Este capítulo apresenta um breve relato sobre a escravidão dos povos africanos no Brasil, iniciada pelos portugueses com objetivos econômicos. Descreve a intensificação do tráfico de escravos no século XIX, quando ter escravos era símbolo de riqueza entre os grandes proprietários de terras. Aponta ainda que, apesar das leis abolicionistas, o comércio de escravos continuou intenso, sendo os africanos capturados e trazidos em condições desumanas para s
Campo lexical de pessoas em carta de liberdade do século XIX
1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA- UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS XIV
LETRAS COM HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS -
LICENCIATURA
ELIANE LIMA DOS SANTOS
O CAMPO LEXICAL DE PESSOAS EM UMA CARTA DE
LIBERDADE DO SÉCULO XIX
Conceição do Coité
2012
2. ELIANE LIMA DOS SANTOS
O CAMPO LEXICAL DE PESSOAS EM UMA CARTA DE
LIBERDADE DO SÉCULO XIX
Monografia apresentada ao Departamento de
Educação, Campus XIV, Curso de Letras com
Habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas –
Licenciatura da Universidade do Estado da Bahia
(UNEB), como instrumento da avaliação final do
Componente Curricular Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC) para obtenção do grau de Licenciada.
Orientadora: Profa. Dra. Celina Márcia de Souza
Abbade
Conceição do Coité
2012
3. SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................07
CAPITULO 1: POVOS AFRICANOS “DESTERRADOS” E ESCRAVIZADOS
1.1 Um breve relato da escravidão dos povos africanos no Brasil............................08
.1.2 Escravidão e resistência dos Afro-baianos.....................................................................12
1.3 Conceição do Coité: escravidão no interior da Bahia.........................................14
CAPITULO 2: ESTUDO DA LEXEMÁTICA
3.1 Língua e linguagem..............................................................................................17
3.2 Palavra e lexia......................................................................................................19
3.3 A Lexemática e a teoria dos campos lexicais.......................................................20
CAPITULO 3: A CARTA DE LIBERDADE DA ESCRAVA “CUSTODIA”
2.1O Documento........................................................................................................22
2.2 Transcrição do documento...................................................................................24
CAPITULO 4: O CAMPO LEXICAL DE PESSOAS NA CARTA DE
LIBERDADE...............................................................................................................29
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................32
REFERÊNCIAS
4. “Dizem que o que procuramos é um sentiDo para a
vida. Penso que o que procuramos são experiências
que nos façam sentir que estamos vivos.” (J.
Campbell).
5. AGRADECIMENTOS
Ao nosso pai soberano Deus, por mais uma etapa da minha vida, dando inicio
a uma nova jornada, pela dádiva da vida e por ser luz em minha trajetória.
Agradecer minha querida professora Drª Celina Márcia de S. Abbade, que despertou
em mim o interesse por esse estudo lexicológico das palavras e me orientou para o
desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso e ao professor Deijair
Ferreira pelo auxilio da estruturação do mesmo. A minha irmã Dulcinéia pelo
incentivo e contribuição. A Marcelo o motorista que passou esses anos todos nos
tolerando o qual por algumas vezes incomodei para que trouxesse ou levasse
alguns livros da biblioteca para mim. Aos amigos de graduação em especial as
minhas queridas e inesquecíveis amigas Rosana Cristina, Sandra Kelly e Mônica
pela força e amizade. A todos os meus familiares, a meu amor, amigos e vizinhos
pelo incentivo e torcida. Enfim a todos o meu muito obrigada! Pois em cada olhar,
gestos, palavras pude encontrar forças para ultrapassar as barreiras e chegar no dia
de hoje mais feliz e cheia de planos e com a certeza de que assim como o rio, é
contornando obstáculos que alcançarei meu maior objetivo.
6. RESUMO
O presente trabalho faz uma abordagem sobre o período escravocrata no Brasil, da
importância e preservação de documentos do século XIX e tem como objetivo
conhecer um pouco da história de uma comunidade através da estruturação das
lexias em seus respectivos campos lexicais, a partir de uma Carta de Liberdade do
século XIX. Para isso foi preciso realizar uma pesquisa documental no acervo da
Universidade Estadual da Bahia Campus XIV, de onde foi retirada a base para o
estudo lexicológico do vocabulário levantado. Além desse método realizou-se uma
pesquisa bibliográfica em: Bechara (2005), Coseriu (1987), Abbade (2006 e 2009),
entre outros, que abordaram sobre o estudo da Lexemática. Observa-se que é
possível ter o conhecimento da história de quem utilizou um determinado
vocabulário já que a língua varia de forma lenta e continua, mas, o registro dessa
nos possibilita ter conhecimento dessa carga semântica da linguagem e dos
aspectos socio-histórico de uma comunidade.
Palavras-chave: Carta de liberdade. Lexicologia. Campo lexical.
7. ABSTRACT
This paper presents an approach about the slavery period in Brazil, the importance
and preservation of documents of the nineteenth century and aims to learn a little
history of a community through the structuring of lexias in their respective lexical
fields, from a Letter Freedom of the nineteenth century. For this we need to make a
documentary research in the archives of the State University of Bahia Campus XIV,
where the base was taken for the study of lexical vocabulary lifted. In this method we
carried out a literature search on: Bechara (2005), Coseriu (1987), Abbade (2006
and 2009), among others, who approached the study of Lexemática. Observe that it
is possible to have knowledge of the history of who has used a particular vocabulary
that language varies slowly and remains, but the record that enables us to have
knowledge of semantic load of language and socio-history of a the community.
Keywords: Letter of freedom. Lexicology. Lexical field.
8. 7
INTRODUÇÃO
Sendo esta introdução parte viável para o desenvolvimento da monografia de
pesquisa de conclusão curso de Letras com Habilitação em Língua Portuguesa e
Litraturas - licenciatura da Universidade da Bahia - UNEB Campus XIV, sob a
orientação da professora Doutora Celina Márcia Abbade, a pesquisa tem como
objetivo conhecer o vocabulário de uma comunidade através da estruturação das
lexias em seus respectivos campos lexicais, retirados de uma Carta de liberdade
redigida no século XIX mais especificamente em 1869, a partir da qual pretende-se
fazer um estudo lexicológico.
Para isso foi realizado uma pesquisa documental no acervo da Universidade
Estadual da Bahia Campus XIV em Conceição do Coité - BA, onde foi encontrado a
referida carta no livro 2 de registros de Cartas de Alforria.
Diante da problemática existente, supõe-se que o levantamento de um
vocabulário específico de pessoas envolvidas na mencionada carta, pode nos levar
ao conhecimento de alguns aspectos da história do povo que utilizou esse
vocabulário.
Como se trata de um vocabulário retirado de um documento referente à
libertação de escravos, é possível que a organização do campo lexical de pessoas
existentes no corpus de base, possa nos remeter ao modo como a sociedade da
época se relacionava e se comportava. Para realizar esta pesquisa foi feito um
estudo bibliográfico de autores que desenvolveram pesquisas relacionadas à
estruturação dos campos lexicais como: Bechara (2005), Coseriu (1987), Abbade
(2006 e 2009) dentre outros.
Desenvolvida em 4 capítulos, intitulados como: Povos africanos
“desterrados” e escravizados, Estudo da lexemática, A carta de liberdade da escrava
“Custodia” e O campo lexical de pessoas na carta de liberdade, a partir dos quais
busca-se-a mostrar sequencialmente: um breve retrato do contexto em que a carta
foi escrita; algumas concepções teóricas; transcrição de um dos fólios; um
levantamento de algumas lexia e questões que refere-se à maneira de como aquele
povo produzia seus escritos, ou seja, que tipo de vocabulário eles utilizavam, o qual
parece estar intrisicamente ligado aos seus costumes, hábitos e história.
9. 8
CAPÍTULO 1
POVOS AFRICANOS “DESTERRADOS” E ESCRAVIZADOS
Desde os ancestrais a escrita constitui-se, retrata e dá veracidade aos fatos
que vieram a marcar a formação social do Brasil. Portanto, com base em fontes
escritas, no primeiro item apresenta-se um breve relato sobre a origem da
escravidão africana no Brasil, que deu-se através dos portugueses. Do segundo item
em diante, o texto se restringe ao período escravocrata na Bahia e no interior,
basicamente na cidade de Conceição do Coité, onde foi encontrado o elemento base
para o desenvolvimento deste projeto: uma Carta de liberdade1 do século XIX”.
1.1 Um breve relato da escravidão dos povos africanos no Brasil
A partir da formação da cultura e cultivação da escrita, generalizou-se a
comunicação, com a elaboração e reprodução de documentos, que permitiram que
as histórias do passado fossem divulgadas, proporcionando-nos o conhecimento,
entendimento e questionamentos ou mesmo críticas a fatores que ainda perpassam
na sociedade vigente. Segundo Simon (1996), “a língua falada (no caso da cultura)
escrita e falada (no caso da civilização) torna possível transmitir a experiência dos
mais velhos” (p.38).
No Brasil, a prática da escrita se deu a partir da colonização portuguesa,
embora se tenham indícios de que tradições indígenas e africanas também tivessem
suas formas de registro gráfico. E é a partir de documentos escritos em séculos
passados que se pode buscar o conhecimento dos hábitos socioculturais de um
1
Autorização oficial de alguém para que aja livremente.
10. 9
povo, ou seja, suas ideologias. Como diz Bakhtin (2004 apud ABBADE, 2009,
p.129), “a palavra é um reflexo ideológico que funciona como elemento essencial
que acompanha toda criação ideológica, seja ela qual for”.
O mundo é constituído por pessoas as quais se dividem em governantes e
governados, desde os tempos mais remotos. Dessa forma, já existiam os sujeitos
submissos a outros, antes mesmo das miscigenações das raças.
No Brasil, antes da colonização, os povos autóctones, denominados pelos
portugueses de indígenas, também tinham uma política de hierarquia. Existia
alguém superior, que ditava as regras a serem seguidas, e para isso ocorriam lutas
nas aldeias para conseguir status, superando e derrotando a tribo rival. Esse fator
também perpassou nas terras africanas, em que eles praticavam a escravidão entre
seus povos.
Embora esse fator não venha a justificar a violência cometida pelos
portugueses aos negros, o crítico Ribeiro (2006), em sua crônica “Viva o povo
brasileiro,” diz que, antes mesmo dos portugueses traficarem os negros como
escravos para o Brasil, eles já governavam entre si, ou seja, os negros africanos
governavam os próprios negros. Então, “[...] os portugueses não compravam
homens livres, compravam peças-da-india, mercadoria pronta, gente já escravizada
[...]’’ (Ribeiro, p.149, 2006). Tanto o homem branco, como o negro, o amarelo e o
indígena, eram escravizados pela própria raça, como diz Campos:
[...] o negro não foi introduzido no Brasil, e em outras partes da América,
como um elemento humano isolado, mas como o representante de um grupo
de cultura. Grupo de cultura que não pôde ser mantido puro, em virtude da
escravidão (2004, p. 151).
Desde então, com base na cultura escravagista africana, os portugueses
intensificaram cada vez mais a exportação de negros para suas colônias, com
objetivos econômicos, ao contrário do tipo de escravidão sofrida por esses negros
na sua terra nativa.
A exploração dos escravos por motivos puramente econômicos era
encontrada nos enclaves europeus em alguns lugares como Axante e
Daomé, mas a associação de escravidão com a economia era mais
característica do setor europeu do que do africano, exceto quando o setor
africano estava fortemente associado às exportações (LOVEJOY, 2002,
p.210).
11. 10
No Brasil, a escravidão africana atingiu seu ponto máximo no século XIX, já
que ter escravos negros nas grandes fazendas lhes custaria mão-de-obra barata,
além, de ser indício de riqueza. Os escravos passaram a ser objeto de luxo e
patrimônio de penhora compra e venda. Como diz Lisboa (2002 apud OLIVEIRA
2009, p. 93): “[era] prova de mendicidade extrema o não ter um escravo, ter-se-ão
todos os incômodos domésticos, mas um escravo a toda lei”.
Como a posse de escravos durante muito tempo esteve atrelada aos grandes
proprietários de terras, nem mesmo com a independência política do Brasil, em
1822, e com a adoção das ideias liberais pelas classes dominantes, o tráfico de
escravos e a escravidão foram abalados. O trabalho livre “passava” longe do
imaginário destes fazendeiros, que só pensavam em se libertar do domínio
português que os impedia de expandir livremente seus negócios. Ainda era
interessante para eles preservar as estruturas sociais, políticas e econômicas
vigentes e, mesmos leis abolicionistas que surgiam sistematicamente, segundo
Simon (1996), não impediam o intenso comércio de escravos.
O comércio, assim como os leilões, ocorria de forma aleatória em praças
públicas, permitindo que os compradores avaliassem minuciosamente os aspectos
físicos da “mercadoria” com o intuito de detectar se tinham alguma doença como de
ínguas ou hérnias, além disso, davam preferência àqueles de orelhas pequenas,
panturrilhas magras, pele lisa ressaltando a musculatura.
Eles eram capturados nas terras onde viviam na África e trazidos à força para
a América, em grandes navios, em condições miseráveis e desumanas. Muitos
morriam durante a viagem através do oceano Atlântico, vítimas de doenças, de
maus tratos e da fome.
Os escravos que sobreviviam à travessia, ao chegarem ao Brasil, eram logo
separados do seu grupo linguístico e cultural africano e misturados com outros de
tribos diversas para que não pudessem se comunicar. Além de serem mantidos em
cativeiro, ou seja, presos nas denominadas senzalas, ao saírem para o trabalho que
lhes designavam, eram sempre mantidos sob vigilância que os proibiam de se
comunicarem com escravos de outras fazendas, pois seus senhores temiam uma
revolução escravocrata.
Isso porque que não eram todos os escravos que acolhiam a condição de
subalterno passivamente. Muitos deles não aceitavam essa nova condição de vida,
12. 11
por isso, as fugas, as resistências e as revoltas sempre estiveram presentes durante
o longo período da escravidão. Em consequência disso, houve a formação de vários
"quilombos"2, nos quais segundo Santana (2007), os negros procuravam reconstruir
neles as tradicionais formas de associação política, social, cultural e de parentesco
existentes na África.
Com essa nova opção, os africanos e descendentes começaram a participar
de rebeliões, motins ou formação de quilombos em diversas regiões, numa tentativa
de acabar com a escravidão, ou pelo menos, reduzir sua carga de opressão, já que
eles não tinham nenhuma atividade espontânea e viviam a mercê da severidade de
castigos. De acordo com a percepção de Campos (2004 p.143), os escravos
transportados para o Brasil sofriam maus tratos, “[...] do excesso de trabalho, das
condições deficitárias de higiene, enfim, tinham marcas de surras, cicatrizes no
dorso, nas nádegas, no pescoço, queimaduras, etc.”.
Cabe ressaltar a diferença de tratamento relacionado ao negro já que em
território africano eles eram pelo menos vistos como servos permanentes da família
como mostra a citação a seguir:
[...] A abundância dos itens necessários à sobrevivência e o trabalho
comparativamente fácil de extrair e carregar madeira, conduzir o gado lavrar
os campos, trabalhar nos vinhedos, ou dedicar-se ao serviços domésticos
diários torna a sua vida bastante tolerável, e se, às vezes, è encontrado
algum patife desumano que maltrate seus escravos, em nenhum lugar
existe uma oportunidade melhor de obstruir e impedir totalmente esses
maus-tratos por meios de boas leis do que no Cabo (LOVEJOY, 2002 p.
243).
Diante de tais disparidades foram instauradas no Brasil algumas leis antes de
ser decretada a abolição, ou seja, a Lei Eusébio de Queirós (1850), que oficializou o
fim do tráfico de negros. Dentre estas, a Lei do Ventre Livre (1885), que além de
libertar os filhos (as) de negros que nascessem a partir desta lei, veio a despertar o
desejo e a possibilidade dos escravos poderem juntar dinheiro o suficiente para
entrarem na justiça e comprarem a liberdade que lhes foram tomadas.
Entretanto, a liberdade conquistada por alguns negros não lhes renderam
benefícios diante do preconceito que lhes foi impregnado. Nem mesmo a abolição,
que se deu por uma necessidade econômica, foi suficiente para que os negros
2
S.m. (Hist.) casa ou esconderijo no mato, onde se refugiavam os escravos fugidos.
13. 12
fossem inseridos na sociedade de forma digna, já que estes, segundo Campos
(2004, p. 156), não tiveram nenhuma assistência, ou proteção social e econômica.
1.2 Escravidão e resistência dos afro-baianos
A escravidão pode ser definida como sistema de trabalho não assalariado, em
que o indivíduo, ou seja, o escravo é propriedade de outro, este está sujeito a: ser
vendido, doado, emprestado, alugado, hipotecado, confiscado. Constitucionalmente,
o escravo não tem direito: não pode possuir ou doar bens e nem iniciar processos
judiciais, mas pode ser castigado e punido como se fossem animais irracionais.
Os escravos devem fazer o trabalho dentro de casa; se eles não estiverem
dispostos a trabalhar, deve-se bater neles com o chicote ou deve se bater
neles com a vara. Eles começam então a chorar [e] ficam dispostos a
trabalhar (LOVEJOY, 2002, p.321).
Não existem registros precisos dos primeiros escravos negros que chegaram
ao Brasil. A tese mais aceita é a de que em 1538, Jorge Lopes Bixorda, arrendatário
de pau-brasil, teria traficado para a Bahia a qual durante muito tempo foi a porta de
entrada dos primeiros escravos africanos. Segundo Viana Filho (1988, p.158), o
número de escravos africanos que chegaram à Bahia foi vinte mil no século XVI e
duzentos e cinco mil no século seguinte.
Na Bahia, o escravo tornou-se a mão-de-obra fundamental nas plantações de
cana-de-açúcar, de tabaco e de algodão, nos engenhos e mais tarde, nas vilas e
cidades, nas minas e nas fazendas de gado.
Além de mão-de-obra, o escravo representava riqueza: era uma mercadoria,
que, em caso de necessidade, podia ser vendida, alugada, doada e leiloada. O
mesmo era visto na sociedade colonial também como símbolo do poder e do
prestígio dos senhores, cuja importância social era avaliada pelo número de
escravos que possuíam. Por isso, a escravidão de africanos em território baiano
manteve-se em vigor até 1850.
No entanto, passou a ser combatido devido a pressões internas, prescindida
pelos próprios escravos, a exemplo da Rebelião dos Malês, considerada pelos
historiadores como a maior revolta escrava na Bahia. Patrício (2006, P. 53) afirma
14. 13
que os malês eram de origem muçulmana e lideraram as demais etnias de escravos
baianos, deixando suas marcas na história da resistência afro-baiana.
Ainda na concepção de Patrício (2004), mesmo, os malês foram os
responsáveis pela deflagração da denominada “Grande Insurreição de 1835” e
marco histórico considerado por Clóvis Moura apud Patrício (2004) como “última
grande revolta de escravos da Capital baiana e a que teve maior ressonância
Histórica”. Assim as autoridades brasileiras passaram a demonstrar interesse em
acabar com o tráfico internacional de escravos na década de 1840. De acordo com
(Viana Filho, 1996, p.65):
A sociedade baiana era desigual e pouco flexível à absorção da mão-de-
obra negra livre e liberta, mesmo sendo esse contingente representado pela
ampla maioria da população da cidade da Bahia. Uma expressiva parcela
dos trabalhadores era composta por negros, que no ano de 1835, estavam
subdivididos em dois grupos: os escravos que contabilizavam,
aproximadamente, 42% da população; e os livres e libertos, que juntos
aglutinavam 29,8% do contingente populacional de Salvador.
Diante dessa proporção e da importância do negro como mão-de-obra, ainda
foram necessárias algumas décadas para que fossem tomadas medidas para
reverter à situação dos escravos, os quais, mesmo após a abolição, continuaram a
sofrer preconceito racial. E apesar das restrições e perseguições, o tráfico para a
Bahia continuou ocorrendo com a utilização de rodeios, ou seja, estratégias
elaboradas pelos comerciantes inseridos nessa atividade. Isso porque o tráfico
negreiro ao longo do século XVII tornou-se mais lucrativo para a metrópole
Portuguesa do que o próprio comércio açucareiro.
1.3 Conceição do Coité: escravidão no interior da Bahia
Diante de fatos constatados, faz-se necessário relatar um pouco da história
de Conceição do Coité, localizada na região Norte do estado da Bahia, a duzentos e
dez quilômetros da capital baiana, com aproximadamente sessenta mil habitantes.
Sobre a origem e a formação do Município, é motivo de discussões entre
historiadores da cidade. A cidade desenvolveu-se na rota de vaqueiros e retirantes,
15. 14
que passavam em direção a Salvador. No século XIX ainda em condição de Arraial
da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, a população coiteense
vivenciou o período escravocrata, momento em que pessoas, principalmente os
negros, eram comprados e vendidos como objetos.
Segundo a concepção de Mattoso (1982), estes trabalhavam desde o raiar,
ao pôr do sol, a fim de construir riqueza para seus senhores, pois, viviam na pobreza
como se fossem animais sob constante vigilância, caso não obedecessem eram
fortemente castigados. Esta forma de regime foi instaurada no Brasil no período
colonial no século XV quando a bula papal autorizou os portugueses a escravizarem
os “povos infiéis”.
De acordo com a pesquisa realizada por Silva3 (2009), a constituição do
Município teve influência negra e esta certeza vem dos registros de descendentes
de escravos, “visto que as escrituras de compra e venda existentes nos vários livros
de escrituras”, que até então encontravam-se no Cartório de Registro Civil de
Conceição Coité, comprovam o número de escravos comprados, vendidos e
alforriados durante o período escravocrata.
Rios (2003, p. 20-1), em pesquisa realizada na freguesia de Nossa Senhora
da Conceição do Coité, zona de produção essencialmente de pecuária, cruzando
dados de várias fontes como cartas de alforria e livros de escrituras de compra,
venda e hipoteca de escravos, encontrou 169 proprietários escravistas –
correspondendo a 92% do total encontrado – com até cinco escravos nas fazendas
da referida freguesia, entre o período de 1856 a 1883.
Estes documentos eram elaborados por um escrivão no Cartório da cidade,
na presença de testemunhas do comprador, vendedor (caso se tratasse da venda de
escravo), ou de um tenente representando um dos interessados na questão. .
Segundo Barreto (2007, p.72), a cidade aqui mencionada a partir do ano de
1865 teve um elevado crescimento, o que possibilitou a formação de uma feira-livre
nas sextas-feiras de gado, cereais e intenso comércio de escravos. De acordo com a
pesquisa realizada por Abbade (2009), no município obtêm-se várias escrituras de
compra e venda existentes nos vários livros de escrituras, arquivados no cartório de
Registro Civil de Coité. Atualmente os documentos estão guardados no Acervo
3
Nilzete C. Docente da Universidade do Estado da Bahia- UNEB, Campus XIV, Mestre em Línguas e Linguagens
pelo PPGEL-UNEB.
16. 15
Documental da Universidade do Estado da Bahia Campus XIV, situada em Coité.
Estes comprovam o grande número de escravos comprados, vendidos e alforriados
antes da abolição da escravidão, os quais mesmo após a abolição continuaram a
sofrer preconceito racial.
Durante muitos anos de escravização dos negros, estes não tinham nenhuma
perspectiva de libertarem-se do cativeiro a não ser fugindo. Só a partir do século
XVIII, segundo o escritor Russell-wood (1939, p. 58), com o aumento de jazidas de
minerais e a diversidade de oportunidades econômicas abertas aos escravos na
agricultura e no comercio que estes tiveram oportunidades de comprar sua própria
liberdade.
Entretanto, os escravos que desempenhavam vários tipos de trabalhos a
depender do lugar em que atuavam tinham uma maior ou menor possibilidade de
adquirir à tão sonhada liberdade. Por exemplo, os que trabalhavam nas minas e em
áreas urbanas tinham mais oportunidade que os das áreas rurais.
Russell-Wood (1939, p. 69), afirma que a liberdade também passou a ser
concebida por outros fatores não tão frequentes como: piedade cristã, filantropia
social, considerações financeiras, paternidade (biológica ou adotiva), recompensa
pela gratidão sexual, ou mesmo pelo reconhecimento da lealdade e
companheirismo, dentre outras.
Esse era um processo complexo, ainda segundo Russell-Wood (1939), a
prática mais comum era o escravo juntar dinheiro suficiente para assim obter sua
emancipação do cativeiro e receber algo denominado como carta de alforria, ou um
certificado de liberdade do seu senhor ou representante legal do mesmo. Neste
documento deveria constar o motivo da libertação, a quantia paga ao proprietário (se
fosse o caso), além da assinatura das partes envolvidas e testemunhas.
É o que se pode constatar no documento a ser analisando, ou seja, uma
Carta de Liberdade documento jurídico de liberdade de escravos pelo seu senhor ou
alguém por ele determinado. Encontrado no livro 2, do cartório de Conceição do
Coité, o documento foi redigido no período em que o Brasil foi comandado por
grandes proprietários de fazendas mais precisamente, no período da escravidão,
quando os senhores de engenho compravam e vendiam negros para trabalhar em
suas fazendas. Atualmente este documento pertence ao acervo documental da
Universidade do Estado da Bahia, campus XIV, Departamento de Educação em
Conceição do Coité - BA.
17. 16
A partir de um documento de compra e venda, de uma escrava denominada
Custodia no ano de mil oitocentos e setenta e nove, que esta pesquisa discorre, na
perspectiva de conhecer o vocabulário da comunidade coiteense através do
levantamento e estruturação das lexias em campos lexicais, já que segundo Abbade
(2006, p. 214), o estudo lexical das línguas é de fundamental importância para
descobrir os vários segredos da nossa história social e linguística, segredo estes
que podem ser desvendados pelo estudo e análise do léxico existente nessas
línguas em determinados períodos da história de cada povo.
Com toda a intensidade de escravos em várias regiões do Brasil, inclusive
em Conceição do Coité, acredita-se que eles marcaram em profundidade os
costumes, o imaginário, a cultura e até, através de uma intensa miscigenação, o
perfil étnico-racial de nossa população. Segundo Campos (2004, p. 205), já não se
tem uma cultura exclusivamente africana nem europeia, mas todas elas numa só
combinação.
18. 17
CAPÍTULO 2
ESTUDO DA LEXEMÁTICA
Sendo os estudos da lexemática parte integrante para o desenvolvimento
desta monografia, este capítulo foi dividido em três tópicos nos quais a partir de
algumas concepções teóricas relata a influencia da língua e linguagem em uma
determinada comunidade, a diferença entre palavra e lexia, e sobre o
desenvolvimento do estudo da lexemática e a constituição dos campos lexicais.
2.1. Língua e linguagem
A língua é um fator de grande influência na comunicação entre falantes de
determinada região, pois sendo a língua o objeto da Línguística, entendida por
Saussure (2002) como um conjunto organizado de elementos definidos em relação a
outros elementos e que vão ser concretizados a partir da utilização da linguagem,
percebe-se que língua e linguagem devem ser concebidas uma em conformidade
com a outra para ocorrer comunicação, conforme afirma Rousseau (2003).
Em face desse princípio, percebe-se que, sendo a Linguística uma ciência
interessada na língua como pano de fundo para realização de um trabalho
linguístico, a mesma necessita de dados históricos e comparativos de uma língua e
como ela é articulada dentro da sociedade. Vê-se consequentemente a língua como
uma parte social da linguagem, a qual faz parte da história, ou seja, o homem para
ser entendido histórico e linguisticamente precisa se comunicar e a comunicação só
podem ser concretizadas através da linguagem, expressada por palavras, as quais
constituem o sistema lexical de uma língua , de um povo.
Este sistema lexical reúne diversos conhecimentos a serem abordados na
perspectiva de mergulhar na cultura e nos costumes de um povo, conceituando
aspectos linguísticos, utilizados para maior esclarecimento da estrutura e
significação da primeira instituição social, que é a língua.
19. 18
Sendo a língua, conjunto das variações linguísticas, assim definida por
Saussure (1969), é o objeto de estudo da Linguística nas mais diversas
comunidades de fala, que, ao ser investigada, leva-se em consideração os aspectos
linguísticos e sociais.
A língua é, portanto, um veículo básico para que ocorra comunicação entre
falantes de uma mesma comunidade, pois proporciona interação entre eles, como
afirma Marcuschi (2003): “[...] A língua é uma atividade de natureza sócio-cognitiva,
histórica e situacionalmente desenvolvida para promover a interação humana [...]”
(p. 23).
Assim Claret (1979 apud Hernandes, 2005, p. 32) afirma que as pessoas de
diferentes faixas etárias compreendem-se porque estão integradas em uma mesma
comunidade, num mesmo espaço e tempo. Caso alguns desses elementos fossem
alterados poderia gerar transtornos quanto à compreensão, já que a língua segundo
o mesmo é uma instituição social de adoção obrigatória de todo ser humano.
Através dessa concepção, observa-se a língua como veículo de interação que
concretizar-se como o estudo da linguagem, já que a mesma é um instrumento de
comunicação, concebida anexo á língua. Logo, a linguagem é o elemento de
comunicação social, pois não é possível a existência de uma sociedade se não
houver linguagem, conceituada como a forma de expressão de um grupo ou classe.
Bagno (2002) aponta que a língua constitui-se de signos que evoluem
mediante aos mecanismos concernentes à dinâmica de interação entre si e a
realidade (p.32). Desde já se pode considerar que não há individualidade na língua,
pois a partir das regras e códigos estabelecidos, ela existe para socializar. Rousseau
(2003), afirma que [...] não se sabe de onde veio o homem, antes dele ter falado [...].
Por isso diante de tais constatações e de acordo com Teixeira apud Abbade
(2006, p.130), que de forma resumida afirmar que a língua, dentre outras coisas,
registra e acumula as aquisições culturais, pereniza fatos e dados que o tempo e as
mudanças estruturais impõem à vida da sociedade; assegura a continuidade do
conhecimento e avança e recua no tempo; espelha a vida do povo; é meio das
manifestações culturais; retrata as influencias pela quais passam grupos humanos;
traduz as ansiedades que assimilam diferentes épocas; evidencia as tendências que
marcam cada momento; além de fornecer sempre e em qualquer época, elementos
para uma leitura da sociedade e de outras culturas que ficam marcadas na própria
língua.
20. 19
Dessa forma o estudo do sistema lexical em documentos históricos tem
contribuído para que haja maiores descobertas no campo lexical da história da
língua de um povo.
2.2 Palavra e lexia
A lexia, diferente da palavra, é conceituada como uma unidade significativa
não apenas na sua significação lexemática, mas também gramatical. Enquanto lexia
representa uma palavra com significação social externa ou referencial vista sob o
ponto de vista da lexemática. Isso é possível porque a Lexicologia, ciência que
estuda o léxico, viabiliza todas as relações ditas pragmáticas, linguísticas,
discursivas, históricas e culturais.
Na Lexicologia, tem-se uma preocupação com a significação (significado)
lexical, ou seja, estuda-se em maior escala o sentido da palavra de uma língua
particular: “[...] entendida como o estudo funcional do vocabulário, [...], a estrutura
semântica [...], ocupa-se apenas da significação lexical, excluindo outros tipos de
significação [...]” (ABBADE, 2006, p. 222- 3).
Para Bechara (2005), o léxico pode ser dividido em duas estruturas
lexemáticas: as paradigmáticas ou sintagmáticas. A paradigmática apresenta dois
tipos de estruturas, as estruturas primárias e secundárias, sendo que a primária
subdivide-se em campo léxico e a classe léxica. O campo léxico é formado por
palavras com significação comum e que se encontram em oposição umas com as
outras, como por exemplo, “[...] Estive três _____________ em Fortaleza;”
(BECHARA, 2005, p.387), pode-se preencher a coluna com dias, semanas, meses,
anos etc.
A classe léxica compreende uma classe constituída por um classema, ou
seja, um traço distinto comum que define uma classe independente dos campos
lexicais, ou seja, criança, inteligente, bonita, pertencem a campos distintos, mas
podem ser incluídos na mesma classe pelo classema “ser humano”.
Diante do estudo realizado com ênfase na classificação de Bechara (2005) e
Geckleler (apud Abbade, 2009, p.39), Trier, um dos linguista que introduziu nos anos
20 e 30 o conceito de campo lexical foram inicialmente selecionados do documento
21. 20
em questão as seguintes lexias: mulher, senhores, escravos, tenente, testemunha,
recebedor e escrivão as quais constituem ou designam o campo lexical de pessoas.
Nesta análise, busca-se-á identificar e compreender as mudanças ou não das
lexias ao longo do tempo, já que, segundo Silva (2009, p.150), o léxico é capaz de
revelar a dinamicidade social e cultural de uma comunidade num determinado
período da história. Sendo assim, o léxico é considerado por estudiosos linguístas
como um patrimônio vocabular de um povo que perpassa de geração para geração
com modificações extremas ou não, mas que tem um referencial no passado.
2.3 A Lexemática e a teoria dos campos lexicais
A partir da concepção de Matoré (1953, p.138), acredita-se no encadeamento
do léxico em redes semânticas, ou seja, que o individuo, no decorrer da vida e de
forma gradual, assimila significados lexicais, os quais de acordo com o autor vão
sendo arquivados e recuperados em questão de segundos. Este arquivamento pode
ir aos poucos sendo modificadas embora não se perca o que antes lhe foi guardado.
A estas modificações, vão sendo lhes impostas valores sociais.
Com esta percepção de que as lexias não surgem do nada, e que estas de
forma lenta e gradual vão continuamente sendo modificadas, é que pretende-se
fazer esta análise.
Visando as mudanças e introduções lexicais que têm sido mais intensas nas
últimas décadas, resultado da projeção secular de uma cultura que aos poucos vai
assimilando-se a signos de outras línguas, ou seja, aos denominados empréstimos
que tem cada vez mais se propagado devido principalmente aos meios de
comunicação.
Vale ressaltar que o estudo lexical só foi preconizado a partir do momento que
o homem percebe a importância de registrar, ou seja, nomear os seres e objetos.
Diante dessa necessidade surgem as lexias das línguas naturais, que constituem
sistemas distintos e variados, isso porque as categorias lexicais variam de um
idioma para outro, raramente ocorre semelhanças conceituais entre eles.
Com a civilização, consequentemente, houve a necessidade de ampliação do
vocabulário usado pela sociedade devido ao progresso técnico e cientifico, pela
22. 21
intensidade das comunicações e da progressiva interação das culturas e dos povos
além da mídia.
Diante da expansão lexical, muitos estudiosos passaram a analisar o léxico
ou a ciência Lexicológica, que desde o século XIX tem sido estudado atrelado a
cultura. Segundo a concepção de Abbade (2009), a partir do século XX, o estudo
lexicológico deu origem a diversas correntes linguísticas como:
A teoria Gerativista, na qual a língua é estudada sob o ponto de vista
cognitivista.
A teoria Funcionalista, em que a língua é avaliada sob o ponto de vista
do uso social.
A teoria Estruturalista, na qual estuda a língua sob o ponto de vista
formal e social, observa o vocabulário usado por pessoas de uma
determinada categoria ou grupo social, para serem analisados. Nessa
perspectiva o léxico de uma língua é estruturado em conjuntos e
subconjuntos de palavras.
É com base em teóricos estruturalistas, principalmente os dos campos
lexicais, que esta pesquisa vem sendo desenvolvida com o objetivo de registrar uma
pequena amostra do léxico em uso, numa dada época com o intuito de alcançar os
objetivos mencionados.
Entretanto, ao analisar um documento histórico que é de fundamental
importância para o estudo lexicológico, é possível identificar a partir de algumas
lexias os reflexos de uma época. Por isso, com base nos conceitos de Coseriu
(1997), Bechara (2005) e Abbade (2006 e 2009), que tratam de léxico, as lexias aqui
elencadas serão agrupadas em um campo lexical e analisadas através de suas
conceituações em dicionários, no paralelo entre os respectivos séculos XIX e XXI,
de acordo com o contexto sócio-histórico em que estas estavam inseridas no
documento seguidas de exemplos retirados do mesmo.
23. 22
CAPÍTULO 3
A CARTA DE LIBERDADE DA ESCRAVA “CUSTODIA”
Como o material base desse trabalho foi retirado de um documento do século
XIX, com o objetivo de conhecer um pouco da história de um povo, neste capítulo
foram desenvolvidos dois tópicos: o primeiro faz uma descrição da carta de
liberdade da escrava “Custodia”; e o segundo relata sobre a importância de
preservar documentos antigos, além, trazer uma amostra de parte da transcrição de
um dos fólios do referido documento.
3.1 O documento
Documento palavra derivada do latim documentum, derivado por sua vez do
latim docere, que significa “ensinar”, com a evolução adquiriu significado de prova,
de testemunho escrito do qual segundo Queiroz (2007, p.18) “deve-se extrair tudo o
que ele contém e não lhe acrescentar nada”. Um documento manuscrito constitui-se
como fonte histórica primária, matéria-prima de investigações históricas e
linguísticas, ou mesmo como base para a construção de uma identidade sócio-
histórico-cultural.
Entretanto, é inegável a contribuição dos manuscritos do século XIX para a
compreensão da evolução lingüística da língua portuguesa, assim como de uma
parcela significativa da história de Coité, o intuito deste trabalho é abranger o
conhecimento desse processo histórico da sociedade Coiteense.
Com base nesse principio, pretende-se fazer uma reflexão sobre a cultura das
pessoas envolvidas na referida Carta de Liberdade através da seleção de lexias que
constituem o corpus do documento, proporcionando o acesso e a disseminação de
informações que até o momento estão no esquecimento, considerando-se que:
24. 23
[...] um caminho a percorrer é precisamente aquele que nos apontam
as relações atentas com a alteridade, porque elas nos permitem
também, como a arte, escutar o estranhamento. As ações do outro,
os dizeres do outro, prenhes de sua cultura, quando confrontados
com objetos e fenômenos que nos escondem as valorações que nós
mesmos lhes atribuímos, mostram-nos o que não mais conseguimos
enxergar (GERALDI, 2003, p.6).
Desse modo, quando se analisam documentos escritos, não se pode perder
de vista que é o sujeito que se expressa, mas sua voz carrega o tom de outras
vozes, refletindo a oralidade de seu grupo, gênero, etnia, classe, momento histórico
(SPAGGIARI, 2004), assim, é inegável a contribuição desses manuscritos de
séculos passados para a compreensão da evolução linguística da língua portuguesa,
a qual sofre mudanças continuas.
O documento a ser analisado, escrito no século XIX, refere-se à compra da
liberdade de uma escrava denominada “Custodia”, passada por seus senhores
Manuel José da Cunha e sua mulher Dona Anna Maria de Jezus. A compra foi
efetuada mais precisamente no ano mil oitocentos e sessenta e nove (1869), pela
quantia de seiscentos mil reis, como pode-se constatar na citação a seguir:
Diz em Manuel José da Cunha, e sua mulher Dona Anna de Jezus,
que foram, e de facto tornado (...) a escrava “Custodia”, pela quantia
de seiscentos mil reis e por terem, lhe conterem a presente, idora em
diante lhe será gozar de sua liberdade, como se de ventre livre
nascesse; (1879, l4. 9).
Para testemunhar a este ato jurídico, compareceu ao cartório Manuel Jose da
Cunha Junior, Manuel Lopes da Silva, além do escrivão Raymundo Nonato de
Couto, o recebedor e o tenente Antonio Manuel Morais, que juntamente com o
escrivão assinou a Carta de liberdade da escrava “Custodia”. O mesmo tenente foi o
encarregado de trazer o pedido dos senhores e de levar a carta já ortogada.
Este documento jurídico, intitulado como Carta de liberdade, foi lavrado no
Cartório Durval Silva Pinto na cidade de Conceição do Coité - BA, como já foi
mencionado, hoje este documento se encontra no acervo documental da
Universidade Estadual da Bahia (UNEB) Campus XIV, possui cento e quarenta e
4
O l na referência significa a linha no texto “A carta de liberdade”.
25. 24
três fólios, recto e verso, constituído de uma coluna, escrito em folhas de papel
pautado, mas devido às agressões externas (umidade, poeira, fungos, sol, insetos
em geral), o documento encontra-se em estado de conservação rasurável, com
desgastes de alguns fólios nas extremidades.
Vale ressaltar que alguns dos critérios mencionados por Queiroz (2007), sobre
descrição do documento, não foram constatados no fólio que será transcrito, como:
b) Número de linhas da mancha escrita
c) Existência de ornamentos
d) Maiúsculas mais interessantes
e) Existências de sinais especiais
f) Número de abreviaturas
g) Tipo de escrita
Acredita-se que, a partir dessa pequena amostra do vocabulário usado na
referida Carta, seja possível descrever um pouco do mundo escravista na época e
local observados. Como diz Simon (1996, p.50), “não se trata de uma língua como
espelho da realidade, mas sim de uma opção especificamente humana que resume
conceitualmente e avalia a realidade das coisas”.
3.2 Transcrição do documento
A paleografia disciplina da edótica ou crítica textual, num sentido mais
restrito, tem como objeto de estudo “as antigas formas de escrita” disciplina esta que
englobam a filologia, que num sentido mais amplo, “realiza o estudo da língua em
toda a sua plenitude linguística, literário, crítico textual, sócio-histórico etc, com a
finalidade de tornar possível sua divulgação à estudiosos e público em geral
interessados, bem como preservar os aspectos do patrimônio cultural que estes
documentos compõe, (SANTIAGO-ALMEIDA, 2009, p. 224).
Acioli (1994) acredita que os estilos de escrita variam de época para época,
de país a país e entre os diferentes tipos de documentos, por isso, ela diz que é
26. 25
possível, através de uma catalogação das particularidades de um documento fazer,
a leitura de outros da mesma época, estilo, região, instituição e finalidade.
No entanto, a tarefa de preservação destes documentos tem sido um trabalho
árduo para os filólogos que tem como objeto de estudo a língua e documentos
escritos, não permitindo que ninguém interfira no texto do outro, buscando acima de
tudo resgatar o mais fidedigno possível a transcrição destes documentos, para que
estes não percam sua essência, ou seja, parte da história de um povo devido a
diversas situações como: às traças, os cupins, os insetos em geral, bem como à
ação do tempo – ou seja, a depender do local onde estão acondicionados, à chuva,
ao sol, ao vento, ou à ação do próprio homem, que os danifica achando que não são
importantes.
Diante da importância de se conservar documentos que traduzem a história
foi feita a transcrição de parte do documento estudado já que devido a algumas
limitações não será possível transcrevê-lo na integra. Para esse exercício foram
levando em consideração alguns critérios utilizados por Queiroz (2007), como:
a) Respeitar fielmente o texto: grafia (letras e algarismos), linha, fólio, etc;
b) Indicar o número de fólio, à margem direita, fazendo a chamada com
asterisco;
c) Numerar o texto linha por linha, indicando a numeração de cinco em cinco,
desde a primeira linha do fólio;
e) Desdobrar as abreviaturas apresentando-as em itálico;
f) Utilizar colchetes para as interpolações;
g) Utilizar chaves para as letras e palavras expurgadas;
h) Indicar as rasuras ilegíveis com o auxílio de colchetes e reticências;
i) Expontuar as letras de leitura duvidosa.
Na Carta de Liberdade da escrava denominada “Custodia”, na qual
manteve-se a escrita original das palavras, conforme se apresentam no
manuscrito como: dobramento de letras, erros gráficos ausência de diacríticos,
mantiveram-se as palavras juntas e as que estão separadas, como mostram
sequencialmente os exemplo a seguir:
27. 26
1- Villa, sellada = Vila, selada (l. 7 e 24).
2- Saibão, cauza = saibam, causa (l. 3 e 23).
3- Le = Lê (l.26).
4- Com migo = comigo (l. 25).
5- Suprapor = supra por (l.17).
Observa-se também a troca do “S” por “Z” nas seguintes palavras: Diaz, mez,
cauza, além da coerência semântica e redundância de informações das referida
frases:
1-(...) ano do Nascimento do nosso Senhor Jesus Christo de mil e oitocentos e
setenta e nove, aos cinco Diaz do mez de novembro do dito anno (l. 4-6).
2-Coité cinco de novembro de mil oitocentos sessenta e nove (l.18)
3-Coité cinco de novembro de mil oitocentos sessenta e nove (l.20).
Pode se dizer que o escrivão identificado na carta como Raymundo Nonato
de Couto por algumas vezes tráz uma linguagem talvez considerada rebuscada para
a época em que foi escrita, sendo que algumas destas palavras adquiriram nova
configuração mas continuarão com a mesma carga semântica a exemplo das
palavras: Saibão, theor, facto, alsignei.
Sendo a língua vista como um organismo vivo, por conseguinte, está sempre
em mudança contínua, ressalta-se que, na imediação dos estudos do português, se
observou que mesmo depois de tantos processos, atualmente as mudanças
continuam ocorrendo devido a influências diversas. Para Mattos e Silva (1996),
essas mudanças ocorrem devido a fatores extralinguísticos (sociais e/ ou culturais),
que podem propiciar processos de mudanças na língua que, por conseguinte
excluem características apresentadas à fase arcaica da língua portuguesa.
Diante de tais observações e respeitando tais critérios mencionados por
Queiroz (2007), segue a transcrição de um dos fólios, rectum5 8, da denominada
Carta de Liberdade:
5
S.m. parte anterior da folha, ou página impar.
28. 27
F.6 8*
1
Carta de liberdade da escrava Custodia, passada por seus senhores
Manuel José da Cunha, e sua mulher Dona Anna Maria de Jesus, como
abaixo declara, Saibão quantos verem esta carta de liberdade ou como em
direito melhor nome e lugar haja verem que sendo no ano do 5Nascimento
do nosso Senhor Jesus Christo de mil e mil e oitocentos e setenta e nove,
aos cinco Diaz do mez de novembro do dito anno, neste arraial da
Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, termo da Villa da
feira de Santa Anna, Comarca do mesmo nome em seu Cartório
Compareceu, o tenente Antonio Manuel, e por elle me foi 10entregue uma
Carta de liberdade de theor seguinte. Diz em Manuel José da Cunha, e sua
mulher Dona Anna de Jezus, que foram, e de facto tornado [...] a escrava
Custodia, pela quantia de seiscentos mil reis, e por terem, lhe contarem a
presente, idora em diante lhe será gozar de sua liberdade, como se de
ventre livre nascesse; e como por tela 15reconheceu. Brindão sete de
outubro de mil oitocentos e setenta e nove. Manuel José da Cunha, [...] de
Áurea Maria de Jesus, Antonio Manuel Mancio. Como testemunha Manuel
José da Cunha Junior, Manuel Lopes da Silva. Reconheço as firmas
suprapor próprias por ter dellas o meu conhecimento, do que dou Fé; Coité
cinco de novembro de 20mil oitocentos sessenta e nove. Em testemunha de
verdade estava o [...] Raymundo Nonato de Couto. Numero primeiro,
dusentos reis pagou ou dusentos reis. Coité cinco de novembro de mil
oitocentos sessenta e nove. O escrivão, e recebedor. [...] Nada mais se
continha nem se declarava em dita carta de liberdade pois eu escrivão bem
e fielmente a 25compus, a qual se acha limpa sem borrão ente linhas nem
cauza duvida tivesse, a qual vai reconhecida, e sellada, entregue a própria
carta de liberdade ao mesmo tenente Antonio Manuel Morais que com
migo a baixo assignou se depois de Le ser lida por mim. Raimundo nonato
Couto. Escrivão que a escrevi e alsignei.
Acredita-se que ao longo dos séculos, ou seja, desde a constituição latina até
os dias atuais a formação da Língua Portuguesa sofre mudança linguística. De
acordo com Martin (2003, p.135), “[...] enquanto uma língua permanecer viva ela não
deixará de se transformar [...]”, ou seja, a língua evolui junto à comunidade em que é
falada.
E como a escrita pode nos revelar o conhecimento de mundo de determinado
autor, diante da escrita de tais unidades lexicais, constata-se um pouco da cultura
social de um povo, isso porque se houvesse nesse ambiente alguém mais instruído
que ele não lhe seria permitido a ortogação de documentos de tamanha importância.
Além disso Abbade (2009), afirma-nos que:
6
S.m. fólio, cada uma das páginas de um manuscrito.
29. 28
Língua, história e cultura caminham sempre de mãos dadas e
para conhecermos cada um desses aspectos, faz-se
necessário mergulhar um nos outros, pois nenhum deles
caminha sozinho e independente, (p. 23).
Portanto, o estudo e preservação de documentos antigos de uma comunidade
pode, consequentemente, nos levar a um mergulho na história e cultura de uma
determinada comunidade.
30. 29
CAPÍTULO 4
O CAMPO LEXICAL DE PESSOAS NA CARTA DE LIBERDADE
Este capítulo traz uma amostra de lexias que constituem um dos campos
lexicais, presentes na referida Carta de Liberdade, ou seja, o campo lexical de
pessoas. Estas lexias foram conceituadas com base em dicionários e no contexto do
documento observando se houve mudanças ou não das lexias aqui selecionadas ao
longo do tempo.
O campo lexical de uma palavra designa um conjunto de palavras que
representam um campo conceptual comum devido às relações semânticas que
estabelecem entre si, ou seja, pelas relações de sentido existentes entre elas.
Os campos lexicais de uma língua não são fixos, pois à medida que são
criados novos lexemas, também pode mudar a relação entre eles, possibilitando que
formem novos campos lexicais. Diante de tais concepções a seguir foram elencadas
algumas lexias que constituem o campo lexical de pessoas envolvidas em um
processo jurídico de libertação de uma escrava na cidade Conceição do Coité – BA.
MULHER- s.f. Esposa companheira.
Exemplo: “[...] Diz em Manoel Jozé Cunha, e sua mulher Donna Anna de Jezus[...]”
(l.8).
SENHORES- s.m. Donos, proprietários de pessoas escravizadas.
Exemplo: “[...] passada por seus senhores Manoel José da Cunha e
sua mulher dona Anna Maria de Jesus [...]” (l. 1 e 2).
ESCRAVA- s.f. pessoa subordinada a um dono, a quem pertence como propriedade
privada, que pertence ao campo semântico dos regimes de
trabalho.
Exemplo: “[...] Carta de liberdade da escrava Custódia [...]” (l.1).
TENENTE7- s.m. Patente militar.
7
No contexto da referida carta tem por função buscar na casa dos senhores no caso Manuel José da
Cunha e Donna Anna de Jezus e após assinada diante das testemunhas no cartório e retornar
31. 30
Exemplo: “[...] em seu Cartório Compareceu o tenente Antonio Manuel e por elle
me foi entregue uma Carta de liberdade [...] e selada e entregue a
própria carta de liberdade ao mesmo tenente” (l. 21).
TESTEMUNHA- s.f. Pessoa que presenciou determinado fato, ato ou evento.
Exemplo: “[...] Como testemunha Manuel José da Cunha Junior [...]” (l. 13).
ESCRIVÃO- s.m. Funcionário público que escreve documentos legais
junto a diversas autoridades ou tribunais.
Exemplo: “[...] Escrivão que a escrevi e alsignei” (l. 23).
RECEBEDOR- s.m. que, quem ou que recebe.
Exemplo: “[...] O escrivão, e recebedor [...]”8 (l. 18).
Observa-se que tais funções no contexto da referida Carta de liberdade são
desempenhadas pelo mesmo indivíduo, como mostra o trecho a seguir: “o escrivão,
e recebedor. (...) nada mais se continha nem se declarava [...]” (l. 21).
Como pode observar-se este campo lexical estudado com base em estudos
lexicológicos e na dimensão social da linguagem humana que tem por natureza
própria a variação a qual por excelência juntamente com outros símbolos da herança
cultural, é caracterizada como base para o estudo de antepassados, pois segundo
Matoré (1953, p.132), que considera a lingüística como uma disciplina sociológica,
acredita que o léxico de uma língua reflete os pensamentos e ideais de cada
indivíduo, contudo, ela afirma que “a palavra tem uma existência psicológica e um
valor coletivo”.
É perceptivo que todos os fatores da língua estão sujeitos a variações. Que
duas ou mais formas dependem de fatores de ordem externa ou social. Como a
exemplo da lexia escrava, quando utilizada no século XIX ela é totalmente aceitável,
isso por sua existência esta presente no contexto social interno e externo daquele
a casa dos mesmos. Sendo assim, pode-se dizer que esta lexia adquiriu um novo valor semântico.
Isso porque segundo a concepção de Aurélio (2005), tenente é um cargo publico exercido por um
militar inferior ao de capitão, que fica no comando, ou seja, fica á frente de um departamento policial,
dá ordens.
8
Na visão de Aurélio (2005), recebedor é um funcionário incumbido de receber e arrecadar impostos.
32. 31
período. Já no contexto vigente, tal lexia é interpretada de forma contrária isso
porque os valores sociais mudaram ou mesmo sofreram variações. E para isso, ou
seja, para que haja variação ou mudança linguística é preciso que uma determinada
comunidade a utilize. Assim, o processo lingüístico não se estagna, mas evolui,
acompanhando o evoluir da sociedade que a utiliza como instrumento de
comunicação. A variação é sempre motivada por fatores lexicais, semânticos,
sintático, morfológicos, fonéticos e fonológicos, sendo assim esta mudança não
ocorre de forma aleatória.
Deste modo, conclui-se que realmente a mudança lexical ocorre de forma
lenta e gradual, muito embora na contemporaneidade tenha ocorrido um
crescimento significativo do mesmo. Isso segundo Pinto (1988, p.15), é devido ao
progresso técnico e cientifico, já que as palavras acompanham o tom da novidade.
33. 32
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com Vera Acioli (2003, p. 1): “O documento manuscrito é
considerado a mola-mestra da História.” No entanto, o documento escrito não é só
de interesse da História como também da Filologia, da Paleografia, da Linguística,
da Literatura, dentre outras ciências. Portanto, é de suma importância a sua
preservação e conservação.
Sabemos que as lexias não surgem do nada. As camadas sociais vão
continuamente introduzindo estas ao uso de lexias diárias já existentes. No entanto,
essas mudanças ocorrem lentamente de modo a denunciar o tipo de usuário e
também revelar o tipo de ambiente em que está inserido o grupo deste usuário.
Segundo Hernandes (2005), isso ocorre devido a uma sequência de fatores
sociais e geográfico. Já que, ao analisarmos tais documentos, devemos levar em
consideração o contexto em que foi escrito.
Diante do exposto, pode se constatar-se que ao extrair, por exemplo, a lexia
escrava do documento em questão pode se verificar em que período esta lexia
esteve em evidencia, qual o tipo de cultura qual a situação econômica, como eram
vistos, ou seja, o contexto vivenciado por uma determinada comunidade num
determinado período da história, como se pode observar no esquema abaixo.
Senhores Século XIX Capatazes
Agropecuária ESCRAVA Manufatura
Objetos Animalescos
Entretanto, é possível constatar que a partir da organização de algumas
lexias em campos lexicais existentes em determinado documento possam nos
remeter ao modo como a sociedade da época se relaciona e se comportava. Assim
34. 33
pode-se a partir do estudo do vocabulário, conhecer um pouco da história social de
quem utilizou o mesmo, já que segundo Matoré (1953, p.42), as unidades lexicais
surgem em momentos sócio-históricos específicos.
35. REFERÊNCIAS
ABBADE, Celina Márcia de Souza. (Org.) O Estudo do Léxico, o conhecimento da
cultura, In. O léxico em questão, 2009.
________. O Estudo do Léxico. In: Diferentes perspectivas dos Estudos Filológicos.
Salvador: Quarteto. 2006, p. 213-225.
ACIOLI, Vera Lúcia Costa. A Escrita no Brasil Colônia: um guia para leitura de
documentos manuscritos. 2.ed. Recife: UFPE: Fundação Joaquim Nabuco: Editora
Massangana, 2003.
________. A Escrita no Brasil Colônia: um Guia para leitura de documentos
manuscritos. Recife: Fundação Joaquim Nabuco: Massangana, 1994.
AULETE, Caldas. Minidicionário contemporâneo de língua portuguesa. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2004.
BAGNO, Marcos; STUBBS, Michael; GAGNÉ, Gilles. Língua materna: letramento,
variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002.
BARRETO, Orlando Matos. Conceição do coité: da colonização à emancipação:
1730-1890. Conceição do Coité: Nossa editora Gráfica, 2007.
BEAUFILS, Thomas (Org.) Marc Ferro. O livro negro do colonialismo. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2004.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37.ed. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2005.
CAMPOS, Maria José. Arthur Ramos: luz e sombra na antropologia brasileira. Rio de
Janeiro: Biblioteca Nacional, 2004.
COSERIU, Eugenio. El estudio funcional del vocabulário. Tradução de Marcos
Martínez Hernández. In: Gramática, semántica, universales estudios de la lingüística
funcional. 2.ed. Madrid: Gredos, 1987, p. 206-38.
36. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
FILHO, Walter Fraga. Mendigos, moleques e vadios na Bahia do século XIX. São
Paulo: Editora HUCITEC, 1996.
FIORINI, José Luiz (Org). Introdução à lingüística. São Paulo: Contexto, 2002.
GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua
portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
LIMA-HERNANDES, Maria Célia. A dimensão social das palavras In: SILVA, Luiz
Antonio da (Org). A língua que falamos português: história, variação e discurso.
Globo, 2005.
LOVEJOY, Paul E. A escravidão na África: uma historia de suas transformações. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
MARCUSCHI, L.A. Da fala para a escrita: atividade de retextualização, 4.ed. São
Paulo: Cortez, 2003.
MATORÉ, Geoges. La Methode em Lexecogie. Paris: Marcel Didier, 1953.
MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense,
1982.
__________. Bahia, século XIX: uma Província no Império. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1992.
OLIVEIRA, Ana Maria Carvalho dos Santos. Recôncavo Sul: terra, homens,
economia e poder no século XIX. Salvador: Edusc, 2003.
37. PAIVA, Eduardo França. Escravidão e universo cultural na colônia: Minas Gerais
1730-1890, Belo Horizonte: UFMG, 2001.
PATRÍCIO, Rosana Ribeiro, As filhas de Pandora: imagens de mulher na ficção de
Sonia Coutinho. Rio de Janeiro: 7 letras, 2006.
PINTO, R. M. História da língua portuguesa século XVIII e IV. São Paulo: Ática,1988.
QUEIROZ, Rita de Cássia Ribeiro de. Documentos do Acervo Monsenhor Galvão.
Feira de Santana: Semidiplomática, 2007.
RIBEIRO, João Ubaldo. A gente se acostuma a tudo. Rio de Janeiro: Nova fronteira,
2006.
RIOS, Iara Nancy A. Nossa Senhora da Conceição do Coité: poder e política no
século XIX. Mestrado em História Social. Salvador: Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, 2003, p. 20-21.
ROUSSEAU, J-J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre
os homens. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
RUSSELL-WOOD, A. J. R., Escravos e libertos no Brasil colonial. Tradução de Maria
Beatriz Medina. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2005.
SANTIAGO-ALMEIDA, Manoel Mourivaldo. Os manuscritos e impressos antigos: a
via filológica. In: GIL, Beatriz D; CARDOSO, Elis de A.; CONDÉ, Valéria G. (Orgs.).
São Paulo: Contexto, 2009, p. 223-234.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix:
Edusp,1969.
SAUSSURE, Ferdinand de. Escritos de Linguística Geral. Tradução de Carlos
Augusto Leuba Salum e Ana Lúcia Franco. São Paulo: Cultrix, 2002.
38. SILVA, Nilzete Cruz. O vocabulário de uma escritura de compra e venda de
escravos da região sisaleira baiana. In: ABBADE, Celina Márcia de Souza (Org.). O
léxico em Questão. Salvador: UCSal, 2009.
SIMON, Maria Lúcia Mexias. O falar da escravidão. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1996.
VIANA FILHO, Luís. O negro na Bahia: um ensaio clássico sobre a escravidão. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.