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OS DOIS
TRIBUTOS
A CÉSAR
A DEUS
Letras - Economia - Religião - Sociologia
JUBILEU MINISTERIAL
1915 — 18 DE JANEIRO — 1965
REV. NATANAEL CORTEZ
Este livro foi composto e impresso na
Livraria e Gráfica Ediprés, 1965
Rua da Saudade, 299
Recife. Pernambuco
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Se você é financeiramente privilegiado, então utilize nosso
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Semeadores da Palavra e-books evangélicos
2
Profa. Donana Soares Cortez, ajudadora dos
primeiros anos do meu ministério.
Em sua Memória.
3
ÍNDICE
Fortaleza...........................................................................................................6
Qualidades da Vida...........................................................................................9
Pocahontas, a Iracema Virginiana...................................................................11
Elegias, Milagre de duas Ressurreições..........................................................13
Elogio de Heráclito Braga...............................................................................15
Os que Sofrem Agradecem.............................................................................22
Notas de Viagem............................................................................................24
Pioneiros do Norte..........................................................................................28
Relatório Ministerial.......................................................................................35
Seminário Presbiteriano do Norte, .................................................................37
Campanha dos Leigos.....................................................................................37
A Reforma Agrária.........................................................................................39
A Igreja Presbiteriana do Recife Celebra o.....................................................42
80º Aniversário de sua Organização...............................................................42
Retrato das Secas............................................................................................46
Pastor e Evangelista........................................................................................50
A Igreja Presbiteriana no Ceará......................................................................56
O Cristianismo no Laboratório da Idade Média..............................................61
Os Cinco Sentidos da......................................................................................67
Campanha do Centenário da IPB....................................................................67
O Drama do Algodão e sua Repercussão na Vida Econômica do Estado.......68
Agitado mais uma vez o Problema do Algodão..............................................73
Sinfonia da Civilização Econômica................................................................78
Bolchevismo e Cristianismo...........................................................................80
Joana d’Arc e a Guerra dos Cem Anos...........................................................84
O Sermão do Monte, ......................................................................................88
Lei Substantiva da Sociedade Ideal................................................................88
Absolutismo das Coletividades.......................................................................91
Pontos de Nossa Fé.........................................................................................94
Descobrimento do Nordeste............................................................................97
Meu Padrinho Que Eu Batizei......................................................................100
As Imagens De Meu Pai...............................................................................102
“Eu Hoje Como Carne de Bode, ..................................................................105
Inda que Seja Bode Magro”..........................................................................105
“Num Pago Obrêro Fora da Obra”................................................................107
“Na Minha Casa se Reza Depois da Comida”..............................................109
Eu Com o Padre Cícero................................................................................111
A Circular 64 de D. Lustosa.........................................................................113
Cartas da The North Brazil Presbyterian Mission.........................................115
A Lei do Pecado e a Lei do Espírito Santo....................................................117
O Espírito Santo e o Novo Nascimento........................................................120
A Bíblia Sagrada,..........................................................................................123
Símbolo da Unidade dos Cristãos.................................................................123
O Espírito Santo e a Vida Espiritual.............................................................129
Síntese de Sermões.......................................................................................134
“Que Espera o Senhor do Concilio Ecumênico?”.........................................140
O Que Outros Disseram................................................................................141
Resposta ao Tte. Severino Sombra................................................................147
A Vitória das Democracias...........................................................................151
A Chave da Bastilha, que Eu Vi...................................................................154
A Bomba Atômica........................................................................................155
A situação econômica de nosso Estado brilhantemente analisada e estudada
pelo Prof. Natanael Cortez............................................................................157
O Presbiterianismo........................................................................................162
Conheça o Nordeste......................................................................................165
Esta é a Palavra da Fé que pregamos............................................................168
“Os Direitos do Homem”..............................................................................170
Princeton,......................................................................................................172
a Universidade, o Seminário, o Congresso....................................................172
Montreat.......................................................................................................177
Fundamentando Boatos.................................................................................181
Carta Aberta..................................................................................................183
OUTROS FATOS.........................................................................................185
EM FOTOS..................................................................................................185
Fortaleza
Fortaleza do primeiro quartel do século XX!
Como era diferente Fortaleza de 50 mil almas, desta Fortaleza de hoje de
700 mil,
Fortaleza dos 4 quiosques da Praça do Ferreira, desta Fortaleza dos
arranha-céus de Severiano Ribeiro, da Sul América, e dos Jereissatis.
Fortaleza calçada de areia, desta Fortaleza calçada de pedras.
Fortaleza do bonde de burro do Cel. Solon, desta Fortaleza dos coletivos
motorizados.
Fortaleza do acendedor de lampeão, desta Fortaleza eletrificada.
Fortaleza do telefone do Dr. José de Ponte, desta Fortaleza do telefone da
Cia. Ericsson.
Fortaleza alimentada pelos comboios de jumentos e burros, desta
Fortaleza alimentada pelos caminhões interestaduais.
Fortaleza que distava do Rio de Janeiro dez dias de transporte marítimo,
desta Fortaleza separada do Rio de Janeiro por apenas poucas horas de
confortável passeio aéreo.
Fortaleza do Barão de Studart, desta Fortaleza de Raimundo Girão.
Fortaleza das praias salpicadas de coqueiros, desta Fortaleza das praias
salpicadas de casas...
Como era diferente Fortaleza!
Nisto, porém, se identificam a Fortaleza de ontem e a de hoje:
Os seus mares ainda são bravios, as águas, verdes, e seus jangadeiros
heróis.
E não estranhe a Fortaleza dos 12 clubes elegantes, se eu disser que tenho
saudade da Fortaleza bucólica dos 4 quiosques da Praça do Farmacêutico Ferreira.
Da Fortaleza que me recebeu, há meio século, com esposa e os dois primogênitos.
E que saudade que tenho dos amigos, dessa Fortaleza dos idos, de 1915!
Que saudade que tenho... dessa Fortaleza matuta de há cinqüenta anos!...
De duas coisas, porém, não tenho saudade: do camburão sanitário e da
seca de 1915 que então assolava o Ceará, calamidade que Raquel de Queiroz
gravou em seu romance de estréia no cenário das letras pátrias.
Faz 50 anos que firmei, em Fortaleza, o quartel de minhas atividades,
pagando, em boa consciência, tributo a César e a Deus.
Fortaleza de Matias Beck. Fortaleza noiva “desposada do sol”.
Fortaleza da minha vida.
Fortaleza testemunha do pagamento do meu tributo a César e a Deus...
Templo da Igreja Presbiteriana de Fortaleza.
Qualidades da Vida
A vida vale pelos anos vividos, mas não apenas pelo número de anos.
Vale pela qualidade. Mas vale ainda mais quando estes dois objetivos são
alcançados: anos e qualidade.
Persuado-me de que alcancei estes goals da vida. Tenho vivido e
imprimido qualidade à vida.
Já percorri desertos e oásis durante algumas décadas de anos.
O povo de Israel apreciava a vida sob o duplo aspecto de número de
anos vividos e da família. Viver muito e criar muitos filhos. Ecles. 6:3.
Posso considerar a vida por prisma ainda mais amplo.
Criei filhos, e tenho filhos que não criei. Tenho netos que são filhos
duas vezes.
A família imprime o primeiro sentido de qualidade à vida.
À esposa, aos filhos que criei, e aos filhos que não criei, mas que são
verdadeiros filhos; aos netos, filhos duas vezes, o penhor da minha gratidão
pelo sentido de qualidade que tem emprestado à minha vida.
As qualidades espirituais valem mais do que os anos. Dos patriarcas bíblicos,
Enoque foi o que viveu menos anos, mas Enoque qualificou a vida porque
andou com Deus.
Como ministro da Igreja Presbiteriana, pregando e ensinando,
escrevendo e presidindo concílios, eu, em boa consciência, tenho andado com
Deus como o patriarca da Bíblia. Essas atividades do espírito têm dado sentido
específico à minha vida.
“Os Dois Tributos” são a minha prestação de contas, em síntese, das
atividades de 50 anos.
“Deus pede estrita conta do meu tempo.
É forçoso do meu tempo prestar contas”.
Paguei “Tributo a César”, militando no setor das letras, do magistério,
da economia, da política e da vida pública,
Paguei “Tributo a Deus”, como ministro da Igreja Presbiteriana do
Brasil, como pastor da Igreja Presbiteriana de Fortaleza, evangelista,
presidente de concílios, pregador e doutrinador, servindo-me da palavra falada
e da escrita.
“Os Dois Tributos” assinalam, pois, qualidades à minha vida no século
e na Igreja.
Preito de reconhecimento e gratidão a Nina Cortez, esposa e ajudadora.
Pocahontas, a Iracema Virginiana
Seja coincidência! Não tento explicar!
O fato é que ocorrem notáveis afinidades, do ponto de vista histórico,
literário e social, entre o Estado de Virgínia, dos Estados Unidos da América
do Norte, e o Ceará, dos Estados Unidos do Brasil.
As duas unidades integrantes das grandes Repúblicas do Norte e do
Sul entram no palco da história da civilização concomitantemente, na primeira
década do século XVII. Ao mesmo tempo em que a bandeira de Pero Coelho
chega ao “Siará”, a expedição do Cap. Bartholomew Gosnold explora o rio
Shallow que toma o nome de “James River”, em honra do então rei da
Inglaterra.
Lá os Ingleses, cá os Portugueses tomam posição contra o inimigo
comum, os Franceses que ameaçam fixar seu domínio nas disputadas colônias.
Os mares cearenses, no século XIX, abrigaram belonaves virginianas,
dos Confederados, que vinham a estas plagas de Iracema abastecer-se de
carvão e víveres. Entre essas unidades de guerra, o Alabama, o Sumter, o
Flórida, o Shenandoah. (Hugo Vitor).
Era a guerra de Secessão que se feria entre os Estados do Sul, dos
quais Virgínia era cérebro e coração, e a “União”, os “Yankees”, do Norte.
Virgínia, como o Ceará, tem sua Iracema.
Pocahontas era filha de Powhatan, poderoso chefe dos índios que
dominavam a região das “Tidewaters”, em 1607.
O Cap. John Smith teve papel saliente no grupo expedicionário do
Cap. Bartholomew. Eleito chefe e aclamado por seus companheiros, entra em
luta com os índios. Preso, estava para ser executado, quando Pocahontas se
arremessa entre ele e o carrasco e implora ao pai, para ela, a vida do
prisioneiro. A súplica da princesa é deferida.
Pocahontas está apaixonada pelo inglês, e, convertida ao Cristianismo,
se constitui o elo da paz entre os colonizadores e os aborígines.
A princesa dos valorosos Powhatans, entra destarte, na história da
grande nação americana, na sua literatura e no seu elenco social.
Smith, enfermo, havia regressado à Pátria, e fora dado como morto.
Pocahontas casou com John Bolfe, jovem inglês do mesmo grupo do
Cap. Smith. Viveu em Londres com o nome da Lady Rebeca. Estava firmado,
definitivamente, o primeiro estabelecimento inglês nas colônias da América
do Norte, graças à influência de Pocahontas.
A descendência da Iracema de Virgínia é numerosa e sobremodo
ilustre. Conta-se entre os Bollings, os Robertsons, os Guys, os Eldridges, os
Randolphs.
A esposa do Presidente Woodrow Wilson, a segunda, Mrs. Edith
Bolling, traça sua biografia até Pocahontas.
As afinidades e relações entre o Estado de Virgínia e o Ceará se
estreitaram ainda mais no século XX.
Uma filha do Ceará é desposada por um Randolph, um descendente de
Pocahontas. E eu, agora, ganho a convicção de que tenho um neto que se filia
à linhagem de Pocahontas, a princesinha dos Powhatans, a Iracema dos
Virginianos, que eu comparo à indiazinha da ficção de José de Alencar. Há
apenas um contraste: Pocahontas é a realidade, Iracema é uma criação
literária.
O Ceará saúda, por mim, os amigos de Virgínia, no amplexo da
fraternidade americana de que podem ser símbolos vivos da história e das
letras estas duas indiazinhas — Iracema e Pocahontas, irmanadas na origem e
no destino, como que para estreitarem os cearenses aos virginianos.
O casal missionário W. B. Moseley. Chegou a Fortaleza em 1946.
Elegias, Milagre de duas Ressurreições
Ela ressuscitará, dizia o ministro que oficiava no seu funeral.
Fria madrugada! Manhã sombria, de tristeza e dor, aquela vivida na
casa 181 da rua José Osório, na Madalena!
As lágrimas do esposo, do pai e dos amigos formavam torrente sobre
uma fronte congelada e duas mãos cruzadas sobre o corpo inerte contido no
esquife negro.
As flores e coroas do último adeus ao ser querido se derramavam em
profusão, como adorno da saudade que desabrochava, naquela manhã de luto,
nas almas amigas surpresas e desoladas.
Era a partida da esposa, da filha, da amiga, Mais. Ia-se a mãe
extremosa, deixando dois inocentes seres na orfandade.
A esposa sonhada, a filha dileta, a amiga sincera, a mãe desvelada.
Fria madrugada! Manhã desoladora aquela de 10 de setembro de 1947,
na Madalena, Recife!
As palavras do ministro caíram nos corações como um raio de luz de
animadora esperança.
“Sursum corda!” Ela apenas dorme! Ela há de ressuscitar!
E Hermantine ressuscita agora — a nobre e bela Hermantine — como
escreve Álvaro Lins. Volta à vida com os seus admiráveis dotes de espírito, e
é restituída ao convívio dos queridos, e dos amigos e admiradores, dos quais
se afastara havia seis anos, e que já agora lhe ouvem a voz, e lhe sentem a
presença como que da noiva no banquete de suas bodas eternizadas.
Mauro Mota é o taumaturgo do milagre dessa ressurreição de
Hermantine.
Elegias é uma expressão poética e emocional do esmerado artista das
letras e do singular filósofo da vida. É um coração às escancaras, forte na
adversidade, que sabe amar e sabe sofrer, sempre generoso e sincero.
Cultura e arte, coração e inteligência, o livro todo está cheio de
Hermantine — de sua presença e de sua influência, como bem o acentua seu
prefaciador, uma vez testemunha ocular da felicidade do lar que nem a morte
destruiu, porque Elegias é a sua continuidade.
O livro de Mauro Mota reflete o milagre da ressurreição do próprio
autor. Álvaro Lins afirma que só a morte de Hermantine seria o acontecimento
capaz de ressuscitar o poeta em Mauro Mota.
O autor de Elegias é poeta porque nasceu poeta. Mas o poeta estava
adormecido. O aguilhão da morte de Hermantine o despertou. O grande
escritor é aquele que faz grande o seu tema. Ouvi de Mauro Mota certa vez:
“Hermantine desejou tanto ver a minha vitória literária! Mas foi
preciso que ela morresse para dar-me o tema”.
E ele soube engrandecer e sublimar o tema que lhe proporcionou
merecida retribuição.
O tema que Mauro Mota canta e enaltece em Elegias o consagrou
como um dos principais poetas de sua geração, segundo o julgamento
autorizado do crítico que lhe prefaciou o livro.
“Elegias”! Milagre de duas ressurreições!
Ao poeta redivivo minha admiração pelo que o seu livro é, e pelo que
“significa de fidelidade a Hermantine, na vida e na morte”.
Em memória de Hermantine Cortez Mota.
Elogio de Heráclito Braga
A história do Ceará é uma farta epopéia de heróis e de bravos.
Rico hagiológio de sábios e beneméritos da Pátria, orgulhece e
estimula.
O conde de Affonso Celso enumera entre os fatores da grandeza dum
país e dum povo a vastidão territorial, a riqueza do solo, a beleza do céu e dos
campos e o seu contingente em homens prestado aos nobilitantes
empreendimentos do coração e do cérebro.
No quádruplo conceito do elegante autor de “Porque me ufano de meu
País”, o Brasil é maravilhosamente grande.
O Ceará para com o Brasil se enquadra nas justas proporções do
“gigante da América do Sul”, na frase de William Bryan, para com os outros
países da civilização ocidental.
Não se aparelha aos maiores estados da Federação, mas também não
vai na lista dos menores.
O solo cearense é rico e ubérrimo, a flora e a fauna encerram
preciosidades invulgares.
O céu do Ceará, com a sua lua de prata, constitui alta expressão do
agradável e do belo, e os campos com as desigualdades regionais e as
alternativas de verão e de inverno; do rigor impiedoso das secas e da fartura
transbordante, diluvial das chuvas, — oferecem os mais variados e
surpreendentes panoramas da expressiva e bela natureza tropical.
Retardado na participação dos benefícios da colonização portuguesa
até o século XVII, nunca retardou o Ceará o seu concurso aos movimentos de
liberdade e independência que cedo se pronunciaram no Brasil. Jamais negou
o sangue dos seus filhos ao ideal da redenção nacional, e igualmente tem
concorrido a todos os prélios do pensamento que exalçam as tradições da
mentalidade brasília, mesmo no estrangeiro.
Políticos e generais, juristas e guerreiros, estadistas e heróis, poetas e
prosadores, jornalistas e aedos, vernaculistas e filólogos, gramáticos e
romancistas, clássicos e românticos, cantadores e folcloristas, novelistas e
historiadores, mestres e sociólogos, tribunos e filósofos — todos esses gêneros
tem produzido a “terra do sol”.
Na revolução pernambucana de 1817, como na Confederação do
Equador de 24; nas pugnas da Independência e nas lutas da República; na
campanha da abolição e na guerra do Paraguai; na peleja tenaz contra o rigor
das crises climatéricas, como na empresa estóica de desbravar e amainar as
terras e as gentes da Amazônia — em todas essas liças do coração, do cérebro
e do braço tem o gênio extraordinário do povo cearense conquistado palmas e
lauréis.
São cearenses as mais encantadoras e artísticas jóias da literatura
brasileira: “O Guarany” e “Iracema”.
E entre as maiores glórias do Ceará intelectual encaixa se o nome
respeitado e respeitável de Heráclito de Alencastro Pereira da Graça.
Esplêndido colar de títulos honoríficos redoira e adorna a vida do
renomado filho destas plagas, vida que foi toda um exemplo falante de
trabalho, de estudos e de consagração às boas causas.
Heráclito Graça é o abalizado cultor das letras jurídicas e é o legislador
proficiente. É o criterioso e ponderado governador de províncias e o
meticuloso e arguto distribuidor do direito e da justiça. É o jornalista vigoroso
e comedido e o estilista apreciado e primoroso. Crítico e versejador, é também
vernaculista e filólogo. Ao seu tempo não houve choque de idéia a que se
furtasse a sua pena destra de polemista de pulso.
Depois de formado em direito, viveu 57 anos o glorioso cearense. Foi
toda uma existência devotada aos livros e à causa pública, à família e à Pátria.
Duas províncias o tiveram à frente de seus destinos políticos e
administrativos: a Paraíba e o Ceará. No Congresso Nacional teve assento em
várias legislaturas o destemoroso compatriota.
A modéstia e a simplicidade, moldura dos valores reais, guarneceram
sempre todo o quadro de sua atuação de lidador percuciente.
Feito na escola da educação da vontade, é o sábio personificado que
governa, porque primeiro aprendeu a governar-se.
Político do Império, a República já o apanhou arredio dessa arena de
sua mocidade e das competições partidárias, todo entregue, no Rio de Janeiro,
aos misteres da advocacia, profissão em que, sempre pobre, se lhe acentuaram
as desilusões e decepções da vida.
O Dr. Antônio Sales, iluminado presidente desta Academia, foi íntimo,
na Capital Federal, do festejado tio e mestre de Graça Aranha.
“Da convivência assaz longa, diz ele, que tive com o nosso erudito
conterrâneo ficou-me a grata impressão de um homem de alta inteligência, de
nobres sentimentos e de uma extrema sensibilidade a tudo o que era
manifestação do espírito e da beleza”. (Revista da Academia Brasileira de
Letras, março, 1930).
Filho do Dr. José Pereira da Graça, Barão de Aracati, e de Da. Maria
Adelaide da Graça, nasceu Heráclito na cidade de Icó a 18 de outubro de
1837.
Aos 19 anos, recebia o pergaminho de bacharel em direito pela
faculdade do Recife.
Começou a carreira pública no Maranhão como promotor de justiça e
ali foi também deputado provincial.
Os seus dotes de estilista aprimorado o convidaram à vida de imprensa.
Companheiro de Vieira da Silva e Gomes de Castro, ilustrou as colunas d’“A
Situação” em que a sua pena refletida e vivaz, conforme Joaquim Serra, citado
pelo Barão de Studart, “defendia seu partido, com muita paixão, porém com
dignidade e elevação de linguagem, variando os assuntos e apreciando não só
a política da província, como a do país, e em que pelo aticismo e cristalino da
frase eram os artigos do Dr. Heráclito Graça os que mais se distinguiam na
polêmica”.
Em 1868 foi eleito, ainda no Maranhão, pelo partido conservador,
deputado à Assembléia geral, para a legislatura de 1869 — 1872. Em seguida
foi presidente da Paraíba. Reelegeram-no deputado para mais duas
legislaturas.
A 23 de outubro de 1874 tomava o Dr. Heráclito Graça posse da
administração da província do Ceará, conforme carta imperial de 18 de
setembro anterior. A 1º de março do ano seguinte, passava ele o governo ao
seu substituto legal, o Dr. Esmerino Gomes Parente, afim de poder participar
dos trabalhos legislativos no Rio. (Ver Barão de Studart, Dic. Bio-Bibliog.
Cearense).
Refere também o Dr. Guilherme Sutudart que no governo do Dr.
Heráclito Graça se instalaram as primeiras mesas de exames preparatórios no
Ceará, e acrescenta:
“Fez parte dos defensores da abolição promovida pelo gabinete Rio
Branco e foi muito ativo na tribuna promovendo o projeto eleitoral que se
converteu em lei com a adoção da representação das minorias”.
Em 1906 ingressou na Academia Brasileira de Letras. Membro do
Instituto do Ceará, igualmente o foi da antiga Academia Cearense.
“Fatos da Linguagem”, é um livro de 477 páginas que perpetua a
memória do emérito cearense e é o acento preponderante de sua tendência
para os assuntos de filologia e vernáculo.
A língua é com efeito a revelação da nacionalidade e do patriotismo de
um povo. Veículo do pensamento, caracteriza o grau do sentir artístico do
escritor, e é o bruxoleio dos sublimes desdobramentos das energias psíquicas.
Ela dá asas à idéia e desfere os vôos chamejantes da imaginação. É o
patrimônio por excelência de uma raça.
A palavra é o tegumento da idéia, a frase a veste do pensamento, a
língua as fulgurações do espírito.
Se o manejo da palavra é arte e ciência, a língua é o cabedal da obra
prima.
Se é artista quem fala e escreve, rei dos artistas será quem fale e
escreva com propriedade e elegância.
A língua presta-se a exprimir em caracteres de ouro a tragédia do
“Paraíso Perdidos, e em tonalidades deslumbrantes os esplendores da “Divina
Comédia”. Celebra os feitos heróicos de um povo pelo estro imortal de
Camões, e derrama a eloqüência torrencial e flamejante, relampagueante e
robusta de uni Vieira, Monte Alverne e Rui, Demóstenes, Mirabeau e Cícero.
“Ela pinta o sublime e o humano, diz Afonso Costa, a flória e a
decadência, o júbilo e o pesar, a legenda e a história, a elegia e o epitalâmio. É
arrojada, hugoana em Castro Alves, poética em Gonçalves Dias, triste em
Laurindo Rabelo no seu tocante “Adeus ao Mundo” útil, langorosa,
encantadora e clara em Eça, Latino e José de Alencar — o criador das duas
jóias da literatura brasileira: O Guarani e Iracema”.
Heráclito Graça com seus estudos lingüísticos legou a brasileiros e
portugueses atestado inconcusso de seu saber clássico, de sua cultura
filológica, de seu patriotismo sincero; da pureza dos seus sentimentos
artísticos e da nobreza de sua alma de escol.
O material que constitui o livro de Heráclito Graça foi publica do em
artigos, nas colunas do “Correio da Manhã”, em 1903, sob a epígrafe de
“Notações Filológicas”, confutando opiniões e sentenças das “Lições Práticas
da Língua Portuguesa” do Sr. Cândido de Figueiredo, publicadas àquele
tempo pelas colunas do “Jornal do Comércio”.
Heráclito Graça foi chamado à arena pelo Dr. Leão Veloso Filho,
redator do “Correio”.
O afoito caturra lusitano nunca julgou encontrar mestre em terras
brasileiras.
Mas como a Paulino de Brito, no Pará, no tocante ao problema dos
pronomes oblíquos, teve o lingüista português, de reverenciar o glorioso
cearense.
Alguns poucos exemplos do trabalho de Heráclito:
“ATURDIDO”
“Entre as notícias do Porto: O desgraçado, ouvindo os primeiros tiros,
ficou aturdido e foi abrigar-se...”
“Aturdido, não: é francesismo puro. Ficou desorientado, fora de si...”
Lições práticas, T1, 2ª edição, página 196.
Inadvertência do Sr. C. de Figueiredo. Ali aturdido significa atordoado,
espantado, desorientado, etc. Nesta acepção é português genuíno.
Aturdido, no sentido do francês étourdi, estouvado, desatentado,
arvoado e talvez, aloucado, é que é galicismo desnecessário, segundo frei
Francisco de S. Luís, Glossário, v. aturdido.
Aturdir vem do italiano atordire e stordire, do latim extordire. Brachet,
Dic. Esym. Daí passou para nós e para o francês, atualmente étourdir,
antigamente estourdir...”
É lição de mestre, como se vê.
“AFAZERES”
O Sr. C. de Figueiredo qualificou de francesismo inadmissível a
expressão afazeres.
Heráclito retrucou, em tom audaz de sábio consciente:
“Afazeres não é galicismo: temos o verbo afazer desde os primórdios
da formação da língua portuguesa, e dele muito naturalmente se originou o
substantivo plural afazeres, (Adolfo Coelho, Dic. etym. Afazeres - s. m. pl. do
v. afazer), como dos verbos comer, beber, ter, haver, cantar, etc, se derivaram
os substantivos comer, es, beber, es, ter, es, haver, es, cantar, es, etc.
Esquivou-se, pois, o Sr. Figueiredo: o galicismo inadmissível e
grosseiro que tentaram introduzir em Portugal no século XVIII, segundo
testificam Bluteau e Francisco José Freire, foi affares ou affaires do francês
affaires, a pretexto de necessário para expressar negócios políticos.
E justamente é este galicismo affares ou affaires e não afazeres que frei
F. de S. Luís (Cardial Saraiva) traz como reprovado, no seu Glossário das
palavras e frases da língua francesa, aplaudindo-se de o haver repelido ao uso
geral, e com razão, ajunta ele, tanto mais porque na província do Douro e
Minho e noutras “é mui vulgar o vocábulo afazeres no sentido genérico de
negócios, ocupações, etc”.
Isto há mais de um século, talvez. Bastaria este fato e o teste-mundo de
tão profundo filólogo, inimigo acérrimo de galicismos, para não se duvidar da
vernaculidade de afazeres.
É suficiente. Vê-se a autoridade do filólogo que não titubeia nem
gagueja, porque sabe onde tem as ventas e conhece onde põe os pés.
O caturra ultramarino embora tenha posteriormente arremetido,
renitente e agressivo, curvou-se à evidência.
“Tive a fortuna, diz Heráclito, de o ver chegar a acordo comigo em
muitos pontos: reconheceu que amiúdo fora usado de muitos clássicos;
adverti-o que antes de ler os meus escritos já havia eliminado em nova edição
das Lições Práticas o que escrevera na anterior acerca de aturdir e aturdido;
declarou que sonido e soido não nos vieram diretamente do verbo soar;
confessou que bem pouca já lhe não repugna; retratou-se do que disse
relativamente a afuzilar, contudo, todavia e porém no princípio da oração,
chicana, convencer-se que ou de que, etc, custa a crer, dentro de, diligencêa,
comercêa, etc, entre ele e eu, etapa, excetos, salvos, inimistar, partilhar,
prolfaças; modificou seus pareceres sobre desinquieto, encontrar-se com,
entanto, fazer com que, foi um dos que, meia disposta, parecido com, de resto,
etc., e guardou completo silêncio quanto ao que escrevi defendendo cumprir
com, perder a cabeça, eclusa, detalhar, detalhe e destaque”.
A obra do valoroso cearense tem a aprovação de um dos maiores
filólogos das terras brasílias, o Sr. M. Said Ali, que a ela se refere, e com
acentos elogiosos:
“Ao Sr. Heráclito Graça devemos uma boa coleção de exemplos, de
grande valor para o estudo da forma — o que. É a contestação cabal a duas
proposições irrefletidamente escritas pelo Sr. C. de Figueiredo... “
Ao repto de não ser o contestante capaz de descobrir ao menos um dos
nossos mestres que haja escrito — o que fazes tu? — responde o Sr. Heráclito
com uns 8 a 10 exemplos de Herculano, uns 80 de Castilho, (o mestre dos
mestres na frase de Rui Barbosa) e 40 ou mais de Garret”.
Sobre o professor C. de Figueiredo sentenceia Said Ali:
“Muito vale o recurso banal do “deslise”, do doutrinante em apuros. Só
este é quem para dizer heresias não cochila nunca. Vamos a ver como se
aprende a separar o bom do ruim. O Sr. Figueiredo quando joeira procede
deste modo: esconde o trigo bem escondido e mete o joio na ciranda.
Ele fala de certa lista de apóstolos, põe em evidência os nomes dos
piores e espraia-se em considerações sobre a linguagem de um deles, que é, ao
que parece, o Judas Iscariotes da companhia... E o que se vai ver é o Sr.
Figueiredo, e não o Sr. Graça, evidentemente equivocado... O Sr. Cândido de
Figueiredo não é filólogo; escreve por palpite, e não lê autores senão por alto”.
(M. Said Ali, “Dificuldades da Língua Portuguesa”, págs. 16, 24, 25 e 76).
Vale por sentença de última instância essa opinião do emérito julgador
filólogo, que faz justiça ao filho do Ceará.
O Dr. Heráclito iniciou, quando acadêmico de direito no Recife, sua
vida literária. Era então o poeta, o sonhador fecundo e apreciado. “Domado
dos anos e das decepções da vida” depois de longa e penosa jornada pelos
meandros da política, da advocacia, do jornalismo e das letras desempenhou o
cargo merecido e que soube honrar, de consultor jurídico do Ministério das
Relações Exteriores, posto a que foi chamado pelo seu devotado amigo da
mocidade, o chanceler Barão do Rio Branco.
Colaborador da “Revista Jurídica” e correspondente do “Jornal do
Comércio” quando no Maranhão, escreveu muitas memórias críticas sobre
literatura e assuntos jurídicos.
Trabalhou um léxico sobre a 2ª edição do de Morais que infelizmente,
não publicou. Colecionou cerca de 15 mil vocábulos estranhos à linguagem
corrente da época. Parece que com o incêndio com que o sábio perdeu toda a
sua biblioteca, os seus pósteros perdemos também obras de valor de sua
inteligência vigorosa e privilegiada.
Heráclito de Alencastro Pereira da Graça faleceu aos 78 anos de idade
na capital da República, a 16 de abril de 1914, deixando o rastro luminoso de
sua operosidade intelectual de norte a sul do Brasil.
Mas a vida não é o protoplasma nem a morte significa aniquila-mento.
Heráclito Graça desapareceu do cenário terrestre, porém não dos anais das
letras brasileiras, nem do coração dos intelectuais seus conterrâneos. “Só
morrem de todo aqueles que não deixam na terra um coração onde viva sua
memória querida”, dizia o grande Camilo. E Heráclito, além de corações,
deixou inteligências — a ampla seara de sua atividade frutífera.
Saiba o Ceará sempre honrar a memória do filho insigne que dignificou
suas tradições, escalando a montanha da vida, por desertos áridos, vales
sombrios, estradas ermas, rochedos escarpados, mas altaneiro, invicto, e
colheu no ápice da colina a flor azul da imortalidade.
(Do discurso de recepção na Academia Cearense de Letras)
Os que Sofrem Agradecem
As águas, rompendo as grades da cadeia da barragem de
Ovos, se transformaram em flagelo, precipitando-se, em
louca catadupa, no médio e baixo Jaguaribe, fazendo
milhares de vítimas, e criando a mais gritante calamidade
das que tenho testemunhado durante os meus 45 anos de
ministério no Ceará. Calamidade pior que as secas em certos
aspectos. Os que acudiram em socorro das vítimas do flagelo
merecem destas a gratidão, e a gratidão dos que falaram por
elas.
O cearense é o forte que sofre. Sofre o flagelo das secas e sofre a
calamidade das águas.
Eis um exemplo do cearense que sofre:
Um homem entra no meu escritório, pés descalços, sem chapéu, com
aspecto de quem sofre, e conta-me a sua história de vítima do arrombamento
de Orós.
— “Eu conheço o Senhor. Eu sou crente da Igreja de Russas. O senhor
pregou lá muitas vezes. Moro no Sítio Melancias. Sou agricultor. Tinha uma
boa cultura de bananeiras. O Banco do Brasil tinha-me financiado com Cr$
50.000,00 para a minha lavoura. Perdi tudo. A água levou minha casa e tudo.
E começou a chorar.
— “Vim para Fortaleza com minha mulher e 4 filhos, sem nada.
Agora a mulher teve 2 meninas. Quero voltar para a minha lavoura. Quero
plantar de novo e fazer a minha casa e as cercas que o rio levou. Mas não
tenho nem a passagem. Felizmente o Governo mandou o Banco do Brasil
cancelar a minha dívida de Cr$ 50.000,00”.
E o homem entrecortava as suas palavras com soluços.
Que dolorosa situação! E esta situação, e semelhantes, foi de milhares
dos habitantes da zona jaguaribana — das 9 cidades com os seus 200 mil
habitantes, que foram vítimas das enchentes do Rio Jaguaribe.
Aí está só um exemplo do cearense que sofre — das vítimas que os
irmãos, igrejas e entidades do sul socorreram com as suas ofertas generosas.
A esses irmãos, igrejas e entidades, cujos nomes Deus os conhece, que
socorreram as vítimas do arrombamento de Orós:
— OS QUE SOFREM AGRADECEM.
— A COMISSÃO DAS IG. EVANGÉLICAS DE FORTALEZA
AGRADECE.
Sim, a vós que com uma contribuição de mais de 450 volumes de
roupas e calçados, medicamentos, leite e carne, e com Cr$ 1.191.281,00 para a
aquisição de gêneros de alimentação, nos habilitastes a socorrer mais de 6 mil
vítimas do flagelo das águas; a vós que, destarte, viestes pregar, no Ceará, o
evangelho do amor ao próximo, da fraternidade cristã, da solidariedade
humana — o evangelho das boas obras, fruto da fé e do amor de Deus:
— OS QUE SOFREM AGRADECEM.
— A COMISSÃO DAS IG. EVANGÉLICAS DE FORTALEZA
AGRADECE.
Ao Presidente e ao Secretário Executivo do Supremo Concilio da
Igreja Presbiteriana do Brasil; ao Secretário Executivo do Serviço Social da
Confederação Evangélica do Brasil; à sua Delegação do Recife, que
prontamente atenderam ao nosso SOS:
— OS QUE SOFREM AGRADECEM.
— A COMISSÃO DAS IG. EVANGÉLICAS DE FORTALEZA
AGRADECE.
À Igreja Presbiteriana Unida que liderou o movimento em S. Paulo,
pela presteza, volume e qualidade de sua contribuição; às senhoras das igrejas
evangélicas de Fortaleza, que fizeram sua valiosa contribuição
confeccionando roupas para os nus; aos pastores e oficiais das subcomissões,
que distribuíram os recursos obtidos no ambiente do flagelo:
— OS QUE SOFREM AGRADECEM.
— A COMISSÃO DAS IG. EVANGÉLICAS DE FORTALEZA
AGRADECE.
Ao Rev. Odilon de Oliveira — sua visita, contribuição e mensagens
radiofônicas dirigidas aos que sofrem; ao Rev. John Nasstrom, do Serviço
Social da Confederação Evangélica — sua visita e cooperação; a todos e por
tudo quanto realizaram a favor das vítimas das águas do Jaguaribe, servindo
por amor a Cristo Senhor; a todos vós cujos nomes se encontram nos
assentamentos de Deus, pela fé e pelas obras: —
— OS QUE SOFREM AGRADECEM.
— A COMISSÃO DAS IG. EVANGÉLICAS DE FORTALEZA
AGRADECE.
Notas de Viagem
Fortaleza ainda dormia quando o Cliper N. C. 34925 decolou no
Aeroporto de Pici, rumo ao Norte, destino a Miami, no dia 18 de Junho.
Das 24 confortáveis poltronas somente 15 ocupadas. Entre os
passageiros mais 2 brasileiros: o major aviador Adamastor B. Cantalice e a
senhorita Maria José Monteiro Lobato Galvão de São Martinho cujo nome me
pareceu simbolizar a grandeza do Brasil. Ambos se destinavam a Washington,
a serviço de nossa Aeronáutica, ótimos companheiros.
O último abraço brasileiro não foi o dos queridos e amigos que mo
levaram ao aeroporto de Fortaleza: foi o do Dr. Teixeira Gueiros e de um
grupo de amigos que encontrei no aeroporto de Belém.
Às dez horas, zarpávamos do último aeroporto do Brasil, voando
algum tempo sobre as águas pardacentas e as verdes matas do colossal
Amazonas.
Caiena foi o primeiro porto estrangeiro. Escalamos também pelas
outras Guianas. O pernoite foi em Port of Spain, Trinidad, no “Queen’s Park
Hotel” e me custou seis dólares e dez centavos, ou sejam 122 mil réis em
moeda brasileira.
A ilha de Trinidad foi descoberta por Colombo em 1498. Pelo tratado
de Amien passou da Espanha para a Inglaterra em 1802. Tem cerca de 500 mil
habitantes. A capital tem cerca de 80 mil, sendo 90% de pretos. Os hindus que
em certo tempo imigraram na ilha vivem na Coolie Town, com seu templo
próprio, costumes e religião separados dos brancos.
O lago de Asfalto, a grande Savana, são outros pontos de maior
interesse para o visitante curioso.
A cidade estava em festa pelo aniversário do Rei Jorge VI.
Apesar do calor, a noite em Port of Spain passou rápida.
No dia 19, escalamos por Santa Lúcia, Antigua, San Juan. Trujilo, Port
of Prince e Camacuey.
O meu relógio marcava 6 horas, mas o sol estava a duas braças do
horizonte visual. Miami já se avistava. Às 8 horas, ou seja, às 20, o médico
nos metia o termômetro na boca, para o exame de saúde, antes de pisarmos a
terra de Tio Sam. Por aqui tudo se processa com rapidez. Ninguém se
prejudica perdendo tempo. Mesmo eu que tive de pagar 22 dólares e 85
centavos de imposto sobre uns objetos que levava para minha filha Heline que
estuda no Mary Baldwin College; e que tive de pagar 8 dólares ao Serviço de
Imigração, pois que me destinava a demorar no país mais de 60 dias — às 21
horas já me achava instalado no quarto 612 do Cortez Hotel, onde o calor não
me permitiu dormir à noite.
Miami é a cidade das praias de banho e do turismo nacional e mesmo
dos países latinos mais próximos.
Depois de 2 dias na bela Miami onde visitei Miss Frances Barber, no
Banco Nacional de Flórida, a quem fui apresentado pelo meu amigo Keneth
Muller, de Fortaleza, viajei de “Bus” como hóspede de Mr. Edward Kraft.
Visitei as explorações de rutilo de “Foot Mineral Co.”, em Viro Reach e
Melourne.
No dia 23, às 3 horas da madrugada eu batia ao Hotel Hueger,
Richmond, Virgínia.
— Não temos cômodo, diz o Mr. Manager.
— Acabo de chegar de trem. Estive há 4 anos neste Hotel. Hoje tudo
mudado.
— You?
— Sim, Senhor.
Uma pausa — O Senhor pode me dizer onde fica a Associação Cristã
de Moços?
O homem falou mas eu não entendi o Inglês que saía com as
fumaçadas do cachimbo. E depois: “Wait a minute, I’ve had a bed fixed up
for you”.
Isto eu entendi e fiquei contente.
Fui para a cama, mas não dormi. A minha filha, uma das razões da
minha viagem, estava na mesma cidade que agora me hospedava, e eu
prelibava a satisfação do encontro pela manhã.
No elétrico que me conduziu à capital do Estado de Virgínia, encontrei
um marujo que falou muito amigo e muito alegre:
— O Senhor do Brasil?
— Yes.
— Brasilian?
— Yes.
— Também já estive lá, gosto muito do Brasil.
— Quando o Senhor esteve no Brasil?
— Em 1939. Gostei muito.
— Em que parte do Brasil o Senhor esteve?
— I was in Buenos Ayres...
Eu ri e expliquei, e me lembrei de certo autor inglês, que escreveu uma
novela, criou um herói e mandou para o Rio de Janeiro “to learn Spanish”.
Viajando-se por estas paragens, chega-se à evidência que o Brasil para
muita gente ainda não foi descoberto. É a terra “ignota”. A Pequena ilha que
Cabral pensou haver descoberto...
Felizmente, porém, já podemos descortinar em futuro próximo um
campo mais iluminado no panorama das realidades brasileiras. Além da
propaganda da nossa embaixada em Washington, do Bureau de New York, e
dos consulados nos principais Estados, há a do intercâmbio comercial direto e
cultural mais acentuado cada dia.
Estou hoje em Farmville e acompanho a série de interessantes palestras
no auditórium do “State Teachers College> orientadas pelo “Institute For
International Understanding Latin América”. Entre os conferencistas destaca-
se o Prof. Henry P. Jordan, da New York University, e Miss Florence Arquin,
do departamento de Educação.
O Prof. Jordan que é sem favor uma honrosa expressão da cultura
Americana e professor de Ciência Política da Universidade de New York me
fez interessantes perguntas sobre o Brasil, do ponto de vista econômico e
cultural.
No dia 26 tivemos um fraternal almoço no “Rotary Club” da cidade.
Farmville é uma pequena cidade de Virgínia distando 70 milhas da capital do
Estado, com cerca de 15 mil habitantes, inclusive 45% de “colorados”. Vive
da agricultura e da pecuária, possui 3 bancos o que é um índice da sua riqueza.
Há em Farmville dois colégios, sendo um para moças, com
capacidade para 900 alunas e outro para rapazes. Há duas “High-Schools”
uma das quais para “Colorados” e 2 “Grade Schools”, ou escolas primárias
com um curso de 8 anos. Isto dá uma idéia do que é a instrução neste país.
Para uma população de 15 mil habitantes, seis estabelecimentos de ensino do
Estado.
Há 11 igrejas na cidade sendo 4 para “colorados”. Há dois cinemas os
quais são pouco freqüentados aos domingos.
Farmville é notável do ponto de vista histórico. Aqui passou o General
Robert Lee em 1865, seguido pelo General Grant. Ambos pernoitaram no
“Prince Edward Hotel” e ironia do destino, dormiram na mesma cama um
após o outro. Esta cama histórica está aqui a cem metros, à rua São Jorge, e
pertence ao casal I. R. Booker. Mr. Booker a conserva como uma relíquia
deixada por seu progenitor, o coronel Richard Booker, do 3º regimento de
Virgínia na guerra civil. Foi importada de Florença, Itália, com outra mobília
que ainda está em uso.
Por gentileza de Mrs. Booker tive o privilégio de me deitar nesta cama
tradicional que revive a memória dos dois grandes generais da guerra entre os
Estados.
Appomatox dista 35 milhas. Lá está a casa velha em ruína onde Lee
estacionou com seu Estado Maior. A “Old Tavern” onde se hospedaram então
os viajantes. A cadeia. Um monumento erigido pelos filhos dos Confederados
no local da antiga “Court House”. As ruínas da casa de Mc Lean, onde o
General com 9 mil homens cercados pelos 118 mil de Grant, assinou a final
rendição, de 9 de Abril. Conserva-se ali na velha Appomatox um escritório de
Informações com farta e copiosa literatura.
Há uma verba de 100 mil dólares votada pelo Congresso para a
restauração dos edifícios do famoso campo de batalha.
Este povo que até bem pouco não revelava interesse pelo Brasil, —
faça-se justiça — sabe escrever sua história e guardar sua tradição. Mr. R. D.
Wilson, meu hospedeiro em Farmville me proporcionou um dia alegre,
levando-me no seu Chevrolet de 16 anos para ver de perto o local de batalha
dos confederados que em espírito, nunca foram derrotados. Mrs. Wilson, Miss
Martha Alice e a Senhorita Heline Cortez completaram a alegre companhia e a
lotação do Chevrolet.
Mas Farmville é para mim mais do que um índice de tradição da
riqueza econômica e do elevado grau de educação dos Americanos do Norte:
Farmville é a cidade dos Henderlites. O nosso querido mestre de Bíblia aqui
está aos 82 anos e ainda faz a barba diariamente e se veste cedo pela manhã,
como quando se preparava para nos dar uma aula de Teologia no incipiente
seminário de Garanhuns, há 36 anos. A santa d. Martha, aos seus 79 anos
ainda prepara o “breakfast”, o “lunch” e a “supper” para o seu bem querido
“Baby” mais velho e companheiro da existência, e recorda aquela estimada
mãe dos estudantes de Garanhuns. Rachel é hoje a Mrs. R. D. Wilson com um
casal de lindos jovens, e é a bondade e doçura personificadas Martha é hoje
Mrs. R. W. Plunkett, com dois interessantes filhos. Robert também casou.
Toda esta gente querida me tem prendido a Farmville por 14 dias.
No domingo passado preguei aqui na Igreja Presbiteriana a convite do
pastor Philip Roberts. Entre os meus ouvintes lá estava o meu velho mestre de
Teologia. Eu me lembrei do primeiro dia que ele me botou no púlpito da
Igreja de Garanhuns...
Sigo hoje para Princeton, New Jersey, para aproveitar dez dias de
conferência do “Institute of Theology” no Seminário junto à Universidade. Lá
encontrarei 300 líderes do Protestantismo americano. Lá me espera o Dr.
Samuel Rizzo.
Pioneiros do Norte
O Presbiterianismo se estabeleceu no Brasil obedecendo a um sábio
planejamento traçado pelas Juntas Missionárias de Nova York e de Nashville.
Foi levada em conta, principalmente, a grandeza territorial do país.
Rio de Janeiro e S. Paulo serviram de setor básico da expansão no sul.
Bahia e Pernambuco complementaram a estratégia missionária para as
operações do Norte e Nordeste.
Os mensageiros da Boa Nova embora separados, no Brasil, por grandes
distâncias, estariam unidos pela mesma fé, pela mesma esperança e pelo
mesmo ideal de salvar almas, e de estabelecer a Igreja Presbiteriana do Brasil.
Os pioneiros da Cruzada hoje vitoriosa devem ser lembrados e
homenageados neste “ano de gratidão” e do Centenário da sementeira inicial.
“As suas obras os seguem”. A Deus a nossa gratidão pelo século
decorrido de bênçãos. Aos pioneiros, à sua memória a nossa reconhecida
homenagem pela obra que realizaram, a despeito das condições adversas que
tiveram de enfrentar.
O GRANDE PIONEIRO
O Dr. John Rockwell Smith foi o grande pioneiro do Presbiterianismo
no Nordeste do Brasil. Pernambuco e Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas
constituíram o seu primeiro campo de ação, sendo Recife o seu quartel
general.
O Dr. Smith chegou ao Recife a 15 de janeiro de 1873. Vinha de
Kentucky, Estados Unidos da América do Norte. Era graduado da
Universidade de Virgínia, e do Union Theological Seminary de Richmond.
Moço, contava 30 anos. Solteiro, era forte no corpo como vigorosa sua fé.
Mentalidade de evangelista, vocação de embaixador de Deus. Visão de profeta
do Altíssimo, disposição de predestinado. Cultura de teólogo, métodos de
professor.
Com esses dotes de espírito e de inteligência, teria de ser mesmo o
organizador das primeiras igrejas; do primeiro Presbitério; da primeira Junta
de Missões; do primeiro Seminário, e da primeira imprensa presbiteriana do
Nordeste e Norte do Brasil.
O ambiente intelectual de Pernambuco estava, de certo modo,
preparado para a sementeira da Boa Nova. O Gal. Abreu e Lima fizera, havia
pouco, uma brilhante apologia da Bíblia e do Cristianismo apostólico, em
polêmica com Monsenhor Pinto de Campos, pela imprensa. Feria-se a batalha
da questão religiosa capitaneada por Frei Vital. Saldanha Marinho golpeava o
ultramontanismo. Os Congregacionais já haviam iniciado a sementeira da
Bíblia.
No fim de 7 meses de aprendizado da língua dos brasileiros, o dr;
Smith já podia pregar. Começou a sementeira.
A 12 de agosto de 1873, eram recebidos por batismo e profissão de fé
os primeiros conversos, em número de 12. Entre esses 12 apóstolos de nova
vocação, 3 alcançaram, mais tarde, o ministério da Palavra. A 11 de agosto de
1878, foi organizada a Igreja Presbiteriana do Recife.
Para defesa da Causa e doutrinação dos fiéis, o grande missionário fez
circular um jornal, em 1875 — “Salvação de Graça” — o primeiro órgão de
imprensa do Presbiterianismo do Norte.
Os reforços missionários que chegavam eram insuficientes. O Dr.
Smith criou um curso teológico e preparou 5 ministros: Belmiro de Araújo
César, José Francisco Primênio e João Batista Lima. Estes 3 foram ordenados
em 1887. Seguiram-se mais 2 ordenados em 1889: o Rev. Juventino Marinho
e o Rev. W. C. Porter.
The North Brazil Presbyterian Mission foi organizada em 1884, com
os missionários Smith, Porter, Joseph Gauss, De Lacy Wardlaw e George W.
Butler.
O Dr. Smith residiu no Recife durante dezenove anos de sua preciosa
existência. Evangelizou, organizou igrejas e congregações, ensinou Teologia e
preparou ministros. Fez excursões a outros Estados. Lançou a semente do
Seminário Presbiteriano do Norte. Deixou o Recife em 1892, por
determinação do Sínodo do Brasil, para ensinar no Seminário do Sul, em
Nova Friburgo.
Glorifiquemos sua memória, à vista da obra que realizou.
A EXPANSÃO PRESBITERIANA
De Recife a obra presbiteriana irradiou para Alagoas, Paraíba, Rio
Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Piauí, Pará e Amazonas. Em 1904, havia
Igrejas organizadas em todas as capitais desses Estados, e algumas pelo
interior. Muitas congregações floresciam. Cinco jornais haviam sido postos
em circulação, se bem que quase todos de existência efêmera. Da. Catarina
Porter tinha fundado em Natal a Escola Evangélica. Outra Escola de igual tipo
era ensaiada em Fortaleza. O Rev. Martinho de Oliveira fundara em
Garanhuns uma Escola Paroquial que veio a ser continuada pelo Colégio 15 de
Novembro. Miss Elisa Reed fundara no Recife o Colégio Americano
Evangélico. O Dr. George Butler, o Rev. Martinho de Oliveira e o Dr. George
Henderlite já haviam ressuscitado em Garanhuns o Seminário que nascera no
Recife, e que morrera com a retirada do Dr. Rockwell Smith para o Sul.
Os Missionários cedo compreenderam a vantagem do emprego de
obreiros leigos nos seus campos. Nada menos de 12 desses consagrados
servos do Senhor encontramos operando de Alagoas ao Amazonas, nas
capitais e nas vilas e cidades do interior, dentro das primeiras três décadas da
evangelização desta região brasileira.
Em 1880 a 21 de novembro, organiza-se a segunda Igreja em
Pernambuco, a Igreja de Goiana. Em 1888 a de Monte Alegre. Em 1895,
Garanhuns. Em 1900 a de Canhotinho. Em 1887 a de Mossoró.
Mas, antes se deu a penetração na Paraíba. Em 1879, o Dr. Smith
realizou conferência no Teatro Santa Cruz, capital do Estado. A 19 de
dezembro de 1884, era organizada a Igreja Presbiteriana ali, da qual o Sr.
Minervino Lins foi o primeiro presbítero, tendo também sido um dos
primeiros convertidos.
O obreiro Francisco Pontes sofreu cruel perseguição na Paraíba. Sua
esposa morreu mártir. Recebera uma pedrada por ocasião de um culto,
enlouqueceu, e, em conseqüência, veio a falecer.
O Rev. Belmiro César foi o primeiro pastor brasileiro da Igreja da
Paraíba. O missionário Rev. George Henderlite o substituiu em 1893.
O pioneiro de Pernambuco e da Paraíba o foi igualmente de Alagoas.
Em 1874 o grande missionário pregou em Maceió, onde foi organizada a
quinta Igreja do setor de Pernambuco, em 1887, tendo sido a de Pão de
Açúcar, no mesmo Estado organizada dois meses antes.
Os missionários Revs. J. Boyle, Le Comte, e J. Henry Gauss,
cooperaram com o Dr. Smith na região de Recife e Alagoas. Assim também
os leigos Manuel Viana, Alexandre Gama e Filadélfio Pontes. O Rev. Gauss
fundou, em 1885, em Maceió, o “O Evangelista”, o segundo órgão da
imprensa presbiteriana no Norte do Brasil.
O missionário W. Calvin Porter é considerado o pioneiro do
Presbiterianismo no Rio Grande do Norte. O Rev. Porter se fixou em Natal em
1885. Batizou no mesmo ano 85 adultos e 18 menores. A Igreja de Natal foi
organizada a 3 de fevereiro de 1896, e a 6 de setembro do mesmo ano
inaugurou o seu templo.
Antes de o Rev. Porter se estabelecer em Natal, ali estiveram, em
visita, vários obreiros leigos do comando do Dr. Smith, assim como os Revs.
Belmiro César e De Lacy Wardlaw.
O paralítico Antônio Eustáquio foi o primeiro convertido em Natal.
O prof. Joaquim Lourival fez publicar em 1893 um jornal em Natal, o
“O Pastor”, terceira folha presbiteriana do Norte.
O Rev. Porter serviu à Igreja Presbiteriana do Rio Grande do Norte
durante 18 anos dos seus 44 de missionário no Brasil.
O Rev. Smith visitou Fortaleza em 1875. Pregou em inglês à colônia
inglesa. Em 1881 mandou para Fortaleza o obreiro leigo João Mendes Pereira
Guerra. O primeiro converso em terras cearenses foi o Sr. José Damião de
Souza Melo, de nacionalidade portuguesa.
Mas o pioneiro do presbiterianismo no Ceará foi o missionário Rev.
De Lacy Wardlaw que aportou a Fortaleza a 27 de setembro de 1882.
A 8 de julho de 1883 batizava os 13 primeiros convertidos ao
Evangelho na terra de José de Alencar.
A Igreja de Fortaleza foi organizada a 6 de agosto de 1890. A 12 de
outubro de 1898 lançava a pedra fundamental do seu templo à rua Conde
D’Eu, 804.
O Dr. Smith visitou S. Luiz do Maranhão em 1875. Três anos depois
pregou ali o Rev. A. L. Blackford. O Rev. Wardlaw em 1882. Filadélfio
Pontes e João Mendes Pereira Guerra fizeram, a esse tempo, farta sementeira
do Evangelho na capital maranhense.
Mas o pioneiro do presbiterianismo no Maranhão foi o Rev. Dr.
George W. Butler que se fixou em S. Luiz em 1885.
O Dr. Butler teve logo em S. Luiz bons cooperadores na pessoa do Sr.
Henry Airlie, cônsul inglês, e do Sr. Jerônimo Tavares, cônsul português. O
Dr. Paulo Duarte, primeiro governador do Estado, proclamada que foi a
República. A esposa do Dr. Paulo era membro professo. O Sr. Thomas
MacDonald, mecânico escocês. Estas quatro famílias constituíram o pedestal
do Presbiterianismo no Maranhão.
A Igreja de S. Luiz foi organizada em 1886, e no mesmo ano
construído e inaugurado o templo da Praça da Alegria.
O Dr. Butler levou logo a pregação do evangelho ao interior do
Estado, e à capital do Piauí. Em 1887 realizou pregações na cidade de
Terezina.
O Rev. W. M. Thompson chegou a S. Luiz do Maranhão em 1890 e
foi operoso auxiliar do Dr. Butler no Maranhão e no Piauí. A Igreja de Caxias
foi organizada a 22 de setembro de 1895. O Rev. Otávio Costa foi o primeiro
pastor nacional na Igreja de Caxias.
O Rev. C. Womeldorf também trabalhou no Estado do Maranhão,
residindo em São Luiz.
A semente do Presbiterianismo foi levada para Belém do Pará por
emigrados do Nordeste. Entre estes, Pedro Costa, Júlio Rabelo e Eduardo
Reis. O Rev. C. Womeldorf visitou Belém em 1891. Também esteve em
Belém o Rev. Blackford, e os leigos João Mendes Pereira Guerra e Filadélfio
Pontes.
A Igreja foi organizada a 9 de novembro de 1904. O Rev. Thompson
substituiu o Rev. Womeldorf no pastorado de Belém em 1905. O primeiro
Pastor nacional da Igreja de Belém foi o Rev. Antônio Carvalho da Silva
Gueiros.
Os Revs. Womeldorf e Thompson fazem jus ao título de pioneiros do
Presbiterianismo em Belém do Pará.
A Igreja Presbiteriana de Manaus foi organizada a 18 de novembro de
1904 pelos Revs. Thompson e Lourenço de Barros. Este ministro foi o seu
primeiro pastor.
A sementeira do presbiterianismo, porém, já se fazia em Manaus desde
1898. Circulou em Manaus o 4º órgão pioneiro da imprensa presbiteriana do
Norte: “O Evolucionista”, depois denominado o “Arauto”. Teve como
redatores os Revs. Lourenço de Barros e Emílio Kerr. O Rev. Thompson
superintendeu todo o campo do extremo Norte, até 1909.
PIONEIROS DA CULTURA TEOLÓGICA
A lacuna deixada pelo Dr. Smith foi preenchida pelo Dr. George W.
Butler, que já trabalhava no Maranhão desde 1885. O Dr. Butler demorou algum
tempo no Recife. Construiu a Igreja da Praça Joaquim Nabuco. Deixou depois o
Rev. Juventino Marinho no encargo do pastorado e se deslocou para Garanhuns.
Em meio a cruéis perseguições, em perigo de vida, lançou o abnegado
homem de Deus a semente da Palavra, em Garanhuns. O Senhor o defendeu e
abençoou, de modo que, em 1895, a congregação de Garanhuns contava 15
comungantes.
O Rev. Martinho de Oliveira foi chamado a cooperar com o Dr. Butler em
Garanhuns e foi o segundo pastor da Igreja. Dotado de muita fé e grande
dinamismo construiu o primeiro templo da Igreja de Garanhuns e instalou uma
escola para os filhos dos crentes, tarefa que foi mais tarde continuada pelo
Colégio 15 de Novembro. O Rev. Martinho de Oliveira foi o pioneiro da
instrução presbiteriana na cidade de Garanhuns.
Com a cooperação do Rev. Martinho, recomeçou o Dr. Butler em
Garanhuns, a Escola de Teologia, da qual fora o Dr. Smith precursor em Recife.
O jovem Jerônimo Gueiros foi o primeiro aluno do incipiente Seminário de
Garanhuns.
O Dr. George E. Henderlite chegara dos Estados Unidos à Paraíba em
1893, assumindo o pastorado da Igreja da capital. O Dr. Henderlite, professor e
teólogo de vocação acentuada, manteve um curso de teologia na Paraíba, ao
mesmo tempo que pastoreava a Igreja. Participaram desse curso Manuel Machado
e, ao que parece, Martinho de Oliveira, e Alfredo Guimarães. Estes 2 últimos
foram ordenados na Paraíba pelo Presbitério de Pernambuco, em 1896. O
candidato Manuel Machado foi consagrado em 1900.
Na providência de Deus, o Dr. Henderlite seria o varão predestinado para
continuar, em Garanhuns, o Seminário do Norte, que o Dr. Smith havia ensaiado
no Recife.
O Dr. Henderlite se transferiu para Garanhuns onde já operavam o Dr.
Butler e o Rev. Martinho, para ensinar no Seminário. Agora, com 2 missionários e
um ministro nacional à frente, o Seminário do Norte deveria tomar forma
definitiva. Sofreu, porém, profundo golpe, em 1903. O Rev. Martinho de Oliveira
teve morte prematura. O Seminário de Garanhuns foi golpeado. Nessa altura dos
acontecimentos, o Dr. Henderlite teria pregado um sermão na Igreja de Garanhuns
que se tornou memorável, destacando-se estas palavras de resolução e de fé:
“Martinho de Oliveira morreu, mas o Seminário não morreu”. E não morreu
mesmo.
O Dr. Henderlite passou a ser a alma do Seminário. Dentro do curto prazo
de pouco mais de meia dúzia de anos apresentou ao Presbitério de Pernambuco,
para licenciatura ou ordenação, mais de meia dúzia de obreiros, que passaram a
servir várias regiões do campo nortista.
O Dr. Henderlite cercou-se de cooperadores: o prof. Soriano Furtado; o
Rev. Jerônimo Gueiros; o Rev. W. M. Thompson e Da. Cecília Siqueira, diretora
e exímia professora do Colégio 15 de Novembro.
Sede do Seminário por cerca de 20 anos, Garanhuns se tornou o centro de
irradiação das forças presbiterianas. A Antioquia do Presbiterianismo do Norte.
O Dr. Butler passara a residir em Canhotinho onde firmou o seu quartel
general como médico e missionário. Ali organizou a Igreja, a 21 de janeiro de
1900, da qual foi o primeiro pastor.
O Colégio Agnes Erskine foi fundado no Recife, em 1904. Miss Eliza
Reed, pioneira da Escola Presbiteriana em Natal, como da. Catarina Porter, foi
também a pioneira dessa obra do Recife e sua primeira diretora.
O Seminário do Norte, o Colégio 15 de Novembro e o Agnes Erskine têm
sido por mais de meio século os bastiões do Presbiterianismo no Nordeste e Norte
do Brasil, instruindo e educando a mocidade da Igreja e da Pátria, e preparando os
ministros da Palavra.
Entre os pioneiros dessa obra de fé e consagração a Cristo e a
humanidade avultam estes mestres da cultura teológica: Rev. Dr. John
Rockwell Smith, Rev. Dr. George E. Henderlite, Rev. Dr. George W. Butler e
Rev. Martinho de Oliveira.
Os nomes desses servos do Senhor devem ser associados ao Seminário
Presbiteriano do Norte nas festas centenárias da Igreja Presbiteriana do Brasil.
Resumindo:
Grandes pioneiros: Smith e Butler; Wardlaw e Henderlite; Porter e
Thompson.
Ministros nacionais pioneiros: Belmiro e Primênio; João Batista e
Juventino; Martinho de Oliveira, Alfredo Guimarães e Manuel Machado.
Primícias do Seminário de Garanhuns: Jerônimo e Antônio Gueiros;
Benjamim Marinho e Alfredo Ferreira; Lourenço de Barros e Cícero Barbosa;
Mota Sobrinho e Antônio Almeida.
Leigos pioneiros: João Mendes Pereira Guerra e Minervino Lins,
Francisco Filadélfio de Sousa Pontes e Manuel Viana; Silvino de Oliveira Neves
e Florêncio da Gama; Jerônimo de Oliveira e Vera Cruz; Raimundo Honório e
Manuel do Rego; Félix Abreu e Raimundo Ferreira.
Imprensa pioneira: Salvação de Graça, 1875, Recife; O Evangelista, 1885,
Maceió; O Pastor, 1893, Natal; O Evolucionista, 1894, Manaus; O Século, 1895,
Natal; Norte Evangélico, 1909, Garanhuns.
Igrejas pioneiras: Recife, 1878, Goiana, 1880; Paraíba, 1884. S. Luiz,
1886, Mossoró, 1887, Pão de Açúcar, 1887, Maceió, 1887; Monte Alegre, 1888;
Fortaleza, 1890; Garanhuns, 1895; Caxias, 1895; Natal, 1896; Canhotinho, 1900;
Belém, 1904. Manaus, 1904.
Concluindo:
Presbiterianos do Brasil:
Acompanhai a Igreja Presbiteriana em sua avançada para a glória. Trilhai
a estrada desbravada por esses heróis da fé, que foram pioneiros. Avançai! Segui
o seu exemplo. Homenageai a sua memória! Repeti os seus feitos de bravura e de
fé! Eles vos legaram um patrimônio de honra e de coragem, de dignidade e de
trabalho, de consagração e de fé. Herdeiros desse patrimônio espiritual, fazei-vos
dignos dele na expansão do Presbiterianismo no Brasil. Deste Presbiterianismo da
Bíblia Sagrada, e da Confissão de Westminster, deste Presbiterianismo em
marcha no Brasil, de Norte a Sul.
Os pioneiros venceram a primeira batalha, a mais árdua e mais difícil.
Resta-vos ganhar a guerra já agora à sombra da democracia e da liberdade de
palavra e de ação, e com as facilidades da presente civilização que abre estradas,
constrói pontes e encurta as distâncias.
Sois embaixadores da Boa Nova. Sois cooperadores de Deus na
edificação da Pátria e da Igreja. I Cor. 3:9.
Relatório Ministerial
Do relatório das atividades ministeriais do Rev. Natanael Cortez ao
seu Presbitério, como Presidente da Executiva do Supremo Concilio,
destacamos os seguintes pontos, por serem de interesse geral de toda a Igreja:
1 — A Igreja Presbiteriana do Brasil está entabolando entendimento
com a Igreja Presbiteriana Independente, no sentido de se unificarem esses
dois ramos do presbiterianismo no Brasil, para maior brilho das
comemorações do centenário em 1959.
2 — O plano de consolidação dos Seminários, Imprensa Oficial e
Casa Editora deve ser apoiado e propagado no seio de todas as Igrejas e
presbitérios, para efeito, além de outras razões, do levantamento da quota de
finanças que compete à Igreja Presbiteriana do Brasil, dentro do plano e
durante a Campanha do Centenário.
3 — O Seminário Presbiteriano do Norte vai ser dotado de instalações
que o capacitam a receber maior número de candidatos ao santo ministério e a
melhor servir às Igrejas. Estas devem ajudá-lo com suas orações e recursos
materiais, e fornecer-lhe candidatos verdadeiramente vocacionados pelo
Espírito Santo.
4 — A Igreja Presbiteriana do Brasil deve manter-se equidistante do
movimento antagônico que se processa fora de sua esfera de ação, entre o
Concilio Mundial de Igrejas e o Concilio Internacional de Igrejas Cristãs, este
orientado pelo Dr. Carl McIntire.
5 — A Constituinte para a reforma da Constituição vai reunir a 5 de
julho próximo em Caratinga, Minas. Conforme entendimento com a Comissão
do Ante-Projeto, o art. refererente às diaconisas será eliminado, de acordo
com o que pleiteia o Sínodo Setentrional. Este deve eleger os seus
representantes.
6 — O Supremo Concílio reunirá, em sessão ordinária, com os
mesmos representantes sinodais, na Igreja de Alto Jequitibá, em seguida ao
encerramento da Constituinte.
7 — O Seminário de Campinas inaugurou os seus novos edifícios,
embora não concluídos, em setembro de 1949. Pode acomodar 100 estudantes.
8 — O Presbitério Ceará-Amazônia está classificado em sexto lugar
na lista de contribuição dos dízimos de suas Igrejas para as Causas Gerais,
contribuição que subiu de Cr$ 20.000,00 o ano passado.
9 — As AA. FF. da Igreja do Sul dos EE. UU. fizeram uma oferta de
Cr$ 10.000,00 para o nosso órgão oficial “O Puritano”.
10 — A Executiva do S. Concilio recomendou um movimento
financeiro especial, em todas as Igrejas, em data e de modalidade a serem
fixadas, para fins de execução do programa da Campanha do Centenário,
tendo prioridade o Plano de Consolidação.
11 — Os Sínodos Setentrional, Minas-Espírito Santo e Meridional
manifestam-se interessados em melhorar a literatura de nossas EE. DD.,
especialmente no que respeita as classes infantis.
Seminário Presbiteriano do Norte,
Campanha dos Leigos
Continua em marcha acelerada, acompanhando o avanço da I.P.B. para
o seu Centenário, a campanha em favor das obras complementares do
Seminário Presbiteriano do Norte, campanha que se distingue por
“Campanhas dos Leigos”, em razão de ter sido aberta com valiosa oferta de
dois irmãos leigos de S. Paulo.
O Rev. Natanael Cortez, membro da diretoria de nossa Casa de
Profetas do Senhor pelo Presbitério Ceará-Amazônia, regressando há pouco
do Sul, dos trabalhos da C.E. do S.C. e do C.I.P., demorou cerca de 10 dias no
Estado do Espírito Santo, campo do Sínodo Minas-Espírito Santo,
precisamente dos Presbitérios de Vitória, Cachoeiro de Itapemirim e Alegre, a
serviço da nossa campanha em marcha.
Visitou as igrejas de Vitória, Santo Antônio, Maruípe e Vila Velha;
Cachoeiro e Guandu; Alegre, Guaçuí, Irupi e Ibitirama.
Juntando-se ao seu filho em Alegre, o Presbítero e candidato ao santo
ministério, Dr. Eldir Cortez, que o acompanhou nas visitas a várias igrejas, e
revendo velhos amigos, disse-nos o Rev. Cortez haver encontrado, por toda
parte abertas as portas das igrejas e os corações dos crentes e pastores, ao
apelo do Norte, reconhecido justo e urgente, para consolidação das bases do
Seminário do Recife, antes ou até o Centenário de 1959.
Com efeito, o Seminário que o Dr. Rockwell Smith ensaiou no Recife
e que o Dr. Butler, Martinho de Oliveira e George Henderlite consolidaram na
alma de todos os presbiterianos do Brasil, pelos elementos fornecidos ao
ministério nacional, durante mais de 70 anos de existência, carece ainda de
consolidação material, para melhor servir à Igreja Presbiteriana do Brasil na
preparação do seu ministério.
A Campanha dos Leigos objetiva duplicar-lhe, pelo menos, os
aposentos para estudantes, além de dotá-lo com duas casas residenciais para
professores e um edifício para administração. A favor dessas obras de
urgência, as igrejas recém visitadas pelo Rev. Cortez subscreveram
compromissos no valor de cerca de Cr$ 80.000,00.
O “Norte Evangélico”, que patrocina a Campanha dos Leigos,
agradece essa valiosa ajuda e a cooperação moral das referidas igrejas do
Sínodo Minas-Espírito Santo e dos seus pastores Revs. Renato Ribeiro, Wellst
Guida, Orlando Sattler e Gedaias Gueiros; Jader Gomes Coelho e Jair
Alvarenga; Francisco Neto, Wilson Lopes, Davi Falcão e Oséas Heckert.
Fazemos extensivos nossos agradecimentos a Da. Zelina Sanchez da
Silva, que se prontificou a levar o eco da nossa Campanha à igreja de Volta
Redonda; e à Srta. Eny Costa voluntária representante da Campanha junto à
Igreja de Santo Antônio (bairro) do Rev. Renato Ribeiro em Vitória.
Ao Rev. Natanael Cortez nossas congratulações pelos frutos de seu
trabalho em prol do nosso Seminário.
A Reforma Agrária
É injusta a justiça que se processa com as armas da
injustiça.
A terra é uma como seara que Deus plantou para o homem cultivar e
se beneficiar com os seus frutos.
Dos oito e meio milhões de quilômetros quadrados de terras do Brasil,
dois e meio milhões pertencem a agricultores, e seis milhões à Nação e aos
Estados.
O Brasil tem cerca de onze milhões de agricultores, e destes, 53% são
proprietários de terras, e só 47% não possuem terras.
As terras do Brasil, em que se explora a agricultura, não excedem de
6% do seu total.
Mais de cem mil proprietários de 5 a 50 Ha. de terras, no Rio Grande
do Sul, vivem em penúria por não auferirem de suas terras o indispensável à
subsistência, razão por que estão se deslocando para Santa Catarina e Paraná,
alienando ou abandonando essas terras que são suas. Falta-lhes assistência.
O cearense, pequeno proprietário, emigra vendendo ou abandonando
suas terras não só em razão das secas, mas, por não poder explorá-las por falta
de ajuda do Poder Público, como se constatou ouvindo-se cerca de cinco mil
nordestinos chegados à Hospedaria de Imigrantes em S. Paulo, em novembro
de 1961.
Esses fatos são constatados pelo Dr. Lourenço Mário Prunes, e outros,
em seu livro “REFORMA AGRÁRIA INTEGRAL”.
Como se pode ver pelo exposto acima, a Nação tem muita terra para
dar a quem não tem.
A REFORMA AGRÁRIA NO CEARÁ
A Reforma Agrária no Ceará deve atender à estrutura da região e à sua
condição ecológica.
O Ceará tem problemas que lhe são peculiares. A Reforma Agrária
deve atender a estas peculiaridades dentro da fronteira do Estado, onde as
grandes secas são mais intermitentes do que nas demais secções do Polígono.
O Ceará não tem rios perenes e é a terra de um dos maiores rios secos
do mundo. Somente uns 30% de seu solo se constitui de terras próprias para a
lavoura. As terras irrigadas a jusante dos seus açudes são apenas cerca de 20
mil Ha., enquanto que o Rio Grande do Sul, que não tem secas, trabalha 300
mil Ha. de terras irrigadas.
O Poder Público deve preocupar-se com o dar água aos agricultores
cearenses, com os seus problemas agrícolas e não apenas com o dar terra.
Leve-se em conta que 70% das terras do Ceará não se prestam para a
lavoura de subsistência humana, nem mesmo com água.
O camponês cearense é um eterno sofredor, não por falta de terra,
precisamente, mas por falta de água e de assistência do poder competente. Ele
prepara o campo para a sementeira, mas não chove e ele não semeia. Semeia,
mas falta a chuva e ele não colhe, e perde o fruto do seu árduo trabalho.
Convenhamos que a Reforma Agrária dê terra ao homem do campo. Mas
quem lhe garantirá a água para a terra beber para ele plantar e colher? Com
este complexo de problemas e proclamadas que são as peculiaridades
regionais do Ceará, a Reforma Agrária neste Estado não terá êxito se
processada em ambiente revolucionário. Nem percebemos no Ceará clima de
oposição à Reforma Agrária. Ao contrário, sentimo-nos dispostos a recebê-la,
em obediência ao princípio de justiça social, líderes do comércio e da indústria
e proprietários de terras, que sabem ressalvados os seus direitos
constitucionais. Reconhecida e proclamada a complexidade de problema da
terra e dos que nela habitam, acreditamos que a Reforma Agrária no Ceará
para alcançar resultado satisfatório deve respeitar direitos adquiridos e
conciliar interesses. Devem ser distribuídas, em primeiro lugar as terras
devolutas do Estado e da Nação. Deve ser processada a reforma dentro do
conceito de boa vontade e de cooperação que congrace o Estado, os
proprietários de terras e os líderes do povo, por isso que a Reforma se
enquadra num plano de justiça social e ao mesmo tempo consulta interesses do
desenvolvimento econômico do Estado, e do homem, assegurando paz e
ordem na sociedade, com uma equitativa distribuição da riqueza e de outros
privilégios da vida.
Reconheça-se a dignidade humana, e que o homem criado livre tem o
direito de procurar viver feliz na seara que Deus plantou e lhe entregou para
cultivar. Mas leve-se em conta, igualmente, que os frutos da injustiça não
devem servir de padrão a quem deseja fazer justiça.
Tem de ver, também, a Reforma Agrária no Ceará com o problema da
escassez de braços para a lavoura, que se agravará quando dos deslocamentos
dos milhares de famílias para as colônias do Mearim, conforme o plano da
Sudene. E tem de ver, igualmente, com as deficiências dos transportes. Para
que semear se não se pode colher? E para que produzir se não se pode
transportar para os mercados consumidores?
O Brasil produz caminhões, mas não tem estradas e importa
combustível. Avançou na indústria antes de produzir o material de base para
subsistência humana.
Vemos o plano diretor da Sudene como um complemento ou associado
da Reforma Agrária no Nordeste. Mas, proporcionará o Governo os recursos
para sua execução?
Os centros urbanos do Nordeste sofrem a crise da super-população, em
conseqüência do abandono do campo pelos agricultores, açoitados e tangidos
pela seca. Gera-se a crise de habitação. A cidade se espraia pelo imperativo da
necessidade. Processam-se os loteamentos especulativos. Cobrem-se de
casebres os chamados cinturões verdes que outrora produziam para abastecer
a população normal. Resultado: Encarecimento da vida, crise do transporte
urbano, fome, doença, miséria, como se vê em Fortaleza no bairro do Pirambu
com os seus 40 mil flagelados famintos e maltrapilhos, que são resíduos das
secas.
A Reforma Agrária pode prevenir esta situação dando condições ao
homem para se fixar no campo onde nasceu.
A Reforma Agrária sugere, também, por justiça, a necessidade da
reforma urbana.
O cearense é o Asverus da lenda. É ave de arribação, emigra e se
distribui por todo o Brasil. Mas não é somente a seca e o não ter terra que o
faz emigrar. Ele emigra porque herdou o espírito aventureiro dos seus
ancestrais. Emigra para experimentar a sensação de novas fruições. Emigra
porque encontra a facilidade do poleiro de um pau de arara que o leva a novas
terras e a novas gentes.
Concluindo:
A Reforma Agrária no Ceará deve dar terra, água e condições ao
homem. Condições mínimas: escola, assistência social, sanitária e técnica,
habitação condigna, utensílios para a lavoura e financiamento fácil, se quer
fixá-lo no campo, e fazê-lo feliz produzindo para ele e para a sociedade, para
o Ceará e para o Brasil. Sem água e sem essas condições essenciais à vida
normal do homem e sua família, a terra somente não basta, não é tudo.
O bem-estar econômico com liberdade e educação são fatores da
felicidade e dignidade do ser humano.
A Reforma que propõe fazer justiça — não deve usar as armas da
injustiça, obedecendo-se este princípio: É INJUSTA A JUSTIÇA QUE SE
PROCESSA COM AS ARMAS DA INJUSTIÇA.
A Igreja Presbiteriana do Recife Celebra o
80º Aniversário de sua Organização
Síntese do sermão histórico do Rev. NATANAEL CORTEZ
na solenidade de 11 de agosto.
INTRODUÇÃO
O pregador começa citando o texto de São Paulo aos Coríntios, 1ª 3:6:
“Eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento”. Comenta e aplica, e
aduz uma palavra de saudação e solidariedade.
É assim, diz ele, na Seara do Senhor. Uns plantam, outros regam. Mas
é Deus quem faz florescer e frutificar a lavoura que o Senhor mesmo cultiva
com o sopro fertilizante da Palavra e do Espírito.
Os pioneiros da cruzada da fé plantaram a Igreja Presbiteriana do
Recife. Plantaram em dias sombrios, em perigo de vida, com soluços e
lágrimas. A semente germinou, e a Igreja cresceu, porque Deus abençoou a
sementeira.
São decorridos 80 anos. E Deus ainda faz prosperar a Igreja
Presbiteriana do Recife, porque vós, irmãos, continuais a plantar a semente da
Palavra de Deus, que os pioneiros vos outorgaram, e a regar a lavoura do
Senhor com fé e consagração.
Nesta data de alegria e ações de graças, eu vos trago a saudação do
Sínodo Setentrional. Eu vos anuncio a palavra oficial de solidariedade, da
Igreja Presbiteriana do Brasil, por vossa firmeza doutrinária, ortodoxia e
fidelidade ao seu governo, disciplina e ordem. E eu me permito distinguir,
neste particular, o vosso dedicado pastor, o Rev. Abelardo Paes Barreto, e o
vosso presbítero, o Dr. Washington Amorim, os eficientes líderes, nas horas
incertas da batalha, como no remanso da paz construtiva que ora vos acalenta.
Prova concreta desta solidariedade é a resolução do Supremo Concilio,
incluindo no seu plano orçamentário a contribuição de três milhões de
cruzeiros para a construção do vosso novo templo. É um presente de
aniversário. Recebei-o simbolicamente.
Segue-se uma prece de ações de graças.
HOMENAGEM AOS PIONEIROS
Presto, valendo-me da oportunidade, diz o pregador, uma homenagem
a três grandes vultos do Presbiterianismo, que serviram a Cristo Jesus, no
setor da Igreja Presbiteriana do Recife, nas primeiras décadas de sua
existência eclesiástica:
a) John R. Smith, o grande pioneiro.
b) George Butler, o construtor.
c) Juventino Marinho, o pastor.
O Dr. Smith chegou ao Recife a 15 de janeiro de 1873. Batizou os
primeiros conversos a 12 de agosto do mesmo ano, em numero de 12.
Organizou a Igreja Presbiteriana do Recife a 11 de agosto de 1878. Foi um dos
organizadores da Missão Presbiteriana do Norte, e do Presbitério de
Pernambuco. Criou um curso de teologia e preparou os 4 primeiros ministros
presbiterianos do Norte, e evangelizou cidades e sertões, levando a palavra da
fé até S. Luiz do Maranhão, até o Estado de Alagoas.
O Dr. George Butler, médico, evangelista e pastor, substituiu o Dr.
Smith na Igreja do Recife. Construiu o templo da rua da Concórdia, ajudando
com as próprias mãos, como havia feito na construção do templo do
Maranhão. As mãos delicadas que sabiam cortar o corpo enfermo dos seus
clientes, também sabiam utilizar a ferramenta do pedreiro e do carpinteiro na
feitura de casas de oração para o povo de Deus.
O Rev. Juventino Marinho foi um dos 4 ministros preparados no
Recife, no âmbito desta Igreja aniversariante, pelo Dr. Smith. Foi ordenado
pelo Presbitério de Pernambuco em 1889. Foi o primeiro pastor nacional da
Igreja Presbiteriana do Recife. Deus o conserva ainda na Igreja Militante —
essa preciosa relíquia do Presbiterianismo do Brasil.
Homenagem, pois, a esses pastores pioneiros da Igreja Presbiteriana do
Recife, nesta data festiva de louvores a Deus.
A EXPANSÃO DO PRESBITERIANISMO NO NORTE
Fala o Rev. Natanael Cortez da como a Igreja Presbiteriana do Recife
se vincula à obra de expansão do Presbiterianismo no Nordeste e Norte do
Brasil:
Na obra de evangelização,
No setor da educação teológica,
No campo da educarão secular.
a) Na obra de Evangelização — Recife serviu de quartel general do
Presbiterianismo no Norte. A Igreja de 11 de agosto foi o escritório dos
planejamentos e preparação espiritual. Irmã mais velha, pode ser honrada
também como a genitora das outras igrejas desta região.
Florescem hoje nos limites do Sínodo Setentrional as seguintes igrejas
que se enquadram no conceito acima:
1) Igreja de João Pessoa, organizada em 1884,
2) São Luis do Maranhão, em 1886,
3) Caxias, em 1895,
4) Fortaleza, em 1890,
5) Natal, em 1895,
6) Garanhuns, em 1895,
7) Canhotinho, em 1900,
Não são as 7 igrejas do Apocalipse, mas são 7 filhas da Igreja do
Recife, da qual receberam os influxos do Evangelho que lhes levaram os
missionários pioneiros, os ministros pioneiros, e os leigos pioneiros, quase
todos preparados no ambiente espiritual da Igreja do Recife. Os leigos eram
precursores, fazendo a distribuição da Bíblia Sagrada. Tiveram papel
destacado, entre outros, Minervino Lins e Filadélfio Pontes; João Mendes
Pereira Guerra e Florêncio da Gama; Jerônimo de Oliveira e Manoel Viana.
Seja bendita sua memória.
Nesta data aniversária, a genitora, qual rainha vitoriosa, é o capitei do
monumento. As filhas ao redor do pedestal lhe atiram pétalas de rosas; e
ornamentam com ramos de oliveira a estrada que lhe resta a percorrer.
b) No setor de educação teológica —
Os primeiros ministros presbiterianos do Norte foram antes membros
da Igreja Presbiteriana do Recife. Tiveram no seio desta Igreja sua formação
moral e espiritual, plasmaram o seu caráter. O pastor da Igreja foi, ao mesmo
tempo, seu mestre de teologia. Esses ministros chamaram-se Belmiro de
Araújo César, José Francisco Primênio, João Batista Lima, e Juventino
Marinho. Nasceu, portanto, no Recife, o Seminário do Norte. A Igreja
Presbiteriana do Recife não só é genitora das 7 igrejas acima referidas, mas o
é também dos 4 ministros citados, e do Seminário Presbiteriano do Norte que
nasceu de suas entranhas e ainda floresce ao seu lado, porque Rockwell Smith
o plantou e “Deus lhe deu o crescimento”.
A Igreja cujo aniversário se comemora neste recinto, é pois, a Igreja
pioneira na expansão do Presbiterianismo no Norte, cooperando, desde sua
organização em 1878, na obra de evangelização, como na formação do
ministério presbiteriano.
Merece, portanto, por mais este título, as homenagens que lhe são
tributadas nesta festa de seu 80º aniversário.
CONCLUSÃO
O Rev. Cortez conclui sua oportuna mensagem com uma exortação e
um apelo.
Prezados irmãos da Igreja Presbiteriana do Recife:
Vós sois a casa edificada sobre a rocha. Os ventos sopraram, as
chuvas caíram, e os rios desceram. Mas não fostes abalados. Sim, estais
alicerçados sobre a Rocha, Jesus Cristo. A Palavra de Deus é a lâmpada do
vosso caminho. Firmai-vos cada dia mais na Rocha dá Salvação, e buscai
mais luz pelo conhecimento da verdade.
Sois lavoura de Deus que os pioneiros plantaram. Crescei, frutificai.
Como Apolo, é vosso dever regar a lavoura de Deus.
Sois edifício de Deus. Os pioneiros lançaram o fundamento. Edificai
sobre ele, o qual é Jesus Cristo. Ninguém pode pôr outro fundamento.
Construí sobre Jesus Cristo a vossa vida, a vossa fé, a vossa esperança
— todo o vosso ser.
Deus vos fará crescer sempre.
Deixo convosco o texto apostólico:
“Eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento”.
Retrato das Secas
De Oeiras a Floriano medem cento e vinte quilômetros de carroçável.
O trecho da rodovia que liga a antiga capital do Piauí à florescente cidade do
Parnaíba estava apenas começado.
A travessia é árdua, é penosa pela aridez da região deserta e sem água.
Penosa para o ser humano que a faz sobre o transporte de quatro pés, ou
mesmo sobre o de quatro rodas. Imagine-se para quem a faz sobre dois pés de
carne e osso, desnudos, sem a proteção de um anteparo qualquer de couro ou
de borracha — da borracha que serviu de sapato a um jipe, a um caminhão ou
a um carro de luxo. Pés já feridos dos cardos e das pedras ponteagudas, em
caminhadas repetidas cada sol. Pés queimados pela poeira escaldante da terra
sedenta, e calcinada por anos de secas impiedosas.
Toda essa travessia deserta de casa e de habitantes humanos, vê-se
salpicada de cearenses semi-nus, sedentos e famintos, quase esqueléticos, que
fazem de pé a jornada dos cento e vinte quilômetros de Oeiras a Floriano,
porque não conseguem o poleiro de um “pau de arara”, para nele vencerem o
estirão desabitado.
Esses cearenses açoitados pela calamidade da seca, vislumbram no
Maranhão a sua Canaã. E vão para lá, via Oeiras e Floriano, sem pesar e sem
medir, o sofrimento da travessia cruel daquele deserto de vinte léguas
quilométricas. Maranhão é o paraíso dos pobres cearenses do Sul do Estado,
batidos pelos repetidos flageles climáticos. Querem semear arroz onde não
lhes falta terra molhada; plantar algodão onde não falta chuva; e apanhar
babaçu da safra que não acaba nunca.
O jipe pulava sobre a estrada poeirenta e esburacada.
Eu meditava sobre a história da safra de 25 mil bezerros do Visconde
de Parnaíba. Os sertanistas do século XVIII que fizeram de Oeiras capital do
Piauí. O caso chistoso da filha da hoteleira do Estado das grandes fazendas
nacionais, a moça que na véspera de casar, perguntara à mãe de que cor seria
leite, porque ela, a piauiense de Oeiras, que nascera e se criara no coração das
fazendas nacionais, nunca vira leite, não lhe conhecia a cor.
A essa altura, vi ao longo da carroçável um grupo de seres humanos.
Seriam flagelados da seca. Seriam cearenses fugitivos da fome. Não me
enganei.
O grupo era de um homem, três mulheres mães, moças e meninos.
Gente de cor, eram ao todo dezoito pessoas. Mais um jumento com uma carga,
e um cachorro arrastado por uma corda amarrada ao cabeçote de cangalha.
Cada uma das criaturas humanas trazia na mão uma cuia ou cabaça, ou uma
pequena lata. O jipe se aproxima. O grupo se divide e ladeia a estrada, à
esquerda e à direita. Acenam com uma mão e apresentam com a outra a
vasilha que deverá receber a esmola. E fazem, a uma voz, esta súplica de
piedade:
“MIM DÊ U’AGUIN’A...” “MIM DÊ U’AGUIN’A.. . “
Nas terras da Paraíba e do Ceará eu tinha visto muita miséria. Mas
ainda não tinha ouvido o pedido da esmola da água em circunstâncias tão
dramáticas, como as em que o faziam os dezoito daquele grupo de famintos,
que pelo número, me fez recordar os dezoito heróis de Copacabana. Ali estava
um grupo de cearenses, de heróis do sofrimento, vítimas da seca inclemente.
Heróis anônimos, mas heróis.
Eis a explicação:
Na longa travessia daquele deserto sui gêneris, as pessoas têm de
conduzir a água indispensável ao seu consumo pessoal. Na região não há onde
suprir-se do precioso líquido. Não há rios nem açudes, nem poços tubulares,
nem casas. Os transeuntes pedestres, flagelados, são abastecidos, em regra,
pelos caminhões ou jipes que para esse fim costumam conduzir reserva
d’água. As latas, as cuias ou cabaças nas mãos, são os depósitos ambulantes
dos míseros transeuntes.
Prossegui rumo a Floriano, mas não pude eliminar da mente aquele
quadro dos dezoito pedintes da esmola d’água. Não me lembrei mais da safra
dos 25 mil bezerros anuais do Visconde da Parnaíba, nem dos cidadãos de
Oeiras que não quiseram uma Agência do Banco do Brasil em sua cidade,
nem da noiva que desconhecia a cor do leite, porque nunca tinha visto leite...
Aquela súplica uníssona da esmola d’água me atormentava a mente:
“MIM DÊ U’AGUIN’A...” “MIM DÊ U’AGUIN’A.. . “
Outras considerações me assaltaram.
Moisés tirara água da rocha para dessedentar os filhos de Abraão na
travessia do deserto da Arábia.
A Providência alimenta as aves, que não semeiam nem segam nem
ajuntam em celeiro. A Providência veste os lírios do campo, que não
trabalham nem fiam, e os veste com uma glória superior à do rei Salomão.
As dezoito criaturas do grupo já agora à minha retaguarda são criaturas
humanas, anímicas e que valem mais do que as aves e do que os lírios. Porque
não acode a Providência em seu socorro?
Esbarrei diante do mistério impenetrável dos decretos eternos. Aceito
pela fé o que a razão não apreende.
Para o milagre da água tirada da rocha, porém, ocorreu-me a
explicação: – Nos dias de Moisés não havia Departamento de Secas...
O quadro que eu vi na travessia Oeiras Floriano é o retrato das Secas.
É o quadro da dor e da miséria, da pobreza e do sofrimento por falta d’água.
E o preventivo contra a calamidade econômico-social é a obra de
açudagem. Grandes e pequenos açudes. Açude por toda a parte, água de
qualquer fonte. Barragens submersíveis, poços tubulares, ou instantâneos.
Água e ajuda, amparo ao operário da lavoura.
A súplica dos dezoito que eu vi na trajetória Oeiras-Flariano é bem o
símbolo da súplica de todos os Nordestinos:
“MIM DÊ U’AGUIN’A...” “MIM DÊ U’AGUIN’A... “
Aspectos das secas no Ceará
Pastor e Evangelista
Relatório ao Presbitério do Ceará, reunido na Igreja
Presbiteriana de Fortaleza.
18 de janeiro de 1965.
Desejei muito que este dia chegasse.
Orei para ver este dia.
Pensei em vos ver congregados comigo neste dia.
Pedi que Deus me concedesse falar, neste dia, ao meu Presbitério, à
minha Igreja, aos meus colegas, aos meus irmãos herdeiros como eu das
Bênçãos do Reino.
E o dia chegou.
E o dia do meu Cinqüentenário Ministerial. Dia de ações de graças.
Dia de prestação de contas.
Recebi as ordens sacras de ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil a
18 de janeiro de 1915, pela imposição das mãos do Presbitério de
Pernambuco, na Igreja de Garanhuns. Faz precisamente 50 anos.
A cidade de Caicó foi o primeiro quartel de minhas atividades
ministeriais, como evangelista do campo sertanejo do Rio Grande do Norte e
da Paraíba, por determinação do acima dito Presbitério.
No mesmo ano, servi à Igreja de São Luís do Maranhão, por cerca de
6 meses, ainda como pastor evangelista.
Pelo Natal de 1915, assumi o pastorado da Igreja Presbiteriana de
Fortaleza, substituindo o Rev. R. Bezerra Lima, à qual servi durante 37 anos
como pastor, e evangelista do campo do interior.
Por alguns anos, eu fui o único ministro do Evangelho a operar no
Ceará. E levei as minhas atividades evangelísticas a São José de Piranhas, na
Paraíba, e ao Comboieiro (Açu) no Rio Grande do Norte.
Em todo o Estado do Ceará, havia somente duas Igrejas: A
Presbiteriana e a Presbiteriana Independente. Não havia no Ceará nenhuma
outra denominação, nem qualquer obra missionária.
No interior, a Igreja Presbiteriana tinha as congregações de Baturité,
Aracoiaba, Pedra Aguda, e Choro. No sul do Estado, no Iguatu, havia o
núcleo da família João Porfírio Varela que acompanhava a marcha da
construção da R.V.C, desde Senador Pompeu, e fazia a sementeira do
Evangelho pelo testemunho pessoal.
A Igreja de Fortaleza contava em seu rol 196 comungantes e 161 não
comungantes, incluindo as referidas congregações do interior.
Havia um presbítero e dois diáconos, e meia dúzia de sociedades
domésticas, nomeadamente: Auxiliadora de Senhoras, Jóias de Cristo,
Obreiras Cristãs, Liga Pró Edificação Casa Pastoral, Mortuária, e Grêmio
Lítero-Evangélico Rev. Bezerra Donnantuoni.
A Escola Dominical reuniu 36 alunos e visitantes no primeiro
domingo após a chegada do novo pastor. A coleta rendeu mil e seiscentos réis
(1$600).
O templo estava por concluir, e em litígio, em juízo. O Dr. Albino José
de Farias, presbítero da Igreja Independente, disputava o direito de
proprietário do templo. Este fato constituía uma situação angustiosa para a
Igreja pequena e sem recursos, e bastante embaraçosa para o novo pastor. O
Rev. Bezerra Lima, com o advogado Dr. Henrique Autrain, tinha sustentado,
com segurança, os direitos da Igreja Presbiteriana. Mas a situação continuava
sem solução, e a questão em juízo.
O Ceará vivia a fase mais aguda da seca de 1915. A crise econômica
se refletia cruelmente no seio da comunidade presbiteriana.
O orçamento global da Igreja, por ano, era de cerca de três contos de
réis.
Com um só presbítero, não havia conselho para deliberar. O pastor
teve de agir como evangelista, credenciado pelo presbitério de Pernambuco.
Deu os primeiros passos para organização da Escola Dominical e para redução
do número superabundante de sociedades domésticas.
Foram eleitos para o Conselho da Igreja, no dia 5 de março de 1916, os
irmãos José Baltazar Lopes Barreira, Antônio Mota Castelo Branco, e José
Zaqueu Maia.
Em agosto do mesmo ano foram consagrados diáconos os irmãos
Cândido Costa e José Cândido Rodrigues. Firmadas as bases do programa
pastoral em Fortaleza, lancei-me à obra de evangelização do interior. Em 1916
preguei em Quixadá, na residência do irmão Manoel Roberto de Lima, com
dois soldados à porta da casa para manterem a ordem. No mesmo ano, preguei
em José de Alencar, na residência do irmão João Acácio Varela Barca, e, no
Cedro, na residência do irmão João Porfírio Varela. O engenheiro, meu amigo,
Máximo Linhares esteve presente a esse culto. Cedro nascia com a chegada
dos trilhos da R. V. C. (476 km. distante de Fortaleza). Eu fiz 6 léguas a
cavalo, com a esposa e 2 filhos, para chegar a Cedro, saindo de José de
Alencar. Em 1917, preguei no lugar de nome Vencedor onde nasceu a Igreja
de Ebenezer. Em 1918, eu já havia batizado, no campo cearense, 155 pessoas,
adultos e menores. Em 1919, temos a assinalar duas vitórias: chegamos a um
acordo com o Dr. Albino José de Farias, terminando amigavelmente a
pendência do templo; e concluímos as obras do mesmo templo, dispendendo a
quantia de sete contos, novecentos e oitenta e quatro mil, quatrocentos e
noventa e nove réis (7.984$499).
Em 1920, ano do primeiro lustro pastoral, batizei 131 pessoas, adultos
e menores. As finanças de todo o campo atingiram a oito contos, oitocentos e
sessenta e quatro mil, e seiscentos réis (8.864$600).
Em 1922, recebemos 110 adultos e menores, e as finanças subiram a
dezoito contos, setecentos e sessenta e um mil, duzentos e noventa réis
(18.761$290). A obra de evangelização expandiu-se até Piranhas, na Paraíba.
Em 1923, mantínhamos 14 congregações com 23 lugares de pregação.
Arrolamos mais 74 pessoas. As finanças subiam à cifra de 22.691$570.
Em 1924, recebemos à Mesa do Senhor 106 adultos, e foram batizados
102 menores. Tínhamos no Estado 35 lugares de pregação.
Em 1925, recebemos adultos e menores, 90.
Em 1926, a Igreja de Fortaleza elegeu presbíteros os irmãos Dr.
George Cavalcante, e Antônio Felício Ribeiro; e diáconos, os irmãos
Waldemar Castelo Branco, e Bolivar Ribeiro. Levamos o Evangelho até Açu,
Rio Grande do Norte. Tivemos ali uma congregação com 41 comungantes,
trabalho que passámos à Missão Presbiteriana do Norte.
A esse tempo, já cooperava comigo o Rev. Dr. A. T. Gueiros. Colega
do “15 de Novembro” e do Seminário de Garanhuns. Membro do mesmo
presbitério, viera ele de São Luís do Maranhão prestar sua cooperação
inteligente e leal, consagrada e eficiente, ao colega do Ceará. O campo
reclamava. Auxiliar e pastor, evangelizou também o campo do interior. Leio
uma notícia no “Norte Evangélico” de uma excursão em que batizou 70
pessoas. Cedo a esse colega uma cadeira de honra neste banquete espiritual do
meu cinqüentenário ministerial.
Cedro se tornara um grande centro do Presbiterianismo, que dali se
irradiou para Medeiros, Boa Sorte, Lavras, Aurora, Juazeiro, Grato e
Parambu. O boletim da Igreja de n9
5 registrou o seguinte: foram batizadas 22
pessoas convertidas em Fortaleza; 11 filhos da Igreja fizeram profissão de fé,
e 33 crianças foram batizadas. Mais: o pastor fez um trabalho de
evangelização em Crato, Aurora, Cedro e Tauá, batizando nessa última cidade
11 adultos e 19 menores.
A sementeira de Cedro chegava também a outros núcleos, como
Juazeiro Redondo e Serra da Donana, Baixio Verde e Xique-Xique. Centro de
evangelização da zona, Cedro sofreu cruéis perseguições. O pastor e outros
obreiros que por ali passaram tiveram suas vidas em perigo várias vezes, entre
estes obreiros, o Rev. Dr. A. Teixeira Gueiros, e o Rev. Benedito Aguiar. As
perseguições ao Evangelho na região cessaram no governo do Dr. José Carlos
de Matos Peixoto, a quem rendo nesta página, e com este registro, um preito
de reconhecimento e gratidão.
Na zona Jaguaribana, abrimos trabalho em Choró e Russas, já agora
com a cooperação de vários obreiros, tais, o irmão José Pinto Bandeira, Dr.
Bolivar Ribeiro, Fernando Nogueira, Francisco Alves, e José Higino. O
missionário R. Arehart chegou até Aracati, Limoeiro, e Morada Nova.
Em 1929, as congregações de Cedro e Ebenezer foram organizadas em
Igrejas, ficando sob os cuidados pastorais do Rev. Alcides Nogueira, residindo
no Cedro. Os presbíteros Antônio Pereira (ministro posteriormente), e
Laudelino Nogueira foram obreiros eficientes nestas duas Igrejas.
Em 1932, foi organizada a Igreja de Baturité, que teve como pastor o
Rev. R. Bezerra Lima. Em 1938, foi organizada em Igreja a congregação de
Iguatu, ficando como seu pastor o Rev. Bolivar Ribeiro. Em 1939, foi
organizada a Igreja de Parambu sob o pastorado do Rev. Antônio Pereira,
também pastor de Cedro. Os obreiros José Balbino, e Jucá de Freitas alinham-
se com a geração espiritual dessa época. Em 1938, o missionário Arehart
batizou no campo cearense 196 adultos e menores. A sementeira fortificava.
Todas as denominações que vieram mais tarde colheram fruto da nossa
sementeira, que não se fez sem grande sacrifício.
Foram eleitos também para o Conselho da Igreja os irmãos Antônio
Leôncio Ribeiro, Dr. Juarez Brasil, Aderson Nogueira, e o Dr. Edilson Brasil
Soares. Para a Mesa Diaconal: Aproniano de Souza, José Avelino, Joaquim
Mota, João Batista, Esmerino Torres, Emanuel Maia e Bento de Souza.
No exercício do magistério, lembro uma ocorrência que merece
registro. Um membro da Igreja apresenta-se para matricular três crianças no
curso primário da Escola 7 de Setembro.
A mensalidade, disse eu, é dois mil réis. Mas como são 3 crianças o
senhor pagará somente cinco mil réis pelos 3.
— Pagar cinco mil réis, ainda pagar?! Mas eu já dou 10 tostão pro
pastor na Igreja e inda tem de pagar escola... ?
Como evangelista:
Na Paraíba, um homem quis me obrigar a rezar o “Bendito Louvado
Seja” depois do jantar em sua casa.
No Ceará, atravessei um rio de nado, à noite, fugindo de um padre e de
um grupo de chapeados que me ameaçavam de comer a “carne do bode”.
Experiências semelhantes ocorreram no Cedro, em Várzea Alegre, e
em Iguatu.
Numa viagem de evangelização, um dia almocei juá.
Preguei em Quixadá no sábado à noite. Pela manhã do domingo viajei,
de cavalo, para Várzea da Onça. Preguei ao meio dia em casa do irmão
Antônio Galdino. Depois do culto, esperei o almoço. Mas o almoço não saiu.
Segui então para a casa do irmão Liberato — uma légua distante, onde eu
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Natanael Cortez - Os Dois Tributos (986)

  • 1. 1
  • 2. OS DOIS TRIBUTOS A CÉSAR A DEUS Letras - Economia - Religião - Sociologia JUBILEU MINISTERIAL 1915 — 18 DE JANEIRO — 1965 REV. NATANAEL CORTEZ Este livro foi composto e impresso na Livraria e Gráfica Ediprés, 1965 Rua da Saudade, 299 Recife. Pernambuco Digitalizado por Webminst www.semeadores.net Nossos e-books são disponibilizados gratuitamente, com a única finalidade de oferecer leitura edificante a todos aqueles que não tem condições econômicas para comprar. Se você é financeiramente privilegiado, então utilize nosso acervo apenas para avaliação, e, se gostar, abençoe autores, editoras e livrarias, adquirindo os livros. Semeadores da Palavra e-books evangélicos 2
  • 3. Profa. Donana Soares Cortez, ajudadora dos primeiros anos do meu ministério. Em sua Memória. 3
  • 4. ÍNDICE Fortaleza...........................................................................................................6 Qualidades da Vida...........................................................................................9 Pocahontas, a Iracema Virginiana...................................................................11 Elegias, Milagre de duas Ressurreições..........................................................13 Elogio de Heráclito Braga...............................................................................15 Os que Sofrem Agradecem.............................................................................22 Notas de Viagem............................................................................................24 Pioneiros do Norte..........................................................................................28 Relatório Ministerial.......................................................................................35 Seminário Presbiteriano do Norte, .................................................................37 Campanha dos Leigos.....................................................................................37 A Reforma Agrária.........................................................................................39 A Igreja Presbiteriana do Recife Celebra o.....................................................42 80º Aniversário de sua Organização...............................................................42 Retrato das Secas............................................................................................46 Pastor e Evangelista........................................................................................50 A Igreja Presbiteriana no Ceará......................................................................56 O Cristianismo no Laboratório da Idade Média..............................................61 Os Cinco Sentidos da......................................................................................67 Campanha do Centenário da IPB....................................................................67 O Drama do Algodão e sua Repercussão na Vida Econômica do Estado.......68 Agitado mais uma vez o Problema do Algodão..............................................73 Sinfonia da Civilização Econômica................................................................78 Bolchevismo e Cristianismo...........................................................................80 Joana d’Arc e a Guerra dos Cem Anos...........................................................84 O Sermão do Monte, ......................................................................................88 Lei Substantiva da Sociedade Ideal................................................................88 Absolutismo das Coletividades.......................................................................91 Pontos de Nossa Fé.........................................................................................94 Descobrimento do Nordeste............................................................................97 Meu Padrinho Que Eu Batizei......................................................................100 As Imagens De Meu Pai...............................................................................102 “Eu Hoje Como Carne de Bode, ..................................................................105 Inda que Seja Bode Magro”..........................................................................105 “Num Pago Obrêro Fora da Obra”................................................................107
  • 5. “Na Minha Casa se Reza Depois da Comida”..............................................109 Eu Com o Padre Cícero................................................................................111 A Circular 64 de D. Lustosa.........................................................................113 Cartas da The North Brazil Presbyterian Mission.........................................115 A Lei do Pecado e a Lei do Espírito Santo....................................................117 O Espírito Santo e o Novo Nascimento........................................................120 A Bíblia Sagrada,..........................................................................................123 Símbolo da Unidade dos Cristãos.................................................................123 O Espírito Santo e a Vida Espiritual.............................................................129 Síntese de Sermões.......................................................................................134 “Que Espera o Senhor do Concilio Ecumênico?”.........................................140 O Que Outros Disseram................................................................................141 Resposta ao Tte. Severino Sombra................................................................147 A Vitória das Democracias...........................................................................151 A Chave da Bastilha, que Eu Vi...................................................................154 A Bomba Atômica........................................................................................155 A situação econômica de nosso Estado brilhantemente analisada e estudada pelo Prof. Natanael Cortez............................................................................157 O Presbiterianismo........................................................................................162 Conheça o Nordeste......................................................................................165 Esta é a Palavra da Fé que pregamos............................................................168 “Os Direitos do Homem”..............................................................................170 Princeton,......................................................................................................172 a Universidade, o Seminário, o Congresso....................................................172 Montreat.......................................................................................................177 Fundamentando Boatos.................................................................................181 Carta Aberta..................................................................................................183 OUTROS FATOS.........................................................................................185 EM FOTOS..................................................................................................185
  • 6. Fortaleza Fortaleza do primeiro quartel do século XX! Como era diferente Fortaleza de 50 mil almas, desta Fortaleza de hoje de 700 mil, Fortaleza dos 4 quiosques da Praça do Ferreira, desta Fortaleza dos arranha-céus de Severiano Ribeiro, da Sul América, e dos Jereissatis. Fortaleza calçada de areia, desta Fortaleza calçada de pedras. Fortaleza do bonde de burro do Cel. Solon, desta Fortaleza dos coletivos motorizados. Fortaleza do acendedor de lampeão, desta Fortaleza eletrificada. Fortaleza do telefone do Dr. José de Ponte, desta Fortaleza do telefone da Cia. Ericsson. Fortaleza alimentada pelos comboios de jumentos e burros, desta Fortaleza alimentada pelos caminhões interestaduais. Fortaleza que distava do Rio de Janeiro dez dias de transporte marítimo, desta Fortaleza separada do Rio de Janeiro por apenas poucas horas de confortável passeio aéreo. Fortaleza do Barão de Studart, desta Fortaleza de Raimundo Girão. Fortaleza das praias salpicadas de coqueiros, desta Fortaleza das praias salpicadas de casas... Como era diferente Fortaleza! Nisto, porém, se identificam a Fortaleza de ontem e a de hoje: Os seus mares ainda são bravios, as águas, verdes, e seus jangadeiros heróis. E não estranhe a Fortaleza dos 12 clubes elegantes, se eu disser que tenho saudade da Fortaleza bucólica dos 4 quiosques da Praça do Farmacêutico Ferreira. Da Fortaleza que me recebeu, há meio século, com esposa e os dois primogênitos. E que saudade que tenho dos amigos, dessa Fortaleza dos idos, de 1915! Que saudade que tenho... dessa Fortaleza matuta de há cinqüenta anos!... De duas coisas, porém, não tenho saudade: do camburão sanitário e da seca de 1915 que então assolava o Ceará, calamidade que Raquel de Queiroz gravou em seu romance de estréia no cenário das letras pátrias. Faz 50 anos que firmei, em Fortaleza, o quartel de minhas atividades, pagando, em boa consciência, tributo a César e a Deus. Fortaleza de Matias Beck. Fortaleza noiva “desposada do sol”. Fortaleza da minha vida. Fortaleza testemunha do pagamento do meu tributo a César e a Deus...
  • 7.
  • 8. Templo da Igreja Presbiteriana de Fortaleza.
  • 9. Qualidades da Vida A vida vale pelos anos vividos, mas não apenas pelo número de anos. Vale pela qualidade. Mas vale ainda mais quando estes dois objetivos são alcançados: anos e qualidade. Persuado-me de que alcancei estes goals da vida. Tenho vivido e imprimido qualidade à vida. Já percorri desertos e oásis durante algumas décadas de anos. O povo de Israel apreciava a vida sob o duplo aspecto de número de anos vividos e da família. Viver muito e criar muitos filhos. Ecles. 6:3. Posso considerar a vida por prisma ainda mais amplo. Criei filhos, e tenho filhos que não criei. Tenho netos que são filhos duas vezes. A família imprime o primeiro sentido de qualidade à vida. À esposa, aos filhos que criei, e aos filhos que não criei, mas que são verdadeiros filhos; aos netos, filhos duas vezes, o penhor da minha gratidão pelo sentido de qualidade que tem emprestado à minha vida. As qualidades espirituais valem mais do que os anos. Dos patriarcas bíblicos, Enoque foi o que viveu menos anos, mas Enoque qualificou a vida porque andou com Deus. Como ministro da Igreja Presbiteriana, pregando e ensinando, escrevendo e presidindo concílios, eu, em boa consciência, tenho andado com Deus como o patriarca da Bíblia. Essas atividades do espírito têm dado sentido específico à minha vida. “Os Dois Tributos” são a minha prestação de contas, em síntese, das atividades de 50 anos. “Deus pede estrita conta do meu tempo. É forçoso do meu tempo prestar contas”. Paguei “Tributo a César”, militando no setor das letras, do magistério, da economia, da política e da vida pública, Paguei “Tributo a Deus”, como ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, como pastor da Igreja Presbiteriana de Fortaleza, evangelista, presidente de concílios, pregador e doutrinador, servindo-me da palavra falada e da escrita. “Os Dois Tributos” assinalam, pois, qualidades à minha vida no século e na Igreja.
  • 10. Preito de reconhecimento e gratidão a Nina Cortez, esposa e ajudadora.
  • 11. Pocahontas, a Iracema Virginiana Seja coincidência! Não tento explicar! O fato é que ocorrem notáveis afinidades, do ponto de vista histórico, literário e social, entre o Estado de Virgínia, dos Estados Unidos da América do Norte, e o Ceará, dos Estados Unidos do Brasil. As duas unidades integrantes das grandes Repúblicas do Norte e do Sul entram no palco da história da civilização concomitantemente, na primeira década do século XVII. Ao mesmo tempo em que a bandeira de Pero Coelho chega ao “Siará”, a expedição do Cap. Bartholomew Gosnold explora o rio Shallow que toma o nome de “James River”, em honra do então rei da Inglaterra. Lá os Ingleses, cá os Portugueses tomam posição contra o inimigo comum, os Franceses que ameaçam fixar seu domínio nas disputadas colônias. Os mares cearenses, no século XIX, abrigaram belonaves virginianas, dos Confederados, que vinham a estas plagas de Iracema abastecer-se de carvão e víveres. Entre essas unidades de guerra, o Alabama, o Sumter, o Flórida, o Shenandoah. (Hugo Vitor). Era a guerra de Secessão que se feria entre os Estados do Sul, dos quais Virgínia era cérebro e coração, e a “União”, os “Yankees”, do Norte. Virgínia, como o Ceará, tem sua Iracema. Pocahontas era filha de Powhatan, poderoso chefe dos índios que dominavam a região das “Tidewaters”, em 1607. O Cap. John Smith teve papel saliente no grupo expedicionário do Cap. Bartholomew. Eleito chefe e aclamado por seus companheiros, entra em luta com os índios. Preso, estava para ser executado, quando Pocahontas se arremessa entre ele e o carrasco e implora ao pai, para ela, a vida do prisioneiro. A súplica da princesa é deferida. Pocahontas está apaixonada pelo inglês, e, convertida ao Cristianismo, se constitui o elo da paz entre os colonizadores e os aborígines. A princesa dos valorosos Powhatans, entra destarte, na história da grande nação americana, na sua literatura e no seu elenco social. Smith, enfermo, havia regressado à Pátria, e fora dado como morto. Pocahontas casou com John Bolfe, jovem inglês do mesmo grupo do Cap. Smith. Viveu em Londres com o nome da Lady Rebeca. Estava firmado, definitivamente, o primeiro estabelecimento inglês nas colônias da América do Norte, graças à influência de Pocahontas. A descendência da Iracema de Virgínia é numerosa e sobremodo ilustre. Conta-se entre os Bollings, os Robertsons, os Guys, os Eldridges, os Randolphs.
  • 12. A esposa do Presidente Woodrow Wilson, a segunda, Mrs. Edith Bolling, traça sua biografia até Pocahontas. As afinidades e relações entre o Estado de Virgínia e o Ceará se estreitaram ainda mais no século XX. Uma filha do Ceará é desposada por um Randolph, um descendente de Pocahontas. E eu, agora, ganho a convicção de que tenho um neto que se filia à linhagem de Pocahontas, a princesinha dos Powhatans, a Iracema dos Virginianos, que eu comparo à indiazinha da ficção de José de Alencar. Há apenas um contraste: Pocahontas é a realidade, Iracema é uma criação literária. O Ceará saúda, por mim, os amigos de Virgínia, no amplexo da fraternidade americana de que podem ser símbolos vivos da história e das letras estas duas indiazinhas — Iracema e Pocahontas, irmanadas na origem e no destino, como que para estreitarem os cearenses aos virginianos. O casal missionário W. B. Moseley. Chegou a Fortaleza em 1946.
  • 13. Elegias, Milagre de duas Ressurreições Ela ressuscitará, dizia o ministro que oficiava no seu funeral. Fria madrugada! Manhã sombria, de tristeza e dor, aquela vivida na casa 181 da rua José Osório, na Madalena! As lágrimas do esposo, do pai e dos amigos formavam torrente sobre uma fronte congelada e duas mãos cruzadas sobre o corpo inerte contido no esquife negro. As flores e coroas do último adeus ao ser querido se derramavam em profusão, como adorno da saudade que desabrochava, naquela manhã de luto, nas almas amigas surpresas e desoladas. Era a partida da esposa, da filha, da amiga, Mais. Ia-se a mãe extremosa, deixando dois inocentes seres na orfandade. A esposa sonhada, a filha dileta, a amiga sincera, a mãe desvelada. Fria madrugada! Manhã desoladora aquela de 10 de setembro de 1947, na Madalena, Recife! As palavras do ministro caíram nos corações como um raio de luz de animadora esperança. “Sursum corda!” Ela apenas dorme! Ela há de ressuscitar! E Hermantine ressuscita agora — a nobre e bela Hermantine — como escreve Álvaro Lins. Volta à vida com os seus admiráveis dotes de espírito, e é restituída ao convívio dos queridos, e dos amigos e admiradores, dos quais se afastara havia seis anos, e que já agora lhe ouvem a voz, e lhe sentem a presença como que da noiva no banquete de suas bodas eternizadas. Mauro Mota é o taumaturgo do milagre dessa ressurreição de Hermantine. Elegias é uma expressão poética e emocional do esmerado artista das letras e do singular filósofo da vida. É um coração às escancaras, forte na adversidade, que sabe amar e sabe sofrer, sempre generoso e sincero. Cultura e arte, coração e inteligência, o livro todo está cheio de Hermantine — de sua presença e de sua influência, como bem o acentua seu prefaciador, uma vez testemunha ocular da felicidade do lar que nem a morte destruiu, porque Elegias é a sua continuidade. O livro de Mauro Mota reflete o milagre da ressurreição do próprio autor. Álvaro Lins afirma que só a morte de Hermantine seria o acontecimento capaz de ressuscitar o poeta em Mauro Mota. O autor de Elegias é poeta porque nasceu poeta. Mas o poeta estava adormecido. O aguilhão da morte de Hermantine o despertou. O grande escritor é aquele que faz grande o seu tema. Ouvi de Mauro Mota certa vez: “Hermantine desejou tanto ver a minha vitória literária! Mas foi
  • 14. preciso que ela morresse para dar-me o tema”. E ele soube engrandecer e sublimar o tema que lhe proporcionou merecida retribuição. O tema que Mauro Mota canta e enaltece em Elegias o consagrou como um dos principais poetas de sua geração, segundo o julgamento autorizado do crítico que lhe prefaciou o livro. “Elegias”! Milagre de duas ressurreições! Ao poeta redivivo minha admiração pelo que o seu livro é, e pelo que “significa de fidelidade a Hermantine, na vida e na morte”. Em memória de Hermantine Cortez Mota.
  • 15. Elogio de Heráclito Braga A história do Ceará é uma farta epopéia de heróis e de bravos. Rico hagiológio de sábios e beneméritos da Pátria, orgulhece e estimula. O conde de Affonso Celso enumera entre os fatores da grandeza dum país e dum povo a vastidão territorial, a riqueza do solo, a beleza do céu e dos campos e o seu contingente em homens prestado aos nobilitantes empreendimentos do coração e do cérebro. No quádruplo conceito do elegante autor de “Porque me ufano de meu País”, o Brasil é maravilhosamente grande. O Ceará para com o Brasil se enquadra nas justas proporções do “gigante da América do Sul”, na frase de William Bryan, para com os outros países da civilização ocidental. Não se aparelha aos maiores estados da Federação, mas também não vai na lista dos menores. O solo cearense é rico e ubérrimo, a flora e a fauna encerram preciosidades invulgares. O céu do Ceará, com a sua lua de prata, constitui alta expressão do agradável e do belo, e os campos com as desigualdades regionais e as alternativas de verão e de inverno; do rigor impiedoso das secas e da fartura transbordante, diluvial das chuvas, — oferecem os mais variados e surpreendentes panoramas da expressiva e bela natureza tropical. Retardado na participação dos benefícios da colonização portuguesa até o século XVII, nunca retardou o Ceará o seu concurso aos movimentos de liberdade e independência que cedo se pronunciaram no Brasil. Jamais negou o sangue dos seus filhos ao ideal da redenção nacional, e igualmente tem concorrido a todos os prélios do pensamento que exalçam as tradições da mentalidade brasília, mesmo no estrangeiro. Políticos e generais, juristas e guerreiros, estadistas e heróis, poetas e prosadores, jornalistas e aedos, vernaculistas e filólogos, gramáticos e romancistas, clássicos e românticos, cantadores e folcloristas, novelistas e historiadores, mestres e sociólogos, tribunos e filósofos — todos esses gêneros tem produzido a “terra do sol”. Na revolução pernambucana de 1817, como na Confederação do Equador de 24; nas pugnas da Independência e nas lutas da República; na campanha da abolição e na guerra do Paraguai; na peleja tenaz contra o rigor das crises climatéricas, como na empresa estóica de desbravar e amainar as terras e as gentes da Amazônia — em todas essas liças do coração, do cérebro
  • 16. e do braço tem o gênio extraordinário do povo cearense conquistado palmas e lauréis. São cearenses as mais encantadoras e artísticas jóias da literatura brasileira: “O Guarany” e “Iracema”. E entre as maiores glórias do Ceará intelectual encaixa se o nome respeitado e respeitável de Heráclito de Alencastro Pereira da Graça. Esplêndido colar de títulos honoríficos redoira e adorna a vida do renomado filho destas plagas, vida que foi toda um exemplo falante de trabalho, de estudos e de consagração às boas causas. Heráclito Graça é o abalizado cultor das letras jurídicas e é o legislador proficiente. É o criterioso e ponderado governador de províncias e o meticuloso e arguto distribuidor do direito e da justiça. É o jornalista vigoroso e comedido e o estilista apreciado e primoroso. Crítico e versejador, é também vernaculista e filólogo. Ao seu tempo não houve choque de idéia a que se furtasse a sua pena destra de polemista de pulso. Depois de formado em direito, viveu 57 anos o glorioso cearense. Foi toda uma existência devotada aos livros e à causa pública, à família e à Pátria. Duas províncias o tiveram à frente de seus destinos políticos e administrativos: a Paraíba e o Ceará. No Congresso Nacional teve assento em várias legislaturas o destemoroso compatriota. A modéstia e a simplicidade, moldura dos valores reais, guarneceram sempre todo o quadro de sua atuação de lidador percuciente. Feito na escola da educação da vontade, é o sábio personificado que governa, porque primeiro aprendeu a governar-se. Político do Império, a República já o apanhou arredio dessa arena de sua mocidade e das competições partidárias, todo entregue, no Rio de Janeiro, aos misteres da advocacia, profissão em que, sempre pobre, se lhe acentuaram as desilusões e decepções da vida. O Dr. Antônio Sales, iluminado presidente desta Academia, foi íntimo, na Capital Federal, do festejado tio e mestre de Graça Aranha. “Da convivência assaz longa, diz ele, que tive com o nosso erudito conterrâneo ficou-me a grata impressão de um homem de alta inteligência, de nobres sentimentos e de uma extrema sensibilidade a tudo o que era manifestação do espírito e da beleza”. (Revista da Academia Brasileira de Letras, março, 1930). Filho do Dr. José Pereira da Graça, Barão de Aracati, e de Da. Maria Adelaide da Graça, nasceu Heráclito na cidade de Icó a 18 de outubro de 1837. Aos 19 anos, recebia o pergaminho de bacharel em direito pela faculdade do Recife.
  • 17. Começou a carreira pública no Maranhão como promotor de justiça e ali foi também deputado provincial. Os seus dotes de estilista aprimorado o convidaram à vida de imprensa. Companheiro de Vieira da Silva e Gomes de Castro, ilustrou as colunas d’“A Situação” em que a sua pena refletida e vivaz, conforme Joaquim Serra, citado pelo Barão de Studart, “defendia seu partido, com muita paixão, porém com dignidade e elevação de linguagem, variando os assuntos e apreciando não só a política da província, como a do país, e em que pelo aticismo e cristalino da frase eram os artigos do Dr. Heráclito Graça os que mais se distinguiam na polêmica”. Em 1868 foi eleito, ainda no Maranhão, pelo partido conservador, deputado à Assembléia geral, para a legislatura de 1869 — 1872. Em seguida foi presidente da Paraíba. Reelegeram-no deputado para mais duas legislaturas. A 23 de outubro de 1874 tomava o Dr. Heráclito Graça posse da administração da província do Ceará, conforme carta imperial de 18 de setembro anterior. A 1º de março do ano seguinte, passava ele o governo ao seu substituto legal, o Dr. Esmerino Gomes Parente, afim de poder participar dos trabalhos legislativos no Rio. (Ver Barão de Studart, Dic. Bio-Bibliog. Cearense). Refere também o Dr. Guilherme Sutudart que no governo do Dr. Heráclito Graça se instalaram as primeiras mesas de exames preparatórios no Ceará, e acrescenta: “Fez parte dos defensores da abolição promovida pelo gabinete Rio Branco e foi muito ativo na tribuna promovendo o projeto eleitoral que se converteu em lei com a adoção da representação das minorias”. Em 1906 ingressou na Academia Brasileira de Letras. Membro do Instituto do Ceará, igualmente o foi da antiga Academia Cearense. “Fatos da Linguagem”, é um livro de 477 páginas que perpetua a memória do emérito cearense e é o acento preponderante de sua tendência para os assuntos de filologia e vernáculo. A língua é com efeito a revelação da nacionalidade e do patriotismo de um povo. Veículo do pensamento, caracteriza o grau do sentir artístico do escritor, e é o bruxoleio dos sublimes desdobramentos das energias psíquicas. Ela dá asas à idéia e desfere os vôos chamejantes da imaginação. É o patrimônio por excelência de uma raça. A palavra é o tegumento da idéia, a frase a veste do pensamento, a língua as fulgurações do espírito. Se o manejo da palavra é arte e ciência, a língua é o cabedal da obra prima.
  • 18. Se é artista quem fala e escreve, rei dos artistas será quem fale e escreva com propriedade e elegância. A língua presta-se a exprimir em caracteres de ouro a tragédia do “Paraíso Perdidos, e em tonalidades deslumbrantes os esplendores da “Divina Comédia”. Celebra os feitos heróicos de um povo pelo estro imortal de Camões, e derrama a eloqüência torrencial e flamejante, relampagueante e robusta de uni Vieira, Monte Alverne e Rui, Demóstenes, Mirabeau e Cícero. “Ela pinta o sublime e o humano, diz Afonso Costa, a flória e a decadência, o júbilo e o pesar, a legenda e a história, a elegia e o epitalâmio. É arrojada, hugoana em Castro Alves, poética em Gonçalves Dias, triste em Laurindo Rabelo no seu tocante “Adeus ao Mundo” útil, langorosa, encantadora e clara em Eça, Latino e José de Alencar — o criador das duas jóias da literatura brasileira: O Guarani e Iracema”. Heráclito Graça com seus estudos lingüísticos legou a brasileiros e portugueses atestado inconcusso de seu saber clássico, de sua cultura filológica, de seu patriotismo sincero; da pureza dos seus sentimentos artísticos e da nobreza de sua alma de escol. O material que constitui o livro de Heráclito Graça foi publica do em artigos, nas colunas do “Correio da Manhã”, em 1903, sob a epígrafe de “Notações Filológicas”, confutando opiniões e sentenças das “Lições Práticas da Língua Portuguesa” do Sr. Cândido de Figueiredo, publicadas àquele tempo pelas colunas do “Jornal do Comércio”. Heráclito Graça foi chamado à arena pelo Dr. Leão Veloso Filho, redator do “Correio”. O afoito caturra lusitano nunca julgou encontrar mestre em terras brasileiras. Mas como a Paulino de Brito, no Pará, no tocante ao problema dos pronomes oblíquos, teve o lingüista português, de reverenciar o glorioso cearense. Alguns poucos exemplos do trabalho de Heráclito: “ATURDIDO” “Entre as notícias do Porto: O desgraçado, ouvindo os primeiros tiros, ficou aturdido e foi abrigar-se...” “Aturdido, não: é francesismo puro. Ficou desorientado, fora de si...” Lições práticas, T1, 2ª edição, página 196. Inadvertência do Sr. C. de Figueiredo. Ali aturdido significa atordoado, espantado, desorientado, etc. Nesta acepção é português genuíno. Aturdido, no sentido do francês étourdi, estouvado, desatentado,
  • 19. arvoado e talvez, aloucado, é que é galicismo desnecessário, segundo frei Francisco de S. Luís, Glossário, v. aturdido. Aturdir vem do italiano atordire e stordire, do latim extordire. Brachet, Dic. Esym. Daí passou para nós e para o francês, atualmente étourdir, antigamente estourdir...” É lição de mestre, como se vê. “AFAZERES” O Sr. C. de Figueiredo qualificou de francesismo inadmissível a expressão afazeres. Heráclito retrucou, em tom audaz de sábio consciente: “Afazeres não é galicismo: temos o verbo afazer desde os primórdios da formação da língua portuguesa, e dele muito naturalmente se originou o substantivo plural afazeres, (Adolfo Coelho, Dic. etym. Afazeres - s. m. pl. do v. afazer), como dos verbos comer, beber, ter, haver, cantar, etc, se derivaram os substantivos comer, es, beber, es, ter, es, haver, es, cantar, es, etc. Esquivou-se, pois, o Sr. Figueiredo: o galicismo inadmissível e grosseiro que tentaram introduzir em Portugal no século XVIII, segundo testificam Bluteau e Francisco José Freire, foi affares ou affaires do francês affaires, a pretexto de necessário para expressar negócios políticos. E justamente é este galicismo affares ou affaires e não afazeres que frei F. de S. Luís (Cardial Saraiva) traz como reprovado, no seu Glossário das palavras e frases da língua francesa, aplaudindo-se de o haver repelido ao uso geral, e com razão, ajunta ele, tanto mais porque na província do Douro e Minho e noutras “é mui vulgar o vocábulo afazeres no sentido genérico de negócios, ocupações, etc”. Isto há mais de um século, talvez. Bastaria este fato e o teste-mundo de tão profundo filólogo, inimigo acérrimo de galicismos, para não se duvidar da vernaculidade de afazeres. É suficiente. Vê-se a autoridade do filólogo que não titubeia nem gagueja, porque sabe onde tem as ventas e conhece onde põe os pés. O caturra ultramarino embora tenha posteriormente arremetido, renitente e agressivo, curvou-se à evidência. “Tive a fortuna, diz Heráclito, de o ver chegar a acordo comigo em muitos pontos: reconheceu que amiúdo fora usado de muitos clássicos; adverti-o que antes de ler os meus escritos já havia eliminado em nova edição das Lições Práticas o que escrevera na anterior acerca de aturdir e aturdido; declarou que sonido e soido não nos vieram diretamente do verbo soar; confessou que bem pouca já lhe não repugna; retratou-se do que disse
  • 20. relativamente a afuzilar, contudo, todavia e porém no princípio da oração, chicana, convencer-se que ou de que, etc, custa a crer, dentro de, diligencêa, comercêa, etc, entre ele e eu, etapa, excetos, salvos, inimistar, partilhar, prolfaças; modificou seus pareceres sobre desinquieto, encontrar-se com, entanto, fazer com que, foi um dos que, meia disposta, parecido com, de resto, etc., e guardou completo silêncio quanto ao que escrevi defendendo cumprir com, perder a cabeça, eclusa, detalhar, detalhe e destaque”. A obra do valoroso cearense tem a aprovação de um dos maiores filólogos das terras brasílias, o Sr. M. Said Ali, que a ela se refere, e com acentos elogiosos: “Ao Sr. Heráclito Graça devemos uma boa coleção de exemplos, de grande valor para o estudo da forma — o que. É a contestação cabal a duas proposições irrefletidamente escritas pelo Sr. C. de Figueiredo... “ Ao repto de não ser o contestante capaz de descobrir ao menos um dos nossos mestres que haja escrito — o que fazes tu? — responde o Sr. Heráclito com uns 8 a 10 exemplos de Herculano, uns 80 de Castilho, (o mestre dos mestres na frase de Rui Barbosa) e 40 ou mais de Garret”. Sobre o professor C. de Figueiredo sentenceia Said Ali: “Muito vale o recurso banal do “deslise”, do doutrinante em apuros. Só este é quem para dizer heresias não cochila nunca. Vamos a ver como se aprende a separar o bom do ruim. O Sr. Figueiredo quando joeira procede deste modo: esconde o trigo bem escondido e mete o joio na ciranda. Ele fala de certa lista de apóstolos, põe em evidência os nomes dos piores e espraia-se em considerações sobre a linguagem de um deles, que é, ao que parece, o Judas Iscariotes da companhia... E o que se vai ver é o Sr. Figueiredo, e não o Sr. Graça, evidentemente equivocado... O Sr. Cândido de Figueiredo não é filólogo; escreve por palpite, e não lê autores senão por alto”. (M. Said Ali, “Dificuldades da Língua Portuguesa”, págs. 16, 24, 25 e 76). Vale por sentença de última instância essa opinião do emérito julgador filólogo, que faz justiça ao filho do Ceará. O Dr. Heráclito iniciou, quando acadêmico de direito no Recife, sua vida literária. Era então o poeta, o sonhador fecundo e apreciado. “Domado dos anos e das decepções da vida” depois de longa e penosa jornada pelos meandros da política, da advocacia, do jornalismo e das letras desempenhou o cargo merecido e que soube honrar, de consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores, posto a que foi chamado pelo seu devotado amigo da mocidade, o chanceler Barão do Rio Branco. Colaborador da “Revista Jurídica” e correspondente do “Jornal do Comércio” quando no Maranhão, escreveu muitas memórias críticas sobre literatura e assuntos jurídicos.
  • 21. Trabalhou um léxico sobre a 2ª edição do de Morais que infelizmente, não publicou. Colecionou cerca de 15 mil vocábulos estranhos à linguagem corrente da época. Parece que com o incêndio com que o sábio perdeu toda a sua biblioteca, os seus pósteros perdemos também obras de valor de sua inteligência vigorosa e privilegiada. Heráclito de Alencastro Pereira da Graça faleceu aos 78 anos de idade na capital da República, a 16 de abril de 1914, deixando o rastro luminoso de sua operosidade intelectual de norte a sul do Brasil. Mas a vida não é o protoplasma nem a morte significa aniquila-mento. Heráclito Graça desapareceu do cenário terrestre, porém não dos anais das letras brasileiras, nem do coração dos intelectuais seus conterrâneos. “Só morrem de todo aqueles que não deixam na terra um coração onde viva sua memória querida”, dizia o grande Camilo. E Heráclito, além de corações, deixou inteligências — a ampla seara de sua atividade frutífera. Saiba o Ceará sempre honrar a memória do filho insigne que dignificou suas tradições, escalando a montanha da vida, por desertos áridos, vales sombrios, estradas ermas, rochedos escarpados, mas altaneiro, invicto, e colheu no ápice da colina a flor azul da imortalidade. (Do discurso de recepção na Academia Cearense de Letras)
  • 22. Os que Sofrem Agradecem As águas, rompendo as grades da cadeia da barragem de Ovos, se transformaram em flagelo, precipitando-se, em louca catadupa, no médio e baixo Jaguaribe, fazendo milhares de vítimas, e criando a mais gritante calamidade das que tenho testemunhado durante os meus 45 anos de ministério no Ceará. Calamidade pior que as secas em certos aspectos. Os que acudiram em socorro das vítimas do flagelo merecem destas a gratidão, e a gratidão dos que falaram por elas. O cearense é o forte que sofre. Sofre o flagelo das secas e sofre a calamidade das águas. Eis um exemplo do cearense que sofre: Um homem entra no meu escritório, pés descalços, sem chapéu, com aspecto de quem sofre, e conta-me a sua história de vítima do arrombamento de Orós. — “Eu conheço o Senhor. Eu sou crente da Igreja de Russas. O senhor pregou lá muitas vezes. Moro no Sítio Melancias. Sou agricultor. Tinha uma boa cultura de bananeiras. O Banco do Brasil tinha-me financiado com Cr$ 50.000,00 para a minha lavoura. Perdi tudo. A água levou minha casa e tudo. E começou a chorar. — “Vim para Fortaleza com minha mulher e 4 filhos, sem nada. Agora a mulher teve 2 meninas. Quero voltar para a minha lavoura. Quero plantar de novo e fazer a minha casa e as cercas que o rio levou. Mas não tenho nem a passagem. Felizmente o Governo mandou o Banco do Brasil cancelar a minha dívida de Cr$ 50.000,00”. E o homem entrecortava as suas palavras com soluços. Que dolorosa situação! E esta situação, e semelhantes, foi de milhares dos habitantes da zona jaguaribana — das 9 cidades com os seus 200 mil habitantes, que foram vítimas das enchentes do Rio Jaguaribe. Aí está só um exemplo do cearense que sofre — das vítimas que os irmãos, igrejas e entidades do sul socorreram com as suas ofertas generosas. A esses irmãos, igrejas e entidades, cujos nomes Deus os conhece, que socorreram as vítimas do arrombamento de Orós: — OS QUE SOFREM AGRADECEM. — A COMISSÃO DAS IG. EVANGÉLICAS DE FORTALEZA AGRADECE. Sim, a vós que com uma contribuição de mais de 450 volumes de roupas e calçados, medicamentos, leite e carne, e com Cr$ 1.191.281,00 para a
  • 23. aquisição de gêneros de alimentação, nos habilitastes a socorrer mais de 6 mil vítimas do flagelo das águas; a vós que, destarte, viestes pregar, no Ceará, o evangelho do amor ao próximo, da fraternidade cristã, da solidariedade humana — o evangelho das boas obras, fruto da fé e do amor de Deus: — OS QUE SOFREM AGRADECEM. — A COMISSÃO DAS IG. EVANGÉLICAS DE FORTALEZA AGRADECE. Ao Presidente e ao Secretário Executivo do Supremo Concilio da Igreja Presbiteriana do Brasil; ao Secretário Executivo do Serviço Social da Confederação Evangélica do Brasil; à sua Delegação do Recife, que prontamente atenderam ao nosso SOS: — OS QUE SOFREM AGRADECEM. — A COMISSÃO DAS IG. EVANGÉLICAS DE FORTALEZA AGRADECE. À Igreja Presbiteriana Unida que liderou o movimento em S. Paulo, pela presteza, volume e qualidade de sua contribuição; às senhoras das igrejas evangélicas de Fortaleza, que fizeram sua valiosa contribuição confeccionando roupas para os nus; aos pastores e oficiais das subcomissões, que distribuíram os recursos obtidos no ambiente do flagelo: — OS QUE SOFREM AGRADECEM. — A COMISSÃO DAS IG. EVANGÉLICAS DE FORTALEZA AGRADECE. Ao Rev. Odilon de Oliveira — sua visita, contribuição e mensagens radiofônicas dirigidas aos que sofrem; ao Rev. John Nasstrom, do Serviço Social da Confederação Evangélica — sua visita e cooperação; a todos e por tudo quanto realizaram a favor das vítimas das águas do Jaguaribe, servindo por amor a Cristo Senhor; a todos vós cujos nomes se encontram nos assentamentos de Deus, pela fé e pelas obras: — — OS QUE SOFREM AGRADECEM. — A COMISSÃO DAS IG. EVANGÉLICAS DE FORTALEZA AGRADECE.
  • 24. Notas de Viagem Fortaleza ainda dormia quando o Cliper N. C. 34925 decolou no Aeroporto de Pici, rumo ao Norte, destino a Miami, no dia 18 de Junho. Das 24 confortáveis poltronas somente 15 ocupadas. Entre os passageiros mais 2 brasileiros: o major aviador Adamastor B. Cantalice e a senhorita Maria José Monteiro Lobato Galvão de São Martinho cujo nome me pareceu simbolizar a grandeza do Brasil. Ambos se destinavam a Washington, a serviço de nossa Aeronáutica, ótimos companheiros. O último abraço brasileiro não foi o dos queridos e amigos que mo levaram ao aeroporto de Fortaleza: foi o do Dr. Teixeira Gueiros e de um grupo de amigos que encontrei no aeroporto de Belém. Às dez horas, zarpávamos do último aeroporto do Brasil, voando algum tempo sobre as águas pardacentas e as verdes matas do colossal Amazonas. Caiena foi o primeiro porto estrangeiro. Escalamos também pelas outras Guianas. O pernoite foi em Port of Spain, Trinidad, no “Queen’s Park Hotel” e me custou seis dólares e dez centavos, ou sejam 122 mil réis em moeda brasileira. A ilha de Trinidad foi descoberta por Colombo em 1498. Pelo tratado de Amien passou da Espanha para a Inglaterra em 1802. Tem cerca de 500 mil habitantes. A capital tem cerca de 80 mil, sendo 90% de pretos. Os hindus que em certo tempo imigraram na ilha vivem na Coolie Town, com seu templo próprio, costumes e religião separados dos brancos. O lago de Asfalto, a grande Savana, são outros pontos de maior interesse para o visitante curioso. A cidade estava em festa pelo aniversário do Rei Jorge VI. Apesar do calor, a noite em Port of Spain passou rápida. No dia 19, escalamos por Santa Lúcia, Antigua, San Juan. Trujilo, Port of Prince e Camacuey. O meu relógio marcava 6 horas, mas o sol estava a duas braças do horizonte visual. Miami já se avistava. Às 8 horas, ou seja, às 20, o médico nos metia o termômetro na boca, para o exame de saúde, antes de pisarmos a terra de Tio Sam. Por aqui tudo se processa com rapidez. Ninguém se prejudica perdendo tempo. Mesmo eu que tive de pagar 22 dólares e 85 centavos de imposto sobre uns objetos que levava para minha filha Heline que estuda no Mary Baldwin College; e que tive de pagar 8 dólares ao Serviço de Imigração, pois que me destinava a demorar no país mais de 60 dias — às 21 horas já me achava instalado no quarto 612 do Cortez Hotel, onde o calor não me permitiu dormir à noite.
  • 25. Miami é a cidade das praias de banho e do turismo nacional e mesmo dos países latinos mais próximos. Depois de 2 dias na bela Miami onde visitei Miss Frances Barber, no Banco Nacional de Flórida, a quem fui apresentado pelo meu amigo Keneth Muller, de Fortaleza, viajei de “Bus” como hóspede de Mr. Edward Kraft. Visitei as explorações de rutilo de “Foot Mineral Co.”, em Viro Reach e Melourne. No dia 23, às 3 horas da madrugada eu batia ao Hotel Hueger, Richmond, Virgínia. — Não temos cômodo, diz o Mr. Manager. — Acabo de chegar de trem. Estive há 4 anos neste Hotel. Hoje tudo mudado. — You? — Sim, Senhor. Uma pausa — O Senhor pode me dizer onde fica a Associação Cristã de Moços? O homem falou mas eu não entendi o Inglês que saía com as fumaçadas do cachimbo. E depois: “Wait a minute, I’ve had a bed fixed up for you”. Isto eu entendi e fiquei contente. Fui para a cama, mas não dormi. A minha filha, uma das razões da minha viagem, estava na mesma cidade que agora me hospedava, e eu prelibava a satisfação do encontro pela manhã. No elétrico que me conduziu à capital do Estado de Virgínia, encontrei um marujo que falou muito amigo e muito alegre: — O Senhor do Brasil? — Yes. — Brasilian? — Yes. — Também já estive lá, gosto muito do Brasil. — Quando o Senhor esteve no Brasil? — Em 1939. Gostei muito. — Em que parte do Brasil o Senhor esteve? — I was in Buenos Ayres... Eu ri e expliquei, e me lembrei de certo autor inglês, que escreveu uma novela, criou um herói e mandou para o Rio de Janeiro “to learn Spanish”. Viajando-se por estas paragens, chega-se à evidência que o Brasil para muita gente ainda não foi descoberto. É a terra “ignota”. A Pequena ilha que Cabral pensou haver descoberto... Felizmente, porém, já podemos descortinar em futuro próximo um
  • 26. campo mais iluminado no panorama das realidades brasileiras. Além da propaganda da nossa embaixada em Washington, do Bureau de New York, e dos consulados nos principais Estados, há a do intercâmbio comercial direto e cultural mais acentuado cada dia. Estou hoje em Farmville e acompanho a série de interessantes palestras no auditórium do “State Teachers College> orientadas pelo “Institute For International Understanding Latin América”. Entre os conferencistas destaca- se o Prof. Henry P. Jordan, da New York University, e Miss Florence Arquin, do departamento de Educação. O Prof. Jordan que é sem favor uma honrosa expressão da cultura Americana e professor de Ciência Política da Universidade de New York me fez interessantes perguntas sobre o Brasil, do ponto de vista econômico e cultural. No dia 26 tivemos um fraternal almoço no “Rotary Club” da cidade. Farmville é uma pequena cidade de Virgínia distando 70 milhas da capital do Estado, com cerca de 15 mil habitantes, inclusive 45% de “colorados”. Vive da agricultura e da pecuária, possui 3 bancos o que é um índice da sua riqueza. Há em Farmville dois colégios, sendo um para moças, com capacidade para 900 alunas e outro para rapazes. Há duas “High-Schools” uma das quais para “Colorados” e 2 “Grade Schools”, ou escolas primárias com um curso de 8 anos. Isto dá uma idéia do que é a instrução neste país. Para uma população de 15 mil habitantes, seis estabelecimentos de ensino do Estado. Há 11 igrejas na cidade sendo 4 para “colorados”. Há dois cinemas os quais são pouco freqüentados aos domingos. Farmville é notável do ponto de vista histórico. Aqui passou o General Robert Lee em 1865, seguido pelo General Grant. Ambos pernoitaram no “Prince Edward Hotel” e ironia do destino, dormiram na mesma cama um após o outro. Esta cama histórica está aqui a cem metros, à rua São Jorge, e pertence ao casal I. R. Booker. Mr. Booker a conserva como uma relíquia deixada por seu progenitor, o coronel Richard Booker, do 3º regimento de Virgínia na guerra civil. Foi importada de Florença, Itália, com outra mobília que ainda está em uso. Por gentileza de Mrs. Booker tive o privilégio de me deitar nesta cama tradicional que revive a memória dos dois grandes generais da guerra entre os Estados. Appomatox dista 35 milhas. Lá está a casa velha em ruína onde Lee estacionou com seu Estado Maior. A “Old Tavern” onde se hospedaram então os viajantes. A cadeia. Um monumento erigido pelos filhos dos Confederados no local da antiga “Court House”. As ruínas da casa de Mc Lean, onde o
  • 27. General com 9 mil homens cercados pelos 118 mil de Grant, assinou a final rendição, de 9 de Abril. Conserva-se ali na velha Appomatox um escritório de Informações com farta e copiosa literatura. Há uma verba de 100 mil dólares votada pelo Congresso para a restauração dos edifícios do famoso campo de batalha. Este povo que até bem pouco não revelava interesse pelo Brasil, — faça-se justiça — sabe escrever sua história e guardar sua tradição. Mr. R. D. Wilson, meu hospedeiro em Farmville me proporcionou um dia alegre, levando-me no seu Chevrolet de 16 anos para ver de perto o local de batalha dos confederados que em espírito, nunca foram derrotados. Mrs. Wilson, Miss Martha Alice e a Senhorita Heline Cortez completaram a alegre companhia e a lotação do Chevrolet. Mas Farmville é para mim mais do que um índice de tradição da riqueza econômica e do elevado grau de educação dos Americanos do Norte: Farmville é a cidade dos Henderlites. O nosso querido mestre de Bíblia aqui está aos 82 anos e ainda faz a barba diariamente e se veste cedo pela manhã, como quando se preparava para nos dar uma aula de Teologia no incipiente seminário de Garanhuns, há 36 anos. A santa d. Martha, aos seus 79 anos ainda prepara o “breakfast”, o “lunch” e a “supper” para o seu bem querido “Baby” mais velho e companheiro da existência, e recorda aquela estimada mãe dos estudantes de Garanhuns. Rachel é hoje a Mrs. R. D. Wilson com um casal de lindos jovens, e é a bondade e doçura personificadas Martha é hoje Mrs. R. W. Plunkett, com dois interessantes filhos. Robert também casou. Toda esta gente querida me tem prendido a Farmville por 14 dias. No domingo passado preguei aqui na Igreja Presbiteriana a convite do pastor Philip Roberts. Entre os meus ouvintes lá estava o meu velho mestre de Teologia. Eu me lembrei do primeiro dia que ele me botou no púlpito da Igreja de Garanhuns... Sigo hoje para Princeton, New Jersey, para aproveitar dez dias de conferência do “Institute of Theology” no Seminário junto à Universidade. Lá encontrarei 300 líderes do Protestantismo americano. Lá me espera o Dr. Samuel Rizzo.
  • 28. Pioneiros do Norte O Presbiterianismo se estabeleceu no Brasil obedecendo a um sábio planejamento traçado pelas Juntas Missionárias de Nova York e de Nashville. Foi levada em conta, principalmente, a grandeza territorial do país. Rio de Janeiro e S. Paulo serviram de setor básico da expansão no sul. Bahia e Pernambuco complementaram a estratégia missionária para as operações do Norte e Nordeste. Os mensageiros da Boa Nova embora separados, no Brasil, por grandes distâncias, estariam unidos pela mesma fé, pela mesma esperança e pelo mesmo ideal de salvar almas, e de estabelecer a Igreja Presbiteriana do Brasil. Os pioneiros da Cruzada hoje vitoriosa devem ser lembrados e homenageados neste “ano de gratidão” e do Centenário da sementeira inicial. “As suas obras os seguem”. A Deus a nossa gratidão pelo século decorrido de bênçãos. Aos pioneiros, à sua memória a nossa reconhecida homenagem pela obra que realizaram, a despeito das condições adversas que tiveram de enfrentar. O GRANDE PIONEIRO O Dr. John Rockwell Smith foi o grande pioneiro do Presbiterianismo no Nordeste do Brasil. Pernambuco e Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas constituíram o seu primeiro campo de ação, sendo Recife o seu quartel general. O Dr. Smith chegou ao Recife a 15 de janeiro de 1873. Vinha de Kentucky, Estados Unidos da América do Norte. Era graduado da Universidade de Virgínia, e do Union Theological Seminary de Richmond. Moço, contava 30 anos. Solteiro, era forte no corpo como vigorosa sua fé. Mentalidade de evangelista, vocação de embaixador de Deus. Visão de profeta do Altíssimo, disposição de predestinado. Cultura de teólogo, métodos de professor. Com esses dotes de espírito e de inteligência, teria de ser mesmo o organizador das primeiras igrejas; do primeiro Presbitério; da primeira Junta de Missões; do primeiro Seminário, e da primeira imprensa presbiteriana do Nordeste e Norte do Brasil. O ambiente intelectual de Pernambuco estava, de certo modo, preparado para a sementeira da Boa Nova. O Gal. Abreu e Lima fizera, havia pouco, uma brilhante apologia da Bíblia e do Cristianismo apostólico, em polêmica com Monsenhor Pinto de Campos, pela imprensa. Feria-se a batalha
  • 29. da questão religiosa capitaneada por Frei Vital. Saldanha Marinho golpeava o ultramontanismo. Os Congregacionais já haviam iniciado a sementeira da Bíblia. No fim de 7 meses de aprendizado da língua dos brasileiros, o dr; Smith já podia pregar. Começou a sementeira. A 12 de agosto de 1873, eram recebidos por batismo e profissão de fé os primeiros conversos, em número de 12. Entre esses 12 apóstolos de nova vocação, 3 alcançaram, mais tarde, o ministério da Palavra. A 11 de agosto de 1878, foi organizada a Igreja Presbiteriana do Recife. Para defesa da Causa e doutrinação dos fiéis, o grande missionário fez circular um jornal, em 1875 — “Salvação de Graça” — o primeiro órgão de imprensa do Presbiterianismo do Norte. Os reforços missionários que chegavam eram insuficientes. O Dr. Smith criou um curso teológico e preparou 5 ministros: Belmiro de Araújo César, José Francisco Primênio e João Batista Lima. Estes 3 foram ordenados em 1887. Seguiram-se mais 2 ordenados em 1889: o Rev. Juventino Marinho e o Rev. W. C. Porter. The North Brazil Presbyterian Mission foi organizada em 1884, com os missionários Smith, Porter, Joseph Gauss, De Lacy Wardlaw e George W. Butler. O Dr. Smith residiu no Recife durante dezenove anos de sua preciosa existência. Evangelizou, organizou igrejas e congregações, ensinou Teologia e preparou ministros. Fez excursões a outros Estados. Lançou a semente do Seminário Presbiteriano do Norte. Deixou o Recife em 1892, por determinação do Sínodo do Brasil, para ensinar no Seminário do Sul, em Nova Friburgo. Glorifiquemos sua memória, à vista da obra que realizou. A EXPANSÃO PRESBITERIANA De Recife a obra presbiteriana irradiou para Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Piauí, Pará e Amazonas. Em 1904, havia Igrejas organizadas em todas as capitais desses Estados, e algumas pelo interior. Muitas congregações floresciam. Cinco jornais haviam sido postos em circulação, se bem que quase todos de existência efêmera. Da. Catarina Porter tinha fundado em Natal a Escola Evangélica. Outra Escola de igual tipo era ensaiada em Fortaleza. O Rev. Martinho de Oliveira fundara em Garanhuns uma Escola Paroquial que veio a ser continuada pelo Colégio 15 de Novembro. Miss Elisa Reed fundara no Recife o Colégio Americano Evangélico. O Dr. George Butler, o Rev. Martinho de Oliveira e o Dr. George Henderlite já haviam ressuscitado em Garanhuns o Seminário que nascera no
  • 30. Recife, e que morrera com a retirada do Dr. Rockwell Smith para o Sul. Os Missionários cedo compreenderam a vantagem do emprego de obreiros leigos nos seus campos. Nada menos de 12 desses consagrados servos do Senhor encontramos operando de Alagoas ao Amazonas, nas capitais e nas vilas e cidades do interior, dentro das primeiras três décadas da evangelização desta região brasileira. Em 1880 a 21 de novembro, organiza-se a segunda Igreja em Pernambuco, a Igreja de Goiana. Em 1888 a de Monte Alegre. Em 1895, Garanhuns. Em 1900 a de Canhotinho. Em 1887 a de Mossoró. Mas, antes se deu a penetração na Paraíba. Em 1879, o Dr. Smith realizou conferência no Teatro Santa Cruz, capital do Estado. A 19 de dezembro de 1884, era organizada a Igreja Presbiteriana ali, da qual o Sr. Minervino Lins foi o primeiro presbítero, tendo também sido um dos primeiros convertidos. O obreiro Francisco Pontes sofreu cruel perseguição na Paraíba. Sua esposa morreu mártir. Recebera uma pedrada por ocasião de um culto, enlouqueceu, e, em conseqüência, veio a falecer. O Rev. Belmiro César foi o primeiro pastor brasileiro da Igreja da Paraíba. O missionário Rev. George Henderlite o substituiu em 1893. O pioneiro de Pernambuco e da Paraíba o foi igualmente de Alagoas. Em 1874 o grande missionário pregou em Maceió, onde foi organizada a quinta Igreja do setor de Pernambuco, em 1887, tendo sido a de Pão de Açúcar, no mesmo Estado organizada dois meses antes. Os missionários Revs. J. Boyle, Le Comte, e J. Henry Gauss, cooperaram com o Dr. Smith na região de Recife e Alagoas. Assim também os leigos Manuel Viana, Alexandre Gama e Filadélfio Pontes. O Rev. Gauss fundou, em 1885, em Maceió, o “O Evangelista”, o segundo órgão da imprensa presbiteriana no Norte do Brasil. O missionário W. Calvin Porter é considerado o pioneiro do Presbiterianismo no Rio Grande do Norte. O Rev. Porter se fixou em Natal em 1885. Batizou no mesmo ano 85 adultos e 18 menores. A Igreja de Natal foi organizada a 3 de fevereiro de 1896, e a 6 de setembro do mesmo ano inaugurou o seu templo. Antes de o Rev. Porter se estabelecer em Natal, ali estiveram, em visita, vários obreiros leigos do comando do Dr. Smith, assim como os Revs. Belmiro César e De Lacy Wardlaw. O paralítico Antônio Eustáquio foi o primeiro convertido em Natal. O prof. Joaquim Lourival fez publicar em 1893 um jornal em Natal, o “O Pastor”, terceira folha presbiteriana do Norte. O Rev. Porter serviu à Igreja Presbiteriana do Rio Grande do Norte
  • 31. durante 18 anos dos seus 44 de missionário no Brasil. O Rev. Smith visitou Fortaleza em 1875. Pregou em inglês à colônia inglesa. Em 1881 mandou para Fortaleza o obreiro leigo João Mendes Pereira Guerra. O primeiro converso em terras cearenses foi o Sr. José Damião de Souza Melo, de nacionalidade portuguesa. Mas o pioneiro do presbiterianismo no Ceará foi o missionário Rev. De Lacy Wardlaw que aportou a Fortaleza a 27 de setembro de 1882. A 8 de julho de 1883 batizava os 13 primeiros convertidos ao Evangelho na terra de José de Alencar. A Igreja de Fortaleza foi organizada a 6 de agosto de 1890. A 12 de outubro de 1898 lançava a pedra fundamental do seu templo à rua Conde D’Eu, 804. O Dr. Smith visitou S. Luiz do Maranhão em 1875. Três anos depois pregou ali o Rev. A. L. Blackford. O Rev. Wardlaw em 1882. Filadélfio Pontes e João Mendes Pereira Guerra fizeram, a esse tempo, farta sementeira do Evangelho na capital maranhense. Mas o pioneiro do presbiterianismo no Maranhão foi o Rev. Dr. George W. Butler que se fixou em S. Luiz em 1885. O Dr. Butler teve logo em S. Luiz bons cooperadores na pessoa do Sr. Henry Airlie, cônsul inglês, e do Sr. Jerônimo Tavares, cônsul português. O Dr. Paulo Duarte, primeiro governador do Estado, proclamada que foi a República. A esposa do Dr. Paulo era membro professo. O Sr. Thomas MacDonald, mecânico escocês. Estas quatro famílias constituíram o pedestal do Presbiterianismo no Maranhão. A Igreja de S. Luiz foi organizada em 1886, e no mesmo ano construído e inaugurado o templo da Praça da Alegria. O Dr. Butler levou logo a pregação do evangelho ao interior do Estado, e à capital do Piauí. Em 1887 realizou pregações na cidade de Terezina. O Rev. W. M. Thompson chegou a S. Luiz do Maranhão em 1890 e foi operoso auxiliar do Dr. Butler no Maranhão e no Piauí. A Igreja de Caxias foi organizada a 22 de setembro de 1895. O Rev. Otávio Costa foi o primeiro pastor nacional na Igreja de Caxias. O Rev. C. Womeldorf também trabalhou no Estado do Maranhão, residindo em São Luiz. A semente do Presbiterianismo foi levada para Belém do Pará por emigrados do Nordeste. Entre estes, Pedro Costa, Júlio Rabelo e Eduardo Reis. O Rev. C. Womeldorf visitou Belém em 1891. Também esteve em Belém o Rev. Blackford, e os leigos João Mendes Pereira Guerra e Filadélfio Pontes.
  • 32. A Igreja foi organizada a 9 de novembro de 1904. O Rev. Thompson substituiu o Rev. Womeldorf no pastorado de Belém em 1905. O primeiro Pastor nacional da Igreja de Belém foi o Rev. Antônio Carvalho da Silva Gueiros. Os Revs. Womeldorf e Thompson fazem jus ao título de pioneiros do Presbiterianismo em Belém do Pará. A Igreja Presbiteriana de Manaus foi organizada a 18 de novembro de 1904 pelos Revs. Thompson e Lourenço de Barros. Este ministro foi o seu primeiro pastor. A sementeira do presbiterianismo, porém, já se fazia em Manaus desde 1898. Circulou em Manaus o 4º órgão pioneiro da imprensa presbiteriana do Norte: “O Evolucionista”, depois denominado o “Arauto”. Teve como redatores os Revs. Lourenço de Barros e Emílio Kerr. O Rev. Thompson superintendeu todo o campo do extremo Norte, até 1909. PIONEIROS DA CULTURA TEOLÓGICA A lacuna deixada pelo Dr. Smith foi preenchida pelo Dr. George W. Butler, que já trabalhava no Maranhão desde 1885. O Dr. Butler demorou algum tempo no Recife. Construiu a Igreja da Praça Joaquim Nabuco. Deixou depois o Rev. Juventino Marinho no encargo do pastorado e se deslocou para Garanhuns. Em meio a cruéis perseguições, em perigo de vida, lançou o abnegado homem de Deus a semente da Palavra, em Garanhuns. O Senhor o defendeu e abençoou, de modo que, em 1895, a congregação de Garanhuns contava 15 comungantes. O Rev. Martinho de Oliveira foi chamado a cooperar com o Dr. Butler em Garanhuns e foi o segundo pastor da Igreja. Dotado de muita fé e grande dinamismo construiu o primeiro templo da Igreja de Garanhuns e instalou uma escola para os filhos dos crentes, tarefa que foi mais tarde continuada pelo Colégio 15 de Novembro. O Rev. Martinho de Oliveira foi o pioneiro da instrução presbiteriana na cidade de Garanhuns. Com a cooperação do Rev. Martinho, recomeçou o Dr. Butler em Garanhuns, a Escola de Teologia, da qual fora o Dr. Smith precursor em Recife. O jovem Jerônimo Gueiros foi o primeiro aluno do incipiente Seminário de Garanhuns. O Dr. George E. Henderlite chegara dos Estados Unidos à Paraíba em 1893, assumindo o pastorado da Igreja da capital. O Dr. Henderlite, professor e teólogo de vocação acentuada, manteve um curso de teologia na Paraíba, ao mesmo tempo que pastoreava a Igreja. Participaram desse curso Manuel Machado e, ao que parece, Martinho de Oliveira, e Alfredo Guimarães. Estes 2 últimos foram ordenados na Paraíba pelo Presbitério de Pernambuco, em 1896. O
  • 33. candidato Manuel Machado foi consagrado em 1900. Na providência de Deus, o Dr. Henderlite seria o varão predestinado para continuar, em Garanhuns, o Seminário do Norte, que o Dr. Smith havia ensaiado no Recife. O Dr. Henderlite se transferiu para Garanhuns onde já operavam o Dr. Butler e o Rev. Martinho, para ensinar no Seminário. Agora, com 2 missionários e um ministro nacional à frente, o Seminário do Norte deveria tomar forma definitiva. Sofreu, porém, profundo golpe, em 1903. O Rev. Martinho de Oliveira teve morte prematura. O Seminário de Garanhuns foi golpeado. Nessa altura dos acontecimentos, o Dr. Henderlite teria pregado um sermão na Igreja de Garanhuns que se tornou memorável, destacando-se estas palavras de resolução e de fé: “Martinho de Oliveira morreu, mas o Seminário não morreu”. E não morreu mesmo. O Dr. Henderlite passou a ser a alma do Seminário. Dentro do curto prazo de pouco mais de meia dúzia de anos apresentou ao Presbitério de Pernambuco, para licenciatura ou ordenação, mais de meia dúzia de obreiros, que passaram a servir várias regiões do campo nortista. O Dr. Henderlite cercou-se de cooperadores: o prof. Soriano Furtado; o Rev. Jerônimo Gueiros; o Rev. W. M. Thompson e Da. Cecília Siqueira, diretora e exímia professora do Colégio 15 de Novembro. Sede do Seminário por cerca de 20 anos, Garanhuns se tornou o centro de irradiação das forças presbiterianas. A Antioquia do Presbiterianismo do Norte. O Dr. Butler passara a residir em Canhotinho onde firmou o seu quartel general como médico e missionário. Ali organizou a Igreja, a 21 de janeiro de 1900, da qual foi o primeiro pastor. O Colégio Agnes Erskine foi fundado no Recife, em 1904. Miss Eliza Reed, pioneira da Escola Presbiteriana em Natal, como da. Catarina Porter, foi também a pioneira dessa obra do Recife e sua primeira diretora. O Seminário do Norte, o Colégio 15 de Novembro e o Agnes Erskine têm sido por mais de meio século os bastiões do Presbiterianismo no Nordeste e Norte do Brasil, instruindo e educando a mocidade da Igreja e da Pátria, e preparando os ministros da Palavra. Entre os pioneiros dessa obra de fé e consagração a Cristo e a humanidade avultam estes mestres da cultura teológica: Rev. Dr. John Rockwell Smith, Rev. Dr. George E. Henderlite, Rev. Dr. George W. Butler e Rev. Martinho de Oliveira. Os nomes desses servos do Senhor devem ser associados ao Seminário Presbiteriano do Norte nas festas centenárias da Igreja Presbiteriana do Brasil. Resumindo: Grandes pioneiros: Smith e Butler; Wardlaw e Henderlite; Porter e
  • 34. Thompson. Ministros nacionais pioneiros: Belmiro e Primênio; João Batista e Juventino; Martinho de Oliveira, Alfredo Guimarães e Manuel Machado. Primícias do Seminário de Garanhuns: Jerônimo e Antônio Gueiros; Benjamim Marinho e Alfredo Ferreira; Lourenço de Barros e Cícero Barbosa; Mota Sobrinho e Antônio Almeida. Leigos pioneiros: João Mendes Pereira Guerra e Minervino Lins, Francisco Filadélfio de Sousa Pontes e Manuel Viana; Silvino de Oliveira Neves e Florêncio da Gama; Jerônimo de Oliveira e Vera Cruz; Raimundo Honório e Manuel do Rego; Félix Abreu e Raimundo Ferreira. Imprensa pioneira: Salvação de Graça, 1875, Recife; O Evangelista, 1885, Maceió; O Pastor, 1893, Natal; O Evolucionista, 1894, Manaus; O Século, 1895, Natal; Norte Evangélico, 1909, Garanhuns. Igrejas pioneiras: Recife, 1878, Goiana, 1880; Paraíba, 1884. S. Luiz, 1886, Mossoró, 1887, Pão de Açúcar, 1887, Maceió, 1887; Monte Alegre, 1888; Fortaleza, 1890; Garanhuns, 1895; Caxias, 1895; Natal, 1896; Canhotinho, 1900; Belém, 1904. Manaus, 1904. Concluindo: Presbiterianos do Brasil: Acompanhai a Igreja Presbiteriana em sua avançada para a glória. Trilhai a estrada desbravada por esses heróis da fé, que foram pioneiros. Avançai! Segui o seu exemplo. Homenageai a sua memória! Repeti os seus feitos de bravura e de fé! Eles vos legaram um patrimônio de honra e de coragem, de dignidade e de trabalho, de consagração e de fé. Herdeiros desse patrimônio espiritual, fazei-vos dignos dele na expansão do Presbiterianismo no Brasil. Deste Presbiterianismo da Bíblia Sagrada, e da Confissão de Westminster, deste Presbiterianismo em marcha no Brasil, de Norte a Sul. Os pioneiros venceram a primeira batalha, a mais árdua e mais difícil. Resta-vos ganhar a guerra já agora à sombra da democracia e da liberdade de palavra e de ação, e com as facilidades da presente civilização que abre estradas, constrói pontes e encurta as distâncias. Sois embaixadores da Boa Nova. Sois cooperadores de Deus na edificação da Pátria e da Igreja. I Cor. 3:9.
  • 35. Relatório Ministerial Do relatório das atividades ministeriais do Rev. Natanael Cortez ao seu Presbitério, como Presidente da Executiva do Supremo Concilio, destacamos os seguintes pontos, por serem de interesse geral de toda a Igreja: 1 — A Igreja Presbiteriana do Brasil está entabolando entendimento com a Igreja Presbiteriana Independente, no sentido de se unificarem esses dois ramos do presbiterianismo no Brasil, para maior brilho das comemorações do centenário em 1959. 2 — O plano de consolidação dos Seminários, Imprensa Oficial e Casa Editora deve ser apoiado e propagado no seio de todas as Igrejas e presbitérios, para efeito, além de outras razões, do levantamento da quota de finanças que compete à Igreja Presbiteriana do Brasil, dentro do plano e durante a Campanha do Centenário. 3 — O Seminário Presbiteriano do Norte vai ser dotado de instalações que o capacitam a receber maior número de candidatos ao santo ministério e a melhor servir às Igrejas. Estas devem ajudá-lo com suas orações e recursos materiais, e fornecer-lhe candidatos verdadeiramente vocacionados pelo Espírito Santo. 4 — A Igreja Presbiteriana do Brasil deve manter-se equidistante do movimento antagônico que se processa fora de sua esfera de ação, entre o Concilio Mundial de Igrejas e o Concilio Internacional de Igrejas Cristãs, este orientado pelo Dr. Carl McIntire. 5 — A Constituinte para a reforma da Constituição vai reunir a 5 de julho próximo em Caratinga, Minas. Conforme entendimento com a Comissão do Ante-Projeto, o art. refererente às diaconisas será eliminado, de acordo com o que pleiteia o Sínodo Setentrional. Este deve eleger os seus representantes. 6 — O Supremo Concílio reunirá, em sessão ordinária, com os mesmos representantes sinodais, na Igreja de Alto Jequitibá, em seguida ao encerramento da Constituinte. 7 — O Seminário de Campinas inaugurou os seus novos edifícios, embora não concluídos, em setembro de 1949. Pode acomodar 100 estudantes. 8 — O Presbitério Ceará-Amazônia está classificado em sexto lugar na lista de contribuição dos dízimos de suas Igrejas para as Causas Gerais, contribuição que subiu de Cr$ 20.000,00 o ano passado. 9 — As AA. FF. da Igreja do Sul dos EE. UU. fizeram uma oferta de Cr$ 10.000,00 para o nosso órgão oficial “O Puritano”. 10 — A Executiva do S. Concilio recomendou um movimento financeiro especial, em todas as Igrejas, em data e de modalidade a serem
  • 36. fixadas, para fins de execução do programa da Campanha do Centenário, tendo prioridade o Plano de Consolidação. 11 — Os Sínodos Setentrional, Minas-Espírito Santo e Meridional manifestam-se interessados em melhorar a literatura de nossas EE. DD., especialmente no que respeita as classes infantis.
  • 37. Seminário Presbiteriano do Norte, Campanha dos Leigos Continua em marcha acelerada, acompanhando o avanço da I.P.B. para o seu Centenário, a campanha em favor das obras complementares do Seminário Presbiteriano do Norte, campanha que se distingue por “Campanhas dos Leigos”, em razão de ter sido aberta com valiosa oferta de dois irmãos leigos de S. Paulo. O Rev. Natanael Cortez, membro da diretoria de nossa Casa de Profetas do Senhor pelo Presbitério Ceará-Amazônia, regressando há pouco do Sul, dos trabalhos da C.E. do S.C. e do C.I.P., demorou cerca de 10 dias no Estado do Espírito Santo, campo do Sínodo Minas-Espírito Santo, precisamente dos Presbitérios de Vitória, Cachoeiro de Itapemirim e Alegre, a serviço da nossa campanha em marcha. Visitou as igrejas de Vitória, Santo Antônio, Maruípe e Vila Velha; Cachoeiro e Guandu; Alegre, Guaçuí, Irupi e Ibitirama. Juntando-se ao seu filho em Alegre, o Presbítero e candidato ao santo ministério, Dr. Eldir Cortez, que o acompanhou nas visitas a várias igrejas, e revendo velhos amigos, disse-nos o Rev. Cortez haver encontrado, por toda parte abertas as portas das igrejas e os corações dos crentes e pastores, ao apelo do Norte, reconhecido justo e urgente, para consolidação das bases do Seminário do Recife, antes ou até o Centenário de 1959. Com efeito, o Seminário que o Dr. Rockwell Smith ensaiou no Recife e que o Dr. Butler, Martinho de Oliveira e George Henderlite consolidaram na alma de todos os presbiterianos do Brasil, pelos elementos fornecidos ao ministério nacional, durante mais de 70 anos de existência, carece ainda de consolidação material, para melhor servir à Igreja Presbiteriana do Brasil na preparação do seu ministério. A Campanha dos Leigos objetiva duplicar-lhe, pelo menos, os aposentos para estudantes, além de dotá-lo com duas casas residenciais para professores e um edifício para administração. A favor dessas obras de urgência, as igrejas recém visitadas pelo Rev. Cortez subscreveram compromissos no valor de cerca de Cr$ 80.000,00. O “Norte Evangélico”, que patrocina a Campanha dos Leigos, agradece essa valiosa ajuda e a cooperação moral das referidas igrejas do Sínodo Minas-Espírito Santo e dos seus pastores Revs. Renato Ribeiro, Wellst Guida, Orlando Sattler e Gedaias Gueiros; Jader Gomes Coelho e Jair Alvarenga; Francisco Neto, Wilson Lopes, Davi Falcão e Oséas Heckert. Fazemos extensivos nossos agradecimentos a Da. Zelina Sanchez da
  • 38. Silva, que se prontificou a levar o eco da nossa Campanha à igreja de Volta Redonda; e à Srta. Eny Costa voluntária representante da Campanha junto à Igreja de Santo Antônio (bairro) do Rev. Renato Ribeiro em Vitória. Ao Rev. Natanael Cortez nossas congratulações pelos frutos de seu trabalho em prol do nosso Seminário.
  • 39. A Reforma Agrária É injusta a justiça que se processa com as armas da injustiça. A terra é uma como seara que Deus plantou para o homem cultivar e se beneficiar com os seus frutos. Dos oito e meio milhões de quilômetros quadrados de terras do Brasil, dois e meio milhões pertencem a agricultores, e seis milhões à Nação e aos Estados. O Brasil tem cerca de onze milhões de agricultores, e destes, 53% são proprietários de terras, e só 47% não possuem terras. As terras do Brasil, em que se explora a agricultura, não excedem de 6% do seu total. Mais de cem mil proprietários de 5 a 50 Ha. de terras, no Rio Grande do Sul, vivem em penúria por não auferirem de suas terras o indispensável à subsistência, razão por que estão se deslocando para Santa Catarina e Paraná, alienando ou abandonando essas terras que são suas. Falta-lhes assistência. O cearense, pequeno proprietário, emigra vendendo ou abandonando suas terras não só em razão das secas, mas, por não poder explorá-las por falta de ajuda do Poder Público, como se constatou ouvindo-se cerca de cinco mil nordestinos chegados à Hospedaria de Imigrantes em S. Paulo, em novembro de 1961. Esses fatos são constatados pelo Dr. Lourenço Mário Prunes, e outros, em seu livro “REFORMA AGRÁRIA INTEGRAL”. Como se pode ver pelo exposto acima, a Nação tem muita terra para dar a quem não tem. A REFORMA AGRÁRIA NO CEARÁ A Reforma Agrária no Ceará deve atender à estrutura da região e à sua condição ecológica. O Ceará tem problemas que lhe são peculiares. A Reforma Agrária deve atender a estas peculiaridades dentro da fronteira do Estado, onde as grandes secas são mais intermitentes do que nas demais secções do Polígono. O Ceará não tem rios perenes e é a terra de um dos maiores rios secos do mundo. Somente uns 30% de seu solo se constitui de terras próprias para a lavoura. As terras irrigadas a jusante dos seus açudes são apenas cerca de 20 mil Ha., enquanto que o Rio Grande do Sul, que não tem secas, trabalha 300 mil Ha. de terras irrigadas. O Poder Público deve preocupar-se com o dar água aos agricultores
  • 40. cearenses, com os seus problemas agrícolas e não apenas com o dar terra. Leve-se em conta que 70% das terras do Ceará não se prestam para a lavoura de subsistência humana, nem mesmo com água. O camponês cearense é um eterno sofredor, não por falta de terra, precisamente, mas por falta de água e de assistência do poder competente. Ele prepara o campo para a sementeira, mas não chove e ele não semeia. Semeia, mas falta a chuva e ele não colhe, e perde o fruto do seu árduo trabalho. Convenhamos que a Reforma Agrária dê terra ao homem do campo. Mas quem lhe garantirá a água para a terra beber para ele plantar e colher? Com este complexo de problemas e proclamadas que são as peculiaridades regionais do Ceará, a Reforma Agrária neste Estado não terá êxito se processada em ambiente revolucionário. Nem percebemos no Ceará clima de oposição à Reforma Agrária. Ao contrário, sentimo-nos dispostos a recebê-la, em obediência ao princípio de justiça social, líderes do comércio e da indústria e proprietários de terras, que sabem ressalvados os seus direitos constitucionais. Reconhecida e proclamada a complexidade de problema da terra e dos que nela habitam, acreditamos que a Reforma Agrária no Ceará para alcançar resultado satisfatório deve respeitar direitos adquiridos e conciliar interesses. Devem ser distribuídas, em primeiro lugar as terras devolutas do Estado e da Nação. Deve ser processada a reforma dentro do conceito de boa vontade e de cooperação que congrace o Estado, os proprietários de terras e os líderes do povo, por isso que a Reforma se enquadra num plano de justiça social e ao mesmo tempo consulta interesses do desenvolvimento econômico do Estado, e do homem, assegurando paz e ordem na sociedade, com uma equitativa distribuição da riqueza e de outros privilégios da vida. Reconheça-se a dignidade humana, e que o homem criado livre tem o direito de procurar viver feliz na seara que Deus plantou e lhe entregou para cultivar. Mas leve-se em conta, igualmente, que os frutos da injustiça não devem servir de padrão a quem deseja fazer justiça. Tem de ver, também, a Reforma Agrária no Ceará com o problema da escassez de braços para a lavoura, que se agravará quando dos deslocamentos dos milhares de famílias para as colônias do Mearim, conforme o plano da Sudene. E tem de ver, igualmente, com as deficiências dos transportes. Para que semear se não se pode colher? E para que produzir se não se pode transportar para os mercados consumidores? O Brasil produz caminhões, mas não tem estradas e importa combustível. Avançou na indústria antes de produzir o material de base para subsistência humana. Vemos o plano diretor da Sudene como um complemento ou associado
  • 41. da Reforma Agrária no Nordeste. Mas, proporcionará o Governo os recursos para sua execução? Os centros urbanos do Nordeste sofrem a crise da super-população, em conseqüência do abandono do campo pelos agricultores, açoitados e tangidos pela seca. Gera-se a crise de habitação. A cidade se espraia pelo imperativo da necessidade. Processam-se os loteamentos especulativos. Cobrem-se de casebres os chamados cinturões verdes que outrora produziam para abastecer a população normal. Resultado: Encarecimento da vida, crise do transporte urbano, fome, doença, miséria, como se vê em Fortaleza no bairro do Pirambu com os seus 40 mil flagelados famintos e maltrapilhos, que são resíduos das secas. A Reforma Agrária pode prevenir esta situação dando condições ao homem para se fixar no campo onde nasceu. A Reforma Agrária sugere, também, por justiça, a necessidade da reforma urbana. O cearense é o Asverus da lenda. É ave de arribação, emigra e se distribui por todo o Brasil. Mas não é somente a seca e o não ter terra que o faz emigrar. Ele emigra porque herdou o espírito aventureiro dos seus ancestrais. Emigra para experimentar a sensação de novas fruições. Emigra porque encontra a facilidade do poleiro de um pau de arara que o leva a novas terras e a novas gentes. Concluindo: A Reforma Agrária no Ceará deve dar terra, água e condições ao homem. Condições mínimas: escola, assistência social, sanitária e técnica, habitação condigna, utensílios para a lavoura e financiamento fácil, se quer fixá-lo no campo, e fazê-lo feliz produzindo para ele e para a sociedade, para o Ceará e para o Brasil. Sem água e sem essas condições essenciais à vida normal do homem e sua família, a terra somente não basta, não é tudo. O bem-estar econômico com liberdade e educação são fatores da felicidade e dignidade do ser humano. A Reforma que propõe fazer justiça — não deve usar as armas da injustiça, obedecendo-se este princípio: É INJUSTA A JUSTIÇA QUE SE PROCESSA COM AS ARMAS DA INJUSTIÇA.
  • 42. A Igreja Presbiteriana do Recife Celebra o 80º Aniversário de sua Organização Síntese do sermão histórico do Rev. NATANAEL CORTEZ na solenidade de 11 de agosto. INTRODUÇÃO O pregador começa citando o texto de São Paulo aos Coríntios, 1ª 3:6: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento”. Comenta e aplica, e aduz uma palavra de saudação e solidariedade. É assim, diz ele, na Seara do Senhor. Uns plantam, outros regam. Mas é Deus quem faz florescer e frutificar a lavoura que o Senhor mesmo cultiva com o sopro fertilizante da Palavra e do Espírito. Os pioneiros da cruzada da fé plantaram a Igreja Presbiteriana do Recife. Plantaram em dias sombrios, em perigo de vida, com soluços e lágrimas. A semente germinou, e a Igreja cresceu, porque Deus abençoou a sementeira. São decorridos 80 anos. E Deus ainda faz prosperar a Igreja Presbiteriana do Recife, porque vós, irmãos, continuais a plantar a semente da Palavra de Deus, que os pioneiros vos outorgaram, e a regar a lavoura do Senhor com fé e consagração. Nesta data de alegria e ações de graças, eu vos trago a saudação do Sínodo Setentrional. Eu vos anuncio a palavra oficial de solidariedade, da Igreja Presbiteriana do Brasil, por vossa firmeza doutrinária, ortodoxia e fidelidade ao seu governo, disciplina e ordem. E eu me permito distinguir, neste particular, o vosso dedicado pastor, o Rev. Abelardo Paes Barreto, e o vosso presbítero, o Dr. Washington Amorim, os eficientes líderes, nas horas incertas da batalha, como no remanso da paz construtiva que ora vos acalenta. Prova concreta desta solidariedade é a resolução do Supremo Concilio, incluindo no seu plano orçamentário a contribuição de três milhões de cruzeiros para a construção do vosso novo templo. É um presente de aniversário. Recebei-o simbolicamente. Segue-se uma prece de ações de graças. HOMENAGEM AOS PIONEIROS Presto, valendo-me da oportunidade, diz o pregador, uma homenagem a três grandes vultos do Presbiterianismo, que serviram a Cristo Jesus, no setor da Igreja Presbiteriana do Recife, nas primeiras décadas de sua existência eclesiástica:
  • 43. a) John R. Smith, o grande pioneiro. b) George Butler, o construtor. c) Juventino Marinho, o pastor. O Dr. Smith chegou ao Recife a 15 de janeiro de 1873. Batizou os primeiros conversos a 12 de agosto do mesmo ano, em numero de 12. Organizou a Igreja Presbiteriana do Recife a 11 de agosto de 1878. Foi um dos organizadores da Missão Presbiteriana do Norte, e do Presbitério de Pernambuco. Criou um curso de teologia e preparou os 4 primeiros ministros presbiterianos do Norte, e evangelizou cidades e sertões, levando a palavra da fé até S. Luiz do Maranhão, até o Estado de Alagoas. O Dr. George Butler, médico, evangelista e pastor, substituiu o Dr. Smith na Igreja do Recife. Construiu o templo da rua da Concórdia, ajudando com as próprias mãos, como havia feito na construção do templo do Maranhão. As mãos delicadas que sabiam cortar o corpo enfermo dos seus clientes, também sabiam utilizar a ferramenta do pedreiro e do carpinteiro na feitura de casas de oração para o povo de Deus. O Rev. Juventino Marinho foi um dos 4 ministros preparados no Recife, no âmbito desta Igreja aniversariante, pelo Dr. Smith. Foi ordenado pelo Presbitério de Pernambuco em 1889. Foi o primeiro pastor nacional da Igreja Presbiteriana do Recife. Deus o conserva ainda na Igreja Militante — essa preciosa relíquia do Presbiterianismo do Brasil. Homenagem, pois, a esses pastores pioneiros da Igreja Presbiteriana do Recife, nesta data festiva de louvores a Deus. A EXPANSÃO DO PRESBITERIANISMO NO NORTE Fala o Rev. Natanael Cortez da como a Igreja Presbiteriana do Recife se vincula à obra de expansão do Presbiterianismo no Nordeste e Norte do Brasil: Na obra de evangelização, No setor da educação teológica, No campo da educarão secular. a) Na obra de Evangelização — Recife serviu de quartel general do Presbiterianismo no Norte. A Igreja de 11 de agosto foi o escritório dos planejamentos e preparação espiritual. Irmã mais velha, pode ser honrada também como a genitora das outras igrejas desta região. Florescem hoje nos limites do Sínodo Setentrional as seguintes igrejas que se enquadram no conceito acima: 1) Igreja de João Pessoa, organizada em 1884, 2) São Luis do Maranhão, em 1886,
  • 44. 3) Caxias, em 1895, 4) Fortaleza, em 1890, 5) Natal, em 1895, 6) Garanhuns, em 1895, 7) Canhotinho, em 1900, Não são as 7 igrejas do Apocalipse, mas são 7 filhas da Igreja do Recife, da qual receberam os influxos do Evangelho que lhes levaram os missionários pioneiros, os ministros pioneiros, e os leigos pioneiros, quase todos preparados no ambiente espiritual da Igreja do Recife. Os leigos eram precursores, fazendo a distribuição da Bíblia Sagrada. Tiveram papel destacado, entre outros, Minervino Lins e Filadélfio Pontes; João Mendes Pereira Guerra e Florêncio da Gama; Jerônimo de Oliveira e Manoel Viana. Seja bendita sua memória. Nesta data aniversária, a genitora, qual rainha vitoriosa, é o capitei do monumento. As filhas ao redor do pedestal lhe atiram pétalas de rosas; e ornamentam com ramos de oliveira a estrada que lhe resta a percorrer. b) No setor de educação teológica — Os primeiros ministros presbiterianos do Norte foram antes membros da Igreja Presbiteriana do Recife. Tiveram no seio desta Igreja sua formação moral e espiritual, plasmaram o seu caráter. O pastor da Igreja foi, ao mesmo tempo, seu mestre de teologia. Esses ministros chamaram-se Belmiro de Araújo César, José Francisco Primênio, João Batista Lima, e Juventino Marinho. Nasceu, portanto, no Recife, o Seminário do Norte. A Igreja Presbiteriana do Recife não só é genitora das 7 igrejas acima referidas, mas o é também dos 4 ministros citados, e do Seminário Presbiteriano do Norte que nasceu de suas entranhas e ainda floresce ao seu lado, porque Rockwell Smith o plantou e “Deus lhe deu o crescimento”. A Igreja cujo aniversário se comemora neste recinto, é pois, a Igreja pioneira na expansão do Presbiterianismo no Norte, cooperando, desde sua organização em 1878, na obra de evangelização, como na formação do ministério presbiteriano. Merece, portanto, por mais este título, as homenagens que lhe são tributadas nesta festa de seu 80º aniversário. CONCLUSÃO O Rev. Cortez conclui sua oportuna mensagem com uma exortação e um apelo. Prezados irmãos da Igreja Presbiteriana do Recife: Vós sois a casa edificada sobre a rocha. Os ventos sopraram, as chuvas caíram, e os rios desceram. Mas não fostes abalados. Sim, estais
  • 45. alicerçados sobre a Rocha, Jesus Cristo. A Palavra de Deus é a lâmpada do vosso caminho. Firmai-vos cada dia mais na Rocha dá Salvação, e buscai mais luz pelo conhecimento da verdade. Sois lavoura de Deus que os pioneiros plantaram. Crescei, frutificai. Como Apolo, é vosso dever regar a lavoura de Deus. Sois edifício de Deus. Os pioneiros lançaram o fundamento. Edificai sobre ele, o qual é Jesus Cristo. Ninguém pode pôr outro fundamento. Construí sobre Jesus Cristo a vossa vida, a vossa fé, a vossa esperança — todo o vosso ser. Deus vos fará crescer sempre. Deixo convosco o texto apostólico: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento”.
  • 46. Retrato das Secas De Oeiras a Floriano medem cento e vinte quilômetros de carroçável. O trecho da rodovia que liga a antiga capital do Piauí à florescente cidade do Parnaíba estava apenas começado. A travessia é árdua, é penosa pela aridez da região deserta e sem água. Penosa para o ser humano que a faz sobre o transporte de quatro pés, ou mesmo sobre o de quatro rodas. Imagine-se para quem a faz sobre dois pés de carne e osso, desnudos, sem a proteção de um anteparo qualquer de couro ou de borracha — da borracha que serviu de sapato a um jipe, a um caminhão ou a um carro de luxo. Pés já feridos dos cardos e das pedras ponteagudas, em caminhadas repetidas cada sol. Pés queimados pela poeira escaldante da terra sedenta, e calcinada por anos de secas impiedosas. Toda essa travessia deserta de casa e de habitantes humanos, vê-se salpicada de cearenses semi-nus, sedentos e famintos, quase esqueléticos, que fazem de pé a jornada dos cento e vinte quilômetros de Oeiras a Floriano, porque não conseguem o poleiro de um “pau de arara”, para nele vencerem o estirão desabitado. Esses cearenses açoitados pela calamidade da seca, vislumbram no Maranhão a sua Canaã. E vão para lá, via Oeiras e Floriano, sem pesar e sem medir, o sofrimento da travessia cruel daquele deserto de vinte léguas quilométricas. Maranhão é o paraíso dos pobres cearenses do Sul do Estado, batidos pelos repetidos flageles climáticos. Querem semear arroz onde não lhes falta terra molhada; plantar algodão onde não falta chuva; e apanhar babaçu da safra que não acaba nunca. O jipe pulava sobre a estrada poeirenta e esburacada. Eu meditava sobre a história da safra de 25 mil bezerros do Visconde de Parnaíba. Os sertanistas do século XVIII que fizeram de Oeiras capital do Piauí. O caso chistoso da filha da hoteleira do Estado das grandes fazendas nacionais, a moça que na véspera de casar, perguntara à mãe de que cor seria leite, porque ela, a piauiense de Oeiras, que nascera e se criara no coração das fazendas nacionais, nunca vira leite, não lhe conhecia a cor. A essa altura, vi ao longo da carroçável um grupo de seres humanos. Seriam flagelados da seca. Seriam cearenses fugitivos da fome. Não me enganei. O grupo era de um homem, três mulheres mães, moças e meninos. Gente de cor, eram ao todo dezoito pessoas. Mais um jumento com uma carga, e um cachorro arrastado por uma corda amarrada ao cabeçote de cangalha.
  • 47. Cada uma das criaturas humanas trazia na mão uma cuia ou cabaça, ou uma pequena lata. O jipe se aproxima. O grupo se divide e ladeia a estrada, à esquerda e à direita. Acenam com uma mão e apresentam com a outra a vasilha que deverá receber a esmola. E fazem, a uma voz, esta súplica de piedade: “MIM DÊ U’AGUIN’A...” “MIM DÊ U’AGUIN’A.. . “ Nas terras da Paraíba e do Ceará eu tinha visto muita miséria. Mas ainda não tinha ouvido o pedido da esmola da água em circunstâncias tão dramáticas, como as em que o faziam os dezoito daquele grupo de famintos, que pelo número, me fez recordar os dezoito heróis de Copacabana. Ali estava um grupo de cearenses, de heróis do sofrimento, vítimas da seca inclemente. Heróis anônimos, mas heróis. Eis a explicação: Na longa travessia daquele deserto sui gêneris, as pessoas têm de conduzir a água indispensável ao seu consumo pessoal. Na região não há onde suprir-se do precioso líquido. Não há rios nem açudes, nem poços tubulares, nem casas. Os transeuntes pedestres, flagelados, são abastecidos, em regra, pelos caminhões ou jipes que para esse fim costumam conduzir reserva d’água. As latas, as cuias ou cabaças nas mãos, são os depósitos ambulantes dos míseros transeuntes. Prossegui rumo a Floriano, mas não pude eliminar da mente aquele quadro dos dezoito pedintes da esmola d’água. Não me lembrei mais da safra dos 25 mil bezerros anuais do Visconde da Parnaíba, nem dos cidadãos de Oeiras que não quiseram uma Agência do Banco do Brasil em sua cidade, nem da noiva que desconhecia a cor do leite, porque nunca tinha visto leite... Aquela súplica uníssona da esmola d’água me atormentava a mente: “MIM DÊ U’AGUIN’A...” “MIM DÊ U’AGUIN’A.. . “ Outras considerações me assaltaram. Moisés tirara água da rocha para dessedentar os filhos de Abraão na travessia do deserto da Arábia. A Providência alimenta as aves, que não semeiam nem segam nem ajuntam em celeiro. A Providência veste os lírios do campo, que não trabalham nem fiam, e os veste com uma glória superior à do rei Salomão. As dezoito criaturas do grupo já agora à minha retaguarda são criaturas humanas, anímicas e que valem mais do que as aves e do que os lírios. Porque não acode a Providência em seu socorro? Esbarrei diante do mistério impenetrável dos decretos eternos. Aceito pela fé o que a razão não apreende. Para o milagre da água tirada da rocha, porém, ocorreu-me a explicação: – Nos dias de Moisés não havia Departamento de Secas...
  • 48. O quadro que eu vi na travessia Oeiras Floriano é o retrato das Secas. É o quadro da dor e da miséria, da pobreza e do sofrimento por falta d’água. E o preventivo contra a calamidade econômico-social é a obra de açudagem. Grandes e pequenos açudes. Açude por toda a parte, água de qualquer fonte. Barragens submersíveis, poços tubulares, ou instantâneos. Água e ajuda, amparo ao operário da lavoura. A súplica dos dezoito que eu vi na trajetória Oeiras-Flariano é bem o símbolo da súplica de todos os Nordestinos: “MIM DÊ U’AGUIN’A...” “MIM DÊ U’AGUIN’A... “
  • 49. Aspectos das secas no Ceará
  • 50. Pastor e Evangelista Relatório ao Presbitério do Ceará, reunido na Igreja Presbiteriana de Fortaleza. 18 de janeiro de 1965. Desejei muito que este dia chegasse. Orei para ver este dia. Pensei em vos ver congregados comigo neste dia. Pedi que Deus me concedesse falar, neste dia, ao meu Presbitério, à minha Igreja, aos meus colegas, aos meus irmãos herdeiros como eu das Bênçãos do Reino. E o dia chegou. E o dia do meu Cinqüentenário Ministerial. Dia de ações de graças. Dia de prestação de contas. Recebi as ordens sacras de ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil a 18 de janeiro de 1915, pela imposição das mãos do Presbitério de Pernambuco, na Igreja de Garanhuns. Faz precisamente 50 anos. A cidade de Caicó foi o primeiro quartel de minhas atividades ministeriais, como evangelista do campo sertanejo do Rio Grande do Norte e da Paraíba, por determinação do acima dito Presbitério. No mesmo ano, servi à Igreja de São Luís do Maranhão, por cerca de 6 meses, ainda como pastor evangelista. Pelo Natal de 1915, assumi o pastorado da Igreja Presbiteriana de Fortaleza, substituindo o Rev. R. Bezerra Lima, à qual servi durante 37 anos como pastor, e evangelista do campo do interior. Por alguns anos, eu fui o único ministro do Evangelho a operar no Ceará. E levei as minhas atividades evangelísticas a São José de Piranhas, na Paraíba, e ao Comboieiro (Açu) no Rio Grande do Norte. Em todo o Estado do Ceará, havia somente duas Igrejas: A Presbiteriana e a Presbiteriana Independente. Não havia no Ceará nenhuma outra denominação, nem qualquer obra missionária. No interior, a Igreja Presbiteriana tinha as congregações de Baturité, Aracoiaba, Pedra Aguda, e Choro. No sul do Estado, no Iguatu, havia o núcleo da família João Porfírio Varela que acompanhava a marcha da construção da R.V.C, desde Senador Pompeu, e fazia a sementeira do Evangelho pelo testemunho pessoal. A Igreja de Fortaleza contava em seu rol 196 comungantes e 161 não comungantes, incluindo as referidas congregações do interior. Havia um presbítero e dois diáconos, e meia dúzia de sociedades
  • 51. domésticas, nomeadamente: Auxiliadora de Senhoras, Jóias de Cristo, Obreiras Cristãs, Liga Pró Edificação Casa Pastoral, Mortuária, e Grêmio Lítero-Evangélico Rev. Bezerra Donnantuoni. A Escola Dominical reuniu 36 alunos e visitantes no primeiro domingo após a chegada do novo pastor. A coleta rendeu mil e seiscentos réis (1$600). O templo estava por concluir, e em litígio, em juízo. O Dr. Albino José de Farias, presbítero da Igreja Independente, disputava o direito de proprietário do templo. Este fato constituía uma situação angustiosa para a Igreja pequena e sem recursos, e bastante embaraçosa para o novo pastor. O Rev. Bezerra Lima, com o advogado Dr. Henrique Autrain, tinha sustentado, com segurança, os direitos da Igreja Presbiteriana. Mas a situação continuava sem solução, e a questão em juízo. O Ceará vivia a fase mais aguda da seca de 1915. A crise econômica se refletia cruelmente no seio da comunidade presbiteriana. O orçamento global da Igreja, por ano, era de cerca de três contos de réis. Com um só presbítero, não havia conselho para deliberar. O pastor teve de agir como evangelista, credenciado pelo presbitério de Pernambuco. Deu os primeiros passos para organização da Escola Dominical e para redução do número superabundante de sociedades domésticas. Foram eleitos para o Conselho da Igreja, no dia 5 de março de 1916, os irmãos José Baltazar Lopes Barreira, Antônio Mota Castelo Branco, e José Zaqueu Maia. Em agosto do mesmo ano foram consagrados diáconos os irmãos Cândido Costa e José Cândido Rodrigues. Firmadas as bases do programa pastoral em Fortaleza, lancei-me à obra de evangelização do interior. Em 1916 preguei em Quixadá, na residência do irmão Manoel Roberto de Lima, com dois soldados à porta da casa para manterem a ordem. No mesmo ano, preguei em José de Alencar, na residência do irmão João Acácio Varela Barca, e, no Cedro, na residência do irmão João Porfírio Varela. O engenheiro, meu amigo, Máximo Linhares esteve presente a esse culto. Cedro nascia com a chegada dos trilhos da R. V. C. (476 km. distante de Fortaleza). Eu fiz 6 léguas a cavalo, com a esposa e 2 filhos, para chegar a Cedro, saindo de José de Alencar. Em 1917, preguei no lugar de nome Vencedor onde nasceu a Igreja de Ebenezer. Em 1918, eu já havia batizado, no campo cearense, 155 pessoas, adultos e menores. Em 1919, temos a assinalar duas vitórias: chegamos a um acordo com o Dr. Albino José de Farias, terminando amigavelmente a pendência do templo; e concluímos as obras do mesmo templo, dispendendo a quantia de sete contos, novecentos e oitenta e quatro mil, quatrocentos e
  • 52. noventa e nove réis (7.984$499). Em 1920, ano do primeiro lustro pastoral, batizei 131 pessoas, adultos e menores. As finanças de todo o campo atingiram a oito contos, oitocentos e sessenta e quatro mil, e seiscentos réis (8.864$600). Em 1922, recebemos 110 adultos e menores, e as finanças subiram a dezoito contos, setecentos e sessenta e um mil, duzentos e noventa réis (18.761$290). A obra de evangelização expandiu-se até Piranhas, na Paraíba. Em 1923, mantínhamos 14 congregações com 23 lugares de pregação. Arrolamos mais 74 pessoas. As finanças subiam à cifra de 22.691$570. Em 1924, recebemos à Mesa do Senhor 106 adultos, e foram batizados 102 menores. Tínhamos no Estado 35 lugares de pregação. Em 1925, recebemos adultos e menores, 90. Em 1926, a Igreja de Fortaleza elegeu presbíteros os irmãos Dr. George Cavalcante, e Antônio Felício Ribeiro; e diáconos, os irmãos Waldemar Castelo Branco, e Bolivar Ribeiro. Levamos o Evangelho até Açu, Rio Grande do Norte. Tivemos ali uma congregação com 41 comungantes, trabalho que passámos à Missão Presbiteriana do Norte. A esse tempo, já cooperava comigo o Rev. Dr. A. T. Gueiros. Colega do “15 de Novembro” e do Seminário de Garanhuns. Membro do mesmo presbitério, viera ele de São Luís do Maranhão prestar sua cooperação inteligente e leal, consagrada e eficiente, ao colega do Ceará. O campo reclamava. Auxiliar e pastor, evangelizou também o campo do interior. Leio uma notícia no “Norte Evangélico” de uma excursão em que batizou 70 pessoas. Cedo a esse colega uma cadeira de honra neste banquete espiritual do meu cinqüentenário ministerial. Cedro se tornara um grande centro do Presbiterianismo, que dali se irradiou para Medeiros, Boa Sorte, Lavras, Aurora, Juazeiro, Grato e Parambu. O boletim da Igreja de n9 5 registrou o seguinte: foram batizadas 22 pessoas convertidas em Fortaleza; 11 filhos da Igreja fizeram profissão de fé, e 33 crianças foram batizadas. Mais: o pastor fez um trabalho de evangelização em Crato, Aurora, Cedro e Tauá, batizando nessa última cidade 11 adultos e 19 menores. A sementeira de Cedro chegava também a outros núcleos, como Juazeiro Redondo e Serra da Donana, Baixio Verde e Xique-Xique. Centro de evangelização da zona, Cedro sofreu cruéis perseguições. O pastor e outros obreiros que por ali passaram tiveram suas vidas em perigo várias vezes, entre estes obreiros, o Rev. Dr. A. Teixeira Gueiros, e o Rev. Benedito Aguiar. As perseguições ao Evangelho na região cessaram no governo do Dr. José Carlos de Matos Peixoto, a quem rendo nesta página, e com este registro, um preito de reconhecimento e gratidão.
  • 53. Na zona Jaguaribana, abrimos trabalho em Choró e Russas, já agora com a cooperação de vários obreiros, tais, o irmão José Pinto Bandeira, Dr. Bolivar Ribeiro, Fernando Nogueira, Francisco Alves, e José Higino. O missionário R. Arehart chegou até Aracati, Limoeiro, e Morada Nova. Em 1929, as congregações de Cedro e Ebenezer foram organizadas em Igrejas, ficando sob os cuidados pastorais do Rev. Alcides Nogueira, residindo no Cedro. Os presbíteros Antônio Pereira (ministro posteriormente), e Laudelino Nogueira foram obreiros eficientes nestas duas Igrejas. Em 1932, foi organizada a Igreja de Baturité, que teve como pastor o Rev. R. Bezerra Lima. Em 1938, foi organizada em Igreja a congregação de Iguatu, ficando como seu pastor o Rev. Bolivar Ribeiro. Em 1939, foi organizada a Igreja de Parambu sob o pastorado do Rev. Antônio Pereira, também pastor de Cedro. Os obreiros José Balbino, e Jucá de Freitas alinham- se com a geração espiritual dessa época. Em 1938, o missionário Arehart batizou no campo cearense 196 adultos e menores. A sementeira fortificava. Todas as denominações que vieram mais tarde colheram fruto da nossa sementeira, que não se fez sem grande sacrifício. Foram eleitos também para o Conselho da Igreja os irmãos Antônio Leôncio Ribeiro, Dr. Juarez Brasil, Aderson Nogueira, e o Dr. Edilson Brasil Soares. Para a Mesa Diaconal: Aproniano de Souza, José Avelino, Joaquim Mota, João Batista, Esmerino Torres, Emanuel Maia e Bento de Souza. No exercício do magistério, lembro uma ocorrência que merece registro. Um membro da Igreja apresenta-se para matricular três crianças no curso primário da Escola 7 de Setembro. A mensalidade, disse eu, é dois mil réis. Mas como são 3 crianças o senhor pagará somente cinco mil réis pelos 3. — Pagar cinco mil réis, ainda pagar?! Mas eu já dou 10 tostão pro pastor na Igreja e inda tem de pagar escola... ? Como evangelista: Na Paraíba, um homem quis me obrigar a rezar o “Bendito Louvado Seja” depois do jantar em sua casa. No Ceará, atravessei um rio de nado, à noite, fugindo de um padre e de um grupo de chapeados que me ameaçavam de comer a “carne do bode”. Experiências semelhantes ocorreram no Cedro, em Várzea Alegre, e em Iguatu. Numa viagem de evangelização, um dia almocei juá. Preguei em Quixadá no sábado à noite. Pela manhã do domingo viajei, de cavalo, para Várzea da Onça. Preguei ao meio dia em casa do irmão Antônio Galdino. Depois do culto, esperei o almoço. Mas o almoço não saiu. Segui então para a casa do irmão Liberato — uma légua distante, onde eu