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Folha.com - Mercado - Conheça a vida dos trabalhadores de um plataforma de petróleo no Brasil - 12/12/2010        Página 1 de 4




     12/12/2010 - 11h30

     Conheça a vida dos trabalhadores de um
     plataforma de petróleo no Brasil
     FABIA PRATES
     ENVIADA ESPECIAL À P-43

     O cenário parece o de um filme de ficção científica. Centenas de homens e pouquíssimas mulheres
     aguardam a chamada do alto-falante para embarque rumo a destinos exóticos: P-09, P-53, SS-50, PRB-01,
     PCM-03.

     Na pista, dezenas de helicópteros alinhados, como se estivessem prontos para partir rumo a uma batalha,
     esperam seus ocupantes.

     Eles chegam. Vestem coletes de um laranja muito vivo, precaução necessária caso haja um acidente no
     caminho --a cor forte, em contraste com o azul profundo do mar, facilita a localização.

                                                                                         Rafael Andrade-19nov.10/Folhapress




      Gizelle Ferreira Rangel trabalha na plataforma FPSO P 43 da Petrobras, no Campo de Barracuda, no municipio de
      Macae

     Usam ainda um colete-boia azul, sobre o laranja, e sapatos fechados. Chinelos e sandálias são proibidos em
     nome da segurança no desembarque. Bagagem de mão também não é permitida. Celulares são lacrados em
     sacos plásticos, de onde só podem sair na volta.

     O aeroporto de Macaé, cidade do litoral norte fluminense a 192 km do Rio, é o ponto de partida para as 54
     plataformas que a Petrobras opera na bacia de Campos, de onde sai 84% da produção de petróleo do país.

     Ao todo, a Petrobras tem 120 plataformas em operação, onde "vivem" mais de 10 mil pessoas em um
     esquema de trabalho que estabelece jornadas diárias de 12 horas, por 14 dias consecutivos.

     Em troca, aqueles que aceitam esse trabalho de alto estresse e risco recebem 30% de adicional salarial, não
     têm nenhuma despesa enquanto embarcados e ganham 21 dias de folga.

     DESTINO: P-43

     A equipe da Folha embarcou em um desses helicópteros rumo à P-43, no campo de Barracuda, navio-
     plataforma em operação desde 2004. São 106 km mar adentro, viagem que dura 45 minutos.

     Do alto tem-se melhor a dimensão da grandiosidade que cerca a produção petroleira do Brasil. Após alguns
     minutos de voo nos quais só se vê céu e mar, começam a surgir plataformas e navios.




http://tools.folha.com.br/print?url=http%3A%2F%2Fwww1.folha.uol.com.br%2Fmercado%2F844532-conheca-a-vid... 11/1/2011
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     O helicóptero pousa na P-43. A plataforma é do tipo FPSO, sigla do inglês "floating production, storage and
     offloading", o que significa que ali se produz, armazena e processa óleo e gás.

     A primeira sensação: a plataforma balança. Não o suficiente para causar enjoo, mas sim para forçar um
     constante reequilíbrio.

     A segunda: a P-43 não é um lugar comum. As dimensões impressionam. A estrutura tem 337 metros de
     comprimento (mais do que quatro Airbus-A380 enfileirados), 65 metros de altura (igual a um prédio de 21
     andares) e pesa 311 toneladas.

     Logo ao desembarcar, o engenheiro Moisés Alves Pereira, 30 anos de Petrobras, gerente da plataforma e
     anfitrião na visita, dá instruções de segurança.

     Ele explica que, a qualquer sinal sonoro de alerta, é preciso se dirigir --com calma, se é que isso é possível
     para quem nunca esteve lá-- aos lugares predeterminados.

     Na área industrial, onde estão os dutos que trazem o petróleo do mar, só é possível entrar com EPIs
     (Equipamentos de Proteção Individual): macacão laranja, óculos, luvas, botas, protetor auricular e capacete.

     Com todos vestidos da mesma forma, a única maneira de diferenciar embarcados de forasteiros é a roupa
     limpa dos últimos. São inúmeros tubos, armações, geradores, pressurizadores, aquecedores. O ruído é
     insuportável, mesmo com os protetores de ouvido.

     Não se vê ninguém caminhando pela plataforma. Tudo ocorre dentro de salas de controle, que comandam e
     vigiam a produção 24 horas por dia em telas de 17 computadores e monitores de três televisores.

     Num dos extremos da plataforma ficam dormitórios, restaurante e escritórios. Ali não se tem a noção de estar
     a mais de 100 km da costa. Há uma sala de reuniões com mesa gigante, cadeiras confortáveis, sofás,
     projetores, TV, internet, ar-condicionado, cafezinho e frigobar.

                                                                                                  Editoria de Arte/Folhapress




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     VIDA ISOLADA

     Trabalhar embarcado é passar longos períodos isolado do mundo, suportando diversas restrições --estar
     longe da família, não usar o celular e, principalmente, não poder sair do local de trabalho no momento que
     quiser. Durante 14 dias, casa e trabalho são o mesmo lugar.

     A média por embarque da P-43 é de 180 pessoas --das quais apenas 15 são mulheres. O grupo tem idade
     em torno de 35 anos. São engenheiros, técnicos de operação, profissionais de segurança, mergulhadores,
     rádio-operadores, técnicos de enfermagem e profissionais da hotelaria (cuidam da hospedagem e da
     alimentação).

     A vida de um embarcado é difícil, mas muitos optaram por ela. Nos cinco primeiros anos na Petrobras, a
     técnica de logística de transporte Gisele Ferreira Rangel, 32, batia cartão no porto de Macaé e morava em
     Campos. Pediu para trocar a terra pelo mar.

     "Com 21 dias de folga, aproveito melhor o tempo com a minha filha", diz Gisele, que é mãe de uma menina
     de 12 anos.

     Técnica de enfermagem, uma das responsáveis por prestar atendimentos de primeiros socorros aos
     embarcados, Maria Aparecida da Costa Silva diz que, quando está de folga em casa, costuma se confundir.
     'Digo que vou para o camarote em vez de para o quarto.'

     COMO UM HOTEL

     Para atender os embarcados, a plataforma funciona como um hotel. O café da manhã começa a ser servido
     às 6h. A última refeição, a ceia, é feita entre 23h e 1h.
     Uma empresa terceirizada de hotelaria cuida da limpeza das acomodações e do preparo da comida.

     No cardápio, elaborado por uma nutricionista, há sempre carnes vermelha e branca, salada, arroz e feijão,
     doces e frutas, além de sucos e refrigerantes. Por mês, são consumidas em média seis toneladas de
     alimentos.

     As acomodações são coletivas, com banheiro e TV com programação a cabo. As cabines --os camarotes--
     têm entre 12 metros quadrados e 18 metros quadrados e lembram as de navios de cruzeiro.

     Na P-43 são 47 camarotes para quatro pessoas (dois beliches), oito para duas pessoas e um para três. Não
     há privacidade. Tudo é feito sob o olhar dos colegas.

     Bebidas alcoólicas são proibidas. Há cabines telefônicas para que os embarcados se comuniquem com as
     famílias e sala com computadores para acessar as redes sociais. Há áreas de convivência e lazer e até uma
     quadra de futebol e uma piscina.

     Nas noites de quarta-feira, o grupo se reúne para um churrasco. É o dia de comemorar a volta para casa --os
     embarques acontecem às quintas, quando chegam os novos grupos. A cerveja é liberada. Mas sem álcool.

                                                                                                  Editoria de Arte/Folhapress




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     http://www1.folha.uol.com.br/mercado/844532-conheca-a-vida-dos-trabalhadores-de-um-plataforma-de-petroleo-no-brasil.shtml


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  • 2. Folha.com - Mercado - Conheça a vida dos trabalhadores de um plataforma de petróleo no Brasil - 12/12/2010 Página 2 de 4 O helicóptero pousa na P-43. A plataforma é do tipo FPSO, sigla do inglês "floating production, storage and offloading", o que significa que ali se produz, armazena e processa óleo e gás. A primeira sensação: a plataforma balança. Não o suficiente para causar enjoo, mas sim para forçar um constante reequilíbrio. A segunda: a P-43 não é um lugar comum. As dimensões impressionam. A estrutura tem 337 metros de comprimento (mais do que quatro Airbus-A380 enfileirados), 65 metros de altura (igual a um prédio de 21 andares) e pesa 311 toneladas. Logo ao desembarcar, o engenheiro Moisés Alves Pereira, 30 anos de Petrobras, gerente da plataforma e anfitrião na visita, dá instruções de segurança. Ele explica que, a qualquer sinal sonoro de alerta, é preciso se dirigir --com calma, se é que isso é possível para quem nunca esteve lá-- aos lugares predeterminados. Na área industrial, onde estão os dutos que trazem o petróleo do mar, só é possível entrar com EPIs (Equipamentos de Proteção Individual): macacão laranja, óculos, luvas, botas, protetor auricular e capacete. Com todos vestidos da mesma forma, a única maneira de diferenciar embarcados de forasteiros é a roupa limpa dos últimos. São inúmeros tubos, armações, geradores, pressurizadores, aquecedores. O ruído é insuportável, mesmo com os protetores de ouvido. Não se vê ninguém caminhando pela plataforma. Tudo ocorre dentro de salas de controle, que comandam e vigiam a produção 24 horas por dia em telas de 17 computadores e monitores de três televisores. Num dos extremos da plataforma ficam dormitórios, restaurante e escritórios. Ali não se tem a noção de estar a mais de 100 km da costa. Há uma sala de reuniões com mesa gigante, cadeiras confortáveis, sofás, projetores, TV, internet, ar-condicionado, cafezinho e frigobar. Editoria de Arte/Folhapress http://tools.folha.com.br/print?url=http%3A%2F%2Fwww1.folha.uol.com.br%2Fmercado%2F844532-conheca-a-vid... 11/1/2011
  • 3. Folha.com - Mercado - Conheça a vida dos trabalhadores de um plataforma de petróleo no Brasil - 12/12/2010 Página 3 de 4 VIDA ISOLADA Trabalhar embarcado é passar longos períodos isolado do mundo, suportando diversas restrições --estar longe da família, não usar o celular e, principalmente, não poder sair do local de trabalho no momento que quiser. Durante 14 dias, casa e trabalho são o mesmo lugar. A média por embarque da P-43 é de 180 pessoas --das quais apenas 15 são mulheres. O grupo tem idade em torno de 35 anos. São engenheiros, técnicos de operação, profissionais de segurança, mergulhadores, rádio-operadores, técnicos de enfermagem e profissionais da hotelaria (cuidam da hospedagem e da alimentação). A vida de um embarcado é difícil, mas muitos optaram por ela. Nos cinco primeiros anos na Petrobras, a técnica de logística de transporte Gisele Ferreira Rangel, 32, batia cartão no porto de Macaé e morava em Campos. Pediu para trocar a terra pelo mar. "Com 21 dias de folga, aproveito melhor o tempo com a minha filha", diz Gisele, que é mãe de uma menina de 12 anos. Técnica de enfermagem, uma das responsáveis por prestar atendimentos de primeiros socorros aos embarcados, Maria Aparecida da Costa Silva diz que, quando está de folga em casa, costuma se confundir. 'Digo que vou para o camarote em vez de para o quarto.' COMO UM HOTEL Para atender os embarcados, a plataforma funciona como um hotel. O café da manhã começa a ser servido às 6h. A última refeição, a ceia, é feita entre 23h e 1h. Uma empresa terceirizada de hotelaria cuida da limpeza das acomodações e do preparo da comida. No cardápio, elaborado por uma nutricionista, há sempre carnes vermelha e branca, salada, arroz e feijão, doces e frutas, além de sucos e refrigerantes. Por mês, são consumidas em média seis toneladas de alimentos. As acomodações são coletivas, com banheiro e TV com programação a cabo. As cabines --os camarotes-- têm entre 12 metros quadrados e 18 metros quadrados e lembram as de navios de cruzeiro. Na P-43 são 47 camarotes para quatro pessoas (dois beliches), oito para duas pessoas e um para três. Não há privacidade. Tudo é feito sob o olhar dos colegas. Bebidas alcoólicas são proibidas. Há cabines telefônicas para que os embarcados se comuniquem com as famílias e sala com computadores para acessar as redes sociais. Há áreas de convivência e lazer e até uma quadra de futebol e uma piscina. Nas noites de quarta-feira, o grupo se reúne para um churrasco. É o dia de comemorar a volta para casa --os embarques acontecem às quintas, quando chegam os novos grupos. A cerveja é liberada. Mas sem álcool. Editoria de Arte/Folhapress http://tools.folha.com.br/print?url=http%3A%2F%2Fwww1.folha.uol.com.br%2Fmercado%2F844532-conheca-a-vid... 11/1/2011
  • 4. Folha.com - Mercado - Conheça a vida dos trabalhadores de um plataforma de petróleo no Brasil - 12/12/2010 Página 4 de 4 Endereço da página: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/844532-conheca-a-vida-dos-trabalhadores-de-um-plataforma-de-petroleo-no-brasil.shtml Copyright Folha.com. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicaçao, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha.com. http://tools.folha.com.br/print?url=http%3A%2F%2Fwww1.folha.uol.com.br%2Fmercado%2F844532-conheca-a-vid... 11/1/2011