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Publicidade
    e
 consumo
Publicidade
    e
 consumo
Presidente da República
     Fernando Henrique Cardoso
Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
     Sérgio Amaral
Presidente do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização
e Qualidade Industrial – Inmetro
     Armando Mariante Carvalho
Diretor da Diretoria da Qualidade Industrial do Inmetro
     Alfredo Carlos O. Lobo
Apresentação
      O módulo Publicidade e Consu-             A experiência internacional mostra que os
mo integra a coleção Educação para       países mais competitivos são exatamente aqueles
o Consumo Responsável, destinada à       que possuem consumidores mais exigentes. O
formação de multiplicadores dos con-     presente material representa uma importante con-
ceitos de educação para o consu-         tribuição ao processo já desencadeado de cresci-
mo, de maneira a atingir aos profes-     mento do consumidor brasileiro, mantendo-o como
sores e alunos da 5a à 8a séries do      parte efetiva do processo de melhoria da qualidade
ensino fundamental de escolas públi-     das empresas brasileiras.
cas e privadas.                                 Além de conter informações relevantes, os
      A coleção, elaborada pelo Idec     módulos sugerem uma série de atividades
– Instituto Brasileiro de Defesa do      capazes de estimular o debate sobre o tema do
Consumidor – sob a coordenação do        consumo, a partir de enfoques múltiplos e diver-
Inmetro – Instituto Nacional de          sificados, despertando nos jovens uma consciên-
Metrologia, Normalização e Quali-        cia crítica dos padrões de consumo da sociedade
dade Industrial –, aborda cinco temas    atual.
em quatro volumes: Meio Ambiente e              É uma contribuição cuidadosamente elabo-
Consumo; Publicidade e Consumo;          rada por especialistas e educadores para que os
Direitos do Consumidor e Ética no        professores possam contar com material que lhes
Consumo; e Saúde e Segurança do          permita abordar sem dificuldades os temas trata-
Consumidor.                              dos. Esse material se destina a ser reproduzido
      O objetivo é contribuir para a     para a realização de cursos de formação de mul-
formação de cidadãos conscientes         tiplicadores de forma a introduzir a educação para
do seu papel como consumidores           o consumo responsável no ensino fundamental
parti-cipativos, autônomos e críticos,   de todos os estados e municípios.
a partir da sala de aula, como                  Lançamos esta coleção na esperança de
propõem os Parâmetros Curriculares       contribuir para formar e informar o consumidor,
Nacio-nais        elaborados      pelo   sempre na busca de um mercado mais saudável.
Ministério da Educação em 1998,
que introduziram o Consumo entre
os temas transversais a serem abor-                                   Armando Mariante
dados nas escolas.                                                      Presidente do Inmetro
Publicidade e Consumo        – Coleção Educação para o Consumo
Responsável
© Copyright 2002
        Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e
                        Qualidade Industrial
        Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

        É proibida a reprodução, por quaisquer meios, sem a expressa
        autorização dos detentores dos direitos autorais.

Coordenação e supervisão – Inmetro
      Coordenação: Angela Damasceno
      Supervisão: Márcia Andréia S. Almeida e
                  José Humberto Fernandes Rodrigues

Execução editorial – Idec
      Coordenação e texto: Glória Kok
      Módulos didáticos: Sílvia Meirelles e Regina Barros
      Consultores: Patrícia de Oliveira Freitas, Marcelo Souza,
                    Vidal Serrano Nunes Jr.
      Edição: Esníder Pizzo
      Revisão: Maria Aparecida Medeiros
      Projeto gráfico e direção de arte: Shirley Souza
      Editoração eletrônica: Juliano Dornbusch Pereira
      Capa: foto de Glória Flügel
Sumário
Apresentação                         3

Introdução                           8

Pequerna história da
publicidade no Brasil                10

Estratégias da publicidade12

Televisão e publicidade              16

As crianças e a
publicidade                          18
   • Na Suécia não há publicidade
   na TV para crianças               19

Os jovens e a publicidade 22
   • Violência na TV                 23

Os adultos e a
publicidade                          24

Publicidade externa                  27

Publicidade enganosa e
abusiva                              29

O papel da escola                    31
   O que fazer                       32
   • Obrigações para com os jovens
    e as crianças                    33

Glossário                            34

Bibliografia                         36

Sites na internet                    39

Módulos didáticos                    41
   O que a publicidade está
   querendo dizer?                   42
   Na sala de aula                   48
Publicid
    e
 consu
“   Ao contrário do panorama

          caótico do mundo apresentado




ade
          nos noticiários dos jornais, a

          mensagem publicitária cria e

          exibe um mundo perfeito e

          ideal, verdadeira ilha da deusa

          Calipso, que acolheu Ulisses

          em sua Odisséia – sem guer-

          ras, fome, deterioração ou sub-

          desenvolvimento. Tudo são

          luzes, calor e encanto, numa




mo                                                ”
          beleza perfeita e não-perecível.
                Nelly de Carvalho, Publicidade.
                      A linguagem da sedução.
Publicidade e consumo




                                                                                                                       Foto de Shirley Souza
    Introdução
D        iariamente, anúncios de modelos de televi-
         sores, equipamentos de som, eletrodo-
         mésticos, computadores, carros, seguros-
    saúde, roupas, cigarros, alimentos, etc. captam
    os olhares e os ouvidos de homens, mulheres,
    jovens e crianças. Informam pouco sobre o que
    anunciam e geram, por meio de apelos emo-
    cionais, repentinas necessidades e demandas de
    consumo que nem imaginávamos que pudésse-
    mos ter.
                                                             Propaganda de cigarro ocupando toda a lateral de um
           Outros tipos de anúncio divulgam idéias po-       edifício. Agora está proibida.
    líticas, religiosas e sociais para informar e orientar
    o cidadão a respeito de questões de interesse                  Assim, a publicidade invade,
    público: saúde, como as campanhas de vaci-               insistentemente, tanto as casas, por
    nação e de uso de preservativos, trânsito,               meio de folhetos, jornais, rádio e
    higiene, pre-servação do meio ambiente e até             televisão, quanto as ruas, onde é
    programas políticos.                                     normalmente afixada nos muros,
           O primeiro tipo de anúncio pode ser cha-          ônibus, táxis, bancos, hospitais,
    mado de publicidade, enquanto o segundo, de              restaurantes, escolas, praças. Até
    propaganda. Os dois termos, entretanto, são              nas grandes aveni-das, outdoors
    usados indistintamente em nosso dia-a-dia,               (em português quer dizer publicidade
    independentemente do teor da mensagem.                   externa) coloridos inserem-se abun-
           Em vez de fornecer informações para um            dantemente nas paisa-gens urbanas,
    consumo consciente e racional, a publicidade             mas nem sempre de maneira apro-
    pode apelar para as sensações e as ilusões de            priada ou legal. Não há como
    que o consumo daquele bem ou serviço modifi-             escapar, ignorar ou ficar alheio a
    cará positivamente a vida do consumidor. Nesse           uma das formas mais dinâmicas de
    caso, explora os desejos, gostos, idéias e neces-        comunicação da atualidade: as men-
    sidades, cada vez mais complexas, dos consumi-           sagens publicitárias.
    dores.1 Mas, se a publicidade veiculada pelos                  Um estudo de 1998 revelou
    meios de comunicação enganar o consumidor de             que um consumidor norte-americano
    alguma forma, ele poderá reivindicar os seus dire-
    itos, estabelecidos pelo Código de Defesa do             1. Montserrat Planella i Serra, “La publicidad y la
                                                             proyección de los deseos” in Cuadernos de Pedagogía,
    Consu-midor. (Veja também o volume Direitos e            no 285/ noviembre, p.50.
                                                             2. Rio, Pablo del, “Publicidad y consumo: hacia un mod-
    Respon-sabilidades do Consumidor, da Coleção             elo educativo”, in Infancia y Aprendizaje, 1986, 35-36,
    Educação para o Consumo Responsável).                    p.142.


8
Introdução


está exposto a mais de mil anúncios                  dos jovens para a leitura e análise em vários
diários2. Como escapar ao bombar-                    níveis, do texto televisual, como já se faz, de há
deio de ofertas publicitárias sem                    muito, com o texto escrito, que deve ser lido, anal-
aderir ao consumismo desenfreado,                    isado, compreendido e criticado também a partir
às necessidades fictícias? Que tipo                  da própria experiência de vida do estudante”3.
de influência a mídia exerce sobre os                Isso significa também ensinar a ler criticamente
padrões de consumo? Que men-                         as mensagens publicitárias, as quais enredam os
sagem subliminar traz uma determi-                   consumidores de todas as idades em circuitos
nada publicidade? Neste trabalho                     emotivos e irracionais criados para vender produ-
pretendemos sublinhar a importância                  tos no mercado. Se a escola conseguir despertar
da escola na sensibilização dessas                   em seus alunos a consciência das estratégias da
questões referentes ao mundo da                      publicidade e dos meios de comunicação, estará
publicidade e do consumo, bem                        no rumo da formação do cidadão, da defesa da
como à leitura das mensagens                         cultura, da educação e do diálogo entre as pes-
(texto, imagem, som) veiculadas                      soas.
pela mídia. Maria Thereza Fraga
Rocco chama a atenção para a
necessidade de “hoje, ‘alfabetizar’ cri-
anças e apro-fundar a competência




                                                                                                          Foto de Shirley Souza




         Outdoors e lambe-lambes colaboram para a poluição visual da cidade.




                                                     3. Maria Thereza Fraga Rocco, “Televisão e educação: um canal aberto”
                                                     in Figueiredo, Vera Lúcia Follain. Mídia & Educação, Rio de Janeiro,
                                                     Gryphys, 1999, p. 56.

                                                                                                                                               9
Publicidade e consumo




                               Pequena




                                                                                                                                             Foto de Glória Flügel
                               história
                               da publicidade
                               no Brasil
      A                            ntigamente, grande parte da publicidade era
                                   predominantemente oral. Os vendedores e
                               mascates gritavam ou falavam pregões nas ruas     Anœncio publicado na Revista da Semana de
                                                                                 7.12.1936.
                               e praças, oferecendo a mercadoria:
                                                                                      Entre 1809 e 1888 foram publi-
                                             “Maracujá miúdo,                    cados, somente nos jornais do Rio
                                              no balaio de Iaiá.”                de Janeiro, cerca de 1 milhão de
                                                       ou                        anúncios de escravos. O primeiro
                                             “Sorvetinho, sorvetão,              deles saiu também na Gazeta do Rio
                                              sorvetinho de limão,               de Janeiro em 7 de janeiro de 1809:
                                              quem não tem 200 réis
                                                                                         “Em 20 de agosto do ano próx-
                                              não toma sorvete não.”4
                                                                                         imo passado, fugiu um escravo
                                    O primeiro anúncio impresso no Brasil foi            preto, por nome Mateus, com
                               editado no dia 17 de setembro de 1808 no jornal           os    sinais     seguintes:       rosto
                               Gazeta do Rio de Janeiro. Tratava-se da venda             grande e redondo, com dois tal-
                               de um imóvel5:                                            hos, um por cima da sobrancel-
                                                                                         ha esquerda e outro nas
                                                                                         costas;        olhos      pequenos,
                                                                                         estatura       ordinária,        mãos
                                                                                         grandes, dedos grossos e cur-
                                                                                         tos, pés grandes e corpo gros-
 Ilustra ªo de Shirley Souza




                                                                                         so. Na Loja da Fazenda de
                                                                                         Antonio José Mendes Salgado
                                                                                         de Azevedo Guimarães, na


                                                                                 4. Pinho, J.B. “Trajetória da Publicidade no Brasil: das
                                                                                 origens à maturidade técnico-profissional” in Pinho, J.B.
                                                                                 (org.). Trajetória e Questões Contemporâneas da
                                                                                 Publicidade Brasileira, São Paulo, Intercom, Sociedade
                                                                                 Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comuni-
                                                                                 cação, 1995, p. 15.
                                                                                 5. Pinho, J.B. (org.). op. cit. p.16.
10
Pequena história da publicidade no Brasil
     Rua da Quitanda no 64, rece-               que descreviam as qualidades do pro-duto. Os
     berá quem o entregar, além das             primeiros anunciantes foram a Companhia Antarctica
     despesas     que      tiver       feito,   Paulista, Laminação Na-cional de Metais e Moinho
     132$800 de alvíssaras.”       6            Santista.8 Foi a década do aparecimento de super-
                                                mercados, anúncios lu-minosos, novas técnicas de
     Com o desenvolvimento da im-
                                                venda e produção. Além disso, as indústrias automo-
prensa, multiplicaram-se os anún-
                                                bilísticas de São Paulo, a General Motors, Ford, DKW-
cios de vendas de imóveis, de pro-
                                                Vemag, Willys Overland, Mercedes Benz e Romi-
dutos e de ofertas de mercadorias.
                                                Isetta, geriram grandes verbas publicitárias, con-
Entre as dé-cadas de 40 e 50, alguns
                                                tribuindo para o processo de profissionalização da
deles ficaram gravados na memória
                                                propaganda.
das pessoas.
                                                       Nas décadas de 60 e 70, a atividade publi-
     “Dura lex, sed lex,                        citária tornou-se uma verdadeira indústria alimen-tada
     no cabelo só Gumex”                        pelo consumo de bens da classe média urbana em
     “É mais fácil um burro voar do             ascensão que se constituía no Brasil. Como resulta-
     que a Esquina da Sorte falhar”             do, explodiram o consumo, as marcas, as novidades
                                                expostas nas vitrines das lojas, nas revistas, nos jor-
     “Veja, ilustre passageiro,
                                                nais e na televisão. O investimento publicitário pas-
     o belo tipo faceiro
                                                sou de 1 bilhão de cruzei-ros no início da década de
     que o senhor tem ao seu lado
                                                70 para aproximadamente 45 bilhões no seu final.
     e no entanto, acredite
                                                Grande parte deste investimento provinha do governo
     quase morreu de bronquite
                                                (municipal, estadual e federal).9 Outros anunciantes
     salvou-o Rhum Creosotado”.7
                                                que se destacaram foram os bancos, o varejo, a
                Bastos Tigre, 1918
                                                indústria automobilística, com a instalação no país da
      A primeira emissora de rádio no           Fiat Automóveis, e os bens de consumo, como Coca-
Brasil foi a Rádio Sociedade do Rio             Cola, Gessy-Lever, Gillete, Johnson&Johnson, Nestlé,
de Janeiro, fundada por Roquete                 Companhia de Cigarros Souza Cruz, entre outras
Pinto, em 1923. Depois da década                empresas.10
de 30, com o crescimento da indús-                     Portanto, conclui Pinho, “os elevados investi-
tria brasileira, o rádio ganhou muita           mentos para a consolidação da estrutura industrial
for-ça, multiplicando o número de               brasileira moderna, provenientes de empréstimos
emissoras, as verbas publicitárias e            externos, geram os recursos que tornam a atividade
as vendas no mercado.                           publicitária um negócio reconhecido e altamente ren-
      Com a chegada da televisão, o             doso, permitindo ainda que ele conquistasse prestígio
mundo da publicidade ganhou um                  internacional graças ao significa-tivo número de
novo fôlego no momento em que o                 prêmios conseguidos no exterior”.11
capital estrangeiro comandava o pro-
cesso de industrialização brasileira.           6. Pinho, J.B. (org.). op. cit. pp.17 e 18.
                                                7. Feitosa, Ercília e Tarsitano, Paulo, “Anúncio – Espelho da História
Na década de 50, as garotas-propa-              Social, Política e Econômica Brasileira”, in Pinho, J.B. Trajetória e
ganda anunciavam os produtos nos                Questões Contemporâneas da Publicidade Brasileira, São Paulo,
                                                Intercom, 1995, p.64.
comerciais: mostravam o rosto e sor-            8. Pinho, J.B. op. cit. p.38.
                                                9. Idem, Ibidem, p.50.
riam, enquanto diziam textos longos             10. Idem, Ibidem, p.50.
                                                11. Idem, Ibidem, p.57.


                                                                                                                         11
Publicidade e consumo




     Estratégias




                                                                                                                     Foto de Shirley Souza
     da publicidade
 A        publicidade é o resultado de um elaborado
          plano de marketing com objetivos ex- clusiva-
          mente comerciais.12 Para ser tecnicamente
     eficaz, a publicidade deve:
            • chamar a atenção do leitor ou ouvinte;
            • provocar o interesse do consumidor;
            • estimular o desejo de compra;
            • imprimir o nome do produto, criando a
            convicção;
                                                           “Este é o sabor”, slogan do outdoor vai além do produ-
            • transformar o desejo em ação.                to, Guaraná. Fazendo uso do recurso persuasivo,
            Para isso, produz uma profusão de imagens,     estende as qualidades do refrigerante, destacando o
                                                           prazer e ligando sua imagem à satisfação, à felicidade
     símbolos e códigos de consumo que são, na             e sensualidade.

     maioria das vezes, difundidos pelos meios de
     comunicação ou mídia.                                 alguma.15 Ou ainda, uma experiência
            De acordo com Nelly de Carvalho, a publici-    feita em um cinema de Nova Jersey,
     dade pode se valer de três recursos:                  Estados Unidos, no ano de 1957,
            • a ordem (fazendo agir) – “Beba Coca-         provou que nas seis se-manas em
            Cola”;                                         que foi exibido o filme Picnic com
            • a persuasão (fazendo crer) – “Só             mensagens “Está com fome? Coma
            Omo lava mais branco”; ou                      pipoca” e “Beba Coca-Cola”, a venda
            • a sedução (buscando o prazer) – “Se          de pipoca aumentou 57,7%, e a de
            algum desconhecido lhe oferecer flo-           Coca-Cola, 18,1%.16
            res, isto é Impulse”.13                              A publicidade, portanto, cria
            Ao veicular as mensagens de consumo, a         necessidades      inexistentes   ao
     linguagem da publicidade tornou-se ágil, sintética,
     conectada com a imagem e, como observou               12. “Publicidad y Consumo” in Boletín de la Red para la
                                                           Educaciòn del Consumidor, julio 1997, p.21.
     Nagamini, “essencialmente persuasiva, pois sua        13. Nelly de Carlvalho, Publicidade: a linguagem da
                                                           sedução, 3ª edição, São Paulo, Editora Ática, 2000,
     finalidade é vender imagens, serviços, idéias,        p.10.
     etc.”14 Para tanto, ela desenvolveu estratégias em    14. Eliana Nagamini, “O discurso da publicidade no
                                                           contexto escolar: a construção dos pequenos enredos”,
     que os consumidores agem de modo incon-               in Citelli, Adilson (coordenador). Outras linguagens da
                                                           escola: publicidade, cinema e TV, rádio, jogos, infor-
     sciente. Uma pesquisa de mercado, por exemplo,        mática, São Paulo, Cortez, 2000, p. 42.
     mostrou que as pessoas são muito mais                 15. Joan Ferrés. Televisão Subliminar. Socializando
                                                           através de Comunicações Despercebidas. Tradução de
     favoráveis à carne de boi quando era etiquetada       Ernani Rosa e Beatriz Neves, Porto Alegre, Artmed,
                                                           1998, p.49.
     como “75% magra” do que quando era etiquetada         16. Joan Ferrés. Televisão Subliminar. Socializando
     com “25% de gordura”, o que não tem diferença         através de Comunicações Despercebidas. Porto
                                                           Alegre, Artmed, 1998, p.71.

12
Estratégias da publicidade



mesmo tempo que faz as pessoas se
sentirem imperfeitas, insatisfeitas.
Sublimi-narmente, ela está incutindo
a idéia de que a solução para “o mal-
estar da civilização” está no con-
sumo, isto é, em função das coisas
que o consumidor pode comprar, ele
adquire também a ilusão de se tornar
bonito, querido, feliz e aceito social-
mente. To-da publicidade tem um
ingrediente de sedução, pois nos faz
desejar algo que nem havíamos pen-
sado em comprar, dando a sensação
de que “todos têm, por isso eu tam-
bém preciso ter”. Segundo Nelly de
Carvalho, uma publicidade bem-feita
é capaz de transformar “um relógio
em jóia, um carro em símbolo de




           Neste anúncio observa-se, claramente, o produto (carro) transformando-se em símbolo de prestígio.
           Ser JASP é sinônimo de ser Jovem, Autêntico, Surpreendente e Preparado e, para isso, o consumi-
           dor só precisa ter o carro do anúncio. A venda vai além do produto, se estende ao status que ele pode


                                                       17. Nelly de Carvalho, Publicidade: a linguagem da sedução, 3ª edição,
                                                       São Paulo, Ed. Ática, 2000, p.18.
                                                                                                                                13
Publicidade e consumo


     prestígio e um pântano em paraíso tropical”. 17
           Nesse sentido, os anúncios vão muito além
     da venda de produtos. “Em cada anúncio”, expli-
     ca Rocha, “vendem-se estilos de vida, sen-
     sações, emoções, visões de mundo, relações
     humanas, sistemas de classificação, hierarquia
     em quantidades significativamente maiores que
     geladeiras, roupas ou cigarros. Um produto
     vende-se para quem pode comprar, um anúncio
     distribui-se indistintamente.”18
           Atualmente, as grandes empresas investem
     somas altíssimas de dinheiro em publicidade. Nos
     esportes, eventos artísticos, musicais e comu-
     nitários, nota-se uma verdadeira invasão de mer-
     chandising – quando um produto, marca, empre-
     sa ou serviço é citado, consumido ou utilizado
                                                              O patrocínio é uma forma comum de colocar a marca
     mediante o pagamento feito pelo anunciante.              em evidência; neste exemplo, o banco patrocina uma
                                                              exposição de arte.
     Deste modo, marcas, slogans, símbolos ou cores,
     material promocional, propagandas, decorações,
     objetos, veículos e roupas integram uma elabora-
     da estratégia de venda de produtos em eventos

     18. E.P.G. Rocha, Magia e capitalismo: um
     estudo antropológico da publicidade. São
     Paulo, Brasiliense, 1985, p.27.                                                       Grandes marcas freqüente-
     19.      Sampaio,         Rafael.                                                     mente patrocinam shows
     Propaganda de A a Z. Como usar                                                        que atraem o público jovem.
     a                                                                                     Entre os patrocinadores vale
     propaganda para construir                                                             observar a presença de fab-
     marcas e empresas de sucesso,                                                         ricantes de bebidas alcoóli-
     2ª reimpressão, Rio de Janeiro,                                                       cas (cerveja) e, até algum
     Campus, ABR, 1997, p.176.                                                             tempo atrás, de cigarros.




                            VOCÊ SABIA?

                         Nos Estados Unidos consome-se
                         o equivalente a duas vezes e
                         meia os recursos naturais do país.




14
Estratégias da publicidade

culturais e esportivos.19
      Só no período de janeiro a junho do ano de 1999 a mídia faturou R$ 3.453.058.300,00
com os anúncios publicitários, sendo que as emissoras de TV são as que detêm maior



       Fautramento dentre os meios de comunicação.
       Publicidade/Mídia                Faturamento por mídia                          % do total
                                               (valor em R$)


       Televisão                               1.893.801,60                                  54,8
       Jornal                                   885.155,80                                   25,6
       Revista                                  321.885,70                                    9,3
       Rádio                                    158.697,60                                    4,6
       TV por assinatura                        27.505,10                                     0,8
       Outros                                   166.012,50                                    4,9


                                                                      Fonte: Price Waterhouse & Coopers, jan. a
                                                                                                     jun./9920.




           PARA SABER MAIS

           Na Copa do Mundo de 1998, a publicidade movi-
           mentou milhões de dólares. “Foi quase uma
       Copa das Marcas; a briga pelas cotas de patrocínio
       tirou a Coca-Cola, garantindo a entrada do Guaraná
       Brahma, com o equivalente a 18 milhões de dólares,
       numa das maiores emissoras do país, a Rede
       Globo. A Bandeirantes incluiu seis cotas de
       patrocínio (9 mi-lhões de dólares cada uma) para a
       Nestlé e 2,5 mi-lhões de dólares em top de cinco
       segundos para a LG Eletrônicos, resultando num fat-
       uramento de 56,5 milhões de dólares para a emis-
       sora.”21




                                                 20. Almanaque Abril 2000. São Paulo, Editora Abril, p. 211.
                                                 21. Eliana Nagamini, “O discurso da publicidade no contexto escolar: a
                                                 construção dos pequenos enredos”, in Citelli, Adilson (coordenador).
                                                 Outras linguagens da escola: publicidade, cinema e TV, rádio, jogos, infor-
                                                 mática, São Paulo, Cortez, 2000, p.76.




                                                                                                                               15
Publicidade e consumo




     Televisão




                                                                                                                  Foto de Glória Flügel
     e publicidade
 P        resente em aproximadamente 40 milhões de
         casas, a televisão é o veículo de maior peso
     no Brasil e o segundo eletrodoméstico mais pre-      Anúncio na televisão, veiculado em 2002 às vésperas
     sente nos lares, perdendo apenas para o fogão.       do Carnaval. Aproveitar eventos que mobilizam ou
                                                          atraem grande parte dos consumidores é uma técnica
     Chegou a ser definida como “a caixinha de dis-       sempre explorada pela publicidade.
     tração e da destruição”,22 por ser, de um lado, um
     canal informativo e uma opção barata de lazer, e,    meio de comunicação esteve associ-
     por outro, algo que manipula, distorce a realidade   ado à acelera-ção gradual do ritmo
     e é um convite à passividade, à acomodação. Co-      das imagens. Segundo Joan Ferrés,
     mo observou Joan Ferrés, a televisão também          “as mensagens da televisão carac-
     tem um caráter disperso, desagregador, divulgan-     terizam-se cada vez mais por um
     do informações contraditórias, incoerentes e         ritmo trepidante, por uma aceleração
     ambí-guas. “Basta pensar”, disse ele, “em infor-     cada vez maior na sucessão das
     mações sobre a crise econômica interrompidas         cenas. Para o telespectador, que vai
     por propagandas que incitam ao consumo.”23           sendo habituado a esse ritmo, a pos-
            Uma das redes privadas brasileiras, a Rede    sibilidade de movimento acaba se
     Globo, é uma das cinco maiores do mundo,             tornando uma necessidade de movi-
     atingindo 27 milhões de domicílios, mais de 110      mento. Quando não há mu-dança,
     milhões de telespectadores, 4.386 municípios,        torna-se monótono”.26
     com uma cobertura geográfica de 99% do ter-                 O caráter comercial da tele-
     ritório nacional.24 Além das emissoras de canais     visão é visível a qualquer telespecta-
     abertos, as empresas de TV via satélite ou a         dor. A publicidade está presente em
     cabo, que cobram assinaturas ou fazem emis-          todos os programas. Uma lei federal
     sões do tipo pagar-para-ver (pay per view), per-     determinou que a TV poderia dedicar
     mitem que o telespectador receba em casa             apenas 25% de seu tempo à
     dezenas de canais novos, especializados em           exibição de propaganda, e os interva-
     temas: notícias, espor-tes, desenhos, música e       los passaram automaticamente a 15
     cinema, em inglês, francês, espanhol, entre out-     minutos por hora. Como conseqüên-
     ros. Como disse Eugênio Bucci, “o Brasil se
                                                          22. http://tver.zip.net/mulhernatv.htm
     comunica pela televisão”.25                          23. Joan Ferrés. Televisão e Educação. Tradução:
             Mas como se explica esse fascínio que a      Beatriz Affonso Neves, Porto Alegre, Artes Médicas,
                                                          1996, p. 20.
     televisão exerce sobre as pessoas? Um dos            24. Figueiredo, Vera Lúcia Follain (org.). Mídia&Edu-
                                                          cação, Rio de Janeiro, Gryphus, 1999, p. 109.
     grandes atrativos da televisão é o movimento da      25. Eugênio Bucci, “Direitos do Telespectador”, in
     imagem. Nas últimas décadas, o sucesso deste         http://tver.zip.net/direitos-texto.htm
                                                          26. Joan Ferrés. Televisão e Educação, Porto Alegre,
                                                          Editora Artes Médicas Sul, 1996, p. 17.


16
Televisão e publicidade

cia, o teles-pectador é enredado                     isso, a marca acabou conquistando 8% do mer-
involuntariamente ao mundo do con-                   cado paulista.27
sumo e dos comerciais. Além disso,                         Nesse contexto mercadológico, alteram-se
muitos produtos, serviços ou idéias                  os comportamentos dos telespectadores. “O justo
aparecem na televisão por meio do                    e o injusto, o bom e o mau começaram a perder
merchandising. Há alguns anos, por                   sua finalidade, começam a perder sua utilidade
exemplo, quando a TV Globo exibia a                  diante do cálculo do maior interesse publicitário,
novela “Roque Santeiro”, as motoci-                  do lucro a qualquer custo”, analisou Lia Faria.28
cletas Agrale apa-reciam diariamente                 Dissipam-se, portanto, os critérios de julgamento
no meio e no fim do programa. Com                    do que é certo e do que é errado num contexto de
                                                     crise moral e ética.




                                                                                                               Foto de Glória Flügel




         Apresentadoras de programas infantis na televisão também fazem publicidade de produtos dirigidos
         a esse público. Persuasão garantida.




                                                     27. Gino Giacomini Filho. Consumidor versus Propaganda, São Paulo,
                                                     Summus, 1991, p. 80.
                                                     28. Lia Faria, “Desafios da Modernidade – Imaginário Social e Educação”
                                                     in Figueiredo (org.). Mídia & Educação, Rio de Janeiro, Gryphus, 1999, p.
                                                     112.


                                                                                                                                       17
Publicidade e consumo




     As crianças
 e a publicidade
     A   s crianças e os jovens são geralmente muito
         vulneráveis à publicidade, porque não têm
     uma mentalidade crítica nem a capacidade de ler
     a verdadeira mensagem que uma determinada
     publicidade está transmitindo.
           Uma pesquisa feita nos Estados Unidos re-
     velou que as crianças ficam expostas anualmente
     a cerca de 30 mil mensagens publicitárias veicu-
     ladas pelos meios de comunicação.29 Até o materi-    A campanha dos bichinhos de um fornecedor de pro-
                                                          dutos alimentícios foi divulgada em todo o país, em
     al didático das crianças americanas de escolas       diversas mídias. Sua repercussão foi tamanha que, em
     públicas em áreas pobres vem com publicidade         sua segunda fase, quando as embalagens dos produ-
                                                          tos eram trocadas por bichinhos de pelúcia, os brinque-
     de empresas que induzem ao consumo!                  dos esgotaram antes do final da promoção e uma nova
                                                          remessa teve de ser colocada à disposição do público
           No Brasil, as crianças de até 14 anos repre-   consumidor.
     sentam quase 40% da população brasileira. Por
                                                          Mattel adquiriu um estrondoso per-
     isso, muitas empresas aprimoram suas estraté-
                                                          centual de 95% de penetração com a
     gias para a venda de produtos infantis. Só a
                                                          boneca Barbie entre meninas de 3 a
     Editora Abril previu, em 1997, uma tiragem de 100
                                                          11 anos de idade nos Estados
     mi-lhões de exemplares de suas publicações
                                                          Unidos”.32
     infanto-juvenis.30 Campanhas que estimulam as
                                                                O Código Internacional de Prá-
     crianças ao consumo exagerado de produtos
                                                          tica Publicitária da Câmara Inter-
     estão diariamente na televisão. Só para ilustrar,
                                                          nacional do Comércio estabeleceu
     podemos lem-brar as campanhas dos bichinhos
                                                          que “os anúncios em nenhum caso
     Parmalat e das tampinhas de Coca-Cola, tro-
                                                          devem explorar a credulidade natural
     cadas por engra-dados contendo seis garrafinhas
                                                          ou a falta de experiência da crian-ça,
     do refrigerante.
                                                          nem podem prejudicar o seu senso
           Um especialista em marketing para crianças
     afirmou: “Mesmo crianças de 2 anos de idade
     estão interessadas na marca de suas roupas, e        2 . Consumidor S.A., Sªo Paulo, Idec, nœmero 32, julho
                                                           9
     aos 6 anos já são consumidores formados”.31 O        de 1998, p. 26.
                                                          3 . Gino Giacomini Filho. Consumidor versus Propa-
                                                           0
     mundo dos brinquedos é revelador da globaliza-       ganda, Sªo Paulo, Summus, 1997, p. 54.
                                                          3 . Durning, How Much is Enough? The Consumer
                                                           1
     ção da economia e da banalização da cultura. Pa-     Society and the Future of the Earth (O quanto Ø sufi-
     dronizados, brinquedos como Barbie, Batman,          ciente? A sociedade de consumo e o futuro da Te r )
                                                                                                            ra.
                                                          Tradu ªo SØrgio Lu s da Rocha, 1992, p.130-131.
     bonecos do Tarzan, naves espaciais são cobiça-       3 . Durning, How Much is Enough? The Consumer
                                                           2
                                                          Society and the Future of the Earth (O quanto Ø sufi-
     dos pelas crianças do mundo todo. O vice-presi-      ciente? A sociedade de consumo e o futuro da Te r )
                                                                                                            ra.
     dente da Mattel, Maryl Friedmam, declara: “A         Tradu ªo SØrgio Lu s da Rocha, 1992, p.121.



18
As crianças e a publicidade


   PARA SABER MAIS                               estrangeiros.
                                                    Esta proibição reflete o amplo consenso
   Na Suécia não há publicidade na               público de que as crianças necessitam de
                                                 proteção especial, na medida em que são
   TV para as crianças33
                                                 mais vulneráveis à publicidade do que os
   “Durante mais de três décadas, a              adultos. Uma forte defesa feita pelas
Suécia teve apenas dois canais de tele-          ONGs influiu fortemente na decisão toma-
visão esta-tais financiados por meio de          da pelo Parlamento. O Conselho Nacional
taxas cobra-das dos espectadores. Não            Sueco de Políticas de Consumo apresen-
era permitida nenhuma programação com-           tou um relatório baseado em numerosos
ercial. Em meados dos anos 80, mais e            estudos internacionais sobre as crianças e
mais famílias na Suécia passaram a rece-         a publicidade na televisão. O relatório
ber canais de satélite transmitidos do           conclui que é apenas por volta dos 12
exterior e que in-cluíam publicidade. Isto       anos que a maior parte das crianças
alterou o panorama dos meios de comuni-          desenvolve um entendimento total dos
cação e resultou em novas regulamen-             objetivos da publicidade, o que é um req-
tações de transmissão, que legalizaram a         uisito prévio para desenvolverem uma ati-
publicidade na televisão e rádio, em 1991.       tude crítica em relação a ela.
Contudo, uma restrição permaneceu                   Austrália, Áustria e Reino Unido, entre
intocável – os anúncios destinados às cri-       outros países, também restringem a publi-
anças. A proibição da publicidade destina-       cidade comercial destinada às crianças,
da às crianças está estabelecida na lei de       quer pela regulamentação do tempo permi-
radiodifusão. Conseqüente-mente, não há          tido à publicidade comercial, quer pela
anúncios de brinquedos, cereais, lanches         proibição dos anúncios durante os progra-
ou doces. A proibição aplica-se a todos os       mas infantis. E a Noruega adotou uma
canais terrestres, mas não cobre os canais       proi-bição idêntica à da Suécia.
transmitidos    a   partir   dos    países            Fonte: Bjurström 1994; Consumers International 1996.




                                           de lealdade, e não devem influenciá-la com afir-
                                           mações ou imagens que possam resultar em pre-
        VOCÊ SABIA?           A fábrica    juízo moral, mental ou físico”.35
                              de   brin-         Apesar disso, as crianças e os jovens continu-
      quedos Estrela, com 55% do mer-      am sendo vítimas de insistentes bombardeios
     cado, está entre os 20 maiores
                                           publici-tários no Brasil. Segundo Sérgio
     anunciantes do país e, em 1985,
                                           Capparelli, o público infanto-juvenil entre 1 e 14
     investiu 95% da verba publicitária
     em TV. A LPC, com cerca de 35%
                                           anos é responsável por boa parte do consumo de
     do mercado de iogurtes (900 mil-
     hões de potes anuais), também
     entre os 20 maiores anunciantes, no   33. Relatório do Desenvolvimento Humano 1998, publicado para o
     mesmo ano, investiu 99% das ver-      Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Lisboa,
                                           Trinova Editora, 1998, p. 65.
     bas de propaganda em TV.34            34. Gino Giacomini Filho. Consumidor versus Propaganda, São Paulo,
                                           Summus, 1991, p. 59.
                                           35. Consumidor S.A., São Paulo, Idec, no 32, julho de 1998, p. 27.




                                                                                                                19
Publicidade e consumo


     iogurtes, refrigerantes, achocolatados, chicletes
     de bola, roupas e brinquedos.36 Além de criar
     hábitos ina-dequados, a publicidade pode causar
     problemas de saúde nas crianças, por veicular                                              VOCÊ SABIA?        Um es-
     produtos com excesso de gordura, sal e açú-                                                                   tudo da
     cares. A obesidade é uma doença de âmbito                                               Associação de Consumidores
                                                                                             Australianos revelou que 80%
     mundial, que se caracteriza por excesso de gor-                                         dos anúncios de alimentos
     dura e peso 20% acima do ideal para a altura, o                                         transmitidos durante os pro-
     sexo e a idade, podendo acarretar outros proble-                                        gramas infantis de televisão
                                                                                             são de refeições excessiva-
     mas de saúde, como pressão alta, doenças                                                mente embaladas com alto
                                                                                             teor de gordura e grande
                                                                                             quantidade de sal.37




            Personagens de desenhos infantis assinam os mais variados
            tipos de produtos: cards, revistas, filmes, material escolar,
            etc.




                                                                            36. Eliana Nagamini, “O discurso da publicidade no
                                                                            contexto escolar: a construção dos pequenos enredos”,
                                                                            in Citelli, Adilson (coord.). Outras linguagens da escola:
                                                                            publicidade, cinema e TV, rádio, jogos, informática, São
                                                                            Paulo, Cortez, 2000, p. 65.
                                                                            37. A. T. Durning, How Much is Enough? The Consumer
                                                                            Society and the Future of the Earth (O quanto é sufi-
                                                                            ciente? A sociedade de consumo e o futuro da Terra).
                                                                            Tradução Sérgio Luís da Rocha, 1992, p.120.


20
As crianças e a publicidade


cardíacas, problemas nos dentes, etc.
      Ao assistir a programas infantis,
as crianças engolem muitos anúncios
dos grandes anunciantes: Coca-Cola,
Yakult, Glub-Glub, iogurte da Paulista,
gelatina Flokin, cereais matinais da
Kellog’s, Snowflakes da Nestlé, Nissin
Lamen, achocolatado Nescau e Galak,
entre outros.38 Só para se ter uma
idéia, os gastos feitos em publicidade
de produtos alimentícios voltados para
o público infantil somaram o equiva-
lente a US$ 185,3 milhões, em 1996.39
                                               Folheto distribuído nos pontos-de-venda
                                               quando do lançamento do leite condensa-
                                               do em embalagem reduzida.




           PARA SABER MAIS Uma pesquisa elabora-            como telespectador.
                                 da pela Consumers          Um outro fator que explica o aumento de horas
          International, aplicada em 13 países ricos,       que as crianças dedicam à televisão é a falta de
          comprovou que as crianças são menos capa-         espaços públicos, de áreas verdes nas grandes
      zes do que os adultos de compreender as ver-          cidades. Entre os múltiplos efeitos de uma longa
      dadeiras intenções da publicidade ou de captar        exposição à televisão, Ferrés menciona:
      suas estratégias de persuasão.40                         1. A linguagem – o telespectador que
      A situação torna-se mais grave em nosso país,            assiste a muita televisão bloqueia o exer-
      porque as famosas apresentadoras dos progra-             cício de expressão verbal.
      mas infantis de TV, como Xuxa, Angélica, Eliana,         2. A brincadeira e o jogo – a criança que
      Mara Maravilha, recomendam esses produtos às             assiste a muita televisão não interage com
      crianças, influenciando atitudes e gostos, criando       outras pessoas, não pesquisa e não
      falsas necessidades e estimulando o consumis-            descobre. A alienação dos problemas
      mo.                                                      locais e da comunidade as leva natural-
      Pesquisas recentes demonstram que as crianças            mente a uma identificação com valores e
      brasileiras estão muito expostas à televisão. Em         fantasias inatingíveis.
      média, cada criança fica cerca de seis horas por         3. A razão – o excesso de televisão blo-
      dia diante da TV, mais do que o tempo dedicado           queia a capacidade reflexiva.
      à escola, à família, aos amigos ou à leitura. Isso       4. Insensibilização – o excesso de infor-
      significa que, ao longo de 50 anos, esta pessoa          mação pode gerar a insensibilização do
      vai ter passado um total de 16 anos da sua vida          telespectador.




                                                   38. Consumidor S.A., São Paulo, Idec, no 19, maio de 1997, p. 18.
                                                   39. Consumidor S.A., São Paulo, Idec, no 19, maio de 1997, p. 18.
                                                   40. Consumidor S.A., São Paulo, Idec, no 19, maio de 1997, p. 19.


                                                                                                                       21
Publicidade e consumo




     Os jovens




                                                                                                               Foto de Gl ria Fl gel
     e a publicidade
O        s jovens ocupam um espaço importante nas
         empresas       de     publicidade,
     constituem um grupo cada dia maior de consu-
                                                  porque

     midores potenciais. A publicidade dirigida aos
     jovens tem a intenção de criar uma identidade e
     um estilo de vida. Os jovens, por sua vez, sentem-
     se mais seguros quando fazem parte de um              Anúncio na televisão, em 1997. O avante Ronaldo,
                                                           com as cores que lembram as da Seleção Brasileira
     grupo. Assim, a publicidade busca manipular e         de Futebol, faz manobras com tampinha de cerveja.
     ditar os hábitos de comportamento da juventude
     brasileira.
           As marcas são um bom exemplo disso.             durante o ano.41 Mas essas cenas
     Grandes marcas colocaram-se em lugar de desta-        raramente ocorrem entre cônjuges,
     que no mercado, como resultado de anos e anos         quase nunca aludem à contra-
     de publicidade insistente. De tal forma que a com-    cepção e, com grande freqüência,
     pra pela marca, ou melhor, pela griffe, virou moda,   contêm elementos de coerção,
     embora nem sempre signifique produto de quali-        degradação       ou      exploração.
     dade por preço justo. Não raro, acontece exata-       Problemas similares existem com os
     mente o contrário, como revelou o teste a que o       retratos estereotipados ou ampla-
     Instituto Brasileiro de Defesa do Consu-midor         mente negativos de mulheres e das
     (Idec) submeteu 13 marcas de camisetas: as            minorias, gays e lésbicas.42 Além de
     mais caras, portanto das marcas mais famosas e        atividade sexual pre-coce, tais abor-
     da moda, foram as que mais encolheram, defor-         dagens sexuais podem levar a
     maram ou desbotaram, depois de passar por             deturpações e distorções das
     várias etapas de lavagem. A mais cara de todas        relações humanas.
     simplesmente encolheu. As piores custavam mais              Para piorar, até a legislação
     de R$ 20,00, enquanto as que se deram melhor          acaba por facilitar hábitos de con-
     nos testes não passavam de R$ 8,00.                   sumo que levam a situações de risco
           Tudo vale para atrair o jovem para um           à saúde dos jovens. A propaganda
     determinado produto ou marca. A mensagem de           de cervejas e da maioria dos vinhos
     ju-ventude, atração, sexo e liberdade é repetida à    é li-berada, no Brasil, para veicular
     exaustão por todos os meios publicitários possí-
     veis. Um estudo recente, realizado pela Univer-
     sidade Federal do Rio Grande do Sul, demon-           41. Vários autores, A Televisão e a Violência,
                                                           www.ufrgs.br/psiq/vio-form.html
     strou que o adolescente está exposto a aproxi-        42. Vários autores, A Televisão e a Violência,
     madamente 14 mil referências ligadas a sexo           www.ufrgs.br/psiq/vio-form.html



22
Os jovens e a publicidade
                                             43
livremente em qualquer horário, pois, de      O problema é que, segundo Beatriz Carlini Cotrim,
acordo com a Lei 9294, de 1996, que          pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações
trata das restrições ao uso e à propa-       sobre Drogas Psicotró-picas, a cerveja é a bebida que
ganda de bebidas alcoólicas, cigarros e      serve para os adolescentes44 como iniciação ao vício
medicamentos, as bebidas de teor             do alcoolismo.
alcoólico inferior a 13 graus não são con-
sideradas como bebidas alcoólicas.                                                  Existem cerca de 270
                                                                 VOCÊ SABIA?
                                                                                    milhões de jovens
                                                              entre os 15 e os 18 anos, em 40 países, que
                                                              consomem os mesmos vídeos e músicas e
                                                              representam um mercado gigantesco para
      Violência na TV
                                                              os designers e fabricantes de tênis, camise-
                                                              tas e jeans.
        Um outro aspecto que não po-                                             Fonte: Relatório do Desenvolvimento
                                                                                            Humano – 1998 – PNUD.
  demos ignorar é o da violência vei-
  culada pelos programas de televisão
  no Brasil. Uma pesquisa feita em           lam a violência pode:
  1998 pela Organização das Nações              1. Levá-las a imitar comportamentos violen-
  Unidas (ONU) detectou na televisão            tos e agressivos;
  brasileira 1.432 crimes em uma                2. Levá-las a imitar os heróis violentos;
  sema-na de desenhos animados,                 3. Sugerir que a violência é premiada em
  isto é, 20 crimes por hora de desenho         nossa sociedade;
  animado.45                                    4. Sugerir que a violência é um recurso justi-
                                                ficado;
  Número de crimes exibidos                     5. Dessensibilizar as crianças;
  por emissora:                                 6. Aumentar o medo do mundo;
       SBT: 753                                 7. Aumentar a vontade de violência;
       Globo: 259                               8. Aumentar a atração pela violência realista;
       Record: 164                              9. Promover a criação e a sustentação de
       Manchete: 160                            uma cultura de desrespeito.47
       Cultura: 65
                                                                       VOCÊ SABIA?
       Bandeirantes: 31
       De acordo com a pesquisa,                                    "O Exterminador", estrelado
  Bandeirantes e TV Record lideram                                  por Arnold Schwarzenegger,
  os homicídios em desenhos anima-                                  tornou-se um ídolo conhecido
  dos; a TV Globo vence em lesões                                   por 88% das crianças em todo
                                                                    o mundo.48
  corporais.46 Quais são as conse-
  qüências da violência presente na
  mídia? Confor-me pesquisa feita
  pela Universidade Federal do Rio            43. “Cerveja não é álcool”, in Consumidor S.A., no11, agosto/96, p. 8.
                                              44. Consumidor S.A., no11, agosto/96, p. 8.
  Grande do Sul, a exposição das cri-         45. http://tvbem.org.br/onu.html
  anças a programas de TV que veicu-          46. http://tvbem.org.br/onu.html
                                              47. Vários autores. A Televisão e a violência: impacto sobre a criança e o
                                              adolescente, www.ufrgs.br./psiq/vio-form.html
                                              48. http://tvbem.org.br/onu.html


                                                                                                                           23
Publicidade e consumo




     Os adultos




                                                                                                                      Foto Glória Flügel
     e a publicidade
A        ssim como as crianças e os adolescentes, os
         adultos também são bombardeados por inten-
     sa publicidade. Classificados conforme o sexo, a
     faixa etária e, sobretudo, a faixa de renda, home-
     ns e mulheres são alvo de anúncios que procu-
     ram explorar seus anseios e frustrações, induzin-
     do esse público a suprir, por meio do consumo,
     suas necessidades de realização pessoal.
           É o que ocorre, por exemplo, no caso da
                                                          Trabalho fotográfico sobre o uso do corpo feminino na
     mu-lher, alvo da maioria das mensagens public-       publicidade.
     itárias, já que normalmente é ela quem faz as
     compras para o marido, os filhos e a casa, além      As-sim, enquanto a maioria das mu-
     de suas compras pessoais.                            lheres fizer de si mesma a idéia de
           Vários tipos femininos foram criados pelos     dona de casa (embora seja indepen-
     comerciais no intuito de vender produtos. Os pro-    dente e tenha um emprego), as men-
     dutos higiênicos, cosméticos, perfumaria, produ-     sagens que se dirigem a elas conti-
     tos para crianças e alimentícios exploram o uni-     nuarão a tratá-las como tal, apesar
     verso feminino, criando estereótipos e clichês de    de as estatísticas comprovarem que
     mulher passiva, submissa ou como um mero             mais de 60% das mulheres casadas
     objeto erótico e sexual. Na venda de produtos de     no mundo recebem alguma forma de
     limpeza, por exemplo, a publicidade nos mostra       remuneração”.50 O fundamental para
     uma mulher ativa na proteção do lar contra os        a publicidade é parecer, e não ser,
     germes e as doenças. O mundo feminino, entre-        cultivando necessidades crescentes.
     tanto, tal como é retratado, raramente ultrapassa          Na verdade, a publicidade uti-
     os limites da cozinha, do banheiro e da área de      liza imagens de insegurança, infelici-
     serviço.49 Já o apelo para o lado sexual dos         dade e insatisfação do mundo femi-
     meios publicitários retrata uma mulher perfeita,     nino para vender produtos e gerar
     jovem, magra, linda, atraente e, muitas vezes,       necessidades. “Assim, para aquelas
     objeto, independente das funções que ela exerça      que nasceram com pestanas peque-
     (mãe, profissional, dona de casa e esposa).          nas e finas a mensagem vendida
           Para Nelly de Carvalho, “a publicidade, por    ofe-rece esperança. Para aquelas
     princípio, pertence à indústria dos sonhos – mais
     do que o cinema e a televisão –, por isso, nunca
                                                          49. Citado por Gino Giacomini Filho. Consumidor ver-
     apresentará a sociedade tal como ela é. Baseia-      sus propaganda, São Paulo, Summus, 1991, p. 53.
                                                          50. Nelly de Carvalho. Publicidade: a linguagem da
     se, contudo, no que vai no íntimo das pessoas.       sedução. 3ª edição, São Paulo, Editora Ática, 2000, p.24.


24
Os adultos e a publicidade

        cujo cabelo é muito liso ou muito ondulado, ou cresce nos lugares errados, para aquelas cuja
        pele é muito escura ou muito clara, para aquelas cujo peso do corpo está distribuído de
        qualquer modo, menos do exigido pela moda do momento, a publicidade nos assegura que
        a salvação sintética está próxima às mãos.”51
Foto de Shirley Souza




                        Neste busdoor (anúncio em ônibus), a “mulher dona de casa” aparece como person-
                        agem, já que o produto anunciado remete às funções do lar e à família.




                                      A publicidade não deixa muitas opções às mulheres: ter um corpo perfeito e sensual é o ideal de nosso tempo.



             A propaganda dirigida aos ho-                                     culino: o cowboy acendendo um cigarro envolto
        mens veicula temas do sucesso e do                                     no maravilhoso cenário americano do Gran
        êxito de ser atraente e viril. O                                       Canyon. Imune ao câncer e ao enfisema pul-
        homem típico da publicidade é um                                       monar, o vaqueiro herói é uma fantasia que circu-
        moço bem-sucedido, viril, geralmente                                   la na cabeça de milhares de fumantes e de futur-
        esportista ou executivo, sempre com                                    os fumantes. O slogan “Venha para o mundo de
        dinheiro, sedutor, que pertence à alta                                 Marlboro” atraiu mi-lhares de jovens identificados
        socieda-de e aparece em lugares
        paradisíacos. O cigarro Marlboro                                       51. A.T. Durning, How much is enough? The consumer society and the
                                                                               future of the earth (O quanto é suficiente? A sociedade de consumo e o
        explorou muito bem o símbolo mas-                                      futuro da Terra. Traduzido por Sérgio Luiz Rocha, 1992, p.120.


                                                                                                                                                        25
Publicidade e consumo


     com a liberdade, a independência e a virilidade do
     cowboy, que, na vida real, acabou morrendo de
     câncer. A marca Marlboro é a mais cara do
     mundo: vale 44,61 bi-lhões de dólares.52
           O governo brasileiro está empreendendo
     uma grande campanha publicitária antitabagista,
     inspirada no modelo americano. Proibiu anúncios
     de cigarro nos meios de comunicação e em todos
     os lugares públicos, como restaurantes, shop-
     pings, estádios, palcos, etc., visando afastar os
     fumantes do vício. O setor publicitário reagiu à
     medida do governo, porque apenas em 1999 con-
     seguiu movimentar U$ 55 milhões só com anún-
     cios de cigarros.53

                                                                               A necessidade de seguir padrões estéticos hoje se
                                                                               estende aos homens, que também buscam o modelo
                                                                               ideal e a sensualidade.




          Em diferentes paisagens e situações, o cigarro exalta uma imagem masculina viril e livre. O cenário paradisíaco combina
          com o mundo de Marlboro, onde os personagens não demonstram preocupação, a amizade está sempre presente e a
          liberdade merece destaque.



                                                                               52. Eugênio Bucci, “O mundo de Marlboro é aqui” in
                                                                               Revista Veja, 12/03/1997.
                                                                               53. Época, 12 de junho de 2000, p. 118.


26
Publicidade




                                                                                                                     Foto de Shirley Souza
externa
M   ensagens publicitárias de gran-des
    proporções,      expostas
áreas externas junto a vias e locais
                                    em

de tráfego intenso fazem parte da
paisa-gem nas cidades grandes. O
mais conhecido tipo de publicidade
externa é o outdoor, um cartaz feito
pela colagem de folhas de papel com
o anúncio comercial impresso numa
estrutura geralmente de madeira. O         O acúmulo de anúncios externos acaba por gerar poluição visual e
formato mais usual é o de aproxi-          esconder a fachada dos prédios e a paisagem.

madamente 3 metros de altura por 9
metros de comprimento. Com a              de ônibus ou mesmo a pé. Como a população
mesma finalidade, são cada vez            passa hoje mais tempo no trânsito do que há
mais comuns tipos sofisticados de         alguns anos, houve um grande investimento na
mídia externa, que utilizam luz ou        chamada mídia externa.
movimento, ou os dois juntos. É o               No entanto, analisa João Guimarães Júnior,
caso do triedro, um conjunto de           “o excesso de cartazes e outros elementos de
estruturas triangulares que, ao girar,    comu-nicação visual interfere nos padrões estéti-
vão apagando uma mensagem e               cos de uma cidade. A falta de um controle eficaz
mostrando outra, ou dos anúncios          permite que a profusão de letras e imagens acabe
em frontlight ou backlight, assim         por domi-nar a cena urbana, escondendo árvores
chamados conforme a procedência           e fa-cha-das e parcialmente o próprio céu, consti-
da luz projetada: de frente ou de trás.   tuindo um fator de estresse”55. Só no Estado de
      Qualquer que seja o tipo, “uti-     São Paulo, estima-se que existam cerca de 6 mil-
liza mensagens curtas e diretas           hões de cartazes, pôsteres, letreiros e faixas (pub-
associadas a imagens igualmente           licidade externa).56
simples e fortes para convencer as              Assim, é imprescindível reduzir a presença
pessoas a respeito de uma idéia ou        abusiva desse tipo de mídia e controlar a quali-
produto”54,       explica Nelly de        dade das imagens veiculadas. O Estatuto da Crian-
Carvalho.                                 ça e do Adolescente (artigo 78) proíbe men-
      Exposto em locais urbanos es-
                                          54. Nelly de Carvalho. Publicidade: a linguagem da sedução. 3ª edição,
tratégicos, esse tipo de publicidade      São Paulo, Editora Ática, 2000, p.16.
                                          55. João Guimarães Júnior, “Publicidade externa e tutela legal do paisa-
pode ser visto por um grande núme-        gismo urbano”, Revista de Direito Ambiental, vol. 19, p. 115.
ro de pessoas que passam de carro,        56. “Poluição visual prejudica a mensagem” in M&M Especial, São Paulo,
                                          27 de março de 2000, p. 19.


                                                                                                                                             27
Publicidade e consumo


                         sagens pornográficas e obscenas em publicidade       decisivos para aferir sua abusividade (pa
                         externa de grande visibilidade. Segundo a opinião    usar a expressão do Código de Defesa d
                         de João Lopes Guimarães, é preciso restabelecer      Consumidor). Da mesma forma, há que s
                         “o direito do cidadão à fruição da paisagem          considerar a existência de monumentos, edi
                         urbana, sem qualquer interferência ou men-           cios de valor histórico ou arquitetônico e área
                         sagem, que não as relativas à orientação e ao        verdes cuja visibilidade possa ser afetada p
                         bem comum. É impie-doso submeter as pessoas          anúncios, com comprometimento paisagístic
                         ao estímulo constante de consumo ou de ações a       do cenário como um todo”, explic
                         que elas, na maioria dos casos, não têm condição     Guimarães.58 No caso da cidade de Curitib
                         de corresponder”.57                                  há um controle muito rígido com relação
                               Tudo isso, entretanto, depende de um con-      preservação da cidade, encarregando-se
                         trole do governo. A legislação municipal dita as     própria prefeitura de retirar os cartazes apó
                         regras de instalação de anúncios. Cabe à admin-      três dias de exposição.
                         istração municipal definir as condições para a             Outras cidades brasileiras também dev
                         instalação e controlar a poluição visual. “Fatores   riam seguir esse exemplo, minimizando
                         como recuo, área de exposição, visibilidade, lumi-   poluição visual em benefício da criação d
                         nosidade e altura do anúncio certamente são          espaços de convívio, de fruição da paisage
                                                                              e de respeito aos direitos dos cidadãos.




                                                                                                       O espaço do outdoor, normal-
                                                                                                       mente, é “comprado” pelo
                                                                                                       anunciante por um prazo de
                                                                                                       15 dias. Quando a empresa
                                                                                                       que retém o direito daquele
 Foto de Shirley Souza




                                                                                                       espaço não o “vende” para a
                                                                                                       quinzena seguinte, o outdoor
                                                                                                       antigo permanece afixado so-
                                                                                                       frendo a ação do tempo. Sua
                                                                                                       deterioração colabora para
                                                                                                       po-luir ainda mais a paisagem
                                                                                                       urbana.




                                                                              57. João Guimarães Júnior, “Publicidade externa e
                                                                              tutela legal do paisagismo urbano”, Revista de Direito
                                                                              Ambiental, vol. 19, p. 156.
                                                                              58. João Guimarães Júnior. “Publicidade externa e
                                                                              tutela legal do paisagismo urbano”, Revista de Direito
                                                                              Ambiental, vol. 19, p. 125.



28
Publicidade enganosa e abusiva




Publicidade                                    Nos Estados Unidos, foi veiculada uma pu-
                                         blicidade em que um carro Volvo suportava ileso
                                         o impacto de um caminhão com pneus gigantes-
enganosa e                               cos, que já tinha arrasado outros carros. Mais tar-
                                         de, descobriu-se que o teto do Volvo tinha sido

abusiva                                  reforçado, enquanto a estrutura dos outros carros
                    59

                                         tinha sido enfraquecida. Trata-se de uma publici-
                                         dade enganosa que parou de ser veiculada e
                                         tanto o anunciante como a agência foram multa-


A   traentes embalagens da linha diet    dos.62
    apregoando a perda de vá-rios              A publicidade enganosa por omissão ocorre
quilos, fórmulas que prometem o          quando o fornecedor deixa de informar dados
milagroso fim da calvice, o enri-quec-   essenciais do produto ou serviço, levando o con-
imento imediato, brindes falsos, con-    sumidor a cometer um erro (art. 37, § 3o do CDC).
cursos impossíveis ou frases que         É o caso de um folheto publicitário de uma loja
marcaram gerações, como “Um da-          que anuncia um liquidificador gratuitamente medi-
noninho vale por um bifinho” (1993),     ante a apresentação do folheto. Quando o con-
confundem os consumidores e os           sumidor chega lá, o estabelecimento esclarece
levam a comprar produtos que não         que somente os consumidores que comprarem
correspondem às promessas dos            um televisor terão direito à promoção anunciada.63
anúncios publicitários. Uma pesqui-            Em caso de publicidade enganosa, o consu-
sa com moradores paulistanos mos-        midor tem o direito de exigir:
trou que 82% dos entrevistados já           • o cumprimento forçado da obrigação, de
foram enganados por anúncio pu-             acordo com o conteúdo da publicidade, de-
blicitário.60                               vendo para isso recorrer necessariamente
       A publicidade enganosa con-          ao Poder Judiciário;
tém informação falsa quanto à carac-        • outro produto ou prestação de serviço
terística, quantidade, origem, preço        equivalente; ou
ou propriedade, capaz de convencer          • a rescisão do contrato e a devolução do
o consumidor a adquirir um produto          valor pago, acrescido da devida correção
ou serviço diferente do que pretendia       monetária.64 A pena para o infrator é de três
na hora da compra (art. 37 do               meses a um ano de detenção e multa.
Código de Defesa do Consumidor).61
Gino Giacomini Filho observa que a       59. Ver o volume desta coleção: Direitos e responsabilidades do consu-
                                         midor, de João Lopes.
publicidade enganosa pode causar         60. Gino Giacomini Filho, Consumidor versus propaganda, São Paulo,
                                         Summus, 1991, p. 109.
tanto o dano individual, se conside-     61. Direitos do consumidor de A a Z, 2ª edição revisada e atualizada, São
rarmos a frustração, ansiedade ou        Paulo, Idec, 1997, p. 63.
                                         62. Kenneth Roman e Jane Maas. Como fazer sua propaganda funcionar,
lesão do consumidor, quanto o dano       São Paulo, Nobel, 1994, p.160.
                                         63. Direitos do consumidor de A a Z, 2ª edição revisada e atualizada, São
social, pelo uso massivo de um           Paulo, Idec, 1997, pp. 63-64.
anúncio, voltado ao público.             64. Direitos do consumidor de A a Z, 2ª edição revisada e atualizada, São
                                         Paulo, Idec, 1997, p. 63.



                                                                                                                     29
Publicidade e consumo




          Publicidade abusiva é aquela cuja mensagem “incite à violência, explore o medo ou
     a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desre-
     speite os valores ambientais ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de
     forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança” (art. 37, § 2o do CDC).65
          A publicidade também será considerada abusiva quando gerar discriminação. No
     anúncio de marca de roupa em que apareciam duas crianças, uma loira, com a aparência
     de “anjo”, e outra negra, com aparência de “diabo”, a publicidade é abusiva porque revela
     o preconceito racial na imagem da criança negra associada ao maléfico, além de explorar
     a superstição. 66




                                                                            Em março de 1999, o Idec lançou a campa-
                                                                            nha contra a propaganda enganosa, criada
                                                                            pelo publicitário Edvan Antunes. O anúncio
                                                                            era uma fotomontagem que mostra o líder
                                                                            nazista Adolf Hitler, que mergulhou o mundo
                                                                            na mais violenta guerra mundial, de 1939 a
                                                                            1945, pousando as mãos no peito no sinal
                                                                            que lembra a pomba da paz, e que foi uti-
                                                                            lizado em uma campanha nacional pela paz
                                                                            e o desarmamento.

                                                                                            Fonte: Revista Consumidor S.A.,
                                                                                                             Idec, no4, p.28.




                                             65. Direitos do consumidor de A a Z, 2ª edição revisada e atualizada, São
                                             Paulo, Idec, 1997, p. 62.
                                             66. www.infojus.com.br/area7/nelson4.htm




30
O papel
da escola
A    escola deve atuar no sentido de
    transformar os meios de comuni-
    cação em aliados do processo
                                                  O projeto da rádio funciona desde 1998,
                                          com muito sucesso. Para o professor de
                                          Educação Física Acácio Arouche de Aquino, o
educativo dos alunos. Garantindo o        resultado é muito positivo. Segundo ele, os
acesso aos meios de comunicação,          alunos fizeram muitos progressos perceptíveis na
a escola poderá desenvolver trabal-       redação das pautas, no relacionamento dentro do
hos que irão refletir sobre as técni-     grupo e na participação no cotidiano da escola.
cas e as estratégias da mídia. Se for            Outra experiência muito interessante ocorre
bem-sucedida, despertará a con-           no sul do Pará, às margens do rio Amazonas. As
sciência crítica dos alunos-especta-      crianças de 1ª a 4ª séries começam o dia ouvindo
dores com o intuito de torná-los          rádio, sintonizados na Rádio Rural de Santarém.
agentes da comunicação. “Educar,          É um programa de educação com entrevistas,
com e por meio do rádio, da TV, do        informações, radionovelas, matérias sobre saúde,
jornal, do computador e de todo e         higiene, vida comunitária, além de programas
qualquer re-curso ou veículo de           criativos sobre matemática, português, histórias
comunicação passa a ser, hoje,            divertidas e músicas. O programa atinge mais de
questão de exercício e de prática de      30 mil alunos e 1.300 professores. Este projeto é
direitos de cidadania”,67 afirma Ismar    desenvolvido com as secretarias municipais de
de Oliveira Soares.                       Educação de Santarém e Belterra, com apoio do
       Como exemplo, vale a pena          Unicef.68 Essas experiências demonstram que é
mencionar a experiência de criação        possível transformar o rádio em aliado do proces-
de uma Rádio Comunitária feita            so educativo.
pelos       alunos      da      EMPG
Desembarga-dor Teodomiro Dias,
situada na zona Oeste de São Paulo.
Quinze alunos de 5ª a 8ª séries dos
períodos matutino, vespertino e
noturno e cinco professores e fun-
cionários reuniram-se para aprender
e discutir as características da rádio,
bem como a sua produção. Uma
enquete realizada com os alunos
revelou que os temas preferidos dos
alunos da escola eram: músicas,           67. Ismar de Oliveira Soares, “A televisão e as prioridades da educação” in
                                          Comunicação & Educação, São Paulo (6): 22 a 28 mai./ago. 1996, p.25.
esportes, lazer e saúde.                  68. “Unicef em ação”, Brasília, Unicef.


                                                                                                                        31
Publicidade e consumo




                                                       Professor(a):                      consum      o repleta d
                                                                                                                   e men-
                                                                       uma so  ciedade de
                                                        Vivemos e
                                                                  m                                                   frente
                                                                                                      ublicitários,
                                                                                bolos    e signos p
                                                                     digos, sím                                 tes e deso
                                                                                                                            -
                                                        sagens, có                                s, impoten
                                                                                 s, muitas veze
                                                                      os sentimo                                           ra
                                                        aos quais n                                          os começa
                                                                                               ção, devem
                                                                                  er tal situa
                                                                      Para revert                                       , bem
                                                         rientados.                                     udiovisuais
                                                                                   nas lin   guagens a
                                                                       os alunos                                   idade e a
                                                          alfabetizar                               te a public
                                                                                   er"  criticamen
                                                                       ná-los a "l                               bitos cotid
                                                                                                                             ia-
                                                           como ensi                              nossos há
                                                                                     efeitos em
                                                                        re os seus                                         e na
                                                           refletir sob                                       s e jovens
                                                                                      rmação    das criança
                                                                         sumo, na fo
                                                            nos de con
                                                                                      de.
                                                                          nossa cida
                                                             estética da



                         O QUE FAZER

                     Promover o processo de educação sobre
                  a mídia para criar usuários com capaci-
                  dade crítica em relação aos meios de
                  comunicação.
                  • Reduzir os efeitos da publicidade nos
                  hábitos de consumo.
                  • Denunciar publicidade enganosa ou
                  abusiva.
                  • Exigir que a publicidade seja sempre clara
                  e fácil de entender.
                  • Exigir o direito à reparação do dano.
                  • Exigir que tudo o que for anunciado seja
                  cumprido.
                    • Para reclamar de um anúncio, escreva
                  uma carta para a empresa que divulgou o
                  anúncio, para o Conselho Nacional de
                  Regulamentação Publicitária (Conar) ou
                  para as organizações dos consumidores,
                  solicitando que o anúncio seja retirado, jus-
                  tificando as suas razões. Em última instân-
                  cia, o consumidor pode recorrer ao
                  Ministério Público de sua cidade.69




                                                            69. Para mais detalhes, ver o volume desta coleção Direitos e respons-
                                                            abili-dades do consumidor, de João Lopes.


32
Obrigações para                       inexperiência e o sentimento de leal-
    com os jovens                        dade dos menores;
     e as crianças                            • não se ofenderá moralmente
                                         o menor;
      O Código de Defesa do Con-              • não se admitirá que o anúncio
sumidor trata da questão da publici-     torne implícita uma inferioridade do
dade em seis de seus artigos, inclu-     menor, caso este não consuma o
sive no artigo 6o, em que estabelece a   produto oferecido;
“proteção contra a publicidade enga-          • não se permitirá que in-fluên-
nosa e abusiva” como um dos direi-       cia do menor, estimulada pelo anún-
tos básicos do consumidor. Como já       cio, leve-o a constranger seus
vimos, a proteção às crianças mere-      responsáveis ou importunar ter-
ceu atenção especial dos legislado-      ceiros ou o arraste a uma posição
res. E também do Conselho Nacional       socialmente condenável;
de Regulamentação Publicitária                • o uso de menores em anún-
(Conar), ao estabelecer, no art. 37 do   cios obedecerá sempre a cuidados
seu Código Brasileiro de Auto-Regu-      especiais que evitem distorções psi-
lamentação Publicitária, que:            cológicas nos modelos e impeçam a
      “No anúncio dirigido à crian-ça    promoção de comportamentos so-
e ao jovem:                              cialmente condenáveis;
      • dar-se-á sempre atenção               • qualquer situação publici-tária
especial à características pedagógi-     que envolva a presença de me-
cas da audiência-alvo;                   nores deve ter a segurança como
      • respeitar-se-á especialmente     primeira preocupação e as boas ma-
a ingenuidade e a credulidade, a         neiras como segunda preocupação.”




                                                                                  33
Publicidade e consumo




     Glossário
     • Fonograma: peça publicitária sonora, para veiculação em rá-
      dio, televisão ou cinema.

     • Jingle: mensagem publicitária em forma de música, veiculada
       principalmente por emissoras de rádio.

     • Mala direta: mensagem publicitária ou de marketing direto
       enviada pelo correio ou portadores.

     • Marketing: conjunto de atividades empresariais destinadas à
       descoberta, conquista, manutenção e expansão de mercado
       para as empresas e suas marcas.

     • Material promocional: todo tipo de peça de comunicação grá-
       fica (folheto, volante, catálogo, pôster, etc.) utilizado como
       apoio em campanhas de propaganda.

     • Merchandising: recurso utilizado para reforçar mensagens
       publicitárias feitas anteriormente. É o caso de um produto,
       marca, empresa ou serviço aparece, que é citado, consumido
       ou utilizado em um filme, novela, programa de televisão, de
       rádio, revista, jornal, livro ou qualquer outro tipo de comuni-
       cação, mediante pagamento. Por exemplo: um ator de novela
       toma um refrigerante em uma cena e aparece a marca.

     • Mídia: forma adaptada de media, que significa, em latim e em
       inglês, meio de comunicação. Designa atualmente os veículos
       de comunicação, no seu conjunto ou em particular: a impren-
       sa (jornais e revistas), o rádio, a televisão, o computador, o
       telefone.

     • Outdoors: cartazes coloridos que veiculam anúncios publici-
       tários nas ruas.




34
Glossário




• Propaganda institucional: difusão de mensagem política, reli-
  giosa, institucional e comercial.

• Publicidade: difusão de mensagens exclusivamente comerciais.

• Slogans: palavras ou frases usadas com freqüência nas pro-
  pagandas.

• Spot: mensagem publicitária de rádio, feita por uma locução
  simples ou com duas ou mais vozes, com uma música de
  fundo.

• Timing: ritmo, tempo apropriado.

• Trilha sonora: música de fundo em comercial de TV ou rádio.




                                                                   35
Publicidade e consumo




     Bibliografia                                                    livros, revistas
                                                                     e publicações
     Almanaque Abril 2000, São Paulo, Ed. Abril, 2000.                   Este artigo traz uma reflexão sobre o
          Esta é uma obra de consulta de dados sobre os mais             poder da televisão sobre o público
          variados assuntos com relação ao Brasil atual.                 brasileiro, enumerando alguns direitos
     BAUDRILLARD, J. O sistema dos objetos, São Paulo,                   básicos do telespectador, se o conside-
          Perspectiva, 1993.                                             rarmos um pólo atuante com relação à
          O autor dedica-se ao estudo do mundo da cultura por            programação e às emissoras.
          meio do objeto, analisando a sua dupla condição de         CARVALHO, Nelly de. Publicidade: a lin-
          instrumento e de signo e o fenômeno da multiplicação           guagem da sedução, 3a edição, São
          e consumo de objetos na sociedade contemporânea.               Paulo, Ed. Ática, 2000.
     Boletin de la red para la educación del consumidor, número 3,       A autora revela os procedimentos lin-
          Consumers International, Chile, julio 1997.                    güísticos e argumentativos presentes
          Esta publicação analisa as atividades voltadas para a          na construção da mensagem publici-
          educação do consumidor em âmbito nacional, enquan-             tária dirigida aos consumidores.
          to proposta educativa visando criar consumidores críti-    CITELLI, Adilson (coordenador). Outras lin-
          cos e com capacidade de realizar ações coletivas, e os         guagens na escola: publicidade, cine-
          projetos feitos em colaboração com a Oficina Regional          ma e TV, rádio, jogos, informática, São
          da Unesco.                                                     Paulo, Ed. Cortez, 2000.
     BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão seguido de a influên-           Reunindo especialistas de diversas
          cia do jornalismo e os jogos olímpicos, tradução de            áreas, este livro lança luz sobre a con-
          Maria Lúcia Machado, R.J., Jorge Zahar Editor, 1977.           tribuição dos diversos meios de comu-
          Bastante polêmico, este livro alerta contra a opressão         nicação no processo pedagógico da
          simbólica que exerce a televisão em nossa sociedade,           escola e discute a linguagem atual da
          des-montando os mecanismos de censura que existem              mídia.
          por trás das imagens e dos discursos exibidos na tele-     _________, “Meios de comunicação e práti-
          visão.                                                         cas escolares”, in Comunicação &
     BOSI, Alfredo (organizador). Cultura brasileira: temas e si-        Educação, São Paulo [17], 30 a 36,
          tuações, 2a edição, São Paulo, Ed. Ática, 1992.                jan./abr. 2000.
          Este livro reúne uma coletânea de ensaios de vários            Este artigo constata que os meios de
          autores que apresentam diversos enfoques da cultura            comunicação e seus produtos culturais
          brasileira: meios de comunicação de massa, cultura             têm forte presença na vida de profes-
          popular, música e arqueologia, entre outros.                   sores e alunos e destaca a necessi-
     BUCCI, Eugênio, “O mundo de Marlboro é aqui” in Revista             dade de um diálogo crítico desses
          Veja, São Paulo, Ed. Abril, 12.03.1997.                        veículos no espaço da escola.
          Com muita ironia, Eugênio Bucci analisa o imaginário       Consumidor S.A., São Paulo, Idec.
          criado pela propaganda de Malboro, a marca mais                Esta é uma revista independente que
          cara do mundo.                                                 traz muitas matérias sobre os direitos
     ___________, “Direitos do telespectador”,                           do consumidor, faz denúncias de irregu-
          http://tver.zip.net/direitos-texto.htm                         laridades na prestação de serviços e


36
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  • 2. Publicidade e consumo
  • 3. Presidente da República Fernando Henrique Cardoso Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Sérgio Amaral Presidente do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – Inmetro Armando Mariante Carvalho Diretor da Diretoria da Qualidade Industrial do Inmetro Alfredo Carlos O. Lobo
  • 4. Apresentação O módulo Publicidade e Consu- A experiência internacional mostra que os mo integra a coleção Educação para países mais competitivos são exatamente aqueles o Consumo Responsável, destinada à que possuem consumidores mais exigentes. O formação de multiplicadores dos con- presente material representa uma importante con- ceitos de educação para o consu- tribuição ao processo já desencadeado de cresci- mo, de maneira a atingir aos profes- mento do consumidor brasileiro, mantendo-o como sores e alunos da 5a à 8a séries do parte efetiva do processo de melhoria da qualidade ensino fundamental de escolas públi- das empresas brasileiras. cas e privadas. Além de conter informações relevantes, os A coleção, elaborada pelo Idec módulos sugerem uma série de atividades – Instituto Brasileiro de Defesa do capazes de estimular o debate sobre o tema do Consumidor – sob a coordenação do consumo, a partir de enfoques múltiplos e diver- Inmetro – Instituto Nacional de sificados, despertando nos jovens uma consciên- Metrologia, Normalização e Quali- cia crítica dos padrões de consumo da sociedade dade Industrial –, aborda cinco temas atual. em quatro volumes: Meio Ambiente e É uma contribuição cuidadosamente elabo- Consumo; Publicidade e Consumo; rada por especialistas e educadores para que os Direitos do Consumidor e Ética no professores possam contar com material que lhes Consumo; e Saúde e Segurança do permita abordar sem dificuldades os temas trata- Consumidor. dos. Esse material se destina a ser reproduzido O objetivo é contribuir para a para a realização de cursos de formação de mul- formação de cidadãos conscientes tiplicadores de forma a introduzir a educação para do seu papel como consumidores o consumo responsável no ensino fundamental parti-cipativos, autônomos e críticos, de todos os estados e municípios. a partir da sala de aula, como Lançamos esta coleção na esperança de propõem os Parâmetros Curriculares contribuir para formar e informar o consumidor, Nacio-nais elaborados pelo sempre na busca de um mercado mais saudável. Ministério da Educação em 1998, que introduziram o Consumo entre os temas transversais a serem abor- Armando Mariante dados nas escolas. Presidente do Inmetro
  • 5. Publicidade e Consumo – Coleção Educação para o Consumo Responsável © Copyright 2002 Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor É proibida a reprodução, por quaisquer meios, sem a expressa autorização dos detentores dos direitos autorais. Coordenação e supervisão – Inmetro Coordenação: Angela Damasceno Supervisão: Márcia Andréia S. Almeida e José Humberto Fernandes Rodrigues Execução editorial – Idec Coordenação e texto: Glória Kok Módulos didáticos: Sílvia Meirelles e Regina Barros Consultores: Patrícia de Oliveira Freitas, Marcelo Souza, Vidal Serrano Nunes Jr. Edição: Esníder Pizzo Revisão: Maria Aparecida Medeiros Projeto gráfico e direção de arte: Shirley Souza Editoração eletrônica: Juliano Dornbusch Pereira Capa: foto de Glória Flügel
  • 6. Sumário Apresentação 3 Introdução 8 Pequerna história da publicidade no Brasil 10 Estratégias da publicidade12 Televisão e publicidade 16 As crianças e a publicidade 18 • Na Suécia não há publicidade na TV para crianças 19 Os jovens e a publicidade 22 • Violência na TV 23 Os adultos e a publicidade 24 Publicidade externa 27 Publicidade enganosa e abusiva 29 O papel da escola 31 O que fazer 32 • Obrigações para com os jovens e as crianças 33 Glossário 34 Bibliografia 36 Sites na internet 39 Módulos didáticos 41 O que a publicidade está querendo dizer? 42 Na sala de aula 48
  • 7. Publicid e consu
  • 8. Ao contrário do panorama caótico do mundo apresentado ade nos noticiários dos jornais, a mensagem publicitária cria e exibe um mundo perfeito e ideal, verdadeira ilha da deusa Calipso, que acolheu Ulisses em sua Odisséia – sem guer- ras, fome, deterioração ou sub- desenvolvimento. Tudo são luzes, calor e encanto, numa mo ” beleza perfeita e não-perecível. Nelly de Carvalho, Publicidade. A linguagem da sedução.
  • 9. Publicidade e consumo Foto de Shirley Souza Introdução D iariamente, anúncios de modelos de televi- sores, equipamentos de som, eletrodo- mésticos, computadores, carros, seguros- saúde, roupas, cigarros, alimentos, etc. captam os olhares e os ouvidos de homens, mulheres, jovens e crianças. Informam pouco sobre o que anunciam e geram, por meio de apelos emo- cionais, repentinas necessidades e demandas de consumo que nem imaginávamos que pudésse- mos ter. Propaganda de cigarro ocupando toda a lateral de um Outros tipos de anúncio divulgam idéias po- edifício. Agora está proibida. líticas, religiosas e sociais para informar e orientar o cidadão a respeito de questões de interesse Assim, a publicidade invade, público: saúde, como as campanhas de vaci- insistentemente, tanto as casas, por nação e de uso de preservativos, trânsito, meio de folhetos, jornais, rádio e higiene, pre-servação do meio ambiente e até televisão, quanto as ruas, onde é programas políticos. normalmente afixada nos muros, O primeiro tipo de anúncio pode ser cha- ônibus, táxis, bancos, hospitais, mado de publicidade, enquanto o segundo, de restaurantes, escolas, praças. Até propaganda. Os dois termos, entretanto, são nas grandes aveni-das, outdoors usados indistintamente em nosso dia-a-dia, (em português quer dizer publicidade independentemente do teor da mensagem. externa) coloridos inserem-se abun- Em vez de fornecer informações para um dantemente nas paisa-gens urbanas, consumo consciente e racional, a publicidade mas nem sempre de maneira apro- pode apelar para as sensações e as ilusões de priada ou legal. Não há como que o consumo daquele bem ou serviço modifi- escapar, ignorar ou ficar alheio a cará positivamente a vida do consumidor. Nesse uma das formas mais dinâmicas de caso, explora os desejos, gostos, idéias e neces- comunicação da atualidade: as men- sidades, cada vez mais complexas, dos consumi- sagens publicitárias. dores.1 Mas, se a publicidade veiculada pelos Um estudo de 1998 revelou meios de comunicação enganar o consumidor de que um consumidor norte-americano alguma forma, ele poderá reivindicar os seus dire- itos, estabelecidos pelo Código de Defesa do 1. Montserrat Planella i Serra, “La publicidad y la proyección de los deseos” in Cuadernos de Pedagogía, Consu-midor. (Veja também o volume Direitos e no 285/ noviembre, p.50. 2. Rio, Pablo del, “Publicidad y consumo: hacia un mod- Respon-sabilidades do Consumidor, da Coleção elo educativo”, in Infancia y Aprendizaje, 1986, 35-36, Educação para o Consumo Responsável). p.142. 8
  • 10. Introdução está exposto a mais de mil anúncios dos jovens para a leitura e análise em vários diários2. Como escapar ao bombar- níveis, do texto televisual, como já se faz, de há deio de ofertas publicitárias sem muito, com o texto escrito, que deve ser lido, anal- aderir ao consumismo desenfreado, isado, compreendido e criticado também a partir às necessidades fictícias? Que tipo da própria experiência de vida do estudante”3. de influência a mídia exerce sobre os Isso significa também ensinar a ler criticamente padrões de consumo? Que men- as mensagens publicitárias, as quais enredam os sagem subliminar traz uma determi- consumidores de todas as idades em circuitos nada publicidade? Neste trabalho emotivos e irracionais criados para vender produ- pretendemos sublinhar a importância tos no mercado. Se a escola conseguir despertar da escola na sensibilização dessas em seus alunos a consciência das estratégias da questões referentes ao mundo da publicidade e dos meios de comunicação, estará publicidade e do consumo, bem no rumo da formação do cidadão, da defesa da como à leitura das mensagens cultura, da educação e do diálogo entre as pes- (texto, imagem, som) veiculadas soas. pela mídia. Maria Thereza Fraga Rocco chama a atenção para a necessidade de “hoje, ‘alfabetizar’ cri- anças e apro-fundar a competência Foto de Shirley Souza Outdoors e lambe-lambes colaboram para a poluição visual da cidade. 3. Maria Thereza Fraga Rocco, “Televisão e educação: um canal aberto” in Figueiredo, Vera Lúcia Follain. Mídia & Educação, Rio de Janeiro, Gryphys, 1999, p. 56. 9
  • 11. Publicidade e consumo Pequena Foto de Glória Flügel história da publicidade no Brasil A ntigamente, grande parte da publicidade era predominantemente oral. Os vendedores e mascates gritavam ou falavam pregões nas ruas Anœncio publicado na Revista da Semana de 7.12.1936. e praças, oferecendo a mercadoria: Entre 1809 e 1888 foram publi- “Maracujá miúdo, cados, somente nos jornais do Rio no balaio de Iaiá.” de Janeiro, cerca de 1 milhão de ou anúncios de escravos. O primeiro “Sorvetinho, sorvetão, deles saiu também na Gazeta do Rio sorvetinho de limão, de Janeiro em 7 de janeiro de 1809: quem não tem 200 réis “Em 20 de agosto do ano próx- não toma sorvete não.”4 imo passado, fugiu um escravo O primeiro anúncio impresso no Brasil foi preto, por nome Mateus, com editado no dia 17 de setembro de 1808 no jornal os sinais seguintes: rosto Gazeta do Rio de Janeiro. Tratava-se da venda grande e redondo, com dois tal- de um imóvel5: hos, um por cima da sobrancel- ha esquerda e outro nas costas; olhos pequenos, estatura ordinária, mãos grandes, dedos grossos e cur- tos, pés grandes e corpo gros- Ilustra ªo de Shirley Souza so. Na Loja da Fazenda de Antonio José Mendes Salgado de Azevedo Guimarães, na 4. Pinho, J.B. “Trajetória da Publicidade no Brasil: das origens à maturidade técnico-profissional” in Pinho, J.B. (org.). Trajetória e Questões Contemporâneas da Publicidade Brasileira, São Paulo, Intercom, Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comuni- cação, 1995, p. 15. 5. Pinho, J.B. (org.). op. cit. p.16. 10
  • 12. Pequena história da publicidade no Brasil Rua da Quitanda no 64, rece- que descreviam as qualidades do pro-duto. Os berá quem o entregar, além das primeiros anunciantes foram a Companhia Antarctica despesas que tiver feito, Paulista, Laminação Na-cional de Metais e Moinho 132$800 de alvíssaras.” 6 Santista.8 Foi a década do aparecimento de super- mercados, anúncios lu-minosos, novas técnicas de Com o desenvolvimento da im- venda e produção. Além disso, as indústrias automo- prensa, multiplicaram-se os anún- bilísticas de São Paulo, a General Motors, Ford, DKW- cios de vendas de imóveis, de pro- Vemag, Willys Overland, Mercedes Benz e Romi- dutos e de ofertas de mercadorias. Isetta, geriram grandes verbas publicitárias, con- Entre as dé-cadas de 40 e 50, alguns tribuindo para o processo de profissionalização da deles ficaram gravados na memória propaganda. das pessoas. Nas décadas de 60 e 70, a atividade publi- “Dura lex, sed lex, citária tornou-se uma verdadeira indústria alimen-tada no cabelo só Gumex” pelo consumo de bens da classe média urbana em “É mais fácil um burro voar do ascensão que se constituía no Brasil. Como resulta- que a Esquina da Sorte falhar” do, explodiram o consumo, as marcas, as novidades expostas nas vitrines das lojas, nas revistas, nos jor- “Veja, ilustre passageiro, nais e na televisão. O investimento publicitário pas- o belo tipo faceiro sou de 1 bilhão de cruzei-ros no início da década de que o senhor tem ao seu lado 70 para aproximadamente 45 bilhões no seu final. e no entanto, acredite Grande parte deste investimento provinha do governo quase morreu de bronquite (municipal, estadual e federal).9 Outros anunciantes salvou-o Rhum Creosotado”.7 que se destacaram foram os bancos, o varejo, a Bastos Tigre, 1918 indústria automobilística, com a instalação no país da A primeira emissora de rádio no Fiat Automóveis, e os bens de consumo, como Coca- Brasil foi a Rádio Sociedade do Rio Cola, Gessy-Lever, Gillete, Johnson&Johnson, Nestlé, de Janeiro, fundada por Roquete Companhia de Cigarros Souza Cruz, entre outras Pinto, em 1923. Depois da década empresas.10 de 30, com o crescimento da indús- Portanto, conclui Pinho, “os elevados investi- tria brasileira, o rádio ganhou muita mentos para a consolidação da estrutura industrial for-ça, multiplicando o número de brasileira moderna, provenientes de empréstimos emissoras, as verbas publicitárias e externos, geram os recursos que tornam a atividade as vendas no mercado. publicitária um negócio reconhecido e altamente ren- Com a chegada da televisão, o doso, permitindo ainda que ele conquistasse prestígio mundo da publicidade ganhou um internacional graças ao significa-tivo número de novo fôlego no momento em que o prêmios conseguidos no exterior”.11 capital estrangeiro comandava o pro- cesso de industrialização brasileira. 6. Pinho, J.B. (org.). op. cit. pp.17 e 18. 7. Feitosa, Ercília e Tarsitano, Paulo, “Anúncio – Espelho da História Na década de 50, as garotas-propa- Social, Política e Econômica Brasileira”, in Pinho, J.B. Trajetória e ganda anunciavam os produtos nos Questões Contemporâneas da Publicidade Brasileira, São Paulo, Intercom, 1995, p.64. comerciais: mostravam o rosto e sor- 8. Pinho, J.B. op. cit. p.38. 9. Idem, Ibidem, p.50. riam, enquanto diziam textos longos 10. Idem, Ibidem, p.50. 11. Idem, Ibidem, p.57. 11
  • 13. Publicidade e consumo Estratégias Foto de Shirley Souza da publicidade A publicidade é o resultado de um elaborado plano de marketing com objetivos ex- clusiva- mente comerciais.12 Para ser tecnicamente eficaz, a publicidade deve: • chamar a atenção do leitor ou ouvinte; • provocar o interesse do consumidor; • estimular o desejo de compra; • imprimir o nome do produto, criando a convicção; “Este é o sabor”, slogan do outdoor vai além do produ- • transformar o desejo em ação. to, Guaraná. Fazendo uso do recurso persuasivo, Para isso, produz uma profusão de imagens, estende as qualidades do refrigerante, destacando o prazer e ligando sua imagem à satisfação, à felicidade símbolos e códigos de consumo que são, na e sensualidade. maioria das vezes, difundidos pelos meios de comunicação ou mídia. alguma.15 Ou ainda, uma experiência De acordo com Nelly de Carvalho, a publici- feita em um cinema de Nova Jersey, dade pode se valer de três recursos: Estados Unidos, no ano de 1957, • a ordem (fazendo agir) – “Beba Coca- provou que nas seis se-manas em Cola”; que foi exibido o filme Picnic com • a persuasão (fazendo crer) – “Só mensagens “Está com fome? Coma Omo lava mais branco”; ou pipoca” e “Beba Coca-Cola”, a venda • a sedução (buscando o prazer) – “Se de pipoca aumentou 57,7%, e a de algum desconhecido lhe oferecer flo- Coca-Cola, 18,1%.16 res, isto é Impulse”.13 A publicidade, portanto, cria Ao veicular as mensagens de consumo, a necessidades inexistentes ao linguagem da publicidade tornou-se ágil, sintética, conectada com a imagem e, como observou 12. “Publicidad y Consumo” in Boletín de la Red para la Educaciòn del Consumidor, julio 1997, p.21. Nagamini, “essencialmente persuasiva, pois sua 13. Nelly de Carlvalho, Publicidade: a linguagem da sedução, 3ª edição, São Paulo, Editora Ática, 2000, finalidade é vender imagens, serviços, idéias, p.10. etc.”14 Para tanto, ela desenvolveu estratégias em 14. Eliana Nagamini, “O discurso da publicidade no contexto escolar: a construção dos pequenos enredos”, que os consumidores agem de modo incon- in Citelli, Adilson (coordenador). Outras linguagens da escola: publicidade, cinema e TV, rádio, jogos, infor- sciente. Uma pesquisa de mercado, por exemplo, mática, São Paulo, Cortez, 2000, p. 42. mostrou que as pessoas são muito mais 15. Joan Ferrés. Televisão Subliminar. Socializando através de Comunicações Despercebidas. Tradução de favoráveis à carne de boi quando era etiquetada Ernani Rosa e Beatriz Neves, Porto Alegre, Artmed, 1998, p.49. como “75% magra” do que quando era etiquetada 16. Joan Ferrés. Televisão Subliminar. Socializando com “25% de gordura”, o que não tem diferença através de Comunicações Despercebidas. Porto Alegre, Artmed, 1998, p.71. 12
  • 14. Estratégias da publicidade mesmo tempo que faz as pessoas se sentirem imperfeitas, insatisfeitas. Sublimi-narmente, ela está incutindo a idéia de que a solução para “o mal- estar da civilização” está no con- sumo, isto é, em função das coisas que o consumidor pode comprar, ele adquire também a ilusão de se tornar bonito, querido, feliz e aceito social- mente. To-da publicidade tem um ingrediente de sedução, pois nos faz desejar algo que nem havíamos pen- sado em comprar, dando a sensação de que “todos têm, por isso eu tam- bém preciso ter”. Segundo Nelly de Carvalho, uma publicidade bem-feita é capaz de transformar “um relógio em jóia, um carro em símbolo de Neste anúncio observa-se, claramente, o produto (carro) transformando-se em símbolo de prestígio. Ser JASP é sinônimo de ser Jovem, Autêntico, Surpreendente e Preparado e, para isso, o consumi- dor só precisa ter o carro do anúncio. A venda vai além do produto, se estende ao status que ele pode 17. Nelly de Carvalho, Publicidade: a linguagem da sedução, 3ª edição, São Paulo, Ed. Ática, 2000, p.18. 13
  • 15. Publicidade e consumo prestígio e um pântano em paraíso tropical”. 17 Nesse sentido, os anúncios vão muito além da venda de produtos. “Em cada anúncio”, expli- ca Rocha, “vendem-se estilos de vida, sen- sações, emoções, visões de mundo, relações humanas, sistemas de classificação, hierarquia em quantidades significativamente maiores que geladeiras, roupas ou cigarros. Um produto vende-se para quem pode comprar, um anúncio distribui-se indistintamente.”18 Atualmente, as grandes empresas investem somas altíssimas de dinheiro em publicidade. Nos esportes, eventos artísticos, musicais e comu- nitários, nota-se uma verdadeira invasão de mer- chandising – quando um produto, marca, empre- sa ou serviço é citado, consumido ou utilizado O patrocínio é uma forma comum de colocar a marca mediante o pagamento feito pelo anunciante. em evidência; neste exemplo, o banco patrocina uma exposição de arte. Deste modo, marcas, slogans, símbolos ou cores, material promocional, propagandas, decorações, objetos, veículos e roupas integram uma elabora- da estratégia de venda de produtos em eventos 18. E.P.G. Rocha, Magia e capitalismo: um estudo antropológico da publicidade. São Paulo, Brasiliense, 1985, p.27. Grandes marcas freqüente- 19. Sampaio, Rafael. mente patrocinam shows Propaganda de A a Z. Como usar que atraem o público jovem. a Entre os patrocinadores vale propaganda para construir observar a presença de fab- marcas e empresas de sucesso, ricantes de bebidas alcoóli- 2ª reimpressão, Rio de Janeiro, cas (cerveja) e, até algum Campus, ABR, 1997, p.176. tempo atrás, de cigarros. VOCÊ SABIA? Nos Estados Unidos consome-se o equivalente a duas vezes e meia os recursos naturais do país. 14
  • 16. Estratégias da publicidade culturais e esportivos.19 Só no período de janeiro a junho do ano de 1999 a mídia faturou R$ 3.453.058.300,00 com os anúncios publicitários, sendo que as emissoras de TV são as que detêm maior Fautramento dentre os meios de comunicação. Publicidade/Mídia Faturamento por mídia % do total (valor em R$) Televisão 1.893.801,60 54,8 Jornal 885.155,80 25,6 Revista 321.885,70 9,3 Rádio 158.697,60 4,6 TV por assinatura 27.505,10 0,8 Outros 166.012,50 4,9 Fonte: Price Waterhouse & Coopers, jan. a jun./9920. PARA SABER MAIS Na Copa do Mundo de 1998, a publicidade movi- mentou milhões de dólares. “Foi quase uma Copa das Marcas; a briga pelas cotas de patrocínio tirou a Coca-Cola, garantindo a entrada do Guaraná Brahma, com o equivalente a 18 milhões de dólares, numa das maiores emissoras do país, a Rede Globo. A Bandeirantes incluiu seis cotas de patrocínio (9 mi-lhões de dólares cada uma) para a Nestlé e 2,5 mi-lhões de dólares em top de cinco segundos para a LG Eletrônicos, resultando num fat- uramento de 56,5 milhões de dólares para a emis- sora.”21 20. Almanaque Abril 2000. São Paulo, Editora Abril, p. 211. 21. Eliana Nagamini, “O discurso da publicidade no contexto escolar: a construção dos pequenos enredos”, in Citelli, Adilson (coordenador). Outras linguagens da escola: publicidade, cinema e TV, rádio, jogos, infor- mática, São Paulo, Cortez, 2000, p.76. 15
  • 17. Publicidade e consumo Televisão Foto de Glória Flügel e publicidade P resente em aproximadamente 40 milhões de casas, a televisão é o veículo de maior peso no Brasil e o segundo eletrodoméstico mais pre- Anúncio na televisão, veiculado em 2002 às vésperas sente nos lares, perdendo apenas para o fogão. do Carnaval. Aproveitar eventos que mobilizam ou atraem grande parte dos consumidores é uma técnica Chegou a ser definida como “a caixinha de dis- sempre explorada pela publicidade. tração e da destruição”,22 por ser, de um lado, um canal informativo e uma opção barata de lazer, e, meio de comunicação esteve associ- por outro, algo que manipula, distorce a realidade ado à acelera-ção gradual do ritmo e é um convite à passividade, à acomodação. Co- das imagens. Segundo Joan Ferrés, mo observou Joan Ferrés, a televisão também “as mensagens da televisão carac- tem um caráter disperso, desagregador, divulgan- terizam-se cada vez mais por um do informações contraditórias, incoerentes e ritmo trepidante, por uma aceleração ambí-guas. “Basta pensar”, disse ele, “em infor- cada vez maior na sucessão das mações sobre a crise econômica interrompidas cenas. Para o telespectador, que vai por propagandas que incitam ao consumo.”23 sendo habituado a esse ritmo, a pos- Uma das redes privadas brasileiras, a Rede sibilidade de movimento acaba se Globo, é uma das cinco maiores do mundo, tornando uma necessidade de movi- atingindo 27 milhões de domicílios, mais de 110 mento. Quando não há mu-dança, milhões de telespectadores, 4.386 municípios, torna-se monótono”.26 com uma cobertura geográfica de 99% do ter- O caráter comercial da tele- ritório nacional.24 Além das emissoras de canais visão é visível a qualquer telespecta- abertos, as empresas de TV via satélite ou a dor. A publicidade está presente em cabo, que cobram assinaturas ou fazem emis- todos os programas. Uma lei federal sões do tipo pagar-para-ver (pay per view), per- determinou que a TV poderia dedicar mitem que o telespectador receba em casa apenas 25% de seu tempo à dezenas de canais novos, especializados em exibição de propaganda, e os interva- temas: notícias, espor-tes, desenhos, música e los passaram automaticamente a 15 cinema, em inglês, francês, espanhol, entre out- minutos por hora. Como conseqüên- ros. Como disse Eugênio Bucci, “o Brasil se 22. http://tver.zip.net/mulhernatv.htm comunica pela televisão”.25 23. Joan Ferrés. Televisão e Educação. Tradução: Mas como se explica esse fascínio que a Beatriz Affonso Neves, Porto Alegre, Artes Médicas, 1996, p. 20. televisão exerce sobre as pessoas? Um dos 24. Figueiredo, Vera Lúcia Follain (org.). Mídia&Edu- cação, Rio de Janeiro, Gryphus, 1999, p. 109. grandes atrativos da televisão é o movimento da 25. Eugênio Bucci, “Direitos do Telespectador”, in imagem. Nas últimas décadas, o sucesso deste http://tver.zip.net/direitos-texto.htm 26. Joan Ferrés. Televisão e Educação, Porto Alegre, Editora Artes Médicas Sul, 1996, p. 17. 16
  • 18. Televisão e publicidade cia, o teles-pectador é enredado isso, a marca acabou conquistando 8% do mer- involuntariamente ao mundo do con- cado paulista.27 sumo e dos comerciais. Além disso, Nesse contexto mercadológico, alteram-se muitos produtos, serviços ou idéias os comportamentos dos telespectadores. “O justo aparecem na televisão por meio do e o injusto, o bom e o mau começaram a perder merchandising. Há alguns anos, por sua finalidade, começam a perder sua utilidade exemplo, quando a TV Globo exibia a diante do cálculo do maior interesse publicitário, novela “Roque Santeiro”, as motoci- do lucro a qualquer custo”, analisou Lia Faria.28 cletas Agrale apa-reciam diariamente Dissipam-se, portanto, os critérios de julgamento no meio e no fim do programa. Com do que é certo e do que é errado num contexto de crise moral e ética. Foto de Glória Flügel Apresentadoras de programas infantis na televisão também fazem publicidade de produtos dirigidos a esse público. Persuasão garantida. 27. Gino Giacomini Filho. Consumidor versus Propaganda, São Paulo, Summus, 1991, p. 80. 28. Lia Faria, “Desafios da Modernidade – Imaginário Social e Educação” in Figueiredo (org.). Mídia & Educação, Rio de Janeiro, Gryphus, 1999, p. 112. 17
  • 19. Publicidade e consumo As crianças e a publicidade A s crianças e os jovens são geralmente muito vulneráveis à publicidade, porque não têm uma mentalidade crítica nem a capacidade de ler a verdadeira mensagem que uma determinada publicidade está transmitindo. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos re- velou que as crianças ficam expostas anualmente a cerca de 30 mil mensagens publicitárias veicu- ladas pelos meios de comunicação.29 Até o materi- A campanha dos bichinhos de um fornecedor de pro- dutos alimentícios foi divulgada em todo o país, em al didático das crianças americanas de escolas diversas mídias. Sua repercussão foi tamanha que, em públicas em áreas pobres vem com publicidade sua segunda fase, quando as embalagens dos produ- tos eram trocadas por bichinhos de pelúcia, os brinque- de empresas que induzem ao consumo! dos esgotaram antes do final da promoção e uma nova remessa teve de ser colocada à disposição do público No Brasil, as crianças de até 14 anos repre- consumidor. sentam quase 40% da população brasileira. Por Mattel adquiriu um estrondoso per- isso, muitas empresas aprimoram suas estraté- centual de 95% de penetração com a gias para a venda de produtos infantis. Só a boneca Barbie entre meninas de 3 a Editora Abril previu, em 1997, uma tiragem de 100 11 anos de idade nos Estados mi-lhões de exemplares de suas publicações Unidos”.32 infanto-juvenis.30 Campanhas que estimulam as O Código Internacional de Prá- crianças ao consumo exagerado de produtos tica Publicitária da Câmara Inter- estão diariamente na televisão. Só para ilustrar, nacional do Comércio estabeleceu podemos lem-brar as campanhas dos bichinhos que “os anúncios em nenhum caso Parmalat e das tampinhas de Coca-Cola, tro- devem explorar a credulidade natural cadas por engra-dados contendo seis garrafinhas ou a falta de experiência da crian-ça, do refrigerante. nem podem prejudicar o seu senso Um especialista em marketing para crianças afirmou: “Mesmo crianças de 2 anos de idade estão interessadas na marca de suas roupas, e 2 . Consumidor S.A., Sªo Paulo, Idec, nœmero 32, julho 9 aos 6 anos já são consumidores formados”.31 O de 1998, p. 26. 3 . Gino Giacomini Filho. Consumidor versus Propa- 0 mundo dos brinquedos é revelador da globaliza- ganda, Sªo Paulo, Summus, 1997, p. 54. 3 . Durning, How Much is Enough? The Consumer 1 ção da economia e da banalização da cultura. Pa- Society and the Future of the Earth (O quanto Ø sufi- dronizados, brinquedos como Barbie, Batman, ciente? A sociedade de consumo e o futuro da Te r ) ra. Tradu ªo SØrgio Lu s da Rocha, 1992, p.130-131. bonecos do Tarzan, naves espaciais são cobiça- 3 . Durning, How Much is Enough? The Consumer 2 Society and the Future of the Earth (O quanto Ø sufi- dos pelas crianças do mundo todo. O vice-presi- ciente? A sociedade de consumo e o futuro da Te r ) ra. dente da Mattel, Maryl Friedmam, declara: “A Tradu ªo SØrgio Lu s da Rocha, 1992, p.121. 18
  • 20. As crianças e a publicidade PARA SABER MAIS estrangeiros. Esta proibição reflete o amplo consenso Na Suécia não há publicidade na público de que as crianças necessitam de proteção especial, na medida em que são TV para as crianças33 mais vulneráveis à publicidade do que os “Durante mais de três décadas, a adultos. Uma forte defesa feita pelas Suécia teve apenas dois canais de tele- ONGs influiu fortemente na decisão toma- visão esta-tais financiados por meio de da pelo Parlamento. O Conselho Nacional taxas cobra-das dos espectadores. Não Sueco de Políticas de Consumo apresen- era permitida nenhuma programação com- tou um relatório baseado em numerosos ercial. Em meados dos anos 80, mais e estudos internacionais sobre as crianças e mais famílias na Suécia passaram a rece- a publicidade na televisão. O relatório ber canais de satélite transmitidos do conclui que é apenas por volta dos 12 exterior e que in-cluíam publicidade. Isto anos que a maior parte das crianças alterou o panorama dos meios de comuni- desenvolve um entendimento total dos cação e resultou em novas regulamen- objetivos da publicidade, o que é um req- tações de transmissão, que legalizaram a uisito prévio para desenvolverem uma ati- publicidade na televisão e rádio, em 1991. tude crítica em relação a ela. Contudo, uma restrição permaneceu Austrália, Áustria e Reino Unido, entre intocável – os anúncios destinados às cri- outros países, também restringem a publi- anças. A proibição da publicidade destina- cidade comercial destinada às crianças, da às crianças está estabelecida na lei de quer pela regulamentação do tempo permi- radiodifusão. Conseqüente-mente, não há tido à publicidade comercial, quer pela anúncios de brinquedos, cereais, lanches proibição dos anúncios durante os progra- ou doces. A proibição aplica-se a todos os mas infantis. E a Noruega adotou uma canais terrestres, mas não cobre os canais proi-bição idêntica à da Suécia. transmitidos a partir dos países Fonte: Bjurström 1994; Consumers International 1996. de lealdade, e não devem influenciá-la com afir- mações ou imagens que possam resultar em pre- VOCÊ SABIA? A fábrica juízo moral, mental ou físico”.35 de brin- Apesar disso, as crianças e os jovens continu- quedos Estrela, com 55% do mer- am sendo vítimas de insistentes bombardeios cado, está entre os 20 maiores publici-tários no Brasil. Segundo Sérgio anunciantes do país e, em 1985, Capparelli, o público infanto-juvenil entre 1 e 14 investiu 95% da verba publicitária em TV. A LPC, com cerca de 35% anos é responsável por boa parte do consumo de do mercado de iogurtes (900 mil- hões de potes anuais), também entre os 20 maiores anunciantes, no 33. Relatório do Desenvolvimento Humano 1998, publicado para o mesmo ano, investiu 99% das ver- Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Lisboa, Trinova Editora, 1998, p. 65. bas de propaganda em TV.34 34. Gino Giacomini Filho. Consumidor versus Propaganda, São Paulo, Summus, 1991, p. 59. 35. Consumidor S.A., São Paulo, Idec, no 32, julho de 1998, p. 27. 19
  • 21. Publicidade e consumo iogurtes, refrigerantes, achocolatados, chicletes de bola, roupas e brinquedos.36 Além de criar hábitos ina-dequados, a publicidade pode causar problemas de saúde nas crianças, por veicular VOCÊ SABIA? Um es- produtos com excesso de gordura, sal e açú- tudo da cares. A obesidade é uma doença de âmbito Associação de Consumidores Australianos revelou que 80% mundial, que se caracteriza por excesso de gor- dos anúncios de alimentos dura e peso 20% acima do ideal para a altura, o transmitidos durante os pro- sexo e a idade, podendo acarretar outros proble- gramas infantis de televisão são de refeições excessiva- mas de saúde, como pressão alta, doenças mente embaladas com alto teor de gordura e grande quantidade de sal.37 Personagens de desenhos infantis assinam os mais variados tipos de produtos: cards, revistas, filmes, material escolar, etc. 36. Eliana Nagamini, “O discurso da publicidade no contexto escolar: a construção dos pequenos enredos”, in Citelli, Adilson (coord.). Outras linguagens da escola: publicidade, cinema e TV, rádio, jogos, informática, São Paulo, Cortez, 2000, p. 65. 37. A. T. Durning, How Much is Enough? The Consumer Society and the Future of the Earth (O quanto é sufi- ciente? A sociedade de consumo e o futuro da Terra). Tradução Sérgio Luís da Rocha, 1992, p.120. 20
  • 22. As crianças e a publicidade cardíacas, problemas nos dentes, etc. Ao assistir a programas infantis, as crianças engolem muitos anúncios dos grandes anunciantes: Coca-Cola, Yakult, Glub-Glub, iogurte da Paulista, gelatina Flokin, cereais matinais da Kellog’s, Snowflakes da Nestlé, Nissin Lamen, achocolatado Nescau e Galak, entre outros.38 Só para se ter uma idéia, os gastos feitos em publicidade de produtos alimentícios voltados para o público infantil somaram o equiva- lente a US$ 185,3 milhões, em 1996.39 Folheto distribuído nos pontos-de-venda quando do lançamento do leite condensa- do em embalagem reduzida. PARA SABER MAIS Uma pesquisa elabora- como telespectador. da pela Consumers Um outro fator que explica o aumento de horas International, aplicada em 13 países ricos, que as crianças dedicam à televisão é a falta de comprovou que as crianças são menos capa- espaços públicos, de áreas verdes nas grandes zes do que os adultos de compreender as ver- cidades. Entre os múltiplos efeitos de uma longa dadeiras intenções da publicidade ou de captar exposição à televisão, Ferrés menciona: suas estratégias de persuasão.40 1. A linguagem – o telespectador que A situação torna-se mais grave em nosso país, assiste a muita televisão bloqueia o exer- porque as famosas apresentadoras dos progra- cício de expressão verbal. mas infantis de TV, como Xuxa, Angélica, Eliana, 2. A brincadeira e o jogo – a criança que Mara Maravilha, recomendam esses produtos às assiste a muita televisão não interage com crianças, influenciando atitudes e gostos, criando outras pessoas, não pesquisa e não falsas necessidades e estimulando o consumis- descobre. A alienação dos problemas mo. locais e da comunidade as leva natural- Pesquisas recentes demonstram que as crianças mente a uma identificação com valores e brasileiras estão muito expostas à televisão. Em fantasias inatingíveis. média, cada criança fica cerca de seis horas por 3. A razão – o excesso de televisão blo- dia diante da TV, mais do que o tempo dedicado queia a capacidade reflexiva. à escola, à família, aos amigos ou à leitura. Isso 4. Insensibilização – o excesso de infor- significa que, ao longo de 50 anos, esta pessoa mação pode gerar a insensibilização do vai ter passado um total de 16 anos da sua vida telespectador. 38. Consumidor S.A., São Paulo, Idec, no 19, maio de 1997, p. 18. 39. Consumidor S.A., São Paulo, Idec, no 19, maio de 1997, p. 18. 40. Consumidor S.A., São Paulo, Idec, no 19, maio de 1997, p. 19. 21
  • 23. Publicidade e consumo Os jovens Foto de Gl ria Fl gel e a publicidade O s jovens ocupam um espaço importante nas empresas de publicidade, constituem um grupo cada dia maior de consu- porque midores potenciais. A publicidade dirigida aos jovens tem a intenção de criar uma identidade e um estilo de vida. Os jovens, por sua vez, sentem- se mais seguros quando fazem parte de um Anúncio na televisão, em 1997. O avante Ronaldo, com as cores que lembram as da Seleção Brasileira grupo. Assim, a publicidade busca manipular e de Futebol, faz manobras com tampinha de cerveja. ditar os hábitos de comportamento da juventude brasileira. As marcas são um bom exemplo disso. durante o ano.41 Mas essas cenas Grandes marcas colocaram-se em lugar de desta- raramente ocorrem entre cônjuges, que no mercado, como resultado de anos e anos quase nunca aludem à contra- de publicidade insistente. De tal forma que a com- cepção e, com grande freqüência, pra pela marca, ou melhor, pela griffe, virou moda, contêm elementos de coerção, embora nem sempre signifique produto de quali- degradação ou exploração. dade por preço justo. Não raro, acontece exata- Problemas similares existem com os mente o contrário, como revelou o teste a que o retratos estereotipados ou ampla- Instituto Brasileiro de Defesa do Consu-midor mente negativos de mulheres e das (Idec) submeteu 13 marcas de camisetas: as minorias, gays e lésbicas.42 Além de mais caras, portanto das marcas mais famosas e atividade sexual pre-coce, tais abor- da moda, foram as que mais encolheram, defor- dagens sexuais podem levar a maram ou desbotaram, depois de passar por deturpações e distorções das várias etapas de lavagem. A mais cara de todas relações humanas. simplesmente encolheu. As piores custavam mais Para piorar, até a legislação de R$ 20,00, enquanto as que se deram melhor acaba por facilitar hábitos de con- nos testes não passavam de R$ 8,00. sumo que levam a situações de risco Tudo vale para atrair o jovem para um à saúde dos jovens. A propaganda determinado produto ou marca. A mensagem de de cervejas e da maioria dos vinhos ju-ventude, atração, sexo e liberdade é repetida à é li-berada, no Brasil, para veicular exaustão por todos os meios publicitários possí- veis. Um estudo recente, realizado pela Univer- sidade Federal do Rio Grande do Sul, demon- 41. Vários autores, A Televisão e a Violência, www.ufrgs.br/psiq/vio-form.html strou que o adolescente está exposto a aproxi- 42. Vários autores, A Televisão e a Violência, madamente 14 mil referências ligadas a sexo www.ufrgs.br/psiq/vio-form.html 22
  • 24. Os jovens e a publicidade 43 livremente em qualquer horário, pois, de O problema é que, segundo Beatriz Carlini Cotrim, acordo com a Lei 9294, de 1996, que pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações trata das restrições ao uso e à propa- sobre Drogas Psicotró-picas, a cerveja é a bebida que ganda de bebidas alcoólicas, cigarros e serve para os adolescentes44 como iniciação ao vício medicamentos, as bebidas de teor do alcoolismo. alcoólico inferior a 13 graus não são con- sideradas como bebidas alcoólicas. Existem cerca de 270 VOCÊ SABIA? milhões de jovens entre os 15 e os 18 anos, em 40 países, que consomem os mesmos vídeos e músicas e representam um mercado gigantesco para Violência na TV os designers e fabricantes de tênis, camise- tas e jeans. Um outro aspecto que não po- Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano – 1998 – PNUD. demos ignorar é o da violência vei- culada pelos programas de televisão no Brasil. Uma pesquisa feita em lam a violência pode: 1998 pela Organização das Nações 1. Levá-las a imitar comportamentos violen- Unidas (ONU) detectou na televisão tos e agressivos; brasileira 1.432 crimes em uma 2. Levá-las a imitar os heróis violentos; sema-na de desenhos animados, 3. Sugerir que a violência é premiada em isto é, 20 crimes por hora de desenho nossa sociedade; animado.45 4. Sugerir que a violência é um recurso justi- ficado; Número de crimes exibidos 5. Dessensibilizar as crianças; por emissora: 6. Aumentar o medo do mundo; SBT: 753 7. Aumentar a vontade de violência; Globo: 259 8. Aumentar a atração pela violência realista; Record: 164 9. Promover a criação e a sustentação de Manchete: 160 uma cultura de desrespeito.47 Cultura: 65 VOCÊ SABIA? Bandeirantes: 31 De acordo com a pesquisa, "O Exterminador", estrelado Bandeirantes e TV Record lideram por Arnold Schwarzenegger, os homicídios em desenhos anima- tornou-se um ídolo conhecido dos; a TV Globo vence em lesões por 88% das crianças em todo o mundo.48 corporais.46 Quais são as conse- qüências da violência presente na mídia? Confor-me pesquisa feita pela Universidade Federal do Rio 43. “Cerveja não é álcool”, in Consumidor S.A., no11, agosto/96, p. 8. 44. Consumidor S.A., no11, agosto/96, p. 8. Grande do Sul, a exposição das cri- 45. http://tvbem.org.br/onu.html anças a programas de TV que veicu- 46. http://tvbem.org.br/onu.html 47. Vários autores. A Televisão e a violência: impacto sobre a criança e o adolescente, www.ufrgs.br./psiq/vio-form.html 48. http://tvbem.org.br/onu.html 23
  • 25. Publicidade e consumo Os adultos Foto Glória Flügel e a publicidade A ssim como as crianças e os adolescentes, os adultos também são bombardeados por inten- sa publicidade. Classificados conforme o sexo, a faixa etária e, sobretudo, a faixa de renda, home- ns e mulheres são alvo de anúncios que procu- ram explorar seus anseios e frustrações, induzin- do esse público a suprir, por meio do consumo, suas necessidades de realização pessoal. É o que ocorre, por exemplo, no caso da Trabalho fotográfico sobre o uso do corpo feminino na mu-lher, alvo da maioria das mensagens public- publicidade. itárias, já que normalmente é ela quem faz as compras para o marido, os filhos e a casa, além As-sim, enquanto a maioria das mu- de suas compras pessoais. lheres fizer de si mesma a idéia de Vários tipos femininos foram criados pelos dona de casa (embora seja indepen- comerciais no intuito de vender produtos. Os pro- dente e tenha um emprego), as men- dutos higiênicos, cosméticos, perfumaria, produ- sagens que se dirigem a elas conti- tos para crianças e alimentícios exploram o uni- nuarão a tratá-las como tal, apesar verso feminino, criando estereótipos e clichês de de as estatísticas comprovarem que mulher passiva, submissa ou como um mero mais de 60% das mulheres casadas objeto erótico e sexual. Na venda de produtos de no mundo recebem alguma forma de limpeza, por exemplo, a publicidade nos mostra remuneração”.50 O fundamental para uma mulher ativa na proteção do lar contra os a publicidade é parecer, e não ser, germes e as doenças. O mundo feminino, entre- cultivando necessidades crescentes. tanto, tal como é retratado, raramente ultrapassa Na verdade, a publicidade uti- os limites da cozinha, do banheiro e da área de liza imagens de insegurança, infelici- serviço.49 Já o apelo para o lado sexual dos dade e insatisfação do mundo femi- meios publicitários retrata uma mulher perfeita, nino para vender produtos e gerar jovem, magra, linda, atraente e, muitas vezes, necessidades. “Assim, para aquelas objeto, independente das funções que ela exerça que nasceram com pestanas peque- (mãe, profissional, dona de casa e esposa). nas e finas a mensagem vendida Para Nelly de Carvalho, “a publicidade, por ofe-rece esperança. Para aquelas princípio, pertence à indústria dos sonhos – mais do que o cinema e a televisão –, por isso, nunca 49. Citado por Gino Giacomini Filho. Consumidor ver- apresentará a sociedade tal como ela é. Baseia- sus propaganda, São Paulo, Summus, 1991, p. 53. 50. Nelly de Carvalho. Publicidade: a linguagem da se, contudo, no que vai no íntimo das pessoas. sedução. 3ª edição, São Paulo, Editora Ática, 2000, p.24. 24
  • 26. Os adultos e a publicidade cujo cabelo é muito liso ou muito ondulado, ou cresce nos lugares errados, para aquelas cuja pele é muito escura ou muito clara, para aquelas cujo peso do corpo está distribuído de qualquer modo, menos do exigido pela moda do momento, a publicidade nos assegura que a salvação sintética está próxima às mãos.”51 Foto de Shirley Souza Neste busdoor (anúncio em ônibus), a “mulher dona de casa” aparece como person- agem, já que o produto anunciado remete às funções do lar e à família. A publicidade não deixa muitas opções às mulheres: ter um corpo perfeito e sensual é o ideal de nosso tempo. A propaganda dirigida aos ho- culino: o cowboy acendendo um cigarro envolto mens veicula temas do sucesso e do no maravilhoso cenário americano do Gran êxito de ser atraente e viril. O Canyon. Imune ao câncer e ao enfisema pul- homem típico da publicidade é um monar, o vaqueiro herói é uma fantasia que circu- moço bem-sucedido, viril, geralmente la na cabeça de milhares de fumantes e de futur- esportista ou executivo, sempre com os fumantes. O slogan “Venha para o mundo de dinheiro, sedutor, que pertence à alta Marlboro” atraiu mi-lhares de jovens identificados socieda-de e aparece em lugares paradisíacos. O cigarro Marlboro 51. A.T. Durning, How much is enough? The consumer society and the future of the earth (O quanto é suficiente? A sociedade de consumo e o explorou muito bem o símbolo mas- futuro da Terra. Traduzido por Sérgio Luiz Rocha, 1992, p.120. 25
  • 27. Publicidade e consumo com a liberdade, a independência e a virilidade do cowboy, que, na vida real, acabou morrendo de câncer. A marca Marlboro é a mais cara do mundo: vale 44,61 bi-lhões de dólares.52 O governo brasileiro está empreendendo uma grande campanha publicitária antitabagista, inspirada no modelo americano. Proibiu anúncios de cigarro nos meios de comunicação e em todos os lugares públicos, como restaurantes, shop- pings, estádios, palcos, etc., visando afastar os fumantes do vício. O setor publicitário reagiu à medida do governo, porque apenas em 1999 con- seguiu movimentar U$ 55 milhões só com anún- cios de cigarros.53 A necessidade de seguir padrões estéticos hoje se estende aos homens, que também buscam o modelo ideal e a sensualidade. Em diferentes paisagens e situações, o cigarro exalta uma imagem masculina viril e livre. O cenário paradisíaco combina com o mundo de Marlboro, onde os personagens não demonstram preocupação, a amizade está sempre presente e a liberdade merece destaque. 52. Eugênio Bucci, “O mundo de Marlboro é aqui” in Revista Veja, 12/03/1997. 53. Época, 12 de junho de 2000, p. 118. 26
  • 28. Publicidade Foto de Shirley Souza externa M ensagens publicitárias de gran-des proporções, expostas áreas externas junto a vias e locais em de tráfego intenso fazem parte da paisa-gem nas cidades grandes. O mais conhecido tipo de publicidade externa é o outdoor, um cartaz feito pela colagem de folhas de papel com o anúncio comercial impresso numa estrutura geralmente de madeira. O O acúmulo de anúncios externos acaba por gerar poluição visual e formato mais usual é o de aproxi- esconder a fachada dos prédios e a paisagem. madamente 3 metros de altura por 9 metros de comprimento. Com a de ônibus ou mesmo a pé. Como a população mesma finalidade, são cada vez passa hoje mais tempo no trânsito do que há mais comuns tipos sofisticados de alguns anos, houve um grande investimento na mídia externa, que utilizam luz ou chamada mídia externa. movimento, ou os dois juntos. É o No entanto, analisa João Guimarães Júnior, caso do triedro, um conjunto de “o excesso de cartazes e outros elementos de estruturas triangulares que, ao girar, comu-nicação visual interfere nos padrões estéti- vão apagando uma mensagem e cos de uma cidade. A falta de um controle eficaz mostrando outra, ou dos anúncios permite que a profusão de letras e imagens acabe em frontlight ou backlight, assim por domi-nar a cena urbana, escondendo árvores chamados conforme a procedência e fa-cha-das e parcialmente o próprio céu, consti- da luz projetada: de frente ou de trás. tuindo um fator de estresse”55. Só no Estado de Qualquer que seja o tipo, “uti- São Paulo, estima-se que existam cerca de 6 mil- liza mensagens curtas e diretas hões de cartazes, pôsteres, letreiros e faixas (pub- associadas a imagens igualmente licidade externa).56 simples e fortes para convencer as Assim, é imprescindível reduzir a presença pessoas a respeito de uma idéia ou abusiva desse tipo de mídia e controlar a quali- produto”54, explica Nelly de dade das imagens veiculadas. O Estatuto da Crian- Carvalho. ça e do Adolescente (artigo 78) proíbe men- Exposto em locais urbanos es- 54. Nelly de Carvalho. Publicidade: a linguagem da sedução. 3ª edição, tratégicos, esse tipo de publicidade São Paulo, Editora Ática, 2000, p.16. 55. João Guimarães Júnior, “Publicidade externa e tutela legal do paisa- pode ser visto por um grande núme- gismo urbano”, Revista de Direito Ambiental, vol. 19, p. 115. ro de pessoas que passam de carro, 56. “Poluição visual prejudica a mensagem” in M&M Especial, São Paulo, 27 de março de 2000, p. 19. 27
  • 29. Publicidade e consumo sagens pornográficas e obscenas em publicidade decisivos para aferir sua abusividade (pa externa de grande visibilidade. Segundo a opinião usar a expressão do Código de Defesa d de João Lopes Guimarães, é preciso restabelecer Consumidor). Da mesma forma, há que s “o direito do cidadão à fruição da paisagem considerar a existência de monumentos, edi urbana, sem qualquer interferência ou men- cios de valor histórico ou arquitetônico e área sagem, que não as relativas à orientação e ao verdes cuja visibilidade possa ser afetada p bem comum. É impie-doso submeter as pessoas anúncios, com comprometimento paisagístic ao estímulo constante de consumo ou de ações a do cenário como um todo”, explic que elas, na maioria dos casos, não têm condição Guimarães.58 No caso da cidade de Curitib de corresponder”.57 há um controle muito rígido com relação Tudo isso, entretanto, depende de um con- preservação da cidade, encarregando-se trole do governo. A legislação municipal dita as própria prefeitura de retirar os cartazes apó regras de instalação de anúncios. Cabe à admin- três dias de exposição. istração municipal definir as condições para a Outras cidades brasileiras também dev instalação e controlar a poluição visual. “Fatores riam seguir esse exemplo, minimizando como recuo, área de exposição, visibilidade, lumi- poluição visual em benefício da criação d nosidade e altura do anúncio certamente são espaços de convívio, de fruição da paisage e de respeito aos direitos dos cidadãos. O espaço do outdoor, normal- mente, é “comprado” pelo anunciante por um prazo de 15 dias. Quando a empresa que retém o direito daquele Foto de Shirley Souza espaço não o “vende” para a quinzena seguinte, o outdoor antigo permanece afixado so- frendo a ação do tempo. Sua deterioração colabora para po-luir ainda mais a paisagem urbana. 57. João Guimarães Júnior, “Publicidade externa e tutela legal do paisagismo urbano”, Revista de Direito Ambiental, vol. 19, p. 156. 58. João Guimarães Júnior. “Publicidade externa e tutela legal do paisagismo urbano”, Revista de Direito Ambiental, vol. 19, p. 125. 28
  • 30. Publicidade enganosa e abusiva Publicidade Nos Estados Unidos, foi veiculada uma pu- blicidade em que um carro Volvo suportava ileso o impacto de um caminhão com pneus gigantes- enganosa e cos, que já tinha arrasado outros carros. Mais tar- de, descobriu-se que o teto do Volvo tinha sido abusiva reforçado, enquanto a estrutura dos outros carros 59 tinha sido enfraquecida. Trata-se de uma publici- dade enganosa que parou de ser veiculada e tanto o anunciante como a agência foram multa- A traentes embalagens da linha diet dos.62 apregoando a perda de vá-rios A publicidade enganosa por omissão ocorre quilos, fórmulas que prometem o quando o fornecedor deixa de informar dados milagroso fim da calvice, o enri-quec- essenciais do produto ou serviço, levando o con- imento imediato, brindes falsos, con- sumidor a cometer um erro (art. 37, § 3o do CDC). cursos impossíveis ou frases que É o caso de um folheto publicitário de uma loja marcaram gerações, como “Um da- que anuncia um liquidificador gratuitamente medi- noninho vale por um bifinho” (1993), ante a apresentação do folheto. Quando o con- confundem os consumidores e os sumidor chega lá, o estabelecimento esclarece levam a comprar produtos que não que somente os consumidores que comprarem correspondem às promessas dos um televisor terão direito à promoção anunciada.63 anúncios publicitários. Uma pesqui- Em caso de publicidade enganosa, o consu- sa com moradores paulistanos mos- midor tem o direito de exigir: trou que 82% dos entrevistados já • o cumprimento forçado da obrigação, de foram enganados por anúncio pu- acordo com o conteúdo da publicidade, de- blicitário.60 vendo para isso recorrer necessariamente A publicidade enganosa con- ao Poder Judiciário; tém informação falsa quanto à carac- • outro produto ou prestação de serviço terística, quantidade, origem, preço equivalente; ou ou propriedade, capaz de convencer • a rescisão do contrato e a devolução do o consumidor a adquirir um produto valor pago, acrescido da devida correção ou serviço diferente do que pretendia monetária.64 A pena para o infrator é de três na hora da compra (art. 37 do meses a um ano de detenção e multa. Código de Defesa do Consumidor).61 Gino Giacomini Filho observa que a 59. Ver o volume desta coleção: Direitos e responsabilidades do consu- midor, de João Lopes. publicidade enganosa pode causar 60. Gino Giacomini Filho, Consumidor versus propaganda, São Paulo, Summus, 1991, p. 109. tanto o dano individual, se conside- 61. Direitos do consumidor de A a Z, 2ª edição revisada e atualizada, São rarmos a frustração, ansiedade ou Paulo, Idec, 1997, p. 63. 62. Kenneth Roman e Jane Maas. Como fazer sua propaganda funcionar, lesão do consumidor, quanto o dano São Paulo, Nobel, 1994, p.160. 63. Direitos do consumidor de A a Z, 2ª edição revisada e atualizada, São social, pelo uso massivo de um Paulo, Idec, 1997, pp. 63-64. anúncio, voltado ao público. 64. Direitos do consumidor de A a Z, 2ª edição revisada e atualizada, São Paulo, Idec, 1997, p. 63. 29
  • 31. Publicidade e consumo Publicidade abusiva é aquela cuja mensagem “incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desre- speite os valores ambientais ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança” (art. 37, § 2o do CDC).65 A publicidade também será considerada abusiva quando gerar discriminação. No anúncio de marca de roupa em que apareciam duas crianças, uma loira, com a aparência de “anjo”, e outra negra, com aparência de “diabo”, a publicidade é abusiva porque revela o preconceito racial na imagem da criança negra associada ao maléfico, além de explorar a superstição. 66 Em março de 1999, o Idec lançou a campa- nha contra a propaganda enganosa, criada pelo publicitário Edvan Antunes. O anúncio era uma fotomontagem que mostra o líder nazista Adolf Hitler, que mergulhou o mundo na mais violenta guerra mundial, de 1939 a 1945, pousando as mãos no peito no sinal que lembra a pomba da paz, e que foi uti- lizado em uma campanha nacional pela paz e o desarmamento. Fonte: Revista Consumidor S.A., Idec, no4, p.28. 65. Direitos do consumidor de A a Z, 2ª edição revisada e atualizada, São Paulo, Idec, 1997, p. 62. 66. www.infojus.com.br/area7/nelson4.htm 30
  • 32. O papel da escola A escola deve atuar no sentido de transformar os meios de comuni- cação em aliados do processo O projeto da rádio funciona desde 1998, com muito sucesso. Para o professor de Educação Física Acácio Arouche de Aquino, o educativo dos alunos. Garantindo o resultado é muito positivo. Segundo ele, os acesso aos meios de comunicação, alunos fizeram muitos progressos perceptíveis na a escola poderá desenvolver trabal- redação das pautas, no relacionamento dentro do hos que irão refletir sobre as técni- grupo e na participação no cotidiano da escola. cas e as estratégias da mídia. Se for Outra experiência muito interessante ocorre bem-sucedida, despertará a con- no sul do Pará, às margens do rio Amazonas. As sciência crítica dos alunos-especta- crianças de 1ª a 4ª séries começam o dia ouvindo dores com o intuito de torná-los rádio, sintonizados na Rádio Rural de Santarém. agentes da comunicação. “Educar, É um programa de educação com entrevistas, com e por meio do rádio, da TV, do informações, radionovelas, matérias sobre saúde, jornal, do computador e de todo e higiene, vida comunitária, além de programas qualquer re-curso ou veículo de criativos sobre matemática, português, histórias comunicação passa a ser, hoje, divertidas e músicas. O programa atinge mais de questão de exercício e de prática de 30 mil alunos e 1.300 professores. Este projeto é direitos de cidadania”,67 afirma Ismar desenvolvido com as secretarias municipais de de Oliveira Soares. Educação de Santarém e Belterra, com apoio do Como exemplo, vale a pena Unicef.68 Essas experiências demonstram que é mencionar a experiência de criação possível transformar o rádio em aliado do proces- de uma Rádio Comunitária feita so educativo. pelos alunos da EMPG Desembarga-dor Teodomiro Dias, situada na zona Oeste de São Paulo. Quinze alunos de 5ª a 8ª séries dos períodos matutino, vespertino e noturno e cinco professores e fun- cionários reuniram-se para aprender e discutir as características da rádio, bem como a sua produção. Uma enquete realizada com os alunos revelou que os temas preferidos dos alunos da escola eram: músicas, 67. Ismar de Oliveira Soares, “A televisão e as prioridades da educação” in Comunicação & Educação, São Paulo (6): 22 a 28 mai./ago. 1996, p.25. esportes, lazer e saúde. 68. “Unicef em ação”, Brasília, Unicef. 31
  • 33. Publicidade e consumo Professor(a): consum o repleta d e men- uma so ciedade de Vivemos e m frente ublicitários, bolos e signos p digos, sím tes e deso - sagens, có s, impoten s, muitas veze os sentimo ra aos quais n os começa ção, devem er tal situa Para revert , bem rientados. udiovisuais nas lin guagens a os alunos idade e a alfabetizar te a public er" criticamen ná-los a "l bitos cotid ia- como ensi nossos há efeitos em re os seus e na refletir sob s e jovens rmação das criança sumo, na fo nos de con de. nossa cida estética da O QUE FAZER Promover o processo de educação sobre a mídia para criar usuários com capaci- dade crítica em relação aos meios de comunicação. • Reduzir os efeitos da publicidade nos hábitos de consumo. • Denunciar publicidade enganosa ou abusiva. • Exigir que a publicidade seja sempre clara e fácil de entender. • Exigir o direito à reparação do dano. • Exigir que tudo o que for anunciado seja cumprido. • Para reclamar de um anúncio, escreva uma carta para a empresa que divulgou o anúncio, para o Conselho Nacional de Regulamentação Publicitária (Conar) ou para as organizações dos consumidores, solicitando que o anúncio seja retirado, jus- tificando as suas razões. Em última instân- cia, o consumidor pode recorrer ao Ministério Público de sua cidade.69 69. Para mais detalhes, ver o volume desta coleção Direitos e respons- abili-dades do consumidor, de João Lopes. 32
  • 34. Obrigações para inexperiência e o sentimento de leal- com os jovens dade dos menores; e as crianças • não se ofenderá moralmente o menor; O Código de Defesa do Con- • não se admitirá que o anúncio sumidor trata da questão da publici- torne implícita uma inferioridade do dade em seis de seus artigos, inclu- menor, caso este não consuma o sive no artigo 6o, em que estabelece a produto oferecido; “proteção contra a publicidade enga- • não se permitirá que in-fluên- nosa e abusiva” como um dos direi- cia do menor, estimulada pelo anún- tos básicos do consumidor. Como já cio, leve-o a constranger seus vimos, a proteção às crianças mere- responsáveis ou importunar ter- ceu atenção especial dos legislado- ceiros ou o arraste a uma posição res. E também do Conselho Nacional socialmente condenável; de Regulamentação Publicitária • o uso de menores em anún- (Conar), ao estabelecer, no art. 37 do cios obedecerá sempre a cuidados seu Código Brasileiro de Auto-Regu- especiais que evitem distorções psi- lamentação Publicitária, que: cológicas nos modelos e impeçam a “No anúncio dirigido à crian-ça promoção de comportamentos so- e ao jovem: cialmente condenáveis; • dar-se-á sempre atenção • qualquer situação publici-tária especial à características pedagógi- que envolva a presença de me- cas da audiência-alvo; nores deve ter a segurança como • respeitar-se-á especialmente primeira preocupação e as boas ma- a ingenuidade e a credulidade, a neiras como segunda preocupação.” 33
  • 35. Publicidade e consumo Glossário • Fonograma: peça publicitária sonora, para veiculação em rá- dio, televisão ou cinema. • Jingle: mensagem publicitária em forma de música, veiculada principalmente por emissoras de rádio. • Mala direta: mensagem publicitária ou de marketing direto enviada pelo correio ou portadores. • Marketing: conjunto de atividades empresariais destinadas à descoberta, conquista, manutenção e expansão de mercado para as empresas e suas marcas. • Material promocional: todo tipo de peça de comunicação grá- fica (folheto, volante, catálogo, pôster, etc.) utilizado como apoio em campanhas de propaganda. • Merchandising: recurso utilizado para reforçar mensagens publicitárias feitas anteriormente. É o caso de um produto, marca, empresa ou serviço aparece, que é citado, consumido ou utilizado em um filme, novela, programa de televisão, de rádio, revista, jornal, livro ou qualquer outro tipo de comuni- cação, mediante pagamento. Por exemplo: um ator de novela toma um refrigerante em uma cena e aparece a marca. • Mídia: forma adaptada de media, que significa, em latim e em inglês, meio de comunicação. Designa atualmente os veículos de comunicação, no seu conjunto ou em particular: a impren- sa (jornais e revistas), o rádio, a televisão, o computador, o telefone. • Outdoors: cartazes coloridos que veiculam anúncios publici- tários nas ruas. 34
  • 36. Glossário • Propaganda institucional: difusão de mensagem política, reli- giosa, institucional e comercial. • Publicidade: difusão de mensagens exclusivamente comerciais. • Slogans: palavras ou frases usadas com freqüência nas pro- pagandas. • Spot: mensagem publicitária de rádio, feita por uma locução simples ou com duas ou mais vozes, com uma música de fundo. • Timing: ritmo, tempo apropriado. • Trilha sonora: música de fundo em comercial de TV ou rádio. 35
  • 37. Publicidade e consumo Bibliografia livros, revistas e publicações Almanaque Abril 2000, São Paulo, Ed. Abril, 2000. Este artigo traz uma reflexão sobre o Esta é uma obra de consulta de dados sobre os mais poder da televisão sobre o público variados assuntos com relação ao Brasil atual. brasileiro, enumerando alguns direitos BAUDRILLARD, J. O sistema dos objetos, São Paulo, básicos do telespectador, se o conside- Perspectiva, 1993. rarmos um pólo atuante com relação à O autor dedica-se ao estudo do mundo da cultura por programação e às emissoras. meio do objeto, analisando a sua dupla condição de CARVALHO, Nelly de. Publicidade: a lin- instrumento e de signo e o fenômeno da multiplicação guagem da sedução, 3a edição, São e consumo de objetos na sociedade contemporânea. Paulo, Ed. Ática, 2000. Boletin de la red para la educación del consumidor, número 3, A autora revela os procedimentos lin- Consumers International, Chile, julio 1997. güísticos e argumentativos presentes Esta publicação analisa as atividades voltadas para a na construção da mensagem publici- educação do consumidor em âmbito nacional, enquan- tária dirigida aos consumidores. to proposta educativa visando criar consumidores críti- CITELLI, Adilson (coordenador). Outras lin- cos e com capacidade de realizar ações coletivas, e os guagens na escola: publicidade, cine- projetos feitos em colaboração com a Oficina Regional ma e TV, rádio, jogos, informática, São da Unesco. Paulo, Ed. Cortez, 2000. BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão seguido de a influên- Reunindo especialistas de diversas cia do jornalismo e os jogos olímpicos, tradução de áreas, este livro lança luz sobre a con- Maria Lúcia Machado, R.J., Jorge Zahar Editor, 1977. tribuição dos diversos meios de comu- Bastante polêmico, este livro alerta contra a opressão nicação no processo pedagógico da simbólica que exerce a televisão em nossa sociedade, escola e discute a linguagem atual da des-montando os mecanismos de censura que existem mídia. por trás das imagens e dos discursos exibidos na tele- _________, “Meios de comunicação e práti- visão. cas escolares”, in Comunicação & BOSI, Alfredo (organizador). Cultura brasileira: temas e si- Educação, São Paulo [17], 30 a 36, tuações, 2a edição, São Paulo, Ed. Ática, 1992. jan./abr. 2000. Este livro reúne uma coletânea de ensaios de vários Este artigo constata que os meios de autores que apresentam diversos enfoques da cultura comunicação e seus produtos culturais brasileira: meios de comunicação de massa, cultura têm forte presença na vida de profes- popular, música e arqueologia, entre outros. sores e alunos e destaca a necessi- BUCCI, Eugênio, “O mundo de Marlboro é aqui” in Revista dade de um diálogo crítico desses Veja, São Paulo, Ed. Abril, 12.03.1997. veículos no espaço da escola. Com muita ironia, Eugênio Bucci analisa o imaginário Consumidor S.A., São Paulo, Idec. criado pela propaganda de Malboro, a marca mais Esta é uma revista independente que cara do mundo. traz muitas matérias sobre os direitos ___________, “Direitos do telespectador”, do consumidor, faz denúncias de irregu- http://tver.zip.net/direitos-texto.htm laridades na prestação de serviços e 36