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EIXO TEMÁTICO A LITERATURA BRASILEIRA E OUTRAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS
Tema 2: Estilos de época na literatura brasileira e em outras manifestações culturais.
Tópico 42: Realismo/Naturalismo
Habilidade 42.0. Ler textos e obras representativos do Realismo / Naturalismo brasileiro, produtiva e
autonomamente.
Por que ensinar o tópico
O Realismo e o Naturalismo são duas estéticas paralelas, com a segunda praticamente podendo ser entendida como
um prolongamento da primeira.
Realismo é a denominação genérica da reação aos ideais românticos que caracterizou a segunda metade do século
XIX. As profundas transformações vividas pela sociedade européia exigiam uma nova postura diante da realidade;
não havia mais espaço para as exageradas idealizações românticas. Ou nas palavras do escritor português Eça de
Queirós: “O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento; – o
Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para
condenar o que houver de mau na nossa sociedade”.
Desse modo, o Realismo irá refletir sobre a impossibilidade de concretização das fantasias sentimentais e
idealizações tão caras ao Romantismo, mostrando a impotência e a alienação românticas diante dos princípios da
realidade. Essa nova forma literária passa a olhar os indivíduos como representantes de certos grupos sociais, só
apresentando significado dentro das narrativas se expressarem as vivências e as idéias de seus grupos. O romance
realista presta-se muito mais à observação e à análise psicológica, com personagens de compleições contraditórias,
o que dá vazão a reinterpretações do quadro social idealizado pelo Romantismo. Nesse sentido, o romance realista
irá fugir das peripécias subjetivas românticas, privilegiando a análise psicológica, o estudo dos caracteres e das
motivações e tendências da vida psíquica, vista em suas relações com o momento histórico, o meio ambiente e com
a instintividade humana.
O Naturalismo pode ser entendido como um prolongamento do Realismo. As duas estéticas são quase paralelas. O
Naturalismo, na verdade, apresenta praticamente todos os princípios e características do Realismo, tais como o
predomínio da objetividade, da observação e da verossimilhança. O seu dado particular é a visão cientificista da
existência. Nesse sentido, o homem é o produto de seu meio, com o qual se confunde e do qual se mostra preso.
Nos romances naturalistas, as fantasias e idealizações românticas cedem espaço à instintividade, às relações
luxuriosas, às taras, à indignidade e aos crimes.
Condições prévias para ensinar
É importante destacar que o termo Realismo é bastante amplo, servindo para designar as mais variadas tendências
artísticas, porém, como doutrina estética surge na segunda metade do século XIX, com a publicação de Madame
Bovary, do francês Gustave Flaubert, em 1850.
Historicamente, o estudante deverá ter conhecimento de certos fatos que mudaram a percepção de sociedade e de
mundo, principalmente na segunda metade do século XIX.
A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, entra numa nova fase; o capitalismo se estrutura em moldes
modernos, com o surgimento de grandes complexos industriais. Entretanto, a massa de operários urbana se
avoluma, formando uma população marginalizada que não partilha os benefícios gerados pelo progresso industrial:
pelo contrário, é explorada e sujeita a condições subumanas de trabalho.
Essa nova sociedade serve de pano de fundo para uma nova interpretação da realidade, que gera teorias de
variadas posturas ideológicas. Numa seqüência cronológica surge, primeiramente, o Positivismo, de Auguste Comte,
preocupado com o fato, defendendo o cientificismo no pensamento filosófico e a conciliação entre ordem e
progresso. Em seguida aparece Socialismo Científico, de Marx e Engels, a partir da publicação, em 1848,
do Manifesto Comunista, que abre caminho para o materialismo histórico, isto é, o modo de produção da vida
material condiciona o processo de vida social, político e intelectual em geral, e a luta de classes; e o Evolucionismo,
de Darwin, que expõe seus estudos sobre a evolução das espécies pelo processo da seleção natural, negando,
portanto, a origem divina defendida pelo cristianismo.
Todas essas novas correntes filosóficas e científicas, e ainda o Determinismo, de Hypolite Taine, segundo o qual a
obra de arte seria determinada por três fatores: meio, momento e raça - esta, no que se refere à hereditariedade,
influenciaram sobremaneira os autores realistas, principalmente os naturalistas, donde se falar em cientificismo nas
obras desse período.
O que ensinar
TÓPICO E SUBTÓPICOS DE CONTEÚDO HABILIDADES
42. Realismo / Naturalismo
42.0. Ler textos e obras representativos do Realismo /
Naturalismo brasileiro, produtiva e autonomamente.
42.1. Reconhecer a importância do Realismo- Naturalismo
brasileiro para a formação da consciência nacional e o
desenvolvimento da literatura brasileira.
42.2. Identificar, em textos literários do Realismo / Naturalismo,
marcas discursivas e ideológicas desse estilo de época e seus
efeitos de sentido.
42.3. Relacionar características discursivas e ideoógicas de
obras realistas / naturalistas brasileiras ao contexto histórico de
sua produção, circulação e recepção.
42.4. Reconhecer e caracterizar a contribuição dos principais
autores realistas / naturalistas nacionais para a literatura
brasileira.
42.5. Estabelecer relações intertextuais entre textos literários
realistas / naturalistas e outras manifestações literárias e
culturais de diferentes épocas.
42.6. Identificar efeitos de sentido da metalinguagem e da
intertextualidade em textos literários realistas / naturalistas.
42.7. Posicionar-se, como pessoa e como cidadão, frente a
valores, ideologias e propostas estéticas representadas em
obras literárias realistas / naturalistas.
42.8. Elaborar textos orais e escritos de análise e apreciação de
textos literários realistas / naturalistas.
Como ensinar (como trabalhar o tópico)
Em relação ao Realismo, o professor poderá se concentrar na obra de Machado de Assis. A estética realista surge
entre nós, a partir da publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas. O professor deverá salientar que o romance
realista apresenta uma narrativa mais voltada para a análise psicológica, criticando a sociedade a partir do
comportamento de determinadas personagens.
O romance machadeano, em particular, analisa a sociedade através de personagens capitalistas, ou seja,
pertencentes à classe dominante: o protagonista de Memórias póstumas de Brás Cubas, por exemplo, não produz,
vive do capital.
Costuma-se dividir a obra de Machado de Assis em duas fases: na primeira, chamada fase romântica ou de
amadurecimento, o autor ainda se mostra preso a alguns princípios da escola romântica; na segunda, chamada fase
realista ou de maturidade, já se encontra completamente definido pelas idéias realistas. Machado foi romancista,
contista e poeta, além de deixar algumas peças de teatro e inúmeras críticas, crônicas e correspondências.
O professor deverá privilegiar a produção em prosa da segunda fase do autor, isto é, a realista.
A análise psicológica das personagens, o egoísmo, o pessimismo, o negativismo, a linguagem correta, clássica, as
frases curtas, a técnica dos capítulos curtos e da conversa com o leitor são as principais características de seus
textos, ao lado da análise da sociedade e da crítica aos valores românticos, que devem ser salientadas. Além disso,
Machado também ironizou o próprio cientificismo da época, através do Humanitismo, filosofia criada pela
personagem Quincas Borba, em Memórias póstumas de Brás Cubas.
A concepção de mundo que transparece na obra de Machado de Assis, ao contrário da estética romântica, marca-se
por um acentuado pessimismo, uma visão trágica e amarga da existência humana. Tome-se como exemplo o
capítulo final de Memórias póstumas de Brás Cubas:
DAS NEGATIVAS
Entre a morte de Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessos narrados na primeira parte do livro. O
principal deles foi a invenção do emplasto Brás Cubas, que morreu comigo, por causa da moléstia que apanhei.
Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os homens, acima da ciência e da riqueza, porque eras a
genuína e direta inspiração do céu. O acaso determinou o contrário; e aí vós ficais eternamente hipocondríacos.
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui
califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o
pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência de Quincas Borba.
Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente
que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério; achei-me com um
pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma
criatura o legado da nossa miséria.
É importante frisar o humor em Machado de Assis, que funciona como uma espécie de válvula de escape diante da
constatação da miséria do homem. Esse humor, às vezes bastante irreverente, pode transformar-se em ironia e tem
função crítica, pois conduz o leitor a refletir sobre sentimentos elevados, como o amor, que aparece na sua obra,
muitas vezes, relacionado aos interesses financeiros, como se pode observar na seguinte passagem, extraída
também de Memórias póstumas de Brás Cubas:
Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis, nada menos.
Esse foi, cuido eu, o ponto máximo do nosso amor, o cimo da montanha, donde por algum tempo
divisamos os vales do leste e oeste e, por cima de nós o céu tranqüilo e azul. Repousado esse tempo, começamos a
descer a encosta, com as mãos presas ou soltas, mas a descer, a descer...
Além disso, o romance de Machado de Assis em questão revela que os bons sentimentos, quando surgem,
escondem sempre uma outra face, marcada pelo egoísmo e pela hipocrisia:
Quem não sabe que ao pé da cada bandeira pública, ostensiva, há muitas vezes outras bandeiras
modestamente particulares, que se hasteiam e flutuam à sombra daquela, e não raras vezes lhe sobrevivem?
A ironia é uma constante na obra de Machado, impondo uma série de reflexões sobre a própria condição da
existência humana; funcionando também como uma espécie de alerta ao comportamento de certos indivíduos na
sociedade.
Em relação às personagens, pode-se afirmar que são seres humanos comuns, que apresentam uma mistura de
sentimentos, às vezes contraditórios. O que interessa em suas personagens não é a descrição exterior, mas a
consciência de cada uma delas, o mundo interior, em que se encontra com freqüência: a paixão pelo dinheiro,
egoísmo e o medo da opinião alheia.
Além desses traços que marcam muitas de suas personagens, é fácil perceber a dissimulação, principalmente em
personagens femininas, como na célebre Capitu de Dom Casmurro; ou ainda a vaidade.
Sendo a preocupação maior de Machado de Assis o caráter, a vida interior das personagens, nas suas narrativas
observa-se que reflexão sobrepõe-se à ação, daí as constantes alegorias e digressões: em seus textos, o que
interessa não é mais a trama, o suspense folhetinesco tipicamente romântico, mas o estudo da alma humana. Muitas
vezes o narrador interfere na história, realizando digressões, análises sobre aquilo que está narrando.
Finalizando, Machado freqüentemente rompe com a narrativa cronológica, linear, ora começando pelo fim, ora pelo
meio, além dos constantes cortes com digressões e alegorias, para alguma reflexão ou conversa com o leitor.
Em relação à estética naturalista, o professor poderá privilegiar os romances de Aluísio Azevedo, por exemplo. Na
obra desse escritor, o destino do ser humano quase sempre é determinado pelo meio social em que vive e pela
hereditariedade. Nessa visão, de influência determinista, o livre arbítrio desaparece, ficando o indivíduo à mercê de
forças que estão além de seu controle.
A ficção naturalista é construída, portanto, sob o regime das leis científicas: o homem é um caso, um objeto a ser
cientificamente estudado, visto, não raro, sob um prisma biológico e/ou patológico.
O romancista assume uma atitude de frieza diante das personagens, pois ele é um observador que deve registrar
impessoalmente, com precisão e objetividade, a realidade,
Em relação à linguagem, a narrativa naturalista caracteriza-se ainda pela exatidão das descrições, pelo apelo à
minúcia e pelo vocabulário quase sempre simples, tendendo mais para o lado do coloquial e pelo uso quase que
constante de metáforas zoomórficas, isto é, a analogia entre o comportamento do ser humano e de animais.
O professor deverá também chamar a atenção acerca dos assuntos mais repulsivos e bestiais desenvolvidos por
essa estética, assim como de assuntos delicados como o homossexualismo, visto sob um ângulo patológico. Além
disso, frise-se que o Naturalismo trouxe à tona as mazelas das camadas desfavorecidas da sociedade.
A leitura na íntegra de uma de um romance como O cortiço, de Aluísio Azevedo, poderá aclarar todos esses traços
que marcaram a estética naturalista.
Por fim, o professor também poderá optar por uma leitura paralela e comparativa. A prosa regionalista brasileira, que
será introduzida na década de 1930, recupera e /ou atualiza vários traços que marcaram o nosso naturalismo, como
a importância do meio na configuração do indivíduo; assim como as taras e a instintividade presentes nas narrativas
naturalistas poderão ser observadas no teatro de Nélson Rodrigues, embora este se utilize amplamente também de
expedientes psicológicos, adentrando a conturbada psique humana.
Como avaliar
A leitura e conseqüente discussão de alguns trechos extraídos de romances de Machado de Assis ou de alguns de
seus contos, na íntegra, como “A cartomante”, “Conto de escola” ou “Um apólogo”, por exemplo, poderá dar uma
medida do caráter crítico, analítico e psicológico da obra machadeana.
Ainda em relação à obra de Machado de Assis, o professor poderá pedir aos estudantes que façam uma analogia
entre o Humanitismo, tal como pregado pela personagem Quincas Borba, e a nossa condição contemporânea. Desse
modo, o professor poderá, por exemplo, a partir da leitura e discussão do texto abaixo, incentivar e avaliar a
capacidade crítica dos estudantes em relação à sociedade atual, por meio de resenhas ou de pequenos textos
dissertativos/argumentativos.
– Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de
uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência
da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra.
Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos,
que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as
duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A
paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos.
Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se
a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora
e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que
virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas
Em relação ao Naturalismo, o procedimento poderá ser o mesmo. A partir de trechos de O cortiço, por exemplo, o
professor poderá pedir uma leitura atualizada das denúncias estabelecidas pelo escritor naturalista.
Também a leitura de narrativas (ou de alguns de seus trechos/capítulos) como Quarto de despejo, de Carolina Maria
de Jesus, ou de Malhação do Judas carioca, de João Antônio, que pertencem à literatura da segunda metade do
século XX, poderá servir para que os estudantes desenvolvam resenhas ou pequenos ensaios críticos acerca da
situação dos marginalizados em nossa sociedade.
O importante é que o estudante saiba, a partir das leituras e discussões realizadas, apreender a visão crítica que
cada autor lança sobre a nossa sociedade e sobre o comportamento humano de forma mais ampla, para a ampliação
da sua própria visão e experiência de mundo.
Leituras recomendadas
BOSI, Alfredo et alii. Machado de Assis. Coleção Escritores Brasileiros. São Paulo: Ática, 1982.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 3ª edição. São Paulo: Cultrix, 1989.
CALDWELL, Helen. O Otelo Brasileiro de Machado de Assis. Cotia: Ateliê Editorial, 2002.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. 7 ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1993.
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades/ Ouro sobre o Azul, 2004.
GLEDSON, John. Machado de Assis: impostura e realismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
KOTHE, Flávio R. O cânone imperial. Brasília: UNB, 2000.
SCHWARZ, Roberto. 4 ed. Ao vencedor as batatas. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1992.
SODRÉ, Nelson Werneck. O Naturalismo no Brasil. 2 ed. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1992.
TEIXEIRA, Ivan. Apresentação de Machado de Assis. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
Orientação Pedagógica: Tópico 42. – Realismo/Naturalismo
Currículo Básico Comum - Língua Portuguesa Ensino Médio
Autor(a): Gilberto Xavier da Silva e Luiz Carlos Junqueira Maciel
Centro de Referência Virtual do Professor - SEE-MG/2009

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Literaturas sobre realismo (7)

  • 1. EIXO TEMÁTICO A LITERATURA BRASILEIRA E OUTRAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS Tema 2: Estilos de época na literatura brasileira e em outras manifestações culturais. Tópico 42: Realismo/Naturalismo Habilidade 42.0. Ler textos e obras representativos do Realismo / Naturalismo brasileiro, produtiva e autonomamente. Por que ensinar o tópico O Realismo e o Naturalismo são duas estéticas paralelas, com a segunda praticamente podendo ser entendida como um prolongamento da primeira. Realismo é a denominação genérica da reação aos ideais românticos que caracterizou a segunda metade do século XIX. As profundas transformações vividas pela sociedade européia exigiam uma nova postura diante da realidade; não havia mais espaço para as exageradas idealizações românticas. Ou nas palavras do escritor português Eça de Queirós: “O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento; – o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para condenar o que houver de mau na nossa sociedade”. Desse modo, o Realismo irá refletir sobre a impossibilidade de concretização das fantasias sentimentais e idealizações tão caras ao Romantismo, mostrando a impotência e a alienação românticas diante dos princípios da realidade. Essa nova forma literária passa a olhar os indivíduos como representantes de certos grupos sociais, só apresentando significado dentro das narrativas se expressarem as vivências e as idéias de seus grupos. O romance realista presta-se muito mais à observação e à análise psicológica, com personagens de compleições contraditórias, o que dá vazão a reinterpretações do quadro social idealizado pelo Romantismo. Nesse sentido, o romance realista irá fugir das peripécias subjetivas românticas, privilegiando a análise psicológica, o estudo dos caracteres e das motivações e tendências da vida psíquica, vista em suas relações com o momento histórico, o meio ambiente e com a instintividade humana. O Naturalismo pode ser entendido como um prolongamento do Realismo. As duas estéticas são quase paralelas. O Naturalismo, na verdade, apresenta praticamente todos os princípios e características do Realismo, tais como o predomínio da objetividade, da observação e da verossimilhança. O seu dado particular é a visão cientificista da existência. Nesse sentido, o homem é o produto de seu meio, com o qual se confunde e do qual se mostra preso. Nos romances naturalistas, as fantasias e idealizações românticas cedem espaço à instintividade, às relações luxuriosas, às taras, à indignidade e aos crimes. Condições prévias para ensinar É importante destacar que o termo Realismo é bastante amplo, servindo para designar as mais variadas tendências artísticas, porém, como doutrina estética surge na segunda metade do século XIX, com a publicação de Madame Bovary, do francês Gustave Flaubert, em 1850. Historicamente, o estudante deverá ter conhecimento de certos fatos que mudaram a percepção de sociedade e de mundo, principalmente na segunda metade do século XIX. A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, entra numa nova fase; o capitalismo se estrutura em moldes modernos, com o surgimento de grandes complexos industriais. Entretanto, a massa de operários urbana se avoluma, formando uma população marginalizada que não partilha os benefícios gerados pelo progresso industrial: pelo contrário, é explorada e sujeita a condições subumanas de trabalho. Essa nova sociedade serve de pano de fundo para uma nova interpretação da realidade, que gera teorias de variadas posturas ideológicas. Numa seqüência cronológica surge, primeiramente, o Positivismo, de Auguste Comte, preocupado com o fato, defendendo o cientificismo no pensamento filosófico e a conciliação entre ordem e progresso. Em seguida aparece Socialismo Científico, de Marx e Engels, a partir da publicação, em 1848, do Manifesto Comunista, que abre caminho para o materialismo histórico, isto é, o modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, político e intelectual em geral, e a luta de classes; e o Evolucionismo, de Darwin, que expõe seus estudos sobre a evolução das espécies pelo processo da seleção natural, negando, portanto, a origem divina defendida pelo cristianismo.
  • 2. Todas essas novas correntes filosóficas e científicas, e ainda o Determinismo, de Hypolite Taine, segundo o qual a obra de arte seria determinada por três fatores: meio, momento e raça - esta, no que se refere à hereditariedade, influenciaram sobremaneira os autores realistas, principalmente os naturalistas, donde se falar em cientificismo nas obras desse período. O que ensinar TÓPICO E SUBTÓPICOS DE CONTEÚDO HABILIDADES 42. Realismo / Naturalismo 42.0. Ler textos e obras representativos do Realismo / Naturalismo brasileiro, produtiva e autonomamente. 42.1. Reconhecer a importância do Realismo- Naturalismo brasileiro para a formação da consciência nacional e o desenvolvimento da literatura brasileira. 42.2. Identificar, em textos literários do Realismo / Naturalismo, marcas discursivas e ideológicas desse estilo de época e seus efeitos de sentido. 42.3. Relacionar características discursivas e ideoógicas de obras realistas / naturalistas brasileiras ao contexto histórico de sua produção, circulação e recepção. 42.4. Reconhecer e caracterizar a contribuição dos principais autores realistas / naturalistas nacionais para a literatura brasileira. 42.5. Estabelecer relações intertextuais entre textos literários realistas / naturalistas e outras manifestações literárias e culturais de diferentes épocas. 42.6. Identificar efeitos de sentido da metalinguagem e da intertextualidade em textos literários realistas / naturalistas. 42.7. Posicionar-se, como pessoa e como cidadão, frente a valores, ideologias e propostas estéticas representadas em obras literárias realistas / naturalistas. 42.8. Elaborar textos orais e escritos de análise e apreciação de textos literários realistas / naturalistas. Como ensinar (como trabalhar o tópico) Em relação ao Realismo, o professor poderá se concentrar na obra de Machado de Assis. A estética realista surge entre nós, a partir da publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas. O professor deverá salientar que o romance realista apresenta uma narrativa mais voltada para a análise psicológica, criticando a sociedade a partir do comportamento de determinadas personagens. O romance machadeano, em particular, analisa a sociedade através de personagens capitalistas, ou seja, pertencentes à classe dominante: o protagonista de Memórias póstumas de Brás Cubas, por exemplo, não produz, vive do capital. Costuma-se dividir a obra de Machado de Assis em duas fases: na primeira, chamada fase romântica ou de amadurecimento, o autor ainda se mostra preso a alguns princípios da escola romântica; na segunda, chamada fase realista ou de maturidade, já se encontra completamente definido pelas idéias realistas. Machado foi romancista, contista e poeta, além de deixar algumas peças de teatro e inúmeras críticas, crônicas e correspondências. O professor deverá privilegiar a produção em prosa da segunda fase do autor, isto é, a realista. A análise psicológica das personagens, o egoísmo, o pessimismo, o negativismo, a linguagem correta, clássica, as frases curtas, a técnica dos capítulos curtos e da conversa com o leitor são as principais características de seus textos, ao lado da análise da sociedade e da crítica aos valores românticos, que devem ser salientadas. Além disso, Machado também ironizou o próprio cientificismo da época, através do Humanitismo, filosofia criada pela personagem Quincas Borba, em Memórias póstumas de Brás Cubas. A concepção de mundo que transparece na obra de Machado de Assis, ao contrário da estética romântica, marca-se por um acentuado pessimismo, uma visão trágica e amarga da existência humana. Tome-se como exemplo o capítulo final de Memórias póstumas de Brás Cubas: DAS NEGATIVAS Entre a morte de Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessos narrados na primeira parte do livro. O principal deles foi a invenção do emplasto Brás Cubas, que morreu comigo, por causa da moléstia que apanhei. Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os homens, acima da ciência e da riqueza, porque eras a genuína e direta inspiração do céu. O acaso determinou o contrário; e aí vós ficais eternamente hipocondríacos.
  • 3. Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência de Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério; achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. É importante frisar o humor em Machado de Assis, que funciona como uma espécie de válvula de escape diante da constatação da miséria do homem. Esse humor, às vezes bastante irreverente, pode transformar-se em ironia e tem função crítica, pois conduz o leitor a refletir sobre sentimentos elevados, como o amor, que aparece na sua obra, muitas vezes, relacionado aos interesses financeiros, como se pode observar na seguinte passagem, extraída também de Memórias póstumas de Brás Cubas: Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis, nada menos. Esse foi, cuido eu, o ponto máximo do nosso amor, o cimo da montanha, donde por algum tempo divisamos os vales do leste e oeste e, por cima de nós o céu tranqüilo e azul. Repousado esse tempo, começamos a descer a encosta, com as mãos presas ou soltas, mas a descer, a descer... Além disso, o romance de Machado de Assis em questão revela que os bons sentimentos, quando surgem, escondem sempre uma outra face, marcada pelo egoísmo e pela hipocrisia: Quem não sabe que ao pé da cada bandeira pública, ostensiva, há muitas vezes outras bandeiras modestamente particulares, que se hasteiam e flutuam à sombra daquela, e não raras vezes lhe sobrevivem? A ironia é uma constante na obra de Machado, impondo uma série de reflexões sobre a própria condição da existência humana; funcionando também como uma espécie de alerta ao comportamento de certos indivíduos na sociedade. Em relação às personagens, pode-se afirmar que são seres humanos comuns, que apresentam uma mistura de sentimentos, às vezes contraditórios. O que interessa em suas personagens não é a descrição exterior, mas a consciência de cada uma delas, o mundo interior, em que se encontra com freqüência: a paixão pelo dinheiro, egoísmo e o medo da opinião alheia. Além desses traços que marcam muitas de suas personagens, é fácil perceber a dissimulação, principalmente em personagens femininas, como na célebre Capitu de Dom Casmurro; ou ainda a vaidade. Sendo a preocupação maior de Machado de Assis o caráter, a vida interior das personagens, nas suas narrativas observa-se que reflexão sobrepõe-se à ação, daí as constantes alegorias e digressões: em seus textos, o que interessa não é mais a trama, o suspense folhetinesco tipicamente romântico, mas o estudo da alma humana. Muitas vezes o narrador interfere na história, realizando digressões, análises sobre aquilo que está narrando. Finalizando, Machado freqüentemente rompe com a narrativa cronológica, linear, ora começando pelo fim, ora pelo meio, além dos constantes cortes com digressões e alegorias, para alguma reflexão ou conversa com o leitor. Em relação à estética naturalista, o professor poderá privilegiar os romances de Aluísio Azevedo, por exemplo. Na obra desse escritor, o destino do ser humano quase sempre é determinado pelo meio social em que vive e pela hereditariedade. Nessa visão, de influência determinista, o livre arbítrio desaparece, ficando o indivíduo à mercê de forças que estão além de seu controle. A ficção naturalista é construída, portanto, sob o regime das leis científicas: o homem é um caso, um objeto a ser cientificamente estudado, visto, não raro, sob um prisma biológico e/ou patológico. O romancista assume uma atitude de frieza diante das personagens, pois ele é um observador que deve registrar impessoalmente, com precisão e objetividade, a realidade, Em relação à linguagem, a narrativa naturalista caracteriza-se ainda pela exatidão das descrições, pelo apelo à minúcia e pelo vocabulário quase sempre simples, tendendo mais para o lado do coloquial e pelo uso quase que constante de metáforas zoomórficas, isto é, a analogia entre o comportamento do ser humano e de animais. O professor deverá também chamar a atenção acerca dos assuntos mais repulsivos e bestiais desenvolvidos por essa estética, assim como de assuntos delicados como o homossexualismo, visto sob um ângulo patológico. Além disso, frise-se que o Naturalismo trouxe à tona as mazelas das camadas desfavorecidas da sociedade. A leitura na íntegra de uma de um romance como O cortiço, de Aluísio Azevedo, poderá aclarar todos esses traços que marcaram a estética naturalista.
  • 4. Por fim, o professor também poderá optar por uma leitura paralela e comparativa. A prosa regionalista brasileira, que será introduzida na década de 1930, recupera e /ou atualiza vários traços que marcaram o nosso naturalismo, como a importância do meio na configuração do indivíduo; assim como as taras e a instintividade presentes nas narrativas naturalistas poderão ser observadas no teatro de Nélson Rodrigues, embora este se utilize amplamente também de expedientes psicológicos, adentrando a conturbada psique humana. Como avaliar A leitura e conseqüente discussão de alguns trechos extraídos de romances de Machado de Assis ou de alguns de seus contos, na íntegra, como “A cartomante”, “Conto de escola” ou “Um apólogo”, por exemplo, poderá dar uma medida do caráter crítico, analítico e psicológico da obra machadeana. Ainda em relação à obra de Machado de Assis, o professor poderá pedir aos estudantes que façam uma analogia entre o Humanitismo, tal como pregado pela personagem Quincas Borba, e a nossa condição contemporânea. Desse modo, o professor poderá, por exemplo, a partir da leitura e discussão do texto abaixo, incentivar e avaliar a capacidade crítica dos estudantes em relação à sociedade atual, por meio de resenhas ou de pequenos textos dissertativos/argumentativos. – Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas Em relação ao Naturalismo, o procedimento poderá ser o mesmo. A partir de trechos de O cortiço, por exemplo, o professor poderá pedir uma leitura atualizada das denúncias estabelecidas pelo escritor naturalista. Também a leitura de narrativas (ou de alguns de seus trechos/capítulos) como Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, ou de Malhação do Judas carioca, de João Antônio, que pertencem à literatura da segunda metade do século XX, poderá servir para que os estudantes desenvolvam resenhas ou pequenos ensaios críticos acerca da situação dos marginalizados em nossa sociedade. O importante é que o estudante saiba, a partir das leituras e discussões realizadas, apreender a visão crítica que cada autor lança sobre a nossa sociedade e sobre o comportamento humano de forma mais ampla, para a ampliação da sua própria visão e experiência de mundo. Leituras recomendadas BOSI, Alfredo et alii. Machado de Assis. Coleção Escritores Brasileiros. São Paulo: Ática, 1982. BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 3ª edição. São Paulo: Cultrix, 1989. CALDWELL, Helen. O Otelo Brasileiro de Machado de Assis. Cotia: Ateliê Editorial, 2002. CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. 7 ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1993. CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades/ Ouro sobre o Azul, 2004. GLEDSON, John. Machado de Assis: impostura e realismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. KOTHE, Flávio R. O cânone imperial. Brasília: UNB, 2000. SCHWARZ, Roberto. 4 ed. Ao vencedor as batatas. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1992. SODRÉ, Nelson Werneck. O Naturalismo no Brasil. 2 ed. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1992. TEIXEIRA, Ivan. Apresentação de Machado de Assis. São Paulo: Martins Fontes, 1997. Orientação Pedagógica: Tópico 42. – Realismo/Naturalismo Currículo Básico Comum - Língua Portuguesa Ensino Médio Autor(a): Gilberto Xavier da Silva e Luiz Carlos Junqueira Maciel Centro de Referência Virtual do Professor - SEE-MG/2009