O documento discute o assédio moral no ambiente de trabalho, descrevendo suas formas (vertical, horizontal e ascendente), comportamentos que configuram assédio moral, sintomas experimentados por vítimas e estratégias de resistência. É apresentada uma pesquisa com vítimas de opressão no trabalho, revelando como homens e mulheres reagem a essa situação. Comportamentos de diferentes tipos de chefes abusivos são descritos.
3. O assédio moral é toda e qualquer conduta abusiva (gesto,
palavra, comportamento, atitude) que atente, por sua repetição
ou sistematização, contra a dignidade ou a integridade psíquica ou
física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o
clima de trabalho.
4. assédio vertical – é praticado pelo servidor
hierarquicamente superior (chefe) para com os
seus subordinados;
assédio horizontal – é praticado entre colegas
de serviço de mesmo nível hierárquico;
assédio ascendente – é praticado pelo
subordinado que possui os conhecimentos
práticos inerentes ao processo produtivo sobre o
chefe.
5. •Retirar da vítima a autonomia;
•Não lhe transmitir mais as informações úteis para a realização de tarefas;
•Contestar sistematicamente todas as suas decisões;
•Criticar seu trabalho de forma injusta ou exagerada;
•Privá-la de acesso aos instrumentos de trabalho: fax, telefone, computador, mesa, cadeira,
entre outros;
•Retirar o trabalho que normalmente lhe compete;
•Dar-lhes permanentemente novas tarefas;
•Atribuir-lhe proposital e sistematicamente tarefas superiores às suas competências;
•Pressioná-la para que não faça valer seus direitos (férias, horários, prêmios);
•Agir de modo a impedir que obtenha promoção;
•Atribuir à vítima, contra a vontade dela, trabalhos perigosos;
•Atribuir à vítima tarefas incompatíveis com sua saúde;
•Causar danos morais, psicológicos, físicos entre outros, em seu local de trabalho;
•Dar-lhe deliberadamente instruções impossíveis de executar;
•Não levar em conta recomendações de ordem médica indicadas pelo médico do trabalho;
•Induzir a vítima ao erro;
•Controlar suas idas ao médico;
•Advertir a vítima em razão de atestados médicos ou de reclamação de direitos;
•Contar o tempo de permanência ou limitar o número de vezes em que o trabalhador vai ao
banheiro.
6. •A vítima é interrompida constantemente;
•Os superiores hierárquicos ou colegas não dialogam com
a vítima;
•A comunicação com a vítima passa a ser unicamente por
escrito;
•Recusa de todo contato com a vítima, mesmo o visual;
•A pessoa é posta separada dos outros;
•Ignorar a presença do trabalhador, dirigindo-se apenas
aos outros;
•Proibir os colegas de falarem com o trabalhador;
•Não deixar a pessoa falar com ninguém;
•A direção recusa qualquer pedido de entrevista;
•Não repassar o trabalho, deixando o trabalhador ocioso.
7. Utilização de insinuações desdenhosas para desqualificá-la;
•Realização de gestos de desprezo diante dela (suspiros, olhares
desdenhosos, levantar de ombros);
•A pessoa é desacreditada diante dos colegas, superiores e
subordinados;
•São propagados rumores a respeito do trabalhador;
•São atribuídos problemas psicológicos (por exemplo: afirmações
de que a pessoa é doente mental);
•Zombaria sobre deficiências físicas ou sobre aspectos físicos; a
pessoa é imitada ou caricaturada;
•Críticas à vida privada do trabalhador;
•Zombarias quanto à origem ou nacionalidade;
•Provocação quanto as suas crenças religiosas ou convicções
políticas;
•Atribuição de tarefas humilhantes;
•São dirigidas injúrias com termos obscenos ou degradantes.
8. •Ameaças de violência física;
•Agressões físicas, mesmo que de leve, a vítima é empurrada, tem a
porta fechada em sua face;
•Somente falam com a pessoa aos gritos;
•Invasão da vida privada com ligações telefônicas ou cartas;
•A vítima é seguida na rua, inclusive, em vários casos é espionada
diante do domicílio;
•São feitos estragos em seu automóvel;
•A pessoa é assediada ou agredida sexualmente (gestos ou
propostas);
•Os problemas de saúde da pessoa não são considerados;
•O assediado somente é agredido quando está a sós com o
assediador.
9. •Você é mesmo difícil... Não consegue aprender as coisas mais simples! Até uma criança
faz isso... e só você não consegue!
•É melhor você desistir! É muito difícil e isso é pra quem tem garra!! Não é para gente
como você!
•Não quer trabalhar... fique em casa! Lugar de doente é em casa! Quer ficar folgando...
descansando.... de férias pra dormir até mais tarde....
•A empresa não é lugar para doente. Aqui você só atrapalha!
•Se você não quer trabalhar... por que não dá o lugar pra outro?
•Teu filho vai colocar comida em sua casa? Não pode sair! Escolha: ou trabalho ou toma
conta do filho!
•Lugar de doente é no hospital... Aqui é pra trabalhar.
•Ou você trabalha ou você vai a médico. É pegar ou largar... não preciso de funcionário
indeciso como você!
•Pessoas como você... Está cheio aí fora!
•Você é mole... frouxo... Se você não tem capacidade para trabalhar... Então porque não
fica em casa? Vá pra casa lavar roupa!
•Não posso ficar com você! A empresa precisa de quem dá produção! E você só atrapalha!
•Reconheço que foi acidente... mas você tem de continuar trabalhando! Você não pode ir
a médico! O que interessa é a produção!
10. •É melhor você pedir demissão... Você está doente... está indo muito a médicos!
•Para que você foi a médico? Que frescura é essa? Tá com frescura? Se quiser ir
pra casa de dia... tem de trabalhar à noite!
•Se não pode pegar peso... dizem piadinhas "Ah... tá muito bom para você!
Trabalhar até às duas e ir para casa. Eu também quero essa doença!"
•Não existe lugar aqui pra quem não quer trabalhar!
•Se você ficar pedindo saída eu vou ter de transferir você de empresa... de posto
de trabalho... de horário...
•Seu trabalho é ótimo, maravilhoso... mas a empresa neste momento não precisa
de você!
•Como você pode ter um currículo tão extenso e não consegue fazer essa coisa
tão simples?
•Você me enganou com seu currículo... Não sabe fazer metade do que colocou
no papel.
•Vou ter de arranjar alguém que tenha uma memória boa, pra trabalhar comigo,
porque você... Esquece tudo!
•A empresa não precisa de incompetente igual a você!
•Ela faz confusão com tudo... É muito encrenqueira! É histérica! É mal casada!
Não dormiu bem... é falta de ferro!
•Vamos ver que brigou com o marido!
11. Entrevistas realizadas com 870 homens e mulheres vítimas de
opressão no ambiente profissional revelam como cada sexo reage a
essa situação (em porcentagem)
SINTOMAS MULHERES HOMENS
Crise de choro 100 ---
Dores generalizadas 80 80
Palpitações ,tremores 80 40
Sentimento inutilidade 72 40
Insônia ou sonolência excessiva 69,6 63,6
Depressão 60 70
Diminuição do libido 60 15
Sede de vingança 50 100
Aumento da pressão arterial 40 51,6
Dor de cabeça 40 33,2
Distúrbios digestivos 40 15
Tonturas 22,3 3,2
Ideia de suicídio 16,2 100
Falta de apetite 13,6 2,1
Falta de ar 10 30
Passar a beber 5 63
Tentativa de suicídio --- 18,3
Fonte: BARRETO, M. Uma jornada de humilhações. São Paulo: Fapesp; PUC, 2000.
12. • Resistir: anotar com detalhes toda as humilhações sofridas (dia, mês, ano, hora, local ou setor, nome do
agressor, colegas que testemunharam, conteúdo da conversa e o que mais você achar necessário).
• Dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que testemunharam o fato ou
que já sofreram humilhações do agressor.
• Organizar. O apoio é fundamental dentro e fora da empresa.
• Evitar conversar com o agressor, sem testemunhas. Ir sempre com colega de trabalho ou representante
sindical.
• Exigir por escrito, explicações do ato agressor e permanecer com cópia da carta enviada ao D.P. ou R.H e
da eventual resposta do agressor. Se possível mandar sua carta registrada, por correio, guardando o
recibo.
• Procurar seu sindicato e relatar o acontecido para diretores e outras instancias como: médicos ou
advogados do sindicato assim como: Ministério Público, Justiça do Trabalho, Comissão de Direitos
Humanos e Conselho Regional de Medicina (ver Resolução do Conselho Federal de Medicina n.1488/98
sobre saúde do trabalhador).
• Recorrer ao Centro de Referencia em Saúde dos Trabalhadores e contar a humilhação sofrida ao
médico, assistente social ou psicólogo.
• Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas, pois o afeto e a solidariedade são fundamentais para
recuperação da autoestima, dignidade, identidade e cidadania.
Importante:
Se você é testemunha de cena(s) de humilhação no trabalho supere seu medo, seja solidário com seu
colega. Você poderá ser "a próxima vítima" e nesta hora o apoio dos seus colegas também será precioso.
Não esqueça que o medo reforça o poder do agressor!
13. •Sua missão é "enxugar" o mais
rápido possível a "máquina", demitindo
indiscriminadamente os trabalhadores/as.
•Refere-se às demissões como a "grande
realização da sua vida".
•Humilha com cautela, reservadamente.
•As testemunhas, quando existem, são seus
superiores, mostrando sua habilidade em
"esmagar" elegantemente.
14. •É aquele chefe que bajula o patrão e não larga os
subordinados.
•Persegue e controla cada um com "mão de ferro".
•É uma espécie de capataz moderno.
•É o chefe agressivo, violento e perverso em
palavras e atos.
•Demite friamente e humilha por prazer.
15. •Aproxima-se dos trabalhadores/as e mostra-se
sensível aos problemas particulares de cada um,
independente se intra ou extra-muros.
•Na primeira "oportunidade", utiliza estes mesmos
problemas contra o trabalhador, para rebaixá-lo,
afastá-lo do grupo, demiti-lo ou exigir
produtividade.
•É o chefe brusco, grotesco.
•Implanta as normas sem pensar e todos devem
obedecer sem reclamar.
•Sempre está com a razão.
•Seu tipo é: "eu mando e você obedece".
16. •Esconde sua incapacidade com atitudes grosseiras e
necessita de público que assista seu ato para sentir-
se respeitado e temido por todos.
•É o chefe que não conhece bem o seu trabalho,
mas vive contando vantagens e não admite que
seu subordinado saiba mais do que ele.
•Submete-o a situações vexatórias, como por
exemplo: colocá-lo para realizar tarefas acima do
seu conhecimento ou inferior à sua função.
17. •"Ta se achando“.
•Confuso e inseguro.
•Esconde seu desconhecimento com ordens
contraditórias: começa projetos novos, para
no dia seguinte modificá-los.
•Exige relatórios diários que não serão
utilizados.
•Não sabe o que fazer com as demandas dos
seus superiores.
•Se algum projeto é elogiado pelos
superiores, colhe os louros.
•Em caso contrário, responsabiliza a
"incompetência" dos seus subordinados.
Fonte: BARRETO, M. Uma jornada de humilhações. São Paulo: Fapesp; PUC, 2000.
18. “Toda vez que alguém apresenta atestado médico para a empresa, a
encarregada vira um bicho, chega a nos chamar de trapaceiras, sem-
vergonhas, bicho, ameaçando até chamar a polícia. Algumas, só de ouvir o
nome dessa chefe, chegam a sentir calafrios, tontura, pavor, etc.” (Z.S. - Rio
do Sul)
“Na empresa eles têm costume de acusar as funcionárias de roubo de
algumas coisas como, por exemplo, coisas que faltam na cozinha, na bolsa
das chefes, etc, o que não é verdade. Várias pessoas que saíram da empresa,
saíram por esse motivo.” Na mesma empresa, as trabalhadoras
recentemente tiveram que passar por uma revista para ver quais delas
estavam menstruadas, por causa de uma mancha de sangue no vaso
sanitário do banheiro. “Como era dia de encerramento e de revelação do
amigo secreto, eles fizeram uma reunião antes e o patrão falou que, da
próxima vez que isso acontecesse, ele mesmo iria revistar e saber quem era
a relaxada que tinha feito isso. (...) Que sentiria vergonha e nojo se tivesse
uma mulher assim.” (S.N.C. - Chapecó)
19. Comunicado do superintendente de uma agência: “A equipe
é desqualificada para a magnitude das metas”; “Melhor
transformar a agência em lotérica”. Um outro administrador
chegou a colocar rodas atrás das cadeiras dos empregados
que não atingiram as metas traçadas. O objetivo foi intimidar
os empregados, dando lhes o rótulo de “roda presa”.
(bancários do MS e PR)
“Você se situa no mundo pensando ‘eu sou uma jornalista, eu sou uma
psicóloga, eu sou uma faxineira, eu faço determinado tipo de trabalho’.
Quando você é humilhado, assediado moralmente, cada vez que vai e volta
de um afastamento médico, vai perdendo essa identidade. Todo dia lhe
mudam de setor ou lhe dão tarefas que não têm a ver com o seu serviço.
Você chega no seu trabalho e não sabe o que vai fazer hoje. Isso dá uma
sensação de incapacidade muito grande. Aos poucos os seus próprios
colegas tendem a ignorá-lo. Você se sente mal e sai. Quando volta, parece
um fantasma no meio daquelas pessoas que estão fazendo as suas tarefas.”
(psicóloga do trabalho Teresinha Martins dos Santos Souza/ SP).
20. “Por economia, a empresa não contratou mais ninguém
e nos obrigou a trabalhar em dobro. Nós tínhamos 28
segundos para atender um cliente quando ele solicitava
a informação.De uma hora para outra a empresa passou
para 18 segundos. Todos os dias o supervisor mostrava
um relatório do dia anterior e dizia que não estávamos
no perfil da empresa por que nosso tempo médio de
operação não ficava na média dos 18 segundos e que
até o final do mês nós tínhamos que recuperar o tempo
perdido com a nossa lerdeza.” (S. A. - Florianópolis)
“O mais comum para quem trabalha no comércio é o patrão
mandar a gente bater o ponto no final do dia e continuar
trabalhando e essas horas extras a gente nunca consegue
receber. Se não fizemos isso, eles vão lá no computador e
alteram. O pior é que nem podemos dizer que não vamos
fazer hora extra por que se não somos demitidos.”
(LMN - Florianópolis)
21. SERGIPE
Ministério da Saúde
Coordenadorias Estaduais de Saúde do Trabalhador
Coordenadoria de Saúde do Trabalhador - Divisão vigilância Sanitária - Centro de Estudo de Saúde
do Trabalhador - Secretaria de Estudos da Saúde do Trabalhador
Rua Urquiza Leal, 617 - Salgado Filho
Aracaju - SE
CEP: 49020-490
Fone: (79) 246-5236
Fone/fax: (79) 211-9133
E-mail: sesdvs@prodase.com.br
Delegacia Regional do Trabalho
Núcleo de Combate à Discriminação no Trabalho
Rua Itabaianinha, 164 - Centro
Aracaju - SE
CEP: 49010-190
Fone: (79) 211-7390
Fax: (79) 211-7390
Assédio Moral é Crime.
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