SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 4
Descargar para leer sin conexión
Resumos do VI CBA e II CLAA
Gestão Sustentável do Agroecossistema e da Paisagem: Assentamentos Rurais na
Mata Atlântica
SANTOS, João Dagoberto. ESALQ-USP, jdsantos@esalq.usp.br; SOBRAL, João Portella. ESALQ-USP,
joaoportella@yahoo.com.br; LE MOAL, Marcos Freitas. ESALQ-USP, marcoslemoal@gmail.com; MELO,
Cauê Vallim. ESALQ-USP, cauemelo@yahoo.com; KAGEYAMA, Paulo Yoshio. ESALQ-USP,
kageyama@esalq.usp.br
Resumo
A agricultura familiar e as questões da reforma agrária incorporando a conservação da
biodiversidade e o estabelecimento de agroecossistemas de base agroecológica é assunto de
maior importância nas discussões contemporâneas sobre desenvolvimento rural.
Se por um lado o movimento pela transição agroecológica no campo brasileiro, em contraponto à
agricultura convencional, é cada vez maior, na prática, a incorporação e consolidação desta
transição se depara com muitos desafios, de ordem técnica, cultural e política.
Este trabalho busca, através da apresentação de experiências práticas de manejo sustentável de
agroecossistemas e da paisagem, construídas participativamente em assentamentos rurais na
Mata Atlântica, contribuir com a difusão e consolidação de tecnologias adequadas à agricultura
camponesa, assim como compartilhar aprendizados e desafios na construção de um novo
paradigma de desenvolvimento.
Palavras-chave: Assentamentos rurais, sistemas agroflorestais, participação social, agroecologia.
Contexto
Os agricultores familiares, particularmente os assentamentos rurais da reforma agrária, vêm ao
longo tempo discutindo novos sistemas de produção no meio rural, que sejam mais apropriados à
sua realidade socioeconômica e cultural, assim como promovam conservação ambiental. Nesse
sentido, têm-se buscado a construção de sistemas de produção com base agroecológica,
diversificados, incorporando a segurança alimentar, assim como a conservação da biodiversidade.
A busca da sustentabilidade no meio rural, em um novo paradigma socioambiental, tem que
considerar a valorização e a conservação da biodiversidade, assim como a produção, os saberes
e a qualidade de vida do trabalhador camponês. Nesse contexto não há um modelo único, mas,
sim caminhos múltiplos, pois, como coloca Becker (1995), o desenvolvimento sustentável deve
ser um processo e não um estado em si.
No bioma Mata Atlântica, os processos de avanços, tanto de ocupação dos grandes centros
urbanos, como da destruição dos ecossistemas naturais, têm provocado uma intensa e
generalizada fragmentação da vegetação, com consequências drásticas tanto para os eventos
climáticos, como na perda da sociobiodiversidade.
Em relação à agricultura, em qualquer que seja o seu âmbito, já existem numerosas análises
sobre o conflito entre uma agricultura convencional, derivada da revolução verde, e um crescente
movimento que recomenda profundas mudanças em direção a uma agricultura de base ecológica,
adequada à realidade sociocultural da agricultura familiar camponesa.
Diversos autores discutem crenças, princípios e valores essenciais acerca das abordagens dadas
à agricultura contemporânea (QUEDA, KAGEYAMA e SANTOS, 2009), com nítido enfrentamento
entre agricultura convencional e agricultura de base ecológica. Neste contraponto, alguns
4162 Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2
Resumos do VI CBA e II CLAA
elementos-chave podem ser identificados, quais sejam, para a agricultura convencional:
centralização, dependência, competição, dominação da natureza, especialização e exploração; e
para a agricultura ecológica: descentralização, independência, comunidade, harmonia com a
natureza, diversidade e conservação.
Nessa perspectiva, esse relato pretende discutir, a partir de experiências concretas, alguns
dilemas da dimensão ambiental e produtiva em assentamentos rurais, com foco na Mata Atlântica.
Partindo do pressuposto, segundo Queda, Kageyama e Santos (2009), de que essa questão
representa não só uma nova arena de conflitos, mas também palco de grandes possibilidades,
assumindo os assentamentos de reforma agrária como exemplos de organização e produção no
campo, a serem seguidos na construção de um novo paradigma de desenvolvimento rural e
humano.
Os movimentos sociais do campo tem tido um certo sucesso na organização das comunidades
rurais, porém, com muitas dificuldades em organizar sistemas de produção adequados às suas
necessidades e realidades. Dessa forma, infelizmente, no contexto da agricultura familiar e da
reforma agrária, a adoção de sistemas de agricultura derivados da revolução verde tem
ocasionado colapsos econômicos, sociais e ambientais, em função da dependência de insumos e
de tecnologia, da intoxicação de agricultores, da contaminação do solo e do lençol freático, dos
processos erosivos, da dependência de mercado, entre outras razões. (JULIO, 2006)
Diante desse contexto, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), como
fruto do diálogo com movimentos sociais e ambientalistas, promoveu a criação dos
assentamentos tipo PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável), através da
Portaria/INCRA/P/Nº 477, de 04/11/1999, tendo como propósito, consolidar a implementação de
assentamentos rurais com foco na construção de sistemas de produção agroecológica.
Atualmente existem 9 assentamentos PDS em São Paulo, sendo que dois deles, o assentamento
Prof. Luis de David Macedo e Assentamento A. T. e Pereira, que estão localizados
respectivamente no município de Apiaí e Sete Barras/Eldorado, Vale do Ribeira, são objetos deste
trabalho. Deve-se ressaltar que os dois referidos assentamentos possuem mais de 80% de sua
área coberta por vegetação natural, sendo um desafio para a sua conservação e manejo
sustentável.
Para contribuir na consolidação dos PDSs o INCRA, através da Superintendência de São Paulo e
a ESALQ/USP, por meio do Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão em Educação e Conservação
Ambiental (NACE/PTECA), estabeleceram um convênio que deu origem ao Projeto de Pesquisa e
Desenvolvimento de Assentamentos Rurais e Agricultura Familiar (PPDARAF), projeto cuja a
experiência é apresentada neste trabalho.
O objetivo central do PPDARAF está sendo contribuir com a construção dos sistemas de
produção de ambos assentamentos, partindo dos pressupostos da participação social e da
agroecologia. Nesta perspectiva, como estratégia inicial, optou-se pelo planejamento e instalação
participativos de áreas experimentais demonstrativas de algumas ferramentas agroecológicas de
produção, como os sistemas agroflorestais e silvipastoris, concomitante com um amplo processo
de formação relacionado direta e indiretamente à estas ferramentas.
Descrição da Experiência
O Assentamento PDS Prof. Luis de David Macedo localizado no município de Apiaí, possui área
de 7.767,219 ha, sendo que dessa área 87 % está constituído por mata nativa e 13% destinada a
produção de um contingente de 72 famílias assentadas. O assentamento PDS A. T. e Pereira
Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2 4163
Resumos do VI CBA e II CLAA
localizado nos municípios de Eldorado e Sete Barras possui 3.060 ha, com 90 % de mata nativa e
10 % destinado à produção de 52 famílias assentadas. Ambos estão localizados no Vale do
Ribeira, região de maior remanescente de Mata Atlântica do país.
Diante do desafio de promover a qualidade de vida das famílias e a conservação da
biodiversidade, estão sendo concebidos e construídos participativamente sistemas de produção
de base agroecológica, assim como o estudo e a viabilização de cadeias produtivas com base no
manejo da biodiversidade local, integrando os sistemas de produção agrícola ao manejo
sustentável da biodiversidade.
De uma forma geral, os trabalhos do PPDARAF nos referidos assentamentos podem ser
descritos da seguinte forma: após um processo de diagnóstico social, cultural e ambiental
participativo com as famílias, seguido por i) levantamento edáfico, climático e produtivo local e
regional, ii) caracterização florística e fisionômica das formações naturais e das cadeias
produtivas locais, iii) realização de oficinas de formação, e iv) articulação e consolidação de
parcerias locais e regionais, foram construídas participativamente e, no caso de Apiaí, instaladas
áreas experimentais demonstrativas (AED) de sistemas produtivos considerados adequados às
realidades dos dois assentamentos.
As AED instaladas, todas no segundo semestre de 2008 e cada uma, com cerca de um hectare e
em área familiar, foram: sistemas agroflorestais (SAFs), sistemas silvipastoris (SSPs) associadas
ao pastoreio racional “Voisin” (PRV), criação de “frango feliz”, sistema de produção para consumo
doméstico e produção agroecológica de hortaliças, com foco na produção de tomate.
Resultados
Com base em estudo de comparação entre a viabilidade econômica do monocultivo extensivo da
banana, predominante na paisagem do PDS A. T. e Pereira, e de sistemas agroflorestais (SAFs)
consolidados desenvolvidos na região, tendo como carro chefe a banana, ficou evidenciado o
quão adequados e viáveis são os SAFs. Delineou-se, então, uma estratégia de manejo de SAFs
nas diferentes fisionomias florestais, com base no estudo do gradiente de estágios sucessionais
da vegetação nativa presente no local. Da mesma forma, diversas outras estratégias de manejo
da biodiversidade local vem sendo desenvolvidas, tais como: coleta de sementes de espécies
nativas, produção de mel, produção de plantas ornamentais, produção de polpa de Juçara
(Euterpe edulis), introdução de espécies e sistemas com foco na segurança alimentar, entre
outros.
No Assentamento Prof. Luis de David Macedo, em não havendo sistemas produtivos de base
agroecológica na região para serem comparados, foram concebidos e estão em fase de
consolidação AEDs previamente descritas. Adicionalmente vêm sendo planejados projetos em:
artesanato e manejo de taquaras (espécies exóticas invasoras nas áreas do assentamento de
Apiaí), coleta de sementes de espécies nativas, manejo de plantas medicinais, cultivo de
variedades crioulas de mandioca, feijão e milho, turismo rural, dentre outras.
Conclusões
Seja qual for o contexto, a construção de SAFs, e outros sistemas e ferramentas de uso e manejo
da paisagem, em comunidades deve necessariamente partir de pressupostos teórico-conceituais
dialógicos, humanistas, participativos e agroecológicos. De outra forma, fica fadada à simples
extensão de conhecimentos aos agricultores, de forma unidirecional e tecnicista, fato que vêm
sendo observado ao longo das décadas nos sistemas de extensão rural e assistência técnica
convencionais, sistemas que não acreditamos e lutamos pela transformação.
4164 Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2
Resumos do VI CBA e II CLAA
Por fim, entre os principais desafios, e estratégias, para a consolidação de um novo paradigma de
desenvolvimento rural e humano no contexto da questão agrária brasileira podemos ressaltar i) a
necessidade da mobilização e organização coletiva dos agricultores familiares e assentados; ii) a
urgência na criação e consolidação de políticas públicas adequados (ATER, crédito, pesquisa),
assim como a viabilização de mercados específicos à produção da agricultura familiar (CONSEA,
PAA,etc.); iii) promover parcerias efetivas com o terceiro setor, tanto as sociais como as
ambientais; iv) garantir a formação e qualificação dos agricultores e técnicos; v) realizar ações
efetivas e conjuntas de instituições públicas de pesquisa (universidades, institutos, etc.)
procurando gerar, adaptar e difundir tecnologias e processos adequados; vi) promover ações
conjuntas entre movimentos sociais, instituições de pesquisa e agentes públicos; vii) construção
participativa de áreas experimentais demonstrativas (AEDs) de sistemas de produção e manejo
agroecológicos; viii) considerar a biodiversidade como ferramenta e base da sustentabilidade dos
sistemas produtivos;
Agradecimentos
Às comunidades assentadas de Apiaí e Guapiruvu, pelo acolhimento e participação, ao
INCRA/SP, pelo apoio, ao NACE/PTECA – ESALQ/USP, pela realização deste trabalho.
Referências
BECKER, B.K.; FANY, R.D. e GEIGER, P.P. Geografia e Meio Ambiente no Brasil. São Paulo:
HUCITEC, 1995.
JULIO, J.E. Dinâmicas Regionais e Questão Agrária no Estado de São Paulo. São Paulo: Incra,
2006.
QUEDA, O., KAGEYAMA, P.Y. e SANTOS, J.D. 2009. Assentamentos Rurais: Alternativas ao
Agronegócio. Revista Retratos de assentamentos. (no prelo).
Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2 4165

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Agricultura sustentável
Agricultura sustentávelAgricultura sustentável
Agricultura sustentávelKelwin Souza
 
Coleção Saber na Prática - Vol. 4, Diversificação Produtiva
Coleção Saber na Prática - Vol. 4, Diversificação ProdutivaColeção Saber na Prática - Vol. 4, Diversificação Produtiva
Coleção Saber na Prática - Vol. 4, Diversificação ProdutivaCepagro
 
A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...
A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...
A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...Feab Brasil
 
Design agroecológico de pequena propriedade na região da serra da mantiqueira...
Design agroecológico de pequena propriedade na região da serra da mantiqueira...Design agroecológico de pequena propriedade na região da serra da mantiqueira...
Design agroecológico de pequena propriedade na região da serra da mantiqueira...Evandro Sanguinetto
 
Cartilha SAE 2010
Cartilha SAE 2010Cartilha SAE 2010
Cartilha SAE 2010nucane
 
Cartilha SAE 2011
Cartilha SAE 2011Cartilha SAE 2011
Cartilha SAE 2011nucane
 
Agricultura orgânica e agroecologia embrapa
Agricultura orgânica e agroecologia embrapaAgricultura orgânica e agroecologia embrapa
Agricultura orgânica e agroecologia embrapaJoão Siqueira da Mata
 
Agricultura Sustentável
Agricultura Sustentável Agricultura Sustentável
Agricultura Sustentável 2016arqmiriam
 
EDITAL PARA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO MUNICIPAIS
EDITAL PARA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO MUNICIPAIS EDITAL PARA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO MUNICIPAIS
EDITAL PARA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO MUNICIPAIS Agência Peixe Vivo
 
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.Feab Brasil
 
Aproveitamento Integral dos Alimentos Mesa Brasil
Aproveitamento Integral dos Alimentos Mesa BrasilAproveitamento Integral dos Alimentos Mesa Brasil
Aproveitamento Integral dos Alimentos Mesa BrasilLidiane Martins
 
“AGRICULTURA URBANA: Um estudo de caso nas comunidades Chico Mendes e Jardim ...
“AGRICULTURA URBANA: Um estudo de caso nas comunidades Chico Mendes e Jardim ...“AGRICULTURA URBANA: Um estudo de caso nas comunidades Chico Mendes e Jardim ...
“AGRICULTURA URBANA: Um estudo de caso nas comunidades Chico Mendes e Jardim ...Cepagro
 
Agroecologia: alguns conceitos e princípios
Agroecologia: alguns conceitos e princípiosAgroecologia: alguns conceitos e princípios
Agroecologia: alguns conceitos e princípiosKetheley Freire
 
1.mód 13 agricultura e desenvolvimento rural sustentável
1.mód 13   agricultura e desenvolvimento rural sustentável1.mód 13   agricultura e desenvolvimento rural sustentável
1.mód 13 agricultura e desenvolvimento rural sustentávelPelo Siro
 
Dia 4 - SAFs na perspectiva da Agroecologia - As políticas publicas de promoç...
Dia 4 - SAFs na perspectiva da Agroecologia - As políticas publicas de promoç...Dia 4 - SAFs na perspectiva da Agroecologia - As políticas publicas de promoç...
Dia 4 - SAFs na perspectiva da Agroecologia - As políticas publicas de promoç...cbsaf
 

La actualidad más candente (19)

Agricultura sustentável
Agricultura sustentávelAgricultura sustentável
Agricultura sustentável
 
Coleção Saber na Prática - Vol. 4, Diversificação Produtiva
Coleção Saber na Prática - Vol. 4, Diversificação ProdutivaColeção Saber na Prática - Vol. 4, Diversificação Produtiva
Coleção Saber na Prática - Vol. 4, Diversificação Produtiva
 
A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...
A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...
A Defesa do Código Florestal e a Produção de Alimentos Saudáveis Pela Agricul...
 
Design agroecológico de pequena propriedade na região da serra da mantiqueira...
Design agroecológico de pequena propriedade na região da serra da mantiqueira...Design agroecológico de pequena propriedade na região da serra da mantiqueira...
Design agroecológico de pequena propriedade na região da serra da mantiqueira...
 
Cartilha SAE 2010
Cartilha SAE 2010Cartilha SAE 2010
Cartilha SAE 2010
 
Cartilha SAE 2011
Cartilha SAE 2011Cartilha SAE 2011
Cartilha SAE 2011
 
Agricultura Sustentável
Agricultura SustentávelAgricultura Sustentável
Agricultura Sustentável
 
Campos Sulinos
Campos SulinosCampos Sulinos
Campos Sulinos
 
Agricultura orgânica e agroecologia embrapa
Agricultura orgânica e agroecologia embrapaAgricultura orgânica e agroecologia embrapa
Agricultura orgânica e agroecologia embrapa
 
Agricultura Sustentável
Agricultura Sustentável Agricultura Sustentável
Agricultura Sustentável
 
Manual.biohorta.coimbra
Manual.biohorta.coimbraManual.biohorta.coimbra
Manual.biohorta.coimbra
 
EDITAL PARA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO MUNICIPAIS
EDITAL PARA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO MUNICIPAIS EDITAL PARA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO MUNICIPAIS
EDITAL PARA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO MUNICIPAIS
 
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
Carta Agroecológica de Curitiba, 2009.
 
Aproveitamento Integral dos Alimentos Mesa Brasil
Aproveitamento Integral dos Alimentos Mesa BrasilAproveitamento Integral dos Alimentos Mesa Brasil
Aproveitamento Integral dos Alimentos Mesa Brasil
 
“AGRICULTURA URBANA: Um estudo de caso nas comunidades Chico Mendes e Jardim ...
“AGRICULTURA URBANA: Um estudo de caso nas comunidades Chico Mendes e Jardim ...“AGRICULTURA URBANA: Um estudo de caso nas comunidades Chico Mendes e Jardim ...
“AGRICULTURA URBANA: Um estudo de caso nas comunidades Chico Mendes e Jardim ...
 
Agroecologia: alguns conceitos e princípios
Agroecologia: alguns conceitos e princípiosAgroecologia: alguns conceitos e princípios
Agroecologia: alguns conceitos e princípios
 
1.mód 13 agricultura e desenvolvimento rural sustentável
1.mód 13   agricultura e desenvolvimento rural sustentável1.mód 13   agricultura e desenvolvimento rural sustentável
1.mód 13 agricultura e desenvolvimento rural sustentável
 
Agricultura Orgânica - Tecnologia de produção de alimentos saudáveis
Agricultura Orgânica - Tecnologia de produção de alimentos saudáveisAgricultura Orgânica - Tecnologia de produção de alimentos saudáveis
Agricultura Orgânica - Tecnologia de produção de alimentos saudáveis
 
Dia 4 - SAFs na perspectiva da Agroecologia - As políticas publicas de promoç...
Dia 4 - SAFs na perspectiva da Agroecologia - As políticas publicas de promoç...Dia 4 - SAFs na perspectiva da Agroecologia - As políticas publicas de promoç...
Dia 4 - SAFs na perspectiva da Agroecologia - As políticas publicas de promoç...
 

Destacado

Solo e agricultura
Solo e agriculturaSolo e agricultura
Solo e agriculturaPessoal
 
Solos e a agricultura no brasil
Solos e a agricultura no brasil Solos e a agricultura no brasil
Solos e a agricultura no brasil Pessoal
 
Espaço agrário
Espaço agrárioEspaço agrário
Espaço agrárioAlmir
 
Degradação do solo
Degradação do soloDegradação do solo
Degradação do soloIvan Araujo
 
Col.agro 14.interpretacao da analise do solo
Col.agro 14.interpretacao da analise do soloCol.agro 14.interpretacao da analise do solo
Col.agro 14.interpretacao da analise do sologastao ney monte braga
 
Solos
SolosSolos
Solosceama
 
Áreas Rurais - Parte I
Áreas Rurais - Parte IÁreas Rurais - Parte I
Áreas Rurais - Parte Iabarros
 

Destacado (14)

Solo e agricultura
Solo e agriculturaSolo e agricultura
Solo e agricultura
 
Agricultura mundial
Agricultura mundialAgricultura mundial
Agricultura mundial
 
Morfologia do solo
Morfologia do soloMorfologia do solo
Morfologia do solo
 
Solos e a agricultura no brasil
Solos e a agricultura no brasil Solos e a agricultura no brasil
Solos e a agricultura no brasil
 
Uso do Solo
Uso do SoloUso do Solo
Uso do Solo
 
O solo e a agricultura
O solo e a agriculturaO solo e a agricultura
O solo e a agricultura
 
11 propriedades químicas do solo
11 propriedades químicas do solo11 propriedades químicas do solo
11 propriedades químicas do solo
 
10 Propriedades Físicas do Solo-aula
10 Propriedades Físicas do Solo-aula10 Propriedades Físicas do Solo-aula
10 Propriedades Físicas do Solo-aula
 
Espaço agrário
Espaço agrárioEspaço agrário
Espaço agrário
 
Degradação do solo
Degradação do soloDegradação do solo
Degradação do solo
 
Col.agro 14.interpretacao da analise do solo
Col.agro 14.interpretacao da analise do soloCol.agro 14.interpretacao da analise do solo
Col.agro 14.interpretacao da analise do solo
 
Solos
SolosSolos
Solos
 
Áreas Rurais - Parte I
Áreas Rurais - Parte IÁreas Rurais - Parte I
Áreas Rurais - Parte I
 
A Agricultura
A AgriculturaA Agricultura
A Agricultura
 

Similar a Gestão sustent agroecossist em assent rurais na mata atlântica

Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-2
Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-2Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-2
Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-2Ezequiel Redin
 
Quintais Produtivos contribuição à segurança alimentar e ao desenvolvimento.pdf
Quintais Produtivos contribuição à segurança alimentar e ao desenvolvimento.pdfQuintais Produtivos contribuição à segurança alimentar e ao desenvolvimento.pdf
Quintais Produtivos contribuição à segurança alimentar e ao desenvolvimento.pdfBrunaMaria93
 
Cartilha SAE 2011
Cartilha SAE 2011Cartilha SAE 2011
Cartilha SAE 2011nucane
 
Cartilha_de_Agrofloresta_do_RJ_SiAMA_2022-OrganicsNet-CI-Organicos-2022-1.pdf
Cartilha_de_Agrofloresta_do_RJ_SiAMA_2022-OrganicsNet-CI-Organicos-2022-1.pdfCartilha_de_Agrofloresta_do_RJ_SiAMA_2022-OrganicsNet-CI-Organicos-2022-1.pdf
Cartilha_de_Agrofloresta_do_RJ_SiAMA_2022-OrganicsNet-CI-Organicos-2022-1.pdfHlidaFreire
 
Projeto Chamada nº 19
Projeto Chamada nº 19Projeto Chamada nº 19
Projeto Chamada nº 19grupo1unb
 
Modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba, na américa lati...
Modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba, na américa lati...Modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba, na américa lati...
Modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba, na américa lati...AcessoMacauba
 
O desenvolvimento e a expansão recente da produção agropecuária no centro-oeste
O desenvolvimento e a expansão recente da produção agropecuária no centro-oesteO desenvolvimento e a expansão recente da produção agropecuária no centro-oeste
O desenvolvimento e a expansão recente da produção agropecuária no centro-oestealcscens
 
Transição agroecológica externa e mudança social
Transição agroecológica externa e mudança socialTransição agroecológica externa e mudança social
Transição agroecológica externa e mudança socialLivio Claudino
 
Desenvolvimento e agroindustria familair
Desenvolvimento e agroindustria familairDesenvolvimento e agroindustria familair
Desenvolvimento e agroindustria familairGilson Santos
 
Rede SAFAS: Trazendo a floresta pra dentro da roça
Rede SAFAS: Trazendo a floresta pra dentro da roçaRede SAFAS: Trazendo a floresta pra dentro da roça
Rede SAFAS: Trazendo a floresta pra dentro da roçaCepagro
 
Genro, silveira, sulzbacher, guimarães e redin conflitos na construçao sóci...
Genro, silveira, sulzbacher, guimarães e redin   conflitos na construçao sóci...Genro, silveira, sulzbacher, guimarães e redin   conflitos na construçao sóci...
Genro, silveira, sulzbacher, guimarães e redin conflitos na construçao sóci...Ezequiel Redin
 
Agroecologia_Agricultura_Familiar.pdf
Agroecologia_Agricultura_Familiar.pdfAgroecologia_Agricultura_Familiar.pdf
Agroecologia_Agricultura_Familiar.pdfDarly Abreu
 
Coleção Saber na Prática - Vol. 3, Agricultura Urbana
Coleção Saber na Prática - Vol. 3, Agricultura Urbana Coleção Saber na Prática - Vol. 3, Agricultura Urbana
Coleção Saber na Prática - Vol. 3, Agricultura Urbana Cepagro
 
O Novo Perfil Varietal da Cana-de-Açúcar
O Novo Perfil Varietal da Cana-de-AçúcarO Novo Perfil Varietal da Cana-de-Açúcar
O Novo Perfil Varietal da Cana-de-AçúcarRural Pecuária
 

Similar a Gestão sustent agroecossist em assent rurais na mata atlântica (20)

Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-2
Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-2Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-2
Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-2
 
Artigo_Bioterra_V22_N2_05
Artigo_Bioterra_V22_N2_05Artigo_Bioterra_V22_N2_05
Artigo_Bioterra_V22_N2_05
 
Quintais Produtivos contribuição à segurança alimentar e ao desenvolvimento.pdf
Quintais Produtivos contribuição à segurança alimentar e ao desenvolvimento.pdfQuintais Produtivos contribuição à segurança alimentar e ao desenvolvimento.pdf
Quintais Produtivos contribuição à segurança alimentar e ao desenvolvimento.pdf
 
Manual RMC-SP
Manual RMC-SPManual RMC-SP
Manual RMC-SP
 
Cartilha SAE 2011
Cartilha SAE 2011Cartilha SAE 2011
Cartilha SAE 2011
 
Cartilha_de_Agrofloresta_do_RJ_SiAMA_2022-OrganicsNet-CI-Organicos-2022-1.pdf
Cartilha_de_Agrofloresta_do_RJ_SiAMA_2022-OrganicsNet-CI-Organicos-2022-1.pdfCartilha_de_Agrofloresta_do_RJ_SiAMA_2022-OrganicsNet-CI-Organicos-2022-1.pdf
Cartilha_de_Agrofloresta_do_RJ_SiAMA_2022-OrganicsNet-CI-Organicos-2022-1.pdf
 
Agroecologia.pdf
Agroecologia.pdfAgroecologia.pdf
Agroecologia.pdf
 
Projeto Chamada nº 19
Projeto Chamada nº 19Projeto Chamada nº 19
Projeto Chamada nº 19
 
Modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba, na américa lati...
Modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba, na américa lati...Modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba, na américa lati...
Modelo conceitual para o extrativismo sustentável da macaúba, na américa lati...
 
O desenvolvimento e a expansão recente da produção agropecuária no centro-oeste
O desenvolvimento e a expansão recente da produção agropecuária no centro-oesteO desenvolvimento e a expansão recente da produção agropecuária no centro-oeste
O desenvolvimento e a expansão recente da produção agropecuária no centro-oeste
 
Transição agroecológica externa e mudança social
Transição agroecológica externa e mudança socialTransição agroecológica externa e mudança social
Transição agroecológica externa e mudança social
 
Blog 29 abr
Blog 29 abrBlog 29 abr
Blog 29 abr
 
Desenvolvimento e agroindustria familair
Desenvolvimento e agroindustria familairDesenvolvimento e agroindustria familair
Desenvolvimento e agroindustria familair
 
Rede SAFAS: Trazendo a floresta pra dentro da roça
Rede SAFAS: Trazendo a floresta pra dentro da roçaRede SAFAS: Trazendo a floresta pra dentro da roça
Rede SAFAS: Trazendo a floresta pra dentro da roça
 
Genro, silveira, sulzbacher, guimarães e redin conflitos na construçao sóci...
Genro, silveira, sulzbacher, guimarães e redin   conflitos na construçao sóci...Genro, silveira, sulzbacher, guimarães e redin   conflitos na construçao sóci...
Genro, silveira, sulzbacher, guimarães e redin conflitos na construçao sóci...
 
Educação Ambiental
Educação AmbientalEducação Ambiental
Educação Ambiental
 
Agroecologia_Agricultura_Familiar.pdf
Agroecologia_Agricultura_Familiar.pdfAgroecologia_Agricultura_Familiar.pdf
Agroecologia_Agricultura_Familiar.pdf
 
Agriculturas abr2014
Agriculturas abr2014Agriculturas abr2014
Agriculturas abr2014
 
Coleção Saber na Prática - Vol. 3, Agricultura Urbana
Coleção Saber na Prática - Vol. 3, Agricultura Urbana Coleção Saber na Prática - Vol. 3, Agricultura Urbana
Coleção Saber na Prática - Vol. 3, Agricultura Urbana
 
O Novo Perfil Varietal da Cana-de-Açúcar
O Novo Perfil Varietal da Cana-de-AçúcarO Novo Perfil Varietal da Cana-de-Açúcar
O Novo Perfil Varietal da Cana-de-Açúcar
 

Gestão sustent agroecossist em assent rurais na mata atlântica

  • 1. Resumos do VI CBA e II CLAA Gestão Sustentável do Agroecossistema e da Paisagem: Assentamentos Rurais na Mata Atlântica SANTOS, João Dagoberto. ESALQ-USP, jdsantos@esalq.usp.br; SOBRAL, João Portella. ESALQ-USP, joaoportella@yahoo.com.br; LE MOAL, Marcos Freitas. ESALQ-USP, marcoslemoal@gmail.com; MELO, Cauê Vallim. ESALQ-USP, cauemelo@yahoo.com; KAGEYAMA, Paulo Yoshio. ESALQ-USP, kageyama@esalq.usp.br Resumo A agricultura familiar e as questões da reforma agrária incorporando a conservação da biodiversidade e o estabelecimento de agroecossistemas de base agroecológica é assunto de maior importância nas discussões contemporâneas sobre desenvolvimento rural. Se por um lado o movimento pela transição agroecológica no campo brasileiro, em contraponto à agricultura convencional, é cada vez maior, na prática, a incorporação e consolidação desta transição se depara com muitos desafios, de ordem técnica, cultural e política. Este trabalho busca, através da apresentação de experiências práticas de manejo sustentável de agroecossistemas e da paisagem, construídas participativamente em assentamentos rurais na Mata Atlântica, contribuir com a difusão e consolidação de tecnologias adequadas à agricultura camponesa, assim como compartilhar aprendizados e desafios na construção de um novo paradigma de desenvolvimento. Palavras-chave: Assentamentos rurais, sistemas agroflorestais, participação social, agroecologia. Contexto Os agricultores familiares, particularmente os assentamentos rurais da reforma agrária, vêm ao longo tempo discutindo novos sistemas de produção no meio rural, que sejam mais apropriados à sua realidade socioeconômica e cultural, assim como promovam conservação ambiental. Nesse sentido, têm-se buscado a construção de sistemas de produção com base agroecológica, diversificados, incorporando a segurança alimentar, assim como a conservação da biodiversidade. A busca da sustentabilidade no meio rural, em um novo paradigma socioambiental, tem que considerar a valorização e a conservação da biodiversidade, assim como a produção, os saberes e a qualidade de vida do trabalhador camponês. Nesse contexto não há um modelo único, mas, sim caminhos múltiplos, pois, como coloca Becker (1995), o desenvolvimento sustentável deve ser um processo e não um estado em si. No bioma Mata Atlântica, os processos de avanços, tanto de ocupação dos grandes centros urbanos, como da destruição dos ecossistemas naturais, têm provocado uma intensa e generalizada fragmentação da vegetação, com consequências drásticas tanto para os eventos climáticos, como na perda da sociobiodiversidade. Em relação à agricultura, em qualquer que seja o seu âmbito, já existem numerosas análises sobre o conflito entre uma agricultura convencional, derivada da revolução verde, e um crescente movimento que recomenda profundas mudanças em direção a uma agricultura de base ecológica, adequada à realidade sociocultural da agricultura familiar camponesa. Diversos autores discutem crenças, princípios e valores essenciais acerca das abordagens dadas à agricultura contemporânea (QUEDA, KAGEYAMA e SANTOS, 2009), com nítido enfrentamento entre agricultura convencional e agricultura de base ecológica. Neste contraponto, alguns 4162 Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2
  • 2. Resumos do VI CBA e II CLAA elementos-chave podem ser identificados, quais sejam, para a agricultura convencional: centralização, dependência, competição, dominação da natureza, especialização e exploração; e para a agricultura ecológica: descentralização, independência, comunidade, harmonia com a natureza, diversidade e conservação. Nessa perspectiva, esse relato pretende discutir, a partir de experiências concretas, alguns dilemas da dimensão ambiental e produtiva em assentamentos rurais, com foco na Mata Atlântica. Partindo do pressuposto, segundo Queda, Kageyama e Santos (2009), de que essa questão representa não só uma nova arena de conflitos, mas também palco de grandes possibilidades, assumindo os assentamentos de reforma agrária como exemplos de organização e produção no campo, a serem seguidos na construção de um novo paradigma de desenvolvimento rural e humano. Os movimentos sociais do campo tem tido um certo sucesso na organização das comunidades rurais, porém, com muitas dificuldades em organizar sistemas de produção adequados às suas necessidades e realidades. Dessa forma, infelizmente, no contexto da agricultura familiar e da reforma agrária, a adoção de sistemas de agricultura derivados da revolução verde tem ocasionado colapsos econômicos, sociais e ambientais, em função da dependência de insumos e de tecnologia, da intoxicação de agricultores, da contaminação do solo e do lençol freático, dos processos erosivos, da dependência de mercado, entre outras razões. (JULIO, 2006) Diante desse contexto, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), como fruto do diálogo com movimentos sociais e ambientalistas, promoveu a criação dos assentamentos tipo PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável), através da Portaria/INCRA/P/Nº 477, de 04/11/1999, tendo como propósito, consolidar a implementação de assentamentos rurais com foco na construção de sistemas de produção agroecológica. Atualmente existem 9 assentamentos PDS em São Paulo, sendo que dois deles, o assentamento Prof. Luis de David Macedo e Assentamento A. T. e Pereira, que estão localizados respectivamente no município de Apiaí e Sete Barras/Eldorado, Vale do Ribeira, são objetos deste trabalho. Deve-se ressaltar que os dois referidos assentamentos possuem mais de 80% de sua área coberta por vegetação natural, sendo um desafio para a sua conservação e manejo sustentável. Para contribuir na consolidação dos PDSs o INCRA, através da Superintendência de São Paulo e a ESALQ/USP, por meio do Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão em Educação e Conservação Ambiental (NACE/PTECA), estabeleceram um convênio que deu origem ao Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento de Assentamentos Rurais e Agricultura Familiar (PPDARAF), projeto cuja a experiência é apresentada neste trabalho. O objetivo central do PPDARAF está sendo contribuir com a construção dos sistemas de produção de ambos assentamentos, partindo dos pressupostos da participação social e da agroecologia. Nesta perspectiva, como estratégia inicial, optou-se pelo planejamento e instalação participativos de áreas experimentais demonstrativas de algumas ferramentas agroecológicas de produção, como os sistemas agroflorestais e silvipastoris, concomitante com um amplo processo de formação relacionado direta e indiretamente à estas ferramentas. Descrição da Experiência O Assentamento PDS Prof. Luis de David Macedo localizado no município de Apiaí, possui área de 7.767,219 ha, sendo que dessa área 87 % está constituído por mata nativa e 13% destinada a produção de um contingente de 72 famílias assentadas. O assentamento PDS A. T. e Pereira Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2 4163
  • 3. Resumos do VI CBA e II CLAA localizado nos municípios de Eldorado e Sete Barras possui 3.060 ha, com 90 % de mata nativa e 10 % destinado à produção de 52 famílias assentadas. Ambos estão localizados no Vale do Ribeira, região de maior remanescente de Mata Atlântica do país. Diante do desafio de promover a qualidade de vida das famílias e a conservação da biodiversidade, estão sendo concebidos e construídos participativamente sistemas de produção de base agroecológica, assim como o estudo e a viabilização de cadeias produtivas com base no manejo da biodiversidade local, integrando os sistemas de produção agrícola ao manejo sustentável da biodiversidade. De uma forma geral, os trabalhos do PPDARAF nos referidos assentamentos podem ser descritos da seguinte forma: após um processo de diagnóstico social, cultural e ambiental participativo com as famílias, seguido por i) levantamento edáfico, climático e produtivo local e regional, ii) caracterização florística e fisionômica das formações naturais e das cadeias produtivas locais, iii) realização de oficinas de formação, e iv) articulação e consolidação de parcerias locais e regionais, foram construídas participativamente e, no caso de Apiaí, instaladas áreas experimentais demonstrativas (AED) de sistemas produtivos considerados adequados às realidades dos dois assentamentos. As AED instaladas, todas no segundo semestre de 2008 e cada uma, com cerca de um hectare e em área familiar, foram: sistemas agroflorestais (SAFs), sistemas silvipastoris (SSPs) associadas ao pastoreio racional “Voisin” (PRV), criação de “frango feliz”, sistema de produção para consumo doméstico e produção agroecológica de hortaliças, com foco na produção de tomate. Resultados Com base em estudo de comparação entre a viabilidade econômica do monocultivo extensivo da banana, predominante na paisagem do PDS A. T. e Pereira, e de sistemas agroflorestais (SAFs) consolidados desenvolvidos na região, tendo como carro chefe a banana, ficou evidenciado o quão adequados e viáveis são os SAFs. Delineou-se, então, uma estratégia de manejo de SAFs nas diferentes fisionomias florestais, com base no estudo do gradiente de estágios sucessionais da vegetação nativa presente no local. Da mesma forma, diversas outras estratégias de manejo da biodiversidade local vem sendo desenvolvidas, tais como: coleta de sementes de espécies nativas, produção de mel, produção de plantas ornamentais, produção de polpa de Juçara (Euterpe edulis), introdução de espécies e sistemas com foco na segurança alimentar, entre outros. No Assentamento Prof. Luis de David Macedo, em não havendo sistemas produtivos de base agroecológica na região para serem comparados, foram concebidos e estão em fase de consolidação AEDs previamente descritas. Adicionalmente vêm sendo planejados projetos em: artesanato e manejo de taquaras (espécies exóticas invasoras nas áreas do assentamento de Apiaí), coleta de sementes de espécies nativas, manejo de plantas medicinais, cultivo de variedades crioulas de mandioca, feijão e milho, turismo rural, dentre outras. Conclusões Seja qual for o contexto, a construção de SAFs, e outros sistemas e ferramentas de uso e manejo da paisagem, em comunidades deve necessariamente partir de pressupostos teórico-conceituais dialógicos, humanistas, participativos e agroecológicos. De outra forma, fica fadada à simples extensão de conhecimentos aos agricultores, de forma unidirecional e tecnicista, fato que vêm sendo observado ao longo das décadas nos sistemas de extensão rural e assistência técnica convencionais, sistemas que não acreditamos e lutamos pela transformação. 4164 Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2
  • 4. Resumos do VI CBA e II CLAA Por fim, entre os principais desafios, e estratégias, para a consolidação de um novo paradigma de desenvolvimento rural e humano no contexto da questão agrária brasileira podemos ressaltar i) a necessidade da mobilização e organização coletiva dos agricultores familiares e assentados; ii) a urgência na criação e consolidação de políticas públicas adequados (ATER, crédito, pesquisa), assim como a viabilização de mercados específicos à produção da agricultura familiar (CONSEA, PAA,etc.); iii) promover parcerias efetivas com o terceiro setor, tanto as sociais como as ambientais; iv) garantir a formação e qualificação dos agricultores e técnicos; v) realizar ações efetivas e conjuntas de instituições públicas de pesquisa (universidades, institutos, etc.) procurando gerar, adaptar e difundir tecnologias e processos adequados; vi) promover ações conjuntas entre movimentos sociais, instituições de pesquisa e agentes públicos; vii) construção participativa de áreas experimentais demonstrativas (AEDs) de sistemas de produção e manejo agroecológicos; viii) considerar a biodiversidade como ferramenta e base da sustentabilidade dos sistemas produtivos; Agradecimentos Às comunidades assentadas de Apiaí e Guapiruvu, pelo acolhimento e participação, ao INCRA/SP, pelo apoio, ao NACE/PTECA – ESALQ/USP, pela realização deste trabalho. Referências BECKER, B.K.; FANY, R.D. e GEIGER, P.P. Geografia e Meio Ambiente no Brasil. São Paulo: HUCITEC, 1995. JULIO, J.E. Dinâmicas Regionais e Questão Agrária no Estado de São Paulo. São Paulo: Incra, 2006. QUEDA, O., KAGEYAMA, P.Y. e SANTOS, J.D. 2009. Assentamentos Rurais: Alternativas ao Agronegócio. Revista Retratos de assentamentos. (no prelo). Rev. Bras. De Agroecologia/nov. 2009 Vol. 4 No. 2 4165