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       UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
                 AIRAM DA SILVA COSTA




     GÊNERO E MÍDIA: A REPRESENTAÇÃO DA
HOMOSSEXUALIDADE NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO
             TERRITÓRIO DO SISAL




                 Conceição do Coité – BA
                          2010
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               Airam da Silva Costa




     GÊNERO E MÍDIA: A REPRESENTAÇÃO DA
HOMOSSEXUALIDADE NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO
             TERRITÓRIO DO SISAL



                          Trabalho de conclusão apresentado ao
                          curso de Comunicação Social –
                          Habilitação em Rádio e TV, da
                          Universidade do Estado da Bahia, como
                          requisito parcial para a obtenção do título
                          de bacharel em Comunicação, sob a
                          orientação da Profª Esp. Vilbégina
                          Monteiro dos Santos e co-orientação da
                          Profª Ms. Zuleide Paiva da Silva.




               Conceição do Coité – BA
                        2010
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                        Airam da Silva Costa




     GÊNERO E MÍDIA: A REPRESENTAÇÃO DA
HOMOSSEXUALIDADE NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO
                    TERRITÓRIO DO SISAL




               Trabalho de conclusão apresentado ao curso de Comunicação
               Social – Rádio e TV, da Universidade do Estado da Bahia, sob
               a orientação da Profª Esp. Vilbégina Monteiro dos Santos e co-
               orientação da Profª Ms. Zuleide Paiva da Silva.




     Data: _________________________________________________
     Resultado: _____________________________________________


     BANCA EXAMINADORA
     Profª. (orientadora): Vilbégina Monteiro dos Santos
     Assinatura: _____________________________________________


     Profª. (co-orientadora): Zuleide Paiva da Silva
     Assinatura: _____________________________________________


     Profª. : Carolina Ruiz de Macêdo
     Assinatura: _____________________________________________
3




                    DEDICATÓRIA



     Dedico primeiramente a Deus – por me fazer este ser
humano que vos fala - o que seria de mim sem o Senhor de
todos os pais. Posteriormente dedico aos meus pais pela
imensa força e apoio que me deram, aturando-me nessa
inesquecível jornada, além de serem peças fundamentais para
a minha formação e existência – a base sempre será o primeiro
passo de um homem. Enfim, dedico a todos e todas que direta
ou indiretamente contribuíram para o meu sucesso.
4



                              AGRADECIMENTOS



 A Deus, mestre de todos os mestres, por ter me proporcionado mais essa vitória e
por me mostrar que sou apto de realizar o que anseio. Além de ter me dado forças,
                     garra, dedicação, empenho e coragem.

  Aos meus pais pelo ser humano que me tornaram e pela grande dedicação que
     tiveram comigo desde o início, me mostrando o melhor caminho a seguir.

  A todos os professores do curso de Comunicação Social da UNEB Campus XIV,
 pela grande aprendizagem que me proporcionaram e pela dedicação que tiveram
com a turma, além da grande amizade que levarei em meu coração por onde estiver.

A minha orientadora Vilbégina Monteiro e a minha co-orientadora Zuleide Paiva pela
grande força, dedicação e paciência que tiveram comigo, além das experiências que
                               me proporcionaram.

Aos meus queridos amigos e amigas que direta ou indiretamente contribuíram para
         que eu pudesse realizar mais um trabalho com ímpeto e bravura.

  A Matteus Freitas de Oliveira pelo grande empenho em me auxiliar sempre que
  necessário com suas ideias muito bem aproveitadas e de imensa significância.

  A Aline dos Santos Lima pelo grande auxílio na construção deste meu trabalho,
             dando-me informações precisas e de grande relevância.

  Enfim, a todos e todas que contribuíram de forma direta ou indireta para que eu
pudesse concluir essa minha trajetória, que transformou a minha vida me ensinando
 fazer dos pontos negativos uma reflexão para sempre melhorar e dos tombos um
              degrau para conseguir a realização dos meus sonhos.
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“as culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre „a nação‟, sentidos sobre os quais podemos nos
                     identificar, constroem identidades”. Stuart Hall (2003)
6



                                     RESUMO



           GÊNERO E MÍDIA: A REPRESENTAÇÃO DA
HOMOSSEXUALIDADE NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO
                          TERRITÓRIO DO SISAL



Este trabalho estudou o silêncio presente no sistema midiático do território do sisal,
locus da luta pela cidadania, procurando esclarecer que a omissão de conteúdos a
respeito da homossexualidade pelos meios de comunicação corrobora para
estigmatização desses os sujeitos como abjetos e discordantes do desejo
heteronormativo. Analisou-se a representação da homossexualidade no sítio Na
Cangaia, veículo de comunicação que se apresentou como um exemplo de
instrumento de informação que apresentava conteúdos de referência à
homossexualidade. O trabalho foi realizado através de estudo bibliográfico, pesquisa
exploratória e entrevistas semiestruturadas com técnica de emparelhamento, para
averiguar os prováveis aspectos que motivam ou que corroboram a existência
desses termos de representação e referência. Levou-se em consideração que os
meios de comunicação constituem uma significativa ferramenta cultural que contribui
para a formação de identidades. Dessa forma, foi analisado como o sítio Na Cangaia
interfere na construção cultural de um indivíduo, já que nenhum ser está isento das
influências midiáticas. Com análise de seus conteúdos, na expectativa de averiguar
como acontece a representação do homossexual, tornam-se inúmeros e variados os
exemplos que se poderia listar que apontam a comunicação midiática como reforço
aos estereótipos que contribuem significativamente na construção das identidades.
Os meios de comunicação semeiam ideias que, de tal forma incrustadas em nosso
cotidiano, espelham-se em conceitos que não permitem o amadurecimento e
aceitação da diversidade e liberdade sexual, ou ainda da diferença, que não se quer
assimilar e tolerar.

Palavras-chave: Homossexualidade, mídia, gênero, silêncio.
7



                                       ABSTRACT



       GENDER AND MEDIA: THE REPRESENTATION OF
 HOMOSEXUALITY IN THE MEDIA OF THE TERRITORY OF
                                         SISAL

This work studies the present silence of the media system in the territory of sisal,
locus of the struggle for citizenship. Seeking to clarify that the default content in the
media supports to stigmatize the subjects as abject and inconsistent with the desire
heteronormative. We analyzed the representation of homosexuality in the site
Cangaia communication vehicle that sounded like an example of an information tool,
which at the time of the research presented contents reference to homosexuality,
considering the genre news produced in the territory of sisal. The work was
accomplished through literature research, exploratory and semi-structured technique
of pairing, to ascertain the likely issues that motivate or corroborate the existence of
these terms of reference and representation. It took into account that the media
constitute a significant cultural tool that contributes to the formation of identities. Thus
was analyzed as the site in Cangaia, interferes with the cultural production of an
individual, as none is exempt from being media-influences. With analysis of its
contents, hoping to find out how true representation of the homosexual, become
many and varied allusions that could list relating to the communication media to
reinforce stereotypes that contribute significantly to the construction of identities. The
media sow ideas, which is so embedded in our daily life, still reflect on concepts that
do not allow the maturation and acceptance of diversity and freedom of sexual
difference and yet you do not want to assimilate and tolerate.

Keywords: Homosexuality, media, gender, silence.
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                                       LISTA DE QUADROS




Quadro 1: Meios/veículos de Comunicação do Território do Sisal ........................41

Quadro 2: Programas humorísticos do Na Cangaia ..............................................56

Quadro 3: Personagem do quadro Ronda 24 ........................................................59

Quadro 4: O Quadro Ronda 24 ..............................................................................64
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                                LISTA DE SIGLAS



SIT – Sistema de Informações Territoriais

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

AMAC - Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura

UNEB – Universidade do Estado da Bahia

ABRAÇO - Associação Brasileira de Rádios Comunitárias

GT-Com – Grupo Temático de Comunicação

MOC – Movimento e Organização Comunitária

APAEB – Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região

Sisaleira

ERECOM – Encontro Regional de Estudantes de Comunicação

LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros

GGB – Grupo Gay da Bahia

LBL – Liga Brasileira de Lésbicas

RS – Rio Grande do Sul

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas

ANATEL - Agência Nacional de Telecominucações

CODES sisal - Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Território do Sisal
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                                                        SUMÁRIO


LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................11


1.       "Queer" homossexualidade é essa?............................................................15
1.1.     Representação homossexual no discurso midiático.................................17
1.2.    Homossexualidade: uma configuração associada à construção social.......21
1.3.     A performatividade dos corpos: processo cultural de constituição
do gênero...................................................................................................................24

2.       O silêncio no processo comunicativo das mídias......................................30
2.1.     O território do sisal: locus da luta pela cidadania..........................................34
2.2.     O sistema comunicativo do território do sisal............................................39
2.3.    O silêncio presente no território do sisal.....................................................51

3.     Na Cangaia.com: instrumento de comunicação do território do sisal...............54
3.1. Uma voz que soa: veículo de comunicação NA Cangaia.com........................58
3.2. O quadro Ronda 24 ........................................................................................60
3.3.     Homossexualidade: o que pensa o Na Cangaia.com....................................62

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................66

REFERÊNCIAS..........................................................................................................69

APÊNDICES              ..........................................................................................................74

ANEXOS....................................................................................................................77
11



INTRODUÇÃO




                                                         "A televisão é a primeira cultura
                                               verdadeiramente democrática - a primeira
                                              cultura disponível para todos e totalmente
                                              governada pelo que as pessoas querem. A
                                             coisa mais aterrorizante é o que as pessoas
                                                                                  querem. “
                                                                             (Clive Barnes)




      O exercício da cidadania está ligado à garantia dos direitos civis, sociais,

políticos e culturais, porém, sabe-se que a diversidade perpassa esses direitos e que

a liberdade sexual não está limitada à divisão binária entre masculino e feminino,

pois o sexo e o gênero são construtos sociais.

      Dessa forma, tratar a homossexualidade como exercício da cidadania é defini-

la como sujeita ao jogo da exclusão, obedecendo a lógica do mais que um – em que

o enlace da classe, da raça e da sexualidade determina os padrões aceitáveis e

quais comportamentos os cidadãos devem possuir e desenvolver. Assim, a

identificação, entendida como um processo em que os sujeitos desenvolvem

características no contato social permeado por uma contínua e cultural construção,

se desenvolve como um processo gerado a partir das diferenças.

      Os meios de comunicação desempenham um efeito significativo e influente na

construção das diferenças aceitáveis que norteiam o nosso autoentendimento e o

nosso entendimento do outro. Logo, os meios de comunicação colaboram para a

construção dos sujeitos. Percebe-se dessa forma a relevância de estudar como a

maioria das mídias omite-se ao lidar com questões de gênero e como constroem

discursos provenientes de ideias que estigmatizam a homossexualidade como

desprezível, alimentando também com a ausência de referências homossexuais em
12



seu sistema informacional conceitos que perpetuam os homossexuais como

indivíduos discordantes sociais.

      Prioriza-se entender como veículos de comunicação que fazem uso de termos

ou de conteúdos de referência à homossexualidade, como o sítio Na Cangaia, vem

representando a homossexualidade em seus quadros, a exemplo do quadro Ronda

24, e como este veículo de comunicação do território do sisal ainda reforça os

estereótipos que são utilizados para configurar a homossexualidade como

identidade discordante do socialmente esperado. Assim, levando em conta os

marcadores sociais que me constroem, enquanto homossexual e estudioso da

comunicação social, necessito entender a homossexualidade no contexto midiático,

pois compreendo que a mídia contribui para a (des) construção do indivíduo, de

valores, comportamentos, etc. Portanto, percebo que a construção midiática está

permeada de estereótipos utilizados para reforçar a estigmatização homossexual.

      Assim, é relevante fazer um estudo teórico dos termos utilizados para se

referir à homossexualidade; realizar o mapeamento dos conteúdos homossexuais

nos meios de comunicação do território do sisal; averiguar a presença de conteúdos

homossexuais ou de referência à homossexualidade nas mensagens difundidas

pelos veículos de comunicação; estudar o silêncio das mídias no território do sisal

sobre a temática homossexualidade; e observar o tratamento que conteúdos

homossexuais ou de referência à homossexualidade tem recebido.

      Para alcançar os objetivos almejados neste trabalho, tornou-se relevante

desenvolver um estudo com base em revisão bibliográfica. Realizou-se um estudo

qualitativo, por meio de coleta de dados, a partir da realização de entrevistas

semiestruturadas com o produtor do sítio para que conjuntamente, pudesse realizar

análise de conteúdo desse veículo com técnica de emparelhamento.
13



         Definiu-se o desenvolvimento desse estudo com o Na Cangaia por verificar, a

partir de uma pesquisa exploratória priorizando o gênero jornalístico, que o sítio faz

referência direta à homossexualidade e, por isso, robustece os estereótipos

construídos pela sociedade dominante.

         Assim, utilizou-se como estudo as formas de referências que o sítio Na

Cangaia, através de seu programa Ronda 24 vem utilizando, para poder identificar o

tratamento em que a homossexualidade tem recebido e, dessa forma, conhecer os

possíveis fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência desses

fatos.

         No 1º capítulo intitulado “Queer” homossexualidade é essa?, buscou-se reunir

e resgatar conceitos sobre as categorias que constituem o sujeito, sua produção e

os discursos sobre identidade e construção cultural do sexo e do gênero. A intenção

aqui é demonstrar como o sexo e o gênero têm sido apresentados de forma

equivocada, associados à divisão binária entre masculino e feminino, devido a

hierarquia dos discursos que são empregados aos corpos e às normas

heteronormativas que desconsideram os indivíduos que infringem suas regras.

         Já no 2º capítulo, O silêncio no processo comunicativo das mídias, é

construído um panorama do atual sistema comunicacional dos meios de

comunicação do território do sisal, a fim de servir como diagnóstico para

identificação das principais dificuldades enfrentadas pela homossexualidade, e a

gravidade do silêncio a respeito da temática abordada, pelo fato da omissão de

conteúdos serem tão grave quanto os discursos utilizados para estigmatizar os

sujeitos. Foram essas dificuldades que embasaram a construção do 3º capítulo, Na

Cangaia.com, que oferece uma análise do veículo de comunicação, enfatizando o

gênero noticioso no território do sisal que faz uso de termos homossexuais e
14



conteúdos de referências à homossexualidade, entendido aqui como forma de

estigmatizar os estereótipos que reforçam a homossexualidade como identidade

discordante das regras heteronormativas.

      Por fim, discute-se sobre os reflexos das representações homossexuais pelos

meios de comunicação no território do sisal. E compactua-se com a ideia de que os

discursos heteronormativos empregados aos corpos como forma de definir que sexo

e gênero se esperam dos indivíduos e que esta é uma maneira de distorcer a

ideologia de que o indivíduo é construído culturalmente.
15



                                                 "O jornalismo é popular, mas é popular
                                               principalmente como ficção. A vida é um
                                              mundo, e a vida vista nos jornais é outro."
                                                                       (G. K. Chesterton)




1. “Queer” homossexualidade é essa?




      Os homossexuais abarcam hoje um número de cidadãos que vai além de um

grupo de indivíduos que se limitam a redes de amizades. Esses sujeitos se

constituem na verdade em um conjunto de instituições que participa, por exemplo,

do enriquecimento da economia do país, e por serem constitucionalmente iguais aos

demais cidadãos, precisam de respeito e tolerância. Dessa forma, entendendo que

os meios de comunicação contribuem para a construção de discursos, percebe-se

como importante sua participação social no processo de democratização cultural,

que em resumo poderia ser entendida como uma forma de organização do social se

fosse baseada em princípios éticos de liberdade, igualdade, diversidade,

solidariedade e participação.

      A homossexualidade tem sido perpetuada por discursos que a desconsideram

construção cultural e que acabam reforçando a ideia de que o sexo e o gênero são

provenientes dos conceitos heteronormativos utilizados pelo grupo dominante.

Sendo assim, a palavra inglesa queer é muito utilizada para adjetivar as

representações que se referiam à homossexualidade, sendo ela entendida de forma

depreciativa, ligada a prática ofensiva de pontuar o desenvolvimento da sexualidade

considerada desviante como esquisita, estranha e excêntrica.

      O interesse da Teoria Queer está na ação subjetiva e na transgressão do

gênero, considerando que as marcas constituídas pela sociedade e pela cultura são

vistas como aspectos fundamentais na construção de conceitos provenientes de
16



regras sociais dominantes, de que o corpo é constituído ou “armado” copiando

excessivamente o sujeito que ridiculariza. Assim, armando-se dos discursos queer

utilizados pelos opressores, os movimentos gay e lésbico adotaram essas ideias

como maneira de apresentar as diferenças que não querem ser assimilada ou

tolerada.

      Dessa forma, buscando apoio teórico em Michael Foucault (1984) e Judith

Butler (2003), Guacira Louro apud Sabat (2005) procura esclarecer a ideia de que o

corpo está imbricado em relações de poder que são utilizadas para preencher os

sujeitos com discursos que descartam a ideia de que o sexo, assim como o gênero,

não são produtos discursivos e culturais. Longe de negar a materialidade dos

corpos, o que a autora Guacira Louro apud Sabat (2005, p. 2) enfatiza é que:




                    Se nos voltamos para os discursos existentes, podemos identificar relações
                    estreitas entre transformações políticas, econômicas e sociais e o modo de
                    olhar para o corpo e a sexualidade em diferentes momentos históricos. [...]
                    São os processos e as práticas discursivas que fazem com que aspectos
                    dos corpos se convertam em definidores de gênero e de sexualidade e,
                    como conseqüências, acabem por se converter em definidores dos sujeitos.




      Partindo desta perspectiva, rumo a compreensão de como os corpos são

discursivamente produzidos, utilizamos o conceito de performatividade de Judith

Butler, um dos fundamentos da Teoria Queer. Neste sentido, o conceito de

performatividade emerge da lingüística e será utilizado para identificar a maneira

como os corpos e os sujeitos são discursivamente constituídos, com base em

Foucault, na afirmativa de que a construção da sexualidade deve-se a ações

discursivas.
17



      Assim, a Teoria Queer pensa a representação homossexual como marcas

provenientes do social, no qual é classificada pela heterossexualidade compulsória

como corpos e sujeitos estranhos e esquisitos ou ainda simplesmente queer.

      Para Louro apud Sabat (2005), a Teoria Queer pode abarcar uma concepção

fundamentada na ambigüidade, na multiplicidade e na fluidez das identidades

sexuais e de gênero, mas, além disso, também sugere novas formas de pensar a

cultura, o conhecimento, o poder e a educação por meio da desconstrução de

padrões supostamente rígidos, tal como o biologismo dos gêneros e sua

correspondência performática.




1.1. Representação homossexual no discurso midiático



      O fenômeno da globalização despedaça os sujeitos, apresentando-lhes

discursos que dispersam os modos de ser construindo novos conceitos. Dessa

forma, no mundo contemporâneo, esses sujeitos tornam-se vulneráveis às

informações multilaterais que os descentralizam.

             Segundo Rogério Costa (2009, p. 2):




                    A partir da abordagem socioantropológica, observamos, no entanto, que a
                    representação de determinados comportamentos podem variar com o
                    contexto imediato, numa fluidez que muitas vezes coloca o sujeito à deriva,
                    posto que é um tipo de representação associada a determinantes culturais,
                    mostrando com isso a historicidade dessa condição, a construção social que
                    determina uma cultura e assim se faz atuante. Mostrando que a discussão
                    sobre identidade sexual, na realidade, está num plano de construção
                    simbólica em que intervêm valores e concepções de mundo que extrapolam
                    o âmbito da sexualidade, portanto, a identidade sexual não é uma mera
                    descrição das práticas, nem está diretamente associada a comportamentos
                    específicos.
18



       Assim, a cultura propicia ao sujeito uma visão de mundo, e é através dela que

o homem atua. Neste ponto de vista, Rogério Costa (2009) diz que a maneira de ver

o mundo está associada a uma ordem moral e valorativa, identificando e

conformando diferentes comportamentos sociais com propriedades invulgares

(COSTA, 2009, p. 7), discurso este elucidado nas ideias de R. Laraia, (2002, p. 67-

68):




                     A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações,
                     sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao
                     comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria
                     da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento desviante. Até
                     recentemente, por exemplo, o homossexual corria o risco de agressões
                     físicas quando era identificado numa via pública e ainda é objeto de termos
                     depreciativos. Tal fato representa um tipo de comportamento padronizado
                     por um sistema cultural. Esta atitude varia em outras culturas. Entre
                     algumas tribos das planícies norte-americanas, o homossexual era visto
                     como um ser dotado de propriedades mágicas, capaz de servir de mediador
                     entre o mundo social e o sobrenatural, e por isso respeitado.




       Dessa forma, por ideias provenientes de discursos heteronormativos,

tomados como única maneira de ver o mundo e os sujeitos, muitos homossexuais

até hoje sofrem agressões e têm sua cultura descartada e ignorada.

       A ideia de sujeito emergente de uma hierarquia cultural afasta-se da ideia

das autoras Butler (2003) e Wittig (1980), que defendem o sexo e o gênero como

provenientes da construção social e cultural, desmistificando a ideia de que os

discursos sobre o sujeito não derivam do sexo, pois ele não determina o gênero e

este não se limita a divisão binária entre masculino e feminino, mas transpassa

essas categorias dualistas.

       Os conceitos de identidade sexual e gênero são utilizados de forma dúbia

pela sociedade, apresentando os sujeitos como indivíduos presos a ideologias
19



masculinas,    quando       apresentam   discursos   pejorativos   que   estereotipam

negativamente os sujeitos.

      As transformações de uma sociedade em que as ideias e os discursos detêm

o poder dão lugar a perspectiva que se propõe pós-moderna, em que as

informações interferem na vida social constantemente e de forma rápida

arquitetando os sujeitos.

      As identidades são formadas por meio da fabricação da diferença. Talvez por

isso Silva (2003) diz que o chamado multiculturalismo se apoia em um vago e

benevolente apelo à tolerância e ao respeito para com a diversidade e a diferença.

Para Stuart Hall (2007), as unidades que as identidades proclamam, a exemplo as

identidades coletivas, são na verdade constituídas do jogo do poder e da exclusão.

Dessa forma, as identidades construídas estarão sujeitas à hierarquia do poder e

serão definidas a partir do ponto de vista do grupo dominante.

      Sabemos que as experiências identitárias se ampliam com a globalização.

Antes do advento da mídia, a comunicação era praticamente desenvolvida por meio

da comunicação oral e o conhecimento era sempre restrito ao monopólio do grupo

social dominante. As mídias contribuíram para o desenvolvimento da globalização,

permitindo a interconexão do planeta através de satélites, sendo que a comunicação

ascende a um lugar decisivo no circuito produtivo. Dessa forma, as mídias ampliam

o processo de globalização, possibilitando uma constante produção de novas

identidades e discursos.

      A mídia contribuiu para a construção da imagem do homossexual, uma vez

que divulga conteúdos de referência à homossexualidade como identidade

discordante do esperado. Gioielli (2005) afirma que as diferentes dinâmicas marcam
20



identidades culturais em meio aos ambientes socioculturais da modernidade e da

pós-modernidade.

      Dessa forma, percebe-se ainda que as identidades tidas como discordantes

dos padrões utilizados como norma, vêm ocupando lugar na mídia, mas ainda

enfrentam preconceitos derivados das ideias que ainda hoje prevalecem como

formas de pensar e, que tornam a sociedade excludente.

      A homossexualidade se configura como uma construção cultural que se

desenvolve, assim como as demais orientações, a partir do contato do ser com o

meio social, e que também pretende incluir-se na construção da cidadania, tanto

como cidadão apto a intervir na sociedade quando necessário, quanto indivíduo

pertencente a um mundo pluricultural, onde a diferença constitui a diversidade.

      Marques (2002) vem nos dizer que a representação e a visibilidade de grupos

de sexualidade nas mídias auxiliam a perceber, num momento especifico, a

articulação de três importantes processos sociais: a) A reflexividade – acentuada

pelos fluxos simbólicos da mídia, que permeia nosso autoentendimento e nosso

entendimento do outro; b) A interseção das questões identitárias com as

questões de reconhecimento – prescindindo da intersubjetividade para se

realizarem e a mobilização; e c) Busca de razões próprias, diante da tematização

de assuntos capazes de instaurar esferas públicas de discussão.

      Fernando Barroso (2008) diz que os discursos midiáticos podem ser vistos

como práticas culturais construtoras e solidificadoras de novas identidades -

identidades homossexuais, por exemplo - e de novas comunidades.

      Então, percebe-se que o conceito de identidade sexual e de gênero pode

ganhar novos significados quando estes são apresentados de forma confusa, pelos

quais a sociedade exclui da participação social, política e cultural, aqueles que são
21



de uma orientação que não condiz com a linearidade entre corpo, gênero, sexo e

desejo.




1.2. Homossexualidade: uma configuração associada à construção social




       A ideia de que o sexo e o gênero são construções culturais pode ser

entendida como discordante dos padrões heterossexuais, que associam o sexo

apenas à divisão conjugada entre homem e mulher. Como afirma Bourdieu apud

Anjos (2003), a oposição ativo/passivo traz consigo a heterossexualidade como

norma, e dispõe homens e mulheres segundo a “natureza”. Assim, entende-se que a

homossexualidade infringe as regras e se torna inferior por não ser a considerada

sexualidade “normal”.

       Nascemos com um sexo, no que diz respeito a nossas genitálias, porém este

sexo não determina o gênero. Gênero não é uma divisão binária entre o masculino e

o feminino; se adotarmos essa perspectiva de gênero alimenta-se a idéia de que há

apenas dois gêneros. Contudo, se fizermos um estudo empírico, veremos que há

muito mais que dois gêneros. Não existe heterossexual que seja apenas homem ou

só mulher, uma vez que os seres possuem características femininas e masculinas,

mesmo sendo os mais machos e as mais fêmeas, pois o gênero é uma produção

cultural.

       Dessa forma, o sexo é construído pela cultura, assim como a linguagem é

uma produção também cultural. Como afirma Judith Butler (2003), o sexo não é

natural, mas é ele também discursivo e cultural como o gênero. A noção de gênero

estava relacionada com a opção sexual, como decorrente dessa escolha. Porém,
22



Butler (2003) diz que não existe uma identidade de gênero por trás das expressões

de gênero, ou seja, não de define o gênero como binário, e que a identidade é

performativamente constituída - que é desenvolvida com um bom desempenho e

tem uma interpretação adequada. Ainda temos Wittig apud Areda (2006a) que

concorda com Butler, colocando que não se nasce homem, nem se é homem,

empenha-se constantemente na busca de tornar-se Homem. A virilidade representa

justamente o investimento numa rede de relações com a busca de reconhecimento

da masculinidade. Portanto, o sexo não nasce feito, ele é desenvolvido

culturalmente, e se definirmos sexo como sendo somente masculino e feminino todo

sexo e toda sexualidade será heterossexual. E como diz Brandão apud Paula

(2009), as identidades são o reconhecimento da própria diferença, onde o ser pode

ser pensado não como um fundamento em si, mas a partir do que o diferencia. A

construção das imagens com que os sujeitos e povos se percebem passa pelo

emaranhado de suas culturas, nos pontos de intersecção com as vidas individuais.

      A homossexualidade representada como categoria identitária de adequação

do indivíduo a certa conduta, não se restringe a descrições de suas práticas, essa

ideia de mundo não está permeada apenas na identificação da pessoa seguindo

suas preferências sexuais, vai muito além. Pouco importa a condição ou amplitude

do ato em si, pois essas ideias prevalecem de conceitos determinados socialmente e

aparentemente associados à história, tendo toda uma magnificência de identificação

sócio-sexual obrigatória que se autentica e é demarcada não só pelo ato sexual,

mas por comportamentos culturalmente criados e associados a eles, e por isso

esperados socialmente. Dessa forma, Costa (2009) afirma que a sexualidade

inscreve-se como uma determinação, uma maneira de ser obrigatória e “natural”,

enquanto “essência” do ser, quando é associada a uma preferência sexual que
23



determina um comportamento social. Partindo dessa perspectiva, compreende-se

que a ideia de identidade homossexual é historicamente ligada e pensada através

da   determinação    de   ações     sexuais,     associando       certas    preferências     ao

comportamento, não levando em consideração a pluralidade dessas associações.

Assim, essa determinação de representação homossexual afasta-se da ideia de

sexo como produção discursiva e cultural, como se pode afirmar com a ideia de

Guacira Louro (1996, p. 1):



                     O conceito de gênero veio contrapor-se ao conceito de sexo. Se este último
                     refere-se às diferenças biológicas entre homem e mulher, o primeiro diz
                     respeito à construção social e histórica do ser masculino e do ser feminino,
                     ou seja, às características e atitudes atribuídas a cada um deles em cada
                     sociedade. O que quer dizer que agir e sentir-se como homem e como
                     mulher depende de cada contexto sócio-cultural.




      Dessa forma, o sexo é visto como divisão binária e o gênero associado aos

interesses culturais de cada sociedade. Contudo, sabemos que o sexo vai muito

além da divisão entre homem e mulher.

      Levando em consideração o conceito de representação homossexual

apresentada por Costa (2009), a ideia de identidade homossexual pode estar ligada

a questões do homoerotismo, sendo que as crenças são os fundamentos das

condições de determinações do sujeito. Porém, quando atribuímos discurso ao

corpo, estamos determinando conceitos de como desejamos que ele se constituísse,

empregando discursos dentro dos padrões socialmente esperados. Dessa forma,

percebe-se que os discursos atribuídos a homossexualidade permeiam por ideias

que produzem um conceito performático considerado heteronormativo, que tentam

definir a identidade homossexual a partir de representações simbólicas - entendida
24



como    elementos    que    em    vista    dos    conceitos     sociais    representaria      a

homossexualidade.




1.3. A performatividade dos corpos: processo cultural de constituição do gênero




       Colling (2007) apresenta que os homossexuais são representados pela mídia,

em específico pela rede Globo em suas telenovelas, como indivíduos criminosos,

afetados e heterossexualizados.

       Para Butler apud Colling (2007) o gênero é performativo porque é resultante

de um regime que regula as diferenças de gênero. Neste regime os gêneros se

dividem e se hierarquizam de forma coercitiva.

       Segundo Colling (2007, p. 4):




                     [...] De uma forma resumida e incompleta, podemos dizer que a teoria da
                     performatividade tenta entender como a repetição das normas, muitas
                     vezes feita de forma ritualizada, cria sujeitos que são o resultado destas
                     repetições. Quem ousa se comportar fora destas normas que, quase
                     sempre, encarnam determinadas ideais de masculinidade e feminilidade
                     ligadas com uma união heterossexual, acaba sofrendo sérias
                     conseqüências.




       Neste sentido, a ideia de gênero é associada a uma performatividade ligada à

matriz heterossexual como afirma Guacira Louro apud Colling (2007):




                     O sujeito é chamado a identificar-se com uma determinada identidade
                     sexual e de gênero sobre a base de uma ilusão de que essa identidade
                     responde a uma interioridade que esteve ali antes do ato de interpelação. O
                     qual é precisamente um dos aspectos fundamentais da concepção
                     performativa do gênero.
25



      Assim, compreende-se que o sujeito é percebido dentro de um modelo

heteronormativo, quando as representações homossexuais não refletem as próprias

culturas sociais atuais. Com isso, Judith Butler apud Nardi (2003, p. 1) contrapõe-se

ao modelo heterossexual de perceber os sujeitos:




                     “O corpo não é um lugar sobre o qual uma construção tem lugar, é uma
                     destruição que forma o sujeito. A formação desse sujeito implica o
                     enquadramento, a subordinação e a regulação do corpo. Ela implica
                     igualmente o modo sobre o qual esta destruição é conservada (no sentido
                     de sustentada e embalsamada) na normalização”.



      Dessa forma, entende-se que a constituição do sujeito depende da destruição

do corpo, que em resumo é entendido segundo Foucault apud Nardi (2003) como

uma alegoria da formação do sujeito a partir do “inconsciente cultural” que delimita

os sistemas implícitos dos quais somos prisioneiros.

      Segundo Butler apud Nardi (2003) o sujeito surge quando o corpo

desaparece, portanto, a imitação é a forma sintomática da reinstalação do poder que

submete o sujeito na captura identitária gerando aquilo que Butler denomina

enquanto performatividade.

      Dessa forma, o conceito de identidade sexual tem sido apresentado de forma

confusa e empregado a aspectos heteronormativos que determinam os discursos

socialmente esperados. Assim, a representação homossexual na mídia é feita

baseada no papel sexual, que não é o elemento determinante da homossexualidade,

mas que é utilizado para classificar os indivíduos cujo papel sexual não esteja de

acordo com seu sexo.

      Para Baggio (2009) os homossexuais são representados como indivíduos

marcados por uma especificidade da linguagem e pelo humor, que perpetua por
26



estereótipos que os mantém como sujeitos favoráveis a caricatura gay que serve de

piada na maioria dos programas. Partindo dessa perspectiva, pode-se compreender

que as identidades homossexuais são representadas como padrão de vida

dominado e inferior como podemos entender com a ideia de Bucci apud Baggio

(2009, p.6):




                     [...] é impossível encontrar algum [programa humorístico] que não se
                    baseie em escarnecer os pobres, os analfabetos, os negros, os
                    homossexuais etc. O mecanismo parece ser o mesmo dos melhores filmes
                    cômicos: o espectador é chamado a rir daquilo que o envergonha e que o
                    machuca. A questão é que, nos programas da nossa TV, o espectador não
                    ri para redimir o personagem que se debate em seu ridículo, mas para
                    reiterar a opressão que pesa contra esse mesmo personagem. [...] É por
                    isso que, diante da TV, ri dos negros quem não é negro, ri dos gays quem
                    não é gay, ri dos pobres quem não é pobre (ou pensa que não é). Ri deles
                    quem quer proclamar, às gargalhadas, que jamais será como eles. É o riso
                    como recusa e chibatada.




       Levando em consideração que o sexo não é nato nem é naturalizado e tão

pouco essencializado, percebe-se que ele emerge de símbolos que determinam a

nossa construção identitária. Dessa forma, o sistema da construção do gênero dar-

se, principalmente, pela sexualidade e pela sexualização dos sujeitos que definem

sexo como divisão entre o masculino e feminino, desconsiderando a ideia de que o

sexo é discursivo e cultural assim como o gênero.

      Assim, segundo Souza (1995, p. 5):




                    É importante assinalar que a categoria “gênero” tem passado por
                    significativas transformações, possibilitando-lhe assim um caráter mais
                    dinâmico. A princípio, vinculada a uma variável binária arbitrária, que
                    reforçava dicotomias rígidas, passou a ser compreendida como uma
                    categoria relacional e contextual, na tentativa de contemplar as
                    complexidades e conflitos existentes na formação dos sujeitos.
27



      A ideia de representação surge de conceitos apresentados pela mídia como

discursos associados ao jogo do poder que entende sexo como determinante do

gênero que é visto como a divisão binária entre masculino e feminino. Dessa forma,

pode-se dizer que os conceitos sobre a homossexualidade, estão ligados as práticas

sexuais, determinando que o sexo, assim como as demais ideias sobre gênero,

trabalham no sentido de produzir os sujeitos numa perspectiva heteronormativa.

      Os indivíduos são classificados em categorias que lhes são empregadas

como forma de definí-los. Guacira Louro (2004), diz que as formas que os corpos e

as marcas que os definem e descrevem culturalmente estão implicadas em relações

de poder. Dessas marcas, é indiscutível que aquelas que identificam o feminino e o

masculino (a saber, os órgãos genitais) são primordiais. Assim, pode-se dizer que os

processos de desenvolvimento podem atribuir discurso ao corpo e as práticas

discursivas produzem aspectos nos sujeitos.

      As características dos indivíduos são atribuídas a partir das interações com o

social e as práticas discursivas os classificam como discordantes ou leais às normas

empregadas. Dessa forma, Stuart Hall (2003) critica o conceito de identidade

marcadamente estabelecida, unificada e imutável, ao dizer que:




                     O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos,
                     identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de
                     nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de
                     tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas.




      No entanto, o conceito de gênero tem sido muitas vezes utilizado de forma

equivocada, apresentado não como fenômeno social, mas como derivado do sexo.

O que precisa compreender é que sexo é discursivo e não natural, assim como o

gênero, é construído pela cultura. Segundo Butler (2003) aceitar o sexo como um
28



dado natural e o gênero como um dado construído, determinado culturalmente, seria

aceitar também que o gênero expressaria uma essência do sujeito. E para Butler

preencher os indivíduos de discurso é definir por antecipação as possibilidades das

configurações. Não há nada que nos garanta que nascer mulher ou homem nos

tornará indivíduos machos ou fêmeas. O que Butler quis dizer é que não existe uma

identidade   de   gênero   por    trás   do    próprio    gênero,    as    identidades     são

performaticamente construídas pela interação cultural e social.




                     Não é nenhuma diferença particular ou qualquer tipo privilegiado de
                     diferença, mas sim uma diferencialidade primeira em função da qual tudo o
                     que se dá só se dá, necessariamente, em um regime de diferenças (e,
                     portanto, de relação com a alteridade). Em outras palavras, nada é em si
                     mesmo, tudo só existe em um processo de diferenciação. Assim, a
                     identidade não é algo, mas é efeito que se manifesta em um regime de
                     diferenças, num jogo de referências (BUTLER, 2003).




      Pode-se dizer que a diferença sexual é uma ideia determinada pela

mentalidade heterossexual como afirma Monique Wittig apud Gabriel (2008), quando

diz que diferença sexual e heterossexualidade estão ligadas e a serviço da

hierarquia entre homens e mulheres.           Assim, entende-se que formas de pensar

ainda impedem que novos conceitos surjam livres de padrões sociais de corpo, sexo

e desejo.




                     Foi uma restrição política, e aquelas que resistiram à essa restrição foram
                     acusadas de não serem mulheres de „verdade‟. Mas ficamos orgulhosas
                     disso, vendo que na acusação já existia algo como uma sombra de vitória: o
                     aval dos opressores dizendo que „mulher‟ não é algo que acontece por
                     acaso, sendo que para ser uma, precisa-se ser „verdadeira‟. Fomos, ao
                     mesmo tempo, acusadas de querermos ser homens. Hoje, essa dupla
                     acusação renovou-se no contexto do movimento de liberação das mulheres
                     por algumas feministas e também, infelizmente, por algumas lésbicas que
                     parecem ter como objetivo político se tornarem cada vez mais femininas
                     (WITTIG apud LESSA, 2007).
29



      Portanto se todo sexo for definido como uma divisão entre masculino e

feminino, toda sexualidade será preenchida dentro dos padrões socialmente

esperados. O processo de constituição do gênero acontece pela sexualidade e pela

sexualização. Segundo Foucault apud Areda (2006):




                    É pelo sexo efetivamente, ponto imaginário fixado pelo dispositivo de
                    sexualidade, que todos devem passar para ter acesso a sua própria
                    inteligibilidade (já que ele é, ao mesmo tempo, o elemento oculto e o
                    principio produtor de sentido), à totalidade de seu corpo (pois ele é uma
                    parte real e ameaçada deste corpo do qual constitui simbolicamente o todo),
                    à sua identidade (já que ele alia a força de uma pulsão à singularidade de
                    uma história).




      Assim, essa divisão no imaginário masculino e feminino, não é igualitária, mas

hierarquizada. E com isso, heterossexualiza-se os sujeitos e os corpos,

empregando-lhes discursos socialmente esperados.
30



                                                "Nossa liberdade depende da liberdade de
                                             imprensa, e ela não pode ser limitada sem ser
                                                                                  perdida."
                                                                        (Thomas Jefferson)




2. O silêncio no processo comunicativo das mídias




      O sistema midiático é formado por meios de comunicação que são

estruturados exaustivamente para fins políticos das empresas. Segundo Gentilli

(2007), é preciso compreender que jornais são instituições da sociedade civil com

uma função decisiva: “produzir informações para a cidadania”. Apesar disso, nota-se

que os jornais têm apresentado de forma parcial a realidade, pois antes de

divulgarem   as   informações,    estabelecem    o   que    será    favorecido.    Assim,

compreende-se que as mídias são instrumentos controlados pelos cidadãos, mais

especificamente pelos que integram os grupos dominantes, para construir métodos

de excluir outros sujeitos por meio dos discursos, principalmente aqueles que

segundo a hierarquia do poder, infringem as regras. Dessa forma, as classes

dominantes desenvolvem processos internos de controle social por meio do discurso

e estabelecem uma divisão social a partir das normas, códigos e símbolos

empregados como socialmente normais e esperados para o bom desempenho

econômico, social e político.

      Os grupos que detêm o poder dos meios de comunicação impõem certas

regras e limites. Assim, algumas das regiões do discurso não são igualmente

acessíveis e compreendidas, por haver um jogo ambíguo de segredo e divulgação.

Dessa forma, percebe-se que ocorre uma atuação negativa entre a comunicação e a

troca, pelo fato de se constituir a partir desse jogo um sistema de exclusão.
31



      O poder das regras heteronormativas nos faz pensar de forma homogênea e

tenta nos fazer perceber essa homogeneidade, individualizando os grupos e não

permitindo desvios. Dessa forma, a disciplina, tenta regular as multiplicidades do

indivíduo, definindo os gestos, comportamentos, as circunstâncias e todo o conjunto

de signos que devem acompanhar o discurso, além de determinar o que um

indivíduo deve ou não fazer.

      No discurso midiático, nota-se que existe um esquema comunicacional

pensado e estruturado para satisfazer o uso do poder dos dominantes e estabelecer

um sistema de classificação que determine e perpetue as normas produzidas pela

heteronormatividade. Assim, um jogo de exclusão – em que os sujeitos são taxados

por meio de discursos pejorativos, é criado para que os desfavorecidos construam

um sentimento de culpa, propício a uma conduta de isolamento individual e que irá

obedecer à hierarquia.

      Segundo Foucault apud Gentilli (2007), soberania e disciplina são

constitutivas dos mecanismos gerais de poder na sociedade; não há exercício do

poder sem uma economia dos discursos que estão em funcionamento neste poder.

Somos submetidos, e somente pode-se exercer o poder mediante a produção dos

discursos utilizados como verdade.

      Acredita-se que a omissão da verdade tem sido muito extensiva pelos meios

de comunicação, pois nota-se que eles ainda disseminam informações que cultivam

paradigmas favoráveis a manutenção de seu poder alienante e que impossibilitam o

surgimento de novas ideias. Há no sistema comunicacional das mídias uma negação

e certo silêncio em conduzir assuntos que são considerados discordantes do

socialmente esperado. Dessa forma, compreende-se que os veículos de
32



comunicação estigmatizam os indivíduos desfavorecidos, quando se utilizam de

ideias que reforçam os estereótipos que mantém um sistema de exclusão.

      O silêncio presente no sistema midiático estabelece um aumento significativo

da desigualdade social, percebendo que a omissão de conteúdos é tratada como

normal pela classe dominante e como a forma de manter a hierarquização dos

sujeitos. Dessa forma, compreende-se que as informações a que os indivíduos têm

acesso, são filtradas pelos meios de comunicação e classificadas como favoráveis

ou não, com referência aos padrões sociais.

      Os   meios   de   comunicação,    ao    produzirem   imagens   estereotipadas

negativamente dos sujeitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e

transexuais), também fortalecem a intolerância e a homofobia/lesbofobia.

      Segundo Areda apud Dodsworth (2007) o discurso heteronormativo, esta

assim chamada “matriz hegemônica de inteligibilidade”, tem o poder de penetrar até

mesmo o universo gay, atravessando todas as relações e adequando tudo o que

encontra a uma lógica hegemônica. De acordo com Barroso (2008), estes discursos

exprimem, portanto, práticas culturais forjadas no interior de relações de poder.

Militantes do movimento homossexual brasileiro apontam contradições decisivas no

modo como os homossexuais são representados pela mídia hegemônica no Brasil,

segundo Barroso (2008). Os estudos gays e lésbicos destacam os discursos da

imprensa sensacionalista, principalmente da televisão e do cinema, como

emblemáticos das representações midiáticas a respeito da homossexualidade.

      Na Bahia, as estatísticas são alarmantes. Segundo dados do GGB – Grupo

Gay da Bahia, o preconceito aliado à falta de políticas públicas é o que estaria

contribuindo para a perpetuação da violência. A violência contra homossexuais tem
33



crescido muito. De acordo com o GGB um gay nordestino corre 84% mais risco de

sofrer qualquer violência do que no Sudeste ou no Sul1.

       No caso da existência lésbica, a intolerância dos meios de comunicação tem

se revelado de forma mais contundente. Por meio de séculos repousou-se no

silêncio, na mudez, sem fazer referência. Seguramente a supressão deste assunto

não se deu por ingenuidade ou esquecimento, mas, encobrir a vivência lésbica

consiste em manter a autoestima das lésbicas baixa2. A lesbofobia também é

alimentada pelo silêncio midiático, pois os meios de comunicação ao omitirem-se

reforçam a invisibilidade dessas mulheres por desejarem sexualmente outras

mulheres, contradizendo a ordem androcêntrica e heterossexual do mundo que

determina que a mulher deva satisfazer os desejos do homem.

       O silêncio só aumenta as formas de preconceitos. Segundo informações do

blog Lésbicas Feministas – LBL – RS, o ambiente escolar também tem sido um local

de resistência à diversidade, ou reconhecimento das diferenças. De acordo com o

sítio, pesquisas realizadas em 500 escolas públicas em maio de 2009, pelo Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP e Fundação

Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE, de 55% a 72% dos estudantes,

professores, diretores e profissionais de educação corroboram com a resistência à

diversidade através do indicador “distância social” 3.

       Os meios de comunicação, enquanto instrumentos de poder, produzem

seletivamente a realidade, pois antes de divulgarem qualquer tipo de informação

determinam o que será favorecido. Deste modo, não são imparciais, e a longo prazo

contribuem para a construção de conceitos e conduta.


1
  Informações colhidas no sítio do GGB – Grupo Gay da Bahia, disponível em: http://www.ggb.org.br,
acesso em 19 de janeiro de 2010.
2
  Informações colhidas no sítio http://gonline.uol.com.br, acesso em 19 de janeiro de 2010.
3
  Informações extraídas no sítio http://lblrs.blogspot.com, acesso em 19 de janeiro de 2010.
34



       Dessa forma, percebe-se que mesmo com a construção de programas, como

Brasil sem Homofobia4, o crescimento da homofobia/lesbofobia é notável e

disseminado pelo sistema midiático que reforça os discursos heteronormativos,

apresentando-o como norma e padrão de corpo, gênero, sexo e desejo.




2.1. O território do sisal: locus da luta pela cidadania




       A partir do silêncio percebido nos meios de comunicação, principalmente os

massivos, busca-se entender como acontece a omissão de conteúdos no sistema

midiático do território do sisal, uma vez que neste espaço a luta pela democratização

é constante.

       O Território do Sisal, situado na região sisaleira da Bahia, apresenta consigo

uma história de organização dos movimentos sociais e de articulação de propostas

voltadas para o desenvolvimento do meio rural, tendo como objetivo desenvolver a

agricultura familiar, que tem como elemento econômico a fibra do sisal.

       O sisal, de acordo Silva (2001), foi introduzido na Bahia no início do século

XX, mas só se expande como importante lavoura no final da década de 30, graças

às ações do Governo do Estado como uma alternativa para o desenvolvimento de

regiões semiáridas. Sendo um elemento significante nas mudanças do território do

sisal, tornou-se símbolo, principalmente, das profundas transformações históricas,

sociais e culturais. Com uma abrangência de 21.256,50 quilômetros quadrados,




4
 Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra LGBT e de Promoção da Cidadania
Homossexual.
35



segundo dados do SIT - Sistema de Informações Territoriais5, o território do sisal é

composto por 20 municípios: Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção,

Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas,

Quijingue, Retirolândia, Santaluz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia, Tucano e

Valente, conforme Figura 1. A população total do território é de 568.600 habitantes,

dos quais 337.480 vivem na área rural, o que corresponde a 59,35% do total. Com,

aproximadamente 64.350 agricultores familiares, 2.344 famílias assentadas, 1

comunidade quilombolas e 1 terra indígena                      reconhecida, seu Índice de

Desenvolvimento Humano - IDH médio é 0,606.




                                                 Figura 1.
                                       Bahia – divisão territorial




5
  Sistema de Informações Territoriais que disponibiliza dados sobre os Territórios Rurais organizados
por tema, tais como: Demografia e Aspectos Populacionais, Economia, Saúde, Educação e Outros.
Disponível em: http://sit.mda.gov.br, acessado dia 12 de outubro de 2009.
6
  Informações extraídas do Portal do Ministério do Desenvolvimento Agrário sítio que disponibiliza
informações sobre o desenvolvimento agrário dos territórios da cidadania. Disponível em:
http://www.territoriosdacidadania.gov.br/dotlrn/clubs/territriosrurais/dosisalba/one-community?pagen
um=0, acessado em 09 de janeiro de 2010.
36




   FONTE: SIT. Disponível em: <http://serv-sdt-1.mda.gov.br>. Acesso em: 15 de abril de 2008.


      O território do sisal está localizado na área semiárida da Bahia, e é

caracterizado pelo clima seco, com irregular distribuição pluviométrica e sua

paisagem é predominantemente densa, de vegetação de caatinga. Sua economia

está estruturada na pecuária de pequeno porte e na agricultura de subsistência,

cultivando-se em grande escala o sisal. Esse território é marcado pela pobreza e

miséria da população, e pela descontinuidade de políticas públicas no que se refere

à educação, saúde e geração de renda. Para Silva (2001), o território pode

expressar um complexo e dinâmico conjunto de relações sócioeconômicas, culturais

e políticas, historicamente desenvolvidas e contextualmente espacializadas,

incluindo sua perspectiva ambiental (p. 1).

      Sendo um território caracterizado pelo desenvolvimento agrário, sua

população é multicultural e caracterizada por lutar por direitos negados às classes

desfavorecidas. Essa população possui um sistema de comunicação muito variado,
37



com destaque ao rádio como o veículo de comunicação de maior expressividade, no

território. As rádios comunitárias são responsáveis em desenvolver uma cobertura

de massiva, abrangendo muitos grupos sociais. No território ainda há a cobertura de

jornais impressos e sítios, que veiculam informações regionais e muitas vezes

nacionais.

      Neste território há a presença de alguns movimentos sociais, como rurais e

movimentos de Mulheres, que não existiram sempre, nem em toda parte, mas que

possuem uma história de expressão de reivindicações, principalmente no território

do sisal. Segundo Alonso (2009) esses movimentos sociais surgem da sociedade

civil, e são constituídos por indivíduos que não querem governar o mundo, nem o

Estado, mas que possuem ideais coletivos, e que são portadores de um projeto

cultural, que busca uma democratização social ao invés de uma democratização

política. Dessa forma, os movimentos sociais lutam por questões redistributivas, mas

engajados numa luta emblemática em torno de melhores condições de vida. Assim,

poderiam ser entendidos como “subculturas defensivas” que lutam contra a

colonização do mundo pela classe dominante. Segundo Gohn apud Siqueira (2009),

movimentos sociais:




                      são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais
                      pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas
                      demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil.
                      Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e
                      problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações
                      desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade
                      coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade
                      decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da
                      base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo.
38



      Assim, no território do sisal os agentes sociais preocupam-se em começar a

batalhar por transformações que reconhecem enquanto identidade coletiva, ou seja,

ideais coletivos, com a possibilidade de organizações, estruturadas em espaços de

discussões sobre políticas públicas que promovam mudanças em busca de um

desenvolvimento mais igualitário.

      Habermas apud Hamel (2009) assinala para a precisão de se garantir aos

cidadãos direitos de comunicação e direitos de participação política tendo em vista,

até mesmo, a própria legalidade do processo legislativo, explicando que,




                     na medida em que os direitos de comunicação e de participação política são
                     constitutivos para um processo de legislação eficiente do ponto de vista da
                     legitimação, esses direitos subjetivos não podem ser tidos como os de
                     sujeitos jurídicos privados e isolados: eles têm que ser apreendidos no
                     enfoque de participantes orientados pelo entendimento, que se encontram
                     numa prática intersubjetiva de entendimento.




      Os movimentos sociais do território do sisal buscam desenvolver ações

pensadas e baseadas em propostas que amparem a população e lhes tragam

benefícios no que tange o acesso à comunicação e a vida social mais justa.

      Portanto, o território do sisal é marcado como um espaço de importantes lutas

sociais em vistas de melhorias para seus habitantes, e valorizado pela diversidade

cultural que proporciona uma visão mais ampla das ideias que norteiam os

estereótipos que caracterizam a região como lugar do sertanejo, do povo humilde.
39



2.2. O sistema comunicativo do território do sisal




      A informação é um dos fundamentais bens, direitos e instrumentos da

sociedade para entender e se mobilizar na realidade. E por isso, necessitaria circular

atendendo exatamente ao interesse público a que precisa estar sujeita em

decorrência destas suas características e emprego social. Porém, sua disseminação

acaba sendo prioridade de alguns em função da promoção e fortalecimento de seus

valores. Dessa forma, o ideal seria haver uma comunicação democrática e que

realmente expressassem os interesses da sociedade em vista da circulação e

pluralidade da informação, em termos de não existir desviados tanto da recepção

quanto da transmissão.

      Os meios de comunicação comerciais, em especial as rádios, entendidos

como instrumentos dos grupos hegemônicos e que não desenvolvem propostas

populares, mas que atendem aos interesses dos dominantes, é desenvolvido

principalmente pelas emissoras que detêm as maiores potências. As rádios

comerciais apresentam-se como ferramentas de poder e de exclusão social, sendo

meios de comunicação regidos pelos discursos heteronormativos que antes de

divulgar informações estabelecem o que será beneficiado.

      Os meios de comunicação popular, com ênfase nas rádios por serem mais

acessíveis e encontrar fácil aceitação, apresentam-se como estratégias de re-

afirmação dos significados locais, e motivação emancipatória do sertão. Para Gomes

(2006, p. 4) essa ação definir-se-ia como:
40



                     A comunicação convertida em elemento de disputa na re-significação e
                     valorização das identidades locais, na constituição de redes e mobilização
                     de agentes sociais, capaz de promover a circulação e difusão de
                     informações de interesses comunitários.




      Dessa forma, os processos comunicativos se configuram como uma

ferramenta importante para o desenvolvimento estratégico do território do sisal.

      No território do sisal, o rádio imperou como aparelho privilegiado de acesso à

informação, tornando-se um companheiro na vida das pessoas. As rádios

comunitárias surgem no final dos anos 90 e início de 2000, como ações dos

movimentos sociais, e como resposta a apropriação dos grupos hegemônicos dos

meios de comunicação do território. Sendo assim, as rádios comunitárias emergem

como ferramentas para desenvolver, sendo novos instrumentos alternativos à

inserção dos grupos sociais nas práticas sociais e a construírem experiências

comunitárias de comunicação. Contudo, muitos grupos hegemônicos, como políticos

e emissoras comerciais, reagiram de forma agressiva, desenvolvendo perseguição e

marginalização das rádios comunitárias. Com isso, muitas rádios comunitárias foram

fechadas    pela   ação     repressiva      da    ANATEL        (Agência      Nacional      de

Telecominucações) e da Polícia Federal.

      Pensando em desenvolver uma comunicação justa e solidária, os movimentos

sociais elaboram projetos que proporcionem suporte organizacional e assessoria na

construção de uma política cultural comunicativa para o território. Assim, desdobram-

se a criação de entidades regionais que fortaleçam os movimentos, como a Agência

Mandacaru de Comunicação e Cultura (AMAC), com o intuito de desempenhar uma

produção comunicacional para os movimentos locais, além da ABRAÇO Sisal

(Associação Brasileira de Rádios Comunitárias) e o curso de Comunicação Social no

Campus XIV da UNEB (Universidade do Estado da Bahia) que surgiu com o objetivo
41



de proporcionar aos movimentos sociais participação igualitária e mais funcional, no

que diz respeito a construção social e para atender às necessidades desses

movimentos em lutar pela democratização da comunicação. Compreende-se que o

apoio de entidades é um elemento fundamental no sistema comunicativo do território

do sisal, que promovem a inserção da comunicação como estratégia da política de

desenvolvimento territorial.

       O sistema midiático do território do sisal é composto por uma diversidade de

mídias, conforme Quadro 1, que corroboram para a disparidade de informações que

parcialmente reproduzem a sociedade, em vista do controle hegemônico que ainda

prevalece sobre os meios de comunicação que inviabilizam sujeitos e produzem

discursos heteronormativos.

       Portanto, o sistema comunicacional pensado pelos movimentos sociais,

emerge da proposta de viabilizar um projeto de comunicação, com a consolidação

de grupos como o CODES sisal (Conselho de Desenvolvimento Sustentável do

Território do Sisal), que valorize e defenda a ideia da população como produtora de

conhecimento.




                                             Quadro 1.

                     Meios/veículos de comunicação do território do sisal7

MEIOS /VEÍCULOS DE                                                        LOCAL DE
                             CONTEÚDOS/PROGRAMAÇÃO
  COMUNICAÇÃO.                                                            ATUAÇÃO
                             5:00 – Forró Repente – música             Conceição do Coité
        Sisal AM
                             sertaneja.

7
 Mapeamento realizado no território do sisal com os responsáveis pelos meios de comunicação, no
período de 12 de setembro a 23 de outubro de 2009.
42



                          7:00 – Jornal da Sisal - noticiário
                          8:30 – Show da Sisal – música e
                          informação
                          10:00 – Estação Mulher –
                          música e informação
                          12:00 – MAX Esporte notícias
                          esportivas
                          13:30 – Paradão 900 – música
                          popular
                          15:00 – Show do Moreno –
                          música popular
                          16:00 – Forrobodó - forró
                          18:30 – Sindicatos - informativos
                          19:00 - A Voz do Brasil
                          20:00 – Noite Sertaneja – música
                          sertaneja
                          22:00 – Encerramento
                          5:00 - Alô Sertão
                          7:00 - Programa de Notícias
                          9:00 - Onda Livre
                          12:00 - FMPB
                          14:00 - Tarde Sabiá
      Sabiá FM            16:00 - Forró de todos nós
                          18:00 - Comendo a Bola
                          18:30 - Jornal da Educadora
                          19:00 - A Voz do Brasil
                          20:00 - Noite Sabiá
                          22:00 – Encerramento
                          Aconteceu
                          Coiteense
                          Colunistas
  Sítio Informe Coité
                          Sobre a cidade
                          Utilidades
                          Rede Social
                          Agricultura
                          Artigos
                          Bahia
                          Beleza
                          Brasil
                          Ciência e Saúde
                          Concursos e Emprego
                          Cultura
Agência Calila Notícias
                          Curiosidades
                          Economia e Negócios
                          Esporte
                          Eventos
                          Fatos Policiais
                          Geral
                          Histórias de Vida
                          Loterias
43



                      Mulher
                      Mundo
                      Podcast
                      Política
                      Ponto do Cafezinho
                      Religião
                      Sociais
                      Tecnologia
                      Últimas Notícias
                      Vestibular e Educação
                      + Municípios
                      Registrados
                      Fotos
                      Programa da Semana
                      Eu e o Jegue
                      Aió de Cangaia
                      Eu sou a música
                      Perfis do Semi-árido
                      Ronda 24
                      FofoCangaia
                      Sintonia do amor
 Sítio Na Cangaia     Pirracinha do João
                      Programas de Rádio
                      Notícias em áudio
                      Esporte em áudio
                      Músicas
                      Poesias
                      Entrevistas
                      Curiosidades
                      Spots e chamadas
                      Ponto de Opinião
                      Personalidade de Fibra
                      Empreendimentos e Imobiliários
 Jornal impresso –    Indicações Literárias
  Correio do Mês      Divertimentos
                      Hoje em Dia
                      Correio Social
                      Correio Esportes
                                                         Conceição do Coité
                      Cultura
                      Política
Jornal impresso – O   Esporte
       Sertão         Educação
                      Página Policial
                      Saúde e Informações
                      Jornalismo esportivo – jogos,
Sítio Esporte Sisal
                      história do futebol.
                      6:00 às 7:00 – Manhã Sertaneja
                      – músicas sertanejas.                   Serrinha
    Morena FM
                      7:00 às 8:00 – Vale Apena Ouvir
                      de Novo – as mais tocadas, flash
44



                          back.
                          8:00 às 10:00 Bom Dia Alegria e
                          INFOFOCA – músicas de todos
                          os ritmos.
                          10:00 às 11:00 – TOP 3 –
                          participação do ouvinte.
                          11:00 às 12:00 – Sucessos de
                          Novela – as melhores músicas
                          que passaram nas novelas.
                          12:00 às 13:00 – Emoções 98 –
                          músicas         nacionais       e
                          internacionais.
                          13:00 às 15:00 – 98 Graus - as
                          melhores músicas e informações
                          gerais sobre esporte.
                          15:00 às 17:00 – Desafio Morena
                          FM – teste seus conhecimentos
                          musicais.
                          17:00 às 18:00 – Sucessos
                          Morena FM – as melhores mais
                          pedidas.
                          18:00 às 19:00 – Brega Total e
                          Tropa do Riso – músicas no
                          estilo arrocha, seresta e quadro
                          com a galera do riso.
                          20:00 às 22:00 – Show da Noite
                          – seleção das melhores músicas.
                          22:00 às 24:00 – Love Hits e
                          Rádio Recado – as músicas que
                          marcaram, recadinho do ouvinte.
                          Jornalismo        esportivo     –
     Sítio Esporte
                          informações       gerais    sobre
     Comunitário
                          esporte.
                          Jornalismo        regional      –
Blog do Clériston Silva
                          informações sobre fatos locais.
                          Jornalismo      –     informações
 Sítio Notícias do Dia
                          regionais e nacionais.
Sítio Nos Bastidores da   Jornalismo      –     informações
        Cidade            regionais e nacionais.
                          5:00 às 6:00 – Despertar
                          Regional
                          6:00 às 6:30 – Programa O
                          Guardião
                          6:30 às 9:00 – Passando a limpo
     Regional AM          9:00 às 11:30 – Mulher em
                          Movimento
                          11:30 às 12:00 – Madame Geilza
                          12:00 às 13:00 – Regional e os
                          Esportes
                          13:00 às 16:00 – Boa Tarde
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                 Cidade
                 16:00 às 17:00 – Programa
                 Igreja Deus e Amor
                 17:00 às 18:00 – Forró Regional
                 18:00 às 19:00 – Igreja
                 19:00 às 20:00 – Voz do Brasil
                 6:30 às 7:00 – Os Astros em seu
                 Caminho
                 7:00 às 9:00 – Jornal da Serrinha
                 Hoje
                 9:00 às 10:00 – Jornal da Região
                 10:00 às 11:00 – Espaço Aberto
                 11:00 às 12:00 – Sindicato dos
                 Trabalhadores
                 12:00 às 13:00 – Jornal dos
                 Esportes
                 13:00 às 14:30 – Jornal das
                 Cidades
                 14:30 às 15:00 – Poder
                 Sobrenatural da Fé
Continental AM
                 15:00 às 16:00 – Jornal da
                 Continental
                 16:00 às 17:00 – Poder da Fé
                 17:00 às 18:00 – Revista
                 Continental
                 18:00 às 19:00 – Igreja Viva
                 19:00 às 20:00 – Voz do Brasil
                 20:00 às 20:30 – Esporte
                 Comunitário
                 20:30 às 21:00 – Continental
                 Dentro da Noite
                 21:00 às 22:00 – No Terreiro da
                 Fazenda
                 22:00 às 23:00 – Show da Fé
                 6:00    -    Bom    dia    alegria
                 (sertanejo).
                 7:00 - Momento informativo.
                 8:00 - Show da manhã - toca
                 musicas variadas.
                 9:00 - Balada tropical - musicas
                 variadas, horóscopo, dicas de
                 novela, dicas de saúde.              Valente
 Tropical FM
                 12:00 - Tropical nos esportes.
                 13:00 - Tarde tropical - música
                 variada,     dicas   de    saúde,
                 entrevistas quando tem...
                 16:00 – As campeãs do dia -
                 toca as mais pedidas e tocadas
                 durante a programação.
                 17:00 - A zona do brega.
46



                    18:00 - Programa da igreja
                    católica - despertando a fé.
                    19:00 - Programação - nesse
                    horário não tem locutor, ficam
                    tocando      músicas      variadas,
                    programadas no computador,
                    essa programação fica até as
                    22h ou 23h e depois a rádio sai
                    do ar e retorna as 6:00.
                    6:00 às 7:30 – Vozes da Terra –
                    talentos da terra, sertanejo, forró
                    pé de serra e rádios notícias.
                    7:30 às 11:00 – Ligação Direta –
                    sucessos, MPB, flash back,
                    participação do ouvinte no ar e
                    rádio notícias.
                    11:00 às 11:30 – Conversa da
                    Gente - produção de acordo
                    linha da rádio.
                    11:30 às 13:00 – Rádio
                    Comunidade – enfoque para
                    notícias locais e regionais.
                    13:00 às 14:00 – FMPB –
                    clássicos.
                    14:00 às 17:00 – Sucessos da
                    Valente FM – só sucessos do
                    momento.
   Valente FM
                    17:00 às 18:00 – Pra Matar a
                    Saudade – românticas dos anos
                    70/90 e popular light.
                    18:00 às 19:00 – Bola na Rede –
                    locais, regionais, estaduais e
                    nacionais.
                    19:00 às 20:00 – Voz do Brasil –
                    notícias dos Três Poderes.
                    20:00 às 22:00 – Noite de
                    Sucessos – sucessos diversos,
                    flash back, e participação do
                    ouvinte no ar.
                    22:00 às 24:00 – Românticas em
                    Alta Temperatura – românticas
                    locais e nacionais.
                    00:00 às 6:00 – Esperando o
                    Amanhecer         –     românticas
                    internacionais.
                    Experiências
                    Aió de Notícias                       Retirolândia
Agência Mandacaru
                    Região Sisaleira
                    Últimas Notícias
   Santaluz FM      5:00 às 7:00 – Amanhecer no            Santaluz
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             Sertão – músicas sertanejas,
             informações agrícolas.
             7:00 às 8:00 – Despertar com
             Cristo – músicas gospel.
             8:00 às 11:00 – Manhã Legal –
             músicas,           entretenimento,
             momento         infantil,    flash
             informativos, músicas variadas.
             11:00 às 12:00 – MPB
             12:00 às 13:00 – Rádio Notícias
             – Jornalismo.
             13:00 às 14:00 – Programa
             Girando a Bola – notícias sobre
             esporte.
             14:00 às 16:00 – Tarde da Gente
             – participação do ouvinte,
             culinária e músicas.
             16:00 às 17:30 – Forró Total –
             pé de serra, mecânico e
             misturado
             17:30 às 18:00 – Programa das
             Entidades
             18:00 às 19:00 – Programa da
             Igreja Católica
             19:00 às 20:00 – A Voz do
             Brasil
             20:00 às 22:00 Super noite –
             músicas variadas
             22:00 às 00:00 – Momento de
             romantismo         –      poesias,
             recadinhos e músicas.
             06:00 às 7:00 – Orvalho
             Sertanejo.
             07:00 às 08:30 – Patrulha da
             Cidade.
             8:30 às 10:30 – Manhã de
             Sucesso.
             10:30 às 12:00 – Almoçando
             com Música.
             12:00 às 13:00 – Associação em
                                                  Araci
Cultura FM   Destaque           –        Vários
             Representantes.
             13:00 às 14:00 – Resenha
             Esportiva.
             14:00 às 16:00 – Seu signo seu
             sucesso.
             16:00 às 18:00 – Ligação.
             18:00 às 19:00 – Brega Legal.
             19:00 às 20: 00 – Voz do Brasil
             20:00 às 22:00 – Emoções
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               Cultura FM;
               Sábado
               06:00 às 07:00 - Abrindo o Baú
               Musical.
               7:00 às 9:00 – Debate em
               Destaque.
               9:00 às 10:30 – Juventude Ativa.
               10:30 às 12:00 – Super
               Seqüência.
               12:00 às 15:00 – As mais
               pedidas        da       semana.
               15:00 às 17:00 – Conexão
               Direta.
               17:00 às 19:00 – Clima de Festa.
               19:00 às 22:00 – Dance
               Mania/Night Love.
               6:00 às 9:00 – amanhecer na
               roça.
               9:00 às 11:00 – Antonio
               11:00 às 12:00 – Super Manhã e
               Bola rolando.
               12:00 às 14:00 – A missa da
 Riacho FM
               Graça.
               14:00 às 18:00 – Show do
               Ouvinte.
               18:00 às 19:00 – A Hora Santa.
               19:00 às 20:00 – A Voz do
               Brasil.
               20:00 às 22:00 – Fim de noite.
               5:30 às 22:00 – Musical
Baianinha FM   Sertanejo     /     Esporte     /   São Domingos
               Informativos.
               5:00 às 7:00 - Bom dia Sertão
               8:00 - Nossa Missão | Antônio
               8:00 às 11:00 - Show da Manhã
               11:00 às 12:00 - Sequência do
               Show da Manhã
               12:00 às 14:00 - Momento
               Popular
Cruzeiro FM    14:00 às 16:30 - Super Sintonia
               16:30 às 17:30 - Forrozão da          Tucano
               Cruzeiro
               17:30 às 19:00 - Arquivo da
               Cruzeiro
               19:00 às 20:00 - Voz do Brasil
               20:00 às 22:00 - Mistura
               Musical22:00 às 00:00 - Show
               Love
 Tucano FM     5:00 Às 7:00 Da Manhã – Sertão
               Maravilha Tucano Fm
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                    8:00 Às 12:00 Bom Dia Cidade
                    Tucano Fm
                    12:30 Às 13:00 O Povo No
                    Rádio
                    13:00 Às 15:00 Tarde Legal
                    15:00     Às   17:00    Atividade
                    Musical
                    17:00 Às 18:00 É Du Forro
                    19:00 Às 20:00 A Voz Do Brasil
                    20:00 Às 22:00 Momento De
                    Amor Tucano FM
                    22:00 Às 23:00 Programa
                    Palavra De Esperança
                    Programação Aos Sábados
                    5:00 Às 8:00 Programa Som Da
                    Terra
                    8:00 Às 12:00 Festa Da Manhã
                    Tucano FM
                    12: Às 13:00 Especial Tucano
                    FM
                    13:00 Às 16:00 Zorra Geral
                    Tucano FM
                    16:00 Às 17:00 Programa
                    Aliança Com Deus
                    Programação Aos Domingos
                    7:00 As 08:00 Momento Do Rei
                    Com Roberto Carlos
                    08:00 As 12:00 Festa Da Manhã
                    12:00 Às 13:00 Especial Tucano
                    FM
                    13:00 Às 16:00 Zorra Geral
                    16:00 Às 17:00 Programa
                    Aliança Com Deus
                    6:00 às 8:00 – Encanto da Terra
                    8:00 às 12:00 – Programa Rádio
                    Ativo
                    12:00 às 13:00 – Programa
                    destinados as entidades
                    13:00 às 14:00 – 104 MPB
                    14:00 às 17:00 – Sintonia
Independente FM
                    Independente
                    17:00 às 18:00 No Terreiro da       Ichu
                    Fazenda
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                    Agricultores
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                    20:00 às 22:00 – Bons Tempos
                    Noticiário em geral sobre Ichu –
Blog André Nilton
                    informações     sobre    esporte,
  Comunicador
                    religião, educação, saúde.
50



                         5:30 ás 8:00 – Raízes do Sertão
                         8:00 às 10:00 – Mega Mix
                         10:00 às 12:00 – Controle
                         Remoto
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                         Sucesso
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                         Piquaraçá
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                         Convidados
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                         20:00 às 22:00 – Show da Noite
                         22:00 às 00:00 – Noite do Prazer




      Os meios de comunicação listados no quadro acima possuem uma

diversidade ampla de conteúdos compreendidos entre os gêneros humorísticos,

cultural e jornalístico. O contexto presente na grade de programação desses meios

de comunicação, todos pertencentes ao território do sisal, constitui-se em

informações regionais e nacionais, porém, omissa de conteúdos discordante dos

padrões sociais heterossexuais. Ressalvando o sítio Na Cangaia, uma voz que soa

como veículo que utiliza conteúdos homossexuais que fortalece a ideia de

homossexualidade como identidade não “normal”. Assim, enfatizando o gênero

jornalístico, percebe-se que o Na Cangaia, por meio do quadro Ronda 24, fortalece

visões heteronormativas de que os padrões sociais devem estar associados às

regras da oposição ativo/passivo, devendo o feminino estar disposto ao masculino e

vice-versa.
51



2.3. O silêncio presente no território do sisal




      No território do sisal, os meios de comunicação como rádio, sítios e meios

impressos como jornais, são fontes importantes de informação. Utilizando-se como

ferramentas de interação com a comunidade, os meios de comunicação tornam-se

elementos presentes na vida social dos indivíduos.

      Os movimentos sociais potencializam sua atuação e conquistam espaço na

tentativa de construir processos comunicativos diferenciados. Assim, para elaborar

as estratégias na área comunicacional do território, foi criado o Grupo Temático de

Comunicação GT-Com, que reunia um grupo mais específico e direcionado a

desenhar as propostas nesta área, segundo Gomes (2006). Esse GT de

Comunicação era composto por representantes das rádios comunitárias (ABRAÇO –

Sisal), da Agência Mandacaru, e das organizações como MOC e APAEB Valente,

além do Pólo Sindical e da Universidade do Estadual da Bahia, Campus XIV.

      Emerge daí um processo de comunicação que se apresentava numa

configuração mais extensa que o padrão antigo emissor-receptor. Os meios de

comunicação do território do sisal apresentam-se como instrumentos na luta pelo

exercício da cidadania e pela democratização da comunicação. Através de veículos

de comunicação como sítios, os meios interagem com a sociedade com informações

que satisfazem muitas vezes as necessidades de seu idealizador. Em outras

oportunidades, os meios de comunicação são instrumentos da luta traçada pelos

movimentos sociais na busca de ideais que valorizem os direitos de sua população.

Muitas rádios veiculam apenas o que lhe traz ibope, ou ainda aquilo que é do

interesse de uma determinada camada da sociedade. Alguns assuntos são omitidos
52



pelas mídias radiofônicas, ou entendidas como conteúdos desinteressantes ao

público local, por se tratar de questões que a classe dominante considera como

questões perturbadoras dos discursos que retroalimentam os padrões sociais.

      Dessa forma, surgia uma midiatização das informações que deveriam ser

apresentadas, e assim, o sistema comunicacional pode ser entendido como um

modelo de mutismo, em que a sociedade passa a ser silenciosa, onde sua voz não é

um som autêntico, mas uma imitação dos comandos do opressor. Segundo Freire

apud Moreira (2007), o mutismo seria, portanto, constituinte de um sistema de

comunicação pautado em mecanismos de exclusão e opressão.

      O sistema comunicativo dos meios de comunicação do território do sisal

estigmatiza grupos que, muitas vezes, não estabelecem um contato direto,

reforçando-os como desinteressante ao contexto social. Dessa forma, o sistema

midiático silencia-se em tratar de assuntos que infringem as regras heteronormativas

ou que desvalorizam a hierarquia do poder usado para estigmatizar outros grupos

como irregulares.

      Os meios de comunicação são, dessa forma, estruturados para atender os

interesses de uma classe que hierarquiza a sociedade e dissemina suas normas

como únicas e aceitáveis, desconsiderando outros grupos e construindo discursos

que criarão estereótipos negativos sobre esses indivíduos desfavorecidos.

      Os meios de comunicação que constituem o sistema midiático do território do

sisal consistem em rádios, jornais impressos e sites. Estes meios trabalham com

programação musical; cultural – apresentando informações regionais e nacionais

aos agricultores e entidades religiosas; esportiva; educacional e jornalística –

expondo conteúdos informativos sobre o território para a sociedade. Nota-se a partir

desse contexto comunicacional que boa parte dos meios de comunicação do
53



território do sisal silencia-se em lidar com temáticas que desfavoreçam os grupos

hegemônicos, em vista de seus padrões sociais de vida, e não se percebe na

programação da maioria delas conteúdos homossexuais, por exemplo, nem de

referência à homossexualidade. Dessa forma, fazendo um recorte ao gênero

jornalístico, o sítio Na Cangaia, destaca-se como um exemplo de veículo de

comunicação que apresenta conteúdos de referência à homossexualidade, sendo o

instrumento de comunicação que possui em sua programação uma imagem

homossexual, porém a traz através dos traços pejorativos do estereotipo do

homossexual.

      Portanto, os meios de comunicação priorizam como artifícios evidentes de

desordem os discursos que desvalorizam as ideias empregadas como verdades pela

heteronormatividade.
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Gênero e midia a representação da homossexualidade nos meios de comunicação do território do sisal

  • 1. 0 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB AIRAM DA SILVA COSTA GÊNERO E MÍDIA: A REPRESENTAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO TERRITÓRIO DO SISAL Conceição do Coité – BA 2010
  • 2. 1 Airam da Silva Costa GÊNERO E MÍDIA: A REPRESENTAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO TERRITÓRIO DO SISAL Trabalho de conclusão apresentado ao curso de Comunicação Social – Habilitação em Rádio e TV, da Universidade do Estado da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Comunicação, sob a orientação da Profª Esp. Vilbégina Monteiro dos Santos e co-orientação da Profª Ms. Zuleide Paiva da Silva. Conceição do Coité – BA 2010
  • 3. 2 Airam da Silva Costa GÊNERO E MÍDIA: A REPRESENTAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO TERRITÓRIO DO SISAL Trabalho de conclusão apresentado ao curso de Comunicação Social – Rádio e TV, da Universidade do Estado da Bahia, sob a orientação da Profª Esp. Vilbégina Monteiro dos Santos e co- orientação da Profª Ms. Zuleide Paiva da Silva. Data: _________________________________________________ Resultado: _____________________________________________ BANCA EXAMINADORA Profª. (orientadora): Vilbégina Monteiro dos Santos Assinatura: _____________________________________________ Profª. (co-orientadora): Zuleide Paiva da Silva Assinatura: _____________________________________________ Profª. : Carolina Ruiz de Macêdo Assinatura: _____________________________________________
  • 4. 3 DEDICATÓRIA Dedico primeiramente a Deus – por me fazer este ser humano que vos fala - o que seria de mim sem o Senhor de todos os pais. Posteriormente dedico aos meus pais pela imensa força e apoio que me deram, aturando-me nessa inesquecível jornada, além de serem peças fundamentais para a minha formação e existência – a base sempre será o primeiro passo de um homem. Enfim, dedico a todos e todas que direta ou indiretamente contribuíram para o meu sucesso.
  • 5. 4 AGRADECIMENTOS A Deus, mestre de todos os mestres, por ter me proporcionado mais essa vitória e por me mostrar que sou apto de realizar o que anseio. Além de ter me dado forças, garra, dedicação, empenho e coragem. Aos meus pais pelo ser humano que me tornaram e pela grande dedicação que tiveram comigo desde o início, me mostrando o melhor caminho a seguir. A todos os professores do curso de Comunicação Social da UNEB Campus XIV, pela grande aprendizagem que me proporcionaram e pela dedicação que tiveram com a turma, além da grande amizade que levarei em meu coração por onde estiver. A minha orientadora Vilbégina Monteiro e a minha co-orientadora Zuleide Paiva pela grande força, dedicação e paciência que tiveram comigo, além das experiências que me proporcionaram. Aos meus queridos amigos e amigas que direta ou indiretamente contribuíram para que eu pudesse realizar mais um trabalho com ímpeto e bravura. A Matteus Freitas de Oliveira pelo grande empenho em me auxiliar sempre que necessário com suas ideias muito bem aproveitadas e de imensa significância. A Aline dos Santos Lima pelo grande auxílio na construção deste meu trabalho, dando-me informações precisas e de grande relevância. Enfim, a todos e todas que contribuíram de forma direta ou indireta para que eu pudesse concluir essa minha trajetória, que transformou a minha vida me ensinando fazer dos pontos negativos uma reflexão para sempre melhorar e dos tombos um degrau para conseguir a realização dos meus sonhos.
  • 6. 5 “as culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre „a nação‟, sentidos sobre os quais podemos nos identificar, constroem identidades”. Stuart Hall (2003)
  • 7. 6 RESUMO GÊNERO E MÍDIA: A REPRESENTAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO TERRITÓRIO DO SISAL Este trabalho estudou o silêncio presente no sistema midiático do território do sisal, locus da luta pela cidadania, procurando esclarecer que a omissão de conteúdos a respeito da homossexualidade pelos meios de comunicação corrobora para estigmatização desses os sujeitos como abjetos e discordantes do desejo heteronormativo. Analisou-se a representação da homossexualidade no sítio Na Cangaia, veículo de comunicação que se apresentou como um exemplo de instrumento de informação que apresentava conteúdos de referência à homossexualidade. O trabalho foi realizado através de estudo bibliográfico, pesquisa exploratória e entrevistas semiestruturadas com técnica de emparelhamento, para averiguar os prováveis aspectos que motivam ou que corroboram a existência desses termos de representação e referência. Levou-se em consideração que os meios de comunicação constituem uma significativa ferramenta cultural que contribui para a formação de identidades. Dessa forma, foi analisado como o sítio Na Cangaia interfere na construção cultural de um indivíduo, já que nenhum ser está isento das influências midiáticas. Com análise de seus conteúdos, na expectativa de averiguar como acontece a representação do homossexual, tornam-se inúmeros e variados os exemplos que se poderia listar que apontam a comunicação midiática como reforço aos estereótipos que contribuem significativamente na construção das identidades. Os meios de comunicação semeiam ideias que, de tal forma incrustadas em nosso cotidiano, espelham-se em conceitos que não permitem o amadurecimento e aceitação da diversidade e liberdade sexual, ou ainda da diferença, que não se quer assimilar e tolerar. Palavras-chave: Homossexualidade, mídia, gênero, silêncio.
  • 8. 7 ABSTRACT GENDER AND MEDIA: THE REPRESENTATION OF HOMOSEXUALITY IN THE MEDIA OF THE TERRITORY OF SISAL This work studies the present silence of the media system in the territory of sisal, locus of the struggle for citizenship. Seeking to clarify that the default content in the media supports to stigmatize the subjects as abject and inconsistent with the desire heteronormative. We analyzed the representation of homosexuality in the site Cangaia communication vehicle that sounded like an example of an information tool, which at the time of the research presented contents reference to homosexuality, considering the genre news produced in the territory of sisal. The work was accomplished through literature research, exploratory and semi-structured technique of pairing, to ascertain the likely issues that motivate or corroborate the existence of these terms of reference and representation. It took into account that the media constitute a significant cultural tool that contributes to the formation of identities. Thus was analyzed as the site in Cangaia, interferes with the cultural production of an individual, as none is exempt from being media-influences. With analysis of its contents, hoping to find out how true representation of the homosexual, become many and varied allusions that could list relating to the communication media to reinforce stereotypes that contribute significantly to the construction of identities. The media sow ideas, which is so embedded in our daily life, still reflect on concepts that do not allow the maturation and acceptance of diversity and freedom of sexual difference and yet you do not want to assimilate and tolerate. Keywords: Homosexuality, media, gender, silence.
  • 9. 8 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Meios/veículos de Comunicação do Território do Sisal ........................41 Quadro 2: Programas humorísticos do Na Cangaia ..............................................56 Quadro 3: Personagem do quadro Ronda 24 ........................................................59 Quadro 4: O Quadro Ronda 24 ..............................................................................64
  • 10. 9 LISTA DE SIGLAS SIT – Sistema de Informações Territoriais IDH – Índice de Desenvolvimento Humano AMAC - Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura UNEB – Universidade do Estado da Bahia ABRAÇO - Associação Brasileira de Rádios Comunitárias GT-Com – Grupo Temático de Comunicação MOC – Movimento e Organização Comunitária APAEB – Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira ERECOM – Encontro Regional de Estudantes de Comunicação LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros GGB – Grupo Gay da Bahia LBL – Liga Brasileira de Lésbicas RS – Rio Grande do Sul INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas ANATEL - Agência Nacional de Telecominucações CODES sisal - Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Território do Sisal
  • 11. 10 SUMÁRIO LISTA DE QUADROS LISTA DE SIGLAS INTRODUÇÃO ..........................................................................................................11 1. "Queer" homossexualidade é essa?............................................................15 1.1. Representação homossexual no discurso midiático.................................17 1.2. Homossexualidade: uma configuração associada à construção social.......21 1.3. A performatividade dos corpos: processo cultural de constituição do gênero...................................................................................................................24 2. O silêncio no processo comunicativo das mídias......................................30 2.1. O território do sisal: locus da luta pela cidadania..........................................34 2.2. O sistema comunicativo do território do sisal............................................39 2.3. O silêncio presente no território do sisal.....................................................51 3. Na Cangaia.com: instrumento de comunicação do território do sisal...............54 3.1. Uma voz que soa: veículo de comunicação NA Cangaia.com........................58 3.2. O quadro Ronda 24 ........................................................................................60 3.3. Homossexualidade: o que pensa o Na Cangaia.com....................................62 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................66 REFERÊNCIAS..........................................................................................................69 APÊNDICES ..........................................................................................................74 ANEXOS....................................................................................................................77
  • 12. 11 INTRODUÇÃO "A televisão é a primeira cultura verdadeiramente democrática - a primeira cultura disponível para todos e totalmente governada pelo que as pessoas querem. A coisa mais aterrorizante é o que as pessoas querem. “ (Clive Barnes) O exercício da cidadania está ligado à garantia dos direitos civis, sociais, políticos e culturais, porém, sabe-se que a diversidade perpassa esses direitos e que a liberdade sexual não está limitada à divisão binária entre masculino e feminino, pois o sexo e o gênero são construtos sociais. Dessa forma, tratar a homossexualidade como exercício da cidadania é defini- la como sujeita ao jogo da exclusão, obedecendo a lógica do mais que um – em que o enlace da classe, da raça e da sexualidade determina os padrões aceitáveis e quais comportamentos os cidadãos devem possuir e desenvolver. Assim, a identificação, entendida como um processo em que os sujeitos desenvolvem características no contato social permeado por uma contínua e cultural construção, se desenvolve como um processo gerado a partir das diferenças. Os meios de comunicação desempenham um efeito significativo e influente na construção das diferenças aceitáveis que norteiam o nosso autoentendimento e o nosso entendimento do outro. Logo, os meios de comunicação colaboram para a construção dos sujeitos. Percebe-se dessa forma a relevância de estudar como a maioria das mídias omite-se ao lidar com questões de gênero e como constroem discursos provenientes de ideias que estigmatizam a homossexualidade como desprezível, alimentando também com a ausência de referências homossexuais em
  • 13. 12 seu sistema informacional conceitos que perpetuam os homossexuais como indivíduos discordantes sociais. Prioriza-se entender como veículos de comunicação que fazem uso de termos ou de conteúdos de referência à homossexualidade, como o sítio Na Cangaia, vem representando a homossexualidade em seus quadros, a exemplo do quadro Ronda 24, e como este veículo de comunicação do território do sisal ainda reforça os estereótipos que são utilizados para configurar a homossexualidade como identidade discordante do socialmente esperado. Assim, levando em conta os marcadores sociais que me constroem, enquanto homossexual e estudioso da comunicação social, necessito entender a homossexualidade no contexto midiático, pois compreendo que a mídia contribui para a (des) construção do indivíduo, de valores, comportamentos, etc. Portanto, percebo que a construção midiática está permeada de estereótipos utilizados para reforçar a estigmatização homossexual. Assim, é relevante fazer um estudo teórico dos termos utilizados para se referir à homossexualidade; realizar o mapeamento dos conteúdos homossexuais nos meios de comunicação do território do sisal; averiguar a presença de conteúdos homossexuais ou de referência à homossexualidade nas mensagens difundidas pelos veículos de comunicação; estudar o silêncio das mídias no território do sisal sobre a temática homossexualidade; e observar o tratamento que conteúdos homossexuais ou de referência à homossexualidade tem recebido. Para alcançar os objetivos almejados neste trabalho, tornou-se relevante desenvolver um estudo com base em revisão bibliográfica. Realizou-se um estudo qualitativo, por meio de coleta de dados, a partir da realização de entrevistas semiestruturadas com o produtor do sítio para que conjuntamente, pudesse realizar análise de conteúdo desse veículo com técnica de emparelhamento.
  • 14. 13 Definiu-se o desenvolvimento desse estudo com o Na Cangaia por verificar, a partir de uma pesquisa exploratória priorizando o gênero jornalístico, que o sítio faz referência direta à homossexualidade e, por isso, robustece os estereótipos construídos pela sociedade dominante. Assim, utilizou-se como estudo as formas de referências que o sítio Na Cangaia, através de seu programa Ronda 24 vem utilizando, para poder identificar o tratamento em que a homossexualidade tem recebido e, dessa forma, conhecer os possíveis fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência desses fatos. No 1º capítulo intitulado “Queer” homossexualidade é essa?, buscou-se reunir e resgatar conceitos sobre as categorias que constituem o sujeito, sua produção e os discursos sobre identidade e construção cultural do sexo e do gênero. A intenção aqui é demonstrar como o sexo e o gênero têm sido apresentados de forma equivocada, associados à divisão binária entre masculino e feminino, devido a hierarquia dos discursos que são empregados aos corpos e às normas heteronormativas que desconsideram os indivíduos que infringem suas regras. Já no 2º capítulo, O silêncio no processo comunicativo das mídias, é construído um panorama do atual sistema comunicacional dos meios de comunicação do território do sisal, a fim de servir como diagnóstico para identificação das principais dificuldades enfrentadas pela homossexualidade, e a gravidade do silêncio a respeito da temática abordada, pelo fato da omissão de conteúdos serem tão grave quanto os discursos utilizados para estigmatizar os sujeitos. Foram essas dificuldades que embasaram a construção do 3º capítulo, Na Cangaia.com, que oferece uma análise do veículo de comunicação, enfatizando o gênero noticioso no território do sisal que faz uso de termos homossexuais e
  • 15. 14 conteúdos de referências à homossexualidade, entendido aqui como forma de estigmatizar os estereótipos que reforçam a homossexualidade como identidade discordante das regras heteronormativas. Por fim, discute-se sobre os reflexos das representações homossexuais pelos meios de comunicação no território do sisal. E compactua-se com a ideia de que os discursos heteronormativos empregados aos corpos como forma de definir que sexo e gênero se esperam dos indivíduos e que esta é uma maneira de distorcer a ideologia de que o indivíduo é construído culturalmente.
  • 16. 15 "O jornalismo é popular, mas é popular principalmente como ficção. A vida é um mundo, e a vida vista nos jornais é outro." (G. K. Chesterton) 1. “Queer” homossexualidade é essa? Os homossexuais abarcam hoje um número de cidadãos que vai além de um grupo de indivíduos que se limitam a redes de amizades. Esses sujeitos se constituem na verdade em um conjunto de instituições que participa, por exemplo, do enriquecimento da economia do país, e por serem constitucionalmente iguais aos demais cidadãos, precisam de respeito e tolerância. Dessa forma, entendendo que os meios de comunicação contribuem para a construção de discursos, percebe-se como importante sua participação social no processo de democratização cultural, que em resumo poderia ser entendida como uma forma de organização do social se fosse baseada em princípios éticos de liberdade, igualdade, diversidade, solidariedade e participação. A homossexualidade tem sido perpetuada por discursos que a desconsideram construção cultural e que acabam reforçando a ideia de que o sexo e o gênero são provenientes dos conceitos heteronormativos utilizados pelo grupo dominante. Sendo assim, a palavra inglesa queer é muito utilizada para adjetivar as representações que se referiam à homossexualidade, sendo ela entendida de forma depreciativa, ligada a prática ofensiva de pontuar o desenvolvimento da sexualidade considerada desviante como esquisita, estranha e excêntrica. O interesse da Teoria Queer está na ação subjetiva e na transgressão do gênero, considerando que as marcas constituídas pela sociedade e pela cultura são vistas como aspectos fundamentais na construção de conceitos provenientes de
  • 17. 16 regras sociais dominantes, de que o corpo é constituído ou “armado” copiando excessivamente o sujeito que ridiculariza. Assim, armando-se dos discursos queer utilizados pelos opressores, os movimentos gay e lésbico adotaram essas ideias como maneira de apresentar as diferenças que não querem ser assimilada ou tolerada. Dessa forma, buscando apoio teórico em Michael Foucault (1984) e Judith Butler (2003), Guacira Louro apud Sabat (2005) procura esclarecer a ideia de que o corpo está imbricado em relações de poder que são utilizadas para preencher os sujeitos com discursos que descartam a ideia de que o sexo, assim como o gênero, não são produtos discursivos e culturais. Longe de negar a materialidade dos corpos, o que a autora Guacira Louro apud Sabat (2005, p. 2) enfatiza é que: Se nos voltamos para os discursos existentes, podemos identificar relações estreitas entre transformações políticas, econômicas e sociais e o modo de olhar para o corpo e a sexualidade em diferentes momentos históricos. [...] São os processos e as práticas discursivas que fazem com que aspectos dos corpos se convertam em definidores de gênero e de sexualidade e, como conseqüências, acabem por se converter em definidores dos sujeitos. Partindo desta perspectiva, rumo a compreensão de como os corpos são discursivamente produzidos, utilizamos o conceito de performatividade de Judith Butler, um dos fundamentos da Teoria Queer. Neste sentido, o conceito de performatividade emerge da lingüística e será utilizado para identificar a maneira como os corpos e os sujeitos são discursivamente constituídos, com base em Foucault, na afirmativa de que a construção da sexualidade deve-se a ações discursivas.
  • 18. 17 Assim, a Teoria Queer pensa a representação homossexual como marcas provenientes do social, no qual é classificada pela heterossexualidade compulsória como corpos e sujeitos estranhos e esquisitos ou ainda simplesmente queer. Para Louro apud Sabat (2005), a Teoria Queer pode abarcar uma concepção fundamentada na ambigüidade, na multiplicidade e na fluidez das identidades sexuais e de gênero, mas, além disso, também sugere novas formas de pensar a cultura, o conhecimento, o poder e a educação por meio da desconstrução de padrões supostamente rígidos, tal como o biologismo dos gêneros e sua correspondência performática. 1.1. Representação homossexual no discurso midiático O fenômeno da globalização despedaça os sujeitos, apresentando-lhes discursos que dispersam os modos de ser construindo novos conceitos. Dessa forma, no mundo contemporâneo, esses sujeitos tornam-se vulneráveis às informações multilaterais que os descentralizam. Segundo Rogério Costa (2009, p. 2): A partir da abordagem socioantropológica, observamos, no entanto, que a representação de determinados comportamentos podem variar com o contexto imediato, numa fluidez que muitas vezes coloca o sujeito à deriva, posto que é um tipo de representação associada a determinantes culturais, mostrando com isso a historicidade dessa condição, a construção social que determina uma cultura e assim se faz atuante. Mostrando que a discussão sobre identidade sexual, na realidade, está num plano de construção simbólica em que intervêm valores e concepções de mundo que extrapolam o âmbito da sexualidade, portanto, a identidade sexual não é uma mera descrição das práticas, nem está diretamente associada a comportamentos específicos.
  • 19. 18 Assim, a cultura propicia ao sujeito uma visão de mundo, e é através dela que o homem atua. Neste ponto de vista, Rogério Costa (2009) diz que a maneira de ver o mundo está associada a uma ordem moral e valorativa, identificando e conformando diferentes comportamentos sociais com propriedades invulgares (COSTA, 2009, p. 7), discurso este elucidado nas ideias de R. Laraia, (2002, p. 67- 68): A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento desviante. Até recentemente, por exemplo, o homossexual corria o risco de agressões físicas quando era identificado numa via pública e ainda é objeto de termos depreciativos. Tal fato representa um tipo de comportamento padronizado por um sistema cultural. Esta atitude varia em outras culturas. Entre algumas tribos das planícies norte-americanas, o homossexual era visto como um ser dotado de propriedades mágicas, capaz de servir de mediador entre o mundo social e o sobrenatural, e por isso respeitado. Dessa forma, por ideias provenientes de discursos heteronormativos, tomados como única maneira de ver o mundo e os sujeitos, muitos homossexuais até hoje sofrem agressões e têm sua cultura descartada e ignorada. A ideia de sujeito emergente de uma hierarquia cultural afasta-se da ideia das autoras Butler (2003) e Wittig (1980), que defendem o sexo e o gênero como provenientes da construção social e cultural, desmistificando a ideia de que os discursos sobre o sujeito não derivam do sexo, pois ele não determina o gênero e este não se limita a divisão binária entre masculino e feminino, mas transpassa essas categorias dualistas. Os conceitos de identidade sexual e gênero são utilizados de forma dúbia pela sociedade, apresentando os sujeitos como indivíduos presos a ideologias
  • 20. 19 masculinas, quando apresentam discursos pejorativos que estereotipam negativamente os sujeitos. As transformações de uma sociedade em que as ideias e os discursos detêm o poder dão lugar a perspectiva que se propõe pós-moderna, em que as informações interferem na vida social constantemente e de forma rápida arquitetando os sujeitos. As identidades são formadas por meio da fabricação da diferença. Talvez por isso Silva (2003) diz que o chamado multiculturalismo se apoia em um vago e benevolente apelo à tolerância e ao respeito para com a diversidade e a diferença. Para Stuart Hall (2007), as unidades que as identidades proclamam, a exemplo as identidades coletivas, são na verdade constituídas do jogo do poder e da exclusão. Dessa forma, as identidades construídas estarão sujeitas à hierarquia do poder e serão definidas a partir do ponto de vista do grupo dominante. Sabemos que as experiências identitárias se ampliam com a globalização. Antes do advento da mídia, a comunicação era praticamente desenvolvida por meio da comunicação oral e o conhecimento era sempre restrito ao monopólio do grupo social dominante. As mídias contribuíram para o desenvolvimento da globalização, permitindo a interconexão do planeta através de satélites, sendo que a comunicação ascende a um lugar decisivo no circuito produtivo. Dessa forma, as mídias ampliam o processo de globalização, possibilitando uma constante produção de novas identidades e discursos. A mídia contribuiu para a construção da imagem do homossexual, uma vez que divulga conteúdos de referência à homossexualidade como identidade discordante do esperado. Gioielli (2005) afirma que as diferentes dinâmicas marcam
  • 21. 20 identidades culturais em meio aos ambientes socioculturais da modernidade e da pós-modernidade. Dessa forma, percebe-se ainda que as identidades tidas como discordantes dos padrões utilizados como norma, vêm ocupando lugar na mídia, mas ainda enfrentam preconceitos derivados das ideias que ainda hoje prevalecem como formas de pensar e, que tornam a sociedade excludente. A homossexualidade se configura como uma construção cultural que se desenvolve, assim como as demais orientações, a partir do contato do ser com o meio social, e que também pretende incluir-se na construção da cidadania, tanto como cidadão apto a intervir na sociedade quando necessário, quanto indivíduo pertencente a um mundo pluricultural, onde a diferença constitui a diversidade. Marques (2002) vem nos dizer que a representação e a visibilidade de grupos de sexualidade nas mídias auxiliam a perceber, num momento especifico, a articulação de três importantes processos sociais: a) A reflexividade – acentuada pelos fluxos simbólicos da mídia, que permeia nosso autoentendimento e nosso entendimento do outro; b) A interseção das questões identitárias com as questões de reconhecimento – prescindindo da intersubjetividade para se realizarem e a mobilização; e c) Busca de razões próprias, diante da tematização de assuntos capazes de instaurar esferas públicas de discussão. Fernando Barroso (2008) diz que os discursos midiáticos podem ser vistos como práticas culturais construtoras e solidificadoras de novas identidades - identidades homossexuais, por exemplo - e de novas comunidades. Então, percebe-se que o conceito de identidade sexual e de gênero pode ganhar novos significados quando estes são apresentados de forma confusa, pelos quais a sociedade exclui da participação social, política e cultural, aqueles que são
  • 22. 21 de uma orientação que não condiz com a linearidade entre corpo, gênero, sexo e desejo. 1.2. Homossexualidade: uma configuração associada à construção social A ideia de que o sexo e o gênero são construções culturais pode ser entendida como discordante dos padrões heterossexuais, que associam o sexo apenas à divisão conjugada entre homem e mulher. Como afirma Bourdieu apud Anjos (2003), a oposição ativo/passivo traz consigo a heterossexualidade como norma, e dispõe homens e mulheres segundo a “natureza”. Assim, entende-se que a homossexualidade infringe as regras e se torna inferior por não ser a considerada sexualidade “normal”. Nascemos com um sexo, no que diz respeito a nossas genitálias, porém este sexo não determina o gênero. Gênero não é uma divisão binária entre o masculino e o feminino; se adotarmos essa perspectiva de gênero alimenta-se a idéia de que há apenas dois gêneros. Contudo, se fizermos um estudo empírico, veremos que há muito mais que dois gêneros. Não existe heterossexual que seja apenas homem ou só mulher, uma vez que os seres possuem características femininas e masculinas, mesmo sendo os mais machos e as mais fêmeas, pois o gênero é uma produção cultural. Dessa forma, o sexo é construído pela cultura, assim como a linguagem é uma produção também cultural. Como afirma Judith Butler (2003), o sexo não é natural, mas é ele também discursivo e cultural como o gênero. A noção de gênero estava relacionada com a opção sexual, como decorrente dessa escolha. Porém,
  • 23. 22 Butler (2003) diz que não existe uma identidade de gênero por trás das expressões de gênero, ou seja, não de define o gênero como binário, e que a identidade é performativamente constituída - que é desenvolvida com um bom desempenho e tem uma interpretação adequada. Ainda temos Wittig apud Areda (2006a) que concorda com Butler, colocando que não se nasce homem, nem se é homem, empenha-se constantemente na busca de tornar-se Homem. A virilidade representa justamente o investimento numa rede de relações com a busca de reconhecimento da masculinidade. Portanto, o sexo não nasce feito, ele é desenvolvido culturalmente, e se definirmos sexo como sendo somente masculino e feminino todo sexo e toda sexualidade será heterossexual. E como diz Brandão apud Paula (2009), as identidades são o reconhecimento da própria diferença, onde o ser pode ser pensado não como um fundamento em si, mas a partir do que o diferencia. A construção das imagens com que os sujeitos e povos se percebem passa pelo emaranhado de suas culturas, nos pontos de intersecção com as vidas individuais. A homossexualidade representada como categoria identitária de adequação do indivíduo a certa conduta, não se restringe a descrições de suas práticas, essa ideia de mundo não está permeada apenas na identificação da pessoa seguindo suas preferências sexuais, vai muito além. Pouco importa a condição ou amplitude do ato em si, pois essas ideias prevalecem de conceitos determinados socialmente e aparentemente associados à história, tendo toda uma magnificência de identificação sócio-sexual obrigatória que se autentica e é demarcada não só pelo ato sexual, mas por comportamentos culturalmente criados e associados a eles, e por isso esperados socialmente. Dessa forma, Costa (2009) afirma que a sexualidade inscreve-se como uma determinação, uma maneira de ser obrigatória e “natural”, enquanto “essência” do ser, quando é associada a uma preferência sexual que
  • 24. 23 determina um comportamento social. Partindo dessa perspectiva, compreende-se que a ideia de identidade homossexual é historicamente ligada e pensada através da determinação de ações sexuais, associando certas preferências ao comportamento, não levando em consideração a pluralidade dessas associações. Assim, essa determinação de representação homossexual afasta-se da ideia de sexo como produção discursiva e cultural, como se pode afirmar com a ideia de Guacira Louro (1996, p. 1): O conceito de gênero veio contrapor-se ao conceito de sexo. Se este último refere-se às diferenças biológicas entre homem e mulher, o primeiro diz respeito à construção social e histórica do ser masculino e do ser feminino, ou seja, às características e atitudes atribuídas a cada um deles em cada sociedade. O que quer dizer que agir e sentir-se como homem e como mulher depende de cada contexto sócio-cultural. Dessa forma, o sexo é visto como divisão binária e o gênero associado aos interesses culturais de cada sociedade. Contudo, sabemos que o sexo vai muito além da divisão entre homem e mulher. Levando em consideração o conceito de representação homossexual apresentada por Costa (2009), a ideia de identidade homossexual pode estar ligada a questões do homoerotismo, sendo que as crenças são os fundamentos das condições de determinações do sujeito. Porém, quando atribuímos discurso ao corpo, estamos determinando conceitos de como desejamos que ele se constituísse, empregando discursos dentro dos padrões socialmente esperados. Dessa forma, percebe-se que os discursos atribuídos a homossexualidade permeiam por ideias que produzem um conceito performático considerado heteronormativo, que tentam definir a identidade homossexual a partir de representações simbólicas - entendida
  • 25. 24 como elementos que em vista dos conceitos sociais representaria a homossexualidade. 1.3. A performatividade dos corpos: processo cultural de constituição do gênero Colling (2007) apresenta que os homossexuais são representados pela mídia, em específico pela rede Globo em suas telenovelas, como indivíduos criminosos, afetados e heterossexualizados. Para Butler apud Colling (2007) o gênero é performativo porque é resultante de um regime que regula as diferenças de gênero. Neste regime os gêneros se dividem e se hierarquizam de forma coercitiva. Segundo Colling (2007, p. 4): [...] De uma forma resumida e incompleta, podemos dizer que a teoria da performatividade tenta entender como a repetição das normas, muitas vezes feita de forma ritualizada, cria sujeitos que são o resultado destas repetições. Quem ousa se comportar fora destas normas que, quase sempre, encarnam determinadas ideais de masculinidade e feminilidade ligadas com uma união heterossexual, acaba sofrendo sérias conseqüências. Neste sentido, a ideia de gênero é associada a uma performatividade ligada à matriz heterossexual como afirma Guacira Louro apud Colling (2007): O sujeito é chamado a identificar-se com uma determinada identidade sexual e de gênero sobre a base de uma ilusão de que essa identidade responde a uma interioridade que esteve ali antes do ato de interpelação. O qual é precisamente um dos aspectos fundamentais da concepção performativa do gênero.
  • 26. 25 Assim, compreende-se que o sujeito é percebido dentro de um modelo heteronormativo, quando as representações homossexuais não refletem as próprias culturas sociais atuais. Com isso, Judith Butler apud Nardi (2003, p. 1) contrapõe-se ao modelo heterossexual de perceber os sujeitos: “O corpo não é um lugar sobre o qual uma construção tem lugar, é uma destruição que forma o sujeito. A formação desse sujeito implica o enquadramento, a subordinação e a regulação do corpo. Ela implica igualmente o modo sobre o qual esta destruição é conservada (no sentido de sustentada e embalsamada) na normalização”. Dessa forma, entende-se que a constituição do sujeito depende da destruição do corpo, que em resumo é entendido segundo Foucault apud Nardi (2003) como uma alegoria da formação do sujeito a partir do “inconsciente cultural” que delimita os sistemas implícitos dos quais somos prisioneiros. Segundo Butler apud Nardi (2003) o sujeito surge quando o corpo desaparece, portanto, a imitação é a forma sintomática da reinstalação do poder que submete o sujeito na captura identitária gerando aquilo que Butler denomina enquanto performatividade. Dessa forma, o conceito de identidade sexual tem sido apresentado de forma confusa e empregado a aspectos heteronormativos que determinam os discursos socialmente esperados. Assim, a representação homossexual na mídia é feita baseada no papel sexual, que não é o elemento determinante da homossexualidade, mas que é utilizado para classificar os indivíduos cujo papel sexual não esteja de acordo com seu sexo. Para Baggio (2009) os homossexuais são representados como indivíduos marcados por uma especificidade da linguagem e pelo humor, que perpetua por
  • 27. 26 estereótipos que os mantém como sujeitos favoráveis a caricatura gay que serve de piada na maioria dos programas. Partindo dessa perspectiva, pode-se compreender que as identidades homossexuais são representadas como padrão de vida dominado e inferior como podemos entender com a ideia de Bucci apud Baggio (2009, p.6): [...] é impossível encontrar algum [programa humorístico] que não se baseie em escarnecer os pobres, os analfabetos, os negros, os homossexuais etc. O mecanismo parece ser o mesmo dos melhores filmes cômicos: o espectador é chamado a rir daquilo que o envergonha e que o machuca. A questão é que, nos programas da nossa TV, o espectador não ri para redimir o personagem que se debate em seu ridículo, mas para reiterar a opressão que pesa contra esse mesmo personagem. [...] É por isso que, diante da TV, ri dos negros quem não é negro, ri dos gays quem não é gay, ri dos pobres quem não é pobre (ou pensa que não é). Ri deles quem quer proclamar, às gargalhadas, que jamais será como eles. É o riso como recusa e chibatada. Levando em consideração que o sexo não é nato nem é naturalizado e tão pouco essencializado, percebe-se que ele emerge de símbolos que determinam a nossa construção identitária. Dessa forma, o sistema da construção do gênero dar- se, principalmente, pela sexualidade e pela sexualização dos sujeitos que definem sexo como divisão entre o masculino e feminino, desconsiderando a ideia de que o sexo é discursivo e cultural assim como o gênero. Assim, segundo Souza (1995, p. 5): É importante assinalar que a categoria “gênero” tem passado por significativas transformações, possibilitando-lhe assim um caráter mais dinâmico. A princípio, vinculada a uma variável binária arbitrária, que reforçava dicotomias rígidas, passou a ser compreendida como uma categoria relacional e contextual, na tentativa de contemplar as complexidades e conflitos existentes na formação dos sujeitos.
  • 28. 27 A ideia de representação surge de conceitos apresentados pela mídia como discursos associados ao jogo do poder que entende sexo como determinante do gênero que é visto como a divisão binária entre masculino e feminino. Dessa forma, pode-se dizer que os conceitos sobre a homossexualidade, estão ligados as práticas sexuais, determinando que o sexo, assim como as demais ideias sobre gênero, trabalham no sentido de produzir os sujeitos numa perspectiva heteronormativa. Os indivíduos são classificados em categorias que lhes são empregadas como forma de definí-los. Guacira Louro (2004), diz que as formas que os corpos e as marcas que os definem e descrevem culturalmente estão implicadas em relações de poder. Dessas marcas, é indiscutível que aquelas que identificam o feminino e o masculino (a saber, os órgãos genitais) são primordiais. Assim, pode-se dizer que os processos de desenvolvimento podem atribuir discurso ao corpo e as práticas discursivas produzem aspectos nos sujeitos. As características dos indivíduos são atribuídas a partir das interações com o social e as práticas discursivas os classificam como discordantes ou leais às normas empregadas. Dessa forma, Stuart Hall (2003) critica o conceito de identidade marcadamente estabelecida, unificada e imutável, ao dizer que: O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. No entanto, o conceito de gênero tem sido muitas vezes utilizado de forma equivocada, apresentado não como fenômeno social, mas como derivado do sexo. O que precisa compreender é que sexo é discursivo e não natural, assim como o gênero, é construído pela cultura. Segundo Butler (2003) aceitar o sexo como um
  • 29. 28 dado natural e o gênero como um dado construído, determinado culturalmente, seria aceitar também que o gênero expressaria uma essência do sujeito. E para Butler preencher os indivíduos de discurso é definir por antecipação as possibilidades das configurações. Não há nada que nos garanta que nascer mulher ou homem nos tornará indivíduos machos ou fêmeas. O que Butler quis dizer é que não existe uma identidade de gênero por trás do próprio gênero, as identidades são performaticamente construídas pela interação cultural e social. Não é nenhuma diferença particular ou qualquer tipo privilegiado de diferença, mas sim uma diferencialidade primeira em função da qual tudo o que se dá só se dá, necessariamente, em um regime de diferenças (e, portanto, de relação com a alteridade). Em outras palavras, nada é em si mesmo, tudo só existe em um processo de diferenciação. Assim, a identidade não é algo, mas é efeito que se manifesta em um regime de diferenças, num jogo de referências (BUTLER, 2003). Pode-se dizer que a diferença sexual é uma ideia determinada pela mentalidade heterossexual como afirma Monique Wittig apud Gabriel (2008), quando diz que diferença sexual e heterossexualidade estão ligadas e a serviço da hierarquia entre homens e mulheres. Assim, entende-se que formas de pensar ainda impedem que novos conceitos surjam livres de padrões sociais de corpo, sexo e desejo. Foi uma restrição política, e aquelas que resistiram à essa restrição foram acusadas de não serem mulheres de „verdade‟. Mas ficamos orgulhosas disso, vendo que na acusação já existia algo como uma sombra de vitória: o aval dos opressores dizendo que „mulher‟ não é algo que acontece por acaso, sendo que para ser uma, precisa-se ser „verdadeira‟. Fomos, ao mesmo tempo, acusadas de querermos ser homens. Hoje, essa dupla acusação renovou-se no contexto do movimento de liberação das mulheres por algumas feministas e também, infelizmente, por algumas lésbicas que parecem ter como objetivo político se tornarem cada vez mais femininas (WITTIG apud LESSA, 2007).
  • 30. 29 Portanto se todo sexo for definido como uma divisão entre masculino e feminino, toda sexualidade será preenchida dentro dos padrões socialmente esperados. O processo de constituição do gênero acontece pela sexualidade e pela sexualização. Segundo Foucault apud Areda (2006): É pelo sexo efetivamente, ponto imaginário fixado pelo dispositivo de sexualidade, que todos devem passar para ter acesso a sua própria inteligibilidade (já que ele é, ao mesmo tempo, o elemento oculto e o principio produtor de sentido), à totalidade de seu corpo (pois ele é uma parte real e ameaçada deste corpo do qual constitui simbolicamente o todo), à sua identidade (já que ele alia a força de uma pulsão à singularidade de uma história). Assim, essa divisão no imaginário masculino e feminino, não é igualitária, mas hierarquizada. E com isso, heterossexualiza-se os sujeitos e os corpos, empregando-lhes discursos socialmente esperados.
  • 31. 30 "Nossa liberdade depende da liberdade de imprensa, e ela não pode ser limitada sem ser perdida." (Thomas Jefferson) 2. O silêncio no processo comunicativo das mídias O sistema midiático é formado por meios de comunicação que são estruturados exaustivamente para fins políticos das empresas. Segundo Gentilli (2007), é preciso compreender que jornais são instituições da sociedade civil com uma função decisiva: “produzir informações para a cidadania”. Apesar disso, nota-se que os jornais têm apresentado de forma parcial a realidade, pois antes de divulgarem as informações, estabelecem o que será favorecido. Assim, compreende-se que as mídias são instrumentos controlados pelos cidadãos, mais especificamente pelos que integram os grupos dominantes, para construir métodos de excluir outros sujeitos por meio dos discursos, principalmente aqueles que segundo a hierarquia do poder, infringem as regras. Dessa forma, as classes dominantes desenvolvem processos internos de controle social por meio do discurso e estabelecem uma divisão social a partir das normas, códigos e símbolos empregados como socialmente normais e esperados para o bom desempenho econômico, social e político. Os grupos que detêm o poder dos meios de comunicação impõem certas regras e limites. Assim, algumas das regiões do discurso não são igualmente acessíveis e compreendidas, por haver um jogo ambíguo de segredo e divulgação. Dessa forma, percebe-se que ocorre uma atuação negativa entre a comunicação e a troca, pelo fato de se constituir a partir desse jogo um sistema de exclusão.
  • 32. 31 O poder das regras heteronormativas nos faz pensar de forma homogênea e tenta nos fazer perceber essa homogeneidade, individualizando os grupos e não permitindo desvios. Dessa forma, a disciplina, tenta regular as multiplicidades do indivíduo, definindo os gestos, comportamentos, as circunstâncias e todo o conjunto de signos que devem acompanhar o discurso, além de determinar o que um indivíduo deve ou não fazer. No discurso midiático, nota-se que existe um esquema comunicacional pensado e estruturado para satisfazer o uso do poder dos dominantes e estabelecer um sistema de classificação que determine e perpetue as normas produzidas pela heteronormatividade. Assim, um jogo de exclusão – em que os sujeitos são taxados por meio de discursos pejorativos, é criado para que os desfavorecidos construam um sentimento de culpa, propício a uma conduta de isolamento individual e que irá obedecer à hierarquia. Segundo Foucault apud Gentilli (2007), soberania e disciplina são constitutivas dos mecanismos gerais de poder na sociedade; não há exercício do poder sem uma economia dos discursos que estão em funcionamento neste poder. Somos submetidos, e somente pode-se exercer o poder mediante a produção dos discursos utilizados como verdade. Acredita-se que a omissão da verdade tem sido muito extensiva pelos meios de comunicação, pois nota-se que eles ainda disseminam informações que cultivam paradigmas favoráveis a manutenção de seu poder alienante e que impossibilitam o surgimento de novas ideias. Há no sistema comunicacional das mídias uma negação e certo silêncio em conduzir assuntos que são considerados discordantes do socialmente esperado. Dessa forma, compreende-se que os veículos de
  • 33. 32 comunicação estigmatizam os indivíduos desfavorecidos, quando se utilizam de ideias que reforçam os estereótipos que mantém um sistema de exclusão. O silêncio presente no sistema midiático estabelece um aumento significativo da desigualdade social, percebendo que a omissão de conteúdos é tratada como normal pela classe dominante e como a forma de manter a hierarquização dos sujeitos. Dessa forma, compreende-se que as informações a que os indivíduos têm acesso, são filtradas pelos meios de comunicação e classificadas como favoráveis ou não, com referência aos padrões sociais. Os meios de comunicação, ao produzirem imagens estereotipadas negativamente dos sujeitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), também fortalecem a intolerância e a homofobia/lesbofobia. Segundo Areda apud Dodsworth (2007) o discurso heteronormativo, esta assim chamada “matriz hegemônica de inteligibilidade”, tem o poder de penetrar até mesmo o universo gay, atravessando todas as relações e adequando tudo o que encontra a uma lógica hegemônica. De acordo com Barroso (2008), estes discursos exprimem, portanto, práticas culturais forjadas no interior de relações de poder. Militantes do movimento homossexual brasileiro apontam contradições decisivas no modo como os homossexuais são representados pela mídia hegemônica no Brasil, segundo Barroso (2008). Os estudos gays e lésbicos destacam os discursos da imprensa sensacionalista, principalmente da televisão e do cinema, como emblemáticos das representações midiáticas a respeito da homossexualidade. Na Bahia, as estatísticas são alarmantes. Segundo dados do GGB – Grupo Gay da Bahia, o preconceito aliado à falta de políticas públicas é o que estaria contribuindo para a perpetuação da violência. A violência contra homossexuais tem
  • 34. 33 crescido muito. De acordo com o GGB um gay nordestino corre 84% mais risco de sofrer qualquer violência do que no Sudeste ou no Sul1. No caso da existência lésbica, a intolerância dos meios de comunicação tem se revelado de forma mais contundente. Por meio de séculos repousou-se no silêncio, na mudez, sem fazer referência. Seguramente a supressão deste assunto não se deu por ingenuidade ou esquecimento, mas, encobrir a vivência lésbica consiste em manter a autoestima das lésbicas baixa2. A lesbofobia também é alimentada pelo silêncio midiático, pois os meios de comunicação ao omitirem-se reforçam a invisibilidade dessas mulheres por desejarem sexualmente outras mulheres, contradizendo a ordem androcêntrica e heterossexual do mundo que determina que a mulher deva satisfazer os desejos do homem. O silêncio só aumenta as formas de preconceitos. Segundo informações do blog Lésbicas Feministas – LBL – RS, o ambiente escolar também tem sido um local de resistência à diversidade, ou reconhecimento das diferenças. De acordo com o sítio, pesquisas realizadas em 500 escolas públicas em maio de 2009, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE, de 55% a 72% dos estudantes, professores, diretores e profissionais de educação corroboram com a resistência à diversidade através do indicador “distância social” 3. Os meios de comunicação, enquanto instrumentos de poder, produzem seletivamente a realidade, pois antes de divulgarem qualquer tipo de informação determinam o que será favorecido. Deste modo, não são imparciais, e a longo prazo contribuem para a construção de conceitos e conduta. 1 Informações colhidas no sítio do GGB – Grupo Gay da Bahia, disponível em: http://www.ggb.org.br, acesso em 19 de janeiro de 2010. 2 Informações colhidas no sítio http://gonline.uol.com.br, acesso em 19 de janeiro de 2010. 3 Informações extraídas no sítio http://lblrs.blogspot.com, acesso em 19 de janeiro de 2010.
  • 35. 34 Dessa forma, percebe-se que mesmo com a construção de programas, como Brasil sem Homofobia4, o crescimento da homofobia/lesbofobia é notável e disseminado pelo sistema midiático que reforça os discursos heteronormativos, apresentando-o como norma e padrão de corpo, gênero, sexo e desejo. 2.1. O território do sisal: locus da luta pela cidadania A partir do silêncio percebido nos meios de comunicação, principalmente os massivos, busca-se entender como acontece a omissão de conteúdos no sistema midiático do território do sisal, uma vez que neste espaço a luta pela democratização é constante. O Território do Sisal, situado na região sisaleira da Bahia, apresenta consigo uma história de organização dos movimentos sociais e de articulação de propostas voltadas para o desenvolvimento do meio rural, tendo como objetivo desenvolver a agricultura familiar, que tem como elemento econômico a fibra do sisal. O sisal, de acordo Silva (2001), foi introduzido na Bahia no início do século XX, mas só se expande como importante lavoura no final da década de 30, graças às ações do Governo do Estado como uma alternativa para o desenvolvimento de regiões semiáridas. Sendo um elemento significante nas mudanças do território do sisal, tornou-se símbolo, principalmente, das profundas transformações históricas, sociais e culturais. Com uma abrangência de 21.256,50 quilômetros quadrados, 4 Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra LGBT e de Promoção da Cidadania Homossexual.
  • 36. 35 segundo dados do SIT - Sistema de Informações Territoriais5, o território do sisal é composto por 20 municípios: Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Santaluz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia, Tucano e Valente, conforme Figura 1. A população total do território é de 568.600 habitantes, dos quais 337.480 vivem na área rural, o que corresponde a 59,35% do total. Com, aproximadamente 64.350 agricultores familiares, 2.344 famílias assentadas, 1 comunidade quilombolas e 1 terra indígena reconhecida, seu Índice de Desenvolvimento Humano - IDH médio é 0,606. Figura 1. Bahia – divisão territorial 5 Sistema de Informações Territoriais que disponibiliza dados sobre os Territórios Rurais organizados por tema, tais como: Demografia e Aspectos Populacionais, Economia, Saúde, Educação e Outros. Disponível em: http://sit.mda.gov.br, acessado dia 12 de outubro de 2009. 6 Informações extraídas do Portal do Ministério do Desenvolvimento Agrário sítio que disponibiliza informações sobre o desenvolvimento agrário dos territórios da cidadania. Disponível em: http://www.territoriosdacidadania.gov.br/dotlrn/clubs/territriosrurais/dosisalba/one-community?pagen um=0, acessado em 09 de janeiro de 2010.
  • 37. 36 FONTE: SIT. Disponível em: <http://serv-sdt-1.mda.gov.br>. Acesso em: 15 de abril de 2008. O território do sisal está localizado na área semiárida da Bahia, e é caracterizado pelo clima seco, com irregular distribuição pluviométrica e sua paisagem é predominantemente densa, de vegetação de caatinga. Sua economia está estruturada na pecuária de pequeno porte e na agricultura de subsistência, cultivando-se em grande escala o sisal. Esse território é marcado pela pobreza e miséria da população, e pela descontinuidade de políticas públicas no que se refere à educação, saúde e geração de renda. Para Silva (2001), o território pode expressar um complexo e dinâmico conjunto de relações sócioeconômicas, culturais e políticas, historicamente desenvolvidas e contextualmente espacializadas, incluindo sua perspectiva ambiental (p. 1). Sendo um território caracterizado pelo desenvolvimento agrário, sua população é multicultural e caracterizada por lutar por direitos negados às classes desfavorecidas. Essa população possui um sistema de comunicação muito variado,
  • 38. 37 com destaque ao rádio como o veículo de comunicação de maior expressividade, no território. As rádios comunitárias são responsáveis em desenvolver uma cobertura de massiva, abrangendo muitos grupos sociais. No território ainda há a cobertura de jornais impressos e sítios, que veiculam informações regionais e muitas vezes nacionais. Neste território há a presença de alguns movimentos sociais, como rurais e movimentos de Mulheres, que não existiram sempre, nem em toda parte, mas que possuem uma história de expressão de reivindicações, principalmente no território do sisal. Segundo Alonso (2009) esses movimentos sociais surgem da sociedade civil, e são constituídos por indivíduos que não querem governar o mundo, nem o Estado, mas que possuem ideais coletivos, e que são portadores de um projeto cultural, que busca uma democratização social ao invés de uma democratização política. Dessa forma, os movimentos sociais lutam por questões redistributivas, mas engajados numa luta emblemática em torno de melhores condições de vida. Assim, poderiam ser entendidos como “subculturas defensivas” que lutam contra a colonização do mundo pela classe dominante. Segundo Gohn apud Siqueira (2009), movimentos sociais: são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo.
  • 39. 38 Assim, no território do sisal os agentes sociais preocupam-se em começar a batalhar por transformações que reconhecem enquanto identidade coletiva, ou seja, ideais coletivos, com a possibilidade de organizações, estruturadas em espaços de discussões sobre políticas públicas que promovam mudanças em busca de um desenvolvimento mais igualitário. Habermas apud Hamel (2009) assinala para a precisão de se garantir aos cidadãos direitos de comunicação e direitos de participação política tendo em vista, até mesmo, a própria legalidade do processo legislativo, explicando que, na medida em que os direitos de comunicação e de participação política são constitutivos para um processo de legislação eficiente do ponto de vista da legitimação, esses direitos subjetivos não podem ser tidos como os de sujeitos jurídicos privados e isolados: eles têm que ser apreendidos no enfoque de participantes orientados pelo entendimento, que se encontram numa prática intersubjetiva de entendimento. Os movimentos sociais do território do sisal buscam desenvolver ações pensadas e baseadas em propostas que amparem a população e lhes tragam benefícios no que tange o acesso à comunicação e a vida social mais justa. Portanto, o território do sisal é marcado como um espaço de importantes lutas sociais em vistas de melhorias para seus habitantes, e valorizado pela diversidade cultural que proporciona uma visão mais ampla das ideias que norteiam os estereótipos que caracterizam a região como lugar do sertanejo, do povo humilde.
  • 40. 39 2.2. O sistema comunicativo do território do sisal A informação é um dos fundamentais bens, direitos e instrumentos da sociedade para entender e se mobilizar na realidade. E por isso, necessitaria circular atendendo exatamente ao interesse público a que precisa estar sujeita em decorrência destas suas características e emprego social. Porém, sua disseminação acaba sendo prioridade de alguns em função da promoção e fortalecimento de seus valores. Dessa forma, o ideal seria haver uma comunicação democrática e que realmente expressassem os interesses da sociedade em vista da circulação e pluralidade da informação, em termos de não existir desviados tanto da recepção quanto da transmissão. Os meios de comunicação comerciais, em especial as rádios, entendidos como instrumentos dos grupos hegemônicos e que não desenvolvem propostas populares, mas que atendem aos interesses dos dominantes, é desenvolvido principalmente pelas emissoras que detêm as maiores potências. As rádios comerciais apresentam-se como ferramentas de poder e de exclusão social, sendo meios de comunicação regidos pelos discursos heteronormativos que antes de divulgar informações estabelecem o que será beneficiado. Os meios de comunicação popular, com ênfase nas rádios por serem mais acessíveis e encontrar fácil aceitação, apresentam-se como estratégias de re- afirmação dos significados locais, e motivação emancipatória do sertão. Para Gomes (2006, p. 4) essa ação definir-se-ia como:
  • 41. 40 A comunicação convertida em elemento de disputa na re-significação e valorização das identidades locais, na constituição de redes e mobilização de agentes sociais, capaz de promover a circulação e difusão de informações de interesses comunitários. Dessa forma, os processos comunicativos se configuram como uma ferramenta importante para o desenvolvimento estratégico do território do sisal. No território do sisal, o rádio imperou como aparelho privilegiado de acesso à informação, tornando-se um companheiro na vida das pessoas. As rádios comunitárias surgem no final dos anos 90 e início de 2000, como ações dos movimentos sociais, e como resposta a apropriação dos grupos hegemônicos dos meios de comunicação do território. Sendo assim, as rádios comunitárias emergem como ferramentas para desenvolver, sendo novos instrumentos alternativos à inserção dos grupos sociais nas práticas sociais e a construírem experiências comunitárias de comunicação. Contudo, muitos grupos hegemônicos, como políticos e emissoras comerciais, reagiram de forma agressiva, desenvolvendo perseguição e marginalização das rádios comunitárias. Com isso, muitas rádios comunitárias foram fechadas pela ação repressiva da ANATEL (Agência Nacional de Telecominucações) e da Polícia Federal. Pensando em desenvolver uma comunicação justa e solidária, os movimentos sociais elaboram projetos que proporcionem suporte organizacional e assessoria na construção de uma política cultural comunicativa para o território. Assim, desdobram- se a criação de entidades regionais que fortaleçam os movimentos, como a Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura (AMAC), com o intuito de desempenhar uma produção comunicacional para os movimentos locais, além da ABRAÇO Sisal (Associação Brasileira de Rádios Comunitárias) e o curso de Comunicação Social no Campus XIV da UNEB (Universidade do Estado da Bahia) que surgiu com o objetivo
  • 42. 41 de proporcionar aos movimentos sociais participação igualitária e mais funcional, no que diz respeito a construção social e para atender às necessidades desses movimentos em lutar pela democratização da comunicação. Compreende-se que o apoio de entidades é um elemento fundamental no sistema comunicativo do território do sisal, que promovem a inserção da comunicação como estratégia da política de desenvolvimento territorial. O sistema midiático do território do sisal é composto por uma diversidade de mídias, conforme Quadro 1, que corroboram para a disparidade de informações que parcialmente reproduzem a sociedade, em vista do controle hegemônico que ainda prevalece sobre os meios de comunicação que inviabilizam sujeitos e produzem discursos heteronormativos. Portanto, o sistema comunicacional pensado pelos movimentos sociais, emerge da proposta de viabilizar um projeto de comunicação, com a consolidação de grupos como o CODES sisal (Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Território do Sisal), que valorize e defenda a ideia da população como produtora de conhecimento. Quadro 1. Meios/veículos de comunicação do território do sisal7 MEIOS /VEÍCULOS DE LOCAL DE CONTEÚDOS/PROGRAMAÇÃO COMUNICAÇÃO. ATUAÇÃO 5:00 – Forró Repente – música Conceição do Coité Sisal AM sertaneja. 7 Mapeamento realizado no território do sisal com os responsáveis pelos meios de comunicação, no período de 12 de setembro a 23 de outubro de 2009.
  • 43. 42 7:00 – Jornal da Sisal - noticiário 8:30 – Show da Sisal – música e informação 10:00 – Estação Mulher – música e informação 12:00 – MAX Esporte notícias esportivas 13:30 – Paradão 900 – música popular 15:00 – Show do Moreno – música popular 16:00 – Forrobodó - forró 18:30 – Sindicatos - informativos 19:00 - A Voz do Brasil 20:00 – Noite Sertaneja – música sertaneja 22:00 – Encerramento 5:00 - Alô Sertão 7:00 - Programa de Notícias 9:00 - Onda Livre 12:00 - FMPB 14:00 - Tarde Sabiá Sabiá FM 16:00 - Forró de todos nós 18:00 - Comendo a Bola 18:30 - Jornal da Educadora 19:00 - A Voz do Brasil 20:00 - Noite Sabiá 22:00 – Encerramento Aconteceu Coiteense Colunistas Sítio Informe Coité Sobre a cidade Utilidades Rede Social Agricultura Artigos Bahia Beleza Brasil Ciência e Saúde Concursos e Emprego Cultura Agência Calila Notícias Curiosidades Economia e Negócios Esporte Eventos Fatos Policiais Geral Histórias de Vida Loterias
  • 44. 43 Mulher Mundo Podcast Política Ponto do Cafezinho Religião Sociais Tecnologia Últimas Notícias Vestibular e Educação + Municípios Registrados Fotos Programa da Semana Eu e o Jegue Aió de Cangaia Eu sou a música Perfis do Semi-árido Ronda 24 FofoCangaia Sintonia do amor Sítio Na Cangaia Pirracinha do João Programas de Rádio Notícias em áudio Esporte em áudio Músicas Poesias Entrevistas Curiosidades Spots e chamadas Ponto de Opinião Personalidade de Fibra Empreendimentos e Imobiliários Jornal impresso – Indicações Literárias Correio do Mês Divertimentos Hoje em Dia Correio Social Correio Esportes Conceição do Coité Cultura Política Jornal impresso – O Esporte Sertão Educação Página Policial Saúde e Informações Jornalismo esportivo – jogos, Sítio Esporte Sisal história do futebol. 6:00 às 7:00 – Manhã Sertaneja – músicas sertanejas. Serrinha Morena FM 7:00 às 8:00 – Vale Apena Ouvir de Novo – as mais tocadas, flash
  • 45. 44 back. 8:00 às 10:00 Bom Dia Alegria e INFOFOCA – músicas de todos os ritmos. 10:00 às 11:00 – TOP 3 – participação do ouvinte. 11:00 às 12:00 – Sucessos de Novela – as melhores músicas que passaram nas novelas. 12:00 às 13:00 – Emoções 98 – músicas nacionais e internacionais. 13:00 às 15:00 – 98 Graus - as melhores músicas e informações gerais sobre esporte. 15:00 às 17:00 – Desafio Morena FM – teste seus conhecimentos musicais. 17:00 às 18:00 – Sucessos Morena FM – as melhores mais pedidas. 18:00 às 19:00 – Brega Total e Tropa do Riso – músicas no estilo arrocha, seresta e quadro com a galera do riso. 20:00 às 22:00 – Show da Noite – seleção das melhores músicas. 22:00 às 24:00 – Love Hits e Rádio Recado – as músicas que marcaram, recadinho do ouvinte. Jornalismo esportivo – Sítio Esporte informações gerais sobre Comunitário esporte. Jornalismo regional – Blog do Clériston Silva informações sobre fatos locais. Jornalismo – informações Sítio Notícias do Dia regionais e nacionais. Sítio Nos Bastidores da Jornalismo – informações Cidade regionais e nacionais. 5:00 às 6:00 – Despertar Regional 6:00 às 6:30 – Programa O Guardião 6:30 às 9:00 – Passando a limpo Regional AM 9:00 às 11:30 – Mulher em Movimento 11:30 às 12:00 – Madame Geilza 12:00 às 13:00 – Regional e os Esportes 13:00 às 16:00 – Boa Tarde
  • 46. 45 Cidade 16:00 às 17:00 – Programa Igreja Deus e Amor 17:00 às 18:00 – Forró Regional 18:00 às 19:00 – Igreja 19:00 às 20:00 – Voz do Brasil 6:30 às 7:00 – Os Astros em seu Caminho 7:00 às 9:00 – Jornal da Serrinha Hoje 9:00 às 10:00 – Jornal da Região 10:00 às 11:00 – Espaço Aberto 11:00 às 12:00 – Sindicato dos Trabalhadores 12:00 às 13:00 – Jornal dos Esportes 13:00 às 14:30 – Jornal das Cidades 14:30 às 15:00 – Poder Sobrenatural da Fé Continental AM 15:00 às 16:00 – Jornal da Continental 16:00 às 17:00 – Poder da Fé 17:00 às 18:00 – Revista Continental 18:00 às 19:00 – Igreja Viva 19:00 às 20:00 – Voz do Brasil 20:00 às 20:30 – Esporte Comunitário 20:30 às 21:00 – Continental Dentro da Noite 21:00 às 22:00 – No Terreiro da Fazenda 22:00 às 23:00 – Show da Fé 6:00 - Bom dia alegria (sertanejo). 7:00 - Momento informativo. 8:00 - Show da manhã - toca musicas variadas. 9:00 - Balada tropical - musicas variadas, horóscopo, dicas de novela, dicas de saúde. Valente Tropical FM 12:00 - Tropical nos esportes. 13:00 - Tarde tropical - música variada, dicas de saúde, entrevistas quando tem... 16:00 – As campeãs do dia - toca as mais pedidas e tocadas durante a programação. 17:00 - A zona do brega.
  • 47. 46 18:00 - Programa da igreja católica - despertando a fé. 19:00 - Programação - nesse horário não tem locutor, ficam tocando músicas variadas, programadas no computador, essa programação fica até as 22h ou 23h e depois a rádio sai do ar e retorna as 6:00. 6:00 às 7:30 – Vozes da Terra – talentos da terra, sertanejo, forró pé de serra e rádios notícias. 7:30 às 11:00 – Ligação Direta – sucessos, MPB, flash back, participação do ouvinte no ar e rádio notícias. 11:00 às 11:30 – Conversa da Gente - produção de acordo linha da rádio. 11:30 às 13:00 – Rádio Comunidade – enfoque para notícias locais e regionais. 13:00 às 14:00 – FMPB – clássicos. 14:00 às 17:00 – Sucessos da Valente FM – só sucessos do momento. Valente FM 17:00 às 18:00 – Pra Matar a Saudade – românticas dos anos 70/90 e popular light. 18:00 às 19:00 – Bola na Rede – locais, regionais, estaduais e nacionais. 19:00 às 20:00 – Voz do Brasil – notícias dos Três Poderes. 20:00 às 22:00 – Noite de Sucessos – sucessos diversos, flash back, e participação do ouvinte no ar. 22:00 às 24:00 – Românticas em Alta Temperatura – românticas locais e nacionais. 00:00 às 6:00 – Esperando o Amanhecer – românticas internacionais. Experiências Aió de Notícias Retirolândia Agência Mandacaru Região Sisaleira Últimas Notícias Santaluz FM 5:00 às 7:00 – Amanhecer no Santaluz
  • 48. 47 Sertão – músicas sertanejas, informações agrícolas. 7:00 às 8:00 – Despertar com Cristo – músicas gospel. 8:00 às 11:00 – Manhã Legal – músicas, entretenimento, momento infantil, flash informativos, músicas variadas. 11:00 às 12:00 – MPB 12:00 às 13:00 – Rádio Notícias – Jornalismo. 13:00 às 14:00 – Programa Girando a Bola – notícias sobre esporte. 14:00 às 16:00 – Tarde da Gente – participação do ouvinte, culinária e músicas. 16:00 às 17:30 – Forró Total – pé de serra, mecânico e misturado 17:30 às 18:00 – Programa das Entidades 18:00 às 19:00 – Programa da Igreja Católica 19:00 às 20:00 – A Voz do Brasil 20:00 às 22:00 Super noite – músicas variadas 22:00 às 00:00 – Momento de romantismo – poesias, recadinhos e músicas. 06:00 às 7:00 – Orvalho Sertanejo. 07:00 às 08:30 – Patrulha da Cidade. 8:30 às 10:30 – Manhã de Sucesso. 10:30 às 12:00 – Almoçando com Música. 12:00 às 13:00 – Associação em Araci Cultura FM Destaque – Vários Representantes. 13:00 às 14:00 – Resenha Esportiva. 14:00 às 16:00 – Seu signo seu sucesso. 16:00 às 18:00 – Ligação. 18:00 às 19:00 – Brega Legal. 19:00 às 20: 00 – Voz do Brasil 20:00 às 22:00 – Emoções
  • 49. 48 Cultura FM; Sábado 06:00 às 07:00 - Abrindo o Baú Musical. 7:00 às 9:00 – Debate em Destaque. 9:00 às 10:30 – Juventude Ativa. 10:30 às 12:00 – Super Seqüência. 12:00 às 15:00 – As mais pedidas da semana. 15:00 às 17:00 – Conexão Direta. 17:00 às 19:00 – Clima de Festa. 19:00 às 22:00 – Dance Mania/Night Love. 6:00 às 9:00 – amanhecer na roça. 9:00 às 11:00 – Antonio 11:00 às 12:00 – Super Manhã e Bola rolando. 12:00 às 14:00 – A missa da Riacho FM Graça. 14:00 às 18:00 – Show do Ouvinte. 18:00 às 19:00 – A Hora Santa. 19:00 às 20:00 – A Voz do Brasil. 20:00 às 22:00 – Fim de noite. 5:30 às 22:00 – Musical Baianinha FM Sertanejo / Esporte / São Domingos Informativos. 5:00 às 7:00 - Bom dia Sertão 8:00 - Nossa Missão | Antônio 8:00 às 11:00 - Show da Manhã 11:00 às 12:00 - Sequência do Show da Manhã 12:00 às 14:00 - Momento Popular Cruzeiro FM 14:00 às 16:30 - Super Sintonia 16:30 às 17:30 - Forrozão da Tucano Cruzeiro 17:30 às 19:00 - Arquivo da Cruzeiro 19:00 às 20:00 - Voz do Brasil 20:00 às 22:00 - Mistura Musical22:00 às 00:00 - Show Love Tucano FM 5:00 Às 7:00 Da Manhã – Sertão Maravilha Tucano Fm
  • 50. 49 8:00 Às 12:00 Bom Dia Cidade Tucano Fm 12:30 Às 13:00 O Povo No Rádio 13:00 Às 15:00 Tarde Legal 15:00 Às 17:00 Atividade Musical 17:00 Às 18:00 É Du Forro 19:00 Às 20:00 A Voz Do Brasil 20:00 Às 22:00 Momento De Amor Tucano FM 22:00 Às 23:00 Programa Palavra De Esperança Programação Aos Sábados 5:00 Às 8:00 Programa Som Da Terra 8:00 Às 12:00 Festa Da Manhã Tucano FM 12: Às 13:00 Especial Tucano FM 13:00 Às 16:00 Zorra Geral Tucano FM 16:00 Às 17:00 Programa Aliança Com Deus Programação Aos Domingos 7:00 As 08:00 Momento Do Rei Com Roberto Carlos 08:00 As 12:00 Festa Da Manhã 12:00 Às 13:00 Especial Tucano FM 13:00 Às 16:00 Zorra Geral 16:00 Às 17:00 Programa Aliança Com Deus 6:00 às 8:00 – Encanto da Terra 8:00 às 12:00 – Programa Rádio Ativo 12:00 às 13:00 – Programa destinados as entidades 13:00 às 14:00 – 104 MPB 14:00 às 17:00 – Sintonia Independente FM Independente 17:00 às 18:00 No Terreiro da Ichu Fazenda 18:00 às 19:00 – A Voz dos Agricultores 19:00 às 20:00- Voz do Brasil 20:00 às 22:00 – Bons Tempos Noticiário em geral sobre Ichu – Blog André Nilton informações sobre esporte, Comunicador religião, educação, saúde.
  • 51. 50 5:30 ás 8:00 – Raízes do Sertão 8:00 às 10:00 – Mega Mix 10:00 às 12:00 – Controle Remoto 12:00 às 14:00 - Bons Tempos 14:00 às 16:00 – Tarde amiga 16:00 às 17:00 – Parada de Piquaraçá FM Monte Santo Sucesso 17:00 às 18:00 – Forró da Piquaraçá 18:00 às 19:00 – Luiz Gonzaga e Convidados 19:00 às 20:00 – A Voz do Brasil 20:00 às 22:00 – Show da Noite 22:00 às 00:00 – Noite do Prazer Os meios de comunicação listados no quadro acima possuem uma diversidade ampla de conteúdos compreendidos entre os gêneros humorísticos, cultural e jornalístico. O contexto presente na grade de programação desses meios de comunicação, todos pertencentes ao território do sisal, constitui-se em informações regionais e nacionais, porém, omissa de conteúdos discordante dos padrões sociais heterossexuais. Ressalvando o sítio Na Cangaia, uma voz que soa como veículo que utiliza conteúdos homossexuais que fortalece a ideia de homossexualidade como identidade não “normal”. Assim, enfatizando o gênero jornalístico, percebe-se que o Na Cangaia, por meio do quadro Ronda 24, fortalece visões heteronormativas de que os padrões sociais devem estar associados às regras da oposição ativo/passivo, devendo o feminino estar disposto ao masculino e vice-versa.
  • 52. 51 2.3. O silêncio presente no território do sisal No território do sisal, os meios de comunicação como rádio, sítios e meios impressos como jornais, são fontes importantes de informação. Utilizando-se como ferramentas de interação com a comunidade, os meios de comunicação tornam-se elementos presentes na vida social dos indivíduos. Os movimentos sociais potencializam sua atuação e conquistam espaço na tentativa de construir processos comunicativos diferenciados. Assim, para elaborar as estratégias na área comunicacional do território, foi criado o Grupo Temático de Comunicação GT-Com, que reunia um grupo mais específico e direcionado a desenhar as propostas nesta área, segundo Gomes (2006). Esse GT de Comunicação era composto por representantes das rádios comunitárias (ABRAÇO – Sisal), da Agência Mandacaru, e das organizações como MOC e APAEB Valente, além do Pólo Sindical e da Universidade do Estadual da Bahia, Campus XIV. Emerge daí um processo de comunicação que se apresentava numa configuração mais extensa que o padrão antigo emissor-receptor. Os meios de comunicação do território do sisal apresentam-se como instrumentos na luta pelo exercício da cidadania e pela democratização da comunicação. Através de veículos de comunicação como sítios, os meios interagem com a sociedade com informações que satisfazem muitas vezes as necessidades de seu idealizador. Em outras oportunidades, os meios de comunicação são instrumentos da luta traçada pelos movimentos sociais na busca de ideais que valorizem os direitos de sua população. Muitas rádios veiculam apenas o que lhe traz ibope, ou ainda aquilo que é do interesse de uma determinada camada da sociedade. Alguns assuntos são omitidos
  • 53. 52 pelas mídias radiofônicas, ou entendidas como conteúdos desinteressantes ao público local, por se tratar de questões que a classe dominante considera como questões perturbadoras dos discursos que retroalimentam os padrões sociais. Dessa forma, surgia uma midiatização das informações que deveriam ser apresentadas, e assim, o sistema comunicacional pode ser entendido como um modelo de mutismo, em que a sociedade passa a ser silenciosa, onde sua voz não é um som autêntico, mas uma imitação dos comandos do opressor. Segundo Freire apud Moreira (2007), o mutismo seria, portanto, constituinte de um sistema de comunicação pautado em mecanismos de exclusão e opressão. O sistema comunicativo dos meios de comunicação do território do sisal estigmatiza grupos que, muitas vezes, não estabelecem um contato direto, reforçando-os como desinteressante ao contexto social. Dessa forma, o sistema midiático silencia-se em tratar de assuntos que infringem as regras heteronormativas ou que desvalorizam a hierarquia do poder usado para estigmatizar outros grupos como irregulares. Os meios de comunicação são, dessa forma, estruturados para atender os interesses de uma classe que hierarquiza a sociedade e dissemina suas normas como únicas e aceitáveis, desconsiderando outros grupos e construindo discursos que criarão estereótipos negativos sobre esses indivíduos desfavorecidos. Os meios de comunicação que constituem o sistema midiático do território do sisal consistem em rádios, jornais impressos e sites. Estes meios trabalham com programação musical; cultural – apresentando informações regionais e nacionais aos agricultores e entidades religiosas; esportiva; educacional e jornalística – expondo conteúdos informativos sobre o território para a sociedade. Nota-se a partir desse contexto comunicacional que boa parte dos meios de comunicação do
  • 54. 53 território do sisal silencia-se em lidar com temáticas que desfavoreçam os grupos hegemônicos, em vista de seus padrões sociais de vida, e não se percebe na programação da maioria delas conteúdos homossexuais, por exemplo, nem de referência à homossexualidade. Dessa forma, fazendo um recorte ao gênero jornalístico, o sítio Na Cangaia, destaca-se como um exemplo de veículo de comunicação que apresenta conteúdos de referência à homossexualidade, sendo o instrumento de comunicação que possui em sua programação uma imagem homossexual, porém a traz através dos traços pejorativos do estereotipo do homossexual. Portanto, os meios de comunicação priorizam como artifícios evidentes de desordem os discursos que desvalorizam as ideias empregadas como verdades pela heteronormatividade.