Ensino/aprendisagem de Inglês em uma visão intercultural
Gênero e midia a representação da homossexualidade nos meios de comunicação do território do sisal
1. 0
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
AIRAM DA SILVA COSTA
GÊNERO E MÍDIA: A REPRESENTAÇÃO DA
HOMOSSEXUALIDADE NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO
TERRITÓRIO DO SISAL
Conceição do Coité – BA
2010
2. 1
Airam da Silva Costa
GÊNERO E MÍDIA: A REPRESENTAÇÃO DA
HOMOSSEXUALIDADE NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO
TERRITÓRIO DO SISAL
Trabalho de conclusão apresentado ao
curso de Comunicação Social –
Habilitação em Rádio e TV, da
Universidade do Estado da Bahia, como
requisito parcial para a obtenção do título
de bacharel em Comunicação, sob a
orientação da Profª Esp. Vilbégina
Monteiro dos Santos e co-orientação da
Profª Ms. Zuleide Paiva da Silva.
Conceição do Coité – BA
2010
3. 2
Airam da Silva Costa
GÊNERO E MÍDIA: A REPRESENTAÇÃO DA
HOMOSSEXUALIDADE NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO
TERRITÓRIO DO SISAL
Trabalho de conclusão apresentado ao curso de Comunicação
Social – Rádio e TV, da Universidade do Estado da Bahia, sob
a orientação da Profª Esp. Vilbégina Monteiro dos Santos e co-
orientação da Profª Ms. Zuleide Paiva da Silva.
Data: _________________________________________________
Resultado: _____________________________________________
BANCA EXAMINADORA
Profª. (orientadora): Vilbégina Monteiro dos Santos
Assinatura: _____________________________________________
Profª. (co-orientadora): Zuleide Paiva da Silva
Assinatura: _____________________________________________
Profª. : Carolina Ruiz de Macêdo
Assinatura: _____________________________________________
4. 3
DEDICATÓRIA
Dedico primeiramente a Deus – por me fazer este ser
humano que vos fala - o que seria de mim sem o Senhor de
todos os pais. Posteriormente dedico aos meus pais pela
imensa força e apoio que me deram, aturando-me nessa
inesquecível jornada, além de serem peças fundamentais para
a minha formação e existência – a base sempre será o primeiro
passo de um homem. Enfim, dedico a todos e todas que direta
ou indiretamente contribuíram para o meu sucesso.
5. 4
AGRADECIMENTOS
A Deus, mestre de todos os mestres, por ter me proporcionado mais essa vitória e
por me mostrar que sou apto de realizar o que anseio. Além de ter me dado forças,
garra, dedicação, empenho e coragem.
Aos meus pais pelo ser humano que me tornaram e pela grande dedicação que
tiveram comigo desde o início, me mostrando o melhor caminho a seguir.
A todos os professores do curso de Comunicação Social da UNEB Campus XIV,
pela grande aprendizagem que me proporcionaram e pela dedicação que tiveram
com a turma, além da grande amizade que levarei em meu coração por onde estiver.
A minha orientadora Vilbégina Monteiro e a minha co-orientadora Zuleide Paiva pela
grande força, dedicação e paciência que tiveram comigo, além das experiências que
me proporcionaram.
Aos meus queridos amigos e amigas que direta ou indiretamente contribuíram para
que eu pudesse realizar mais um trabalho com ímpeto e bravura.
A Matteus Freitas de Oliveira pelo grande empenho em me auxiliar sempre que
necessário com suas ideias muito bem aproveitadas e de imensa significância.
A Aline dos Santos Lima pelo grande auxílio na construção deste meu trabalho,
dando-me informações precisas e de grande relevância.
Enfim, a todos e todas que contribuíram de forma direta ou indireta para que eu
pudesse concluir essa minha trajetória, que transformou a minha vida me ensinando
fazer dos pontos negativos uma reflexão para sempre melhorar e dos tombos um
degrau para conseguir a realização dos meus sonhos.
6. 5
“as culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre „a nação‟, sentidos sobre os quais podemos nos
identificar, constroem identidades”. Stuart Hall (2003)
7. 6
RESUMO
GÊNERO E MÍDIA: A REPRESENTAÇÃO DA
HOMOSSEXUALIDADE NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO
TERRITÓRIO DO SISAL
Este trabalho estudou o silêncio presente no sistema midiático do território do sisal,
locus da luta pela cidadania, procurando esclarecer que a omissão de conteúdos a
respeito da homossexualidade pelos meios de comunicação corrobora para
estigmatização desses os sujeitos como abjetos e discordantes do desejo
heteronormativo. Analisou-se a representação da homossexualidade no sítio Na
Cangaia, veículo de comunicação que se apresentou como um exemplo de
instrumento de informação que apresentava conteúdos de referência à
homossexualidade. O trabalho foi realizado através de estudo bibliográfico, pesquisa
exploratória e entrevistas semiestruturadas com técnica de emparelhamento, para
averiguar os prováveis aspectos que motivam ou que corroboram a existência
desses termos de representação e referência. Levou-se em consideração que os
meios de comunicação constituem uma significativa ferramenta cultural que contribui
para a formação de identidades. Dessa forma, foi analisado como o sítio Na Cangaia
interfere na construção cultural de um indivíduo, já que nenhum ser está isento das
influências midiáticas. Com análise de seus conteúdos, na expectativa de averiguar
como acontece a representação do homossexual, tornam-se inúmeros e variados os
exemplos que se poderia listar que apontam a comunicação midiática como reforço
aos estereótipos que contribuem significativamente na construção das identidades.
Os meios de comunicação semeiam ideias que, de tal forma incrustadas em nosso
cotidiano, espelham-se em conceitos que não permitem o amadurecimento e
aceitação da diversidade e liberdade sexual, ou ainda da diferença, que não se quer
assimilar e tolerar.
Palavras-chave: Homossexualidade, mídia, gênero, silêncio.
8. 7
ABSTRACT
GENDER AND MEDIA: THE REPRESENTATION OF
HOMOSEXUALITY IN THE MEDIA OF THE TERRITORY OF
SISAL
This work studies the present silence of the media system in the territory of sisal,
locus of the struggle for citizenship. Seeking to clarify that the default content in the
media supports to stigmatize the subjects as abject and inconsistent with the desire
heteronormative. We analyzed the representation of homosexuality in the site
Cangaia communication vehicle that sounded like an example of an information tool,
which at the time of the research presented contents reference to homosexuality,
considering the genre news produced in the territory of sisal. The work was
accomplished through literature research, exploratory and semi-structured technique
of pairing, to ascertain the likely issues that motivate or corroborate the existence of
these terms of reference and representation. It took into account that the media
constitute a significant cultural tool that contributes to the formation of identities. Thus
was analyzed as the site in Cangaia, interferes with the cultural production of an
individual, as none is exempt from being media-influences. With analysis of its
contents, hoping to find out how true representation of the homosexual, become
many and varied allusions that could list relating to the communication media to
reinforce stereotypes that contribute significantly to the construction of identities. The
media sow ideas, which is so embedded in our daily life, still reflect on concepts that
do not allow the maturation and acceptance of diversity and freedom of sexual
difference and yet you do not want to assimilate and tolerate.
Keywords: Homosexuality, media, gender, silence.
9. 8
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Meios/veículos de Comunicação do Território do Sisal ........................41
Quadro 2: Programas humorísticos do Na Cangaia ..............................................56
Quadro 3: Personagem do quadro Ronda 24 ........................................................59
Quadro 4: O Quadro Ronda 24 ..............................................................................64
10. 9
LISTA DE SIGLAS
SIT – Sistema de Informações Territoriais
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
AMAC - Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura
UNEB – Universidade do Estado da Bahia
ABRAÇO - Associação Brasileira de Rádios Comunitárias
GT-Com – Grupo Temático de Comunicação
MOC – Movimento e Organização Comunitária
APAEB – Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região
Sisaleira
ERECOM – Encontro Regional de Estudantes de Comunicação
LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros
GGB – Grupo Gay da Bahia
LBL – Liga Brasileira de Lésbicas
RS – Rio Grande do Sul
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
ANATEL - Agência Nacional de Telecominucações
CODES sisal - Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Território do Sisal
11. 10
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................11
1. "Queer" homossexualidade é essa?............................................................15
1.1. Representação homossexual no discurso midiático.................................17
1.2. Homossexualidade: uma configuração associada à construção social.......21
1.3. A performatividade dos corpos: processo cultural de constituição
do gênero...................................................................................................................24
2. O silêncio no processo comunicativo das mídias......................................30
2.1. O território do sisal: locus da luta pela cidadania..........................................34
2.2. O sistema comunicativo do território do sisal............................................39
2.3. O silêncio presente no território do sisal.....................................................51
3. Na Cangaia.com: instrumento de comunicação do território do sisal...............54
3.1. Uma voz que soa: veículo de comunicação NA Cangaia.com........................58
3.2. O quadro Ronda 24 ........................................................................................60
3.3. Homossexualidade: o que pensa o Na Cangaia.com....................................62
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................66
REFERÊNCIAS..........................................................................................................69
APÊNDICES ..........................................................................................................74
ANEXOS....................................................................................................................77
12. 11
INTRODUÇÃO
"A televisão é a primeira cultura
verdadeiramente democrática - a primeira
cultura disponível para todos e totalmente
governada pelo que as pessoas querem. A
coisa mais aterrorizante é o que as pessoas
querem. “
(Clive Barnes)
O exercício da cidadania está ligado à garantia dos direitos civis, sociais,
políticos e culturais, porém, sabe-se que a diversidade perpassa esses direitos e que
a liberdade sexual não está limitada à divisão binária entre masculino e feminino,
pois o sexo e o gênero são construtos sociais.
Dessa forma, tratar a homossexualidade como exercício da cidadania é defini-
la como sujeita ao jogo da exclusão, obedecendo a lógica do mais que um – em que
o enlace da classe, da raça e da sexualidade determina os padrões aceitáveis e
quais comportamentos os cidadãos devem possuir e desenvolver. Assim, a
identificação, entendida como um processo em que os sujeitos desenvolvem
características no contato social permeado por uma contínua e cultural construção,
se desenvolve como um processo gerado a partir das diferenças.
Os meios de comunicação desempenham um efeito significativo e influente na
construção das diferenças aceitáveis que norteiam o nosso autoentendimento e o
nosso entendimento do outro. Logo, os meios de comunicação colaboram para a
construção dos sujeitos. Percebe-se dessa forma a relevância de estudar como a
maioria das mídias omite-se ao lidar com questões de gênero e como constroem
discursos provenientes de ideias que estigmatizam a homossexualidade como
desprezível, alimentando também com a ausência de referências homossexuais em
13. 12
seu sistema informacional conceitos que perpetuam os homossexuais como
indivíduos discordantes sociais.
Prioriza-se entender como veículos de comunicação que fazem uso de termos
ou de conteúdos de referência à homossexualidade, como o sítio Na Cangaia, vem
representando a homossexualidade em seus quadros, a exemplo do quadro Ronda
24, e como este veículo de comunicação do território do sisal ainda reforça os
estereótipos que são utilizados para configurar a homossexualidade como
identidade discordante do socialmente esperado. Assim, levando em conta os
marcadores sociais que me constroem, enquanto homossexual e estudioso da
comunicação social, necessito entender a homossexualidade no contexto midiático,
pois compreendo que a mídia contribui para a (des) construção do indivíduo, de
valores, comportamentos, etc. Portanto, percebo que a construção midiática está
permeada de estereótipos utilizados para reforçar a estigmatização homossexual.
Assim, é relevante fazer um estudo teórico dos termos utilizados para se
referir à homossexualidade; realizar o mapeamento dos conteúdos homossexuais
nos meios de comunicação do território do sisal; averiguar a presença de conteúdos
homossexuais ou de referência à homossexualidade nas mensagens difundidas
pelos veículos de comunicação; estudar o silêncio das mídias no território do sisal
sobre a temática homossexualidade; e observar o tratamento que conteúdos
homossexuais ou de referência à homossexualidade tem recebido.
Para alcançar os objetivos almejados neste trabalho, tornou-se relevante
desenvolver um estudo com base em revisão bibliográfica. Realizou-se um estudo
qualitativo, por meio de coleta de dados, a partir da realização de entrevistas
semiestruturadas com o produtor do sítio para que conjuntamente, pudesse realizar
análise de conteúdo desse veículo com técnica de emparelhamento.
14. 13
Definiu-se o desenvolvimento desse estudo com o Na Cangaia por verificar, a
partir de uma pesquisa exploratória priorizando o gênero jornalístico, que o sítio faz
referência direta à homossexualidade e, por isso, robustece os estereótipos
construídos pela sociedade dominante.
Assim, utilizou-se como estudo as formas de referências que o sítio Na
Cangaia, através de seu programa Ronda 24 vem utilizando, para poder identificar o
tratamento em que a homossexualidade tem recebido e, dessa forma, conhecer os
possíveis fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência desses
fatos.
No 1º capítulo intitulado “Queer” homossexualidade é essa?, buscou-se reunir
e resgatar conceitos sobre as categorias que constituem o sujeito, sua produção e
os discursos sobre identidade e construção cultural do sexo e do gênero. A intenção
aqui é demonstrar como o sexo e o gênero têm sido apresentados de forma
equivocada, associados à divisão binária entre masculino e feminino, devido a
hierarquia dos discursos que são empregados aos corpos e às normas
heteronormativas que desconsideram os indivíduos que infringem suas regras.
Já no 2º capítulo, O silêncio no processo comunicativo das mídias, é
construído um panorama do atual sistema comunicacional dos meios de
comunicação do território do sisal, a fim de servir como diagnóstico para
identificação das principais dificuldades enfrentadas pela homossexualidade, e a
gravidade do silêncio a respeito da temática abordada, pelo fato da omissão de
conteúdos serem tão grave quanto os discursos utilizados para estigmatizar os
sujeitos. Foram essas dificuldades que embasaram a construção do 3º capítulo, Na
Cangaia.com, que oferece uma análise do veículo de comunicação, enfatizando o
gênero noticioso no território do sisal que faz uso de termos homossexuais e
15. 14
conteúdos de referências à homossexualidade, entendido aqui como forma de
estigmatizar os estereótipos que reforçam a homossexualidade como identidade
discordante das regras heteronormativas.
Por fim, discute-se sobre os reflexos das representações homossexuais pelos
meios de comunicação no território do sisal. E compactua-se com a ideia de que os
discursos heteronormativos empregados aos corpos como forma de definir que sexo
e gênero se esperam dos indivíduos e que esta é uma maneira de distorcer a
ideologia de que o indivíduo é construído culturalmente.
16. 15
"O jornalismo é popular, mas é popular
principalmente como ficção. A vida é um
mundo, e a vida vista nos jornais é outro."
(G. K. Chesterton)
1. “Queer” homossexualidade é essa?
Os homossexuais abarcam hoje um número de cidadãos que vai além de um
grupo de indivíduos que se limitam a redes de amizades. Esses sujeitos se
constituem na verdade em um conjunto de instituições que participa, por exemplo,
do enriquecimento da economia do país, e por serem constitucionalmente iguais aos
demais cidadãos, precisam de respeito e tolerância. Dessa forma, entendendo que
os meios de comunicação contribuem para a construção de discursos, percebe-se
como importante sua participação social no processo de democratização cultural,
que em resumo poderia ser entendida como uma forma de organização do social se
fosse baseada em princípios éticos de liberdade, igualdade, diversidade,
solidariedade e participação.
A homossexualidade tem sido perpetuada por discursos que a desconsideram
construção cultural e que acabam reforçando a ideia de que o sexo e o gênero são
provenientes dos conceitos heteronormativos utilizados pelo grupo dominante.
Sendo assim, a palavra inglesa queer é muito utilizada para adjetivar as
representações que se referiam à homossexualidade, sendo ela entendida de forma
depreciativa, ligada a prática ofensiva de pontuar o desenvolvimento da sexualidade
considerada desviante como esquisita, estranha e excêntrica.
O interesse da Teoria Queer está na ação subjetiva e na transgressão do
gênero, considerando que as marcas constituídas pela sociedade e pela cultura são
vistas como aspectos fundamentais na construção de conceitos provenientes de
17. 16
regras sociais dominantes, de que o corpo é constituído ou “armado” copiando
excessivamente o sujeito que ridiculariza. Assim, armando-se dos discursos queer
utilizados pelos opressores, os movimentos gay e lésbico adotaram essas ideias
como maneira de apresentar as diferenças que não querem ser assimilada ou
tolerada.
Dessa forma, buscando apoio teórico em Michael Foucault (1984) e Judith
Butler (2003), Guacira Louro apud Sabat (2005) procura esclarecer a ideia de que o
corpo está imbricado em relações de poder que são utilizadas para preencher os
sujeitos com discursos que descartam a ideia de que o sexo, assim como o gênero,
não são produtos discursivos e culturais. Longe de negar a materialidade dos
corpos, o que a autora Guacira Louro apud Sabat (2005, p. 2) enfatiza é que:
Se nos voltamos para os discursos existentes, podemos identificar relações
estreitas entre transformações políticas, econômicas e sociais e o modo de
olhar para o corpo e a sexualidade em diferentes momentos históricos. [...]
São os processos e as práticas discursivas que fazem com que aspectos
dos corpos se convertam em definidores de gênero e de sexualidade e,
como conseqüências, acabem por se converter em definidores dos sujeitos.
Partindo desta perspectiva, rumo a compreensão de como os corpos são
discursivamente produzidos, utilizamos o conceito de performatividade de Judith
Butler, um dos fundamentos da Teoria Queer. Neste sentido, o conceito de
performatividade emerge da lingüística e será utilizado para identificar a maneira
como os corpos e os sujeitos são discursivamente constituídos, com base em
Foucault, na afirmativa de que a construção da sexualidade deve-se a ações
discursivas.
18. 17
Assim, a Teoria Queer pensa a representação homossexual como marcas
provenientes do social, no qual é classificada pela heterossexualidade compulsória
como corpos e sujeitos estranhos e esquisitos ou ainda simplesmente queer.
Para Louro apud Sabat (2005), a Teoria Queer pode abarcar uma concepção
fundamentada na ambigüidade, na multiplicidade e na fluidez das identidades
sexuais e de gênero, mas, além disso, também sugere novas formas de pensar a
cultura, o conhecimento, o poder e a educação por meio da desconstrução de
padrões supostamente rígidos, tal como o biologismo dos gêneros e sua
correspondência performática.
1.1. Representação homossexual no discurso midiático
O fenômeno da globalização despedaça os sujeitos, apresentando-lhes
discursos que dispersam os modos de ser construindo novos conceitos. Dessa
forma, no mundo contemporâneo, esses sujeitos tornam-se vulneráveis às
informações multilaterais que os descentralizam.
Segundo Rogério Costa (2009, p. 2):
A partir da abordagem socioantropológica, observamos, no entanto, que a
representação de determinados comportamentos podem variar com o
contexto imediato, numa fluidez que muitas vezes coloca o sujeito à deriva,
posto que é um tipo de representação associada a determinantes culturais,
mostrando com isso a historicidade dessa condição, a construção social que
determina uma cultura e assim se faz atuante. Mostrando que a discussão
sobre identidade sexual, na realidade, está num plano de construção
simbólica em que intervêm valores e concepções de mundo que extrapolam
o âmbito da sexualidade, portanto, a identidade sexual não é uma mera
descrição das práticas, nem está diretamente associada a comportamentos
específicos.
19. 18
Assim, a cultura propicia ao sujeito uma visão de mundo, e é através dela que
o homem atua. Neste ponto de vista, Rogério Costa (2009) diz que a maneira de ver
o mundo está associada a uma ordem moral e valorativa, identificando e
conformando diferentes comportamentos sociais com propriedades invulgares
(COSTA, 2009, p. 7), discurso este elucidado nas ideias de R. Laraia, (2002, p. 67-
68):
A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações,
sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao
comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria
da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento desviante. Até
recentemente, por exemplo, o homossexual corria o risco de agressões
físicas quando era identificado numa via pública e ainda é objeto de termos
depreciativos. Tal fato representa um tipo de comportamento padronizado
por um sistema cultural. Esta atitude varia em outras culturas. Entre
algumas tribos das planícies norte-americanas, o homossexual era visto
como um ser dotado de propriedades mágicas, capaz de servir de mediador
entre o mundo social e o sobrenatural, e por isso respeitado.
Dessa forma, por ideias provenientes de discursos heteronormativos,
tomados como única maneira de ver o mundo e os sujeitos, muitos homossexuais
até hoje sofrem agressões e têm sua cultura descartada e ignorada.
A ideia de sujeito emergente de uma hierarquia cultural afasta-se da ideia
das autoras Butler (2003) e Wittig (1980), que defendem o sexo e o gênero como
provenientes da construção social e cultural, desmistificando a ideia de que os
discursos sobre o sujeito não derivam do sexo, pois ele não determina o gênero e
este não se limita a divisão binária entre masculino e feminino, mas transpassa
essas categorias dualistas.
Os conceitos de identidade sexual e gênero são utilizados de forma dúbia
pela sociedade, apresentando os sujeitos como indivíduos presos a ideologias
20. 19
masculinas, quando apresentam discursos pejorativos que estereotipam
negativamente os sujeitos.
As transformações de uma sociedade em que as ideias e os discursos detêm
o poder dão lugar a perspectiva que se propõe pós-moderna, em que as
informações interferem na vida social constantemente e de forma rápida
arquitetando os sujeitos.
As identidades são formadas por meio da fabricação da diferença. Talvez por
isso Silva (2003) diz que o chamado multiculturalismo se apoia em um vago e
benevolente apelo à tolerância e ao respeito para com a diversidade e a diferença.
Para Stuart Hall (2007), as unidades que as identidades proclamam, a exemplo as
identidades coletivas, são na verdade constituídas do jogo do poder e da exclusão.
Dessa forma, as identidades construídas estarão sujeitas à hierarquia do poder e
serão definidas a partir do ponto de vista do grupo dominante.
Sabemos que as experiências identitárias se ampliam com a globalização.
Antes do advento da mídia, a comunicação era praticamente desenvolvida por meio
da comunicação oral e o conhecimento era sempre restrito ao monopólio do grupo
social dominante. As mídias contribuíram para o desenvolvimento da globalização,
permitindo a interconexão do planeta através de satélites, sendo que a comunicação
ascende a um lugar decisivo no circuito produtivo. Dessa forma, as mídias ampliam
o processo de globalização, possibilitando uma constante produção de novas
identidades e discursos.
A mídia contribuiu para a construção da imagem do homossexual, uma vez
que divulga conteúdos de referência à homossexualidade como identidade
discordante do esperado. Gioielli (2005) afirma que as diferentes dinâmicas marcam
21. 20
identidades culturais em meio aos ambientes socioculturais da modernidade e da
pós-modernidade.
Dessa forma, percebe-se ainda que as identidades tidas como discordantes
dos padrões utilizados como norma, vêm ocupando lugar na mídia, mas ainda
enfrentam preconceitos derivados das ideias que ainda hoje prevalecem como
formas de pensar e, que tornam a sociedade excludente.
A homossexualidade se configura como uma construção cultural que se
desenvolve, assim como as demais orientações, a partir do contato do ser com o
meio social, e que também pretende incluir-se na construção da cidadania, tanto
como cidadão apto a intervir na sociedade quando necessário, quanto indivíduo
pertencente a um mundo pluricultural, onde a diferença constitui a diversidade.
Marques (2002) vem nos dizer que a representação e a visibilidade de grupos
de sexualidade nas mídias auxiliam a perceber, num momento especifico, a
articulação de três importantes processos sociais: a) A reflexividade – acentuada
pelos fluxos simbólicos da mídia, que permeia nosso autoentendimento e nosso
entendimento do outro; b) A interseção das questões identitárias com as
questões de reconhecimento – prescindindo da intersubjetividade para se
realizarem e a mobilização; e c) Busca de razões próprias, diante da tematização
de assuntos capazes de instaurar esferas públicas de discussão.
Fernando Barroso (2008) diz que os discursos midiáticos podem ser vistos
como práticas culturais construtoras e solidificadoras de novas identidades -
identidades homossexuais, por exemplo - e de novas comunidades.
Então, percebe-se que o conceito de identidade sexual e de gênero pode
ganhar novos significados quando estes são apresentados de forma confusa, pelos
quais a sociedade exclui da participação social, política e cultural, aqueles que são
22. 21
de uma orientação que não condiz com a linearidade entre corpo, gênero, sexo e
desejo.
1.2. Homossexualidade: uma configuração associada à construção social
A ideia de que o sexo e o gênero são construções culturais pode ser
entendida como discordante dos padrões heterossexuais, que associam o sexo
apenas à divisão conjugada entre homem e mulher. Como afirma Bourdieu apud
Anjos (2003), a oposição ativo/passivo traz consigo a heterossexualidade como
norma, e dispõe homens e mulheres segundo a “natureza”. Assim, entende-se que a
homossexualidade infringe as regras e se torna inferior por não ser a considerada
sexualidade “normal”.
Nascemos com um sexo, no que diz respeito a nossas genitálias, porém este
sexo não determina o gênero. Gênero não é uma divisão binária entre o masculino e
o feminino; se adotarmos essa perspectiva de gênero alimenta-se a idéia de que há
apenas dois gêneros. Contudo, se fizermos um estudo empírico, veremos que há
muito mais que dois gêneros. Não existe heterossexual que seja apenas homem ou
só mulher, uma vez que os seres possuem características femininas e masculinas,
mesmo sendo os mais machos e as mais fêmeas, pois o gênero é uma produção
cultural.
Dessa forma, o sexo é construído pela cultura, assim como a linguagem é
uma produção também cultural. Como afirma Judith Butler (2003), o sexo não é
natural, mas é ele também discursivo e cultural como o gênero. A noção de gênero
estava relacionada com a opção sexual, como decorrente dessa escolha. Porém,
23. 22
Butler (2003) diz que não existe uma identidade de gênero por trás das expressões
de gênero, ou seja, não de define o gênero como binário, e que a identidade é
performativamente constituída - que é desenvolvida com um bom desempenho e
tem uma interpretação adequada. Ainda temos Wittig apud Areda (2006a) que
concorda com Butler, colocando que não se nasce homem, nem se é homem,
empenha-se constantemente na busca de tornar-se Homem. A virilidade representa
justamente o investimento numa rede de relações com a busca de reconhecimento
da masculinidade. Portanto, o sexo não nasce feito, ele é desenvolvido
culturalmente, e se definirmos sexo como sendo somente masculino e feminino todo
sexo e toda sexualidade será heterossexual. E como diz Brandão apud Paula
(2009), as identidades são o reconhecimento da própria diferença, onde o ser pode
ser pensado não como um fundamento em si, mas a partir do que o diferencia. A
construção das imagens com que os sujeitos e povos se percebem passa pelo
emaranhado de suas culturas, nos pontos de intersecção com as vidas individuais.
A homossexualidade representada como categoria identitária de adequação
do indivíduo a certa conduta, não se restringe a descrições de suas práticas, essa
ideia de mundo não está permeada apenas na identificação da pessoa seguindo
suas preferências sexuais, vai muito além. Pouco importa a condição ou amplitude
do ato em si, pois essas ideias prevalecem de conceitos determinados socialmente e
aparentemente associados à história, tendo toda uma magnificência de identificação
sócio-sexual obrigatória que se autentica e é demarcada não só pelo ato sexual,
mas por comportamentos culturalmente criados e associados a eles, e por isso
esperados socialmente. Dessa forma, Costa (2009) afirma que a sexualidade
inscreve-se como uma determinação, uma maneira de ser obrigatória e “natural”,
enquanto “essência” do ser, quando é associada a uma preferência sexual que
24. 23
determina um comportamento social. Partindo dessa perspectiva, compreende-se
que a ideia de identidade homossexual é historicamente ligada e pensada através
da determinação de ações sexuais, associando certas preferências ao
comportamento, não levando em consideração a pluralidade dessas associações.
Assim, essa determinação de representação homossexual afasta-se da ideia de
sexo como produção discursiva e cultural, como se pode afirmar com a ideia de
Guacira Louro (1996, p. 1):
O conceito de gênero veio contrapor-se ao conceito de sexo. Se este último
refere-se às diferenças biológicas entre homem e mulher, o primeiro diz
respeito à construção social e histórica do ser masculino e do ser feminino,
ou seja, às características e atitudes atribuídas a cada um deles em cada
sociedade. O que quer dizer que agir e sentir-se como homem e como
mulher depende de cada contexto sócio-cultural.
Dessa forma, o sexo é visto como divisão binária e o gênero associado aos
interesses culturais de cada sociedade. Contudo, sabemos que o sexo vai muito
além da divisão entre homem e mulher.
Levando em consideração o conceito de representação homossexual
apresentada por Costa (2009), a ideia de identidade homossexual pode estar ligada
a questões do homoerotismo, sendo que as crenças são os fundamentos das
condições de determinações do sujeito. Porém, quando atribuímos discurso ao
corpo, estamos determinando conceitos de como desejamos que ele se constituísse,
empregando discursos dentro dos padrões socialmente esperados. Dessa forma,
percebe-se que os discursos atribuídos a homossexualidade permeiam por ideias
que produzem um conceito performático considerado heteronormativo, que tentam
definir a identidade homossexual a partir de representações simbólicas - entendida
25. 24
como elementos que em vista dos conceitos sociais representaria a
homossexualidade.
1.3. A performatividade dos corpos: processo cultural de constituição do gênero
Colling (2007) apresenta que os homossexuais são representados pela mídia,
em específico pela rede Globo em suas telenovelas, como indivíduos criminosos,
afetados e heterossexualizados.
Para Butler apud Colling (2007) o gênero é performativo porque é resultante
de um regime que regula as diferenças de gênero. Neste regime os gêneros se
dividem e se hierarquizam de forma coercitiva.
Segundo Colling (2007, p. 4):
[...] De uma forma resumida e incompleta, podemos dizer que a teoria da
performatividade tenta entender como a repetição das normas, muitas
vezes feita de forma ritualizada, cria sujeitos que são o resultado destas
repetições. Quem ousa se comportar fora destas normas que, quase
sempre, encarnam determinadas ideais de masculinidade e feminilidade
ligadas com uma união heterossexual, acaba sofrendo sérias
conseqüências.
Neste sentido, a ideia de gênero é associada a uma performatividade ligada à
matriz heterossexual como afirma Guacira Louro apud Colling (2007):
O sujeito é chamado a identificar-se com uma determinada identidade
sexual e de gênero sobre a base de uma ilusão de que essa identidade
responde a uma interioridade que esteve ali antes do ato de interpelação. O
qual é precisamente um dos aspectos fundamentais da concepção
performativa do gênero.
26. 25
Assim, compreende-se que o sujeito é percebido dentro de um modelo
heteronormativo, quando as representações homossexuais não refletem as próprias
culturas sociais atuais. Com isso, Judith Butler apud Nardi (2003, p. 1) contrapõe-se
ao modelo heterossexual de perceber os sujeitos:
“O corpo não é um lugar sobre o qual uma construção tem lugar, é uma
destruição que forma o sujeito. A formação desse sujeito implica o
enquadramento, a subordinação e a regulação do corpo. Ela implica
igualmente o modo sobre o qual esta destruição é conservada (no sentido
de sustentada e embalsamada) na normalização”.
Dessa forma, entende-se que a constituição do sujeito depende da destruição
do corpo, que em resumo é entendido segundo Foucault apud Nardi (2003) como
uma alegoria da formação do sujeito a partir do “inconsciente cultural” que delimita
os sistemas implícitos dos quais somos prisioneiros.
Segundo Butler apud Nardi (2003) o sujeito surge quando o corpo
desaparece, portanto, a imitação é a forma sintomática da reinstalação do poder que
submete o sujeito na captura identitária gerando aquilo que Butler denomina
enquanto performatividade.
Dessa forma, o conceito de identidade sexual tem sido apresentado de forma
confusa e empregado a aspectos heteronormativos que determinam os discursos
socialmente esperados. Assim, a representação homossexual na mídia é feita
baseada no papel sexual, que não é o elemento determinante da homossexualidade,
mas que é utilizado para classificar os indivíduos cujo papel sexual não esteja de
acordo com seu sexo.
Para Baggio (2009) os homossexuais são representados como indivíduos
marcados por uma especificidade da linguagem e pelo humor, que perpetua por
27. 26
estereótipos que os mantém como sujeitos favoráveis a caricatura gay que serve de
piada na maioria dos programas. Partindo dessa perspectiva, pode-se compreender
que as identidades homossexuais são representadas como padrão de vida
dominado e inferior como podemos entender com a ideia de Bucci apud Baggio
(2009, p.6):
[...] é impossível encontrar algum [programa humorístico] que não se
baseie em escarnecer os pobres, os analfabetos, os negros, os
homossexuais etc. O mecanismo parece ser o mesmo dos melhores filmes
cômicos: o espectador é chamado a rir daquilo que o envergonha e que o
machuca. A questão é que, nos programas da nossa TV, o espectador não
ri para redimir o personagem que se debate em seu ridículo, mas para
reiterar a opressão que pesa contra esse mesmo personagem. [...] É por
isso que, diante da TV, ri dos negros quem não é negro, ri dos gays quem
não é gay, ri dos pobres quem não é pobre (ou pensa que não é). Ri deles
quem quer proclamar, às gargalhadas, que jamais será como eles. É o riso
como recusa e chibatada.
Levando em consideração que o sexo não é nato nem é naturalizado e tão
pouco essencializado, percebe-se que ele emerge de símbolos que determinam a
nossa construção identitária. Dessa forma, o sistema da construção do gênero dar-
se, principalmente, pela sexualidade e pela sexualização dos sujeitos que definem
sexo como divisão entre o masculino e feminino, desconsiderando a ideia de que o
sexo é discursivo e cultural assim como o gênero.
Assim, segundo Souza (1995, p. 5):
É importante assinalar que a categoria “gênero” tem passado por
significativas transformações, possibilitando-lhe assim um caráter mais
dinâmico. A princípio, vinculada a uma variável binária arbitrária, que
reforçava dicotomias rígidas, passou a ser compreendida como uma
categoria relacional e contextual, na tentativa de contemplar as
complexidades e conflitos existentes na formação dos sujeitos.
28. 27
A ideia de representação surge de conceitos apresentados pela mídia como
discursos associados ao jogo do poder que entende sexo como determinante do
gênero que é visto como a divisão binária entre masculino e feminino. Dessa forma,
pode-se dizer que os conceitos sobre a homossexualidade, estão ligados as práticas
sexuais, determinando que o sexo, assim como as demais ideias sobre gênero,
trabalham no sentido de produzir os sujeitos numa perspectiva heteronormativa.
Os indivíduos são classificados em categorias que lhes são empregadas
como forma de definí-los. Guacira Louro (2004), diz que as formas que os corpos e
as marcas que os definem e descrevem culturalmente estão implicadas em relações
de poder. Dessas marcas, é indiscutível que aquelas que identificam o feminino e o
masculino (a saber, os órgãos genitais) são primordiais. Assim, pode-se dizer que os
processos de desenvolvimento podem atribuir discurso ao corpo e as práticas
discursivas produzem aspectos nos sujeitos.
As características dos indivíduos são atribuídas a partir das interações com o
social e as práticas discursivas os classificam como discordantes ou leais às normas
empregadas. Dessa forma, Stuart Hall (2003) critica o conceito de identidade
marcadamente estabelecida, unificada e imutável, ao dizer que:
O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos,
identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de
nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de
tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas.
No entanto, o conceito de gênero tem sido muitas vezes utilizado de forma
equivocada, apresentado não como fenômeno social, mas como derivado do sexo.
O que precisa compreender é que sexo é discursivo e não natural, assim como o
gênero, é construído pela cultura. Segundo Butler (2003) aceitar o sexo como um
29. 28
dado natural e o gênero como um dado construído, determinado culturalmente, seria
aceitar também que o gênero expressaria uma essência do sujeito. E para Butler
preencher os indivíduos de discurso é definir por antecipação as possibilidades das
configurações. Não há nada que nos garanta que nascer mulher ou homem nos
tornará indivíduos machos ou fêmeas. O que Butler quis dizer é que não existe uma
identidade de gênero por trás do próprio gênero, as identidades são
performaticamente construídas pela interação cultural e social.
Não é nenhuma diferença particular ou qualquer tipo privilegiado de
diferença, mas sim uma diferencialidade primeira em função da qual tudo o
que se dá só se dá, necessariamente, em um regime de diferenças (e,
portanto, de relação com a alteridade). Em outras palavras, nada é em si
mesmo, tudo só existe em um processo de diferenciação. Assim, a
identidade não é algo, mas é efeito que se manifesta em um regime de
diferenças, num jogo de referências (BUTLER, 2003).
Pode-se dizer que a diferença sexual é uma ideia determinada pela
mentalidade heterossexual como afirma Monique Wittig apud Gabriel (2008), quando
diz que diferença sexual e heterossexualidade estão ligadas e a serviço da
hierarquia entre homens e mulheres. Assim, entende-se que formas de pensar
ainda impedem que novos conceitos surjam livres de padrões sociais de corpo, sexo
e desejo.
Foi uma restrição política, e aquelas que resistiram à essa restrição foram
acusadas de não serem mulheres de „verdade‟. Mas ficamos orgulhosas
disso, vendo que na acusação já existia algo como uma sombra de vitória: o
aval dos opressores dizendo que „mulher‟ não é algo que acontece por
acaso, sendo que para ser uma, precisa-se ser „verdadeira‟. Fomos, ao
mesmo tempo, acusadas de querermos ser homens. Hoje, essa dupla
acusação renovou-se no contexto do movimento de liberação das mulheres
por algumas feministas e também, infelizmente, por algumas lésbicas que
parecem ter como objetivo político se tornarem cada vez mais femininas
(WITTIG apud LESSA, 2007).
30. 29
Portanto se todo sexo for definido como uma divisão entre masculino e
feminino, toda sexualidade será preenchida dentro dos padrões socialmente
esperados. O processo de constituição do gênero acontece pela sexualidade e pela
sexualização. Segundo Foucault apud Areda (2006):
É pelo sexo efetivamente, ponto imaginário fixado pelo dispositivo de
sexualidade, que todos devem passar para ter acesso a sua própria
inteligibilidade (já que ele é, ao mesmo tempo, o elemento oculto e o
principio produtor de sentido), à totalidade de seu corpo (pois ele é uma
parte real e ameaçada deste corpo do qual constitui simbolicamente o todo),
à sua identidade (já que ele alia a força de uma pulsão à singularidade de
uma história).
Assim, essa divisão no imaginário masculino e feminino, não é igualitária, mas
hierarquizada. E com isso, heterossexualiza-se os sujeitos e os corpos,
empregando-lhes discursos socialmente esperados.
31. 30
"Nossa liberdade depende da liberdade de
imprensa, e ela não pode ser limitada sem ser
perdida."
(Thomas Jefferson)
2. O silêncio no processo comunicativo das mídias
O sistema midiático é formado por meios de comunicação que são
estruturados exaustivamente para fins políticos das empresas. Segundo Gentilli
(2007), é preciso compreender que jornais são instituições da sociedade civil com
uma função decisiva: “produzir informações para a cidadania”. Apesar disso, nota-se
que os jornais têm apresentado de forma parcial a realidade, pois antes de
divulgarem as informações, estabelecem o que será favorecido. Assim,
compreende-se que as mídias são instrumentos controlados pelos cidadãos, mais
especificamente pelos que integram os grupos dominantes, para construir métodos
de excluir outros sujeitos por meio dos discursos, principalmente aqueles que
segundo a hierarquia do poder, infringem as regras. Dessa forma, as classes
dominantes desenvolvem processos internos de controle social por meio do discurso
e estabelecem uma divisão social a partir das normas, códigos e símbolos
empregados como socialmente normais e esperados para o bom desempenho
econômico, social e político.
Os grupos que detêm o poder dos meios de comunicação impõem certas
regras e limites. Assim, algumas das regiões do discurso não são igualmente
acessíveis e compreendidas, por haver um jogo ambíguo de segredo e divulgação.
Dessa forma, percebe-se que ocorre uma atuação negativa entre a comunicação e a
troca, pelo fato de se constituir a partir desse jogo um sistema de exclusão.
32. 31
O poder das regras heteronormativas nos faz pensar de forma homogênea e
tenta nos fazer perceber essa homogeneidade, individualizando os grupos e não
permitindo desvios. Dessa forma, a disciplina, tenta regular as multiplicidades do
indivíduo, definindo os gestos, comportamentos, as circunstâncias e todo o conjunto
de signos que devem acompanhar o discurso, além de determinar o que um
indivíduo deve ou não fazer.
No discurso midiático, nota-se que existe um esquema comunicacional
pensado e estruturado para satisfazer o uso do poder dos dominantes e estabelecer
um sistema de classificação que determine e perpetue as normas produzidas pela
heteronormatividade. Assim, um jogo de exclusão – em que os sujeitos são taxados
por meio de discursos pejorativos, é criado para que os desfavorecidos construam
um sentimento de culpa, propício a uma conduta de isolamento individual e que irá
obedecer à hierarquia.
Segundo Foucault apud Gentilli (2007), soberania e disciplina são
constitutivas dos mecanismos gerais de poder na sociedade; não há exercício do
poder sem uma economia dos discursos que estão em funcionamento neste poder.
Somos submetidos, e somente pode-se exercer o poder mediante a produção dos
discursos utilizados como verdade.
Acredita-se que a omissão da verdade tem sido muito extensiva pelos meios
de comunicação, pois nota-se que eles ainda disseminam informações que cultivam
paradigmas favoráveis a manutenção de seu poder alienante e que impossibilitam o
surgimento de novas ideias. Há no sistema comunicacional das mídias uma negação
e certo silêncio em conduzir assuntos que são considerados discordantes do
socialmente esperado. Dessa forma, compreende-se que os veículos de
33. 32
comunicação estigmatizam os indivíduos desfavorecidos, quando se utilizam de
ideias que reforçam os estereótipos que mantém um sistema de exclusão.
O silêncio presente no sistema midiático estabelece um aumento significativo
da desigualdade social, percebendo que a omissão de conteúdos é tratada como
normal pela classe dominante e como a forma de manter a hierarquização dos
sujeitos. Dessa forma, compreende-se que as informações a que os indivíduos têm
acesso, são filtradas pelos meios de comunicação e classificadas como favoráveis
ou não, com referência aos padrões sociais.
Os meios de comunicação, ao produzirem imagens estereotipadas
negativamente dos sujeitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
transexuais), também fortalecem a intolerância e a homofobia/lesbofobia.
Segundo Areda apud Dodsworth (2007) o discurso heteronormativo, esta
assim chamada “matriz hegemônica de inteligibilidade”, tem o poder de penetrar até
mesmo o universo gay, atravessando todas as relações e adequando tudo o que
encontra a uma lógica hegemônica. De acordo com Barroso (2008), estes discursos
exprimem, portanto, práticas culturais forjadas no interior de relações de poder.
Militantes do movimento homossexual brasileiro apontam contradições decisivas no
modo como os homossexuais são representados pela mídia hegemônica no Brasil,
segundo Barroso (2008). Os estudos gays e lésbicos destacam os discursos da
imprensa sensacionalista, principalmente da televisão e do cinema, como
emblemáticos das representações midiáticas a respeito da homossexualidade.
Na Bahia, as estatísticas são alarmantes. Segundo dados do GGB – Grupo
Gay da Bahia, o preconceito aliado à falta de políticas públicas é o que estaria
contribuindo para a perpetuação da violência. A violência contra homossexuais tem
34. 33
crescido muito. De acordo com o GGB um gay nordestino corre 84% mais risco de
sofrer qualquer violência do que no Sudeste ou no Sul1.
No caso da existência lésbica, a intolerância dos meios de comunicação tem
se revelado de forma mais contundente. Por meio de séculos repousou-se no
silêncio, na mudez, sem fazer referência. Seguramente a supressão deste assunto
não se deu por ingenuidade ou esquecimento, mas, encobrir a vivência lésbica
consiste em manter a autoestima das lésbicas baixa2. A lesbofobia também é
alimentada pelo silêncio midiático, pois os meios de comunicação ao omitirem-se
reforçam a invisibilidade dessas mulheres por desejarem sexualmente outras
mulheres, contradizendo a ordem androcêntrica e heterossexual do mundo que
determina que a mulher deva satisfazer os desejos do homem.
O silêncio só aumenta as formas de preconceitos. Segundo informações do
blog Lésbicas Feministas – LBL – RS, o ambiente escolar também tem sido um local
de resistência à diversidade, ou reconhecimento das diferenças. De acordo com o
sítio, pesquisas realizadas em 500 escolas públicas em maio de 2009, pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP e Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE, de 55% a 72% dos estudantes,
professores, diretores e profissionais de educação corroboram com a resistência à
diversidade através do indicador “distância social” 3.
Os meios de comunicação, enquanto instrumentos de poder, produzem
seletivamente a realidade, pois antes de divulgarem qualquer tipo de informação
determinam o que será favorecido. Deste modo, não são imparciais, e a longo prazo
contribuem para a construção de conceitos e conduta.
1
Informações colhidas no sítio do GGB – Grupo Gay da Bahia, disponível em: http://www.ggb.org.br,
acesso em 19 de janeiro de 2010.
2
Informações colhidas no sítio http://gonline.uol.com.br, acesso em 19 de janeiro de 2010.
3
Informações extraídas no sítio http://lblrs.blogspot.com, acesso em 19 de janeiro de 2010.
35. 34
Dessa forma, percebe-se que mesmo com a construção de programas, como
Brasil sem Homofobia4, o crescimento da homofobia/lesbofobia é notável e
disseminado pelo sistema midiático que reforça os discursos heteronormativos,
apresentando-o como norma e padrão de corpo, gênero, sexo e desejo.
2.1. O território do sisal: locus da luta pela cidadania
A partir do silêncio percebido nos meios de comunicação, principalmente os
massivos, busca-se entender como acontece a omissão de conteúdos no sistema
midiático do território do sisal, uma vez que neste espaço a luta pela democratização
é constante.
O Território do Sisal, situado na região sisaleira da Bahia, apresenta consigo
uma história de organização dos movimentos sociais e de articulação de propostas
voltadas para o desenvolvimento do meio rural, tendo como objetivo desenvolver a
agricultura familiar, que tem como elemento econômico a fibra do sisal.
O sisal, de acordo Silva (2001), foi introduzido na Bahia no início do século
XX, mas só se expande como importante lavoura no final da década de 30, graças
às ações do Governo do Estado como uma alternativa para o desenvolvimento de
regiões semiáridas. Sendo um elemento significante nas mudanças do território do
sisal, tornou-se símbolo, principalmente, das profundas transformações históricas,
sociais e culturais. Com uma abrangência de 21.256,50 quilômetros quadrados,
4
Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra LGBT e de Promoção da Cidadania
Homossexual.
36. 35
segundo dados do SIT - Sistema de Informações Territoriais5, o território do sisal é
composto por 20 municípios: Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção,
Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas,
Quijingue, Retirolândia, Santaluz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia, Tucano e
Valente, conforme Figura 1. A população total do território é de 568.600 habitantes,
dos quais 337.480 vivem na área rural, o que corresponde a 59,35% do total. Com,
aproximadamente 64.350 agricultores familiares, 2.344 famílias assentadas, 1
comunidade quilombolas e 1 terra indígena reconhecida, seu Índice de
Desenvolvimento Humano - IDH médio é 0,606.
Figura 1.
Bahia – divisão territorial
5
Sistema de Informações Territoriais que disponibiliza dados sobre os Territórios Rurais organizados
por tema, tais como: Demografia e Aspectos Populacionais, Economia, Saúde, Educação e Outros.
Disponível em: http://sit.mda.gov.br, acessado dia 12 de outubro de 2009.
6
Informações extraídas do Portal do Ministério do Desenvolvimento Agrário sítio que disponibiliza
informações sobre o desenvolvimento agrário dos territórios da cidadania. Disponível em:
http://www.territoriosdacidadania.gov.br/dotlrn/clubs/territriosrurais/dosisalba/one-community?pagen
um=0, acessado em 09 de janeiro de 2010.
37. 36
FONTE: SIT. Disponível em: <http://serv-sdt-1.mda.gov.br>. Acesso em: 15 de abril de 2008.
O território do sisal está localizado na área semiárida da Bahia, e é
caracterizado pelo clima seco, com irregular distribuição pluviométrica e sua
paisagem é predominantemente densa, de vegetação de caatinga. Sua economia
está estruturada na pecuária de pequeno porte e na agricultura de subsistência,
cultivando-se em grande escala o sisal. Esse território é marcado pela pobreza e
miséria da população, e pela descontinuidade de políticas públicas no que se refere
à educação, saúde e geração de renda. Para Silva (2001), o território pode
expressar um complexo e dinâmico conjunto de relações sócioeconômicas, culturais
e políticas, historicamente desenvolvidas e contextualmente espacializadas,
incluindo sua perspectiva ambiental (p. 1).
Sendo um território caracterizado pelo desenvolvimento agrário, sua
população é multicultural e caracterizada por lutar por direitos negados às classes
desfavorecidas. Essa população possui um sistema de comunicação muito variado,
38. 37
com destaque ao rádio como o veículo de comunicação de maior expressividade, no
território. As rádios comunitárias são responsáveis em desenvolver uma cobertura
de massiva, abrangendo muitos grupos sociais. No território ainda há a cobertura de
jornais impressos e sítios, que veiculam informações regionais e muitas vezes
nacionais.
Neste território há a presença de alguns movimentos sociais, como rurais e
movimentos de Mulheres, que não existiram sempre, nem em toda parte, mas que
possuem uma história de expressão de reivindicações, principalmente no território
do sisal. Segundo Alonso (2009) esses movimentos sociais surgem da sociedade
civil, e são constituídos por indivíduos que não querem governar o mundo, nem o
Estado, mas que possuem ideais coletivos, e que são portadores de um projeto
cultural, que busca uma democratização social ao invés de uma democratização
política. Dessa forma, os movimentos sociais lutam por questões redistributivas, mas
engajados numa luta emblemática em torno de melhores condições de vida. Assim,
poderiam ser entendidos como “subculturas defensivas” que lutam contra a
colonização do mundo pela classe dominante. Segundo Gohn apud Siqueira (2009),
movimentos sociais:
são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais
pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas
demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil.
Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e
problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações
desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade
coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade
decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da
base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo.
39. 38
Assim, no território do sisal os agentes sociais preocupam-se em começar a
batalhar por transformações que reconhecem enquanto identidade coletiva, ou seja,
ideais coletivos, com a possibilidade de organizações, estruturadas em espaços de
discussões sobre políticas públicas que promovam mudanças em busca de um
desenvolvimento mais igualitário.
Habermas apud Hamel (2009) assinala para a precisão de se garantir aos
cidadãos direitos de comunicação e direitos de participação política tendo em vista,
até mesmo, a própria legalidade do processo legislativo, explicando que,
na medida em que os direitos de comunicação e de participação política são
constitutivos para um processo de legislação eficiente do ponto de vista da
legitimação, esses direitos subjetivos não podem ser tidos como os de
sujeitos jurídicos privados e isolados: eles têm que ser apreendidos no
enfoque de participantes orientados pelo entendimento, que se encontram
numa prática intersubjetiva de entendimento.
Os movimentos sociais do território do sisal buscam desenvolver ações
pensadas e baseadas em propostas que amparem a população e lhes tragam
benefícios no que tange o acesso à comunicação e a vida social mais justa.
Portanto, o território do sisal é marcado como um espaço de importantes lutas
sociais em vistas de melhorias para seus habitantes, e valorizado pela diversidade
cultural que proporciona uma visão mais ampla das ideias que norteiam os
estereótipos que caracterizam a região como lugar do sertanejo, do povo humilde.
40. 39
2.2. O sistema comunicativo do território do sisal
A informação é um dos fundamentais bens, direitos e instrumentos da
sociedade para entender e se mobilizar na realidade. E por isso, necessitaria circular
atendendo exatamente ao interesse público a que precisa estar sujeita em
decorrência destas suas características e emprego social. Porém, sua disseminação
acaba sendo prioridade de alguns em função da promoção e fortalecimento de seus
valores. Dessa forma, o ideal seria haver uma comunicação democrática e que
realmente expressassem os interesses da sociedade em vista da circulação e
pluralidade da informação, em termos de não existir desviados tanto da recepção
quanto da transmissão.
Os meios de comunicação comerciais, em especial as rádios, entendidos
como instrumentos dos grupos hegemônicos e que não desenvolvem propostas
populares, mas que atendem aos interesses dos dominantes, é desenvolvido
principalmente pelas emissoras que detêm as maiores potências. As rádios
comerciais apresentam-se como ferramentas de poder e de exclusão social, sendo
meios de comunicação regidos pelos discursos heteronormativos que antes de
divulgar informações estabelecem o que será beneficiado.
Os meios de comunicação popular, com ênfase nas rádios por serem mais
acessíveis e encontrar fácil aceitação, apresentam-se como estratégias de re-
afirmação dos significados locais, e motivação emancipatória do sertão. Para Gomes
(2006, p. 4) essa ação definir-se-ia como:
41. 40
A comunicação convertida em elemento de disputa na re-significação e
valorização das identidades locais, na constituição de redes e mobilização
de agentes sociais, capaz de promover a circulação e difusão de
informações de interesses comunitários.
Dessa forma, os processos comunicativos se configuram como uma
ferramenta importante para o desenvolvimento estratégico do território do sisal.
No território do sisal, o rádio imperou como aparelho privilegiado de acesso à
informação, tornando-se um companheiro na vida das pessoas. As rádios
comunitárias surgem no final dos anos 90 e início de 2000, como ações dos
movimentos sociais, e como resposta a apropriação dos grupos hegemônicos dos
meios de comunicação do território. Sendo assim, as rádios comunitárias emergem
como ferramentas para desenvolver, sendo novos instrumentos alternativos à
inserção dos grupos sociais nas práticas sociais e a construírem experiências
comunitárias de comunicação. Contudo, muitos grupos hegemônicos, como políticos
e emissoras comerciais, reagiram de forma agressiva, desenvolvendo perseguição e
marginalização das rádios comunitárias. Com isso, muitas rádios comunitárias foram
fechadas pela ação repressiva da ANATEL (Agência Nacional de
Telecominucações) e da Polícia Federal.
Pensando em desenvolver uma comunicação justa e solidária, os movimentos
sociais elaboram projetos que proporcionem suporte organizacional e assessoria na
construção de uma política cultural comunicativa para o território. Assim, desdobram-
se a criação de entidades regionais que fortaleçam os movimentos, como a Agência
Mandacaru de Comunicação e Cultura (AMAC), com o intuito de desempenhar uma
produção comunicacional para os movimentos locais, além da ABRAÇO Sisal
(Associação Brasileira de Rádios Comunitárias) e o curso de Comunicação Social no
Campus XIV da UNEB (Universidade do Estado da Bahia) que surgiu com o objetivo
42. 41
de proporcionar aos movimentos sociais participação igualitária e mais funcional, no
que diz respeito a construção social e para atender às necessidades desses
movimentos em lutar pela democratização da comunicação. Compreende-se que o
apoio de entidades é um elemento fundamental no sistema comunicativo do território
do sisal, que promovem a inserção da comunicação como estratégia da política de
desenvolvimento territorial.
O sistema midiático do território do sisal é composto por uma diversidade de
mídias, conforme Quadro 1, que corroboram para a disparidade de informações que
parcialmente reproduzem a sociedade, em vista do controle hegemônico que ainda
prevalece sobre os meios de comunicação que inviabilizam sujeitos e produzem
discursos heteronormativos.
Portanto, o sistema comunicacional pensado pelos movimentos sociais,
emerge da proposta de viabilizar um projeto de comunicação, com a consolidação
de grupos como o CODES sisal (Conselho de Desenvolvimento Sustentável do
Território do Sisal), que valorize e defenda a ideia da população como produtora de
conhecimento.
Quadro 1.
Meios/veículos de comunicação do território do sisal7
MEIOS /VEÍCULOS DE LOCAL DE
CONTEÚDOS/PROGRAMAÇÃO
COMUNICAÇÃO. ATUAÇÃO
5:00 – Forró Repente – música Conceição do Coité
Sisal AM
sertaneja.
7
Mapeamento realizado no território do sisal com os responsáveis pelos meios de comunicação, no
período de 12 de setembro a 23 de outubro de 2009.
43. 42
7:00 – Jornal da Sisal - noticiário
8:30 – Show da Sisal – música e
informação
10:00 – Estação Mulher –
música e informação
12:00 – MAX Esporte notícias
esportivas
13:30 – Paradão 900 – música
popular
15:00 – Show do Moreno –
música popular
16:00 – Forrobodó - forró
18:30 – Sindicatos - informativos
19:00 - A Voz do Brasil
20:00 – Noite Sertaneja – música
sertaneja
22:00 – Encerramento
5:00 - Alô Sertão
7:00 - Programa de Notícias
9:00 - Onda Livre
12:00 - FMPB
14:00 - Tarde Sabiá
Sabiá FM 16:00 - Forró de todos nós
18:00 - Comendo a Bola
18:30 - Jornal da Educadora
19:00 - A Voz do Brasil
20:00 - Noite Sabiá
22:00 – Encerramento
Aconteceu
Coiteense
Colunistas
Sítio Informe Coité
Sobre a cidade
Utilidades
Rede Social
Agricultura
Artigos
Bahia
Beleza
Brasil
Ciência e Saúde
Concursos e Emprego
Cultura
Agência Calila Notícias
Curiosidades
Economia e Negócios
Esporte
Eventos
Fatos Policiais
Geral
Histórias de Vida
Loterias
44. 43
Mulher
Mundo
Podcast
Política
Ponto do Cafezinho
Religião
Sociais
Tecnologia
Últimas Notícias
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+ Municípios
Registrados
Fotos
Programa da Semana
Eu e o Jegue
Aió de Cangaia
Eu sou a música
Perfis do Semi-árido
Ronda 24
FofoCangaia
Sintonia do amor
Sítio Na Cangaia Pirracinha do João
Programas de Rádio
Notícias em áudio
Esporte em áudio
Músicas
Poesias
Entrevistas
Curiosidades
Spots e chamadas
Ponto de Opinião
Personalidade de Fibra
Empreendimentos e Imobiliários
Jornal impresso – Indicações Literárias
Correio do Mês Divertimentos
Hoje em Dia
Correio Social
Correio Esportes
Conceição do Coité
Cultura
Política
Jornal impresso – O Esporte
Sertão Educação
Página Policial
Saúde e Informações
Jornalismo esportivo – jogos,
Sítio Esporte Sisal
história do futebol.
6:00 às 7:00 – Manhã Sertaneja
– músicas sertanejas. Serrinha
Morena FM
7:00 às 8:00 – Vale Apena Ouvir
de Novo – as mais tocadas, flash
45. 44
back.
8:00 às 10:00 Bom Dia Alegria e
INFOFOCA – músicas de todos
os ritmos.
10:00 às 11:00 – TOP 3 –
participação do ouvinte.
11:00 às 12:00 – Sucessos de
Novela – as melhores músicas
que passaram nas novelas.
12:00 às 13:00 – Emoções 98 –
músicas nacionais e
internacionais.
13:00 às 15:00 – 98 Graus - as
melhores músicas e informações
gerais sobre esporte.
15:00 às 17:00 – Desafio Morena
FM – teste seus conhecimentos
musicais.
17:00 às 18:00 – Sucessos
Morena FM – as melhores mais
pedidas.
18:00 às 19:00 – Brega Total e
Tropa do Riso – músicas no
estilo arrocha, seresta e quadro
com a galera do riso.
20:00 às 22:00 – Show da Noite
– seleção das melhores músicas.
22:00 às 24:00 – Love Hits e
Rádio Recado – as músicas que
marcaram, recadinho do ouvinte.
Jornalismo esportivo –
Sítio Esporte
informações gerais sobre
Comunitário
esporte.
Jornalismo regional –
Blog do Clériston Silva
informações sobre fatos locais.
Jornalismo – informações
Sítio Notícias do Dia
regionais e nacionais.
Sítio Nos Bastidores da Jornalismo – informações
Cidade regionais e nacionais.
5:00 às 6:00 – Despertar
Regional
6:00 às 6:30 – Programa O
Guardião
6:30 às 9:00 – Passando a limpo
Regional AM 9:00 às 11:30 – Mulher em
Movimento
11:30 às 12:00 – Madame Geilza
12:00 às 13:00 – Regional e os
Esportes
13:00 às 16:00 – Boa Tarde
46. 45
Cidade
16:00 às 17:00 – Programa
Igreja Deus e Amor
17:00 às 18:00 – Forró Regional
18:00 às 19:00 – Igreja
19:00 às 20:00 – Voz do Brasil
6:30 às 7:00 – Os Astros em seu
Caminho
7:00 às 9:00 – Jornal da Serrinha
Hoje
9:00 às 10:00 – Jornal da Região
10:00 às 11:00 – Espaço Aberto
11:00 às 12:00 – Sindicato dos
Trabalhadores
12:00 às 13:00 – Jornal dos
Esportes
13:00 às 14:30 – Jornal das
Cidades
14:30 às 15:00 – Poder
Sobrenatural da Fé
Continental AM
15:00 às 16:00 – Jornal da
Continental
16:00 às 17:00 – Poder da Fé
17:00 às 18:00 – Revista
Continental
18:00 às 19:00 – Igreja Viva
19:00 às 20:00 – Voz do Brasil
20:00 às 20:30 – Esporte
Comunitário
20:30 às 21:00 – Continental
Dentro da Noite
21:00 às 22:00 – No Terreiro da
Fazenda
22:00 às 23:00 – Show da Fé
6:00 - Bom dia alegria
(sertanejo).
7:00 - Momento informativo.
8:00 - Show da manhã - toca
musicas variadas.
9:00 - Balada tropical - musicas
variadas, horóscopo, dicas de
novela, dicas de saúde. Valente
Tropical FM
12:00 - Tropical nos esportes.
13:00 - Tarde tropical - música
variada, dicas de saúde,
entrevistas quando tem...
16:00 – As campeãs do dia -
toca as mais pedidas e tocadas
durante a programação.
17:00 - A zona do brega.
47. 46
18:00 - Programa da igreja
católica - despertando a fé.
19:00 - Programação - nesse
horário não tem locutor, ficam
tocando músicas variadas,
programadas no computador,
essa programação fica até as
22h ou 23h e depois a rádio sai
do ar e retorna as 6:00.
6:00 às 7:30 – Vozes da Terra –
talentos da terra, sertanejo, forró
pé de serra e rádios notícias.
7:30 às 11:00 – Ligação Direta –
sucessos, MPB, flash back,
participação do ouvinte no ar e
rádio notícias.
11:00 às 11:30 – Conversa da
Gente - produção de acordo
linha da rádio.
11:30 às 13:00 – Rádio
Comunidade – enfoque para
notícias locais e regionais.
13:00 às 14:00 – FMPB –
clássicos.
14:00 às 17:00 – Sucessos da
Valente FM – só sucessos do
momento.
Valente FM
17:00 às 18:00 – Pra Matar a
Saudade – românticas dos anos
70/90 e popular light.
18:00 às 19:00 – Bola na Rede –
locais, regionais, estaduais e
nacionais.
19:00 às 20:00 – Voz do Brasil –
notícias dos Três Poderes.
20:00 às 22:00 – Noite de
Sucessos – sucessos diversos,
flash back, e participação do
ouvinte no ar.
22:00 às 24:00 – Românticas em
Alta Temperatura – românticas
locais e nacionais.
00:00 às 6:00 – Esperando o
Amanhecer – românticas
internacionais.
Experiências
Aió de Notícias Retirolândia
Agência Mandacaru
Região Sisaleira
Últimas Notícias
Santaluz FM 5:00 às 7:00 – Amanhecer no Santaluz
48. 47
Sertão – músicas sertanejas,
informações agrícolas.
7:00 às 8:00 – Despertar com
Cristo – músicas gospel.
8:00 às 11:00 – Manhã Legal –
músicas, entretenimento,
momento infantil, flash
informativos, músicas variadas.
11:00 às 12:00 – MPB
12:00 às 13:00 – Rádio Notícias
– Jornalismo.
13:00 às 14:00 – Programa
Girando a Bola – notícias sobre
esporte.
14:00 às 16:00 – Tarde da Gente
– participação do ouvinte,
culinária e músicas.
16:00 às 17:30 – Forró Total –
pé de serra, mecânico e
misturado
17:30 às 18:00 – Programa das
Entidades
18:00 às 19:00 – Programa da
Igreja Católica
19:00 às 20:00 – A Voz do
Brasil
20:00 às 22:00 Super noite –
músicas variadas
22:00 às 00:00 – Momento de
romantismo – poesias,
recadinhos e músicas.
06:00 às 7:00 – Orvalho
Sertanejo.
07:00 às 08:30 – Patrulha da
Cidade.
8:30 às 10:30 – Manhã de
Sucesso.
10:30 às 12:00 – Almoçando
com Música.
12:00 às 13:00 – Associação em
Araci
Cultura FM Destaque – Vários
Representantes.
13:00 às 14:00 – Resenha
Esportiva.
14:00 às 16:00 – Seu signo seu
sucesso.
16:00 às 18:00 – Ligação.
18:00 às 19:00 – Brega Legal.
19:00 às 20: 00 – Voz do Brasil
20:00 às 22:00 – Emoções
49. 48
Cultura FM;
Sábado
06:00 às 07:00 - Abrindo o Baú
Musical.
7:00 às 9:00 – Debate em
Destaque.
9:00 às 10:30 – Juventude Ativa.
10:30 às 12:00 – Super
Seqüência.
12:00 às 15:00 – As mais
pedidas da semana.
15:00 às 17:00 – Conexão
Direta.
17:00 às 19:00 – Clima de Festa.
19:00 às 22:00 – Dance
Mania/Night Love.
6:00 às 9:00 – amanhecer na
roça.
9:00 às 11:00 – Antonio
11:00 às 12:00 – Super Manhã e
Bola rolando.
12:00 às 14:00 – A missa da
Riacho FM
Graça.
14:00 às 18:00 – Show do
Ouvinte.
18:00 às 19:00 – A Hora Santa.
19:00 às 20:00 – A Voz do
Brasil.
20:00 às 22:00 – Fim de noite.
5:30 às 22:00 – Musical
Baianinha FM Sertanejo / Esporte / São Domingos
Informativos.
5:00 às 7:00 - Bom dia Sertão
8:00 - Nossa Missão | Antônio
8:00 às 11:00 - Show da Manhã
11:00 às 12:00 - Sequência do
Show da Manhã
12:00 às 14:00 - Momento
Popular
Cruzeiro FM 14:00 às 16:30 - Super Sintonia
16:30 às 17:30 - Forrozão da Tucano
Cruzeiro
17:30 às 19:00 - Arquivo da
Cruzeiro
19:00 às 20:00 - Voz do Brasil
20:00 às 22:00 - Mistura
Musical22:00 às 00:00 - Show
Love
Tucano FM 5:00 Às 7:00 Da Manhã – Sertão
Maravilha Tucano Fm
50. 49
8:00 Às 12:00 Bom Dia Cidade
Tucano Fm
12:30 Às 13:00 O Povo No
Rádio
13:00 Às 15:00 Tarde Legal
15:00 Às 17:00 Atividade
Musical
17:00 Às 18:00 É Du Forro
19:00 Às 20:00 A Voz Do Brasil
20:00 Às 22:00 Momento De
Amor Tucano FM
22:00 Às 23:00 Programa
Palavra De Esperança
Programação Aos Sábados
5:00 Às 8:00 Programa Som Da
Terra
8:00 Às 12:00 Festa Da Manhã
Tucano FM
12: Às 13:00 Especial Tucano
FM
13:00 Às 16:00 Zorra Geral
Tucano FM
16:00 Às 17:00 Programa
Aliança Com Deus
Programação Aos Domingos
7:00 As 08:00 Momento Do Rei
Com Roberto Carlos
08:00 As 12:00 Festa Da Manhã
12:00 Às 13:00 Especial Tucano
FM
13:00 Às 16:00 Zorra Geral
16:00 Às 17:00 Programa
Aliança Com Deus
6:00 às 8:00 – Encanto da Terra
8:00 às 12:00 – Programa Rádio
Ativo
12:00 às 13:00 – Programa
destinados as entidades
13:00 às 14:00 – 104 MPB
14:00 às 17:00 – Sintonia
Independente FM
Independente
17:00 às 18:00 No Terreiro da Ichu
Fazenda
18:00 às 19:00 – A Voz dos
Agricultores
19:00 às 20:00- Voz do Brasil
20:00 às 22:00 – Bons Tempos
Noticiário em geral sobre Ichu –
Blog André Nilton
informações sobre esporte,
Comunicador
religião, educação, saúde.
51. 50
5:30 ás 8:00 – Raízes do Sertão
8:00 às 10:00 – Mega Mix
10:00 às 12:00 – Controle
Remoto
12:00 às 14:00 - Bons Tempos
14:00 às 16:00 – Tarde amiga
16:00 às 17:00 – Parada de
Piquaraçá FM Monte Santo
Sucesso
17:00 às 18:00 – Forró da
Piquaraçá
18:00 às 19:00 – Luiz Gonzaga e
Convidados
19:00 às 20:00 – A Voz do Brasil
20:00 às 22:00 – Show da Noite
22:00 às 00:00 – Noite do Prazer
Os meios de comunicação listados no quadro acima possuem uma
diversidade ampla de conteúdos compreendidos entre os gêneros humorísticos,
cultural e jornalístico. O contexto presente na grade de programação desses meios
de comunicação, todos pertencentes ao território do sisal, constitui-se em
informações regionais e nacionais, porém, omissa de conteúdos discordante dos
padrões sociais heterossexuais. Ressalvando o sítio Na Cangaia, uma voz que soa
como veículo que utiliza conteúdos homossexuais que fortalece a ideia de
homossexualidade como identidade não “normal”. Assim, enfatizando o gênero
jornalístico, percebe-se que o Na Cangaia, por meio do quadro Ronda 24, fortalece
visões heteronormativas de que os padrões sociais devem estar associados às
regras da oposição ativo/passivo, devendo o feminino estar disposto ao masculino e
vice-versa.
52. 51
2.3. O silêncio presente no território do sisal
No território do sisal, os meios de comunicação como rádio, sítios e meios
impressos como jornais, são fontes importantes de informação. Utilizando-se como
ferramentas de interação com a comunidade, os meios de comunicação tornam-se
elementos presentes na vida social dos indivíduos.
Os movimentos sociais potencializam sua atuação e conquistam espaço na
tentativa de construir processos comunicativos diferenciados. Assim, para elaborar
as estratégias na área comunicacional do território, foi criado o Grupo Temático de
Comunicação GT-Com, que reunia um grupo mais específico e direcionado a
desenhar as propostas nesta área, segundo Gomes (2006). Esse GT de
Comunicação era composto por representantes das rádios comunitárias (ABRAÇO –
Sisal), da Agência Mandacaru, e das organizações como MOC e APAEB Valente,
além do Pólo Sindical e da Universidade do Estadual da Bahia, Campus XIV.
Emerge daí um processo de comunicação que se apresentava numa
configuração mais extensa que o padrão antigo emissor-receptor. Os meios de
comunicação do território do sisal apresentam-se como instrumentos na luta pelo
exercício da cidadania e pela democratização da comunicação. Através de veículos
de comunicação como sítios, os meios interagem com a sociedade com informações
que satisfazem muitas vezes as necessidades de seu idealizador. Em outras
oportunidades, os meios de comunicação são instrumentos da luta traçada pelos
movimentos sociais na busca de ideais que valorizem os direitos de sua população.
Muitas rádios veiculam apenas o que lhe traz ibope, ou ainda aquilo que é do
interesse de uma determinada camada da sociedade. Alguns assuntos são omitidos
53. 52
pelas mídias radiofônicas, ou entendidas como conteúdos desinteressantes ao
público local, por se tratar de questões que a classe dominante considera como
questões perturbadoras dos discursos que retroalimentam os padrões sociais.
Dessa forma, surgia uma midiatização das informações que deveriam ser
apresentadas, e assim, o sistema comunicacional pode ser entendido como um
modelo de mutismo, em que a sociedade passa a ser silenciosa, onde sua voz não é
um som autêntico, mas uma imitação dos comandos do opressor. Segundo Freire
apud Moreira (2007), o mutismo seria, portanto, constituinte de um sistema de
comunicação pautado em mecanismos de exclusão e opressão.
O sistema comunicativo dos meios de comunicação do território do sisal
estigmatiza grupos que, muitas vezes, não estabelecem um contato direto,
reforçando-os como desinteressante ao contexto social. Dessa forma, o sistema
midiático silencia-se em tratar de assuntos que infringem as regras heteronormativas
ou que desvalorizam a hierarquia do poder usado para estigmatizar outros grupos
como irregulares.
Os meios de comunicação são, dessa forma, estruturados para atender os
interesses de uma classe que hierarquiza a sociedade e dissemina suas normas
como únicas e aceitáveis, desconsiderando outros grupos e construindo discursos
que criarão estereótipos negativos sobre esses indivíduos desfavorecidos.
Os meios de comunicação que constituem o sistema midiático do território do
sisal consistem em rádios, jornais impressos e sites. Estes meios trabalham com
programação musical; cultural – apresentando informações regionais e nacionais
aos agricultores e entidades religiosas; esportiva; educacional e jornalística –
expondo conteúdos informativos sobre o território para a sociedade. Nota-se a partir
desse contexto comunicacional que boa parte dos meios de comunicação do
54. 53
território do sisal silencia-se em lidar com temáticas que desfavoreçam os grupos
hegemônicos, em vista de seus padrões sociais de vida, e não se percebe na
programação da maioria delas conteúdos homossexuais, por exemplo, nem de
referência à homossexualidade. Dessa forma, fazendo um recorte ao gênero
jornalístico, o sítio Na Cangaia, destaca-se como um exemplo de veículo de
comunicação que apresenta conteúdos de referência à homossexualidade, sendo o
instrumento de comunicação que possui em sua programação uma imagem
homossexual, porém a traz através dos traços pejorativos do estereotipo do
homossexual.
Portanto, os meios de comunicação priorizam como artifícios evidentes de
desordem os discursos que desvalorizam as ideias empregadas como verdades pela
heteronormatividade.