1. Prólogo<br />- Não me lembro de ter visto essa parte da chácara – Não me lembro das flores amarelas, nem de ter visto tantos bovinos na última vez que vim aqui.<br />- Acho que não tínhamos vindo aqui antes porque você era muito nova para saber que não se pode andar a cavalo por aqui – meu pai ria com a piada, mal formada, me deixa explica, eu sempre gostei de andar a cavalo e ele não - e você estava sempre querendo andar com eles – Meu pai estava de bom humor hoje.<br />O campo estava a nossa frente, dava para ver a casa, um pontinho branco no topo da montanha, a casa de meu tio. O caminho que ainda precisávamos percorrer era grande, ainda bem que não tinha muito mosquito nessa época. Eu era alvo fácil deles.<br />Cerca de vinte passos a nossa frente tinha uma laranjeira. Meu pai adorava laranjas, ao contrário de minha mãe que não gostava nem um pouco. Eu por outro lado estava no meio termo, nem gostava nem deixava de gostar.<br />- Ajudem a levar algumas laranjas lá para dentro de casa – Disse meu pai quando chegamos ao pé da laranjeira.<br />- Para quê Fabiano? - Minha mãe não gostou muito dessa idéia. Ela não gosta de ficar parada no mesmo lugar no sítio, chácara, sempre achei que era porque ela como eu era alvo fácil dos mosquitos – mas fomos ajudá-lo.<br />O sol já começava a se por quando eu e Cecília, minha mãe, nos demos por conta de que estava na hora de ir. Mas antes que pudéssemos fazer qualquer coisa ouvimos um uivo não muito ao longe do caminho que havíamos percorrido antes de chegarmos ali.<br />- Vamos Fabiano, já está na hora de irmos – Minha mãe estava impaciente.<br />- Claro, só deixa eu pega mais essa aqui, parece bem docinha, do jeito que eu gosto.<br />- Tudo bem, mas eu e Amanda já vamos indo – Cecília disse isso já me empurrando para frente.<br />Mais uivos, mais próximos que o primeiro.<br />- Anda logo Fabiano! Temos que ir.<br />- Ok, estou logo atrás de vocês.<br />Saímos quase correndo na direção da casa. Mas eu tropecei em algo e caí no chão. <br />- Vá andando Cecília. Eu ajudo-a.<br />Meu pai veio em meu socorro. Conseguindo me levantar em poucos segundos. Voltamos a correr. Logo alcançamos mamãe.<br />- Ajuda. Cecília. Ajuda – Era a voz de... Meu pai. Assim que reconheci parei de correr. Minha mãe parou também. Olhamos para a origem do som das palavras.<br />Papai estava enroscado em um galho de uma árvore, cujo nome eu desconhecia. Suas feições estavam temerosas, preocupadas. Certamente não eram as que eu conhecia tão bem. As frutas que ele antes carregava, agora estavam jogadas no chão. <br />- Corre Amanda, continue correndo, eu volto pra ajudá-lo – Mal disse isso, Cecília voltou a correr, mas na direção contrária aquela em que estávamos antes. Ela estava indo na direção que papai estava. Ouviu-se mais uivos. Agora vindo da mata pouco antes de aparecer eu já sabia o que era. Lobos, na verdade era um só. Estava andando calmamente na direção de meus pais.<br />- Mãe! Pai! Um lobo.<br />Mamãe continuou correndo como se não tivesse ouvido nada nem ninguém. O que eu faço? Corro ou grito novamente? Cecília ainda estava a uns dois metros de distancia de Fabiano quando o lobo arregaçou as presas, revelando longuíssimos dentes afiados que me arrepiaram toda.<br />Mamãe notou a presença do lobo. Parou. Meu pai tentou se virar para ver o que havia assustado minha mãe. Ela me olhou – Amanda, corre, tudo vai ficar bem.<br />O lobo uivou novamente. E eu corri, corri para longe daquilo tudo, para longe de meus pais. Arrisquei uma rápida olhada para trás e vi. Meu pai ainda estava preso. Deve ter visto que olhei para eles pois disse em seguida: - Cecília, corra, vá com nossa filha.<br />Logo depois dessa frase mamãe ficou para pelo que pareceu um longo tempo, até que viu o lobo se aproximando do meu pai. Pareceu que só entendeu realmente o que Fabiano disse naquele momento, já que foi só ali que ela reagiu ao que havia sido dito. E saiu correndo atrás de mim, deixando papai sozinho com o lobo, e com a função de atrasá-lo para que pudéssemos pelo menos ganhar tempo e chegar a casa.<br />