1. O autor
Biografia
Jorge Amado nasceu na fazenda Auricídia, em Ferradas, município de Itabuna. Filho do
"coronel" João Amado de Faria e de Eulália Leal Amado, foi para Ilhéus com apenas
um ano e lá passou a infância e descobriu as letras. A adolescência ele viveria em
Salvador, no contato com aquela vida popular que marcaria sua obra.
É um regionalista cujo estilo despojado e coloquial trouxe para os livros que escreveu
os tipos peculiares da Bahia: os coronéis da época do cacau, prostitutas, meninos
abandonados de rua, bêbados, marinheiros, marginais e pescadores. Possui um estilo
descritivo, usando cores e ações.
Pertence à segunda geração modernista, quando a prosa é direcionada à denúncia social,
temas regionalistas, sobretudo os nordestinos.
Principais temas:
Seus temas estavam voltados para a Bahia, os quais têm como tema a cidade de
Salvador e seus habitantes, Aparecem romances ligados ao cacau e, por fim, as
narrativas denominadas “crônicas de costumes”. Portanto, Capitães da Areia aparece
quando o interesse do autor estava voltado para a revelação dos problemas de Salvador,
seus tipos humanos e, principalmente, aos meninos de rua, os que praticavam furtos,
aterrorizando o restante da população.
Principais características de suas obras
É representante da segunda fase do Modernismo no Brasil, voltada aos romances
regionalistas. No entanto, sua obra é dividida em:
*romances da Bahia ou proletários: retratam a vida da cidade de Salvador
*romances ligados ao ciclo do cacau
*crônicas ou costumes
Momento histórico
Capitães da Areia é um romance de 1937, fase em que Amado, após uma viagem à
América Latina, é preso pelo Estado Novo de Vargas, por seu envolvimento com o
movimento comunista. Nesse romance há uma denúncia social voltada aos meninos
pobres e abandonados.
2. A obra
Estrutura do romance:
1-Prefácio: Cartas à redação
2-Sob lua num velho trapiche abandonado- 11 capítulos:
a- O trapiche
b- Noite dos capitães da areia
c- Ponto das pitangueiras
d- As luzes do carrossel
e- Docas
f- Aventura de Ogum
g- Deus sorri como um negrinho
h- Família
i- Manhã como um quadro
j- Alastrim
k- Destino
3-Noite da grande paz, da grande dos teus olhos- 8 capítulos:
a- Filha de bexiguento
b- Dora, mãe
c- Dora, irmã e noiva
d- Reformatório
e- Orfanato
f- Noite de grande paz
g- Dora, esposa
h- Como uma estrela de loira cabeleira
4- Canção da Bahia, canção da liberdade- 8 capítulos:
a- Vocações
b- Canção de amor da vitalina
c- Na rabada de um trem
d- Como um trapezista de circo
e- Notícias de jornal
f- Companheiros
g- Os atabaques ressoam como clarins de guerra
h- ...Uma pátria e uma família
3. Sincretismo religioso:
-A religião é um apoio, um refúgio para a miséria humana, as péssimas condições de
vida;
-Padre José Pedro: defensor dos Capitães da Areia
-Don’Aninha: mãe de santo, amiga de todos os negros e pobres da Bahia
-Catolicismo – Pirulito
-Candomblé – Pedro-Bala, Boa-Vida, Querido-de-Deus e João-Grande
Marginalidade x Coletividade
Essa é uma cena vista no cotidiano das cidades da década de 30.As crianças dessa
época, devido a problemas familiares, buscavam refúgio na liberdade das ruas.
Sobreviviam através do furto, com uma imaginação aventureira, gozando de prazeres
proibidos pela sociedade e prezando, acima de tudo, o companheirismo do grupo.
De acordo com a classe social que ocupavam, eram vistas de forma diferenciada,
estando freqüentemente sob o julgamento da população. Esta, com atos imprudentes,
acabava prejudicando a formação daqueles que realmente queriam ser considerados
cidadãos, aumentando assim, a revolta e a sede de vingança.
Um sistema capitalista e ditador somado à condição de ser dos menores
abandonados, leva à busca pelo companheirismo e apreciação da vida, pois,
de certa maneira, isso significa sentir o gosto de viver intensamente cada
segundo ao lado de quem realmente se identifica, quer pela semelhança de
ideais e aspirações, quer pelo sofrimento, demasiado igual para todos.
Quadros da miséria urbana
Capitães da areia é montado por meio de quadros mais ou menos independentes, que
registram as andanças das personagens pela cidade de Salvador. Mas não só: ao lado da
narração propriamente dita, Jorge Amado intercala também notícias de jornal, bem
como pequenas reflexões poéticas.
A presença feminina no bando
Uma história de amor O primeiro capítulo da segunda parte do livro começa com a
introdução de uma nova personagem, Dora. Perdendo os pais com a doença da bexiga,
que se alastrou pela cidade, sai com o irmão menor, Fuinha, em busca de emprego.
Nada conseguindo nas casas, é finalmente encontrada por João Grande e o Professor,
que a levam para o trapiche. O narrador aproveita para mostrar o código de honra dos
meninos, pois enquanto alguns querem violentá-la, o Professor, João Grande e, depois,
Pedro Bala, protegem-na. É a partir daí que ela se integra ao grupo, trazendo, com a
presença feminina carinho para as crianças, e cumprindo o papel de mãe que elas não
tiveram:
4. As duas vertentes temáticas:
Jorge Amado tem o interesse de mostrar, através de Capitães da areia, o conjunto, a
comunidade, o coletivo. Mesmo assim, uma história particular aparece em meio a dos
outros meninos: Pedro Bala é o herói-menino que crescerá e liderará não só o bando,
mas também os grevistas
As cartas
No prólogo, Cartas à Redação, o autor retrata os diversos aspectos da marginalidade
uvenil, pelos olhos de um juiz de menores, de um chefe de polícia, de um padre, do
diretor do reformatório para jovens,de uma mãe pobre e de uma pessoa do povo. Na
primeira parte, em onze capítulos, há a biografia dos personagens.
Na segunda parte, Pedro Bala descobre o amor.
A terceira parte relata o destino dos personagens. Pedro Bala, após derrotar o mulato
Raimundo numa luta, assenhora-se de um trapiche abandonado e assume a direção do
bando de crianças. As principais figuras do trapiche são: o negro João Grande, forte e de
bom coração, João José, de alcunha o Professor, porque vive lendo, o Gato, futuro
malandro, Pirulito, que mostra desde cedo vocação religiosa, o Sem-Pernas, aleijado e
revoltado. A necessidade de afeto parece marcar decididamente as crianças.
Foco narrativo: A perspectiva assumida pelo narrador é de adesão ao mundo
dos meninos ou de aversão
A obra Capitães da Areia é narrada na terceira pessoa, sendo o autor, Jorge Amado, o
narrador apenas o expectador. Ele se comporta, durante todo o desenvolvimento do
tema, de maneira indiferente, criando e narrando os acontecimentos sem se envolver
diretamente com eles.
A linguagem: emprego do coloquialismo e oralismo
É a versão oral da língua culta e, por ser mais livre e espontânea, tem um pouco mais de
liberdade e está menos presa às regras gramaticais.
Os personagens
•João Grande, o "negro bom", nos dizeres do próprio Pedro Bala: "Engajou com 9 anos
nos Capitães da Areia, quando o Caboclo ainda era o chefe e o grupo pouco conhecido,
pois o Caboclo não gostava de se arriscar. Cedo João Grande se fez um dos chefes" (p.
23);
•Volta Seca, que tinha ódio das autoridades e o desejo de se tornar cangaceiro
(posteriormente integra-se ao grupo de Lampião, transformando-se em um frio e
sanguinário assassino);
5. •Professor, que recebe este apelido por gostar de ler e desenhar. Assim o narrador o
apresenta: "João José, o Professor, desde o dia em que furtara um livro de histórias
numa estante de uma casa da Barra, se tomara perito nestes furtos. Nunca, porém,
vendia os livros, que ia empilhando num canto do trapiche, sob tijolos, para que os ratos
não os roessem. Lia-os todos numa ânsia que era quase febre" (p. 25).
•Gato, sujeito conquistador, vive entre as prostitutas, com seu jeito malandro atrai uma
delas: Dalva;
•Sem-Pernas, garoto deficiente de uma perna, que serve de espião para o grupo. Fazia-
se de órfão desamparado para ser acolhido pelas famílias e, assim, com a confiança
destas, conhecia cada ponto estratégico de suas residências, retransmitindo tais
informações ao grupo. É em uma dessas casas que Sem-Pernas é bem acolhido por um
casal que perdera o filho pequeno. Nesse episódio a personagem vive um grande
conflito: sente remorsos por ter de roubar aqueles que lhe acolheram com a um filho,
ficando, dessa forma, divido entre passar as informações da casa para os companheiros
e ser leal à família. Decide-se por manter-se fiel aos "capitães da areia";
•Pirulito, "magro e muito alto, uma cara seca, meio amarelada, os olhos encovados e
fundos, a boca rasgada e pouco risonha" (p. 28). Era o único do grupo que tinha vocação
religiosa, embora pertencesse aos Capitães da Areia;
•Dora, a única mulher do grupo, tinha quatorze anos, era muito simples, dócil e bonita.
Representará para os Capitães da areia a figura da madre protetora, que dará colo,
carinho e atenção, e também, a figura da irmã que para eles até então inexistia. Já para
Pedro Bala, Dora será a "noiva" e a "esposa". Morre ardendo em febre e seu corpo é
levado ao mar, onde será "sepultado" com a ajuda de padre José Pedro, que, mais uma
vez indo contra a lei e a moral estabelecidas, decide ajudar os meninos do Trapiche.
Dora será uma personagem de fundamental importância na construção da lógica do
romance. Será por sua causa que Pedro Bala, apaixonado, iniciará sua transformação e
tomada de consciência rumo à ação política e.social.
O tempo
Há muitos flashbacks, todos eles com o intuito de mostrar histórias, percursos, pedaços
de existências. As ações acontecem sempre à noite, como se o “trabalho” dos meninos
fosse o que o escuro, a imprecisão, devesse esconder dos olhos dos homens “bons”.
No final do romance, as marcas de temporalidade se destacam: “Depois de terminada a
greve...”, “Agora comanda uma brigada...”.
O espaço
O espaço aberto é representado pela cidade de Salvador, por onde os meninos estão em
toda parte
O espaço fechado é o trapiche, armazém abandonado próximo ao cais