou a pregar em Meca, sua cidade natal. Depois de quatro anos,
convertera cerca de 40 pessoas. Hostilizado pelos outros habitantes que viam
naquele discurso monoteísta uma ameaça aos lucros obtidos com as
caravanas que paravam em Meca para reverenciar ídolos locais, Maomé
acabou fugindo para Medina, em 622. A partir deste acontecimento, conhecido
por Hégira, inicia-se o calendário islâmico. Na ocasião de sua morte, em 632,
Maomé já era o dirigente máximo de uma religião que ganhava poder com
grande rapidez.
A primeira escola importante de teologia islâmica, a mutazilita, surgiu graças à
tradução das obras filosóficas gregas para o árabe, nos séculos VIII e IX, e
ressaltava a razão e a lógica rigorosa. A questão da importância das boas
ações continuava, mas a ênfase principal era na absoluta unicidade e justiça de
Deus. Os mutazilitas foram os primeiros muçulmanos a adotar os métodos
filosóficos gregos para difundir suas idéias. Alguns de seus adversários
utilizaram os mesmos métodos e o debate resultou no movimento filosófico
islâmico, cujo primeiro representante importante foi al-Kindi (século IX), que
tentou conciliar os conceitos da filosofia grega com as verdades reveladas do
islã. No século X, o turco al–Farabi foi o primeiro filósofo islâmico a subordinar
revelação e lei religiosa à filosofia. Defendia que a verdade filosófica é idêntica
em todo o mundo e que as diversas religiões existentes são expressões
simbólicas de uma religião universal ideal. No século XI, o filósofo e médico
persa muçulmano Avicena (Ibn Sina) conseguiu a mais sistemática integração
do racionalismo grego com o pensamento islâmico. Averroés, o filósofo e
médico ibero-muçulmano do século XII, defendeu os conceitos aristotélicos e
platônicos e converteu-se no filósofo islâmico mais importante da história
intelectual do Ocidente.
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A estagnação da cultura islâmica depois da Idade Média resultou em uma
renovada insistência no pensamento original (ijtihad) e nos movimentos de
reforma religiosa, social e moral. O primeiro deste tipo foi o wahabita, nome
dado em homenagem a seu fundador Ibn Abd al-Wahhab, que surgiu na
Arábia, no século XVIII, e converteu-se no líder de um grande movimento que
se integrava com as ramificações do mundo muçulmano. Outros reformistas
islâmicos foram marcados por idéias ocidentais como Mohamed Abduh ou
Mohamed Iqbal. Embora as idéias modernas estejam baseadas em
interpretações plausíveis do Alcorão, os fundamentalistas islâmicos opuseram-se
fortemente a elas, sobretudo a partir de 1930. Não são contra a educação
moderna, a ciência e a tecnologia, mas acusam os reformistas de difundirem a
moralidade ocidental. Por fim, o ressentimento que os muçulmanos sentem
pelo colonialismo ocidental fez com que muitos deles relacionassem às culturas
do ocidente tudo que seja sinônimo e representação do mal.
A cultura muçulmana medieval
A importância maior da cultura muçulmana reside em seu caráter sincrético. O
extenso contato que os muçulmanos tiveram com outras civilizações
proporcionou-lhes uma enorme soma de conhecimentos. Os algarismos hindus
foram transferidos para o Ocidente e as obras gregas toram traduzidas para o
árabe com maior precisão do que para o latim.
No campo da Química, os árabes se destacaram pela descoberta de ácidos e
sais. Na Matemática, pelo desenvolvimento da Álgebra. Na Física, por várias
leis da Óptica.
As artes plásticas não tiveram um desenvolvimento notável por causa da
proibição religiosa de representar formas vivas. Mesmo assim, desenvolveram
a Arquitetura com a utilização de arcos e cúpulas. A Pintura se limitou aos
arabescos, em que as letras do alfabeto árabe adquiriam função decorativa.
A Filosofia muçulmana teve em Averróis um dos máximos representantes da
filosofia medieval. Traduziu numerosas obras gregas para o árabe e comentou
Platão. Aviena dedicou-se à Medicina, descobriu a natureza contagiosa da
tuberculose, descreveu a pleurisia e algumas variedades de doenças nervosas.
Sua principal obra, Canon, tornou-se manual básico de ensino nas
universidades euro ias. Rásis, outro médico, descobriu a verdadeira natureza
da varíola.
Os árabes descobriram ainda antídotos contra envenenamento perceberam os
mecanismos de difusão da peste pelo contato e desenvolveram a higiene
médica e hospitalar.
A literatura muçulmana tem um caráter mais imaginoso e sensual do que
intelectual. No Livro dos Reis são narrados acontecimentos relativos ao Império
Persa. Rubayyat, de Omar Khayyam, é um poema que reflete o modo de viver
e sentir predominante na cultura persa.