1) A avaliação da aprendizagem é fundamental para verificar e melhorar a aprendizagem dos alunos, mas atualmente é realizada de forma subjetiva e sem padronização entre professores.
2) Há um debate sobre como a avaliação deve considerar não apenas o conteúdo aprendido, mas também as habilidades adquiridas. Além disso, é questionável a influência do comportamento do aluno na avaliação.
3) É sugerido que os processos avaliativos considerem mais a autonomia e opinião dos alunos para que se
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A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM COMO UM PRINCÍPIO NO
DESENVOLVIMENTO DA AUTORIA.
Eldes Ferreira de Lima*
RESUMO: Tema de constantes debates na educação, a avaliação é o processo vital para verificar,
ampliar e corrigir possíveis falhas na aprendizagem. Sem este valioso indicador, a docência se restringe a
si mesma, não sendo capaz de se aperfeiçoar nem tampouco de atender seus objetivos mais imediatos.
Neste artigo, discutimos a avaliação como um princípio no desenvolvimento da autoria do educando,
tornando-o apto a expressar seu conhecimento de forma independente e articulada.
PALAVRAS-CHAVES: Avaliação, aprendizagem, docência, autonomia.
RÉSUMÉ: Thème de plusieurs débats dans l'éducation, l'évaluation est indispensable processus de
vérifier, développez et corriger les possibles failles dans l'apprentissage. Sans cet précieux indicateur,
l'enseignement est limité à lui-même, ne pas être en mesure de se perfectionner, ni à atteindre leurs
objectifs plus immédiats. Dans cet article, nous discutons de l'évaluation comme un principe dans le
développement de l'étudiant, lui permettant d'exprimer leurs connaissances de façon indépendante et
d'articuler.
MOTS CLÉS: évaluation, apprentissage, enseignement, autonomie.
Introdução
Nas últimas duas décadas, a educação brasileira foi constantemente analisada
por seus gestores bem como por institutos de pesquisas nacionais e internacionais.
Quase inevitavelmente, os resultados são desanimadores. O nível de conhecimento dos
alunos brasileiros costuma ser similar ao de países extremamente pobres ou em
acirrados conflitos étnicos e sociais.
Como o Brasil desponta no cenário internacional como uma das principais
estrelas dos chamados Países Emergentes é particularmente preocupante que seu ensino
seja tão ineficiente. Sobretudo se compararmos como outros países emergentes como a
Índia e a China. Principalmente, porque uma parcela significativa da população de
ambos não tem acesso à escola como no Brasil, onde a maioria absoluta dos alunos em
idade escolar freqüenta regularmente a escola.
*
Mestre em Letras pela UFMS e professor efetivo da Secretaria Municipal de Educação. Atua há dois
anos como PCTE na Escola Municipal Professora Ione Catariana Gianotti Igydio. Autor do conto Save
me publicado na Itália em Sex’n’bossa – Antologia di narrativa erotica brasiliana e também na Suíça,
pela Revue Arkhaï. Finalista do Prêmio Sesc de Literatura 2010 com Ronda Noturna, na categoria
romance.
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Nos últimos anos, a educação pública ampliou sua presença e participação na
sociedade brasileira. Atualmente, temos quase todos os alunos em idade escolar
estudando. E desde 1996, quando foi lançada as Leis de Diretrizes e Bases (LDB), a
docência intensificou um processo irreversível de profissionalização, que não apenas
fortaleceu a própria categoria como a tornou atrativa financeiramente.
Entretanto, alheio aos altos investimentos governamentais e a melhor
infraestrutura e capacitação profissional, o ensino brasileiro apresenta índices similares
aos dos países africanos mais pobres e assolados por guerras civis. E mesmo no
panorama da América Latina e da sua história comum de exploração colonial e
governos ditatoriais recentes, o Brasil está entre os últimos do ranking.
Evidentemente, nosso desempenho pífio é resultado de anos de descaso com a
escola pública ou da sua utilização em projetos políticos equivocados – em particular,
os populistas. Contudo, as políticas educacionais recentes parecem não alterar este
quadro positivamente como salienta Ioschpe:
No Brasil, onde a maior parte do gasto é canalizada para aumentar o número
de profissionais na rede e dar melhor remuneração àqueles que já estão nela,
não é de surpreender que o constante aumento de gastos no setor nos últimos
dez anos tenha sido acompanhado de estagnação. Os resultados do Sistema
de Avaliação da Educação Básica (Saeb) foram piores em 2007, último ano
disponível, do que em 1997 (2011, p. 117).
É lugar-comum nos noticiários ou nas conversas informais afirmar que a
educação brasileira é ruim e sem solução aparente. O baixo desempenho nas avaliações
nacionais e, sobretudo, nas internacionais endossa este senso comum. Entretanto, antes
de pensarmos o que significam estes resultados esporádicos e desarticulados, nossa
atenção devia se voltar para os resultados que os profissionais de educação colhem
diariamente e que apontam uma direção exatamente contrária.
Enquanto os índices de aprovação e o percentual de alunos que chegam ao
ensino superior crescem anualmente, as avaliações internas e externas apontam que
aprendizagem nas escolas brasileiras é tão ruim que a maior parte dos alunos terminam
o ensino fundamental incapaz de entender o que lê.
Para Ioschpe, a ineficiência da educação brasileira em oferecer o mínimo aos
seus alunos é uma construção institucional que não promove os bons profissionais, não
corrige os maus e estimula o corporativismo em detrimento à educação oferecida:
Não é que a educação brasileira fracassa misteriosamente apesar de todos os
envolvidos. Ela fracassa porque esse arranjo institucional requer a
irracionalidade de todos os envolvidos, do prefeito ao professor. Nossa
escola não é feita para dar certo – se por “dar certo” entendermos a
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formação de uma pessoa com habilidades mínimas para navegar o mundo e
desenvolver seu potencial (2012, p. 110).
Se o problema for institucional como nos assegura Ioschpe, falta uma avaliação
capaz de confirmar ou refutar seus argumentos. E, neste caso, como seria esta avaliação
e quem a faria? Ioschpe observa, um tanto escandalizado, que a sociedade civil não
poderia, uma vez que a nota média que os pais dão às escolas de seus filhos, segundo o
Inep, é 8,6 (2012, p. 110). Um índice de satisfação altíssimo, considerando que 10 é a
nota máxima.
Enquanto a metodologia das avaliações nacionais e internacionais é simples
(acerta-se ou erra as questões) e amplamente conhecida (inclusive, para ser criticada de
todas as formas), a avaliação realizada diariamente pelos professores é tão variada e
invisível que inviabiliza qualquer tipo de pesquisa acadêmica mais abrangente.
Contrariamente, a falta de uniformidade – e de critérios, na maioria dos casos – a
avaliação gera inúmeros estudos e acirrados debates.
Avaliando a avaliação
De modo geral, professores, coordenadores e gestores educacionais concordam
que a avaliação é fundamental para assegurar o aprendizado e para adequar as políticas
e metodologias de ensino. Entretanto, como ocorre em uma esfera muito subjetiva e de
total autonomia dos docentes, a avaliação é mais um resultado intuitivo (o que parece
mais adequado) do que um método analítico e imparcial. Como ressalta Hoffmann:
Assim como o seu caráter é o da subjetividade – as situações avaliadas são
sempre interpretadas pelos avaliadores – o seu contexto é o da diversidade: o
olhar avaliativo deve abarcar as singularidades dos educandos para que as
estratégias pedagógicas se ajustem a cada um. O que não significa,
entretanto, que algum educando aprenda sozinho (2011, p. 16).
No Brasil, tanto a metodologia empregada nas aulas quanto o processo de
avaliação é território exclusivo do professor. Evidentemente, sujeitas às influências das
novas tendências educacionais ou das políticas de ensino adotadas. Porém, cabe ao
professor definir a intensidade e a forma como estas influências e normativas serão
efetivadas em sua prática diária, que, nem sempre, condiz com o seu discurso ou com o
de suas chefias imediatas.
Como a redemocratização do Brasil é ainda muito recente e há a rejeição
imediata a toda e qualquer forma de intervenção externa nas escolas (isto é ressuscitar a
ditadura), a autonomia do docente nos processos de aprendizagem e avaliativos não é
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somente assegurada como somente incentivada e irretocável. Enquanto, os processos
avaliativos não são discutidos nem aplicados de forma mais criteriosa e menos sujeitas
as mudanças de humor dos docentes, os alunos têm suas habilidades pessoais avaliadas
coletivamente, sem que sua autonomia e particularidade sejam consideradas. Uma
contradição evidente e inexplicável, como Hoffamann contextualiza:
A avaliação de aprendizagem mais especificamente, envolve e diz respeito
diretamente a dois elementos do processo: educador/avaliador e
educando/avaliando. Alguém (educando) que é avaliado por alguém
(educador) (2011, p. 13).
A liberdade do docente para avaliar contrasta com as imposições e limitações
das avaliações que submete aos alunos. De modo geral e bem simplista, as avaliações
tendem a ser escritas com questões de múltipla escolha e/ou dissertativas. Os conteúdos
com maior relevância – e por conseqüência, maior pontuação – são aqueles que o
professor julga mais pertinentes. Obviamente, não coincidem com os do aluno e muitas
vezes sequer com o professor da mesma disciplina do outro período.
Nesta perspectiva, dois problemas são evidentes. O primeiro é ético. Com tanta
possibilidade de avaliação por que centrá-la na modalidade mais formal e evidente? Se
o professor tem o conteúdo previamente determinado, mas não pode lhe dar o enfoque
que julgar melhor, por que isto não é compartilhado como os alunos? Seguramente, para
não banalizá-lo nem reduzi-lo ao mais elementar. Entretanto, mesmo sem esta
flexibilidade, os índices de aprendizagem brasileira já estão entre os piores de mundo.
Portanto, não haveria riscos imediatos para a educação nacional se estas questões
começassem a ser analisadas e testadas.
Conclusão
A importância da avaliação nos processos educacionais é unânime. Porém,
poucos sabem dizer o que realmente deve ser avaliado. Formalmente, as avaliações
aferem o que os alunos sabem e o que desconhecem dentro de uma escala – seja com
números ou conceitos como A, B, C... – que o aprova ou o reprova. Como raramente os
mesmos conteúdos são solicitados no ano ou mesmo na avaliação seguinte, perdem
relevância e são rapidamente esquecidos. Uma seleção natural que o cérebro faz entre o
que é indispensável e o que pode descartar sem receio.
Dentro de uma avaliação mais global, o conteúdo formal tem um peso igual ou
inferior às habilidades adquiridas. O termo habilidade não é vago gratuitamente. É
quase impossível estabelecer um consenso do que isto seria. Grosso modo, é a
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capacidade de realizar algo que antes não se sabia ou de fazê-lo continuamente melhor.
Nesta perspectiva, os alunos leriam, escreveriam e fariam cálculos matemáticos com
mais facilidade e complexidade a cada ano. Não é o que acontece.
Entre estas duas formas avaliativas que se completam ou se excluem
dependendo do professor, há uma estranha constância: a disciplina do aluno.
Raramente, um professor brasileiro calcula o resultado de uma avaliação sem considerar
este aspecto, que eleva notas (devido à dedicação e ao esforço) ou as derruba (não é
justo um aluno problemático ter uma nota alta destas).
Embora tenham suas justificativas pseudosociológicas, o comportamento de
aluno não pode influenciar na avaliação de sua aprendizagem, esvaziando-a ou inflando-
a conforme o grau de identificação estabelecida com o professor. É um clichê
verdadeiro dizer que a escola brasileira assume a função de muitas famílias na educação
dos alunos e que proporciona esta formação moral ausente. Entretanto, é inadmissível
valer-se dela na promoção da aprendizagem.
A possibilidade de discutir com os alunos a avaliação que recebem e de conhecer
o que eles consideram mais relevante nos conteúdos ministrados pode tornar o processo
avaliativo mais eficiente, democrático e também mais justo, visto que sempre há
possibilidade de algum radicalismo teórico ou ideológico.
Estimular e avaliar a autoria do educando em um contexto muito maior do que
as questões dissertativas contemplam é uma necessidade urgente, porque um dos
grandes problemas da educação brasileira observado em todas as avaliações externas é
que os alunos lêem muito mal, quase não compreendem o que lê e escrevem
sofrivelmente – quando escrevem. E isto não tem bom comportamento que resolva.
Bibliografia:
HOFFMANN, Jussara. O jogo do contrário em avaliação. Porto Alegre: Mediação,
2005.
IOCHPE, Gustavo. O rombo da educação é o cabide de empregos de 46 bilhões de
reais. São Paulo: Veja, 12/10/2011 (p.116-7).
IOCHPE, Gustavo. O sistema não é feito para da certo. São Paulo: Veja, 16/05/2012
(p.116-7).
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação na aprendizagem na escola: investigação e
intervenção. São Paulo: Cortez Editora, 2011.