SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 8
ANTÍFONA                                    E as emoções, todas as castidades
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras      Da alma do Verso, pelos versos cantem.
De luares, de neves, de neblinas!           Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...     Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Incensos dos turíbulos das aras             Que brilhe a correção dos alabastros
Formas do Amor, constelarmante puras,       Sonoramente, luminosamente.
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras         Forças originais, essência, graça
E dolências de lírios e de rosas ...        De carnes de mulher, delicadezas...
                                            Todo esse eflúvio que por ondas passa
Indefiníveis músicas supremas,              Do Éter nas róseas e áureas correntezas...
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,         Cristais diluídos de clarões alacres,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...   Desejos, vibrações, ânsias, alentos
                                            Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Visões, salmos e cânticos serenos,          Os mais estranhos estremecimentos...
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos             Flores negras do tédio e flores vagas
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes ...     De amores vãos, tantálicos, doentios...
                                            Fundas vermelhidões de velhas chagas
Infinitos espíritos dispersos,              Em sangue, abertas, escorrendo em rios...
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos           Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Com a chama ideal de todos os mistérios.    Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
                                            Passe, cantando, ante o perfil medonho
Do Sonho as mais azuis diafaneidades        E o tropel cabalístico da Morte...
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
• BRAÇOS
• Braços nervosos, brancas opulências,
  brumais brancuras, fúlgidas brancuras,
  alvuras castas, virginais alvuras,
  latescências das raras latescências.
  As fascinantes, mórbidas dormências
  dos teus abraços de letais flexuras,
  produzem sensações de agres torturas,
  dos desejos as mornas florescências.
  Braços nervosos, tentadoras serpes
  que prendem, tetanizam como os herpes,
  dos delírios na trêmula coorte ...
  Pompa de carnes tépidas e flóreas,
  braços de estranhas correções marmóreas,
  abertos para o Amor e para a Morte!
• DILACERAÇÕES
• Ó carnes que eu amei sangrentamente,
  ó volúpias letais e dolorosas,
  essências de heliotropos e de rosas
  de essência morna, tropical, dolente...
  Carnes, virgens e tépidas do Oriente
  do Sonho e das Estrelas fabulosas,
  carnes acerbas e maravilhosas,
  tentadoras do sol intensamente...
  Passai, dilaceradas pelos zelos,
  através dos profundos pesadelos
  que me apunhalam de mortais horrores...
  Passai, passai, desfeitas em tormentos,
  em lágrimas, em prantos, em lamentos
  em ais, em luto, em convulsões, em dores...
• ACROBATA DA DOR
• Gargalha, ri, num riso de tormenta,
  como um palhaço, que desengonçado,
  nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
  de uma ironia e de uma dor violenta.
  Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
  agita os guizos, e convulsionado
  salta, gavroche, salta clown, varado
  pelo estertor dessa agonia lenta ...
  Pedem-se bis e um bis não se despreza!
  Vamos! retesa os músculos, retesa
  nessas macabras piruetas d'aço. . .
  E embora caias sobre o chão, fremente,
  afogado em teu sangue estuoso e quente,
  ri! Coração, tristíssimo palhaço.
• MÚSICA DA MORTE
• A música da Morte, a nebulosa,
  estranha, imensa música sombria,
  passa a tremer pela minh'alma e fria
  gela, fica a tremer, maravilhosa ...
  Onda nervosa e atroz, onda nervosa,
  letes sinistro e torvo da agonia,
  recresce a lancinante sinfonia
  sobe, numa volúpia dolorosa ...
  Sobe, recresce, tumultuando e amarga,
  tremenda, absurda, imponderada e larga,
  de pavores e trevas alucina ...
  E alucinando e em trevas delirando,
  como um ópio letal, vertiginando,
  os meus nervos, letárgica, fascina ...
• Cárcere das Almas
• Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa,
  soluçando nas trevas, entre as grades
  do calabouço olhando imensidades,
  mares, estrelas, tardes, natureza.
  Tudo se veste de uma igual grandeza
  quando a alma entre grilhões as liberdades
  sonha e sonhando, as imortalidades
  rasga no etéreo Espaço da Pureza.
  Ó almas presas, mudas e fechadas
  nas prisões colossais e abandonadas,
  da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
  Nesses silêncios solitários, graves,
  que chaveiro do Céu possui as chaves
  para abrir-vos as portas do Mistério?!
• Ironia de Lágrimas
• Junto da morte é que floresce a vida!
  Andamos rindo junto a sepultura.
  A boca aberta, escancarada, escura
  Da cova é como flor apodrecida.
• A Morte lembra a estranha Margarida
  Do nosso corpo, Fausto sem ventura…
  Ela anda em torno a toda criatura
  Numa dança macabra indefinida.
• Vem revestida em suas negras sedas
  E a marteladas lúgubres e tredas
  Das Ilusões o eterno esquife prega.
• E adeus caminhos vãos mundos risonhos!
  Lá vem a loba que devora os sonhos,
  Faminta, absconsa, imponderada cega!
• VIOLÕES QUE CHORAM

• Ah! Plangentes violões dormentes, •       Harmonias que pungem, que
  mornos,                                   laceram,
  Soluços ao luar, choros ao vento...       Dedos nervosos e ágeis que
  Tristes perfis, os mais vagos             percorrem
  contornos,                                Cordas e um mundo de dolências
  Bocas murmurejantes de lamento.           geram
• Noites de além, remotas, que eu           Gemidos, prantos, que no espaço
  recordo,                                  morrem...
  Noites da solidão, noites remotas     •   E sons soturnos, suspiradas mágoas,
  Que nos azuis da fantasia bordo,          Mágoas amargas e melancolias,
  Vou constelando de visões ignotas.        No sussurro monótono das águas,
• Sutis palpitações à luz da Lua,           Noturnamente, entre ramagens
  Anseio dos momentos mais                  frias.
  saudosos,                             •   Vozes veladas, veludosas vozes,
  Quando lá choram na deserta rua           Volúpias dos violões, vozes veladas,
  As cordas vivas dos violões chorosos.     Vagam nos velhos vórtices velozes
• Quando os sons dos violões vão            Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
  soluçando,                            •   Tudo nas cordas dos violões ecoa
  Quando os sons dos violões nas            E vibra e se contorce no ar,
  cordas gemem,                             convulso...
  E vão dilacerando e deliciando,           Tudo na noite, tudo clama e voa
  Rasgando as almas que nas sombras         Sob a febril agitação de um pulso.
  tremem.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados (20)

Figuras de linguagem
Figuras de linguagemFiguras de linguagem
Figuras de linguagem
 
O que é simbolismo
O que é simbolismoO que é simbolismo
O que é simbolismo
 
Iracema slide pronto
Iracema   slide prontoIracema   slide pronto
Iracema slide pronto
 
1.conto, características
1.conto, características1.conto, características
1.conto, características
 
Barroco
BarrocoBarroco
Barroco
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
 
Interpretação de um soneto de bocage
Interpretação de um soneto de bocageInterpretação de um soneto de bocage
Interpretação de um soneto de bocage
 
Fernando Pessoa Ortónimo
Fernando Pessoa OrtónimoFernando Pessoa Ortónimo
Fernando Pessoa Ortónimo
 
Exercícios sobre gêneros literários
Exercícios sobre gêneros literáriosExercícios sobre gêneros literários
Exercícios sobre gêneros literários
 
segunda geração romântica
segunda geração românticasegunda geração romântica
segunda geração romântica
 
Cap08 arcadismo
Cap08 arcadismoCap08 arcadismo
Cap08 arcadismo
 
2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo
 
Bocage
BocageBocage
Bocage
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
 
O cortiço
O cortiçoO cortiço
O cortiço
 
Realismo, Naturalismo, Impressionismo, Parnasianismo, Simbolismo
Realismo, Naturalismo, Impressionismo, Parnasianismo, SimbolismoRealismo, Naturalismo, Impressionismo, Parnasianismo, Simbolismo
Realismo, Naturalismo, Impressionismo, Parnasianismo, Simbolismo
 
Arcadismo no Brasil
Arcadismo no BrasilArcadismo no Brasil
Arcadismo no Brasil
 
Aula definitiva iracema
Aula definitiva iracemaAula definitiva iracema
Aula definitiva iracema
 
Parnasianismo'
Parnasianismo'Parnasianismo'
Parnasianismo'
 
Gregório de matos
Gregório de matosGregório de matos
Gregório de matos
 

Destaque

João da cruz e sousa poeta catarinense
João da cruz e sousa poeta catarinenseJoão da cruz e sousa poeta catarinense
João da cruz e sousa poeta catarinenseMarilene dos Santos
 
Ismália - Aphonsus de Guimaraens
Ismália - Aphonsus de GuimaraensIsmália - Aphonsus de Guimaraens
Ismália - Aphonsus de GuimaraensMima Badan
 
Simbolismo SemináRio
Simbolismo   SemináRioSimbolismo   SemináRio
Simbolismo SemináRiomrbo
 
Acrobata da dor e o morcego poemas de cruz e sousa
Acrobata da dor e o morcego poemas de cruz e sousaAcrobata da dor e o morcego poemas de cruz e sousa
Acrobata da dor e o morcego poemas de cruz e sousaKarin Cristine
 
Análise Bêbado - Cruz e Sousa
Análise Bêbado - Cruz e SousaAnálise Bêbado - Cruz e Sousa
Análise Bêbado - Cruz e SousaFrancielle Alves
 
Pronomes demonstrativos
Pronomes demonstrativosPronomes demonstrativos
Pronomes demonstrativosKarin Cristine
 
Cruzesousa vol1 poesia
Cruzesousa vol1 poesiaCruzesousa vol1 poesia
Cruzesousa vol1 poesiaCarlos Alê
 
1 1 arte e literatura
1 1 arte e literatura1 1 arte e literatura
1 1 arte e literaturaLuan02
 
Simbolismo 2017 revisado
Simbolismo  2017 revisadoSimbolismo  2017 revisado
Simbolismo 2017 revisadoKarin Cristine
 

Destaque (10)

João da cruz e sousa poeta catarinense
João da cruz e sousa poeta catarinenseJoão da cruz e sousa poeta catarinense
João da cruz e sousa poeta catarinense
 
Ismália - Aphonsus de Guimaraens
Ismália - Aphonsus de GuimaraensIsmália - Aphonsus de Guimaraens
Ismália - Aphonsus de Guimaraens
 
Simbolismo SemináRio
Simbolismo   SemináRioSimbolismo   SemináRio
Simbolismo SemináRio
 
Acrobata da dor e o morcego poemas de cruz e sousa
Acrobata da dor e o morcego poemas de cruz e sousaAcrobata da dor e o morcego poemas de cruz e sousa
Acrobata da dor e o morcego poemas de cruz e sousa
 
Análise Bêbado - Cruz e Sousa
Análise Bêbado - Cruz e SousaAnálise Bêbado - Cruz e Sousa
Análise Bêbado - Cruz e Sousa
 
Pronomes demonstrativos
Pronomes demonstrativosPronomes demonstrativos
Pronomes demonstrativos
 
Cruzesousa vol1 poesia
Cruzesousa vol1 poesiaCruzesousa vol1 poesia
Cruzesousa vol1 poesia
 
1 1 arte e literatura
1 1 arte e literatura1 1 arte e literatura
1 1 arte e literatura
 
Simbolismo 2017 revisado
Simbolismo  2017 revisadoSimbolismo  2017 revisado
Simbolismo 2017 revisado
 
Poetas parnasianos e simbolistas
Poetas parnasianos e simbolistasPoetas parnasianos e simbolistas
Poetas parnasianos e simbolistas
 

Semelhante a PORTUGUÊS: Obras, Cruz e Souza

Aula 24 simbolismo
Aula 24   simbolismoAula 24   simbolismo
Aula 24 simbolismoMauro Marcel
 
Augusto dos anjos_eu_e_outros_poemas
Augusto dos anjos_eu_e_outros_poemasAugusto dos anjos_eu_e_outros_poemas
Augusto dos anjos_eu_e_outros_poemasericasilveira
 
Aprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticos
Aprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticosAprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticos
Aprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticosCooperativa do Saber
 
Análise de emparedado, de cruz e souza
Análise de emparedado, de cruz e souzaAnálise de emparedado, de cruz e souza
Análise de emparedado, de cruz e souzama.no.el.ne.ves
 
Ultimos sonetos
Ultimos sonetosUltimos sonetos
Ultimos sonetosLRede
 
Auta de Souza e Chico Xavier
Auta de Souza e Chico XavierAuta de Souza e Chico Xavier
Auta de Souza e Chico Xavierigmateus
 
Auta de Souza e Chico Xavier
Auta de Souza e Chico XavierAuta de Souza e Chico Xavier
Auta de Souza e Chico Xavierigmateus
 
Exposições de Autores de lingua e expressão portuguesa na biblioteca da ESAB
Exposições de Autores de lingua e expressão portuguesa na biblioteca da ESABExposições de Autores de lingua e expressão portuguesa na biblioteca da ESAB
Exposições de Autores de lingua e expressão portuguesa na biblioteca da ESABBiblioteca Avelar Brotero
 
Camilo pessanha poemas
Camilo pessanha poemasCamilo pessanha poemas
Camilo pessanha poemasagnes2012
 
Romantismo e realismo
Romantismo e realismoRomantismo e realismo
Romantismo e realismoisaianabrito
 
Bocage a morte de dona inês
Bocage   a morte de dona inêsBocage   a morte de dona inês
Bocage a morte de dona inêsAriovaldo Cunha
 

Semelhante a PORTUGUÊS: Obras, Cruz e Souza (20)

Aula 24 simbolismo
Aula 24   simbolismoAula 24   simbolismo
Aula 24 simbolismo
 
Augusto dos anjos_eu_e_outros_poemas
Augusto dos anjos_eu_e_outros_poemasAugusto dos anjos_eu_e_outros_poemas
Augusto dos anjos_eu_e_outros_poemas
 
O romantismo
O romantismoO romantismo
O romantismo
 
SIMBOLISMO.pptx
SIMBOLISMO.pptxSIMBOLISMO.pptx
SIMBOLISMO.pptx
 
Aprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticos
Aprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticosAprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticos
Aprofundamento aula 5_interpretação_textos_poéticos
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
 
Análise de emparedado, de cruz e souza
Análise de emparedado, de cruz e souzaAnálise de emparedado, de cruz e souza
Análise de emparedado, de cruz e souza
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
 
Ultimos sonetos
Ultimos sonetosUltimos sonetos
Ultimos sonetos
 
Alma Inquieta
Alma InquietaAlma Inquieta
Alma Inquieta
 
Auta de Souza e Chico Xavier
Auta de Souza e Chico XavierAuta de Souza e Chico Xavier
Auta de Souza e Chico Xavier
 
Auta de Souza e Chico Xavier
Auta de Souza e Chico XavierAuta de Souza e Chico Xavier
Auta de Souza e Chico Xavier
 
Exposições de Autores de lingua e expressão portuguesa na biblioteca da ESAB
Exposições de Autores de lingua e expressão portuguesa na biblioteca da ESABExposições de Autores de lingua e expressão portuguesa na biblioteca da ESAB
Exposições de Autores de lingua e expressão portuguesa na biblioteca da ESAB
 
Camilo pessanha poemas
Camilo pessanha poemasCamilo pessanha poemas
Camilo pessanha poemas
 
Romantismo e realismo
Romantismo e realismoRomantismo e realismo
Romantismo e realismo
 
Poemas da juventude de machado
Poemas da juventude de machadoPoemas da juventude de machado
Poemas da juventude de machado
 
Bocage a morte de dona inês
Bocage   a morte de dona inêsBocage   a morte de dona inês
Bocage a morte de dona inês
 
Mestres da poesia
Mestres da poesiaMestres da poesia
Mestres da poesia
 
Romantismo - poesias
Romantismo - poesiasRomantismo - poesias
Romantismo - poesias
 

Mais de BlogSJuniinho

BIOLOGIA: Contexto Histórico, Rio Capibaribe
BIOLOGIA: Contexto Histórico, Rio CapibaribeBIOLOGIA: Contexto Histórico, Rio Capibaribe
BIOLOGIA: Contexto Histórico, Rio CapibaribeBlogSJuniinho
 
BIOLOGIA: Mata Atlântica
BIOLOGIA: Mata Atlântica BIOLOGIA: Mata Atlântica
BIOLOGIA: Mata Atlântica BlogSJuniinho
 
ED. FÍSICA: Xote & Baião
ED. FÍSICA: Xote & BaiãoED. FÍSICA: Xote & Baião
ED. FÍSICA: Xote & BaiãoBlogSJuniinho
 
EMPREENDEDORISMO: Pesquisa Profissional
EMPREENDEDORISMO: Pesquisa ProfissionalEMPREENDEDORISMO: Pesquisa Profissional
EMPREENDEDORISMO: Pesquisa ProfissionalBlogSJuniinho
 
PORTUGUÊS: O cortiço, Aluísio de Azevedo
PORTUGUÊS: O cortiço, Aluísio de AzevedoPORTUGUÊS: O cortiço, Aluísio de Azevedo
PORTUGUÊS: O cortiço, Aluísio de AzevedoBlogSJuniinho
 
PORTUGÊS: Simbolismo
PORTUGÊS: SimbolismoPORTUGÊS: Simbolismo
PORTUGÊS: SimbolismoBlogSJuniinho
 
HISTÓRIA: Independência ou Morte
HISTÓRIA: Independência ou MorteHISTÓRIA: Independência ou Morte
HISTÓRIA: Independência ou MorteBlogSJuniinho
 
HISTÓRIA: Inconfidência Mineira
HISTÓRIA: Inconfidência MineiraHISTÓRIA: Inconfidência Mineira
HISTÓRIA: Inconfidência MineiraBlogSJuniinho
 
HISTÓRIA: De Colônia à sede do Império Português
HISTÓRIA: De Colônia à sede do Império PortuguêsHISTÓRIA: De Colônia à sede do Império Português
HISTÓRIA: De Colônia à sede do Império PortuguêsBlogSJuniinho
 
HISTÓRIA: A Metrópole em Crise
HISTÓRIA: A Metrópole em CriseHISTÓRIA: A Metrópole em Crise
HISTÓRIA: A Metrópole em CriseBlogSJuniinho
 
FILOSOFIA: Consciência & Liberdade
FILOSOFIA: Consciência &  LiberdadeFILOSOFIA: Consciência &  Liberdade
FILOSOFIA: Consciência & LiberdadeBlogSJuniinho
 

Mais de BlogSJuniinho (14)

BIOLOGIA: Contexto Histórico, Rio Capibaribe
BIOLOGIA: Contexto Histórico, Rio CapibaribeBIOLOGIA: Contexto Histórico, Rio Capibaribe
BIOLOGIA: Contexto Histórico, Rio Capibaribe
 
BIOLOGIA: Mata Atlântica
BIOLOGIA: Mata Atlântica BIOLOGIA: Mata Atlântica
BIOLOGIA: Mata Atlântica
 
ED. FÍSICA: Xote & Baião
ED. FÍSICA: Xote & BaiãoED. FÍSICA: Xote & Baião
ED. FÍSICA: Xote & Baião
 
EMPREENDEDORISMO: Pesquisa Profissional
EMPREENDEDORISMO: Pesquisa ProfissionalEMPREENDEDORISMO: Pesquisa Profissional
EMPREENDEDORISMO: Pesquisa Profissional
 
PORTUGUÊS: O cortiço, Aluísio de Azevedo
PORTUGUÊS: O cortiço, Aluísio de AzevedoPORTUGUÊS: O cortiço, Aluísio de Azevedo
PORTUGUÊS: O cortiço, Aluísio de Azevedo
 
PORTUGÊS: Simbolismo
PORTUGÊS: SimbolismoPORTUGÊS: Simbolismo
PORTUGÊS: Simbolismo
 
HISTÓRIA: Independência ou Morte
HISTÓRIA: Independência ou MorteHISTÓRIA: Independência ou Morte
HISTÓRIA: Independência ou Morte
 
HISTÓRIA: Inconfidência Mineira
HISTÓRIA: Inconfidência MineiraHISTÓRIA: Inconfidência Mineira
HISTÓRIA: Inconfidência Mineira
 
HISTÓRIA: De Colônia à sede do Império Português
HISTÓRIA: De Colônia à sede do Império PortuguêsHISTÓRIA: De Colônia à sede do Império Português
HISTÓRIA: De Colônia à sede do Império Português
 
HISTÓRIA: A Metrópole em Crise
HISTÓRIA: A Metrópole em CriseHISTÓRIA: A Metrópole em Crise
HISTÓRIA: A Metrópole em Crise
 
GEOGRAFIA: IDH
GEOGRAFIA: IDHGEOGRAFIA: IDH
GEOGRAFIA: IDH
 
FILOSOFIA: Consciência & Liberdade
FILOSOFIA: Consciência &  LiberdadeFILOSOFIA: Consciência &  Liberdade
FILOSOFIA: Consciência & Liberdade
 
ARTES: Renascimento
ARTES: RenascimentoARTES: Renascimento
ARTES: Renascimento
 
ENGLISH: SPACESHIP
ENGLISH: SPACESHIPENGLISH: SPACESHIP
ENGLISH: SPACESHIP
 

PORTUGUÊS: Obras, Cruz e Souza

  • 1. ANTÍFONA E as emoções, todas as castidades Ó Formas alvas, brancas, Formas claras Da alma do Verso, pelos versos cantem. De luares, de neves, de neblinas! Que o pólen de ouro dos mais finos astros Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Fecunde e inflame a rima clara e ardente... Incensos dos turíbulos das aras Que brilhe a correção dos alabastros Formas do Amor, constelarmante puras, Sonoramente, luminosamente. De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádidas frescuras Forças originais, essência, graça E dolências de lírios e de rosas ... De carnes de mulher, delicadezas... Todo esse eflúvio que por ondas passa Indefiníveis músicas supremas, Do Éter nas róseas e áureas correntezas... Harmonias da Cor e do Perfume... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Cristais diluídos de clarões alacres, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... Desejos, vibrações, ânsias, alentos Fulvas vitórias, triunfamentos acres, Visões, salmos e cânticos serenos, Os mais estranhos estremecimentos... Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes... Dormências de volúpicos venenos Flores negras do tédio e flores vagas Sutis e suaves, mórbidos, radiantes ... De amores vãos, tantálicos, doentios... Fundas vermelhidões de velhas chagas Infinitos espíritos dispersos, Em sangue, abertas, escorrendo em rios... Inefáveis, edênicos, aéreos, Fecundai o Mistério destes versos Tudo! vivo e nervoso e quente e forte, Com a chama ideal de todos os mistérios. Nos turbilhões quiméricos do Sonho, Passe, cantando, ante o perfil medonho Do Sonho as mais azuis diafaneidades E o tropel cabalístico da Morte... Que fuljam, que na Estrofe se levantem
  • 2. • BRAÇOS • Braços nervosos, brancas opulências, brumais brancuras, fúlgidas brancuras, alvuras castas, virginais alvuras, latescências das raras latescências. As fascinantes, mórbidas dormências dos teus abraços de letais flexuras, produzem sensações de agres torturas, dos desejos as mornas florescências. Braços nervosos, tentadoras serpes que prendem, tetanizam como os herpes, dos delírios na trêmula coorte ... Pompa de carnes tépidas e flóreas, braços de estranhas correções marmóreas, abertos para o Amor e para a Morte!
  • 3. • DILACERAÇÕES • Ó carnes que eu amei sangrentamente, ó volúpias letais e dolorosas, essências de heliotropos e de rosas de essência morna, tropical, dolente... Carnes, virgens e tépidas do Oriente do Sonho e das Estrelas fabulosas, carnes acerbas e maravilhosas, tentadoras do sol intensamente... Passai, dilaceradas pelos zelos, através dos profundos pesadelos que me apunhalam de mortais horrores... Passai, passai, desfeitas em tormentos, em lágrimas, em prantos, em lamentos em ais, em luto, em convulsões, em dores...
  • 4. • ACROBATA DA DOR • Gargalha, ri, num riso de tormenta, como um palhaço, que desengonçado, nervoso, ri, num riso absurdo, inflado de uma ironia e de uma dor violenta. Da gargalhada atroz, sanguinolenta, agita os guizos, e convulsionado salta, gavroche, salta clown, varado pelo estertor dessa agonia lenta ... Pedem-se bis e um bis não se despreza! Vamos! retesa os músculos, retesa nessas macabras piruetas d'aço. . . E embora caias sobre o chão, fremente, afogado em teu sangue estuoso e quente, ri! Coração, tristíssimo palhaço.
  • 5. • MÚSICA DA MORTE • A música da Morte, a nebulosa, estranha, imensa música sombria, passa a tremer pela minh'alma e fria gela, fica a tremer, maravilhosa ... Onda nervosa e atroz, onda nervosa, letes sinistro e torvo da agonia, recresce a lancinante sinfonia sobe, numa volúpia dolorosa ... Sobe, recresce, tumultuando e amarga, tremenda, absurda, imponderada e larga, de pavores e trevas alucina ... E alucinando e em trevas delirando, como um ópio letal, vertiginando, os meus nervos, letárgica, fascina ...
  • 6. • Cárcere das Almas • Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa, soluçando nas trevas, entre as grades do calabouço olhando imensidades, mares, estrelas, tardes, natureza. Tudo se veste de uma igual grandeza quando a alma entre grilhões as liberdades sonha e sonhando, as imortalidades rasga no etéreo Espaço da Pureza. Ó almas presas, mudas e fechadas nas prisões colossais e abandonadas, da Dor no calabouço, atroz, funéreo! Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério?!
  • 7. • Ironia de Lágrimas • Junto da morte é que floresce a vida! Andamos rindo junto a sepultura. A boca aberta, escancarada, escura Da cova é como flor apodrecida. • A Morte lembra a estranha Margarida Do nosso corpo, Fausto sem ventura… Ela anda em torno a toda criatura Numa dança macabra indefinida. • Vem revestida em suas negras sedas E a marteladas lúgubres e tredas Das Ilusões o eterno esquife prega. • E adeus caminhos vãos mundos risonhos! Lá vem a loba que devora os sonhos, Faminta, absconsa, imponderada cega!
  • 8. • VIOLÕES QUE CHORAM • Ah! Plangentes violões dormentes, • Harmonias que pungem, que mornos, laceram, Soluços ao luar, choros ao vento... Dedos nervosos e ágeis que Tristes perfis, os mais vagos percorrem contornos, Cordas e um mundo de dolências Bocas murmurejantes de lamento. geram • Noites de além, remotas, que eu Gemidos, prantos, que no espaço recordo, morrem... Noites da solidão, noites remotas • E sons soturnos, suspiradas mágoas, Que nos azuis da fantasia bordo, Mágoas amargas e melancolias, Vou constelando de visões ignotas. No sussurro monótono das águas, • Sutis palpitações à luz da Lua, Noturnamente, entre ramagens Anseio dos momentos mais frias. saudosos, • Vozes veladas, veludosas vozes, Quando lá choram na deserta rua Volúpias dos violões, vozes veladas, As cordas vivas dos violões chorosos. Vagam nos velhos vórtices velozes • Quando os sons dos violões vão Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. soluçando, • Tudo nas cordas dos violões ecoa Quando os sons dos violões nas E vibra e se contorce no ar, cordas gemem, convulso... E vão dilacerando e deliciando, Tudo na noite, tudo clama e voa Rasgando as almas que nas sombras Sob a febril agitação de um pulso. tremem.