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Moneyball para Startups e a Força da Tração
Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE

Numa dessas ironias da vida, um dos grandes pilares da revolução tecnológica alucinante que
ainda hoje se desenrola está sendo taxado de dinossauro. Isso mesmo, jurássico. Verdadeiro
símbolo do combustível que tem alimentado a inovação tecnológica, o capitalista de ventura
(em inglês, “venture capitalist”, abrev. VC), ou capitalista de risco, tem tido um papel
fundamental no desenvolvimento do ecossistema de inovação e geração de riqueza do Vale do
Silício. Atualmente, porém, observa-se nitidamente que os fundos de capital de ventura estão
diminuindo de tamanho, ao mesmo tempo em que crescem os fundos de investidor anjo. E, no
momento atual, todas as indicações são de que o investidor, seja atuante em uma classe de
ativos ou em outra, está sendo forçado a se tornar mais ágil e mais esperto, em consonância
com o ritmo de mudanças. Os custos das empresas startup têm diminuído dramaticamente
nos últimos cinco anos, e a distribuição online através de engenhos de busca, mídia social, e
plataformas móveis têm se popularizado como canais de marketing para consumidores.
Enquanto isso, por um lado, aumenta o número de aquisições, e, por outro lado, o tamanho
das negociações diminui à medida em que empresas mais consolidadas adquirem startups em
momentos cada vez mais iniciais de seu ciclo de desenvolvimento.

Conforme previu Paul Kedrosky em relatório publicado em Junho de 2009 pela Kauffman
Foundation (“Right-Sizing the U.S. Venture Capital Industry”), a indústria do capital de ventura
está encolhendo. Apesar do sucesso demonstrado nas últimas três décadas, e de seu papel de
catalisador financeiro de empresas de alto crescimento, a indústria de VC tem revelado
estagnação e declínio em seu retorno. Entre os especialistas há um sentimento generalizado
de que, embora deva manter seu papel fundamental de tracionar o crescimento de empresas
nas áreas de tecnologia da informação, tecnologia limpa, e biotecnologia, todas elas de alto
risco e ao mesmo tempo capital-intensivas, a indústria deverá passar por um processo de
redimensionamento. A resistência a mudanças é uma realidade, inclusive pela imagem, tanto
no inconsciente coletivo quanto no meio dos responsáveis por políticas públicas, de que a
indústria de VC é elemento inseparável da inovação tecnológica. Kedrosky se propõe a
responder questões fundamentais como: qual deveria ser o tamanho da indústria de VC em
termos do compromisso financeiro subjacente agregado para com parcerias de
empreendimento? O tamanho da indústria deveria ser maior de modo a melhor equipar
empreendedores para resolver problemas que enfrentamos enquanto sociedade? Deveria ser
menor para que possa arriscar mais, tracionar retornos maiores, e portanto manter os
investidores satisfeitos?

É fato que a indústria do capital de ventura cresceu dramaticamente como resultado da
formação da bolha da internet que acabou rompida em 2001. Antes do fenômeno da bolha se
consolidar, as pessoas que investiam em fundos de VC (os chamados “parceiros limitados”, em
inglês “limited partners”, abrev. LP’s) puseram cerca de 50 bilhões de dólares no setor, e em
2001 o total de investimentos inchou para algo em torno dos 250 bilhões. Acontece que, como
o capital de ventura é uma classe de ativos essencialmente “ilíquida”, mesmo após o estouro
da bolha os fundos não desapareceram imediatamente. Em 2000-2001 o mercado de ações se
ajustou rapidamente punindo investidores no índice NASDAQ e nas ações de empresas de
tecnologia de um modo geral. É natural que os consumidores tenham retirado seu dinheiro
desses investimentos de alto risco, mas o compromisso dos LP’s com os fundos de VC é de 10
anos determinado no contrato. Dessa forma, o total de compromissos em 2008 ainda se
situava em torno dos 250 bilhões.

Em “What’s Really Going on in the VC Industry? What Does it Mean for Startups?” (16/10/10)
Mark Suster lembra que o que acelerou o encolhimento da indústria de VC foi o colapso dos
mercados financeiros. Os LP’s que investem em fundos são tipicamente as reservas
monetárias (em inglês “endowments”) das universidades americanas, os fundos de pensão, as
seguradoras, as grandes corporações, além dos indivíduos de grande fortuna. Kedrosky então
enumera dois problemas com o LP: (1) o “problema do denominador, que diz que se um LP
investe X% (numerador) em “investimentos alternativos” tais como capital de ventura, e se o
montante disponível para investir (denominador) diminui de 30%, então o montante que ele
aloca para o VC vai precisar baixar de 30% para permanecer na mesma porcentagem; (2) a
indústria do VC tem tido um péssimo desempenho nos últimos 10 anos, a ponto de muitas
firmas sequer terem retribuído o capital original dos LP’s, muito menos dar lucro.

Em artigo intitulado “MoneyBall for Startups: Invest BEFORE Product/Market Fit, Double-Down
AFTER”, 30/07/10), recentemente publicado em seu blog “Master of 500 Hats”, Dave McClure,
investidor anjo e empreendedor, começa lembrando as discussões recentes sobre as
vantagens e desvantagens de ser pequeno ou grande investidor em alta tecnologia, mais
especificamente que mudanças e desafios têm surgido na indústria do VC na última década. As
circunstâncias atuais, segundo ele, não se mostrariam favoráveis aos fundos de grande volume
de investimento em internet de consumo (em inglês, “consumer internet”). De forma
aparentemente paradoxal, McClure argumenta que um dos principais fatores para o sucesso
de um investimento em uma startup não seria o tamanho do fundo. Na verdade, o ponto
principal, segundo ele, seria o nível de complacência e de falta de agilidade dos investidores
nessas últimas duas décadas, revelados inclusive na própria taxa interna de retorno (em inglês,
“internal rate of return”, abrev. IRR). “Enquanto isso a internet de consumo trouxe uma
verdadeira tsunami de mudanças tecnológicas e comportamentais que resultou em reduções
espetaculares em tempo e custo necessários para distribuir produtos e serviços a mais de 2 a 3
bilhões de pessoas conectadas no planeta. A internet mudou a vida dramaticamente para
bilhões de pessoas em todo o globo – e ainda assim a maioria dos VC’s e dos advogados ainda
fecham negociações via fax e correio comum.”

O mundo mudou muito para empreendedores de tecnologia, e os VC’s estão tentando se
adaptar às novas realidades. Segundo McClure, alguns vão conseguir, porém outros vão
acabar decidindo por não angariar um novo fundo e passar os próximos cinco a dez anos
envolvidos com os fundos que já têm, e depois se retirar do setor. “A maioria dos VC’s são
dinossauros, e a World Wide Web é um asteróide que atingiu o planeta numa explosão
cataclísmica em câmera-lenta 15 anos atrás. Pode levar mais 5 anos para que as cinzas das
nuvens e o inverno nuclear dos navegadores, engenhos de busca, redes sociais, e dispositivos
móveis matem os tiranossauros, mas é um fato consumado,” diz McClure.
Em decorrência das mudanças trazidas pela Web, incluindo aí os recursos disponbilizados pela
computação nas nuvens, estaríamos vivenciando um período de grandes oportunidades para
se montar startups de internet de consumo focadas-em-receita com base num investimento
de baixa magnitude (da ordem de 1 a 5 milhões de dólares) que: (i) atinja um certo nível de
viabilidade comercial, (ii) adquira clientes usando canais de distribuição online (engenhos de
busca, redes sociais, plataformas móveis), (iii) possa ser vendida mais tarde por algo na faixa
de 25 a 250 milhões de dólares.

Tudo isso com base nos seguintes fundamentos: (1) os ciclos de desenvolvimento do produto
seriam mais curtos, os recursos e o material necessários seriam gratuitos ou de baixo custo, os
equipes de desenvolvimento seriam menores, e os novos serviços de combinação com outros
serviços já existentes que já propiciam excelente valor na nuvem através de features, dados,
efeitos de rede, API’s; (2) os custos de marketing seriam menores devido à disponibilidade de
canais de baixo custo e de alcance amplo, que podem ser usados de forma mais mensurável e
previsível que anteriormente; (3) a receita poderia ser gerada de forma simples e contínua
através de modelos de negócio diretos e métodos de pagamento online que se popularizam
cada vez mais, comércio eletrônico transacional, bens digitais, cobrança de assinatura,
publicidade mensurada por clique. O tripé formaria o que ele chama de “tração”.

Em suma, a receita de McClure assim se configura: “invista antes do encaixe produto/mercado,
meça/teste para ver se a equipe está encontrando esse encaixe, e, em caso positive, exerça
sua oportunidade de investimento de acompanhamento proporcional depois que eles tiverem
conseguido obter o encaixe produto/mercado.”

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  • 1. Moneyball para Startups e a Força da Tração Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE Numa dessas ironias da vida, um dos grandes pilares da revolução tecnológica alucinante que ainda hoje se desenrola está sendo taxado de dinossauro. Isso mesmo, jurássico. Verdadeiro símbolo do combustível que tem alimentado a inovação tecnológica, o capitalista de ventura (em inglês, “venture capitalist”, abrev. VC), ou capitalista de risco, tem tido um papel fundamental no desenvolvimento do ecossistema de inovação e geração de riqueza do Vale do Silício. Atualmente, porém, observa-se nitidamente que os fundos de capital de ventura estão diminuindo de tamanho, ao mesmo tempo em que crescem os fundos de investidor anjo. E, no momento atual, todas as indicações são de que o investidor, seja atuante em uma classe de ativos ou em outra, está sendo forçado a se tornar mais ágil e mais esperto, em consonância com o ritmo de mudanças. Os custos das empresas startup têm diminuído dramaticamente nos últimos cinco anos, e a distribuição online através de engenhos de busca, mídia social, e plataformas móveis têm se popularizado como canais de marketing para consumidores. Enquanto isso, por um lado, aumenta o número de aquisições, e, por outro lado, o tamanho das negociações diminui à medida em que empresas mais consolidadas adquirem startups em momentos cada vez mais iniciais de seu ciclo de desenvolvimento. Conforme previu Paul Kedrosky em relatório publicado em Junho de 2009 pela Kauffman Foundation (“Right-Sizing the U.S. Venture Capital Industry”), a indústria do capital de ventura está encolhendo. Apesar do sucesso demonstrado nas últimas três décadas, e de seu papel de catalisador financeiro de empresas de alto crescimento, a indústria de VC tem revelado estagnação e declínio em seu retorno. Entre os especialistas há um sentimento generalizado de que, embora deva manter seu papel fundamental de tracionar o crescimento de empresas nas áreas de tecnologia da informação, tecnologia limpa, e biotecnologia, todas elas de alto risco e ao mesmo tempo capital-intensivas, a indústria deverá passar por um processo de redimensionamento. A resistência a mudanças é uma realidade, inclusive pela imagem, tanto no inconsciente coletivo quanto no meio dos responsáveis por políticas públicas, de que a indústria de VC é elemento inseparável da inovação tecnológica. Kedrosky se propõe a responder questões fundamentais como: qual deveria ser o tamanho da indústria de VC em termos do compromisso financeiro subjacente agregado para com parcerias de empreendimento? O tamanho da indústria deveria ser maior de modo a melhor equipar empreendedores para resolver problemas que enfrentamos enquanto sociedade? Deveria ser menor para que possa arriscar mais, tracionar retornos maiores, e portanto manter os investidores satisfeitos? É fato que a indústria do capital de ventura cresceu dramaticamente como resultado da formação da bolha da internet que acabou rompida em 2001. Antes do fenômeno da bolha se consolidar, as pessoas que investiam em fundos de VC (os chamados “parceiros limitados”, em inglês “limited partners”, abrev. LP’s) puseram cerca de 50 bilhões de dólares no setor, e em 2001 o total de investimentos inchou para algo em torno dos 250 bilhões. Acontece que, como o capital de ventura é uma classe de ativos essencialmente “ilíquida”, mesmo após o estouro da bolha os fundos não desapareceram imediatamente. Em 2000-2001 o mercado de ações se
  • 2. ajustou rapidamente punindo investidores no índice NASDAQ e nas ações de empresas de tecnologia de um modo geral. É natural que os consumidores tenham retirado seu dinheiro desses investimentos de alto risco, mas o compromisso dos LP’s com os fundos de VC é de 10 anos determinado no contrato. Dessa forma, o total de compromissos em 2008 ainda se situava em torno dos 250 bilhões. Em “What’s Really Going on in the VC Industry? What Does it Mean for Startups?” (16/10/10) Mark Suster lembra que o que acelerou o encolhimento da indústria de VC foi o colapso dos mercados financeiros. Os LP’s que investem em fundos são tipicamente as reservas monetárias (em inglês “endowments”) das universidades americanas, os fundos de pensão, as seguradoras, as grandes corporações, além dos indivíduos de grande fortuna. Kedrosky então enumera dois problemas com o LP: (1) o “problema do denominador, que diz que se um LP investe X% (numerador) em “investimentos alternativos” tais como capital de ventura, e se o montante disponível para investir (denominador) diminui de 30%, então o montante que ele aloca para o VC vai precisar baixar de 30% para permanecer na mesma porcentagem; (2) a indústria do VC tem tido um péssimo desempenho nos últimos 10 anos, a ponto de muitas firmas sequer terem retribuído o capital original dos LP’s, muito menos dar lucro. Em artigo intitulado “MoneyBall for Startups: Invest BEFORE Product/Market Fit, Double-Down AFTER”, 30/07/10), recentemente publicado em seu blog “Master of 500 Hats”, Dave McClure, investidor anjo e empreendedor, começa lembrando as discussões recentes sobre as vantagens e desvantagens de ser pequeno ou grande investidor em alta tecnologia, mais especificamente que mudanças e desafios têm surgido na indústria do VC na última década. As circunstâncias atuais, segundo ele, não se mostrariam favoráveis aos fundos de grande volume de investimento em internet de consumo (em inglês, “consumer internet”). De forma aparentemente paradoxal, McClure argumenta que um dos principais fatores para o sucesso de um investimento em uma startup não seria o tamanho do fundo. Na verdade, o ponto principal, segundo ele, seria o nível de complacência e de falta de agilidade dos investidores nessas últimas duas décadas, revelados inclusive na própria taxa interna de retorno (em inglês, “internal rate of return”, abrev. IRR). “Enquanto isso a internet de consumo trouxe uma verdadeira tsunami de mudanças tecnológicas e comportamentais que resultou em reduções espetaculares em tempo e custo necessários para distribuir produtos e serviços a mais de 2 a 3 bilhões de pessoas conectadas no planeta. A internet mudou a vida dramaticamente para bilhões de pessoas em todo o globo – e ainda assim a maioria dos VC’s e dos advogados ainda fecham negociações via fax e correio comum.” O mundo mudou muito para empreendedores de tecnologia, e os VC’s estão tentando se adaptar às novas realidades. Segundo McClure, alguns vão conseguir, porém outros vão acabar decidindo por não angariar um novo fundo e passar os próximos cinco a dez anos envolvidos com os fundos que já têm, e depois se retirar do setor. “A maioria dos VC’s são dinossauros, e a World Wide Web é um asteróide que atingiu o planeta numa explosão cataclísmica em câmera-lenta 15 anos atrás. Pode levar mais 5 anos para que as cinzas das nuvens e o inverno nuclear dos navegadores, engenhos de busca, redes sociais, e dispositivos móveis matem os tiranossauros, mas é um fato consumado,” diz McClure.
  • 3. Em decorrência das mudanças trazidas pela Web, incluindo aí os recursos disponbilizados pela computação nas nuvens, estaríamos vivenciando um período de grandes oportunidades para se montar startups de internet de consumo focadas-em-receita com base num investimento de baixa magnitude (da ordem de 1 a 5 milhões de dólares) que: (i) atinja um certo nível de viabilidade comercial, (ii) adquira clientes usando canais de distribuição online (engenhos de busca, redes sociais, plataformas móveis), (iii) possa ser vendida mais tarde por algo na faixa de 25 a 250 milhões de dólares. Tudo isso com base nos seguintes fundamentos: (1) os ciclos de desenvolvimento do produto seriam mais curtos, os recursos e o material necessários seriam gratuitos ou de baixo custo, os equipes de desenvolvimento seriam menores, e os novos serviços de combinação com outros serviços já existentes que já propiciam excelente valor na nuvem através de features, dados, efeitos de rede, API’s; (2) os custos de marketing seriam menores devido à disponibilidade de canais de baixo custo e de alcance amplo, que podem ser usados de forma mais mensurável e previsível que anteriormente; (3) a receita poderia ser gerada de forma simples e contínua através de modelos de negócio diretos e métodos de pagamento online que se popularizam cada vez mais, comércio eletrônico transacional, bens digitais, cobrança de assinatura, publicidade mensurada por clique. O tripé formaria o que ele chama de “tração”. Em suma, a receita de McClure assim se configura: “invista antes do encaixe produto/mercado, meça/teste para ver se a equipe está encontrando esse encaixe, e, em caso positive, exerça sua oportunidade de investimento de acompanhamento proporcional depois que eles tiverem conseguido obter o encaixe produto/mercado.”