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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

A CRISTANDADE FEUDAL
A IGREJA: INSTITUIÇÃO DOMINANTE DO FEUDALISMO

CACHOEIRA/BA
2010
JOSÉ CARLOS RIBEIRO DA SILVA

A CRISTANDADE FEUDAL
A IGREJA: INSTITUIÇÃO DOMINANTE DO FEUDALISMO

Resenha apresentada para a avaliação na
disciplina de História Medieval, no curso
de História, do Centro de Artes,
Humanidades e Letras – CAHL da
Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia – UFRB.
Profª. Dra. Tânia de Santana

CACHOEIRA/BA
2010
3

RESENHA
A IGREJA: INSTITUIÇÃO DOMINANTE DO FEUDALISMO
JOSÉ CARLOS RIBEIRO DA SILVA1

BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. A
Igreja, instituição dominante do feudalismo. Capítulo 3. In: Formação e
desenvolvimento da cristandade feudal. Tradução de Marcelo Rede; prefácio de
Jacques Le Goff. São Paulo: Globo, 2006, páginas 167 – 244.

Na época medieval o que estava intimamente ligado, ou seja, intrínseco ao
período, é a história da igreja, que começa em 590. Para entendermos a igreja como
instituição dominante do feudalismo, será imprescindível fazer um pequeno caminho
entre os anos 451 – 590, de forma bem sucinta.
Na maior parte do período entre a sessão do Concílio de Calcedônia em 451
e adesão do Papa Gregório, o Grande, em 590, o Império Romano foi governado de
Constantinopla. Poder real na Itália, no século V, era exercido mais pelos maiores
generais do que pelo imperador, e em 476 o último imperador romano do Ocidente
foi deposto pelos bárbaros.2 Entre 451 e 590, o cristianismo foi a religião oficial dos
imperadores, embora, em algumas das porções periféricas do Império, sua
sustentação fosse fraca.
No Ocidente e no Oriente, o cristianismo havia conquistado as cidades dentro
dos limites da zona rural. Sua organização se desenvolveu enquanto a população
cristã consistia principalmente de cidades agrupadas e das cidades que tinham se
espalhado além da zona rural.

1

Bacharel em Teologia pelo Seminário Sonho Azul. Atualmente estuda Teologia não confessional na Faculdade
Teológica Sul Americana (Londrina/PR). Graduando em História pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci –
UNIASSELVI (Indaial/SC). Professor de Teologia no Centro de Treinamento Teológico Halard Graham
(Itabuna/BA). Professor do Colégio Estadual Anísio Loureiro (Camacã/BA), onde leciona as disciplinas de
Filosofia, Sociologia e História.
E-mail: prof.carlosrsilva@gmail.com
2
Foram chamados assim, por não viverem dentro dos limites do Império Romano do Ocidente.
4

Entre 451 e 590, a história cristã no Oriente deferiu-se da história cristã do
Ocidente. De acordo com Deanesly (2004, p. 20):
No oriente, os patriarcas e o imperador estavam ainda ocupados com a
questão sobre se as decisões do Concílio de Calcedônia deveriam ser
fixadas e impingidas a todos [...] Já no Ocidente, o problema principal, à
parte da ação patriarcal ou papal, em seu primeiro esforço, era a
manutenção do cristianismo sob um governo bárbaro que era normalmente
pagão ou ariano, e a conversão dos bárbaros ao batismo, ou á ortodoxia
católica.

A autora supracitada enfatiza que, a transformação do Cristianismo de:
uma religião mediterrânea para uma religião européia foi lenta e gradual;
pois os anos de incerteza durante as invasões bárbaras não foram
favoráveis ao progresso missionário. Algumas das novas nações tinham
recebido a forma ariana3 de cristianismo [...] (DEANESLY, 2004, p. 65, grifo
nosso).

A igreja como uma instituição que dominava o mundo feudal, tinha uma
característica, isto é, a sociedade era dividida em três classes sociais. Baschet
(2006) chama de “esquema das três ordens”,4 que define uma clara hierarquia. Estas
três ordens estão ligadas entre si. De certo, que aqui se encontra uma base para a
sociedade constituída na Idade Média. Todavia, esta sociedade trifuncional é
amplamente amparada por uma “instituição” chamada de Igreja. O que é a Igreja no
período medieval? A pergunta de Baschet sobre o que vem a ser a Igreja na Idade
Média é bastante saliente, pois a mesma tem uma variação de designações, ou seja,
há vários significados inerente a si. O termo deriva-se do grego εκλεσια (eklesia =
assembléia) “que designa em primeiro princípio a comunidade dos fiéis. Igualmente,
passa a significar o edifício onde se reúnem os fiéis e onde também desenrola o
culto” (BASCHET, 2006, p. 167). Alain de Lille, citado por Baschet, indica que esta
“igreja” é carregada de significado, denotando a parte institucional da comunidade,
quer dizer, o clero (apud, ibid., p. 167). Ela é uma ordem comunitária, que se
identifica como a igreja material (edifício) e com a igreja espiritual (aqui como
comunidade terrestre e celeste).
5
3

A forma ariana de cristianismo vem de Ário presbítero da Igreja em Alexandria. Ário ensinava que Jesus é um
Deus, mas não igual ao Pai, que é absoluto. Dizia também que Cristo foi a primeira criação de Deus e que
existia um tempo em que Cristo não existia.
4
Os que oram (oratores), os que guerreiam (bellatores) e os que trabalham (laboratores).
Portanto, se esta igreja – identificada ao clero – que ordena e dirige a
sociedade, em seu sentido de comunidade e/ou comunitário, pode então ela ser a
própria sociedade.
Alain Guerreau destaca o seguinte sobre a igreja. Para ele, “só se tem a
ganhar em considerar a igreja a garantia da unidade da sociedade feudal, sua
coluna vertebral e o fermento de seu dinamismo”. 5 Isso nos diz que a igreja como
comunidade é a sociedade em sua globalidade, enquanto, como instituição, ela é tão
somente, sua parte dominante, no qual determina suas principais regras de
funcionamento.
Baschet analisa também que “se pode considerar o clero como a fração
superior do grupo dominante” (2006, p. 169), porém, o clero não seja uma classe
propriamente dita. Há, no entanto, outro grupo, a aristocracia. As relações entre os
dois grupos, como nota Baschet, é de ambivalência. Pois os filhos da aristocracia
monopolizam o essencial dos cargos do alto clero. Os dois grupos são cúmplices na
ordem de dominação, isto é, são aliados perante seus dominados, todavia, são
concorrentes, pelo controle das terras e dos direitos que estruturam a organização
dos senhorios, tanto laicos como eclesiásticos.
O poder material de a igreja estar sobre uma capacidade excepcional de
acumulação de bens e de terras é devido os cristãos começarem a fazer doações, a
fim de assegurar a salvação de suas almas no além. Possuidora de uma elevada
posição, a igreja foi o resultado de um longo processo do qual o seu poder como
instituição eclesial cresceu bastante. No século X e início do XI, o poder da igreja
andava debilitado. O poder papal estar submetido aos imprevistos da política
imperial e dos conflitos entre as facções da aristocracia romana. Os senhores se
apropriam do controle das igrejas, nomeando servidores paroquiais nos quais eles
recebem os provimentos (dízimos e os rendimentos).
A igreja busca então, arriscar-se, a ser absorvida nas novas estruturas
resultantes da formação dos senhorios, em posição de dependência em relação aos
laicos, seus principais beneficiários.
6

5

Op. Cit., do texto resenhado, p. 169. Aqui Baschet está citando Alain Guerreau.
A igreja através dos clérigos lança o chamado a uma paz – a “Paz de Deus”.
Isto porque, o conjunto da hierarquia secular estar sendo enfraquecido. O século X e
a primeira

metade

do século

XI serão marcados por um considerável

desenvolvimento monástico. Esse foi o maior movimento.
Começou com uma tentativa de coordenar e reformar os monastérios, e
terminou por remediar muitos abusos relacionados com o clero secular e do laico.
Nos séculos IX e X a Europa foi entregue à rapinagem dos vikings pagãos, ou
normandos. Na Inglaterra, por exemplo, os monastérios e as igrejas dos bispos
foram em todas as partes pilhadas e destruídas. O Império Carolíngio não teve
melhor sorte, e os sínodos do século IX mostram que, na maior parte das dioceses,
mesmo as escolas dos bispos não podiam ser mantidas.
De acordo com Deanesly (2004, p. 121) “os nobres compartilhavam com o
clero [...] as deliberações que precediam à escolha de um bispo, e o povo comum
dava seu assentimento a sua eleição, quando ele lhes era apresentado, por
aclamação”. Outro ponto importante para a ascensão da igreja no período, conforme
observa Baschet, é a arte arquitetônica. O que “sobressai na arte medieval é o
caráter sintético” (PERNOUD, 1997).

“A expressão mais completa da arte

medieval encontra-se na sua arquitetura, nas catedrais, onde quase todas as
técnicas foram empregadas” (PERNOUD, 1997, p. 145, grifo nosso). Baschet (2006,
p. 197) analisa também que, “para se exprimir as realidades do século XIII, seria
necessário pensar, ao contrário, em uma catedral gótica”. Da transição do romântico
ao gótico, quem muda não são os edifícios, e, sim o mundo. Com ele se conhece e
concebe a função social e ideológica da arquitetura. O sinal que se pode tirar disso é
a negação de tudo quanto se proclama material, em proveito da luz, que no período
medievo (medieval) considera espiritual e um símbolo de Deus. Enquanto na
arquitetura românica a igreja reage como que uma fortaleza que se defende contra o
mundo exterior. A igreja aparece como uma cidade fortificada, tal qual à Jerusalém.
No modelo gótico arquitetônico, desaparecem radicalmente os muros (que existem
no modelo românico), e arte da linha e da luz, trás uma relação mais aberta com o
mundo, algo que não era possível, no românico.

7
Neste processo do século XI e XIII, não é apenas a igreja de pedra que vem a
mudar, mas a igreja como instituição (BASCHET, 2006, p. 207). Cria-se, portanto, as
ordens dos mendicantes, fator importante dessa transformação.
O sucesso das ordens,6 que são chamados de mendicantes, querem, em
seus inícios, somente viver de dons de caridade e nada possuir, logo se estende a
toda cristandade.7 Assim, a igreja, como catedral gótica, é o sinal visível da presença
da instituição eclesial, enquanto que as ordens mendicantes, são os agentes da
atividade pastoral com destinação essencialmente urbana. Por outro lado, “religião
cívica” oferece a cidade seus principais ritos e os mais preciosos símbolos.
No final do século XIII, uma insistência nova sobre certas práticas, que foram
reformadas, leva a uma configuração inédita, ocupada pela tríade: pregaçãoconfissão-comunhão. Segundo Baschet (ibid., p. 217) na “antiguidade tardia e nos
primeiros séculos da Idade Média, a igreja havia admitido a possibilidade de uma
penitência que permita purificar-se dos pecados cometidos após o batismo”. A tarefa
da penitência cabe tão somente aos sacerdotes, que conduz o exame de todos os
fiéis, obrigados a se confessar ao menos uma vez por ano. O desenvolvimento da
confissão é acompanhado da pregação. A pregação visa tão somente, “fazer crer”,
isto é, sugerir os rudimentos doutrinais e as normas elementares da moral definida
pela igreja, sendo, portanto, uma incitação à confissão. A tríade forma um conjunto
fortemente articulado, no coração das práticas novas da cristandade. Esses
preceitos inserem um domínio da igreja.
Todavia, a igreja como instituição dominante, não estava imune à ataques.
Toda ordem tem necessidade de contestação e de desordens para melhor impor sua
legitimidade. As ofensivas heréticas não existem em si e nada mais é do que aquilo
que a autoridade eclesiástica definiu como tal. A heresia 8 só adquire sentido
contrário, na medida em que a igreja se transforma em uma instituição forte e
preocupada em fixar doutrinas que podem fundamentar sua organização e seu
domínio sobre a sociedade.
8

6

Franciscanos e dominicanos.
O século XII já havia presenciado certa aproximação entre os regulares e seculares, porém, com os
mendicantes é que o passo suplementar se instalou no coração das cidades.
8
Heresia etimologicamente significa escolha.
7
As heresias medievais são só conhecidas através dos textos dos clérigos que
as condenaram. Era universalmente aceito que a certeza religiosa, que a verdade,
pertencia à igreja pela revelação, e que ela era a sua guardiã por comissão divina.
Duas crenças religiosas contrárias não poderiam ser ambas verdadeiras, e
aquela que fosse falsa deveria ser desarraigada e extirpada. A heresia era por
definição uma escolha individual em matéria de religião, de acordo com a qual
alguns aspectos da verdade eram salientados em detrimento de outros, ou de
crenças de natureza estranha enxertadas sobre todo o corpo da verdade cristã. Na
heresia, havia uma improbabilidade antecedente, independente da revelação divina,
segundo a qual, em questões de fé, todo o corpo dos cristãos estaria errado, e o
líder de uma pequena seita de hereges certos. No geral, segundo Baschet,
Em todos os domínios evocados, a atitude da igreja se faz cada vez mais
excludente e repressiva. Foi constatado em relação aos hereges, às
“superstições” e às formas integradas de expressão dos valores de
oposição, aos judeus e, mais tarde, aos feiticeiros, e seria possível dizer o
mesmo de outros grupos, marginais e discriminados, tais como os leprosos
e os homossexuais (2006, p. 242).

De qualquer forma, a igreja sempre foi vista como dominante no período do
feudalismo. Todavia, “isso não significa que ela no seu poderio se imponha, sem
receber contestações” (BASCHET, 2006, p. 244). A institucionalização cria, portanto,
a exclusão, é a própria Igreja que segundo Baschet, “molda os inimigos sobre os
quais ela se dá por tarefa triunfar” (ibid., p. 245). Baschet acredita que e afirma que
“a Igreja foi o pilar fundamental do sistema feudal” (Idem, p. 245).
Fica evidente que a Igreja se consolida no período medieval, sendo uma
instituição dominante do feudalismo. Entretanto, a própria Igreja se vê cercada por
mudanças e teorias que desencadearão na descentralização do seu poder. Os
motivos foram os mais diversos, como: heresias, Querela faz Investiduras, Cisma do
Ocidente e os movimentos reformadores. Todavia, nenhuma delas conseguiu o
rompimento definitivo com a Igreja.9

9

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
9

Referimos igreja aqui como Igreja Católica situada no Império Romano.
BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São
Paulo: Globo, 2006.
DEANESLY, Margaret. História da igreja medieval: 590 a 1500. São Paulo: Custom,
2004.
LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Bauru/SP: EDUSC, 2005.
PERNOUD, Régine. Luz sobre a idade média. Coleção Fórum da História nº 26,
Portugal: PEA, 1997.
BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São
Paulo: Globo, 2006.
DEANESLY, Margaret. História da igreja medieval: 590 a 1500. São Paulo: Custom,
2004.
LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Bauru/SP: EDUSC, 2005.
PERNOUD, Régine. Luz sobre a idade média. Coleção Fórum da História nº 26,
Portugal: PEA, 1997.

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  • 2. JOSÉ CARLOS RIBEIRO DA SILVA A CRISTANDADE FEUDAL A IGREJA: INSTITUIÇÃO DOMINANTE DO FEUDALISMO Resenha apresentada para a avaliação na disciplina de História Medieval, no curso de História, do Centro de Artes, Humanidades e Letras – CAHL da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. Profª. Dra. Tânia de Santana CACHOEIRA/BA 2010
  • 3. 3 RESENHA A IGREJA: INSTITUIÇÃO DOMINANTE DO FEUDALISMO JOSÉ CARLOS RIBEIRO DA SILVA1 BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. A Igreja, instituição dominante do feudalismo. Capítulo 3. In: Formação e desenvolvimento da cristandade feudal. Tradução de Marcelo Rede; prefácio de Jacques Le Goff. São Paulo: Globo, 2006, páginas 167 – 244. Na época medieval o que estava intimamente ligado, ou seja, intrínseco ao período, é a história da igreja, que começa em 590. Para entendermos a igreja como instituição dominante do feudalismo, será imprescindível fazer um pequeno caminho entre os anos 451 – 590, de forma bem sucinta. Na maior parte do período entre a sessão do Concílio de Calcedônia em 451 e adesão do Papa Gregório, o Grande, em 590, o Império Romano foi governado de Constantinopla. Poder real na Itália, no século V, era exercido mais pelos maiores generais do que pelo imperador, e em 476 o último imperador romano do Ocidente foi deposto pelos bárbaros.2 Entre 451 e 590, o cristianismo foi a religião oficial dos imperadores, embora, em algumas das porções periféricas do Império, sua sustentação fosse fraca. No Ocidente e no Oriente, o cristianismo havia conquistado as cidades dentro dos limites da zona rural. Sua organização se desenvolveu enquanto a população cristã consistia principalmente de cidades agrupadas e das cidades que tinham se espalhado além da zona rural. 1 Bacharel em Teologia pelo Seminário Sonho Azul. Atualmente estuda Teologia não confessional na Faculdade Teológica Sul Americana (Londrina/PR). Graduando em História pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI (Indaial/SC). Professor de Teologia no Centro de Treinamento Teológico Halard Graham (Itabuna/BA). Professor do Colégio Estadual Anísio Loureiro (Camacã/BA), onde leciona as disciplinas de Filosofia, Sociologia e História. E-mail: prof.carlosrsilva@gmail.com 2 Foram chamados assim, por não viverem dentro dos limites do Império Romano do Ocidente.
  • 4. 4 Entre 451 e 590, a história cristã no Oriente deferiu-se da história cristã do Ocidente. De acordo com Deanesly (2004, p. 20): No oriente, os patriarcas e o imperador estavam ainda ocupados com a questão sobre se as decisões do Concílio de Calcedônia deveriam ser fixadas e impingidas a todos [...] Já no Ocidente, o problema principal, à parte da ação patriarcal ou papal, em seu primeiro esforço, era a manutenção do cristianismo sob um governo bárbaro que era normalmente pagão ou ariano, e a conversão dos bárbaros ao batismo, ou á ortodoxia católica. A autora supracitada enfatiza que, a transformação do Cristianismo de: uma religião mediterrânea para uma religião européia foi lenta e gradual; pois os anos de incerteza durante as invasões bárbaras não foram favoráveis ao progresso missionário. Algumas das novas nações tinham recebido a forma ariana3 de cristianismo [...] (DEANESLY, 2004, p. 65, grifo nosso). A igreja como uma instituição que dominava o mundo feudal, tinha uma característica, isto é, a sociedade era dividida em três classes sociais. Baschet (2006) chama de “esquema das três ordens”,4 que define uma clara hierarquia. Estas três ordens estão ligadas entre si. De certo, que aqui se encontra uma base para a sociedade constituída na Idade Média. Todavia, esta sociedade trifuncional é amplamente amparada por uma “instituição” chamada de Igreja. O que é a Igreja no período medieval? A pergunta de Baschet sobre o que vem a ser a Igreja na Idade Média é bastante saliente, pois a mesma tem uma variação de designações, ou seja, há vários significados inerente a si. O termo deriva-se do grego εκλεσια (eklesia = assembléia) “que designa em primeiro princípio a comunidade dos fiéis. Igualmente, passa a significar o edifício onde se reúnem os fiéis e onde também desenrola o culto” (BASCHET, 2006, p. 167). Alain de Lille, citado por Baschet, indica que esta “igreja” é carregada de significado, denotando a parte institucional da comunidade, quer dizer, o clero (apud, ibid., p. 167). Ela é uma ordem comunitária, que se identifica como a igreja material (edifício) e com a igreja espiritual (aqui como comunidade terrestre e celeste). 5 3 A forma ariana de cristianismo vem de Ário presbítero da Igreja em Alexandria. Ário ensinava que Jesus é um Deus, mas não igual ao Pai, que é absoluto. Dizia também que Cristo foi a primeira criação de Deus e que existia um tempo em que Cristo não existia. 4 Os que oram (oratores), os que guerreiam (bellatores) e os que trabalham (laboratores).
  • 5. Portanto, se esta igreja – identificada ao clero – que ordena e dirige a sociedade, em seu sentido de comunidade e/ou comunitário, pode então ela ser a própria sociedade. Alain Guerreau destaca o seguinte sobre a igreja. Para ele, “só se tem a ganhar em considerar a igreja a garantia da unidade da sociedade feudal, sua coluna vertebral e o fermento de seu dinamismo”. 5 Isso nos diz que a igreja como comunidade é a sociedade em sua globalidade, enquanto, como instituição, ela é tão somente, sua parte dominante, no qual determina suas principais regras de funcionamento. Baschet analisa também que “se pode considerar o clero como a fração superior do grupo dominante” (2006, p. 169), porém, o clero não seja uma classe propriamente dita. Há, no entanto, outro grupo, a aristocracia. As relações entre os dois grupos, como nota Baschet, é de ambivalência. Pois os filhos da aristocracia monopolizam o essencial dos cargos do alto clero. Os dois grupos são cúmplices na ordem de dominação, isto é, são aliados perante seus dominados, todavia, são concorrentes, pelo controle das terras e dos direitos que estruturam a organização dos senhorios, tanto laicos como eclesiásticos. O poder material de a igreja estar sobre uma capacidade excepcional de acumulação de bens e de terras é devido os cristãos começarem a fazer doações, a fim de assegurar a salvação de suas almas no além. Possuidora de uma elevada posição, a igreja foi o resultado de um longo processo do qual o seu poder como instituição eclesial cresceu bastante. No século X e início do XI, o poder da igreja andava debilitado. O poder papal estar submetido aos imprevistos da política imperial e dos conflitos entre as facções da aristocracia romana. Os senhores se apropriam do controle das igrejas, nomeando servidores paroquiais nos quais eles recebem os provimentos (dízimos e os rendimentos). A igreja busca então, arriscar-se, a ser absorvida nas novas estruturas resultantes da formação dos senhorios, em posição de dependência em relação aos laicos, seus principais beneficiários. 6 5 Op. Cit., do texto resenhado, p. 169. Aqui Baschet está citando Alain Guerreau.
  • 6. A igreja através dos clérigos lança o chamado a uma paz – a “Paz de Deus”. Isto porque, o conjunto da hierarquia secular estar sendo enfraquecido. O século X e a primeira metade do século XI serão marcados por um considerável desenvolvimento monástico. Esse foi o maior movimento. Começou com uma tentativa de coordenar e reformar os monastérios, e terminou por remediar muitos abusos relacionados com o clero secular e do laico. Nos séculos IX e X a Europa foi entregue à rapinagem dos vikings pagãos, ou normandos. Na Inglaterra, por exemplo, os monastérios e as igrejas dos bispos foram em todas as partes pilhadas e destruídas. O Império Carolíngio não teve melhor sorte, e os sínodos do século IX mostram que, na maior parte das dioceses, mesmo as escolas dos bispos não podiam ser mantidas. De acordo com Deanesly (2004, p. 121) “os nobres compartilhavam com o clero [...] as deliberações que precediam à escolha de um bispo, e o povo comum dava seu assentimento a sua eleição, quando ele lhes era apresentado, por aclamação”. Outro ponto importante para a ascensão da igreja no período, conforme observa Baschet, é a arte arquitetônica. O que “sobressai na arte medieval é o caráter sintético” (PERNOUD, 1997). “A expressão mais completa da arte medieval encontra-se na sua arquitetura, nas catedrais, onde quase todas as técnicas foram empregadas” (PERNOUD, 1997, p. 145, grifo nosso). Baschet (2006, p. 197) analisa também que, “para se exprimir as realidades do século XIII, seria necessário pensar, ao contrário, em uma catedral gótica”. Da transição do romântico ao gótico, quem muda não são os edifícios, e, sim o mundo. Com ele se conhece e concebe a função social e ideológica da arquitetura. O sinal que se pode tirar disso é a negação de tudo quanto se proclama material, em proveito da luz, que no período medievo (medieval) considera espiritual e um símbolo de Deus. Enquanto na arquitetura românica a igreja reage como que uma fortaleza que se defende contra o mundo exterior. A igreja aparece como uma cidade fortificada, tal qual à Jerusalém. No modelo gótico arquitetônico, desaparecem radicalmente os muros (que existem no modelo românico), e arte da linha e da luz, trás uma relação mais aberta com o mundo, algo que não era possível, no românico. 7
  • 7. Neste processo do século XI e XIII, não é apenas a igreja de pedra que vem a mudar, mas a igreja como instituição (BASCHET, 2006, p. 207). Cria-se, portanto, as ordens dos mendicantes, fator importante dessa transformação. O sucesso das ordens,6 que são chamados de mendicantes, querem, em seus inícios, somente viver de dons de caridade e nada possuir, logo se estende a toda cristandade.7 Assim, a igreja, como catedral gótica, é o sinal visível da presença da instituição eclesial, enquanto que as ordens mendicantes, são os agentes da atividade pastoral com destinação essencialmente urbana. Por outro lado, “religião cívica” oferece a cidade seus principais ritos e os mais preciosos símbolos. No final do século XIII, uma insistência nova sobre certas práticas, que foram reformadas, leva a uma configuração inédita, ocupada pela tríade: pregaçãoconfissão-comunhão. Segundo Baschet (ibid., p. 217) na “antiguidade tardia e nos primeiros séculos da Idade Média, a igreja havia admitido a possibilidade de uma penitência que permita purificar-se dos pecados cometidos após o batismo”. A tarefa da penitência cabe tão somente aos sacerdotes, que conduz o exame de todos os fiéis, obrigados a se confessar ao menos uma vez por ano. O desenvolvimento da confissão é acompanhado da pregação. A pregação visa tão somente, “fazer crer”, isto é, sugerir os rudimentos doutrinais e as normas elementares da moral definida pela igreja, sendo, portanto, uma incitação à confissão. A tríade forma um conjunto fortemente articulado, no coração das práticas novas da cristandade. Esses preceitos inserem um domínio da igreja. Todavia, a igreja como instituição dominante, não estava imune à ataques. Toda ordem tem necessidade de contestação e de desordens para melhor impor sua legitimidade. As ofensivas heréticas não existem em si e nada mais é do que aquilo que a autoridade eclesiástica definiu como tal. A heresia 8 só adquire sentido contrário, na medida em que a igreja se transforma em uma instituição forte e preocupada em fixar doutrinas que podem fundamentar sua organização e seu domínio sobre a sociedade. 8 6 Franciscanos e dominicanos. O século XII já havia presenciado certa aproximação entre os regulares e seculares, porém, com os mendicantes é que o passo suplementar se instalou no coração das cidades. 8 Heresia etimologicamente significa escolha. 7
  • 8. As heresias medievais são só conhecidas através dos textos dos clérigos que as condenaram. Era universalmente aceito que a certeza religiosa, que a verdade, pertencia à igreja pela revelação, e que ela era a sua guardiã por comissão divina. Duas crenças religiosas contrárias não poderiam ser ambas verdadeiras, e aquela que fosse falsa deveria ser desarraigada e extirpada. A heresia era por definição uma escolha individual em matéria de religião, de acordo com a qual alguns aspectos da verdade eram salientados em detrimento de outros, ou de crenças de natureza estranha enxertadas sobre todo o corpo da verdade cristã. Na heresia, havia uma improbabilidade antecedente, independente da revelação divina, segundo a qual, em questões de fé, todo o corpo dos cristãos estaria errado, e o líder de uma pequena seita de hereges certos. No geral, segundo Baschet, Em todos os domínios evocados, a atitude da igreja se faz cada vez mais excludente e repressiva. Foi constatado em relação aos hereges, às “superstições” e às formas integradas de expressão dos valores de oposição, aos judeus e, mais tarde, aos feiticeiros, e seria possível dizer o mesmo de outros grupos, marginais e discriminados, tais como os leprosos e os homossexuais (2006, p. 242). De qualquer forma, a igreja sempre foi vista como dominante no período do feudalismo. Todavia, “isso não significa que ela no seu poderio se imponha, sem receber contestações” (BASCHET, 2006, p. 244). A institucionalização cria, portanto, a exclusão, é a própria Igreja que segundo Baschet, “molda os inimigos sobre os quais ela se dá por tarefa triunfar” (ibid., p. 245). Baschet acredita que e afirma que “a Igreja foi o pilar fundamental do sistema feudal” (Idem, p. 245). Fica evidente que a Igreja se consolida no período medieval, sendo uma instituição dominante do feudalismo. Entretanto, a própria Igreja se vê cercada por mudanças e teorias que desencadearão na descentralização do seu poder. Os motivos foram os mais diversos, como: heresias, Querela faz Investiduras, Cisma do Ocidente e os movimentos reformadores. Todavia, nenhuma delas conseguiu o rompimento definitivo com a Igreja.9 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 9 Referimos igreja aqui como Igreja Católica situada no Império Romano.
  • 9. BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São Paulo: Globo, 2006. DEANESLY, Margaret. História da igreja medieval: 590 a 1500. São Paulo: Custom, 2004. LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Bauru/SP: EDUSC, 2005. PERNOUD, Régine. Luz sobre a idade média. Coleção Fórum da História nº 26, Portugal: PEA, 1997.
  • 10. BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. São Paulo: Globo, 2006. DEANESLY, Margaret. História da igreja medieval: 590 a 1500. São Paulo: Custom, 2004. LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Bauru/SP: EDUSC, 2005. PERNOUD, Régine. Luz sobre a idade média. Coleção Fórum da História nº 26, Portugal: PEA, 1997.