O documento discute o dom bíblico de falar em línguas e o Espírito Santo. Ele explica que falar em línguas é mencionado no Novo Testamento, mas não no Antigo, e analisa os poucos casos em que ocorre no Novo Testamento. Também discute o que Paulo ensinou sobre falar em línguas em 1 Coríntios, concluindo que se referia a línguas humanas reais, e não celestiais ou extáticas, com o propósito de comunicação e edificação da igreja.
1. E
O
spírito
SANTO
O Dom de Falar em
Línguas e o Espírito Santo
Owen D. Olbricht
No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando
muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete. Mas, não havendo intérprete,
fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus (1 Coríntios 14:27, 28).
O dom de falar em línguas é uma prática
mencionada no Novo Testamento, mas não no
Antigo1 . Se a declaração de que Jesus “ontem e
hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hebreus
13:8) significa que, em todas as eras, ele realiza
os mesmos atos miraculosos, os seguidores de
Deus deveriam ter falado em línguas desconhecidas desde a criação. Além disso, se o falar em
línguas é um sinal de superioridade espiritual,
parece estranho não haver registro algum de que
Cristo falasse em línguas. No longo período da
história bíblica, o falar em línguas é mencionado
somente uma vez em Jerusalém, pelos apóstolos
no dia de Pentecostes (Atos 2:1–11); uma vez em
Cesaréia, quando as portas do evangelho foram
abertas aos gentios (Atos 10:44–46); uma vez em
Éfeso, por doze convertidos (Atos 19:6) e em Corinto, por membros da igreja do Senhor (1 Coríntios
12:10, 28; 13:8; 14:2–28). Nada no Novo Testamento indica que a prática continuou em alguma
das congregações, exceto na igreja em Corinto.
O QUE É O FALAR EM LÍNGUAS?
A palavra hebraica leshonah é mais freqüentemente traduzida por “língua” — com referência
ao órgão do corpo com o qual produzimos a fala
(Juízes 7:5; 2 Samuel 23:2) — ou “língua”, sinônimo
de idioma (Ester 1:22; 3:12; Jeremias 5:15; Ezequiel
3:5, 6). A tradução grega do hebraico leshonah é
glossa (compare Isaías 28:11 com 1 Coríntios 14:21;
gr.: eteroglossois). Glossa significa o órgão do corpo
chamado língua (Marcos 7:33, 35)2 , um jato cônico
parecido com uma chama (Atos 2:3) ou um idioma
(Atos 2:4, 11; 10:46; 19:6).
O primeiro exemplo registrado do falar em
línguas deu-se através dos apóstolos, no dia de
Pentecostes, que foi o milagre de falarem línguas
diferentes, e não o de falarem uma só língua que
foi entendida em várias línguas diferentes (Atos
2:4–11). Os integrantes da multidão ouviram em
suas próprias línguas porque os apóstolos falaram “em outras línguas” (Atos 2:4). Esse era um
sinal muito convincente (1 Coríntios 14:22) para
os judeus incrédulos que estavam presentes.
Depois disso, Pedro levantou-se com os apóstolos
e falou à multidão (Atos 2:14). O fato dele ser
entendido por todos da multidão não significa
que estava falando uma língua, sendo esta entendida por todos os falantes das outras línguas. Os
judeus que estavam em Jerusalém oriundos de
várias nações (Atos 2:5–11) eram bilíngües; podiam
12
11
Numa ocasião lemos que “o Senhor fez falar a
jumenta” de Balaão (Números 22).
Veja também Lucas 1:64; 16:24; Atos 2:26; Romanos
3:13; 14:11; 1 Coríntios 14:9; Filipenses 2:11; Tiago 1:26; 3:5,
6, 8; 1 Pedro 3:10; 1 João 3:18; Apocalipse 16:10.
1
2. entender Pedro quando ele falava em hebraico.
Numa ocasião posterior (Atos 20:16), Paulo
falou em Jerusalém a uma multidão de judeus
(Atos 21:27) com formação multilíngüe. Porque
sabiam falar o hebraico, esses judeus conseguiram
entender Pedro quando este lhes discursou em
língua hebraica (Atos 21:40).
O QUE PAULO ENSINOU A RESPEITO
DO FALAR EM LÍNGUAS?
Até o presente, os debates travados sobre o
uso que Paulo fez do termo glossai (plural de
glossa), “línguas”, em 1 Coríntios 14, já resultaram
em quatro propostas de significados: 1) línguas
celestiais, 2) elocuções extáticas que não constituem um idioma, 3) discurso sofisticado que só
podia ser entendido pelos mais cultos ou 4) línguas
humanas que podiam ou não ser entendidas por
quem as falava. Somente o significado apresentado na quarta proposta pode estar correto.
As línguas de Atos 2:4 e 11, aparentemente,
eram as línguas nativas dos judeus que foram a
Jerusalém para observar a festa de Pentecostes.
Naquele dia, os apóstolos, não-falantes de línguas
estrangeiras, falaram as línguas dos vários países
ali representados. Falaram nas glossai (“línguas”;
Atos 2:11), também chamadas de dialektos (literalmente, “dialetos”, traduzido por “línguas” [Atos
21:40; 22:2; 26:14]). Esses termos são usados no
Novo Testamento somente para línguas conhecidas.
O Livro de Apocalipse usa glossai com referência às várias classificações ou grupos lingüísticos do mundo (Apocalipse 5:9; 7:9; 10:11; 11:9;
13:7; 14:6; 17:15). O termo não indica a existência
de línguas celestiais, falas extáticas ou orações
em línguas.
Se, em 1 Coríntios 14, Paulo se referia a línguas
celestiais ou extáticas (elocuções produzidas por
emoção e por pessoas induzidas a um êxtase), ou
a um discurso sofisticado, então ele estava usando
uma definição para glossai não usada em nenhuma outra parte da Bíblia. Ao usar o termo glossai,
Paulo se referia a línguas humanas conhecidas, como
é evidente considerando-se os seguintes fatos:
1. Paulo ensinou que “línguas” eram um dom
do Espírito Santo (1 Coríntios 12:10) que Deus
colocava na igreja (1 Coríntios 12:10, 11, 28).
2. O falar em línguas era para ser usado com
propósitos de ensino (1 Coríntios 14:6).
3. O falar em línguas era um sinal para os
descrentes (1 Coríntios 14:22). Se os descrentes
2
não podiam identificar se era algo miraculoso
que estava acontecendo, o falar em línguas não
poderia ser para eles um sinal do poder miraculoso de Deus.
4. As línguas eram para a edificação de quem
falava (1 Coríntios 14:4) ou, se interpretadas,
para a edificação da igreja (1 Coríntios 14:5). No
versículo 4 Paulo não estava dando permissão
para que se falasse em línguas na igreja visando
à auto-edificação. Pelo contrário, ele estava
mostrando que, a menos que houvesse interpretação, o falar em línguas podia beneficiar somente
quem estava falando. Mais adiante, ele afirmou
que ninguém deveria falar sem um intérprete
(1 Coríntios 14:28), visto que a igreja não seria edificada com algo que não entendia (1 Coríntios 14:5).
Segundo Paulo, todas as coisas feitas na
assembléia eram para a edificação da igreja, não
para a edificação pessoal (1 Coríntios 14:5, 12,
26). Se as línguas fossem elocuções extáticas sem
significado, não poderiam ser interpretadas e a
igreja não poderia ser assim edificada.
5. As línguas de Isaías 28:11, que Paulo citou
referindo-se ao dom de línguas em Corinto (1 Coríntios 14:21), eram línguas estrangeiras. Essas
“línguas” não eram elocuções extáticas ou línguas
de anjos.
6. O grego hermeneus — com suas formas
cognatas, incluindo aquelas com prefixos3 —
significa “interpretar”, “interpretação” ou “intérprete”. A palavra refere-se a uma tradução de
palavras conhecidas para uma língua existente.
A única exceção a essa regra é Lucas 24:27, onde
o significado é “explicar” passagens não entendidas pelos ouvintes. Isso implicaria que as
“línguas” de 1 Coríntios 14 eram línguas que
podiam ser interpretadas.
Nada é declarado no Novo Testamento a
respeito de todos os intérpretes obterem a
capacidade de interpretar através do Espírito
Santo ou se entendiam determinada língua por
terem aprendido essa língua anteriormente. A
capacidade de interpretar é mencionada, mas os
meios de se fazer essa interpretação nem sempre
são citados (1 Coríntios 14:27, 28). Isto pode
implicar que uma pessoa que havia aprendido
determinada língua podia interpretá-la tanto
quanto uma pessoa que, não conhecendo essa
13
Veja Mateus 1:23; Marcos 15:22, 34; Lucas 24:27; João
1:38, 41, 42; 9:7; Atos 4:36; 9:36; 13:8; 1 Coríntios 12:10, 30;
14:5, 13, 26, 27, 28; Hebreus 7:2.
3. língua, foi capacitada pelo Espírito Santo para
interpretar (1 Coríntios 12:10, 11). A possibilidade
de uma pessoa que aprendeu uma língua interpretar essa língua confirmava que se tratavam
de línguas conhecidas.
A injunção dessa passagem se aplicaria a um
missionário em terra estrangeira. Se ninguém
entre os ouvintes pode interpretar a língua do
missionário, ele deve permanecer em silêncio. A
menos que suas palavras sejam entendidas, os
ouvintes não serão beneficiados.
Uma elocução precisa ter sentido antes de ser
traduzida. Seria impossível interpretar elocuções
extáticas e sem significado. A indicação de Paulo
de que as línguas em Corinto podiam ser traduzidas (1 Coríntios 14:5, 13, 27) deve significar que
o dom de línguas envolvia línguas reais.
QUAL ERA O PROPÓSITO DO DOM
DE FALAR EM LÍNGUAS?
Alguns concluem que “línguas” em 1 Coríntios 14:2 eram línguas de anjos ou orações que
ninguém podia entender. Tal conclusão faria
Paulo se contradizer no restante do capítulo 14.
A observação de Fred Fisher a respeito desse
versículo é correta: “Isto não significa necessariamente que ninguém entendia, mas que
ninguém dos presentes entendia”4 ; grifo meu.
Em 1 Coríntios 14 Paulo deu as seguintes
instruções com respeito ao dom de falar em
línguas, o que indica que esse dom era para fins
de comunicação:
1. As línguas deveriam ser interpretadas para
a edificação da igreja (v. 5). Com base nesse fato,
podemos concluir que as informações transmitidas pela pessoa que possuía esse dom não eram
apenas balbúcias sem sentido nem visavam seu
benefício pessoal, mas eram informações que
podiam edificar a igreja. Se não fossem interpretadas para a congregação, o único a ser edificado
seria o falante (se ele mesmo conseguisse entender a língua). Aquele que falava em línguas
deveria orar pela capacidade de interpretar para
edificar a congregação (vv. 5, 12, 13).
2. O dom de línguas que beneficiaria a igreja,
disse Paulo, deveria ser “por meio de revelação,
ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina”
(v. 6). Revelação, ciência, profecia e doutrina
14
Fred Fisher, Commentary on 1 & 2 Corinthians (“Comentário de 1 e 2 Coríntios”). Waco, Tex.: Word Books,
1975, p. 220.
nesse cenário eram mensagens de Deus (1 Coríntios 12:8, 10, 28–30). A igreja poderia ser
beneficiada através de tais mensagens somente
se fosse instruída numa língua que pudesse
entender. Paulo não diz nada que pressuponha
orar em línguas ou emitir elocuções de anjos.
3. Assim como os devidos sons tinham de
ser emitidos nos instrumentos musicais para
convocar os judeus à adoração ou batalha, as
línguas tinham de transmitir uma mensagem
distinta, que fosse útil aos que a ouvissem (vv. 7,
8). Aquele que falava tinha de emitir sons que os
ouvintes entendessem; de outra forma, ninguém
saberia o que foi dito (v. 9).
4. O mundo tem muitas línguas (gr.: phonon,
traduzido por “vozes” no v. 10). Vozes e línguas
úteis são aquelas que transmitem uma mensagem
significativa. Se a língua fosse desconhecida, o
ouvinte entenderia tanto quanto se estivesse
ouvindo um estrangeiro (v. 11).
5. O propósito do falar em línguas era
comunicar de modo que os ouvintes pudessem
dar seu consentimento de coração, dizendo:
“Amém”. A pessoa que não entendia a língua
não podia dizer “amém”, pois não sabia o que
fora dito (v. 16).
A palavra idiotes (de onde provém “idiota”) é
traduzida por “indoutos” nos versículos 23 e 24
e significa aquele que não foi ensinado ou é
incapacitado (Atos 4:13; 2 Coríntios 11:6). Isso
implica que uma língua podia ser entendida por
uma pessoa que tivesse sido educada particularmente nela, mas a pessoa que não havia aprendido
a língua não seria capaz de entendê-la. A partir
disso, podemos concluir que as línguas eram idiomas que podiam ser entendidos, sem um intérprete, por aqueles que aprenderam essas línguas.
6. O dom de línguas era um sinal para os
descrentes (v. 22). As vozes emitidas só poderiam
constituir um sinal se alguém dentre os ouvintes
identificasse que se tratava de uma língua
concedida por Deus. Pedro disse que o que os
judeus ouviram (os apóstolos falando nas línguas
das muitas nações presentes no dia de Pentecostes
e o som como de um vento forte) era uma prova
de que Jesus estava entronizado à destra de Deus
(Atos 2:4–11, 33). As línguas eram um sinal visível
para esses judeus incrédulos.
Os judeus disseram o seguinte a respeito das
elocuções dos apóstolos: “Como os ouvimos falar
em nossas próprias línguas as grandezas de
3
4. Deus” (Atos 2:11b). Nenhuma elocução extática
ou língua não-humana seria capaz de fazê-los
dizer tal coisa, nem haveria um outro discurso
que deixasse as pessoas tão atônitas e admiradas
(Atos 2:7), como o discurso proferido por galileus
falando em línguas que jamais aprenderam. As
línguas em que os apóstolos falaram naquele dia
eram um “sinal” convincente de que Deus estava
falando por intermédio deles.
O DOM DE LÍNGUAS ENVOLVE
LÍNGUAS DE ANJOS OU ORAR EM
LÍNGUAS?
Hoje, os que afirmam falar em línguas usam
intérpretes em países estrangeiros, em vez de
falarem nas línguas dos países onde ensinam.
Quando se pergunta a eles a respeito do uso de
intérpretes, geralmente tentam escapar do dilema
dizendo que “línguas” são orações em línguas
ou línguas de anjos. Apóiam-se na expressão
“falando consigo mesmo e com Deus” em 1 Coríntios 14:28b. Todavia, essa passagem citada
com freqüência também afirma que quem fala
em línguas sem um intérprete deve ficar “calado
na igreja”. Isto não dá permissão para que se façam murmurações a Deus, em voz alta, na assembléia. “Calado”, traduzido de sigao, significa
não emitir som algum (Lucas 9:36; 20:26; Atos
12:17; 15:12, 13 [“guardado em silêncio”]; Romanos 16:25 [“calado”]; 1 Coríntios 14:28, 30, 34).
Muitos que clamam falar em línguas afirmam
que o propósito do dom de línguas “na oração”
é evitar que Satanás entenda o que está sendo
dito. Como sabem que Satanás não pode entender
essas línguas? Não há nenhuma revelação de
Deus a respeito disso.
Primeira Coríntios 14:28 não diz que a pessoa
que fala em línguas deve falar consigo mesma e
com Deus numa língua desconhecida, quando
nenhum intérprete está presente. É mais provável
que o texto diga que ele deve se comunicar
consigo mesmo e com Deus numa língua que ele
entenda. Se ele mesmo pudesse entender ou
interpretar a língua, haveria um intérprete
presente. Ele poderia falar e depois interpretar
para proveito da congregação. Se ele não pudesse
interpretar, não poderia entender o que estava
dizendo a si mesmo ou a Deus.
A maioria dos grupos que falam em línguas
crêem que possuem em seu meio intérpretes
capacitados pelo Espírito. Se isto for verdade,
4
ninguém entre eles deveria fazer orações pessoais
em línguas, falando consigo mesmo e com Deus.
Conforme tal raciocínio, isto deveria acontecer
somente se não houvesse um intérprete presente.
Paulo usou afirmações hipotéticas em 1 Coríntios 13:1–3 para enfatizar que sem amor os
dons não faziam sentido. Apesar de falar em
línguas mais do que todos os coríntios (1 Coríntios
14:18), ele não disse que falava na língua dos
anjos, nem que conhecia todos os mistérios, nem
que tinha fé capaz de remover montanhas, nem
que tinha dado todos os seus bens aos pobres ou
que tinha oferecido seu corpo para ser queimado.
Igualmente, ele não estava dizendo que orava
em espírito numa língua, sem a mente entender
a oração. Pelo contrário, ele disse que oraria com
o espírito e com entendimento (1 Coríntios 14:15).
Paulo afirmou que ele preferia falar “cinco palavras” de instrução a “dez mil” numa língua que
eles não pudessem entender (1 Coríntios 14:19).
O FALAR EM LÍNGUAS ENVOLVE
LÍNGUAS ESTRANGEIRAS?
Concluir que as línguas de 1 Coríntios 12 e 14
eram apenas orações e línguas celestiais não
priva os falantes de línguas de falarem de maneira
ininteligível àqueles cujas línguas eles desconhecem. Os apóstolos só fizeram isso no dia de
Pentecostes (Atos 2:4–11). Se hoje uma fé firme
ou o dom do Espírito Santo pode conceder a
capacidade de falar em línguas como os apóstolos, os atuais falantes de línguas não passaram
no próprio teste. Se não podem falar línguas que
nunca ouviram, estudaram nem aprenderam
como um sinal para os seus ouvintes, então não
podem fazer o que os apóstolos fizeram. O falar
em línguas que ocorreu no dia de Pentecostes
cessou; de outra forma, os falantes de línguas de
hoje seriam capazes de ir a qualquer país e falar
a língua dali sem estudá-la. O Espírito Santo
ainda tem o poder de dar a capacidade de falar
em línguas desconhecidas ao falante mas inteligíveis aos ouvintes. Se hoje não se pode repetir o
que os apóstolos fizeram, então o dom de falar
em línguas realmente cessou.
O fato de os grupos que alegam falar em
línguas precisarem de intérpretes quando falam
com povos de outras línguas é uma prova de que
eles não possuem o dom de falar em línguas, concedido aos apóstolos no dia de Pentecostes. Deus deu
aos apóstolos o poder de se comunicarem com
5. aqueles cujas línguas eles não aprenderam. O fracasso em se realizar esse feito hoje não é porque
Deus não pode conceder tal poder, mas porque o
falar em línguas cessou. Se não tivesse cessado,
comunicar-se com outros em línguas desconhecidas pelo falante continuaria acontecendo hoje.
As mulheres pertencentes a igrejas que alegam
falar em línguas geralmente falam nas assembléias tanto quanto — ou mais que — os homens.
Paulo escreveu: “Conservem-se as mulheres
caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido
falar… porque para a mulher é vergonhoso falar
na igreja” (1 Coríntios 14:34, 35). As mulheres não
devem ser compelidas a falar, pois “os espíritos
dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas”
(1 Coríntios 14:32). Paulo estava escrevendo o
mandamento do Senhor (1 Coríntios 14:37).
Se todos os membros de uma congregação
falassem em línguas de uma vez sem intérprete
algum, o descrente que não entendesse pensaria
que estão loucos (v. 23). O oposto seria verdade
se os que profetizam falassem de uma vez numa
língua entendida pelos ouvintes (vv. 24, 31). Os
que falavam em línguas deveriam falar um por
vez, não sendo permitido que mais de três
falassem. Também nesse caso, alguém tinha de
interpretar. Se não houvesse intérprete presente,
o que falava em línguas deveria ficar calado
(1 Coríntios 14:27, 28).
Conforme Paulo, o falar em línguas era um
dos menores dons (1 Coríntios 14:5), o que
também se reflete no fato de o falar em línguas e
a interpretação de línguas estarem sempre no
fim da lista de dons (1 Coríntios 12:10, 30). Depois
de enumerar os dons em ordem de importância,
a admoestação de Paulo foi que procurassem
“com zelo, os melhores dons” (1 Coríntios 12:31a).
A seguir, ele mostrou em 1 Coríntios 13 que o
amor era o caminho sobremodo excelente.
QUANDO O DOM DE LÍNGUAS
DEVERIA CESSAR?
A pergunta não é se o dom de línguas deveria
cessar, mas quando ele deveria cessar. Primeira
Coríntios 13:8 afirma claramente que o falar em
línguas cessaria.
Em 1 Coríntios 13, Paulo mostrou que o amor
é um caminho sobremodo mais excelente que os
dons do Espírito (1 Coríntios 12:31b). Suas razões
eram as seguintes: 1) sem amor, as línguas eram
sons simplesmente vazios (v. 1); 2) sem amor,
aquele que recebera de Deus o dom da fé e do
conhecimento não era nada (v. 2); sem amor, o
ato de dar todos os bens aos pobres e ser um
mártir não tinha proveito algum (v. 3); 4) o amor
permaneceria, enquanto os dons miraculosos
cessariam (vv. 8, 13).
A profecia, o falar em línguas e o conhecimento cessariam quando viesse o que é perfeito (1 Coríntios 13:8–10). Paulo explicou isso,
comparando-se com a igreja na sua infância.
Esses dons eram como brinquedos que Paulo
possuíra quando criança, mas pusera de lado ao
se tornar um homem (1 Coríntios 13:11). Ele
também disse que o uso dos dons era como verse num espelho, que naqueles dias não refletia
uma imagem clara. Paulo contrastou a visão
ofuscada do espelho com ver algo face a face.
Embora fossem necessários à igreja infantil, os
dons espirituais miraculosos cessariam quando
a igreja estivesse provida de tudo o que precisava
para se tornar madura.
O significado de “perfeito” (teleios5 ; 1 Coríntios 13:10) é importante para se entender essa
passagem. Não significa “sem defeito”, como
muitas vezes usamos a palavra “perfeito” hoje,
mas o estado de ter atingido um fim ou pleno
desenvolvimento — “perfeito” (Mateus 19:21;
Efésios 4:13; Colossenses 1:28; Hebreus 5:14),
“experimentado” (1 Coríntios 2:6) ou “amadurecido” (1 Coríntios 14:20).
O propósito dos dons era suprir a igreja com
tudo o que ela necessitasse para se desenvolver
plenamente. Várias ajudas foram fornecidas para
possibilitar isso (Efésios 4:11–13). Em vez de terem
chegado à maturidade, os coríntios permaneciam
crianças espiritualmente (1 Coríntios 3:1, 2). Deixaram de colher os benefícios de seus dons espirituais.
Aqueles que se sentiam espiritualmente
superiores porque criam que tinham dons espirituais deviam reconhecer que os dons não eram
um fim em si mesmos, mas muletas para ajudar
a jovem igreja a crescer. Quando os cristãos
recebessem tudo o que necessitavam para atingir
a maturidade, os dons cessariam.
O crescimento e desenvolvimento dos cristãos
15
Nas versões da Bíblia para o português “perfeito” é
o termo mais usado; “a palavra grega significa, maduro,
inteiro, total” (Robert G. Bratcher, A Translator’s Guide to
Paul’s First Letter to the Corinthians [“Guia do Tradutor da
Primeira Carta de Paulo aos Coríntios”]. Nova York: United
Bible Societies, 1982, p. 128).
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