Este documento contém vários poemas curtos de diferentes autores portugueses que exploram temas como o amor, a saudade, a natureza e a esperança. Os poemas expressam sentimentos de paixão, desejo de estar com o amado/amada, e a dor da separação por meio de imagens poéticas e declarações de amor e saudade.
1. Se o mundo não tivesse palavras a palavra do mar, com toda a sua paixão, bastava. Não lhe falta nada: nem o enigma nem a obsessão. Entregue ao seu ofício de grande hospitaleiro o mar é um animal que se refaz em cada momento. O amor também. Um mar de poucas palavras. Casimiro de Brito
2. Quase nada O amor É uma ave a tremer Nas mãos de uma criança. Serve-se das palavras Por ignorar Que as manhãs mais limpas Não têm voz. Eugénio de Andrade
3. Quero apenas cinco coisas… Primeiro é o amor sem fim A segunda é ver o Outono A terceira é o grave Inverno Em quarto lugar o Verão A quinta coisa são teus olhos Não quero dormir sem teus olhos. Não quero ser… sem que me olhes. Abro mão da Primavera para que me continues olhando. Pablo Neruda
4. Podes ficar aqui? Não vás embora, precisarei de mais alguns minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, eternidades para te esquecer… Fernando Pinto do Amaral
5. Um dia sem ouvir a tua voz é como descobrir que o mar morreu. David Mourão-Ferreira
6. Além da Terra, além do Céu, no trampolim do sem-fim das estrelas, no rastro dos astros, na magnólia das nebulosas. Além, muito além do sistema solar, até onde alcançam o pensamento e o coração, vamos! vamos conjugar o verbo fundamental essencial, o verbo transcendente, acima das gramáticas e do medo e da moeda e da política, o verbo sempreamar, o verbo pluriamar, razão de ser e de viver. Carlos Drummond de Andrade
7. Estar contigo ao acordar, ver como se abrem as tuas pálpebras, cortinas corridas sobre o sonho, sacudir dos teus lábios o silêncio da noite para que um primeiro riso me traga o dia: assim, amor, reconheço a vida que entra contigo pela casa, escancara janelas e portas, deixa ouvir os pássaros e o vento fresco da manhã, até que voltas para junto de mim, e tudo recomeça. Nuno Júdice
8. Esta vista de mar, solitariamente dói-me. Apenas dois mares, dois sóis, duas luas me dariam riso e bálsamo. A arte da Natureza pede o amor em dois olhares. Fiamma Hasse Pais Brandão
9. Deixa dizer-te os lindos versos raros Que a minha boca tem pra te dizer! São talhados em mármore de Paros Cinzelados por mim pra te oferecer. Têm dolência de veludos caros, São como sedas pálidas a arder... Deixa dizer-te os lindos versos raros Que foram feitos pra te endoidecer! Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda... Que a boca da mulher é sempre linda Se dentro guarda um verso que não diz! Amo-te tanto! E nunca te beijei... E nesse beijo, Amor, que eu te não dei Guardo os versos mais lindos que te fiz! Florbela Espanca
10. De mais ninguém se não de ti, preciso: Do teu sereno olhar, do teu sorriso, Da tua mão pousada no meu ombro. Ouvir-te murmurar: - "Espera e confia!" E sentir converter-se em harmonia, O que era, dantes, confusão e assombro. Carlos Queirós
11. Estou diariamente à tua espera como quem espera um astro pela noite Defino-te em segredos Revejo-te em memória Invejo-te Construo a tua boca sem palavras Construo este silêncio em que me prendo. João Rui de Sousa
12. Sou o pó E vou no vento Através de rios E montes Vou no vento E talvez eu pouse Talvez encontre O mel as areias Do teu corpo Trazidas pelo vento António Ramos Rosa
13. Tenho a sede das ilhas e esquece-me ser terra meu amor, aconchega-me meu amor, mareja-me Depois, não me ensines a estrada. A intenção da água é o mar a intenção de mim és tu. Mia Couto
14. Este é o poema do amor. O poema que o poeta propositadamente escreveu só para falar de amor, de amor, de amor, de amor, para repetir muitas vezes amor, amor, amor, amor. Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico contar as palavras que o poeta escreveu, tantos que, tantos se, tantos lhe, tantos tu, tantos ela, tantos eu, conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu foi amor, amor, amor. Este é o poema do amor. António Gedeão