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Cinzas
        Pedaços nº 2

Sofia Duarte
Quando tudo o que parece desmoronar se torna apenas numa angustiante
procura pelo que está perdido, despedaçando cada parte que tenta encontrar de
novo a coisa mais pura da vida. Era o seu amor que estava perdido e Salvatore não
iria permitir que tudo continuasse assim, iria para qualquer lado para encontrá-la e
não descansaria enquanto não voltasse a tê-la em seus braços.

     Tinha perdido muito da vida ao não saber o que queria e agora que finalmente
tinha encontrado a maior transcendência, a luz que lhe daria paz por toda a
eternidade, não iria voltar a viver com aquele vazio imenso. Não iria permitir que
Emma simplesmente deteriorasse assim as suas vidas, eles eram apenas um só.
I.     Primeira Aurora

     Todas aquelas dores que me faziam gemer por dentro as calava, não querendo
que Emma sofresse mais pelo que eu tinha acabado de fazer… A minha vida não
teria mais sentido sem ela ao meu lado, não valia a pena permanecer vivo enquanto a
minha amada sucumbia naquela aflição. A única coisa que me passou pela cabeça foi
dar-lhe a vida que sempre lhe quis dar antes que fosse tarde demais, a minha vida
seria a dela mesmo que eu já não estivesse mais vivo para a sentir e a amar, eu a
amaria de qualquer forma, meu amor estava com ela para sempre.

     As lágrimas que caiam de seus olhos me magoavam muito mais do que todas
aquelas feridas que agora se abriam em mim, via o sofrimento em seus olhos e apenas
desejava puder solucionar esta sina que teimava em manter-se entre nós. Minhas
dores não eram nada, apenas aqueles olhos em que todo o meu sofrimento se
amparava importava, nada poderia manter-nos afastados, eu a amava e isso apenas
era a maior verdade deste mundo. Eu a amava tanto que tinha agora de deixar que
ela vivesse, minha vida finalmente tinha chegado ao fim com o que mais queria, ela me
amava e era a minha única vida. Apenas ela, mais nada além dela…

     Lembrei-me daquela história inventada por um fulano, pensava eu que era uma
tolice pensar num amor tão insano, nunca tinha sabido nem o que era realmente o
amor. Mas agora tinha a minha Julieta, no meu pequeno grande mundo que agora
teria um fim, longe da imortalidade… Ai de mim se a minha Julieta abandona o seu
novo mundo apenas para me acompanhar pelo destino! A minha Julieta iria manter-
se viva! Eu a conhecia como ninguém apesar dos poucos momentos, tanto desejava
eu que a imortalidade durasse com ela do meu lado que agora nada mais estava ao
meu alcance…

     Tinha quem mais amava do meu lado para morrer bem, não queria que ela
sentisse a dor desta morte e estava contente por ter conseguido livrar o mais puro
de mim de tudo isto que atravessava na minha carne. Não era apenas a pele que se ia
abrindo pelo corpo, sentia as minhas entranhas esmagarem-se e os meus ossos
mirrarem-se no meu corpo que lentamente se despedaçava… Oh, tão doce a hora em
que seus lábios me arrancaram da tormenta, não sei quando comecei a sentir aquele
nosso unir eterno, o tempo já não fazia parte de mim…

     Sentia as suas lágrimas caindo sobre a minha face e seus lábios pedindo aos
meus que continuasse junto a ela, mas chegara a minha hora, a minha hora em que
tudo o que queria era continuar a senti-la perto de mim… Meus olhos se fecharam
juntamente com os dela, talvez para que a última coisa que eu sentisse fossem
aqueles seus lábios me entregando ao que mais desconhecia, aquele amor que por
mais que tentem apagar continuará para todo o sempre…

     Tentei limpar-lhe as lágrimas mas meus braços já não me atendiam, meu corpo
começava a perder-se… Porém sentia tudo o que se passavam naqueles poucos
segundos que estavam prestes a acabar, eu a amava… Era o único pensamento que
queria ter quando a hora chegasse, enquanto sentisse seus lábios nos meus
continuaria lutando contra as mágoas que meu corpo vivia intensamente.

     Minha mão começou a pesar, como se algo estivesse a ser pressionado,
certamente seria a mão da minha amada Emma, fiz um esforço para que lhe pudesse
lhe retribuir… Nada, a minha mão permanecia gelada. Minhas lágrimas finalmente
saíram, aquelas que brotavam o sofrimento, a angústia e a tristeza de não lhe poder
ver a cada novo raiar do dia…

     Apenas queria beija-la, abraça-la e dizer-lhe que tudo ficaria bem, que nós
ficaríamos bem. Suas lágrimas deixaram de me embeber e eu a olhei. Seus olhos
estavam surpresos e sem lágrimas, não tinha eu ainda reparado que eu a sustinha nos
braços e que todas aquelas tormentas que em outrora estiveram no meu corpo
tinham evaporado simplesmente do nada…

     Nunca iria parar de me perder naqueles seus olhos cinzentos que ganhavam
agora vida, reparando realmente no que acabara de acontecer. Abraçamo-nos
impetuosamente, não querendo acreditar neste sonho que tinha acabado de
acontecer, talvez eu estivesse no paraíso e ela me tivesse seguido…

     Tinha sido um imenso sarcasmo, acabar por ter o mesmo final que aquele casal
cuja vida nada tinha a ver com a minha. Apenas me apetecia rir, sorrir, ser feliz com o
que acabava de acontecer! A vida conseguia ser tão bela, tão radiosa! E o meu raio
de luz estava mesmo agora aqui, em meus braços… Sorria para esta nova vida que
começara, não querendo jamais pensar em qualquer fim.

     Rapidamente a minha alma foi atormentada, Emma sempre adorava quando eu
sorria, pois assim poderia mostrar-me vezes e vezes sem conta a razão pela qual eu
devo sorrir… Simplesmente tendo ela do meu lado, que sorria eternamente! A minha
vida tinha de novo valor e desta vez teria o amor sempre do meu lado, a vida
finalmente sorria para mim…

     Quantas foram as vezes que eu me perguntava o que era a vida e não obtinha
resposta, ficava um imenso vazio que mesmo ao praticar o bem nunca se completava,
e agora que finalmente ele se preencheu posso dizer que essa resposta não é para
ser respondida. Essa resposta está mesmo à minha frente, nem mil palavras diriam
metade de tudo o que isto é. E eu sou um homem de palavras, um homem que se
despe de si e perde tudo o que é quando tem a sua amada a seu lado, até as palavras
me faltam pois tudo o que é meu passou a ser dela. Meu sorriso, minha voz, o meu
olhar, todo o meu corpo, tudo o que pensava ser meu afinal estava destinado a se
unir ao mais belo dos sentimentos, à mais bela donzela dos tempos modernos.

     Agora sim tinha forças para que toda a eternidade fosse um misto de alegria e
vivacidade. Tudo o que procurava estava neste momento a sorrir para mim,
certamente se questionando a razão de o meu rosto estar tão pensativo, nada de
palavras… Sorri de retorno para aquela minha deusa, estávamos no meu Olimpo,
Magnificat seria a nossa casa para toda a nossa demanda pela vida.

     Sua expressão era de total curiosidade, parece que o meu sorriso a tinha feito
desejar ainda mais pertencer aos meus pensamentos e assim será. Abracei-a com
mais força e devolvi meus lábios aos dela, sentindo novamente cada poro de mim
preenchido e desejando unir-se ainda mais a este mundo que agora começava. Era
agora a nossa nova Era… Longe de problemas, perto apenas de nós mesmos, nada
de receios, de mágoas, apenas o nosso amor…

     “Vem querida, deixa-me mostrar-te uma coisa!” Não esperei que ela me
respondesse, rapidamente nos levantei e comecei a guia-la por dentre as árvores, ela
já conhecia os confins de Magnificat mas ainda não os tinha visto nos seus melhores
momentos: o pôr-do-sol e a aurora de um novo dia.

     Já eram tantas as memórias que tinha de nós que já não me lembro do meu
mundo sem ela, custava-me a acreditar que tinha vivido tanto tempo sem ela, não
sabia mesmo como conseguira sobreviver. Talvez por isso decidira dar a minha vida
por ela, para que a minha vida não fosse novamente aquele vazio que sentira
anteriormente. Este nosso dia, em que nosso amor ultrapassou a morte, será a partir
de hoje e até ao infinito dos dias o meu aniversário. Tinha nascido e não queria
voltar a morrer para isto que somos, e nunca iria acontecer, faria de tudo por isso.

     Era simplesmente magnifico ver como Emma observava o horizonte que se
fechava para a nova noite, nunca me ia cansar de a ter do meu lado, nunca teria de
cansar-me pois ela era simplesmente tudo o que me iluminava agora. Sem ela estaria
simplesmente perdido, mas ela estava aqui, do meu lado.

     Na sua cara se abria um sorriso, repleto de charme e felicidade. Minha alma se
alegrava por puder fazê-la feliz, por puder tê-la do meu lado sem que nada nos
pudesse separar… Agora estávamos livres de Francesca, livres de tudo o que nos
traria risco, livres da morte que nos separaria e me deixaria novamente naquele vazio.

     Eu sei que não deveria estar a pensar neste momento sobre o passado, mas
tê-la do meu lado apenas me faz temer mais a sua perda. Minha vida nunca mais seria
a mesma caso algo lhe acontecesse e era por isso que decidira deixar de governar
Magnificat, não necessitavam mais de mim… Agora apenas quero viver intensamente
este amor que me preenche e me diz que posso novamente sorrir pois já sou
novamente aquele Salvatore completo, não pelos pedaços retirados de mim, isso
agora não importa… Porém foram esses pedaços que trouxeram Emma a mim e eu
estou imensamente grato…

     “Que se passa contigo? Andas tão distante… Passa-se algo meu amor?” Ah,
como a sua voz me arrebatava de meus pensamentos… Via agora na sua expressão
preocupada que já estava a pensar em demasia, viver apenas os momentos, era isso
que Emma mais merecia. Tudo o que ela quisesse, nada lhe conseguia negar.
Coloquei a minha cabeça no seu colo e fiquei assim observando o pouco de luz
que ainda restava, a noite havia chegado e eu estava preparado para ela. Emma
permanecia a fitar-me o olhar, talvez a tentar captar o que eu estava a pensar, eu
fechei os olhos para aproveitar o momento. Ficamos assim durante segundos,
minutos, horas… Não havia mais a noção do tempo nem do espaço, apenas sentia
seus lábios nos meus, invocando o que era seu por direito, para todo o tempo…




      Sentia algo quente a aquecer-me a cara, mas não eram seus lábios, abri os
olhos e observei que tínhamos voltado para casa… Devia ter adormecido pois não
me lembrava de ter sido levado ou ter vindo para cá.

      Procurei pelo quarto mas não a encontrei, estava calmo mas alarmado, onde
poderia ela ter ido? Meu rosto rapidamente suavizou ao observar a janela do quarto
aberta, estaria ela novamente inclinada no parapeito da varanda esperando pelo meu
beijo? Devo ter dormido pouco pois ainda era noite, certamente acordara por não a
sentir a meu lado, ela já me fazia tanta falta!

      Meu corpo estremeceu, estava exactamente como da primeira vez. Reclinada,
apenas com um lençol, esperando que eu a rebate para mim e lhe mostre o quanto a
amo. Não, palavras de nada servem, nem acções de nada dirão pelo que nós
sentimos… Quero rever o seu olhar, sentir o seu corpo pelo meu e voltar a perder-me
nela, deixando que as horas não sejam nada mais do que apenas tempo, deixando-
nos unidos não pelo tempo mas pelas emoções, sim! As emoções não passam pelo
tempo, nada seria luminoso sem elas.

      O tempo apenas era um entrave, passava tão lentamente enquanto a
alcançava, conseguia contar cada segundo em que não estava com ela, observar
cada traço daquela que me espera, abraça-la de novo como se não a visse há tanto
tempo… Ser parte dela e sermos um só.

      Seus braços seguravam os meus para que não saísse dali, não sabia ao certo o
que se passava mas desta vez a deixaria sentir o momento. Porém, os meus
pensamentos não são tão fortes como o doce cheiro da sua pele, meus lábios não
paravam de querer percorrer o seu pescoço, mordiscar seus ombros, beijar os seus
lábios e fazê-la render-se a mim, deixando-me leva-la para dentro e unir-nos o mais
possível…

     “Por favor, pára… Espera um momento…” A sua voz foi mais um gemido que
nem tive a certeza se ela tinha mesmo chegado a falar, mas os seus olhos diziam-me
que algo se passava…

     Em respiração acelerada, me indicou o horizonte, e então sabia a razão pela
qual ela queria esperar: no firmamento se observava a Aurora, certamente o dia
estaria para chegar e iluminar de novo a escuridão. Observei o que nunca realmente
observara, era realmente maravilhoso cada hora do dia, não importando mesmo o
tempo, desde que ela permanecesse aqui.

     O dia veio e ela rapidamente deixou que o lençol caísse, pedindo-me que a
levasse para dentro pois já era hora. Fosse eu pessoa de negar os desejos da minha
dama!

     A sua pele aquecia a cada novo tocar meu, sentia o seu cheiro juntamente com
o meu, querendo ficar sempre com ele para que nunca me esquecesse o quão doce
pode ser a vida quando não estamos sós, quando nos unimos a quem mais amamos e
somos amados… Porém, seja sortudo, eu! Pois tenho toda a eternidade para me
sentir assim. Passo suavemente os meus lábios nos seus, como é bom estar em casa!
II.     Despedida

     As portas do meu quarto estavam abertas e desde manhã que tinha deixado a
minha amada a dormir sobre o seu travesseiro, ocupando o lugar do seu peito que
sempre a fizera dormir melhor, antes do pacto que fizera com Francesca. Eu sabia
que ela já não precisava de dormir tanto como habitual, mas era um prazer saber que
no final voltaria para os seus braços, voltando a uma vida que nunca tivera mas
sempre sonhara que me poderia acontecer um dia… Felizes estes novos dias, não
importavam os murmúrios que estavam em Magnificat, o que importava é que tudo
estava encaminhado para a felicidade não só nossa mas de toda esta a cidade. E o
mundo podia novamente descansar, nada de grave, no momento, os iria perturbar.

     Meu sorriso aumentava quando as portas estavam mais próximas, nenhuma
velocidade seria suficiente, cada segundo era uma tortura longe da minha vida.
Fossem todos os segundos sempre assim… Mas algo estava errado, as janelas
estavam completamente fechadas, Emma nunca as colocara assim, ela amava a luz e
eu amava a luz incidindo sobre ela.

     Procurei em volta mas não a encontrei, corri para a casa de banho mas também
não lá estava… Onde teria ido? Voltei para o quarto para ver se ela tinha deixado
algum recado. Sorri quando vi um papel em cima da cama, rapidamente o fui abrir…

     “Meu amado,

     Fora quando te vi a olhar-me daquela forma tão doce e encantadora, deixando
a tua vida pela minha que eu soube que tudo o que eu tinha feito era totalmente
errado. Jamais quereria novamente ver a tua alma sendo arrancada do teu corpo,
despedaçando cada bocadinho de mim. Mais uma vez estava sem puder fazer
qualquer coisa para que as coisas fossem diferentes. Quantos seriam os momentos
em que iria colocar a tua vida em risco? Eu não consigo nem pensar em voltar a fazê-
lo e é por isso que meus pensamentos estão a ser agora escritos num papel como
despedida.

     Salvatore, é por tanto te amar que decidi deixar-te… Nossas vidas não devem
ficar juntas sem que eu te destrua, eu sei que não entendes mas acredito que nunca
me deixarás de amar. Eu amar-te-ei eternamente, porém nossas vidas estão agora
destinadas a ficarem separadas, não me procures.

                                                                             Emma”

     Meus joelhos deixaram de ter força e rapidamente deixaram-me cair na
poltrona junto ao recado que acabara de ler. Apenas aquelas palavras fluíam na
minha cabeça, nada além das suas cruas e doces palavras, aquelas que me levariam
para o pior do mundo, procurando pela fonte de todas as forças que agora fugiam,
deixando-me preso, despido de tudo, sozinho…

     Tudo o que tinha passado, tudo o que acontecera… Nada tinha importância
além do que os meus olhos continuavam incessantemente a ler, a pequena luta pela
qual toda a minha vida tinha sido realizada agora tinha um fim e logo começara outra,
uma demanda que caso não a faça perder-me-ei eternamente.

     Lembro-me quando via Emma a desfalecer, brotando e abrindo cada parte do
seu corpo para que a minha felicidade tivesse um fim. Minha vida de nada era sem
aquela felicidade desde o momento que a vira no mar, tão longe mas tão dentro de
mim, fazendo-me querer tocar-lhe para ter certeza de que era verdade. Nada mais me
faria erguer-me novamente desta poltrona e eu tinha consciência disso, sem ela não
poderia fazer mais nada sem que o vazio crescesse. Agora que ela me deixara, que
me abandonara por me amar que eu não tinha mais razões para continuar em frente,
minhas forças estavam nela, estava completamente desamparado.

     Eu ainda sustentava aquela dolorosa folha nas minhas mãos, tentava esmagá-
la para que tudo não passasse de um nada, mas as palavras estavam ditas, tudo
estava dito. Ela sabe que sempre a amarei e continua a afastar-se de mim, procurei
por pedaços meus todos aqueles anos e num simples papel tudo em mim se foi…

     Fora quando lhe entreguei a vida eterna, me dando completamente ao seu
destino para que o amor da minha eternidade vivesse, que tudo o que tinha
vivenciado se tornara passado, deixando-me apenas com a certeza que a minha vida
não era já mais minha, nós somos um só. Estas são as palavras que mais desejei dizer
na vida e agora que as poderia dizer tudo simplesmente ficou no meu intimo,
deixando-me perdido para sempre nestes pensamentos que tanto me torturam, as
suas palavras se cravaram em mim, deixando-me completamente inútil. Um fardo que
suportarei para toda a eternidade e que não me permitirá voltar a sorrir novamente,
Emma era tudo em mim desde que o nosso amor nos uniu e consumiu todas aquelas
almas ardidas naquele meu primeiro dia desta nova vida, o primeiro dia desta vida que
agora não tem mais sentido.

      Não consigo acreditar que tudo isto que vivi não se passava de uma utopia
que agora chegou ao fim, prefiro morrer do que acreditar em tal barbaridade. Minha
alma não permanece junto a mim, Emma a mantém cativa dentro do seu coração e aí
permanecerá. Até aos confins do mundo, não importam quantas eras viverei à
procura da única coisa que realmente me alegra na vida, sem ela a minha vida
simplesmente não existe.

      A única coisa que me faz continuar vivo por dentro é esta vontade de voltar a
encontrar Emma e esperar que ela reconsidere esta decisão que nos separou,
deixando-me completamente sem rumo… Ela é tudo o que me faz a vida ser realmente
viva, é a paixão que sempre procurei e nunca encontrei. A única fórmula para que
possa ser feliz, preenchido.

      Eram tantas as coisas que passavam pelos meus pensamentos que meus olhos
brotavam lágrimas, não sei se de cansaço por tanto pensar se pela minha alma estar
sangrando por dentro, como se ma tivessem perfurado sem cura possível. Mas eu
sabia que a única cura era a própria doença.

      Tão rapidamente me veio à cabeça a ideia de que Katie poderia saber o
paradeiro de Emma, certamente me poderia ajudar a encontrá-la para que ela
voltasse para o seu devido lugar.

      Tinha de lhe dizer a quão importante ela era na minha vida e que, sem ela, nada
tinha mais sentido. Na realidade, já nem me lembro como é viver sem Emma… Eu não
quero voltar a viver sem a alegria da minha vida, se assim for, preferia ter morrido.

      Vieram-me à memória recordações, daquelas que com certeza estaria a fazer
caso ela estivesse comigo. Suspiro constantemente e nem forças tenho para me
levantar, tudo o que eu tinha estava agora distante, apenas me sobravam as
memórias que constantemente me faziam brotar lágrimas, mas não de maus olhos, era
minha alma que chorava imensamente por voltar a ser o nada… Nada em mim tem vais
força sabendo que Emma está longe, nada vale mais a pena sorrir. Nada em mim
brota sem tê-la do meu lado, tudo o que é puro em mim foi ela que mo trouxe. Agora
que eu sei o que é ser feliz, que sei o que me faz feliz, não irei permitir que tudo isto
passe apenas de um passado… É tudo o que a minha vida tem e não descansarei
enquanto não voltar a vê-la. Se ela não me quiser, se ela não me ama vai ter de me
dizer frente-a-frente para que possa definhar o resto da eternidade pelos cantos.
Sem ela nada terá sentido.




     As horas foram passando enquanto tentava ganhar forças para que me
dirigisse até Katie mas, para minha surpresa, ela veio até mim e olhou-me com
surpresa ao ver-me neste estado.

     “Passa-se algo, Salvatore? Onde está Emma? Tínhamos combinado dar um
passeio pela manhã e ela simplesmente não apareceu.”

     As suas palavras surpreenderam-me por momentos e rapidamente fiquei de
novo afundado em pensamentos e explicações para que Emma nada tivesse dito a
Katie, pensava que ela lhe diria caso fugisse assim de Magnificat. Talvez por saber
que eu a questionaria, talvez por não querer ser encontrada por ninguém, ou mesmo
pudesse haver outra explicação totalmente lógica.

     Foi agora, ao levantar-me que vi que Katie estava imensamente preocupada
com o assunto, não sabia o que se passava na sua cabeça, mas certamente era uma
daquelas deduções que ela retirava misteriosamente da sua cabeça… Muitas vezes
nem ela sabia ao certo como tinha aquelas deduções, e muitas delas nem eram
possíveis para qualquer pessoa, poderiam chamar de intuição, mas não era apenas
isso… Katie sempre teve a capacidade de ter conhecimento de certos factos que
nunca ninguém poderia sequer imaginar, neste momento era o melhor que teríamos
para saber do paradeiro da minha amada.
Quando lhe perguntei o que se passava na cabeça dela, não gostei nada da
sua expressão, estava agora consciente de que eu estava a seu lado a observá-la e
pela sua expressão não era nada de bom…

      Faltavam-lhe palavras para dizer o que seus pensamentos lhe transmitiam,
talvez pela sua dedução pudéssemos descobrir onde Emma tinha ido, tinha-a
procurado por todas aquelas vidas e não iria permitir que uma simples fuga a
afastasse de mim. Ela sabia que o melhor era nós permanecermos juntos? Nunca
entendia a mente humana, apesar de todos estes séculos… Mas queria que ela
entendesse o mal que fazia ao afastar-nos, nenhuma razão poderia justificar isso.

      Assustei-me quando vi Katie mover-se, não proferindo qualquer palavra,
perdida em seus pensamentos, seguindo rumo a um lugar qualquer. Resolvi segui-la.
Pela sua expressão parecia saber para onde ia, parecia saber exactamente o que
procurava… Seguimos por um bosque que não me lembrava de ter explorado, era
estranho não conhecer aquele local, pelo que me lembrava tinha explorado toda a
zona de Magnificat… Esse bosque era perto do local onde dei a minha imortalidade
a Emma, quase morrendo, mas voltando à vida depois de algo que não sei ainda bem
o que foi.

      Se me recordo, era uma zona em que nada havia, o fim de Magnificat, de onde
se via a belíssima paisagem do nosso tão belo planeta terra. Era agora estranho ver
um bosque em seu lugar, mas nunca soube justificar o inicio de tudo isto, por isso me
mantenho aqui, esperando respostas que não chegam e procurando saber viver com
as perguntas, tudo o que era até que Emma iluminou a minha vida.

      Surpreendeu-me ver aquela pedra no meio do bosque, estava coberta por
eras, como se estivesse naquele local por bastante tempo. Katie ia em direcção a
essa pedra, que tinha isto a ver com o desaparecimento de Emma?

      Ela começou a tirar as eras que o rodeavam, começando a descobrir um altar
que aparentava ter milénios. Tudo era tão confuso na minha cabeça que não sabia
bem o que pensar quanto a tudo isto, eu apenas queria-a de volta para mim e não
sabia no que este altar poderia ajudar para a encontrar. Certo de que nada disto
tinha cá estado antes, tudo me fazia querer questionar tudo e obter respostas
concretas para tudo isto que me atrapalhava a paz que havia vivido até esta manhã,
antes de me ter levantado da cama, antes de tudo isto ter acontecido, antes de a
melancolia apoderar-se de mim e tirar-me toda a felicidade e alegria, antes de Emma
ter desaparecido.

     Apenas queria voltar ao que era antes, estava sangrando por dentro e só ao
encontra-la poderia voltar a ser feliz. Ela era tudo o que a minha vida ansiava,
exactamente ela…
III.   O Papiro

     E, por mais estranho que pareça, consegui ver a luz ao fim do imenso vazio que
começava ainda a assolar-me e já reclamava toda a minha vida. Katie não só tinha
encontrado aquele altar, também encontrara uma espécie de pergaminho muito
antigo, mas muito bem conservado… Certamente tinha lá sido colocado há pouco
tempo, nada lá tinha escrito, completamente vazio. Tal como a minha alma agora que
sentia falta do que mais lhe iluminava, optei por levá-lo para o meu quarto para
quando tivesse tempo conseguir encontrar algumas pistas sobre tudo o que se
estava a passar…

     Sentia o meu corpo completamente exausto e sem quaisquer forças para
continuar, tentei dormir mas meus pensamentos não o permitiam. Todas aquelas
palavras que Emma me tinha escrito estavam entrelaçadas em todos os meus
sentidos, todo o meu ser estava a sentir aquelas palavras magoarem cada parte de
mim, sentindo nada mais do que a pior das dores. Perder quem mais se ama torna-se
impossível a existência de felicidade, um enorme vazio ocupa todo o espaço em que
em outrora a felicidade estava.

     Toda a vez que meus olhos fechavam, tudo se tornava em quem perdera, seu
corpo tortuosamente ia devorando o meu, imagens de passados recentes me
invadiam e todos aqueles sentimentos rapidamente desapareciam ao abrir meus
olhos… Penso várias vezes se não seria perfeito permanecer sempre com meus olhos
fechados, permanecendo no meu mundo perdido. Minha vida sem Emma não é nada
mais que cinzas de um fogo apaixonante que me ardeu completamente, fazendo-me
querer permanecer eternamente naquelas labaredas que me iluminavam a vida…

     Cresceu uma vontade imensa em escrever tudo aquilo que se passava por
dentro de todas estas tribulações, e nada melhor do que gastar em palavras o que a
mente constantemente me faz sentir.

     Observando o pergaminho, procurava todas aquelas respostas que não
conseguia ter as verdadeiras respostas… Não sabia a razão pela qual este
pergaminho estava lá, e como apenas Katie sabia da sua existência, decidi arriscar e
escrever tudo o que queria sair da minha cabeça… Principalmente o desaparecimento
de Emma, que me fazia pensar constantemente de todas as formas possíveis e
imagináveis de a encontrar. Mas de todas as perguntas a que mais me está a intrigar
é a razão de Emma me ter abandonado, eu ainda não conseguia acreditar que isto
tudo acontecera, apenas num dia todo o meu mundo desabou…

     Escrevi lentamente a pergunta pela qual minha vida ansiava por uma resposta
que me trouxesse novamente Emma de volta, que tudo ficasse perfeito como
aquelas poucas horas que tinha vivido poucas horas antes. Para minha surpresa toda
aquela tinta que tinha desperdiçado no papel, onde eu tinha gasto todas as minhas
questões em relação a Emma, começaram a diluir-se e a desaparecer…

     Para surpresa minha, todas as minhas lágrimas brotavam de minha alma, tudo o
que queria saber finalmente tinha resposta… Tão doces eram as curvas que agora se
escreviam pelo pergaminho, acalmando minha alma e deixando que o meu sorriso
voltasse a nascer de mim. Tudo o que se passava já não tinha qualquer sentido, tinha
agora um papiro que desenhava intensamente cada preciosa linha da letra de Emma,
respondendo-me e dizendo tudo aquilo que já sabia bem lá no fundo de mim.

     Emma nunca me abandonara, estaria sempre do meu lado e nada nos iria
separar, tínhamos sempre alguma forma de nos voltarmos a unir. Minha vida ganhara
de novo aquela luz que me tinha sido arrancada com as palavras cruas que tinham na
carta que Emma me escrevera à pressa.

     Tudo isto que tinha passado nestas últimas horas tinha se tornado num
enorme pesadelo que agora estava finalmente a acabar… Deveria agradecer isso a
Katie e a Vivian que se tinham juntado para tentarem nos por em contacto sem que
fossemos descobertos. Emma estava a pôr-me a par de tudo o que sabia até agora,
parecia que o nosso sangue derramado no dia anterior tinha criado aquela zona
onde Katie me tinha levado…

     Tinham vindo buscar Emma para que estivesse preparada para algo que ela
ainda não descobrira, parecia que por ter o sangue de Francesca junto ao seu a
tornava especial de alguma forma. Que a tinham feito escolher entre a destruição de
Magnificat ou entre abandonar-me, mas para nossa sorte ficou com Vivian como sua
serva. Parece que Vivian era uma seguidora de Francesca até que, depois da sua
morte, teve consciência de todas aquelas palavras que sua mestra lhe tinha dito não
passavam de meras palavras libertadas ao vento.

     A única coisa que sabia é que agora mantinham Emma cativa para que fizesse
o mesmo papel que Francesca iria fazer, para libertar Maquiavel, ainda não sabia
qualquer informação sobre ele mas que tentava procurá-la enquanto a faziam
estudar os livros da biblioteca de Francesca sobre supervisão de Vivian.

     Tínhamos apanhado o Peter, mas ele conseguira fugir e agora não
conseguíamos descobrir o seu paradeiro. E, pelo que parece, ele tinha voltado a
atacar mal conseguira fugir. Eu queria tanto tê-la do meu lado mas sabia que isso iria
denunciar não apenas a ela, como à Vivian…

     Teria de me manter calado e tentar permanecer no meu papel como se não
tivesse informações sobre o paradeiro de Emma. Iria aproveitar a minha suposta
demanda pelo seu paradeiro para tentar descobrir algo sobre Maquiavel e tinha a
sorte de puder leva-la comigo através do papiro que Katie me tinha dado… Estava
imensamente agradecido às duas por me terem dado a oportunidade de puder estar
a par de todos os acontecimentos sem que comprometesse a situação.

     Eu apenas não conseguia acreditar que tudo aquilo que tinha pensado
durante toda a manhã me tivesse torturado tanto, tirando toda a esperança que
tinha na minha vida eterna, mas tudo rapidamente voltou ao normal, ao saber que
afinal ela não me tinha abandonado, não tinha abandonado o nosso tão aclamado
amor… Era feliz por ela estar comigo, era feliz por saber que afinal dei a minha vida
por ela e afinal estava tudo bem entre nós…

     Eu não a amava apenas, ela era tudo o que me fazia sorrir e seguir em frente,
ela era o meu presente e o meu futuro, caso me tivesse deixado eu viraria cinzas e
nada mais teria valor… Tudo aquilo que eu queria desta minha vida eterna era
Emma, apenas ela era o que eu queria na vida. Ela era aquela que me completava,
que eu amava e que queria ver feliz, acima de tudo.

     Eu desejava tanto vê-la que perguntei-lhe se havia possibilidade de nos
podermos ver de algum jeito, sem que ninguém conseguisse descobrir do que nós
estávamos a tentar esconder de todos. Eu sinceramente esperava um não pois era
tão arriscado tentar uma aproximação, apenas nos verem no mesmo local por volta da
mesma hora seria catastrófico para descobrirmos para que ela era necessária para
esse tal de Maquiavel.

     Mas o meu desejo lhe de poder tocar novamente na sua pele, sentir os seus
lábios suavemente pousados sobre os meus como se duma conjugação perfeita se
tratasse, sentir o seu corpo no meu, abraça-la e senti-la bem perto de mim…
Rapidamente fechei os olhos para que me pudesse recordar do seu sabor, das suas
carícias, do seu sorriso, da forma como ela me tornava tão feliz… Bem sabia que o
mais provável era não vê-la até que tudo voltasse a resolver-se porém, havia sempre
uma parte de mim que desejava que o nosso reencontro fosse possível.

     Antes que ela me respondesse, comecei a dizer-lhe o quanto ela me fazia falta,
o que todas as palavras do mundo nunca iriam dizer era que ela era grande parte da
minha e o quanto ela significava, o quanto a amava e desejava, o quanto a queria ver
feliz… Era a enorme mágoa aquela que crescia em saber que ela estava em toda esta
situação por minha culpa, que todas as complicações da vida brotavam de tudo isto
que nós tínhamos…

     E eu apenas queria ser feliz com ela, e todo o resto voltava e voltava a rodear-
nos e afastar-nos cada vez mais. Pode parecer egoísta querer que todos os
problemas acabem, deixar Magnificat para trás para que Emma fique bem,
abandonar décadas de governação apenas pela melhor coisa que me aconteceu em
todas as minhas vidas. Eu estava decidido, depois de tudo isto iria ficar tudo
resolvido.

     Queria estar com ela antes que partisse pelo seu suposto desaparecimento,
queria voltar a sentir os seus lábios, segurar sua face com as minhas mãos e sentir-me
novamente em paz, olhando e perdendo-me dentro da nossa imensidão. Mas tudo
teria de ser tratado com o máximo cuidado para que ninguém nos apanhasse, para
que tudo fosse perfeito.

     Meu coração começou a bater mais rápido quando Emma me disse que sim,
iria ter comigo para me desejar uma boa viagem, estava desejoso para a ver de volta.
Queria que ela fosse comigo mas ela não queria por em risco todas aquelas vidas
que a estavam a ajudar e as restantes caso não estivesse de volta depois de
estarmos juntos. Só de pensar em estar novamente com ela meu rosto se iluminava e
sorria até à alma.

      Nem queria sair daqui, queria continuar a falar com ela até que chegasse a hora
de estar com ela, abraça-la e senti-la em meus braços… Seria perfeito se eu pudesse
sair e fugir com ela… Mas o mundo e Magnificat estavam em jogo, mais uma vez.




      Chegara a hora de ver minha amada, era noite e quase ninguém ainda tinha
visto aquele novo sítio onde estava o altar, iríamos arriscar muito mas eu era capaz de
tudo para a ter comigo mais uma vez… Ia ser tudo tão perfeito que nada iria correr
mal, estávamos destinados a ficar juntos não importando o que aconteceria… E
sabia disso, era isso que me fazia estar vivo.

      Era noite de lua cheia, tudo simplesmente era belo à minha volta. Já me
aproximava do local de encontro, ia sozinho para que ninguém pudesse reparar, tinha
combinado isso com Emma.

      Lá estava ela, sentada sobre o altar. Eu nem tive tempo de pensar…
Rapidamente estava a seu lado, abraçando-a como se não a visse há décadas, e
tinham sido para mim as piores horas da minha vida. Era estranho pois ela não se
tinha movido nem um pouco sequer, estava exactamente como antes, sem que nada
se passasse…

      Apenas aí é que tomei consciência do que se passava e olhei à minha volta,
estava rodeado de gente… Mas o que significava isto?
IV.    Indefinida Esperança

     Sua expressão parecia-me fria e completamente diferente da Emma que
conhecia, mas meus próprios olhos a viam à minha frente, era ela. Permanecia bem
junto dela, observando todos aqueles que continuavam connosco, não compreendia
bem tudo isto que se passava. Agora que nos tinham trazido para o refúgio de
Francesca eu temia pelo que Emma estava a fazer e no que andava metida.

     Estava prisioneiro por detrás de uma parede que não tínhamos descoberto,
devia ser a zona privada dos seguidores de Francesca. Mal chegamos, vi Pedro à
nossa espera… Olhei em seus olhos confiantes e segui o seu olhar que fitava Emma,
nada disto conseguia entrar na minha cabeça…

     Estava prisioneiro, estava destroçado pois não sabia o que se passava. Minha
alma se perdia pelos tempos, meu coração ardia pelas horas. Aquela Emma que
agora via do meu lado, aquela mesma que me escreveu pelo papiro, não a conhecia.
Ela não era aquela que eu amava.

     Não sentia nada por ela, apesar de a sentir e ver a meu lado. Seus olhos nada
me diziam, sua pele não brilhava mais do jeito de antes, teria sido tudo apenas um
sonho que acabara? Não podia acreditar em tal coisa. Um amor não acaba assim, um
amor destes que nunca acabaria desta forma tão rápida e indolor.

     Eu amava a Emma que conhecia e que via, aquela que seus olhos me diziam
que me amava profundamente e agora, seus olhos não brilhavam mais, seu corpo de
nada tinha senão a sua imagem. Tudo nela era como se duma fotografia se tratasse,
nada nela parecia ser de Emma, só sua imagem me dizia que era ela…

     Meus pensamentos pararam quando Emma se afastava e juntava-se a Pedro,
dando a ordem para que me levassem para o meu quarto… Ouvi chamar por
Alessandra, que rapidamente cercou meu braço com a sua mão e me levou algures
pelo interior do submundo de Magnificat, deixando-me numa sala e pousando uma
nota por cima.

     Rapidamente saiu da sala, fechando a porta. Certamente estava a ser
guardado para que não houvesse fuga possível. Eu apenas não compreendia como
é que tudo isto se estava a passar, como poderia o amor da minha vida fazer-me tal
coisa.

     Decidi abrir a nota que a tal rapariga tinha deixado, mais uma vez era a letra de
Emma. Suspirei, fechando meus olhos e ganhando coragem para ler suas palavras.

     “Apesar de tudo o que possa acontecer numa vida, não há nada que se
compare ao que sentimos quando estamos junto a alguém. Ao nos sentirmos sós,
mesmo quando temos ao nosso lado pessoas que nos amam, falta-nos algo que faz
toda a diferença, algo que nos ilumina a alma.

     Um sentimento, por mais coisas que aconteçam, nunca se extingue. Amar,
incondicionalmente… O quão forte pode ser! Sentir aqui a pessoa que se ama, por
mais longe que possa estar. Quando se ama não existem limites… Amar é clamar pela
vida, é gerar vida. Mas não se ama só quem vive… O fim que nunca se quer viver é o
fim que liberta-nos na esperança de algo transcendente.

     E com Alessandra descobri que nem todos os que estão do lado de
Francesca são do mal, algumas apenas tentam aprofundar os seus conhecimentos
para que os transmitam a ti, o regente de Magnificat. Se estás a ler isto é porque o
que Alessandra disse se realizou, Francesca tomou a minha imagem e me aprisionou
algures. Tentei saber, mas até agora só sei que tentará usar-me para te aprisionar.
Desculpa ter-te trazido tantos problemas, eu te amo e estarás nestes momentos com
Alessandra. Ela te ajudará e mostrará o que descobriu. Nada podes dizer antes
que ela te consiga libertar…

     Tem certeza de que te amo, não importando onde eu possa estar. Só quero
que acabes com tudo isto pelo bem de todos, pelo bem de tudo o que criaste.

                                                                Sentindo saudades,

                                                                              Emma”

     E as horas que nunca mais passavam… Mas finalmente Alessandra estava de
volta, observando a nota que eu tinha em minhas mãos e se aproximando de mim,
entregando um caderno antigo, tirando o papel de minhas mãos.
“Terás cerca de uma hora para puderes ler estas páginas, depois terás que
esconder ou senão será o nosso fim.” Disse sussurrando, desaparecendo pela porta
rapidamente.

     Então, eu abri e comecei a ler… Restavam-me poucos minutos para que alguém
chegasse, por isso tinha de me apressar…




     “E a história se faz em livro, para que todos saibam o que fazemos neste
mundo… Palavras que sempre quis em mim, palavras que conseguirei. Uma história
que se tornará minha, pois eu terei Francesca do meu lado. Henry não será nada
além de uma memória do passado, amar será a palavra que ela nunca mais dirá. Não
fosse eu Maquiavel, seu dono e senhor. Palavra de uma história que fica para
memória do que jamais ela voltará a sentir, apenas um passado.

     “Fecharás os olhos e nada mais irás ver… Teu ser se completa no meu, pois
nossos seres são um só… Segue o rumo do vento e chegarás a mim. Sou aquela que
cavalga por entre os prados verdejantes, desejando estar ao teu lado.”

     “Enquanto cavalgares pelos prados verdejantes, estarei esperando a hora em
que nosso prado se torne um só… Nossas almas estão unidas e nossos corações
formaram um só, quando se unirem.”

     “Esperando o nosso dia, que nunca mais chega, clamarei aos quatro ventos o
nosso amor… Teu sorriso me iluminará a face e teu olhar me aconchegará o
coração.”

     A lua, que reinava os céus, permanecia brilhando, Francesca observava o céu…
Os olhos de Henry brilhariam assim quando finalmente se vissem?

     Desde sempre que os dois conseguiam comunicar, não sabendo como… E foi-
se gerando uma vontade enorme de finalmente se conhecerem.

     “A cada segundo que passa, a cada luar que sinto sem te ter perto de mim. Fui
agraciada com esta nossa ligação. Não imagino a minha vida sem te ter no interior da
minha alma, sem te ter sempre ao pé de mim.”
“Agraciado eu por ouvir tais palavras. Sereis minha musa para todo o sempre,
mesmo depois de chegar a hora da morte. Meu ser não vive sem o teu e minha vida
não brilha sem a tua doce voz que ecoa na minha alma.”

      Não são palavras que trocam, não são olhares que manifestam. É apenas um
sentir que se está junto, como se alguém permanecesse dentro de nós e nos falasse
por dentro. Por muitos anos esta profecia foi dita entre sábios, não sabendo nem o
tempo nem o lugar onde se poderia concretizar. Relata o povo, ao longo dos vários
tempos, que existirão dois seres, que iriam abrir para o mundo os sonhos e emoções
perdidas. Mas eu sou aquele que foi capaz de o fazer, que consegui separar amores
e tornar serva a sua eterna alma perante o meu poder.

      São imensos os relatos que ela escrevera, tantos os momentos que se
tornaram em nada.

      “Senti um pequeno polegar me acalentando a face, fechei os olhos e senti-o
descendo até à minha boca, rodeando meus lábios, deixando uma leve brisa. Abri os
olhos e estavas aqui, sorrias para mim como se nunca quisesses parar de sorrir e,
quando iria ouvir da tua boca doces palavras, acordei. Era só um sonho que não
queria mais deixar. Os dias não passam e as horas dilaceram meu ser que anseia unir-
se ao teu. Tu, meu cavaleiro do nada, preenche-me com a tua luz. Tu, que entras e
roubas meus sonhos… Tu, que deténs minha alma… Vem até mim.”

      “Estais comigo a cada segundo que passa. Porém, desejo ouvir-te sorrir,
correr pelo prado fugindo de mim, nadar contigo numa cascata e, ao cair da noite,
olhar para as estrelas e contá-las contigo, para que nunca passe o tempo da noite.
Sim, não quero voltar a dormir pois os sonhos atormentam-me a alma ao saber que te
sinto e vivo, mesmo sem estares comigo. Quero-te ao meu lado pois, como a Lua tem
as estrelas para iluminarem o céu, eu quero ter-te comigo para que o teu sorriso me
ilumine a vida.”

      “Eu sei, meu amor, eu sei… Como poderei eu viver sem que a Lua nos ilumine e
nos cative o coração? Tu és a minha Lua, sabes disso meu amor. Mas não desejo
ser as estrelas pois elas não tocam na Lua, quero fazer parte da Lua, para que
nunca esteja sozinha, a brilhar. Quem sabe, ao brilharmos os dois, não serão
necessárias estrelas na imensidão do céu.”

        “Ao acordar de mais um sonho, pergunto-me por quanto tempo estarei longe
de ti. Gostaria de te ter comigo, aqui, ao meu lado, para que as nossas vidas fossem
finalmente uma só. Nesta semana, partirei do meu reino com uma missão que será o
meu último préstimo ao rei. Anseio acabá-la para me unir a ti. Eu serei teu de corpo
e alma, pois minha alma manténs cativa pelos teus encantos.”

        “Tu que me amas como nunca ninguém me amou, olhaste-me por dentro e
fizeste germinar em mim a esperança de vidas futuras… Meu ser percorre um vasto
caminho ate encontrar o teu, unindo-se na imensidão dos sonhos. Contarei os dias
como quem conta uma vida… Meu tempo és tu e o meu espaço é todos teus
encantos.”




        Vários dias se passaram sem que a Francesca falasse com ele, pensou tantas
vezes em ir ter com ela para lhe dizer que não sabia que a missão era aquela… Muitas
vezes tentou, mas nunca passava para além da fronteira do bosque com o jardim em
que a sua amada passava as tardes. Eu o tinha mandado em missão para que
matasse o pai dela, para que depois pudesse juntar-me a ela e criar o meu reino nos
céus.

        Decidiu escrever-lhe pois não sabia o que lhe dizer, talvez num papel sairiam
melhor as palavras… Na carta ele dizia que as dúvidas que lhe iam brotando da alma
não o permitiam deixa-la a sofrer pois o que sentia por ela era mais forte do que
qualquer outro sentimento.

        Aproximou-se do jardim pelo bosque, como fazia todas as manhãs… Esperou
que ela se aproximasse e, sem esperar que qualquer pensamento o intimidasse a
continuar, dirigiu-se para a frente dela entregando-lhe a carta.

        Mal recebeu a carta, rasgou-a e atirou os pedaços a Henry, prosseguindo o
seu passeio como se nada tivesse acontecido. Henry seguiu, sem rumo, para
qualquer lugar…
Não queria acreditar na perda do amor da sua vida, nunca a deixaria de amar…
Ele seria sempre parte dela, nunca estariam separados. Cada momento de angústia
serve para observarmos o quão importante são as pessoas que amamos.”

Ouvi passos e rapidamente escondi o diário para que ninguém desse conta que
estava em minha posse, era Emma. A suposta Emma estava a tentar seduzir-me
para que me juntasse a eles, jamais iria fazê-lo. Jamais!
V.      O Diário

     Finalmente a tortuosa hora, em que a imagem de Emma tentava aproveitar-se
do corpo da minha amada, para me unir a Pedro tinha passado. Poderia finalmente
voltar à leitura e descobrir a razão para isto…

     “Seu corpo o levou ao mar…Talvez para que o mar fosse cada lágrima que ia
desabrochando do seu íntimo. Passou a noite a observar a lua, que flutuava nas
águas do mar. Tudo lhe lembrava Francesca… Tudo que o rodeava, parecia sofrer
como o doce olhar dela. Adormeceu nesta ânsia de voltar para junto de quem faz
parte da sua alma.

     Quando acordou viu uns olhos verdes bem abertos a olhar para ele, levantou-
se e viu que estava num quarto que certamente não era o seu. Saiu para o exterior e
reparou que estava numa comunidade piscatória da região.




     Viveu lá por algum tempo com aquela mulher, que o chegara a salvá-lo de ser
morto pelas ondas fortes do mar. Cheguei a acreditar que finalmente podia juntar-
me a ela pois esta mulher queria que ele fizesse parte do seu lar, que fizesse parte de
si. Mas todas as noites, em que a lua brilhava lá no alto, ia observar o mar… Era a
imensidão do seu amor por Francesca.

     Numa noite como qualquer outra, em que a saudade pela sua amada vai
aumentando, finalmente as suas preces foram ouvidas…

     “Parai palavras que estais dilacerando minha alma! A cada silêncio que
desaparece por estar unida a quem Vos clama, vão percorrendo lágrimas pela minha
face. Porquê eu? Porquê nós? O desejo vai-se apoderando, deixando meu ser em
angústia. Jamais poderei ouvir tais palavras da boca de quem tem como fim destruir
tudo o que é meu… Oh, meu pai… Se soubesses o que este ser sofre por saber que
não pudera unir a sua vida à harmoniosa Felicidade. Como poderei eu salvar quem
mais amo? Gostaria de acordar desde maldito pesadelo, porém a verdade é nua e
crua, abrindo chagas profundas no meu coração. Este que se divide, que se destrói
a cada passo que é dado. Poderei eu voltar à paz?”
“Todo o meu ser chora pois sou o causador deste momento… Que poderei eu
fazer? Quais serão os meus passos? Quando te vi, teu olhar me aconchegava a
alma… Como posso ter sido o escolhido para fracassar como homem que ama a sua
eterna musa das noites em claro? Vós não aceitastes a minha carta, repudiaste cada
letra que lá se encontrava… Agora que tenho o mar no meu horizonte, apenas desejo
voltar para onde a fonte da minha vida habita… Estais a sofrer, bem o quero mudar…
Minha vida não é nada sem ter a tua por perto… Não me fujas pois prefiro que meu
reino me repudie a perder-te, sem puder abraçar-te a cada dia das nossas vidas.”

     “Estarei onde rasguei cada palavra tua para que me digas cada letra perdida…
Desejo imensamente voltar a ver-te, sentir-te ao meu lado… És a luz que ilumina a
minha vida, permitindo que o meu sorriso volte. Anseio voltar e estar contigo, não
vamos permitir que esta situação crie barreiras ao que sentimos. Porque o que
sentimos nunca terá barreiras.”

     “As barreiras não são nada mais que degraus que nos elevam ao mais
profundo amor entre os homens… Não sabes o quanto desejo ver-te, voltar a sentir-
me completo. Jamais me cansarei de observar a imensidão do teu olhar, cada parte
do teu ser me cativa a alma. Partirei ainda hoje rumo à nossa felicidade, chegarei de
manhã cedo e esperarei por ti. Não direi que te amo, pois prefiro demonstrar-to.”

     E, olhando uma última vez o mar, pôs-se ao caminho. Não se importava da
fome que tinha, do cansaço que se ia apoderando dele… Só lhe importava chegar ao
seu destino. Se não estivesse em busca do segredo destes dois reinos, tinha-o
dilacerado com as minhas próprias mãos. Estava em primeiro lugar encontrar todo o
segredo para que o usasse, depois trataria deste homem.

     O tempo não passava, mesmo tendo o seu corcel que lhe permitia andar mais
depressa. Desejava tão intensamente olhar a sua amada que as horas tornavam-se
uma enorme tortura.

     Na sua mente fluíam vários pensamentos relacionados com o homem que
amava, o homem que vinha a caminho. Um sorriso brotava do seu rosto, o seu homem
viria ter com ela e abandonar tudo pelo amor que sentiam. Na realidade, não iam
deixar que os seus reinos se aniquilassem, por alguma razão sabia que o melhor era
recuar para que pudessem depois acabar com toda a injustiça que estava a passar-
se. O seu amor seria mais forte do que qualquer outro sentimento de rancor, ódio e
vingança. Imaginava-se junto ao seu amado, respirando e sentindo tudo como se
fossem apenas um só.

     Decidiu ir para junto da varanda, não conseguiria adormecer, apenas queria
que as horas passassem para que o seu destino fosse completamente alterado. A
noite estava a aconchegar-lhe a alma, para que esta pudesse sentir o calor que
emanava do amor que surgia dos dois. Não tinha saudades, porque ele estava com
ela, era parte dela. Mas faltava-lhe a parte que ela lhe tinha entregado, a parte da
sua alma que ansiava fervorosamente pela sua vinda. Suspirava, o tempo demorava a
passar… Quem lhe dera ser dona do tempo para que este pudesse passar
rapidamente aquando da hora em que o seu amado não estava perto dela, e tão
lentamente para que pudesse sentir tudo a toda a hora quando estava junto dele.

     Mas as horas passaram… Finalmente era dia e a hora do fim e do inicio de tudo
estava prestes a chegar. A felicidade de Francesca contagiou tudo e todos, era-lhe
impossível esconder a tamanha felicidade que sentia por dentro.

     Quanto a Henry, já pouco faltava para chegar ao castelo. A floresta criava
nele um sentimento de profunda nostalgia. O momento em que se juntaria à sua
amada estava prestes a acontecer, até custava a acreditar.

     Nada do que esperavam que acontecesse poderia superar o que sentiram
quando se encontraram novamente juntos, em corpo e alma. Seus sorrisos
iluminaram seus lábios que rapidamente se uniram num beijo profundo, sentido e
carregado de carinho.

     - Sempre vieste… - Disse Henry, depois de recuperar o fôlego.

     - Claro que viria… Temos de decidir o que fazer quanto à nossa situação.

     - Se nos continuarmos a ver corremos o risco que algo de mal nos aconteça,
mas quero arriscar pois para estar vivo preciso de estar ao pé de ti… - Dizendo isto,
beijou-a novamente, com uma ternura tal que lhes fora difícil abandonar o beijo e as
carícias que surgiam numa enorme sede que teimava em aumentar cada vez mais e
mais.

        - Não quero que nada te aconteça, jamais me perdoaria! Vamos sair daqui, meu
amor…

        - Não creio que seja uma boa opção… Tens aqui a tua vida e, mesmo que
fugisses comigo, não teríamos uma vida ao nível da que costumas viver. – Segurou a
face da sua amada, olhando-lhe nos olhos, e prosseguiu – Iríamos fugir para um lugar
totalmente desconhecido e pouco seguro, temo pela tua segurança. Tens mesmo a
certeza que é isso que queres? – Declarou Henry, por mais que desejasse ter a sua
amada ao seu lado, não podia pensar apenas nele. Ela não estava habituada a uma
vida nómada nem dos perigos que essa vida acarretava.

        - Desde que esteja contigo, pode vir de tudo que nada nos abalará. – Dizendo
isto, beijou-o efusivamente.

        - Eu devo estar louco por nem pensar duas vezes… Meu amor, partiremos em
busca do que nos faça ser felizes. Quando tiveres tudo preparado partiremos,
apenas tenho de comprar mantimentos e um cavalo para partirmos.

        - Já tenho tudo preparado, apenas necessito de ver o meu reino por uma
última vez.

        - Apenas o teu sorriso consegue iluminar-me por dentro… A nossa caminhada
será longa, terá muitas enfermidades. Mas creio que tudo não ultrapassará o que
vivemos, um no outro. Espero que jamais perca este elo que nos une. Desde que
estejamos juntos tudo não passará duma caminhada rumo a uma mais profunda
união. És a minha amada, sempre o serás. – Concluiu, selando as suas palavras com
um beijo.

        Nessa mesma noite partiram, Henry tinha conseguido fazer um bom negócio
com um comerciante da zona, tendo assim um lugar para colocar as suas coisas e
para pernoitar. Decidiu não comprar um cavalo para puxar a sua espécie de
caravana, preferiu usar o seu corcel. Não pararam enquanto não saíram das
fronteiras do reino pois certamente o rei iria procurar a sua filha, não sabendo eles
que eu já o tinha assassinado.

     Finalmente tinham alcançado outro reino, o cansaço surgia dos seus olhos,
deixando a Henry o penoso desejo de a ter como sua. O desejo era tal que os foi
mergulhando num misto de vontades, fundindo-se apenas num: serem realmente um
no outro.

     A luz iluminava a face da sua amada. Rapidamente a sua mão precipitou-se na
sua face, percorrendo cada centímetro até alcançar seus lábios doces que se abriam
pedindo que suas bocas se unissem num melodioso frenesim. Não havia forma de
descrever o sentido desta união tão avassaladora e harmoniosa.

     Seus corpos iam instintivamente reagindo a cada flutuar dos dedos que iam
dançando pela pele que se ia descobrindo… Ao som do ritmo das pulsações, as
respirações iam activando cada parte do corpo que percorriam deixando que o
desejo se apoderasse completamente dos dois, sendo impossível parar.

     Apesar de a conhecer desde sempre, sentia-se extasiado com cada nova nota
que vibrava no corpo dela a cada carícia que ele lhe fazia. A sua mão movia-se num
ritmo de provocação, deixando Henry completamente desarmado.

     Viviam um tango intenso, debatendo o poder e a sedução… Seus corações
batiam ao som de cada passo desta magnifica coreografia de dois corpos que se iam
descobrindo e devorando. Nunca pensando alguma vez vir a alcançar tal acto,
brincando com o seu amado e descobrindo cada parte mais intima e mais ritmada às
violentas pulsações do eterno tango que é o amor. Pressentindo o final da melodia,
Henry aconchegou a face da sua amada em suas mãos enquanto ambos gritavam
pelo final tão desejado. No fim, os aplausos de tão belo acto foram em forma de
novas carícias de desejos que renasciam como a Fénix… Não seria uma dança na
vida, a vida seria uma constante coreografia de atitudes e sentimentos.




     Faltava pouco tempo para o amanhecer, mas Henry não queria que isso
acontecesse… Dormira muito pouco nessa noite e, enquanto não estava acordado
para observar a sua cara Francesca a dormir, sonhava com as tentações que tinha
experimentado com ela. A doçura que transcendia de Francesca parecia captar
momentos mágicos, ele nunca se cansava de olhar para ela… E agora estava ali, nos
seus braços repousando num profundo sono. Ele não a queria acordar, preferia que
ela descansasse pois a viagem tinha sido longa e eles teriam imenso tempo para se
entregarem novamente, um no outro.

     A luz da lua fazia realçar cada parte de Francesca, a sua tez branca
proporcionava a Henry uma paz imensa… Ele estava com ela, ia protegê-la e amá-la
para todo o sempre.

     Na sua vida sempre existiu pouco espaço para o amor, apenas surgia a
esperança dele existir quando comunicava com ela. Seus pais tinham morrido à sua
frente numa viagem em que foram intersectados por bandidos que habitualmente
viviam pelos bosques, sendo a sua mãe violentada e esquartejada de seguida.
Apenas tinha oito anos mas nunca se iria esquecer do que vira e do que sentira ao
ver o seu pai tentar defender a sua mulher até à morte. Por isso, mal teve a idade,
ingressou no exército para que a justiça pudesse ser feita.

     E, agora que finalmente tinha alguém que amasse, já não estava mais perdido e
sem rumo… Tinha tudo o que necessitava.

     Cada traço da sua amada lhe dava vontade de a manter assim por mais tempo…
Ela parecia um anjo que lhe tinha caído na vida, a sua inocência e o seu gosto fariam
eternamente parte de si. Mas seria capaz de seguir os paços do seu pai? Na
realidade, esperava nunca o vir a descobrir.

     Voltou a olhá-la e decidiu que iria viver o que sentia sem medo de passados
que não deviam voltar. Aconchegou-a mais a si e adormeceu logo após o amanhecer.




     Enquanto dormia não tinha consciência do que se passava perto deles. Aliás,
demasiado perto deles… Mas durara pouco tempo pois os ruídos provocados por
um grito o tinham despertado dum maravilhoso sonho, tinha-o despertado para um
pesadelo bem real.
Francesca já não estava a dormir nos seus braços, parecia que tentava acordá-
lo, agarrando-se a ele como se tratasse de uma questão de vida ou de morte. E
realmente era, vagas memórias o iam assaltando, desenrolando o que se iria passar
de seguida…

     Tentou acalmá-la, mas a realidade é que ele estava apavorado, sem saber o
que fazer. Estavam rodeados, sem qualquer forma de escapar aos bandidos.
Francesca fora facilmente arrancada dos seus braços, ele tentou protegê-la, mas
seria capaz de dar a sua vida para salvar a sua amada como seu pai havia feito? Por
mais que se questionasse os seus actos afirmavam inteiramente que tentaria salvá-la
dos capangas até ao seu último fôlego. Não iria permitir que se aproveitassem dela,
nunca o iria deixar…

     Tal como seu pai, ele ia debatendo-se e tentando libertar-se para salvar a sua
amada que agora estava nas mãos de um crápula que lhe tentava desfazer os seus
trajes para que o seu prazer mundano fosse saciado.

     - Tira as mãos dela, seu cobarde! – Gritava ele, enquanto os restantes quatro
bandidos o iam espancando para que não lhe restassem mais forças para tentar
evitar o inevitável. Mas havia algo que não o deixava demover-se perante tudo que
se estava a passar. – Vem, então és cobarde o suficiente para te aproveitares da
donzela sem primeiro derrubares quem a acompanha? Vê-se mesmo que és um
crápula! – Rebateu ironicamente.

     As suas palavras finalmente surtiram efeito pois o homem chamou dois dos
seus camaradas para segurar nela, virando-se a ele.

     - Eu não tenho medo de nada! E não preciso de ti para o provar. Mas já que
queres morrer, eu faço-te esse favor! – Dizendo isto, mandou um murro bem no
estômago de Henry – Então, agora já não falas? – Voltou a esmurrá-lo, mas agora
na face.

     - Continuo… Tu és… - O fôlego faltava-lhe pelos socos que ia levando no
estômago – …um crápula... covarde…
Francesca tentava soltar-se para auxiliar Henry, mas a única coisa que
conseguia era observar tudo brotando lágrimas pois sabia que se não se
conseguisse libertar estariam ambos mortos. De repente lembrou-se que poderia
libertar-se com uma simples e forte dentada no ombro de um dos homens que a
seguravam… Ele gritou, largando-a e o outro homem tentou segurá-la mas um
biqueiro deitou-o ao chão deixando-a livre para chamar ajuda.

     Enquanto corria, apenas pensava no que se poderia estar a passar no local de
onde havia fugido. Tentava correr com todas as suas forças, esperando que alguém
a pudesse ajudar a libertar o seu homem daquela escumalha. Olhando para trás para
ver se eles a alcançavam e correndo o mais rápido que podia, esbarrou-se contra um
homem que aparentava ter uma longa idade.

     - Preciso que me ajude! Por favor… Ajude-me! – Balbuciava ela.

     - Eu sei minha querida, vamos ajudar Henry a livrar-se daqueles cretinos pois
necessito de vocês os dois bem vivos.

     - O quê? Mas do que…

     - Não é o tempo ideal para conversas. Vamos, não há tempo a perder! –
Interrompi-lhe seguindo rumo ao local de onde ela surgira.




     Sua vida acabara de lhe permitir um futuro diferente ao que acontecera aos
seus pais, tinha conseguido libertar a sua amada. Não se importava com mais nada,
eles podiam vir mesmo a matá-lo que para ele seria apenas um dano colateral. Com
Francesca salva não necessitava de mais nada para que pudesse morrer em paz.

     Sim, ela era a sua paz e parte de tudo o que ele é. Esperava que ela
conseguisse escapar dos patifes que a tinham seguido. Mas havia algo que lhe
incutia calma, como se soubesse que ela estava a salvo…

     Quanto a ele, sabia que não existia qualquer possibilidade de escapar-se dali.
Ao ver que a sua amada conseguira fugir nada mais teria que fazer… A sua força
tinha surgido como uma enorme labareda que agora ia perdendo todo o fulgor.
Apenas pensava nos batimentos atribulados de Francesca, correndo sem rumo,
fugindo para que nada lhe acontecesse.

     Como detestara reviver momentos destes… Tinha posto em perigo o seu bem
mais precioso e nunca desejara que isso acontecesse. Caso conseguisse sobreviver
teria de se afastar dela, defendendo-a de longe pois ela no castelo também estaria
em perigo.

     Parecia que este mal do mundo tinha tomado o lugar do vento, espalhando-se
pelos quatro cantos do universo. Custava-lhe respirar, já não sentia nada apesar de
continuar a ser espancado pois rapidamente tudo se apagou… Apenas os seus
pensamentos iam continuando a navegar pela sua inesperada inconsciência.

     Era ela, era ela quem lhe surgia nas imagens que há pouco tempo estava
combater… Mas quem via realmente? A sua preocupação permanecia elaborando
novos rumos para as vidas futuras.

     Não a queria fazer viver tais suplícios e jamais aguentaria vê-la sofrer. Não que
fosse um herói do mundo, mas estava na sua sina a defesa incondicional daquela que
lhe capturou cada parte da sua alma, deixando-o livre para amar. Ela era e sempre
seria a sua amada, mas a sua vida e segurança estavam em primeiro lugar.

     No meio das suas divagações pareceu-lhe ouvir algo que o afugentava de
todos os pensamentos:

     “Desejo conseguir impedir a tempo pois não sei como viver sem respirar-te, tu
és tudo o que me faz ter sentido na vida, que me faz lutar para que tudo seja como
sonhamos. Aguenta meu amor, aguenta que já vamos a caminho…”




     Há muitos anos que este dia tinha sido desejadamente previsto pelos
sacerdotes de Gramda, presentemente conhecidos por feiticeiros. Tiveram de selar
o segredo para que não fossem criadas ilusões perante os reais factos: quem tivesse
essa missão e a tomasse como certa por ser o derradeiro acabaria por dissipar
qualquer hipótese de restaurar o reino.
Por essa mesma razão os sacerdotes decidiram que os escolhidos seriam
pessoas que já estivessem dentro da área ao qual teriam de combater, dois reinos
vizinhos unidos pelo amor e forças vindas de gerações passadas.

     Enquanto ela era descendente da família real que se tinha destruído, os pais
de Henry eram descendentes da linhagem dos protectores do castelo que agora
pertencia a Silibat. Estes factores unidos a um longo treino fariam deles os
escolhidos para esta dura batalha por Gramda que se tornara apenas viva entre os
sacerdotes e eu não iria permitir que isso acontecesse.

     O segredo que fora guardado pelos defensores de Gramda tinha ficado
oculto até para os Sacerdotes, nem sabiam onde se encontrava esse compartimento
no castelo. Eu matei cada um, tentando encontrar esse segredo que acabei por
encontrar. Tudo que faria o mundo temer um imortal, sendo apenas uma arma
possível de o matar. Tomei a forma do feiticeiro que os tinha ajudado e tentei levar
Francesca comigo, porém ela mantinha-se junto ao amor que os unia.

     Não havia outra opção a não ser forjar a morte do seu amado Henry e leva-la
comigo, para que pudesse recuperar dessa dor bem longe de todas estas memórias.
E estou certo que conseguirei alcançar o que sempre quis. O segredo que estava
escondido foi-me revelado e irei brevemente clamar à minha vitória. Seja eu
aclamado rei e temido pelo mundo!”

     E estas eram as últimas palavras, tinha lido toda esta história e a única coisa
que conseguia entender é que Francesca tivera uma vida dura, como terá tudo
acabado? Certamente Alessandra mo poderá dizer…
VI.    Algumas Respostas

     Esperava ansioso pelas respostas de Alessandra. Já sabia parte d inicio de
tudo isto que estava a acontecer, mas nada me dizia o que tinha acontecido a
Maquiavel e o que se passara para que Francesca se tornasse imortal depois de ele
ter deixado de escrever a sua história. E que segredo era aquele? Que profecia era
dita pelos antigos habitantes dessas duas cidades? Eram tantas as questões,
tantos os momentos que se tinham passado e que precisavam de uma explicação que
sinceramente nem sabia por onde começar todas estas questões.

     Esperava constantemente que fosse Alessandra a entrar, para que tudo o
que me atormenta fosse respondido. Esta ansiedade estava a brotar em mim uma
enorme vontade de me levantar e sair daqui, ir em direcção à porta e encontrar as
respostas pelas minhas acções… Não me importava mais nada do que saber como
descobrir Emma e salva-la, puder abraça-la de novo e sentir-me novamente
completo. Ela não era parte da minha alma, minha alma já era totalmente dela, nada
de minha existência era meu…

     Tudo era nosso, completamente despojado de mim… Todos os meus
pensamentos me levavam a ela, sentia a sua falta até quando adormecia, sonhando
com o nosso reencontro… Viver sem ela não era qualquer hipótese para mim, era
como se eu estivesse condenado novamente a uma vida sem sentido. Tudo o que ela
me dava era o ideal para que meus dias fossem simplesmente perfeitos.

     Podem pensar que sou louco por amar tanto assim alguém, capaz de dar a
minha vida e sofrer da pior das formas apenas por rever e senti-la a meu lado. Mas
que era eu sem ela? Sinceramente, já nem me lembro… A sua chegada foi um enorme
embeber de felicidade na minha vida, uma luz que me alcançou e despojou-me de
tudo o que eu era, fazendo-me dela e amando-me intensamente. Nós não éramos
nada um sem o outro, nada do que o passado poderia trazer iria mudar isso…

     Estava preparado para fazer de tudo para a ter de volta, não me importava
minimamente como tudo acabaria. Se ela realmente não me amasse, eu recuaria e
definhava algures pelo mundo. A minha face apenas sorri com toda a sua luz quando
a sinto em mim, fazemos parte de um todo que nunca mais voltará a ser solidão. Era
tudo aquilo que nunca procurara mas que tinha aparecido na minha vida com toda a
pressa para entrar, mostrando-me como a minha vida era vazia e sem valor.




     Mais uma vez a falsa Emma veio ao meu encontro, tentando me convencer em
juntar-me a ela. Seu cheiro era totalmente desprezável, a cada novo momento que
ela me torturava com as suas tentativas de sedução, me fazia sentir cada vez mais
vontade de a destruir. Quem era ela para usar assim o corpo da minha amada e ver-
se livre? Temo pelo que tenham feito com ela, estaria viva? Eram tantas as
preocupações que me assolavam e me enegreciam a alma, tantas as questões que
não arranjavam resposta ainda.

     Estas horas de tortura, ao ver o corpo da minha amada ser usado para tentar
convencer-me que é a verdadeira Emma, me deixa enjoado e chateado… Não são
apenas as imagens que determinam quem amamos, mas como um todo. Ela é a minha
amada não pelo que se vê mas por tudo aquilo que é, apenas na forma de me olhar já
se vê a diferença. Não há luz nesta suposta Emma, falta-lha vivacidade e
principalmente o espírito tão apaixonante que minha verdadeira amada tem. Era uma
burrice pensar que me poderiam enganar apenas com a sua imagem…




     Finalmente ela chegara, Alessandra tinha entrado e sua expressão era de
estrema preocupação. Mal se aproximou, pegou em meu braço e levou-me para
algures… Não tínhamos ido pela porta principal, mas sim por uma passagem secreta
que tinha numa estante de livros onde nunca tinha realmente reparado, tão
profundamente estava em meus pensamentos que nem tinha visto a sala que tinha à
minha volta.

     Eu era para lhe questionar o que se passava, mas ela calou minha boca com
seu dedo. Estávamos certamente a correr riscos demasiado elevados para que eu
pudesse questionar qualquer coisa neste momento, mas a hora das perguntas viria…
Mais cedo ou mais tarde.
Quando finalmente atingimos o ponto de chegada, eu não queria acreditar no
que meus olhos viam, meu coração começou a bater fortemente e rapidamente meus
passos se apressaram… Era Emma, eu sentia a sua alma novamente junto à minha.
Estava agora bem perto de mim, seus olhos suavemente fechados e a sua respiração
suave… Seus cabelos tinham perdido a cor, sua pele tinha perdido a cor…

     Uma enorme revolta se apoderou de mim, tinha uma vontade louca de
descobrir quem fizera isto e mata-la com as minhas próprias mãos. Acariciei a sua
face, estava gélida, ela permanecia a dormir… Seus cabelos loiros mortos me faziam
sentir culpa, tudo isto estava a acontecer por eu ser regente desta cidade de
Magnificat. Emma estava fraca, marcada e eu nada poderia fazer para que isso
mudasse…

     Ajoelhei-me junto à sua cama e peguei na sua mão, beijando-a com tudo aquilo
que sinto, fazendo parte da sua alma e sentindo o seu coração pulsar em suas veias.
Levantando-me, deitei junto a seu corpo… Abraçando-a para que seu cheiro
voltasse para junto de mim.

     Seus olhos começaram a abrir, olhando para mim e criando um sorriso fraco em
sua face. Olhos verdes como toda aquela natureza que estava sempre junto a
Magnificat. Ela tinha mudado… Suas mãos agora rodeavam as minhas, sorrindo e
observando a minha expressão preocupada, rapidamente tudo ficou mais leve
quando seus lábios tocaram nos meus. Abracei-a para mais perto de mim, apenas
queria deixa-la aqui, em meus braços, e protegê-la de tudo isto que estava a
acontecer. Senti o seu corpo encaixar perfeitamente no meu, sentindo o meu corpo
a aquecer o dela, dizendo-lhe apenas com o olhar o quanto senti a sua falta…

     Ela sabia, nós sabíamos sempre que tudo o que nós somos nunca muda com o
tempo, que apesar de tudo estamos aqui. Juntos, amados, um só. Nada mais
importa, tudo se encaminhará para que isso aconteça.

     Sentia a sua fraqueza, ela estava tão fraca que meu coração chorava por
dentro de tanta preocupação. Nem tinha reparado que Alessandra permanecia no
quarto, podia passar o mundo todo à nossa volta que eu não iria reparar agora que
tinha Emma em meus braços.
Sentir a sua pele junto da minha era uma experiencia quase totalmente nova,
há tantas horas que não a tinha do meu lado, tantos os momentos que senti a sua
falta… Mas agora estava aqui com ela e já nada mais me preocupava. Apenas o
nosso amor importava agora, o seu sorriso me iluminava a alma e suas mãos me
ditavam a felicidade escrita em seus lábios que embebia constantemente… Amava-a
incondicionalmente!

     As lágrimas brotavam dos meus olhos por revê-la, por vê-la assim tão fraca, por
senti-la de novo a meu lado… Tinha que tira-la daqui, não podia permitir que
continuasse assim, tinha que a proteger de tudo isto. Era uma aventura arriscada
mas por ela eu faria qualquer coisa, não importando minimamente como acabaria.
       Desde que Emma ficasse em segurança, não iria permitir que lhe fizessem
mais nenhum mal!

     Rapidamente me secou as lágrimas com seus lábios, embebendo e partilhando
a dor que sentia dentro de mim. Ela temia pelos meus actos, também não queria ficar
longe de mim… Tinha tudo de ser feito rapidamente e duma forma a que seja difícil
nos apanharem pelo caminho, ficando salvos de algum destino pior que este.

     Levantei-me e olhei para Alessandra, ela parecia já saber o que eu tinha em
mente pois logo me acenou com a cabeça, indo de imediato ver quem estava à porta.
Rapidamente peguei em Emma, ela ainda estava fraca e eu não iria permitir que ela
fosse pelo seu próprio pé. Mesmo assim, na condição que estava, continuava a
mesma teimosa de sempre, querendo mostrar-se forte e confiante. Ela devia saber
que isso comigo não valia a pena, eu iria leva-la assim de qualquer jeito, podia
reclamar à vontade que eu iria ganhar esta. A minha preocupação era demasiado
grande para que ela pudesse abusar da sua teimosia. Desta vez ela iria aceitar a
minha ajuda, não importava o que fizesse para o recusar.

     Depois de alguns momentos em que Emma tentava libertar-se do meu colo,
reparando que estava demasiado fraca para fazer qualquer avanço quanto a isso,
finalmente se abraçou a mim e deixou-se levar. Esta sua forma de ser rebelde por
vezes tirava-me do sério, mas eu sabia que a amava tanto por ela ser assim… A minha
revoltada preferida, fazendo de cada revolta dela um sorriso meu… Tudo que era
mau em ela, eu transformava, ficava tudo sempre mais melodioso e perfeito. Sorri ao
pensar no quanto a fazia perfeita pelo seu feitio chato e revoltante, ela olhou-me
com a curiosidade de sempre…

     Ainda bem que ela não conseguia ler meus pensamentos pois certamente não
iríamos sair deste quarto sem continuar o que me vinha em mente… Mas tudo teria o
seu tempo, por isso tinha de a acalmar. Apenas lhe sussurrei que mesmo assim
mudada continuava a minha Emma de sempre… Ela sorriu e aconchegou a sua face
em meu peito, dava-me uma vontade louca de fazer tudo menos o que devia neste
momento. Tinha de me focar. O importante agora era sairmos dali para um local
seguro… Novamente a preocupação me invadiu… Esperava mesmo que
conseguíssemos sair de lá ilesos e sem sermos vistos…

     Finalmente me sentia completo de novo, seus braços em meu redor me diziam
que não era apenas um sonho. Ela estava aqui e eu conseguira encontra-la, só me
preocupava a fraqueza que se via nela… Desejava conseguir resolver isso e voltar a
tê-la totalmente, tal e qual como era. Eu iria fazer de tudo para que a sua saúde
voltasse ao normal, não me importava quanto tempo iria demorar. Eu a iria ajudar,
nós éramos apenas um só, o resto iria providenciar. Nosso amor seria o inicio de
tudo, como sempre é, rompendo tudo e criando vida!
VII.    Incompetência

     Nada melhor do que o silêncio das palavras não ditas de um olhar para
voltarem a fazer-me sentir de volta a casa, mesmo que não fosse o local de sempre.
Foram tantas as dúvidas que pelas minhas duas vidas se atravessaram, tantos os
desafios e obstáculos que tinha enfrentado… Mas nunca sentira esta sensação de
estar em paz, sentir que finalmente nossa vida tem significado e que há razoes para
que eu sofra. E essa razão era tão intensa e grandiosa: amar Emma era a melhor
dádiva que me ofereceu a vida.

     Desde o primeiro momento que minha alma se tinha entregado, aos poucos
esse amor ia tomando controlo até que nada mais me fazia estar tão radiante como
ela. Amar é o melhor presente que pude sentir, amar é a chave para tudo aquilo que
sempre fui e nunca soubera. Toda a minha existência era dela agora, sentia-me feliz
ao vê-la perto de mim.

     Saíam lágrimas de mim sem que eu notasse, lá estava a minha amada me
observando apreensiva… Enxugou-me as lágrimas e só consegui sorrir, que poderia
mais eu dizer ao ver o seu rosto tão belo fazendo aquela expressão que tanto adoro,
preocupada comigo enquanto está fraca. É essa sua loucura de usar a sua força
interior, a sua revolta pela fraqueza, teimosia contra seus pontos fracos,
orgulhosamente ousada em sua própria saúde por quem a rodeia que me faziam ficar
louco só de pensar nas loucuras que conseguia fazer só com esses seus feitios. Uma
loucura que me entregava mais a ela e me fazia seu…

     Eu sabia que por ela estaríamos já em busca da falsa Emma e devolveríamos
novamente a paz a todos aqueles que a merecem, mas eu bem sabia que ainda não
era possível. Havia um longo caminho a percorrer, muitas batalhas e tantas dores
que ainda estariam por vir. Eu apenas desejava que Emma saísse bem disto, que ela
ficasse bem. Preferia a minha morte a ver sua alma desgastar-se com os tempos…

     Gostava de acabar com tudo isto o mais rapidamente, para que tudo pudesse
ficar bem e olhasse para a minha amada sorrindo, não temendo nada nem ninguém
além da sua forma sedutora de ser. E como eu adorava quando ela era assim, eu
sabia que ela se tinha entregado a mim de corpo e alma. Mesmo que nada tivesse
com ela, sua alma permaneceria cativa pela minha, por mais que o tempo passasse
bem sabia que amar desta forma era eterna. Não havia forma de acabar com este
amor, ele simplesmente se tornara tudo aquilo que valia a pena. Incondicionalmente
apaixonados, enamorados, agarrados… Não importa minimamente as palavras
usadas, era sempre tudo aquilo que não se pode dizer. Indescritível pois tudo o que é
a alma de nós se perde em tudo aquilo que nós somos.

     Porém, agora não era o tempo nem o momento para pensar ou definir o que
sempre será íntimo e profundo. Acabáramos de chegar ao nosso próximo refúgio,
não seria por muito tempo pois acabariam por nos encontrar nesta cidade, mas como
era aquele local onde nova terra se unira a Magnificat, não sendo ainda bem
conhecido por aqueles que sempre viveram nestas terras, estaríamos a salvo. Não
sabia quanto tempo teríamos, queria que fosse o suficiente para amar Emma mais
uma vez, juntando-me a ela e sentindo-a viva em mim novamente.

     Encontramos uma casa de madeira simples, aparentava estar bem cuidada
apesar da sua idade… Pela cor das madeiras parecia ter bastantes séculos, parecia-
me simplesmente maravilhosa e observei a expressão de Emma no meu colo, a sua
face dava-me paz… Alessandra percebera e se sentara perto, encostada a uma
árvore, ficando de vigia para caso pudessem-nos encontrar antes do tempo.

     Toda aquela pequena casa parecia já pronta para a nossa chegada, sorri
pensando na perspicácia de Alessandra… Agora podia ter um tempinho para que
sentisse novamente aqueles nossos momentos, que apenas as memórias podem
contar… Pousei suavemente seu corpo na cama, queria que ela repousasse, era o
mais importante a fazer no momento. O resto podia esperar, eu ficaria sentado a
observá-la, tentando entender a razão pela qual ela estava assim tão fraca.

     Teimosia, aquela que Emma tinha, nunca se dava por enfraquecida, não
importava realmente como sua saúde estava. Essa sua tão avassaladora forma de
ser dava cabo de qualquer juízo que pudesse eu ter…

     Levantando-se e caminhando lentamente até mim, com aquele seu olhar de
quem sabia o que queria e que iria acabar por ter, ia enfeitiçando cada parte de mim…
Maus pensamentos cada vez mais ficavam vazios no imenso desejo que agora
atravessava entre nós, tentava permanecer a pensar para que ela não levasse a sua
avante e finalmente voltasse para a cama, descansando um pouco pela sua fraqueza
ainda misteriosa para mim…

       Tudo se esfumou na minha mente quando se sentou em mim, aproximando sua
respiração à minha pele e seus lábios ao meu ouvido, sussurrando que ela estaria
bem melhor caso eu deixasse de estar tenso, agarrando violentamente meu cabelo e
puxando minha cabeça para trás, beijando suavemente o meu pescoço… Toda
aquela mulher se apoderou de mim, quebrando qualquer tentativa de calma e
desencadeando toda aquela sede que tinha dela, que faltava em mim…

       Seus olhos pulsantes e vitoriosos cantavam vitória enquanto a levava de volta
para a cama, desta vez para a cansar ainda mais… Sua pele, seus cabelos, seus
olhos… Tudo aquilo que mudara nela permanecia com o mesmo sentir, com o mesmo
cheiro, fazendo-me desejar loucamente voltar a tê-la em mim e sentir a nossa união
loucamente intravável. Que mais tortuosa loucura desenfreada que ambos
sentíamos um no outro, sem fim, sem cor, sem vida…

       Pois fazíamos a vida, as cores, o inicio de todo o fim da infinidade em nós…
Indescritíveis momentos de pura glória! Sentia a sua pele fria na minha que ardia,
ardia por querê-la a cada momento, cada vez mais e mais, sem fim à vista. Certamente
não haveria sensação melhor que esta, ela era a sensação que a minha vida sempre
desenhara como sonho, realidade que agora atravessava meu coração e mantinha
minha alma cativa. Tudo isto era dela, sem que se tornasse dona de mim, me dei
completamente pelos olhares calados daquela noite em que a resgatei das águas do
mar.




       Algumas horas tinham passado, sentia-me em plena sintonia com a natureza
que nos rodeava por fora destas pequenas paredes de madeira… Apetecia-me
cheirar um pouco de natureza antes de voltar-me novamente para a procura pela
cura que devolvesse a Emma suas forças, destroçava-me vê-la assim.
Por mais que as coisas passassem, por mais força que Emma tentava ter, eu
sabia, bem cá dentro, que essa não era a verdade. Neste momento seu próprio
corpo estava contra ela, mostrando a fraqueza que ela agora vivia. Não sei a razão
pela qual ela estava deste jeito, tenho pensado em tanta coisa… É cristalino como
água que ela nem Alessandra me diriam o que tinha acontecido. Gostava tanto de
puder apagar isso tudo das suas memórias, certamente tinha sido algo altamente
marcante ao ponto de colocar a minha cara amada neste estado.

     O sol estava luminoso como sempre e seus raios me aqueciam a face… A
melancolia abatia-se sobre mim, pudesse eu nunca ter conhecido Emma. Assim ela
nunca sofria assim, eu nunca iria sentir-me impotente por não puder fazer nada para
que tudo mude. E era isso que era, um impotente em toda esta guerra, incompetente
por não levar a paz ao meu povo de Magnificat.

     Com Alessandra ainda acordada, continuando a observar as redondezas,
optei por a mandar descansar. Iria assumir o seu posto e assim talvez todos estes
meus pensamentos aliados a minhas mágoas fossem desaparecendo, apesar de
saber que isso nunca aconteceria.

     A única coisa que me podia fazer sorrir era Emma, só de pensar nela minha
alma já sorria, vivendo alegremente na esperança de puder ama-la cada vez mais e
mais. Estar longe dela era completamente impossível pois toda a minha alma já era
dela, tudo em mim tinha sua marca. Nunca iria sair da minha memória, podia até
perder a memória, mas meu coração estava absolutamente rendido a aquela pessoa
que era a minha amada, eu era apenas o amor que sentia por ela. O resto estava
apenas a acontecer à minha volta. Amá-la era tudo para mim, me sentiria um grande
nada sem este amor eterno que sinto por ela. Se tivesse que escolher entre sofrer
ao ama-la e não ama-la eu preferia sem qualquer impasse sofrer todos os dias desta
minha vida imortal.

     Pura teimosia, este amor, que me impedia de ser algo além da minha alma cativa.
Isso nunca foi um problema para mim, nem nunca será. Ela despertara em mim a minha
essência, duma forma tão absoluta e intima que nunca mais esquecerei.
Agora além de melancólico, estava absolutamente absorvido nestes
pensamentos que meu coração invadia na cabeça. Depressa me dirigi de novo à
minha amada, deixando o meu posto de vigia. Minha alma precisava imensamente de
estar de novo junto a ela, uma dependência total, e eu bem sabia disso… Meu
coração batia mais forte apenas por pensar nela, parecia uma loucura total. Belo
louco que eu sai! Um louco inteiramente feliz…

     Emma permanecia deitada, ainda estava fraca e eu não sabia como melhorá-la.
Aproximei-me dela, seu braço me pedia que fosse rápido, ela também sentia a minha
falta… Logo me sentei na cama com a sua face no meu peito, passava suavemente a
minha mão na sua face, para que ela me sentisse aqui, eu iria ficar eternamente a seu
lado, tudo em mim era dela. Alessandra estava a dormir, parecia um anjo…

     O exército entrou de rompante pela porta, rapidamente me levantei, levando
em meus braços Emma, tentando segura-la com toda a minha força para que não nos
pudessem separar. Ela se segurava em meus braços, desejando que tudo passasse
e que apenas ficássemos juntos. Eu bem sabia que isso não ia acontecer, em mim
brotavam lágrimas por saber que estávamos condenados… Eles não podem fazer
nada contra nós porém, pior do que matar-nos juntos, era maternos vivos separados.

     Eles se aproximavam com cuidado, Alessandra tinha acabado de acordar e se
colocara à nossa frente, indo contra eles, tentando defender-nos como nunca
ninguém tinha feito. Conseguira levá-los para fora, mas rapidamente tinham entrado
quatro soldados, aproximando rapidamente para nos tentar separar. Abracei Emma
com toda a força possível, tentando manter-nos unidos, mas nada havia a fazer, já
sabíamos como tudo poderia acabar. Meus começaram a fraquejar, minha alma
começou a chorar por dentro quando nos conseguiram separar… Eu tentava a todo
o custo ir para junto dela, seu corpo estava fraco demais para que conseguisse fugir
deles, rapidamente a apanhariam…Consegui libertar-me, estava agora a ir em
socorro da minha vida, mas rapidamente me apanharam antes que chegasse a
Emma…
Alessandra tinha acabado por ser morta enquanto me defendia, me tinham
posto de, com quatro pessoas a segurarem-me, uma delas segurava minha cabeça
para que me amarrassem. Certamente faziam conta de me matarem, por isso estavam
a tentar prender-me o mais possível para que não conseguisse fugir. Mas era
curioso, como é que eles iriam conseguir matar-me?

     Mas nada conseguiu sem ser morrer… Salvando-me, tinha morto todos aqueles
que me preparavam para algo. Foi ao libertar-me que perdeu tudo aquilo que tinha
pois entrara um soldado que rapidamente conseguiu mata-la, morreram ali os dois,
frente a frente. Ela fora um anjo que me apoiou quando cativo, um anjo que me levou
até a minha amada, um anjo que nos libertou apesar de não ter sido por muito tempo.
Merecia tudo menos morrer deste jeito, devia de ter morrido eu, eu é que devia de
ter sido levado. Emma e Alessandra eram umas vítimas. E tudo por causa do mundo
que eu criei. Infeliz de mim, de novo só, sem mim mesmo, de novo em minha saudade,
despojado de toda a minha felicidade, de toda a minha alma.

     Iria procurar respostas, tudo o que acontecera só me motivou para fazer mais.
Agora tinha que reunir alguém para que invadisse o antigo covil de Francesca para
que as questões fossem respondidas. E eu fazia questão de os interrogar a todos,
um a um, lentamente e da pior forma possível.

     Eu nada conseguia fazer além de tudo voltar ao normal, não iria descansar sem
que a minha persistência fosse usada para a incompetência que teimava em aparecer
em mim…
VIII.   A Vingança

     Algo gritava no interior de mim, algo que começava a retorcer-se por dentro e a
querer crescer e consumir a minha alma. Tinha acabado de encontrar o sítio ideal
para que o corpo de Alessandra pudesse ter o seu descanso, e amo intensamente
cada sentimento que se abandona em mim, rompendo tudo aquilo que fui e sou,
deixando que tudo em mim seja puramente o que sinto…

     Dei por mim num mar de lágrimas revoltantes, sentindo aquele vazio por dentro
se abater em mim e ficar absolutamente sedento de vontade de justiça. Iria justiçar
todos estes acontecimentos pelas minhas próprias mãos. Todo este sofrimento
sentido em minha volta apenas me fazia querer cada vez mais que tudo estivesse no
devido lugar. Meus punhos serraram, eram joelhos que se desprendiam até ao solo
verde, perdendo forças, sentindo aquela enorme impotência que ultimamente muito
se aproximava de minha alma.

     Rapidamente ergui de novo minha face prostrada por terra, não eram alturas
de desistir, nada nem ninguém me poderia fazer sentir forças para continuar. Porém
algo em mim se reacendia, deixando meu corpo de novo a pé, dirigindo-se para reunir
as minhas pessoas de Magnificat. Porque tudo ainda estava nas minhas mãos, ainda
que por pouco tempo…

     Não era altura para lamúrias, não havia tempo para me sentir incompetente…
Era altura para agir, reagir e tratar de tudo para que tudo finalmente tenha a
resposta devida. E eu iria tratar de tudo para que as respostas fossem dadas.




     Agora que tinha reunido todos aqueles que me iriam ajudar a capturar os meus
inimigos, rasgando deles toda a verdade de tudo isto que estava a acontecer, podia
seguir finalmente à partida desses que nem a sua vida mortal mereciam, quanto mais a
vida imortal! Iniciamos a nossa demanda pela busca da justiça, tendo a máximo
cuidado pois certamente eles já estariam preparados para que eu reunisse e os
atacasse. Haveria sangue derramado mas certamente que tudo acabaria por ser
como esperava, iríamos conseguir capturar todos aqueles que estão contra o mundo
e cada um pagaria o preço de o fazerem.

     Como já previa, a nossa chegada já era esperada. As tropas da falsa Emma
esperavam atentamente a nossa chegada, travando de imediato esta inevitável
batalha. Rapidamente manejei minha espada, mostrando que se iniciara a hora do
derradeiro combate, nada iria ser como da última vez. Necessitava deles vivos, mas
nem todos… Prisioneiros para que se procedesse um interrogatório a cada um, era
esse o meu principal pensamento.

     Enquanto meus homens se encarregavam de aprisionar aqueles que se
rendiam, eu seguia em frente, procurando a principal causa de todo este alarido. A
minha missão era chegar a Pedro e à falsa Emma antes que conseguissem escapar.
Na realidade eram poucos, aqueles, que se opunham à minha chegada, a maioria se
rendia, os que não se rendiam sentiam a minha espada friccionando em cada parte de
si, perdendo totalmente a capacidade de me vencerem.

     Nada nem ninguém me impediria de desvendar onde estava a minha amada,
ninguém conseguiria parar-me, eu tinha a loucura suficiente para que tudo fosse
tratado. Aquele que eu fora já estava no passado, enquanto não voltasse a sentir o
meu amor na totalidade, enquanto esta agonia e raiva permanecer em mim, não
pararei nem recuarei qualquer passo. Determinação e loucura, eram as palavras mais
certas para mim.

     Estes pensamentos ainda me davam mais força para prosseguir, aliado à minha
imortalidade, sentia-me totalmente imparável. Encontraria Emma nem que fosse no
fim do mundo, pois percorreria tudo e vasculharia qualquer local, não me importando
os meios pelos quais teria de seguir…




     Agora que entrara na zona que em outrora tinha sido secreta e escondida
para mim, toda aquela área em que fiquei prisioneiro, abandonado pela ilusão
daquela a quem teve a infeliz ideia de tomar a imagem de minha amada, uma enorme
raiva se apoderava de mim… Sentia uma vontade enorme de a encontrar logo e
mostrar-lhe o que faria com a sua alma.

      Só de pensar da forma como a minha alma estava quando a vira fraca, sem
forças, desgastada pelas acções que fizeram com ela… Não sabendo ainda a razão
por ela estar naquele estado, tendo ela sido de novo tirada de mim a toda a força,
tentando matarem-me para que ela não tivesse mais amparo, que nunca mais a
procurassem para que ela fosse finalmente abandonada por tudo no mundo… Era
absolutamente revoltante.

      Eu jamais a irei abandonar. Tudo em mim é dela, tudo o que me ilumina é a sua
luz, não irão ter a oportunidade de apagarem a luz que me ilumina, essa sua luz já é
minha para toda a eternidade por mais que tentem mudar. Não por ela ser minha, mas
por sermos apenas um só, sem separações nem tomadas de posse… Simplesmente
um só ser unido no derradeiro e triunfante amor que inflama vidas e cria a maravilhosa
felicidade.

      Não tinham o direito de nos tentarem separar, de tentarem separar o que já
não é possível ser repartido. E agora sentiriam inteiramente a razão pela qual nunca
o deveriam ter feito, sentiriam na pele cada pedaço de sofrimento que infligiram,
delicada delicia para a minha mente… Seriam lentos os meus interrogatórios, eu os
faria a todos para que nada pudesse escapar. Não me iriam omitir de novo o
paradeiro da minha musa, permitir que isso ocorra de novo estava totalmente fora de
questão!

      Andava rapidamente por cada parte do seu esconderijo, vasculhava cada
compartimento com bastante rigidez, para que tivesse certeza de não haver qualquer
novo local oculto onde estivessem escondidos. Os nervos iam crescendo em mim
cada vez que acabava de revistar, desejava encontrá-los logo para que a justiça
fosse feita. Não poderiam sair impunes disto, não podiam!

      Encontrei aquele quarto em que Emma estivera repousando enquanto a sua
fraqueza continuava a perdurar, até que Alessandra me tinha levado até lá, mas
ninguém lá estava. Já era de esperar que não a mantivessem cativa no local onde eu
certamente iria procurar em primeiro lugar, caso tivesse sobrevivido à tentativa de
assassinato…

     Vasculhei tudo onde poderia ser encontrado um esconderijo, mas a vontade de
sentir o seu cheiro novamente me deixava desarmado, queria tê-la novamente a meu
lado. Pudesse eu agora protegê-la… Mas nada conseguira sem ser perdê-la de novo.
Não podia estancar as lágrimas que na minha face rolavam e refrescavam a minha
mente quente de raiva e de vingança…

     Aproximei-me dos lençóis que tiveram a oportunidade de estarem com ela,
sentirem o seu corpo descansado, almofada em que a sua mente certamente
permanecia lutando pela sua fraqueza… Agarrei a almofada, fechando os olhos para
que sentisse melhor a sua presença. Por uns momentos cheguei a sentir-me calmo,
mas rapidamente todas as memórias voltaram à minha mente, eu não podia parar
agora. Ela precisava de mim.

     Por baixo da almofada estava um livro estranho, com um título de uma língua já
morta, que faria este livro perto da minha amada? Guardá-lo-ei para que depois
possa obter mais respostas… Mas agora era tempo de continuar a seguir o meu
caminho…




     Surpreendentemente, ao entrar numa das salas, encontrei uma mulher à minha
espera, a seu lado tinha um gato negro que me parecia mesmo aquele que tinha
sobrevivido quando eu renascera do meu velho corpo para a eternidade. Essa
mulher tinha uns cabelos lisos, outros revoltos, combinando inteiramente com o seu
olhar confiante e desafiador. Sua posição sentada, totalmente serena e esperando
pela minha chegada, tendo até um pequeno sorriso traçado em seus lábios,
permanecendo totalmente muda, não movendo nem sequer um passo. Dentro de mim
a raiva ia aumentando, meu corpo queria esmagá-la até que dissesse onde eles
estavam, para que eu pudesse finalmente fazer justiça.

      Rapidamente ela se levantou, dirigindo-se em minha direcção, sendo seguida
pelo gato. Mas antes que ela se tivesse aproximado o suficiente de mim, senti uma
mão em meu ombro, fazendo-me virar rapidamente para trás tentando me defender…
Mas era Katie, quase que a tinha ferido com a minha espada mas a sua mente lhe
tinha alertado pois colocara a outra mão sobre a minha, me impedindo de a atacar.

     “Eu vim pois sei que nada poderás fazer contra esta mulher, não permitiria que
saísses morto daqui e que todas as possibilidades de reaver Emma salva se
esfumassem com a tua morte.” Uma enorme gargalhada surgiu por detrás de mim, de
rompante, fazendo-me virar novamente para aquela que anteriormente se dirigia para
mim. Sentia a presença de Katie bem junto a mim, como defesa, caso aquela mulher
algo tentasse…

     “Minha cara Katie, como se pudesse fazer algo para me impedir!” Riu-se de
novo, prosseguindo… “Como certamente já deves saber, nada encontrarão aqui. Foi
tempo perdido.”

     “Eu irei até qualquer lugar e varrerei tudo até que encontre o que procuro, e
não vai ser uma mulherzinha qualquer que me vai impedir.” Respondi rispidamente, a
fúria apoderava-se de mim, se não fosse a mão de Katie em meu braço, eu
certamente perderia qualquer calma.

     “E que determinação! Viva! Insultos bem ditos, nada melhor… Pena nada do
que digas aconteça, só mesmo em sonhos… Tenho pena de ti, tanta esperança,
tanta fúria, tanta garra e continuas no lado errado. Devias de aproveitar todos
esses teus atributos em juntar-te a nós.” Não faltava serenidade e sarcasmo em suas
palavras.

     Idiota, era o que eu era, devia de estar já a tratar-lhe da saúde do que pôr-me a
ter uma conversa de comadres. Tinha que despachar isto tudo o quanto antes,
antes que acontecesse algo através duma loucura minha… Katie sussurrou para que
eu tivesse calma, que não era a hora nem o momento de atacar esta mulher.

     “Vês como até aí a tua amiga é inteligente? Bem ela sabe que deverias pensar
em juntar-te a mim em vez de estares ai com pensamentos menos próprios para um
cavalheiro.”
“Não coloques palavras em cima das minhas, ou serás assim tão desprezível?
Sei quem és e isso não te pode dar qualquer motivo de orgulho, até acho
desastroso.” Contrapôs tão rapidamente Katie que quase nem conseguira ouvir
todas as palavras. Que saberia ela? Pelo menos parecia ter resultado pois o sorriso
da tal mulher tinha tomado uma expressão séria.

     “A que vieste? Certamente não foi para traçar novas amizades e muito menos
para reavivar as velhas…” Foi a melhor forma de me acalmar, teria de despachar isto
para que finalmente pudesse encontrar os outros dois.

     “Ah, finalmente algo que se torna útil e me leva daqui para fora, era complicado
questionar-me rapidamente? Eu vim providenciar o silêncio destes dois…” Dito isto,
estalou os dedos e rapidamente apareceram uns homens com falsa Emma e Pedro.
“Eles nunca te dirão onde Emma está, pois já nem sabem… A memória às vezes
consegue traçar rasteiras, coitados. E Emma está onde deve estar, nada podes
fazer para que ela volte. Por isso mais vale desistires ou terei que voltar de novo, o
que seria chato.” Fez uma vénia e saiu mesmo antes de eu poder dizer qualquer
coisa…

     Que mulher estranha, que situação… Mas se pensava que iria parar estava
muito enganada. Todos seriam interrogados, alguém iria saber de alguma coisa!
Tinham de saber. Mas Katie soubera de tudo isto, era a hora de saber o que ela me
podia dizer.

     “Quanto ao que se acabou de passar… Que foi isto?”

     “Não é hora para questões, temos que levar todos os prisioneiros para
Magnificat, principalmente esses dois. Depois falaremos de Margareth.”

     E mais uma vez, abusando da já pouca paciência que tenho, ajudei todos
aqueles que me apoiavam a transportar todos os prisioneiros para Magnificat. Mas
iria obter respostas, voltaria a ter Emma a meu lado e em paz. Era uma promessa,
uma promessa eterna. Esperava ansiosamente a hora em que tudo ficaria em minhas
mãos, torturando todos aqueles que merecem.

     Finalmente podia dar-lhes o que mais merecem…
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  • 1. Cinzas Pedaços nº 2 Sofia Duarte
  • 2. Quando tudo o que parece desmoronar se torna apenas numa angustiante procura pelo que está perdido, despedaçando cada parte que tenta encontrar de novo a coisa mais pura da vida. Era o seu amor que estava perdido e Salvatore não iria permitir que tudo continuasse assim, iria para qualquer lado para encontrá-la e não descansaria enquanto não voltasse a tê-la em seus braços. Tinha perdido muito da vida ao não saber o que queria e agora que finalmente tinha encontrado a maior transcendência, a luz que lhe daria paz por toda a eternidade, não iria voltar a viver com aquele vazio imenso. Não iria permitir que Emma simplesmente deteriorasse assim as suas vidas, eles eram apenas um só.
  • 3. I. Primeira Aurora Todas aquelas dores que me faziam gemer por dentro as calava, não querendo que Emma sofresse mais pelo que eu tinha acabado de fazer… A minha vida não teria mais sentido sem ela ao meu lado, não valia a pena permanecer vivo enquanto a minha amada sucumbia naquela aflição. A única coisa que me passou pela cabeça foi dar-lhe a vida que sempre lhe quis dar antes que fosse tarde demais, a minha vida seria a dela mesmo que eu já não estivesse mais vivo para a sentir e a amar, eu a amaria de qualquer forma, meu amor estava com ela para sempre. As lágrimas que caiam de seus olhos me magoavam muito mais do que todas aquelas feridas que agora se abriam em mim, via o sofrimento em seus olhos e apenas desejava puder solucionar esta sina que teimava em manter-se entre nós. Minhas dores não eram nada, apenas aqueles olhos em que todo o meu sofrimento se amparava importava, nada poderia manter-nos afastados, eu a amava e isso apenas era a maior verdade deste mundo. Eu a amava tanto que tinha agora de deixar que ela vivesse, minha vida finalmente tinha chegado ao fim com o que mais queria, ela me amava e era a minha única vida. Apenas ela, mais nada além dela… Lembrei-me daquela história inventada por um fulano, pensava eu que era uma tolice pensar num amor tão insano, nunca tinha sabido nem o que era realmente o amor. Mas agora tinha a minha Julieta, no meu pequeno grande mundo que agora teria um fim, longe da imortalidade… Ai de mim se a minha Julieta abandona o seu novo mundo apenas para me acompanhar pelo destino! A minha Julieta iria manter- se viva! Eu a conhecia como ninguém apesar dos poucos momentos, tanto desejava eu que a imortalidade durasse com ela do meu lado que agora nada mais estava ao meu alcance… Tinha quem mais amava do meu lado para morrer bem, não queria que ela sentisse a dor desta morte e estava contente por ter conseguido livrar o mais puro de mim de tudo isto que atravessava na minha carne. Não era apenas a pele que se ia abrindo pelo corpo, sentia as minhas entranhas esmagarem-se e os meus ossos mirrarem-se no meu corpo que lentamente se despedaçava… Oh, tão doce a hora em
  • 4. que seus lábios me arrancaram da tormenta, não sei quando comecei a sentir aquele nosso unir eterno, o tempo já não fazia parte de mim… Sentia as suas lágrimas caindo sobre a minha face e seus lábios pedindo aos meus que continuasse junto a ela, mas chegara a minha hora, a minha hora em que tudo o que queria era continuar a senti-la perto de mim… Meus olhos se fecharam juntamente com os dela, talvez para que a última coisa que eu sentisse fossem aqueles seus lábios me entregando ao que mais desconhecia, aquele amor que por mais que tentem apagar continuará para todo o sempre… Tentei limpar-lhe as lágrimas mas meus braços já não me atendiam, meu corpo começava a perder-se… Porém sentia tudo o que se passavam naqueles poucos segundos que estavam prestes a acabar, eu a amava… Era o único pensamento que queria ter quando a hora chegasse, enquanto sentisse seus lábios nos meus continuaria lutando contra as mágoas que meu corpo vivia intensamente. Minha mão começou a pesar, como se algo estivesse a ser pressionado, certamente seria a mão da minha amada Emma, fiz um esforço para que lhe pudesse lhe retribuir… Nada, a minha mão permanecia gelada. Minhas lágrimas finalmente saíram, aquelas que brotavam o sofrimento, a angústia e a tristeza de não lhe poder ver a cada novo raiar do dia… Apenas queria beija-la, abraça-la e dizer-lhe que tudo ficaria bem, que nós ficaríamos bem. Suas lágrimas deixaram de me embeber e eu a olhei. Seus olhos estavam surpresos e sem lágrimas, não tinha eu ainda reparado que eu a sustinha nos braços e que todas aquelas tormentas que em outrora estiveram no meu corpo tinham evaporado simplesmente do nada… Nunca iria parar de me perder naqueles seus olhos cinzentos que ganhavam agora vida, reparando realmente no que acabara de acontecer. Abraçamo-nos impetuosamente, não querendo acreditar neste sonho que tinha acabado de acontecer, talvez eu estivesse no paraíso e ela me tivesse seguido… Tinha sido um imenso sarcasmo, acabar por ter o mesmo final que aquele casal cuja vida nada tinha a ver com a minha. Apenas me apetecia rir, sorrir, ser feliz com o
  • 5. que acabava de acontecer! A vida conseguia ser tão bela, tão radiosa! E o meu raio de luz estava mesmo agora aqui, em meus braços… Sorria para esta nova vida que começara, não querendo jamais pensar em qualquer fim. Rapidamente a minha alma foi atormentada, Emma sempre adorava quando eu sorria, pois assim poderia mostrar-me vezes e vezes sem conta a razão pela qual eu devo sorrir… Simplesmente tendo ela do meu lado, que sorria eternamente! A minha vida tinha de novo valor e desta vez teria o amor sempre do meu lado, a vida finalmente sorria para mim… Quantas foram as vezes que eu me perguntava o que era a vida e não obtinha resposta, ficava um imenso vazio que mesmo ao praticar o bem nunca se completava, e agora que finalmente ele se preencheu posso dizer que essa resposta não é para ser respondida. Essa resposta está mesmo à minha frente, nem mil palavras diriam metade de tudo o que isto é. E eu sou um homem de palavras, um homem que se despe de si e perde tudo o que é quando tem a sua amada a seu lado, até as palavras me faltam pois tudo o que é meu passou a ser dela. Meu sorriso, minha voz, o meu olhar, todo o meu corpo, tudo o que pensava ser meu afinal estava destinado a se unir ao mais belo dos sentimentos, à mais bela donzela dos tempos modernos. Agora sim tinha forças para que toda a eternidade fosse um misto de alegria e vivacidade. Tudo o que procurava estava neste momento a sorrir para mim, certamente se questionando a razão de o meu rosto estar tão pensativo, nada de palavras… Sorri de retorno para aquela minha deusa, estávamos no meu Olimpo, Magnificat seria a nossa casa para toda a nossa demanda pela vida. Sua expressão era de total curiosidade, parece que o meu sorriso a tinha feito desejar ainda mais pertencer aos meus pensamentos e assim será. Abracei-a com mais força e devolvi meus lábios aos dela, sentindo novamente cada poro de mim preenchido e desejando unir-se ainda mais a este mundo que agora começava. Era agora a nossa nova Era… Longe de problemas, perto apenas de nós mesmos, nada de receios, de mágoas, apenas o nosso amor… “Vem querida, deixa-me mostrar-te uma coisa!” Não esperei que ela me respondesse, rapidamente nos levantei e comecei a guia-la por dentre as árvores, ela
  • 6. já conhecia os confins de Magnificat mas ainda não os tinha visto nos seus melhores momentos: o pôr-do-sol e a aurora de um novo dia. Já eram tantas as memórias que tinha de nós que já não me lembro do meu mundo sem ela, custava-me a acreditar que tinha vivido tanto tempo sem ela, não sabia mesmo como conseguira sobreviver. Talvez por isso decidira dar a minha vida por ela, para que a minha vida não fosse novamente aquele vazio que sentira anteriormente. Este nosso dia, em que nosso amor ultrapassou a morte, será a partir de hoje e até ao infinito dos dias o meu aniversário. Tinha nascido e não queria voltar a morrer para isto que somos, e nunca iria acontecer, faria de tudo por isso. Era simplesmente magnifico ver como Emma observava o horizonte que se fechava para a nova noite, nunca me ia cansar de a ter do meu lado, nunca teria de cansar-me pois ela era simplesmente tudo o que me iluminava agora. Sem ela estaria simplesmente perdido, mas ela estava aqui, do meu lado. Na sua cara se abria um sorriso, repleto de charme e felicidade. Minha alma se alegrava por puder fazê-la feliz, por puder tê-la do meu lado sem que nada nos pudesse separar… Agora estávamos livres de Francesca, livres de tudo o que nos traria risco, livres da morte que nos separaria e me deixaria novamente naquele vazio. Eu sei que não deveria estar a pensar neste momento sobre o passado, mas tê-la do meu lado apenas me faz temer mais a sua perda. Minha vida nunca mais seria a mesma caso algo lhe acontecesse e era por isso que decidira deixar de governar Magnificat, não necessitavam mais de mim… Agora apenas quero viver intensamente este amor que me preenche e me diz que posso novamente sorrir pois já sou novamente aquele Salvatore completo, não pelos pedaços retirados de mim, isso agora não importa… Porém foram esses pedaços que trouxeram Emma a mim e eu estou imensamente grato… “Que se passa contigo? Andas tão distante… Passa-se algo meu amor?” Ah, como a sua voz me arrebatava de meus pensamentos… Via agora na sua expressão preocupada que já estava a pensar em demasia, viver apenas os momentos, era isso que Emma mais merecia. Tudo o que ela quisesse, nada lhe conseguia negar.
  • 7. Coloquei a minha cabeça no seu colo e fiquei assim observando o pouco de luz que ainda restava, a noite havia chegado e eu estava preparado para ela. Emma permanecia a fitar-me o olhar, talvez a tentar captar o que eu estava a pensar, eu fechei os olhos para aproveitar o momento. Ficamos assim durante segundos, minutos, horas… Não havia mais a noção do tempo nem do espaço, apenas sentia seus lábios nos meus, invocando o que era seu por direito, para todo o tempo… Sentia algo quente a aquecer-me a cara, mas não eram seus lábios, abri os olhos e observei que tínhamos voltado para casa… Devia ter adormecido pois não me lembrava de ter sido levado ou ter vindo para cá. Procurei pelo quarto mas não a encontrei, estava calmo mas alarmado, onde poderia ela ter ido? Meu rosto rapidamente suavizou ao observar a janela do quarto aberta, estaria ela novamente inclinada no parapeito da varanda esperando pelo meu beijo? Devo ter dormido pouco pois ainda era noite, certamente acordara por não a sentir a meu lado, ela já me fazia tanta falta! Meu corpo estremeceu, estava exactamente como da primeira vez. Reclinada, apenas com um lençol, esperando que eu a rebate para mim e lhe mostre o quanto a amo. Não, palavras de nada servem, nem acções de nada dirão pelo que nós sentimos… Quero rever o seu olhar, sentir o seu corpo pelo meu e voltar a perder-me nela, deixando que as horas não sejam nada mais do que apenas tempo, deixando- nos unidos não pelo tempo mas pelas emoções, sim! As emoções não passam pelo tempo, nada seria luminoso sem elas. O tempo apenas era um entrave, passava tão lentamente enquanto a alcançava, conseguia contar cada segundo em que não estava com ela, observar cada traço daquela que me espera, abraça-la de novo como se não a visse há tanto tempo… Ser parte dela e sermos um só. Seus braços seguravam os meus para que não saísse dali, não sabia ao certo o que se passava mas desta vez a deixaria sentir o momento. Porém, os meus pensamentos não são tão fortes como o doce cheiro da sua pele, meus lábios não
  • 8. paravam de querer percorrer o seu pescoço, mordiscar seus ombros, beijar os seus lábios e fazê-la render-se a mim, deixando-me leva-la para dentro e unir-nos o mais possível… “Por favor, pára… Espera um momento…” A sua voz foi mais um gemido que nem tive a certeza se ela tinha mesmo chegado a falar, mas os seus olhos diziam-me que algo se passava… Em respiração acelerada, me indicou o horizonte, e então sabia a razão pela qual ela queria esperar: no firmamento se observava a Aurora, certamente o dia estaria para chegar e iluminar de novo a escuridão. Observei o que nunca realmente observara, era realmente maravilhoso cada hora do dia, não importando mesmo o tempo, desde que ela permanecesse aqui. O dia veio e ela rapidamente deixou que o lençol caísse, pedindo-me que a levasse para dentro pois já era hora. Fosse eu pessoa de negar os desejos da minha dama! A sua pele aquecia a cada novo tocar meu, sentia o seu cheiro juntamente com o meu, querendo ficar sempre com ele para que nunca me esquecesse o quão doce pode ser a vida quando não estamos sós, quando nos unimos a quem mais amamos e somos amados… Porém, seja sortudo, eu! Pois tenho toda a eternidade para me sentir assim. Passo suavemente os meus lábios nos seus, como é bom estar em casa!
  • 9. II. Despedida As portas do meu quarto estavam abertas e desde manhã que tinha deixado a minha amada a dormir sobre o seu travesseiro, ocupando o lugar do seu peito que sempre a fizera dormir melhor, antes do pacto que fizera com Francesca. Eu sabia que ela já não precisava de dormir tanto como habitual, mas era um prazer saber que no final voltaria para os seus braços, voltando a uma vida que nunca tivera mas sempre sonhara que me poderia acontecer um dia… Felizes estes novos dias, não importavam os murmúrios que estavam em Magnificat, o que importava é que tudo estava encaminhado para a felicidade não só nossa mas de toda esta a cidade. E o mundo podia novamente descansar, nada de grave, no momento, os iria perturbar. Meu sorriso aumentava quando as portas estavam mais próximas, nenhuma velocidade seria suficiente, cada segundo era uma tortura longe da minha vida. Fossem todos os segundos sempre assim… Mas algo estava errado, as janelas estavam completamente fechadas, Emma nunca as colocara assim, ela amava a luz e eu amava a luz incidindo sobre ela. Procurei em volta mas não a encontrei, corri para a casa de banho mas também não lá estava… Onde teria ido? Voltei para o quarto para ver se ela tinha deixado algum recado. Sorri quando vi um papel em cima da cama, rapidamente o fui abrir… “Meu amado, Fora quando te vi a olhar-me daquela forma tão doce e encantadora, deixando a tua vida pela minha que eu soube que tudo o que eu tinha feito era totalmente errado. Jamais quereria novamente ver a tua alma sendo arrancada do teu corpo, despedaçando cada bocadinho de mim. Mais uma vez estava sem puder fazer qualquer coisa para que as coisas fossem diferentes. Quantos seriam os momentos em que iria colocar a tua vida em risco? Eu não consigo nem pensar em voltar a fazê- lo e é por isso que meus pensamentos estão a ser agora escritos num papel como despedida. Salvatore, é por tanto te amar que decidi deixar-te… Nossas vidas não devem ficar juntas sem que eu te destrua, eu sei que não entendes mas acredito que nunca
  • 10. me deixarás de amar. Eu amar-te-ei eternamente, porém nossas vidas estão agora destinadas a ficarem separadas, não me procures. Emma” Meus joelhos deixaram de ter força e rapidamente deixaram-me cair na poltrona junto ao recado que acabara de ler. Apenas aquelas palavras fluíam na minha cabeça, nada além das suas cruas e doces palavras, aquelas que me levariam para o pior do mundo, procurando pela fonte de todas as forças que agora fugiam, deixando-me preso, despido de tudo, sozinho… Tudo o que tinha passado, tudo o que acontecera… Nada tinha importância além do que os meus olhos continuavam incessantemente a ler, a pequena luta pela qual toda a minha vida tinha sido realizada agora tinha um fim e logo começara outra, uma demanda que caso não a faça perder-me-ei eternamente. Lembro-me quando via Emma a desfalecer, brotando e abrindo cada parte do seu corpo para que a minha felicidade tivesse um fim. Minha vida de nada era sem aquela felicidade desde o momento que a vira no mar, tão longe mas tão dentro de mim, fazendo-me querer tocar-lhe para ter certeza de que era verdade. Nada mais me faria erguer-me novamente desta poltrona e eu tinha consciência disso, sem ela não poderia fazer mais nada sem que o vazio crescesse. Agora que ela me deixara, que me abandonara por me amar que eu não tinha mais razões para continuar em frente, minhas forças estavam nela, estava completamente desamparado. Eu ainda sustentava aquela dolorosa folha nas minhas mãos, tentava esmagá- la para que tudo não passasse de um nada, mas as palavras estavam ditas, tudo estava dito. Ela sabe que sempre a amarei e continua a afastar-se de mim, procurei por pedaços meus todos aqueles anos e num simples papel tudo em mim se foi… Fora quando lhe entreguei a vida eterna, me dando completamente ao seu destino para que o amor da minha eternidade vivesse, que tudo o que tinha vivenciado se tornara passado, deixando-me apenas com a certeza que a minha vida não era já mais minha, nós somos um só. Estas são as palavras que mais desejei dizer na vida e agora que as poderia dizer tudo simplesmente ficou no meu intimo,
  • 11. deixando-me perdido para sempre nestes pensamentos que tanto me torturam, as suas palavras se cravaram em mim, deixando-me completamente inútil. Um fardo que suportarei para toda a eternidade e que não me permitirá voltar a sorrir novamente, Emma era tudo em mim desde que o nosso amor nos uniu e consumiu todas aquelas almas ardidas naquele meu primeiro dia desta nova vida, o primeiro dia desta vida que agora não tem mais sentido. Não consigo acreditar que tudo isto que vivi não se passava de uma utopia que agora chegou ao fim, prefiro morrer do que acreditar em tal barbaridade. Minha alma não permanece junto a mim, Emma a mantém cativa dentro do seu coração e aí permanecerá. Até aos confins do mundo, não importam quantas eras viverei à procura da única coisa que realmente me alegra na vida, sem ela a minha vida simplesmente não existe. A única coisa que me faz continuar vivo por dentro é esta vontade de voltar a encontrar Emma e esperar que ela reconsidere esta decisão que nos separou, deixando-me completamente sem rumo… Ela é tudo o que me faz a vida ser realmente viva, é a paixão que sempre procurei e nunca encontrei. A única fórmula para que possa ser feliz, preenchido. Eram tantas as coisas que passavam pelos meus pensamentos que meus olhos brotavam lágrimas, não sei se de cansaço por tanto pensar se pela minha alma estar sangrando por dentro, como se ma tivessem perfurado sem cura possível. Mas eu sabia que a única cura era a própria doença. Tão rapidamente me veio à cabeça a ideia de que Katie poderia saber o paradeiro de Emma, certamente me poderia ajudar a encontrá-la para que ela voltasse para o seu devido lugar. Tinha de lhe dizer a quão importante ela era na minha vida e que, sem ela, nada tinha mais sentido. Na realidade, já nem me lembro como é viver sem Emma… Eu não quero voltar a viver sem a alegria da minha vida, se assim for, preferia ter morrido. Vieram-me à memória recordações, daquelas que com certeza estaria a fazer caso ela estivesse comigo. Suspiro constantemente e nem forças tenho para me
  • 12. levantar, tudo o que eu tinha estava agora distante, apenas me sobravam as memórias que constantemente me faziam brotar lágrimas, mas não de maus olhos, era minha alma que chorava imensamente por voltar a ser o nada… Nada em mim tem vais força sabendo que Emma está longe, nada vale mais a pena sorrir. Nada em mim brota sem tê-la do meu lado, tudo o que é puro em mim foi ela que mo trouxe. Agora que eu sei o que é ser feliz, que sei o que me faz feliz, não irei permitir que tudo isto passe apenas de um passado… É tudo o que a minha vida tem e não descansarei enquanto não voltar a vê-la. Se ela não me quiser, se ela não me ama vai ter de me dizer frente-a-frente para que possa definhar o resto da eternidade pelos cantos. Sem ela nada terá sentido. As horas foram passando enquanto tentava ganhar forças para que me dirigisse até Katie mas, para minha surpresa, ela veio até mim e olhou-me com surpresa ao ver-me neste estado. “Passa-se algo, Salvatore? Onde está Emma? Tínhamos combinado dar um passeio pela manhã e ela simplesmente não apareceu.” As suas palavras surpreenderam-me por momentos e rapidamente fiquei de novo afundado em pensamentos e explicações para que Emma nada tivesse dito a Katie, pensava que ela lhe diria caso fugisse assim de Magnificat. Talvez por saber que eu a questionaria, talvez por não querer ser encontrada por ninguém, ou mesmo pudesse haver outra explicação totalmente lógica. Foi agora, ao levantar-me que vi que Katie estava imensamente preocupada com o assunto, não sabia o que se passava na sua cabeça, mas certamente era uma daquelas deduções que ela retirava misteriosamente da sua cabeça… Muitas vezes nem ela sabia ao certo como tinha aquelas deduções, e muitas delas nem eram possíveis para qualquer pessoa, poderiam chamar de intuição, mas não era apenas isso… Katie sempre teve a capacidade de ter conhecimento de certos factos que nunca ninguém poderia sequer imaginar, neste momento era o melhor que teríamos para saber do paradeiro da minha amada.
  • 13. Quando lhe perguntei o que se passava na cabeça dela, não gostei nada da sua expressão, estava agora consciente de que eu estava a seu lado a observá-la e pela sua expressão não era nada de bom… Faltavam-lhe palavras para dizer o que seus pensamentos lhe transmitiam, talvez pela sua dedução pudéssemos descobrir onde Emma tinha ido, tinha-a procurado por todas aquelas vidas e não iria permitir que uma simples fuga a afastasse de mim. Ela sabia que o melhor era nós permanecermos juntos? Nunca entendia a mente humana, apesar de todos estes séculos… Mas queria que ela entendesse o mal que fazia ao afastar-nos, nenhuma razão poderia justificar isso. Assustei-me quando vi Katie mover-se, não proferindo qualquer palavra, perdida em seus pensamentos, seguindo rumo a um lugar qualquer. Resolvi segui-la. Pela sua expressão parecia saber para onde ia, parecia saber exactamente o que procurava… Seguimos por um bosque que não me lembrava de ter explorado, era estranho não conhecer aquele local, pelo que me lembrava tinha explorado toda a zona de Magnificat… Esse bosque era perto do local onde dei a minha imortalidade a Emma, quase morrendo, mas voltando à vida depois de algo que não sei ainda bem o que foi. Se me recordo, era uma zona em que nada havia, o fim de Magnificat, de onde se via a belíssima paisagem do nosso tão belo planeta terra. Era agora estranho ver um bosque em seu lugar, mas nunca soube justificar o inicio de tudo isto, por isso me mantenho aqui, esperando respostas que não chegam e procurando saber viver com as perguntas, tudo o que era até que Emma iluminou a minha vida. Surpreendeu-me ver aquela pedra no meio do bosque, estava coberta por eras, como se estivesse naquele local por bastante tempo. Katie ia em direcção a essa pedra, que tinha isto a ver com o desaparecimento de Emma? Ela começou a tirar as eras que o rodeavam, começando a descobrir um altar que aparentava ter milénios. Tudo era tão confuso na minha cabeça que não sabia bem o que pensar quanto a tudo isto, eu apenas queria-a de volta para mim e não sabia no que este altar poderia ajudar para a encontrar. Certo de que nada disto tinha cá estado antes, tudo me fazia querer questionar tudo e obter respostas
  • 14. concretas para tudo isto que me atrapalhava a paz que havia vivido até esta manhã, antes de me ter levantado da cama, antes de tudo isto ter acontecido, antes de a melancolia apoderar-se de mim e tirar-me toda a felicidade e alegria, antes de Emma ter desaparecido. Apenas queria voltar ao que era antes, estava sangrando por dentro e só ao encontra-la poderia voltar a ser feliz. Ela era tudo o que a minha vida ansiava, exactamente ela…
  • 15. III. O Papiro E, por mais estranho que pareça, consegui ver a luz ao fim do imenso vazio que começava ainda a assolar-me e já reclamava toda a minha vida. Katie não só tinha encontrado aquele altar, também encontrara uma espécie de pergaminho muito antigo, mas muito bem conservado… Certamente tinha lá sido colocado há pouco tempo, nada lá tinha escrito, completamente vazio. Tal como a minha alma agora que sentia falta do que mais lhe iluminava, optei por levá-lo para o meu quarto para quando tivesse tempo conseguir encontrar algumas pistas sobre tudo o que se estava a passar… Sentia o meu corpo completamente exausto e sem quaisquer forças para continuar, tentei dormir mas meus pensamentos não o permitiam. Todas aquelas palavras que Emma me tinha escrito estavam entrelaçadas em todos os meus sentidos, todo o meu ser estava a sentir aquelas palavras magoarem cada parte de mim, sentindo nada mais do que a pior das dores. Perder quem mais se ama torna-se impossível a existência de felicidade, um enorme vazio ocupa todo o espaço em que em outrora a felicidade estava. Toda a vez que meus olhos fechavam, tudo se tornava em quem perdera, seu corpo tortuosamente ia devorando o meu, imagens de passados recentes me invadiam e todos aqueles sentimentos rapidamente desapareciam ao abrir meus olhos… Penso várias vezes se não seria perfeito permanecer sempre com meus olhos fechados, permanecendo no meu mundo perdido. Minha vida sem Emma não é nada mais que cinzas de um fogo apaixonante que me ardeu completamente, fazendo-me querer permanecer eternamente naquelas labaredas que me iluminavam a vida… Cresceu uma vontade imensa em escrever tudo aquilo que se passava por dentro de todas estas tribulações, e nada melhor do que gastar em palavras o que a mente constantemente me faz sentir. Observando o pergaminho, procurava todas aquelas respostas que não conseguia ter as verdadeiras respostas… Não sabia a razão pela qual este pergaminho estava lá, e como apenas Katie sabia da sua existência, decidi arriscar e escrever tudo o que queria sair da minha cabeça… Principalmente o desaparecimento
  • 16. de Emma, que me fazia pensar constantemente de todas as formas possíveis e imagináveis de a encontrar. Mas de todas as perguntas a que mais me está a intrigar é a razão de Emma me ter abandonado, eu ainda não conseguia acreditar que isto tudo acontecera, apenas num dia todo o meu mundo desabou… Escrevi lentamente a pergunta pela qual minha vida ansiava por uma resposta que me trouxesse novamente Emma de volta, que tudo ficasse perfeito como aquelas poucas horas que tinha vivido poucas horas antes. Para minha surpresa toda aquela tinta que tinha desperdiçado no papel, onde eu tinha gasto todas as minhas questões em relação a Emma, começaram a diluir-se e a desaparecer… Para surpresa minha, todas as minhas lágrimas brotavam de minha alma, tudo o que queria saber finalmente tinha resposta… Tão doces eram as curvas que agora se escreviam pelo pergaminho, acalmando minha alma e deixando que o meu sorriso voltasse a nascer de mim. Tudo o que se passava já não tinha qualquer sentido, tinha agora um papiro que desenhava intensamente cada preciosa linha da letra de Emma, respondendo-me e dizendo tudo aquilo que já sabia bem lá no fundo de mim. Emma nunca me abandonara, estaria sempre do meu lado e nada nos iria separar, tínhamos sempre alguma forma de nos voltarmos a unir. Minha vida ganhara de novo aquela luz que me tinha sido arrancada com as palavras cruas que tinham na carta que Emma me escrevera à pressa. Tudo isto que tinha passado nestas últimas horas tinha se tornado num enorme pesadelo que agora estava finalmente a acabar… Deveria agradecer isso a Katie e a Vivian que se tinham juntado para tentarem nos por em contacto sem que fossemos descobertos. Emma estava a pôr-me a par de tudo o que sabia até agora, parecia que o nosso sangue derramado no dia anterior tinha criado aquela zona onde Katie me tinha levado… Tinham vindo buscar Emma para que estivesse preparada para algo que ela ainda não descobrira, parecia que por ter o sangue de Francesca junto ao seu a tornava especial de alguma forma. Que a tinham feito escolher entre a destruição de Magnificat ou entre abandonar-me, mas para nossa sorte ficou com Vivian como sua serva. Parece que Vivian era uma seguidora de Francesca até que, depois da sua
  • 17. morte, teve consciência de todas aquelas palavras que sua mestra lhe tinha dito não passavam de meras palavras libertadas ao vento. A única coisa que sabia é que agora mantinham Emma cativa para que fizesse o mesmo papel que Francesca iria fazer, para libertar Maquiavel, ainda não sabia qualquer informação sobre ele mas que tentava procurá-la enquanto a faziam estudar os livros da biblioteca de Francesca sobre supervisão de Vivian. Tínhamos apanhado o Peter, mas ele conseguira fugir e agora não conseguíamos descobrir o seu paradeiro. E, pelo que parece, ele tinha voltado a atacar mal conseguira fugir. Eu queria tanto tê-la do meu lado mas sabia que isso iria denunciar não apenas a ela, como à Vivian… Teria de me manter calado e tentar permanecer no meu papel como se não tivesse informações sobre o paradeiro de Emma. Iria aproveitar a minha suposta demanda pelo seu paradeiro para tentar descobrir algo sobre Maquiavel e tinha a sorte de puder leva-la comigo através do papiro que Katie me tinha dado… Estava imensamente agradecido às duas por me terem dado a oportunidade de puder estar a par de todos os acontecimentos sem que comprometesse a situação. Eu apenas não conseguia acreditar que tudo aquilo que tinha pensado durante toda a manhã me tivesse torturado tanto, tirando toda a esperança que tinha na minha vida eterna, mas tudo rapidamente voltou ao normal, ao saber que afinal ela não me tinha abandonado, não tinha abandonado o nosso tão aclamado amor… Era feliz por ela estar comigo, era feliz por saber que afinal dei a minha vida por ela e afinal estava tudo bem entre nós… Eu não a amava apenas, ela era tudo o que me fazia sorrir e seguir em frente, ela era o meu presente e o meu futuro, caso me tivesse deixado eu viraria cinzas e nada mais teria valor… Tudo aquilo que eu queria desta minha vida eterna era Emma, apenas ela era o que eu queria na vida. Ela era aquela que me completava, que eu amava e que queria ver feliz, acima de tudo. Eu desejava tanto vê-la que perguntei-lhe se havia possibilidade de nos podermos ver de algum jeito, sem que ninguém conseguisse descobrir do que nós
  • 18. estávamos a tentar esconder de todos. Eu sinceramente esperava um não pois era tão arriscado tentar uma aproximação, apenas nos verem no mesmo local por volta da mesma hora seria catastrófico para descobrirmos para que ela era necessária para esse tal de Maquiavel. Mas o meu desejo lhe de poder tocar novamente na sua pele, sentir os seus lábios suavemente pousados sobre os meus como se duma conjugação perfeita se tratasse, sentir o seu corpo no meu, abraça-la e senti-la bem perto de mim… Rapidamente fechei os olhos para que me pudesse recordar do seu sabor, das suas carícias, do seu sorriso, da forma como ela me tornava tão feliz… Bem sabia que o mais provável era não vê-la até que tudo voltasse a resolver-se porém, havia sempre uma parte de mim que desejava que o nosso reencontro fosse possível. Antes que ela me respondesse, comecei a dizer-lhe o quanto ela me fazia falta, o que todas as palavras do mundo nunca iriam dizer era que ela era grande parte da minha e o quanto ela significava, o quanto a amava e desejava, o quanto a queria ver feliz… Era a enorme mágoa aquela que crescia em saber que ela estava em toda esta situação por minha culpa, que todas as complicações da vida brotavam de tudo isto que nós tínhamos… E eu apenas queria ser feliz com ela, e todo o resto voltava e voltava a rodear- nos e afastar-nos cada vez mais. Pode parecer egoísta querer que todos os problemas acabem, deixar Magnificat para trás para que Emma fique bem, abandonar décadas de governação apenas pela melhor coisa que me aconteceu em todas as minhas vidas. Eu estava decidido, depois de tudo isto iria ficar tudo resolvido. Queria estar com ela antes que partisse pelo seu suposto desaparecimento, queria voltar a sentir os seus lábios, segurar sua face com as minhas mãos e sentir-me novamente em paz, olhando e perdendo-me dentro da nossa imensidão. Mas tudo teria de ser tratado com o máximo cuidado para que ninguém nos apanhasse, para que tudo fosse perfeito. Meu coração começou a bater mais rápido quando Emma me disse que sim, iria ter comigo para me desejar uma boa viagem, estava desejoso para a ver de volta.
  • 19. Queria que ela fosse comigo mas ela não queria por em risco todas aquelas vidas que a estavam a ajudar e as restantes caso não estivesse de volta depois de estarmos juntos. Só de pensar em estar novamente com ela meu rosto se iluminava e sorria até à alma. Nem queria sair daqui, queria continuar a falar com ela até que chegasse a hora de estar com ela, abraça-la e senti-la em meus braços… Seria perfeito se eu pudesse sair e fugir com ela… Mas o mundo e Magnificat estavam em jogo, mais uma vez. Chegara a hora de ver minha amada, era noite e quase ninguém ainda tinha visto aquele novo sítio onde estava o altar, iríamos arriscar muito mas eu era capaz de tudo para a ter comigo mais uma vez… Ia ser tudo tão perfeito que nada iria correr mal, estávamos destinados a ficar juntos não importando o que aconteceria… E sabia disso, era isso que me fazia estar vivo. Era noite de lua cheia, tudo simplesmente era belo à minha volta. Já me aproximava do local de encontro, ia sozinho para que ninguém pudesse reparar, tinha combinado isso com Emma. Lá estava ela, sentada sobre o altar. Eu nem tive tempo de pensar… Rapidamente estava a seu lado, abraçando-a como se não a visse há décadas, e tinham sido para mim as piores horas da minha vida. Era estranho pois ela não se tinha movido nem um pouco sequer, estava exactamente como antes, sem que nada se passasse… Apenas aí é que tomei consciência do que se passava e olhei à minha volta, estava rodeado de gente… Mas o que significava isto?
  • 20. IV. Indefinida Esperança Sua expressão parecia-me fria e completamente diferente da Emma que conhecia, mas meus próprios olhos a viam à minha frente, era ela. Permanecia bem junto dela, observando todos aqueles que continuavam connosco, não compreendia bem tudo isto que se passava. Agora que nos tinham trazido para o refúgio de Francesca eu temia pelo que Emma estava a fazer e no que andava metida. Estava prisioneiro por detrás de uma parede que não tínhamos descoberto, devia ser a zona privada dos seguidores de Francesca. Mal chegamos, vi Pedro à nossa espera… Olhei em seus olhos confiantes e segui o seu olhar que fitava Emma, nada disto conseguia entrar na minha cabeça… Estava prisioneiro, estava destroçado pois não sabia o que se passava. Minha alma se perdia pelos tempos, meu coração ardia pelas horas. Aquela Emma que agora via do meu lado, aquela mesma que me escreveu pelo papiro, não a conhecia. Ela não era aquela que eu amava. Não sentia nada por ela, apesar de a sentir e ver a meu lado. Seus olhos nada me diziam, sua pele não brilhava mais do jeito de antes, teria sido tudo apenas um sonho que acabara? Não podia acreditar em tal coisa. Um amor não acaba assim, um amor destes que nunca acabaria desta forma tão rápida e indolor. Eu amava a Emma que conhecia e que via, aquela que seus olhos me diziam que me amava profundamente e agora, seus olhos não brilhavam mais, seu corpo de nada tinha senão a sua imagem. Tudo nela era como se duma fotografia se tratasse, nada nela parecia ser de Emma, só sua imagem me dizia que era ela… Meus pensamentos pararam quando Emma se afastava e juntava-se a Pedro, dando a ordem para que me levassem para o meu quarto… Ouvi chamar por Alessandra, que rapidamente cercou meu braço com a sua mão e me levou algures pelo interior do submundo de Magnificat, deixando-me numa sala e pousando uma nota por cima. Rapidamente saiu da sala, fechando a porta. Certamente estava a ser guardado para que não houvesse fuga possível. Eu apenas não compreendia como
  • 21. é que tudo isto se estava a passar, como poderia o amor da minha vida fazer-me tal coisa. Decidi abrir a nota que a tal rapariga tinha deixado, mais uma vez era a letra de Emma. Suspirei, fechando meus olhos e ganhando coragem para ler suas palavras. “Apesar de tudo o que possa acontecer numa vida, não há nada que se compare ao que sentimos quando estamos junto a alguém. Ao nos sentirmos sós, mesmo quando temos ao nosso lado pessoas que nos amam, falta-nos algo que faz toda a diferença, algo que nos ilumina a alma. Um sentimento, por mais coisas que aconteçam, nunca se extingue. Amar, incondicionalmente… O quão forte pode ser! Sentir aqui a pessoa que se ama, por mais longe que possa estar. Quando se ama não existem limites… Amar é clamar pela vida, é gerar vida. Mas não se ama só quem vive… O fim que nunca se quer viver é o fim que liberta-nos na esperança de algo transcendente. E com Alessandra descobri que nem todos os que estão do lado de Francesca são do mal, algumas apenas tentam aprofundar os seus conhecimentos para que os transmitam a ti, o regente de Magnificat. Se estás a ler isto é porque o que Alessandra disse se realizou, Francesca tomou a minha imagem e me aprisionou algures. Tentei saber, mas até agora só sei que tentará usar-me para te aprisionar. Desculpa ter-te trazido tantos problemas, eu te amo e estarás nestes momentos com Alessandra. Ela te ajudará e mostrará o que descobriu. Nada podes dizer antes que ela te consiga libertar… Tem certeza de que te amo, não importando onde eu possa estar. Só quero que acabes com tudo isto pelo bem de todos, pelo bem de tudo o que criaste. Sentindo saudades, Emma” E as horas que nunca mais passavam… Mas finalmente Alessandra estava de volta, observando a nota que eu tinha em minhas mãos e se aproximando de mim, entregando um caderno antigo, tirando o papel de minhas mãos.
  • 22. “Terás cerca de uma hora para puderes ler estas páginas, depois terás que esconder ou senão será o nosso fim.” Disse sussurrando, desaparecendo pela porta rapidamente. Então, eu abri e comecei a ler… Restavam-me poucos minutos para que alguém chegasse, por isso tinha de me apressar… “E a história se faz em livro, para que todos saibam o que fazemos neste mundo… Palavras que sempre quis em mim, palavras que conseguirei. Uma história que se tornará minha, pois eu terei Francesca do meu lado. Henry não será nada além de uma memória do passado, amar será a palavra que ela nunca mais dirá. Não fosse eu Maquiavel, seu dono e senhor. Palavra de uma história que fica para memória do que jamais ela voltará a sentir, apenas um passado. “Fecharás os olhos e nada mais irás ver… Teu ser se completa no meu, pois nossos seres são um só… Segue o rumo do vento e chegarás a mim. Sou aquela que cavalga por entre os prados verdejantes, desejando estar ao teu lado.” “Enquanto cavalgares pelos prados verdejantes, estarei esperando a hora em que nosso prado se torne um só… Nossas almas estão unidas e nossos corações formaram um só, quando se unirem.” “Esperando o nosso dia, que nunca mais chega, clamarei aos quatro ventos o nosso amor… Teu sorriso me iluminará a face e teu olhar me aconchegará o coração.” A lua, que reinava os céus, permanecia brilhando, Francesca observava o céu… Os olhos de Henry brilhariam assim quando finalmente se vissem? Desde sempre que os dois conseguiam comunicar, não sabendo como… E foi- se gerando uma vontade enorme de finalmente se conhecerem. “A cada segundo que passa, a cada luar que sinto sem te ter perto de mim. Fui agraciada com esta nossa ligação. Não imagino a minha vida sem te ter no interior da minha alma, sem te ter sempre ao pé de mim.”
  • 23. “Agraciado eu por ouvir tais palavras. Sereis minha musa para todo o sempre, mesmo depois de chegar a hora da morte. Meu ser não vive sem o teu e minha vida não brilha sem a tua doce voz que ecoa na minha alma.” Não são palavras que trocam, não são olhares que manifestam. É apenas um sentir que se está junto, como se alguém permanecesse dentro de nós e nos falasse por dentro. Por muitos anos esta profecia foi dita entre sábios, não sabendo nem o tempo nem o lugar onde se poderia concretizar. Relata o povo, ao longo dos vários tempos, que existirão dois seres, que iriam abrir para o mundo os sonhos e emoções perdidas. Mas eu sou aquele que foi capaz de o fazer, que consegui separar amores e tornar serva a sua eterna alma perante o meu poder. São imensos os relatos que ela escrevera, tantos os momentos que se tornaram em nada. “Senti um pequeno polegar me acalentando a face, fechei os olhos e senti-o descendo até à minha boca, rodeando meus lábios, deixando uma leve brisa. Abri os olhos e estavas aqui, sorrias para mim como se nunca quisesses parar de sorrir e, quando iria ouvir da tua boca doces palavras, acordei. Era só um sonho que não queria mais deixar. Os dias não passam e as horas dilaceram meu ser que anseia unir- se ao teu. Tu, meu cavaleiro do nada, preenche-me com a tua luz. Tu, que entras e roubas meus sonhos… Tu, que deténs minha alma… Vem até mim.” “Estais comigo a cada segundo que passa. Porém, desejo ouvir-te sorrir, correr pelo prado fugindo de mim, nadar contigo numa cascata e, ao cair da noite, olhar para as estrelas e contá-las contigo, para que nunca passe o tempo da noite. Sim, não quero voltar a dormir pois os sonhos atormentam-me a alma ao saber que te sinto e vivo, mesmo sem estares comigo. Quero-te ao meu lado pois, como a Lua tem as estrelas para iluminarem o céu, eu quero ter-te comigo para que o teu sorriso me ilumine a vida.” “Eu sei, meu amor, eu sei… Como poderei eu viver sem que a Lua nos ilumine e nos cative o coração? Tu és a minha Lua, sabes disso meu amor. Mas não desejo ser as estrelas pois elas não tocam na Lua, quero fazer parte da Lua, para que
  • 24. nunca esteja sozinha, a brilhar. Quem sabe, ao brilharmos os dois, não serão necessárias estrelas na imensidão do céu.” “Ao acordar de mais um sonho, pergunto-me por quanto tempo estarei longe de ti. Gostaria de te ter comigo, aqui, ao meu lado, para que as nossas vidas fossem finalmente uma só. Nesta semana, partirei do meu reino com uma missão que será o meu último préstimo ao rei. Anseio acabá-la para me unir a ti. Eu serei teu de corpo e alma, pois minha alma manténs cativa pelos teus encantos.” “Tu que me amas como nunca ninguém me amou, olhaste-me por dentro e fizeste germinar em mim a esperança de vidas futuras… Meu ser percorre um vasto caminho ate encontrar o teu, unindo-se na imensidão dos sonhos. Contarei os dias como quem conta uma vida… Meu tempo és tu e o meu espaço é todos teus encantos.” Vários dias se passaram sem que a Francesca falasse com ele, pensou tantas vezes em ir ter com ela para lhe dizer que não sabia que a missão era aquela… Muitas vezes tentou, mas nunca passava para além da fronteira do bosque com o jardim em que a sua amada passava as tardes. Eu o tinha mandado em missão para que matasse o pai dela, para que depois pudesse juntar-me a ela e criar o meu reino nos céus. Decidiu escrever-lhe pois não sabia o que lhe dizer, talvez num papel sairiam melhor as palavras… Na carta ele dizia que as dúvidas que lhe iam brotando da alma não o permitiam deixa-la a sofrer pois o que sentia por ela era mais forte do que qualquer outro sentimento. Aproximou-se do jardim pelo bosque, como fazia todas as manhãs… Esperou que ela se aproximasse e, sem esperar que qualquer pensamento o intimidasse a continuar, dirigiu-se para a frente dela entregando-lhe a carta. Mal recebeu a carta, rasgou-a e atirou os pedaços a Henry, prosseguindo o seu passeio como se nada tivesse acontecido. Henry seguiu, sem rumo, para qualquer lugar…
  • 25. Não queria acreditar na perda do amor da sua vida, nunca a deixaria de amar… Ele seria sempre parte dela, nunca estariam separados. Cada momento de angústia serve para observarmos o quão importante são as pessoas que amamos.” Ouvi passos e rapidamente escondi o diário para que ninguém desse conta que estava em minha posse, era Emma. A suposta Emma estava a tentar seduzir-me para que me juntasse a eles, jamais iria fazê-lo. Jamais!
  • 26. V. O Diário Finalmente a tortuosa hora, em que a imagem de Emma tentava aproveitar-se do corpo da minha amada, para me unir a Pedro tinha passado. Poderia finalmente voltar à leitura e descobrir a razão para isto… “Seu corpo o levou ao mar…Talvez para que o mar fosse cada lágrima que ia desabrochando do seu íntimo. Passou a noite a observar a lua, que flutuava nas águas do mar. Tudo lhe lembrava Francesca… Tudo que o rodeava, parecia sofrer como o doce olhar dela. Adormeceu nesta ânsia de voltar para junto de quem faz parte da sua alma. Quando acordou viu uns olhos verdes bem abertos a olhar para ele, levantou- se e viu que estava num quarto que certamente não era o seu. Saiu para o exterior e reparou que estava numa comunidade piscatória da região. Viveu lá por algum tempo com aquela mulher, que o chegara a salvá-lo de ser morto pelas ondas fortes do mar. Cheguei a acreditar que finalmente podia juntar- me a ela pois esta mulher queria que ele fizesse parte do seu lar, que fizesse parte de si. Mas todas as noites, em que a lua brilhava lá no alto, ia observar o mar… Era a imensidão do seu amor por Francesca. Numa noite como qualquer outra, em que a saudade pela sua amada vai aumentando, finalmente as suas preces foram ouvidas… “Parai palavras que estais dilacerando minha alma! A cada silêncio que desaparece por estar unida a quem Vos clama, vão percorrendo lágrimas pela minha face. Porquê eu? Porquê nós? O desejo vai-se apoderando, deixando meu ser em angústia. Jamais poderei ouvir tais palavras da boca de quem tem como fim destruir tudo o que é meu… Oh, meu pai… Se soubesses o que este ser sofre por saber que não pudera unir a sua vida à harmoniosa Felicidade. Como poderei eu salvar quem mais amo? Gostaria de acordar desde maldito pesadelo, porém a verdade é nua e crua, abrindo chagas profundas no meu coração. Este que se divide, que se destrói a cada passo que é dado. Poderei eu voltar à paz?”
  • 27. “Todo o meu ser chora pois sou o causador deste momento… Que poderei eu fazer? Quais serão os meus passos? Quando te vi, teu olhar me aconchegava a alma… Como posso ter sido o escolhido para fracassar como homem que ama a sua eterna musa das noites em claro? Vós não aceitastes a minha carta, repudiaste cada letra que lá se encontrava… Agora que tenho o mar no meu horizonte, apenas desejo voltar para onde a fonte da minha vida habita… Estais a sofrer, bem o quero mudar… Minha vida não é nada sem ter a tua por perto… Não me fujas pois prefiro que meu reino me repudie a perder-te, sem puder abraçar-te a cada dia das nossas vidas.” “Estarei onde rasguei cada palavra tua para que me digas cada letra perdida… Desejo imensamente voltar a ver-te, sentir-te ao meu lado… És a luz que ilumina a minha vida, permitindo que o meu sorriso volte. Anseio voltar e estar contigo, não vamos permitir que esta situação crie barreiras ao que sentimos. Porque o que sentimos nunca terá barreiras.” “As barreiras não são nada mais que degraus que nos elevam ao mais profundo amor entre os homens… Não sabes o quanto desejo ver-te, voltar a sentir- me completo. Jamais me cansarei de observar a imensidão do teu olhar, cada parte do teu ser me cativa a alma. Partirei ainda hoje rumo à nossa felicidade, chegarei de manhã cedo e esperarei por ti. Não direi que te amo, pois prefiro demonstrar-to.” E, olhando uma última vez o mar, pôs-se ao caminho. Não se importava da fome que tinha, do cansaço que se ia apoderando dele… Só lhe importava chegar ao seu destino. Se não estivesse em busca do segredo destes dois reinos, tinha-o dilacerado com as minhas próprias mãos. Estava em primeiro lugar encontrar todo o segredo para que o usasse, depois trataria deste homem. O tempo não passava, mesmo tendo o seu corcel que lhe permitia andar mais depressa. Desejava tão intensamente olhar a sua amada que as horas tornavam-se uma enorme tortura. Na sua mente fluíam vários pensamentos relacionados com o homem que amava, o homem que vinha a caminho. Um sorriso brotava do seu rosto, o seu homem viria ter com ela e abandonar tudo pelo amor que sentiam. Na realidade, não iam deixar que os seus reinos se aniquilassem, por alguma razão sabia que o melhor era
  • 28. recuar para que pudessem depois acabar com toda a injustiça que estava a passar- se. O seu amor seria mais forte do que qualquer outro sentimento de rancor, ódio e vingança. Imaginava-se junto ao seu amado, respirando e sentindo tudo como se fossem apenas um só. Decidiu ir para junto da varanda, não conseguiria adormecer, apenas queria que as horas passassem para que o seu destino fosse completamente alterado. A noite estava a aconchegar-lhe a alma, para que esta pudesse sentir o calor que emanava do amor que surgia dos dois. Não tinha saudades, porque ele estava com ela, era parte dela. Mas faltava-lhe a parte que ela lhe tinha entregado, a parte da sua alma que ansiava fervorosamente pela sua vinda. Suspirava, o tempo demorava a passar… Quem lhe dera ser dona do tempo para que este pudesse passar rapidamente aquando da hora em que o seu amado não estava perto dela, e tão lentamente para que pudesse sentir tudo a toda a hora quando estava junto dele. Mas as horas passaram… Finalmente era dia e a hora do fim e do inicio de tudo estava prestes a chegar. A felicidade de Francesca contagiou tudo e todos, era-lhe impossível esconder a tamanha felicidade que sentia por dentro. Quanto a Henry, já pouco faltava para chegar ao castelo. A floresta criava nele um sentimento de profunda nostalgia. O momento em que se juntaria à sua amada estava prestes a acontecer, até custava a acreditar. Nada do que esperavam que acontecesse poderia superar o que sentiram quando se encontraram novamente juntos, em corpo e alma. Seus sorrisos iluminaram seus lábios que rapidamente se uniram num beijo profundo, sentido e carregado de carinho. - Sempre vieste… - Disse Henry, depois de recuperar o fôlego. - Claro que viria… Temos de decidir o que fazer quanto à nossa situação. - Se nos continuarmos a ver corremos o risco que algo de mal nos aconteça, mas quero arriscar pois para estar vivo preciso de estar ao pé de ti… - Dizendo isto, beijou-a novamente, com uma ternura tal que lhes fora difícil abandonar o beijo e as
  • 29. carícias que surgiam numa enorme sede que teimava em aumentar cada vez mais e mais. - Não quero que nada te aconteça, jamais me perdoaria! Vamos sair daqui, meu amor… - Não creio que seja uma boa opção… Tens aqui a tua vida e, mesmo que fugisses comigo, não teríamos uma vida ao nível da que costumas viver. – Segurou a face da sua amada, olhando-lhe nos olhos, e prosseguiu – Iríamos fugir para um lugar totalmente desconhecido e pouco seguro, temo pela tua segurança. Tens mesmo a certeza que é isso que queres? – Declarou Henry, por mais que desejasse ter a sua amada ao seu lado, não podia pensar apenas nele. Ela não estava habituada a uma vida nómada nem dos perigos que essa vida acarretava. - Desde que esteja contigo, pode vir de tudo que nada nos abalará. – Dizendo isto, beijou-o efusivamente. - Eu devo estar louco por nem pensar duas vezes… Meu amor, partiremos em busca do que nos faça ser felizes. Quando tiveres tudo preparado partiremos, apenas tenho de comprar mantimentos e um cavalo para partirmos. - Já tenho tudo preparado, apenas necessito de ver o meu reino por uma última vez. - Apenas o teu sorriso consegue iluminar-me por dentro… A nossa caminhada será longa, terá muitas enfermidades. Mas creio que tudo não ultrapassará o que vivemos, um no outro. Espero que jamais perca este elo que nos une. Desde que estejamos juntos tudo não passará duma caminhada rumo a uma mais profunda união. És a minha amada, sempre o serás. – Concluiu, selando as suas palavras com um beijo. Nessa mesma noite partiram, Henry tinha conseguido fazer um bom negócio com um comerciante da zona, tendo assim um lugar para colocar as suas coisas e para pernoitar. Decidiu não comprar um cavalo para puxar a sua espécie de caravana, preferiu usar o seu corcel. Não pararam enquanto não saíram das
  • 30. fronteiras do reino pois certamente o rei iria procurar a sua filha, não sabendo eles que eu já o tinha assassinado. Finalmente tinham alcançado outro reino, o cansaço surgia dos seus olhos, deixando a Henry o penoso desejo de a ter como sua. O desejo era tal que os foi mergulhando num misto de vontades, fundindo-se apenas num: serem realmente um no outro. A luz iluminava a face da sua amada. Rapidamente a sua mão precipitou-se na sua face, percorrendo cada centímetro até alcançar seus lábios doces que se abriam pedindo que suas bocas se unissem num melodioso frenesim. Não havia forma de descrever o sentido desta união tão avassaladora e harmoniosa. Seus corpos iam instintivamente reagindo a cada flutuar dos dedos que iam dançando pela pele que se ia descobrindo… Ao som do ritmo das pulsações, as respirações iam activando cada parte do corpo que percorriam deixando que o desejo se apoderasse completamente dos dois, sendo impossível parar. Apesar de a conhecer desde sempre, sentia-se extasiado com cada nova nota que vibrava no corpo dela a cada carícia que ele lhe fazia. A sua mão movia-se num ritmo de provocação, deixando Henry completamente desarmado. Viviam um tango intenso, debatendo o poder e a sedução… Seus corações batiam ao som de cada passo desta magnifica coreografia de dois corpos que se iam descobrindo e devorando. Nunca pensando alguma vez vir a alcançar tal acto, brincando com o seu amado e descobrindo cada parte mais intima e mais ritmada às violentas pulsações do eterno tango que é o amor. Pressentindo o final da melodia, Henry aconchegou a face da sua amada em suas mãos enquanto ambos gritavam pelo final tão desejado. No fim, os aplausos de tão belo acto foram em forma de novas carícias de desejos que renasciam como a Fénix… Não seria uma dança na vida, a vida seria uma constante coreografia de atitudes e sentimentos. Faltava pouco tempo para o amanhecer, mas Henry não queria que isso acontecesse… Dormira muito pouco nessa noite e, enquanto não estava acordado
  • 31. para observar a sua cara Francesca a dormir, sonhava com as tentações que tinha experimentado com ela. A doçura que transcendia de Francesca parecia captar momentos mágicos, ele nunca se cansava de olhar para ela… E agora estava ali, nos seus braços repousando num profundo sono. Ele não a queria acordar, preferia que ela descansasse pois a viagem tinha sido longa e eles teriam imenso tempo para se entregarem novamente, um no outro. A luz da lua fazia realçar cada parte de Francesca, a sua tez branca proporcionava a Henry uma paz imensa… Ele estava com ela, ia protegê-la e amá-la para todo o sempre. Na sua vida sempre existiu pouco espaço para o amor, apenas surgia a esperança dele existir quando comunicava com ela. Seus pais tinham morrido à sua frente numa viagem em que foram intersectados por bandidos que habitualmente viviam pelos bosques, sendo a sua mãe violentada e esquartejada de seguida. Apenas tinha oito anos mas nunca se iria esquecer do que vira e do que sentira ao ver o seu pai tentar defender a sua mulher até à morte. Por isso, mal teve a idade, ingressou no exército para que a justiça pudesse ser feita. E, agora que finalmente tinha alguém que amasse, já não estava mais perdido e sem rumo… Tinha tudo o que necessitava. Cada traço da sua amada lhe dava vontade de a manter assim por mais tempo… Ela parecia um anjo que lhe tinha caído na vida, a sua inocência e o seu gosto fariam eternamente parte de si. Mas seria capaz de seguir os paços do seu pai? Na realidade, esperava nunca o vir a descobrir. Voltou a olhá-la e decidiu que iria viver o que sentia sem medo de passados que não deviam voltar. Aconchegou-a mais a si e adormeceu logo após o amanhecer. Enquanto dormia não tinha consciência do que se passava perto deles. Aliás, demasiado perto deles… Mas durara pouco tempo pois os ruídos provocados por um grito o tinham despertado dum maravilhoso sonho, tinha-o despertado para um pesadelo bem real.
  • 32. Francesca já não estava a dormir nos seus braços, parecia que tentava acordá- lo, agarrando-se a ele como se tratasse de uma questão de vida ou de morte. E realmente era, vagas memórias o iam assaltando, desenrolando o que se iria passar de seguida… Tentou acalmá-la, mas a realidade é que ele estava apavorado, sem saber o que fazer. Estavam rodeados, sem qualquer forma de escapar aos bandidos. Francesca fora facilmente arrancada dos seus braços, ele tentou protegê-la, mas seria capaz de dar a sua vida para salvar a sua amada como seu pai havia feito? Por mais que se questionasse os seus actos afirmavam inteiramente que tentaria salvá-la dos capangas até ao seu último fôlego. Não iria permitir que se aproveitassem dela, nunca o iria deixar… Tal como seu pai, ele ia debatendo-se e tentando libertar-se para salvar a sua amada que agora estava nas mãos de um crápula que lhe tentava desfazer os seus trajes para que o seu prazer mundano fosse saciado. - Tira as mãos dela, seu cobarde! – Gritava ele, enquanto os restantes quatro bandidos o iam espancando para que não lhe restassem mais forças para tentar evitar o inevitável. Mas havia algo que não o deixava demover-se perante tudo que se estava a passar. – Vem, então és cobarde o suficiente para te aproveitares da donzela sem primeiro derrubares quem a acompanha? Vê-se mesmo que és um crápula! – Rebateu ironicamente. As suas palavras finalmente surtiram efeito pois o homem chamou dois dos seus camaradas para segurar nela, virando-se a ele. - Eu não tenho medo de nada! E não preciso de ti para o provar. Mas já que queres morrer, eu faço-te esse favor! – Dizendo isto, mandou um murro bem no estômago de Henry – Então, agora já não falas? – Voltou a esmurrá-lo, mas agora na face. - Continuo… Tu és… - O fôlego faltava-lhe pelos socos que ia levando no estômago – …um crápula... covarde…
  • 33. Francesca tentava soltar-se para auxiliar Henry, mas a única coisa que conseguia era observar tudo brotando lágrimas pois sabia que se não se conseguisse libertar estariam ambos mortos. De repente lembrou-se que poderia libertar-se com uma simples e forte dentada no ombro de um dos homens que a seguravam… Ele gritou, largando-a e o outro homem tentou segurá-la mas um biqueiro deitou-o ao chão deixando-a livre para chamar ajuda. Enquanto corria, apenas pensava no que se poderia estar a passar no local de onde havia fugido. Tentava correr com todas as suas forças, esperando que alguém a pudesse ajudar a libertar o seu homem daquela escumalha. Olhando para trás para ver se eles a alcançavam e correndo o mais rápido que podia, esbarrou-se contra um homem que aparentava ter uma longa idade. - Preciso que me ajude! Por favor… Ajude-me! – Balbuciava ela. - Eu sei minha querida, vamos ajudar Henry a livrar-se daqueles cretinos pois necessito de vocês os dois bem vivos. - O quê? Mas do que… - Não é o tempo ideal para conversas. Vamos, não há tempo a perder! – Interrompi-lhe seguindo rumo ao local de onde ela surgira. Sua vida acabara de lhe permitir um futuro diferente ao que acontecera aos seus pais, tinha conseguido libertar a sua amada. Não se importava com mais nada, eles podiam vir mesmo a matá-lo que para ele seria apenas um dano colateral. Com Francesca salva não necessitava de mais nada para que pudesse morrer em paz. Sim, ela era a sua paz e parte de tudo o que ele é. Esperava que ela conseguisse escapar dos patifes que a tinham seguido. Mas havia algo que lhe incutia calma, como se soubesse que ela estava a salvo… Quanto a ele, sabia que não existia qualquer possibilidade de escapar-se dali. Ao ver que a sua amada conseguira fugir nada mais teria que fazer… A sua força tinha surgido como uma enorme labareda que agora ia perdendo todo o fulgor.
  • 34. Apenas pensava nos batimentos atribulados de Francesca, correndo sem rumo, fugindo para que nada lhe acontecesse. Como detestara reviver momentos destes… Tinha posto em perigo o seu bem mais precioso e nunca desejara que isso acontecesse. Caso conseguisse sobreviver teria de se afastar dela, defendendo-a de longe pois ela no castelo também estaria em perigo. Parecia que este mal do mundo tinha tomado o lugar do vento, espalhando-se pelos quatro cantos do universo. Custava-lhe respirar, já não sentia nada apesar de continuar a ser espancado pois rapidamente tudo se apagou… Apenas os seus pensamentos iam continuando a navegar pela sua inesperada inconsciência. Era ela, era ela quem lhe surgia nas imagens que há pouco tempo estava combater… Mas quem via realmente? A sua preocupação permanecia elaborando novos rumos para as vidas futuras. Não a queria fazer viver tais suplícios e jamais aguentaria vê-la sofrer. Não que fosse um herói do mundo, mas estava na sua sina a defesa incondicional daquela que lhe capturou cada parte da sua alma, deixando-o livre para amar. Ela era e sempre seria a sua amada, mas a sua vida e segurança estavam em primeiro lugar. No meio das suas divagações pareceu-lhe ouvir algo que o afugentava de todos os pensamentos: “Desejo conseguir impedir a tempo pois não sei como viver sem respirar-te, tu és tudo o que me faz ter sentido na vida, que me faz lutar para que tudo seja como sonhamos. Aguenta meu amor, aguenta que já vamos a caminho…” Há muitos anos que este dia tinha sido desejadamente previsto pelos sacerdotes de Gramda, presentemente conhecidos por feiticeiros. Tiveram de selar o segredo para que não fossem criadas ilusões perante os reais factos: quem tivesse essa missão e a tomasse como certa por ser o derradeiro acabaria por dissipar qualquer hipótese de restaurar o reino.
  • 35. Por essa mesma razão os sacerdotes decidiram que os escolhidos seriam pessoas que já estivessem dentro da área ao qual teriam de combater, dois reinos vizinhos unidos pelo amor e forças vindas de gerações passadas. Enquanto ela era descendente da família real que se tinha destruído, os pais de Henry eram descendentes da linhagem dos protectores do castelo que agora pertencia a Silibat. Estes factores unidos a um longo treino fariam deles os escolhidos para esta dura batalha por Gramda que se tornara apenas viva entre os sacerdotes e eu não iria permitir que isso acontecesse. O segredo que fora guardado pelos defensores de Gramda tinha ficado oculto até para os Sacerdotes, nem sabiam onde se encontrava esse compartimento no castelo. Eu matei cada um, tentando encontrar esse segredo que acabei por encontrar. Tudo que faria o mundo temer um imortal, sendo apenas uma arma possível de o matar. Tomei a forma do feiticeiro que os tinha ajudado e tentei levar Francesca comigo, porém ela mantinha-se junto ao amor que os unia. Não havia outra opção a não ser forjar a morte do seu amado Henry e leva-la comigo, para que pudesse recuperar dessa dor bem longe de todas estas memórias. E estou certo que conseguirei alcançar o que sempre quis. O segredo que estava escondido foi-me revelado e irei brevemente clamar à minha vitória. Seja eu aclamado rei e temido pelo mundo!” E estas eram as últimas palavras, tinha lido toda esta história e a única coisa que conseguia entender é que Francesca tivera uma vida dura, como terá tudo acabado? Certamente Alessandra mo poderá dizer…
  • 36. VI. Algumas Respostas Esperava ansioso pelas respostas de Alessandra. Já sabia parte d inicio de tudo isto que estava a acontecer, mas nada me dizia o que tinha acontecido a Maquiavel e o que se passara para que Francesca se tornasse imortal depois de ele ter deixado de escrever a sua história. E que segredo era aquele? Que profecia era dita pelos antigos habitantes dessas duas cidades? Eram tantas as questões, tantos os momentos que se tinham passado e que precisavam de uma explicação que sinceramente nem sabia por onde começar todas estas questões. Esperava constantemente que fosse Alessandra a entrar, para que tudo o que me atormenta fosse respondido. Esta ansiedade estava a brotar em mim uma enorme vontade de me levantar e sair daqui, ir em direcção à porta e encontrar as respostas pelas minhas acções… Não me importava mais nada do que saber como descobrir Emma e salva-la, puder abraça-la de novo e sentir-me novamente completo. Ela não era parte da minha alma, minha alma já era totalmente dela, nada de minha existência era meu… Tudo era nosso, completamente despojado de mim… Todos os meus pensamentos me levavam a ela, sentia a sua falta até quando adormecia, sonhando com o nosso reencontro… Viver sem ela não era qualquer hipótese para mim, era como se eu estivesse condenado novamente a uma vida sem sentido. Tudo o que ela me dava era o ideal para que meus dias fossem simplesmente perfeitos. Podem pensar que sou louco por amar tanto assim alguém, capaz de dar a minha vida e sofrer da pior das formas apenas por rever e senti-la a meu lado. Mas que era eu sem ela? Sinceramente, já nem me lembro… A sua chegada foi um enorme embeber de felicidade na minha vida, uma luz que me alcançou e despojou-me de tudo o que eu era, fazendo-me dela e amando-me intensamente. Nós não éramos nada um sem o outro, nada do que o passado poderia trazer iria mudar isso… Estava preparado para fazer de tudo para a ter de volta, não me importava minimamente como tudo acabaria. Se ela realmente não me amasse, eu recuaria e definhava algures pelo mundo. A minha face apenas sorri com toda a sua luz quando a sinto em mim, fazemos parte de um todo que nunca mais voltará a ser solidão. Era
  • 37. tudo aquilo que nunca procurara mas que tinha aparecido na minha vida com toda a pressa para entrar, mostrando-me como a minha vida era vazia e sem valor. Mais uma vez a falsa Emma veio ao meu encontro, tentando me convencer em juntar-me a ela. Seu cheiro era totalmente desprezável, a cada novo momento que ela me torturava com as suas tentativas de sedução, me fazia sentir cada vez mais vontade de a destruir. Quem era ela para usar assim o corpo da minha amada e ver- se livre? Temo pelo que tenham feito com ela, estaria viva? Eram tantas as preocupações que me assolavam e me enegreciam a alma, tantas as questões que não arranjavam resposta ainda. Estas horas de tortura, ao ver o corpo da minha amada ser usado para tentar convencer-me que é a verdadeira Emma, me deixa enjoado e chateado… Não são apenas as imagens que determinam quem amamos, mas como um todo. Ela é a minha amada não pelo que se vê mas por tudo aquilo que é, apenas na forma de me olhar já se vê a diferença. Não há luz nesta suposta Emma, falta-lha vivacidade e principalmente o espírito tão apaixonante que minha verdadeira amada tem. Era uma burrice pensar que me poderiam enganar apenas com a sua imagem… Finalmente ela chegara, Alessandra tinha entrado e sua expressão era de estrema preocupação. Mal se aproximou, pegou em meu braço e levou-me para algures… Não tínhamos ido pela porta principal, mas sim por uma passagem secreta que tinha numa estante de livros onde nunca tinha realmente reparado, tão profundamente estava em meus pensamentos que nem tinha visto a sala que tinha à minha volta. Eu era para lhe questionar o que se passava, mas ela calou minha boca com seu dedo. Estávamos certamente a correr riscos demasiado elevados para que eu pudesse questionar qualquer coisa neste momento, mas a hora das perguntas viria… Mais cedo ou mais tarde.
  • 38. Quando finalmente atingimos o ponto de chegada, eu não queria acreditar no que meus olhos viam, meu coração começou a bater fortemente e rapidamente meus passos se apressaram… Era Emma, eu sentia a sua alma novamente junto à minha. Estava agora bem perto de mim, seus olhos suavemente fechados e a sua respiração suave… Seus cabelos tinham perdido a cor, sua pele tinha perdido a cor… Uma enorme revolta se apoderou de mim, tinha uma vontade louca de descobrir quem fizera isto e mata-la com as minhas próprias mãos. Acariciei a sua face, estava gélida, ela permanecia a dormir… Seus cabelos loiros mortos me faziam sentir culpa, tudo isto estava a acontecer por eu ser regente desta cidade de Magnificat. Emma estava fraca, marcada e eu nada poderia fazer para que isso mudasse… Ajoelhei-me junto à sua cama e peguei na sua mão, beijando-a com tudo aquilo que sinto, fazendo parte da sua alma e sentindo o seu coração pulsar em suas veias. Levantando-me, deitei junto a seu corpo… Abraçando-a para que seu cheiro voltasse para junto de mim. Seus olhos começaram a abrir, olhando para mim e criando um sorriso fraco em sua face. Olhos verdes como toda aquela natureza que estava sempre junto a Magnificat. Ela tinha mudado… Suas mãos agora rodeavam as minhas, sorrindo e observando a minha expressão preocupada, rapidamente tudo ficou mais leve quando seus lábios tocaram nos meus. Abracei-a para mais perto de mim, apenas queria deixa-la aqui, em meus braços, e protegê-la de tudo isto que estava a acontecer. Senti o seu corpo encaixar perfeitamente no meu, sentindo o meu corpo a aquecer o dela, dizendo-lhe apenas com o olhar o quanto senti a sua falta… Ela sabia, nós sabíamos sempre que tudo o que nós somos nunca muda com o tempo, que apesar de tudo estamos aqui. Juntos, amados, um só. Nada mais importa, tudo se encaminhará para que isso aconteça. Sentia a sua fraqueza, ela estava tão fraca que meu coração chorava por dentro de tanta preocupação. Nem tinha reparado que Alessandra permanecia no quarto, podia passar o mundo todo à nossa volta que eu não iria reparar agora que tinha Emma em meus braços.
  • 39. Sentir a sua pele junto da minha era uma experiencia quase totalmente nova, há tantas horas que não a tinha do meu lado, tantos os momentos que senti a sua falta… Mas agora estava aqui com ela e já nada mais me preocupava. Apenas o nosso amor importava agora, o seu sorriso me iluminava a alma e suas mãos me ditavam a felicidade escrita em seus lábios que embebia constantemente… Amava-a incondicionalmente! As lágrimas brotavam dos meus olhos por revê-la, por vê-la assim tão fraca, por senti-la de novo a meu lado… Tinha que tira-la daqui, não podia permitir que continuasse assim, tinha que a proteger de tudo isto. Era uma aventura arriscada mas por ela eu faria qualquer coisa, não importando minimamente como acabaria. Desde que Emma ficasse em segurança, não iria permitir que lhe fizessem mais nenhum mal! Rapidamente me secou as lágrimas com seus lábios, embebendo e partilhando a dor que sentia dentro de mim. Ela temia pelos meus actos, também não queria ficar longe de mim… Tinha tudo de ser feito rapidamente e duma forma a que seja difícil nos apanharem pelo caminho, ficando salvos de algum destino pior que este. Levantei-me e olhei para Alessandra, ela parecia já saber o que eu tinha em mente pois logo me acenou com a cabeça, indo de imediato ver quem estava à porta. Rapidamente peguei em Emma, ela ainda estava fraca e eu não iria permitir que ela fosse pelo seu próprio pé. Mesmo assim, na condição que estava, continuava a mesma teimosa de sempre, querendo mostrar-se forte e confiante. Ela devia saber que isso comigo não valia a pena, eu iria leva-la assim de qualquer jeito, podia reclamar à vontade que eu iria ganhar esta. A minha preocupação era demasiado grande para que ela pudesse abusar da sua teimosia. Desta vez ela iria aceitar a minha ajuda, não importava o que fizesse para o recusar. Depois de alguns momentos em que Emma tentava libertar-se do meu colo, reparando que estava demasiado fraca para fazer qualquer avanço quanto a isso, finalmente se abraçou a mim e deixou-se levar. Esta sua forma de ser rebelde por vezes tirava-me do sério, mas eu sabia que a amava tanto por ela ser assim… A minha revoltada preferida, fazendo de cada revolta dela um sorriso meu… Tudo que era
  • 40. mau em ela, eu transformava, ficava tudo sempre mais melodioso e perfeito. Sorri ao pensar no quanto a fazia perfeita pelo seu feitio chato e revoltante, ela olhou-me com a curiosidade de sempre… Ainda bem que ela não conseguia ler meus pensamentos pois certamente não iríamos sair deste quarto sem continuar o que me vinha em mente… Mas tudo teria o seu tempo, por isso tinha de a acalmar. Apenas lhe sussurrei que mesmo assim mudada continuava a minha Emma de sempre… Ela sorriu e aconchegou a sua face em meu peito, dava-me uma vontade louca de fazer tudo menos o que devia neste momento. Tinha de me focar. O importante agora era sairmos dali para um local seguro… Novamente a preocupação me invadiu… Esperava mesmo que conseguíssemos sair de lá ilesos e sem sermos vistos… Finalmente me sentia completo de novo, seus braços em meu redor me diziam que não era apenas um sonho. Ela estava aqui e eu conseguira encontra-la, só me preocupava a fraqueza que se via nela… Desejava conseguir resolver isso e voltar a tê-la totalmente, tal e qual como era. Eu iria fazer de tudo para que a sua saúde voltasse ao normal, não me importava quanto tempo iria demorar. Eu a iria ajudar, nós éramos apenas um só, o resto iria providenciar. Nosso amor seria o inicio de tudo, como sempre é, rompendo tudo e criando vida!
  • 41. VII. Incompetência Nada melhor do que o silêncio das palavras não ditas de um olhar para voltarem a fazer-me sentir de volta a casa, mesmo que não fosse o local de sempre. Foram tantas as dúvidas que pelas minhas duas vidas se atravessaram, tantos os desafios e obstáculos que tinha enfrentado… Mas nunca sentira esta sensação de estar em paz, sentir que finalmente nossa vida tem significado e que há razoes para que eu sofra. E essa razão era tão intensa e grandiosa: amar Emma era a melhor dádiva que me ofereceu a vida. Desde o primeiro momento que minha alma se tinha entregado, aos poucos esse amor ia tomando controlo até que nada mais me fazia estar tão radiante como ela. Amar é o melhor presente que pude sentir, amar é a chave para tudo aquilo que sempre fui e nunca soubera. Toda a minha existência era dela agora, sentia-me feliz ao vê-la perto de mim. Saíam lágrimas de mim sem que eu notasse, lá estava a minha amada me observando apreensiva… Enxugou-me as lágrimas e só consegui sorrir, que poderia mais eu dizer ao ver o seu rosto tão belo fazendo aquela expressão que tanto adoro, preocupada comigo enquanto está fraca. É essa sua loucura de usar a sua força interior, a sua revolta pela fraqueza, teimosia contra seus pontos fracos, orgulhosamente ousada em sua própria saúde por quem a rodeia que me faziam ficar louco só de pensar nas loucuras que conseguia fazer só com esses seus feitios. Uma loucura que me entregava mais a ela e me fazia seu… Eu sabia que por ela estaríamos já em busca da falsa Emma e devolveríamos novamente a paz a todos aqueles que a merecem, mas eu bem sabia que ainda não era possível. Havia um longo caminho a percorrer, muitas batalhas e tantas dores que ainda estariam por vir. Eu apenas desejava que Emma saísse bem disto, que ela ficasse bem. Preferia a minha morte a ver sua alma desgastar-se com os tempos… Gostava de acabar com tudo isto o mais rapidamente, para que tudo pudesse ficar bem e olhasse para a minha amada sorrindo, não temendo nada nem ninguém além da sua forma sedutora de ser. E como eu adorava quando ela era assim, eu sabia que ela se tinha entregado a mim de corpo e alma. Mesmo que nada tivesse
  • 42. com ela, sua alma permaneceria cativa pela minha, por mais que o tempo passasse bem sabia que amar desta forma era eterna. Não havia forma de acabar com este amor, ele simplesmente se tornara tudo aquilo que valia a pena. Incondicionalmente apaixonados, enamorados, agarrados… Não importa minimamente as palavras usadas, era sempre tudo aquilo que não se pode dizer. Indescritível pois tudo o que é a alma de nós se perde em tudo aquilo que nós somos. Porém, agora não era o tempo nem o momento para pensar ou definir o que sempre será íntimo e profundo. Acabáramos de chegar ao nosso próximo refúgio, não seria por muito tempo pois acabariam por nos encontrar nesta cidade, mas como era aquele local onde nova terra se unira a Magnificat, não sendo ainda bem conhecido por aqueles que sempre viveram nestas terras, estaríamos a salvo. Não sabia quanto tempo teríamos, queria que fosse o suficiente para amar Emma mais uma vez, juntando-me a ela e sentindo-a viva em mim novamente. Encontramos uma casa de madeira simples, aparentava estar bem cuidada apesar da sua idade… Pela cor das madeiras parecia ter bastantes séculos, parecia- me simplesmente maravilhosa e observei a expressão de Emma no meu colo, a sua face dava-me paz… Alessandra percebera e se sentara perto, encostada a uma árvore, ficando de vigia para caso pudessem-nos encontrar antes do tempo. Toda aquela pequena casa parecia já pronta para a nossa chegada, sorri pensando na perspicácia de Alessandra… Agora podia ter um tempinho para que sentisse novamente aqueles nossos momentos, que apenas as memórias podem contar… Pousei suavemente seu corpo na cama, queria que ela repousasse, era o mais importante a fazer no momento. O resto podia esperar, eu ficaria sentado a observá-la, tentando entender a razão pela qual ela estava assim tão fraca. Teimosia, aquela que Emma tinha, nunca se dava por enfraquecida, não importava realmente como sua saúde estava. Essa sua tão avassaladora forma de ser dava cabo de qualquer juízo que pudesse eu ter… Levantando-se e caminhando lentamente até mim, com aquele seu olhar de quem sabia o que queria e que iria acabar por ter, ia enfeitiçando cada parte de mim… Maus pensamentos cada vez mais ficavam vazios no imenso desejo que agora
  • 43. atravessava entre nós, tentava permanecer a pensar para que ela não levasse a sua avante e finalmente voltasse para a cama, descansando um pouco pela sua fraqueza ainda misteriosa para mim… Tudo se esfumou na minha mente quando se sentou em mim, aproximando sua respiração à minha pele e seus lábios ao meu ouvido, sussurrando que ela estaria bem melhor caso eu deixasse de estar tenso, agarrando violentamente meu cabelo e puxando minha cabeça para trás, beijando suavemente o meu pescoço… Toda aquela mulher se apoderou de mim, quebrando qualquer tentativa de calma e desencadeando toda aquela sede que tinha dela, que faltava em mim… Seus olhos pulsantes e vitoriosos cantavam vitória enquanto a levava de volta para a cama, desta vez para a cansar ainda mais… Sua pele, seus cabelos, seus olhos… Tudo aquilo que mudara nela permanecia com o mesmo sentir, com o mesmo cheiro, fazendo-me desejar loucamente voltar a tê-la em mim e sentir a nossa união loucamente intravável. Que mais tortuosa loucura desenfreada que ambos sentíamos um no outro, sem fim, sem cor, sem vida… Pois fazíamos a vida, as cores, o inicio de todo o fim da infinidade em nós… Indescritíveis momentos de pura glória! Sentia a sua pele fria na minha que ardia, ardia por querê-la a cada momento, cada vez mais e mais, sem fim à vista. Certamente não haveria sensação melhor que esta, ela era a sensação que a minha vida sempre desenhara como sonho, realidade que agora atravessava meu coração e mantinha minha alma cativa. Tudo isto era dela, sem que se tornasse dona de mim, me dei completamente pelos olhares calados daquela noite em que a resgatei das águas do mar. Algumas horas tinham passado, sentia-me em plena sintonia com a natureza que nos rodeava por fora destas pequenas paredes de madeira… Apetecia-me cheirar um pouco de natureza antes de voltar-me novamente para a procura pela cura que devolvesse a Emma suas forças, destroçava-me vê-la assim.
  • 44. Por mais que as coisas passassem, por mais força que Emma tentava ter, eu sabia, bem cá dentro, que essa não era a verdade. Neste momento seu próprio corpo estava contra ela, mostrando a fraqueza que ela agora vivia. Não sei a razão pela qual ela estava deste jeito, tenho pensado em tanta coisa… É cristalino como água que ela nem Alessandra me diriam o que tinha acontecido. Gostava tanto de puder apagar isso tudo das suas memórias, certamente tinha sido algo altamente marcante ao ponto de colocar a minha cara amada neste estado. O sol estava luminoso como sempre e seus raios me aqueciam a face… A melancolia abatia-se sobre mim, pudesse eu nunca ter conhecido Emma. Assim ela nunca sofria assim, eu nunca iria sentir-me impotente por não puder fazer nada para que tudo mude. E era isso que era, um impotente em toda esta guerra, incompetente por não levar a paz ao meu povo de Magnificat. Com Alessandra ainda acordada, continuando a observar as redondezas, optei por a mandar descansar. Iria assumir o seu posto e assim talvez todos estes meus pensamentos aliados a minhas mágoas fossem desaparecendo, apesar de saber que isso nunca aconteceria. A única coisa que me podia fazer sorrir era Emma, só de pensar nela minha alma já sorria, vivendo alegremente na esperança de puder ama-la cada vez mais e mais. Estar longe dela era completamente impossível pois toda a minha alma já era dela, tudo em mim tinha sua marca. Nunca iria sair da minha memória, podia até perder a memória, mas meu coração estava absolutamente rendido a aquela pessoa que era a minha amada, eu era apenas o amor que sentia por ela. O resto estava apenas a acontecer à minha volta. Amá-la era tudo para mim, me sentiria um grande nada sem este amor eterno que sinto por ela. Se tivesse que escolher entre sofrer ao ama-la e não ama-la eu preferia sem qualquer impasse sofrer todos os dias desta minha vida imortal. Pura teimosia, este amor, que me impedia de ser algo além da minha alma cativa. Isso nunca foi um problema para mim, nem nunca será. Ela despertara em mim a minha essência, duma forma tão absoluta e intima que nunca mais esquecerei.
  • 45. Agora além de melancólico, estava absolutamente absorvido nestes pensamentos que meu coração invadia na cabeça. Depressa me dirigi de novo à minha amada, deixando o meu posto de vigia. Minha alma precisava imensamente de estar de novo junto a ela, uma dependência total, e eu bem sabia disso… Meu coração batia mais forte apenas por pensar nela, parecia uma loucura total. Belo louco que eu sai! Um louco inteiramente feliz… Emma permanecia deitada, ainda estava fraca e eu não sabia como melhorá-la. Aproximei-me dela, seu braço me pedia que fosse rápido, ela também sentia a minha falta… Logo me sentei na cama com a sua face no meu peito, passava suavemente a minha mão na sua face, para que ela me sentisse aqui, eu iria ficar eternamente a seu lado, tudo em mim era dela. Alessandra estava a dormir, parecia um anjo… O exército entrou de rompante pela porta, rapidamente me levantei, levando em meus braços Emma, tentando segura-la com toda a minha força para que não nos pudessem separar. Ela se segurava em meus braços, desejando que tudo passasse e que apenas ficássemos juntos. Eu bem sabia que isso não ia acontecer, em mim brotavam lágrimas por saber que estávamos condenados… Eles não podem fazer nada contra nós porém, pior do que matar-nos juntos, era maternos vivos separados. Eles se aproximavam com cuidado, Alessandra tinha acabado de acordar e se colocara à nossa frente, indo contra eles, tentando defender-nos como nunca ninguém tinha feito. Conseguira levá-los para fora, mas rapidamente tinham entrado quatro soldados, aproximando rapidamente para nos tentar separar. Abracei Emma com toda a força possível, tentando manter-nos unidos, mas nada havia a fazer, já sabíamos como tudo poderia acabar. Meus começaram a fraquejar, minha alma começou a chorar por dentro quando nos conseguiram separar… Eu tentava a todo o custo ir para junto dela, seu corpo estava fraco demais para que conseguisse fugir deles, rapidamente a apanhariam…Consegui libertar-me, estava agora a ir em socorro da minha vida, mas rapidamente me apanharam antes que chegasse a Emma…
  • 46. Alessandra tinha acabado por ser morta enquanto me defendia, me tinham posto de, com quatro pessoas a segurarem-me, uma delas segurava minha cabeça para que me amarrassem. Certamente faziam conta de me matarem, por isso estavam a tentar prender-me o mais possível para que não conseguisse fugir. Mas era curioso, como é que eles iriam conseguir matar-me? Mas nada conseguiu sem ser morrer… Salvando-me, tinha morto todos aqueles que me preparavam para algo. Foi ao libertar-me que perdeu tudo aquilo que tinha pois entrara um soldado que rapidamente conseguiu mata-la, morreram ali os dois, frente a frente. Ela fora um anjo que me apoiou quando cativo, um anjo que me levou até a minha amada, um anjo que nos libertou apesar de não ter sido por muito tempo. Merecia tudo menos morrer deste jeito, devia de ter morrido eu, eu é que devia de ter sido levado. Emma e Alessandra eram umas vítimas. E tudo por causa do mundo que eu criei. Infeliz de mim, de novo só, sem mim mesmo, de novo em minha saudade, despojado de toda a minha felicidade, de toda a minha alma. Iria procurar respostas, tudo o que acontecera só me motivou para fazer mais. Agora tinha que reunir alguém para que invadisse o antigo covil de Francesca para que as questões fossem respondidas. E eu fazia questão de os interrogar a todos, um a um, lentamente e da pior forma possível. Eu nada conseguia fazer além de tudo voltar ao normal, não iria descansar sem que a minha persistência fosse usada para a incompetência que teimava em aparecer em mim…
  • 47. VIII. A Vingança Algo gritava no interior de mim, algo que começava a retorcer-se por dentro e a querer crescer e consumir a minha alma. Tinha acabado de encontrar o sítio ideal para que o corpo de Alessandra pudesse ter o seu descanso, e amo intensamente cada sentimento que se abandona em mim, rompendo tudo aquilo que fui e sou, deixando que tudo em mim seja puramente o que sinto… Dei por mim num mar de lágrimas revoltantes, sentindo aquele vazio por dentro se abater em mim e ficar absolutamente sedento de vontade de justiça. Iria justiçar todos estes acontecimentos pelas minhas próprias mãos. Todo este sofrimento sentido em minha volta apenas me fazia querer cada vez mais que tudo estivesse no devido lugar. Meus punhos serraram, eram joelhos que se desprendiam até ao solo verde, perdendo forças, sentindo aquela enorme impotência que ultimamente muito se aproximava de minha alma. Rapidamente ergui de novo minha face prostrada por terra, não eram alturas de desistir, nada nem ninguém me poderia fazer sentir forças para continuar. Porém algo em mim se reacendia, deixando meu corpo de novo a pé, dirigindo-se para reunir as minhas pessoas de Magnificat. Porque tudo ainda estava nas minhas mãos, ainda que por pouco tempo… Não era altura para lamúrias, não havia tempo para me sentir incompetente… Era altura para agir, reagir e tratar de tudo para que tudo finalmente tenha a resposta devida. E eu iria tratar de tudo para que as respostas fossem dadas. Agora que tinha reunido todos aqueles que me iriam ajudar a capturar os meus inimigos, rasgando deles toda a verdade de tudo isto que estava a acontecer, podia seguir finalmente à partida desses que nem a sua vida mortal mereciam, quanto mais a vida imortal! Iniciamos a nossa demanda pela busca da justiça, tendo a máximo cuidado pois certamente eles já estariam preparados para que eu reunisse e os atacasse. Haveria sangue derramado mas certamente que tudo acabaria por ser
  • 48. como esperava, iríamos conseguir capturar todos aqueles que estão contra o mundo e cada um pagaria o preço de o fazerem. Como já previa, a nossa chegada já era esperada. As tropas da falsa Emma esperavam atentamente a nossa chegada, travando de imediato esta inevitável batalha. Rapidamente manejei minha espada, mostrando que se iniciara a hora do derradeiro combate, nada iria ser como da última vez. Necessitava deles vivos, mas nem todos… Prisioneiros para que se procedesse um interrogatório a cada um, era esse o meu principal pensamento. Enquanto meus homens se encarregavam de aprisionar aqueles que se rendiam, eu seguia em frente, procurando a principal causa de todo este alarido. A minha missão era chegar a Pedro e à falsa Emma antes que conseguissem escapar. Na realidade eram poucos, aqueles, que se opunham à minha chegada, a maioria se rendia, os que não se rendiam sentiam a minha espada friccionando em cada parte de si, perdendo totalmente a capacidade de me vencerem. Nada nem ninguém me impediria de desvendar onde estava a minha amada, ninguém conseguiria parar-me, eu tinha a loucura suficiente para que tudo fosse tratado. Aquele que eu fora já estava no passado, enquanto não voltasse a sentir o meu amor na totalidade, enquanto esta agonia e raiva permanecer em mim, não pararei nem recuarei qualquer passo. Determinação e loucura, eram as palavras mais certas para mim. Estes pensamentos ainda me davam mais força para prosseguir, aliado à minha imortalidade, sentia-me totalmente imparável. Encontraria Emma nem que fosse no fim do mundo, pois percorreria tudo e vasculharia qualquer local, não me importando os meios pelos quais teria de seguir… Agora que entrara na zona que em outrora tinha sido secreta e escondida para mim, toda aquela área em que fiquei prisioneiro, abandonado pela ilusão daquela a quem teve a infeliz ideia de tomar a imagem de minha amada, uma enorme
  • 49. raiva se apoderava de mim… Sentia uma vontade enorme de a encontrar logo e mostrar-lhe o que faria com a sua alma. Só de pensar da forma como a minha alma estava quando a vira fraca, sem forças, desgastada pelas acções que fizeram com ela… Não sabendo ainda a razão por ela estar naquele estado, tendo ela sido de novo tirada de mim a toda a força, tentando matarem-me para que ela não tivesse mais amparo, que nunca mais a procurassem para que ela fosse finalmente abandonada por tudo no mundo… Era absolutamente revoltante. Eu jamais a irei abandonar. Tudo em mim é dela, tudo o que me ilumina é a sua luz, não irão ter a oportunidade de apagarem a luz que me ilumina, essa sua luz já é minha para toda a eternidade por mais que tentem mudar. Não por ela ser minha, mas por sermos apenas um só, sem separações nem tomadas de posse… Simplesmente um só ser unido no derradeiro e triunfante amor que inflama vidas e cria a maravilhosa felicidade. Não tinham o direito de nos tentarem separar, de tentarem separar o que já não é possível ser repartido. E agora sentiriam inteiramente a razão pela qual nunca o deveriam ter feito, sentiriam na pele cada pedaço de sofrimento que infligiram, delicada delicia para a minha mente… Seriam lentos os meus interrogatórios, eu os faria a todos para que nada pudesse escapar. Não me iriam omitir de novo o paradeiro da minha musa, permitir que isso ocorra de novo estava totalmente fora de questão! Andava rapidamente por cada parte do seu esconderijo, vasculhava cada compartimento com bastante rigidez, para que tivesse certeza de não haver qualquer novo local oculto onde estivessem escondidos. Os nervos iam crescendo em mim cada vez que acabava de revistar, desejava encontrá-los logo para que a justiça fosse feita. Não poderiam sair impunes disto, não podiam! Encontrei aquele quarto em que Emma estivera repousando enquanto a sua fraqueza continuava a perdurar, até que Alessandra me tinha levado até lá, mas ninguém lá estava. Já era de esperar que não a mantivessem cativa no local onde eu
  • 50. certamente iria procurar em primeiro lugar, caso tivesse sobrevivido à tentativa de assassinato… Vasculhei tudo onde poderia ser encontrado um esconderijo, mas a vontade de sentir o seu cheiro novamente me deixava desarmado, queria tê-la novamente a meu lado. Pudesse eu agora protegê-la… Mas nada conseguira sem ser perdê-la de novo. Não podia estancar as lágrimas que na minha face rolavam e refrescavam a minha mente quente de raiva e de vingança… Aproximei-me dos lençóis que tiveram a oportunidade de estarem com ela, sentirem o seu corpo descansado, almofada em que a sua mente certamente permanecia lutando pela sua fraqueza… Agarrei a almofada, fechando os olhos para que sentisse melhor a sua presença. Por uns momentos cheguei a sentir-me calmo, mas rapidamente todas as memórias voltaram à minha mente, eu não podia parar agora. Ela precisava de mim. Por baixo da almofada estava um livro estranho, com um título de uma língua já morta, que faria este livro perto da minha amada? Guardá-lo-ei para que depois possa obter mais respostas… Mas agora era tempo de continuar a seguir o meu caminho… Surpreendentemente, ao entrar numa das salas, encontrei uma mulher à minha espera, a seu lado tinha um gato negro que me parecia mesmo aquele que tinha sobrevivido quando eu renascera do meu velho corpo para a eternidade. Essa mulher tinha uns cabelos lisos, outros revoltos, combinando inteiramente com o seu olhar confiante e desafiador. Sua posição sentada, totalmente serena e esperando pela minha chegada, tendo até um pequeno sorriso traçado em seus lábios, permanecendo totalmente muda, não movendo nem sequer um passo. Dentro de mim a raiva ia aumentando, meu corpo queria esmagá-la até que dissesse onde eles estavam, para que eu pudesse finalmente fazer justiça. Rapidamente ela se levantou, dirigindo-se em minha direcção, sendo seguida pelo gato. Mas antes que ela se tivesse aproximado o suficiente de mim, senti uma
  • 51. mão em meu ombro, fazendo-me virar rapidamente para trás tentando me defender… Mas era Katie, quase que a tinha ferido com a minha espada mas a sua mente lhe tinha alertado pois colocara a outra mão sobre a minha, me impedindo de a atacar. “Eu vim pois sei que nada poderás fazer contra esta mulher, não permitiria que saísses morto daqui e que todas as possibilidades de reaver Emma salva se esfumassem com a tua morte.” Uma enorme gargalhada surgiu por detrás de mim, de rompante, fazendo-me virar novamente para aquela que anteriormente se dirigia para mim. Sentia a presença de Katie bem junto a mim, como defesa, caso aquela mulher algo tentasse… “Minha cara Katie, como se pudesse fazer algo para me impedir!” Riu-se de novo, prosseguindo… “Como certamente já deves saber, nada encontrarão aqui. Foi tempo perdido.” “Eu irei até qualquer lugar e varrerei tudo até que encontre o que procuro, e não vai ser uma mulherzinha qualquer que me vai impedir.” Respondi rispidamente, a fúria apoderava-se de mim, se não fosse a mão de Katie em meu braço, eu certamente perderia qualquer calma. “E que determinação! Viva! Insultos bem ditos, nada melhor… Pena nada do que digas aconteça, só mesmo em sonhos… Tenho pena de ti, tanta esperança, tanta fúria, tanta garra e continuas no lado errado. Devias de aproveitar todos esses teus atributos em juntar-te a nós.” Não faltava serenidade e sarcasmo em suas palavras. Idiota, era o que eu era, devia de estar já a tratar-lhe da saúde do que pôr-me a ter uma conversa de comadres. Tinha que despachar isto tudo o quanto antes, antes que acontecesse algo através duma loucura minha… Katie sussurrou para que eu tivesse calma, que não era a hora nem o momento de atacar esta mulher. “Vês como até aí a tua amiga é inteligente? Bem ela sabe que deverias pensar em juntar-te a mim em vez de estares ai com pensamentos menos próprios para um cavalheiro.”
  • 52. “Não coloques palavras em cima das minhas, ou serás assim tão desprezível? Sei quem és e isso não te pode dar qualquer motivo de orgulho, até acho desastroso.” Contrapôs tão rapidamente Katie que quase nem conseguira ouvir todas as palavras. Que saberia ela? Pelo menos parecia ter resultado pois o sorriso da tal mulher tinha tomado uma expressão séria. “A que vieste? Certamente não foi para traçar novas amizades e muito menos para reavivar as velhas…” Foi a melhor forma de me acalmar, teria de despachar isto para que finalmente pudesse encontrar os outros dois. “Ah, finalmente algo que se torna útil e me leva daqui para fora, era complicado questionar-me rapidamente? Eu vim providenciar o silêncio destes dois…” Dito isto, estalou os dedos e rapidamente apareceram uns homens com falsa Emma e Pedro. “Eles nunca te dirão onde Emma está, pois já nem sabem… A memória às vezes consegue traçar rasteiras, coitados. E Emma está onde deve estar, nada podes fazer para que ela volte. Por isso mais vale desistires ou terei que voltar de novo, o que seria chato.” Fez uma vénia e saiu mesmo antes de eu poder dizer qualquer coisa… Que mulher estranha, que situação… Mas se pensava que iria parar estava muito enganada. Todos seriam interrogados, alguém iria saber de alguma coisa! Tinham de saber. Mas Katie soubera de tudo isto, era a hora de saber o que ela me podia dizer. “Quanto ao que se acabou de passar… Que foi isto?” “Não é hora para questões, temos que levar todos os prisioneiros para Magnificat, principalmente esses dois. Depois falaremos de Margareth.” E mais uma vez, abusando da já pouca paciência que tenho, ajudei todos aqueles que me apoiavam a transportar todos os prisioneiros para Magnificat. Mas iria obter respostas, voltaria a ter Emma a meu lado e em paz. Era uma promessa, uma promessa eterna. Esperava ansiosamente a hora em que tudo ficaria em minhas mãos, torturando todos aqueles que merecem. Finalmente podia dar-lhes o que mais merecem…