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PREPARAÇÃO E FUNCIONALIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS
DE FERRITA DE MANGANÊS DOPADAS COM ZINCO
Michelly Christine dos SANTOS; Emília Celma de Oliveira LIMA
Universidade Federal de Goiás, Instituto de Química
E-mail: michellycds@gmail.com
Palavras-chave: nanopartículas; ferrita; magnetização de saturação; funcionalização.
1 INTRODUÇÃO
As propriedades magnéticas das nanopartículas são essenciais para
aplicações biológicas, tais como imagem por ressonância magnética (IRM),
marcação celular e hipertermia (KHANDHAR; FERGUSON; KRISHNAN, 2011). Uma
estratégia encontrada na literatura é a dopagem das nanopartículas de óxido de
ferro com outros metais para se obter uma elevada magnetização de saturação (MS)
(HUH et al., 2007).
Vários métodos de preparação, como sol-gel, hidrotermal e decomposição
térmica, têm sido utilizados para a síntese de nanopartículas de ferrita dopadas que
apresentam propriedades novas e melhoradas quando comparadas com as
propriedades do material bulk (ARULMURUGAN et al., 2005). Jang et al. (2009), por
exemplo, relataram o aumento de contraste de IRM por nanopartículas de ferrita de
manganês dopadas com zinco, obtidas por decomposição térmica, em função da
elevada MS na estequiometria Zn0,4Mn0,6Fe2O4. Nanopartículas de ferrita também
podem ser preparadas pelo método de coprecipitação química, que é feito em meio
aquoso e mais adequado para aplicação biológica (AUZANS et al., 1999).
Nesse trabalho foram sintetizadas nanopartículas de ferrita de manganês
dopadas com zinco pelo método de coprecipitação e fez-se a funcionalização da
mesma com diferentes ligantes: ácido 2,3-dimercaptossuccínico (FMZ-DMSA), ácido
cítrico (FMZ-CIT) e trifosfato de sódio (FMZ-FOS). Foram preparadas suspensões
coloidais aquosas das nanopartículas funcionalizadas e os resultados de
caracterização dessas estão apresentados e discutidos nesse texto.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Preparação das nanopartículas
As nanopartículas de ferrita de manganês dopadas com zinco foram
preparadas a partir da coprecipitação dos íons Fe3+
, Zn2+
e Mn2+
, na estequiometria
de interesse, em meio alcalino. A solução contendo os íons metálicos foi gotejada
em uma solução de NaOH (0,64 molL-1
) em ebulição sob agitação constante e
vigorosa. O pH foi mantido em 12, com a intenção de evitar o desvio da
estequiometria inicial dos íons e a formação de partículas não-magnéticas em
valores de pH maiores (ARULMURUGAN et al., 2005). As nanopartículas formadas
foram separadas do sobrenadante, lavadas e dispersas em água destilada.
2.2 Caracterização das nanopartículas
A análise de difração de raios X da ferrita foi realizada em um equipamento
XRD 6000 (Shimadzu) equipado com um tubo de radiação Cu-K. Os dados foram
coletados em 2 de 20° a 70° e refinados pelo software Basic Process. O parâmetro
de rede foi calculado com o software Unit Cell. O diâmetro médio das nanopartículas
foi estimado a partir da largura a meia altura do pico de difração (311) através da
fórmula de Debye-Scherrer (CULLITY, 1978).
Para determinar a estequiometria das nanopartículas obtidas foram realizadas
medidas de espectroscopia de absorção atômica usando um espectrofotômetro
Perkim Elmer 5000.
2.3 Funcionalização das nanopartículas
As nanopartículas dispersas em água foram tratadas com soluções de cada
um dos ligantes, de modo que a concentração final da suspensão foi de 0,05 molL-1
.
As misturas foram submetidas à agitação mecânica por 12 horas para promover a
funcionalização e, após esse período, foram dialisadas para remoção de ligante em
excesso. O pH foi ajustado para 7,4 e as suspensões foram centrifugadas para
remoção de agregados.
2.4 Caracterização das nanopartículas funcionalizadas
As medidas de magnetização das nanopartículas secas foram realizadas a
temperatura ambiente em um campo de 18 kOe utilizando um magnetômetro de
amostra vibrante (VSM) da GMW Magnet Systems 3472-70.
Foram medidos os valores de potencial zeta das nanopartículas em
suspensão usando medidas de mobilidade eletroforética e o diâmetro hidrodinâmico
foi determinado por espalhamento dinâmico de luz em um equipamento Zetasizer
Nano ZS90 (Malvern Instruments).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Caracterização das nanopartículas
A Figura 1 apresenta o padrão de DRX da ferrita sintetizada, que mostra picos
característicos de uma única fase cristalina cúbica do tipo espinélio. O parâmetro de
rede calculado foi de a = 8,459 Å, que se aproxima do valor encontrado na literatura
para a ferrita de manganês e zinco: a = 8,461 Å (PDF 74-2399). O diâmetro médio
estimado das partículas foi de aproximadamente 9 nm.
20 30 40 50 60 70
(440)
(511)
(422)
(400)
(311)
(220)
Intensidade(u.a.)
2 (graus)
Figura 1. Padrão de DRX das nanopartículas de ferrita de manganês dopadas com zinco sintetizadas.
Os resultados de análise por espectroscopia de absorção atômica indicaram a
formação de ferrita não estequiométrica: a proporção Zn:Mn:Fe foi de 0,49:0,66:2.
Antic et al. (2004) sugerem que o desvio na estequiometria de ferritas pode ser
devido a capacidade dos cátions ferro e manganês mudarem seus estados de
valência e ocupar sítios tetraédricos e octaédricos sem controle. A dopagem com
zinco também pode resultar na ferrita não estequiométrica em que íons Zn2+
, que
devem ocupar sítios tetraédricos, estão desordenados entre sítios octaédricos e
tetraédricos (JANG et al., 2009).
3.2 Caracterização das nanopartículas funcionalizadas
As curvas de magnetização das nanopartículas antes e após a
funcionalização com os ligantes são apresentadas na Figura 2(A). A ausência de
campos coercitivos indica que as nanopartículas são superparamagnéticas.
(A) (B)
Amostra MS(emu/g)
Ferrita 40,1
FMZ-DMSA 26,3
FMZ-CIT 28,0
FMZ-FOS 17,0
Figura 2. (A) Curvas de magnetização das nanopartículas funcionalizadas obtidas a 300 K. (B)
Valores de magnetização de saturação.
Como observado na Figura 1(B), a ferrita pura apresentou MS comparável ao
descrito para nanopartículas de ferrita de manganês (YANG et al., 2010). A MS da
ferrita sintetizada inferior à MS de MnFe2O4 bulk pode ser devido à presença de íons
Zn2+
em sítios octaédricos, que contribuem para a diminuição da magnetização
(JANG et al., 2009). Nota-se também que a MS diminuiu quando as nanopartículas
foram funcionalizadas, devido a contribuição diamagnética dos ligantes.
Os altos valores negativos do potencial zeta mostrados na Tabela 1
evidenciam que houve funcionalização da superfície das nanopartículas com os
ligantes utilizados, originando suspensões coloidais estáveis em pH fisiológico. A
superfície das nanopartículas funcionalizadas adquire altos valores de carga
negativa, provindos dos grupos carboxilato (FMZ-DMSA e FMZ-CIT) e dos grupos
fosfato (FMZ-FOS).
Tabela 2. Características físico-químicas das nanopartículas estudadas.
Amostra Potencial zeta (mV) Diâmetro hidrodinâmico (nm)
FMZ-DMSA -40,1 58,9
FMZ-CIT -35,8 51,6
FMZ-FOS -49,1 56,3
Os valores de diâmetro hidrodinâmico e de potencial zeta indicam a formação
de suspensões com alta estabilidade coloidal. A existência dos maiores valores de
potencial zeta negativo confere maior repulsão eletrostática entre as nanopartículas
e reduz a aglomeração destas, resultando em baixos valores de diâmetro
hidrodinâmico (JIANG; OBERDÖRSTER; BISWAS, 2009).
-15000 -10000 -5000 0 5000 10000 15000
-40
-30
-20
-10
0
10
20
30
40
Ferrita
FMZ-CIT
FMZ-DMSA
FMZ-FOS
Magnetizaç‫م‬o(emu/g)
Campo magnético (kOe)
4 CONCLUSÃO
Os resultados obtidos no trabalho mostram que foi possível a preparação de
nanopartículas superparamagnéticas de ferrita de manganês dopadas com zinco e
sua posterior funcionalização com diferentes ligantes para dispersão em meio
aquoso. O método de síntese é promissor por favorecer a formação de
nanopartículas com uma única fase cristalina, que apresentam potencialidades para
aplicações biológicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTIC, B.; KREMENOVIC, A.; NIKOLIC, A. S.; STOILJKOVIC, M. Cation distribution
and size-strain microstructure analysis in ultrafine Zn-Mn ferrites obtained from
acetylacetonato complexes. The Journal of Physical Chemistry B, v. 108, p.
12646-12651, 2004.
ARULMURUGAN, R.; JEYADEVAN, B.; VAIDYANATHAN, G.; SENDHILNATHAN,
S. Effect of zinc substitution on Co-Zn and Mn-Zn ferrite nanoparticles prepared by
co-precipitation. Journal of Magnetism and Magnetic Materials, v. 288, p. 470-
477, 2005.
AUZANS, E.; ZINS, D.; BLUMS, E.; MASSART, R. Synthesis and properties of Mn-
Zn ferrite ferrofluids. Journal of Materials Science, v. 34, p. 1253-1260, 1999.
CULLITY, B. D. Elements of X-ray diffraction. 2. ed. Canada: Addison-Wesley,
1978.
HUH, Y.; LEE, E.; LEE, J.; JUN, Y.; KIM, P.; YUN, C.; KIM, J.; SUH, J.; CHEON, J.
Hybrid nanoparticles for magnetic resonance imaging of target-specific viral gene
delivery. Advanced Materials, v. 19, p. 3109-3112, 2007.
JANG, J.; NAH, H.; LEE, J.; MOON, S. H.; KIM, M. G.; CHEON, J. Critical
enhancements of MRI contrast and hyperthermic effects by dopant-controlled
magnetic nanoparticles. Angewandte Chemie, v. 48, p. 1234-1238, 2009.
JIANG, J.; OBERDÖRSTER, G.; BISWAS, P. Characterization of size, surface
charge, and agglomeration state of nanoparticle dispersions for toxicological studies.
Journal of Nanoparticle Research, v. 11, p. 77-89, 2009.
KHANDHAR, A. P.; FERGUSON, R. M.; KRISHNAN, K. M. Monodispersed
magnetite nanoparticles optimized for magnetic fluid hyperthermia: implications in
biological systems. Journal of Applied Physics, v. 109, 07B310, 2011.
YANG, H.; ZHANG, C.; SHI, X.; HU, H.; DU, X.; FANG, Y.; MA, Y.; WU, H.; YANG,
S. Water-soluble superparamagnetic manganese ferrite nanoparticles for magnetic
resonance imaging. Biomaterials, v. 31, p. 3667-3673, 2010.
Órgãos Financiadores: CNPq; INCT-Nanobio; FUNAPE; FINEP.

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  • 1. PREPARAÇÃO E FUNCIONALIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE FERRITA DE MANGANÊS DOPADAS COM ZINCO Michelly Christine dos SANTOS; Emília Celma de Oliveira LIMA Universidade Federal de Goiás, Instituto de Química E-mail: michellycds@gmail.com Palavras-chave: nanopartículas; ferrita; magnetização de saturação; funcionalização. 1 INTRODUÇÃO As propriedades magnéticas das nanopartículas são essenciais para aplicações biológicas, tais como imagem por ressonância magnética (IRM), marcação celular e hipertermia (KHANDHAR; FERGUSON; KRISHNAN, 2011). Uma estratégia encontrada na literatura é a dopagem das nanopartículas de óxido de ferro com outros metais para se obter uma elevada magnetização de saturação (MS) (HUH et al., 2007). Vários métodos de preparação, como sol-gel, hidrotermal e decomposição térmica, têm sido utilizados para a síntese de nanopartículas de ferrita dopadas que apresentam propriedades novas e melhoradas quando comparadas com as propriedades do material bulk (ARULMURUGAN et al., 2005). Jang et al. (2009), por exemplo, relataram o aumento de contraste de IRM por nanopartículas de ferrita de manganês dopadas com zinco, obtidas por decomposição térmica, em função da elevada MS na estequiometria Zn0,4Mn0,6Fe2O4. Nanopartículas de ferrita também podem ser preparadas pelo método de coprecipitação química, que é feito em meio aquoso e mais adequado para aplicação biológica (AUZANS et al., 1999). Nesse trabalho foram sintetizadas nanopartículas de ferrita de manganês dopadas com zinco pelo método de coprecipitação e fez-se a funcionalização da mesma com diferentes ligantes: ácido 2,3-dimercaptossuccínico (FMZ-DMSA), ácido cítrico (FMZ-CIT) e trifosfato de sódio (FMZ-FOS). Foram preparadas suspensões coloidais aquosas das nanopartículas funcionalizadas e os resultados de caracterização dessas estão apresentados e discutidos nesse texto. 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Preparação das nanopartículas
  • 2. As nanopartículas de ferrita de manganês dopadas com zinco foram preparadas a partir da coprecipitação dos íons Fe3+ , Zn2+ e Mn2+ , na estequiometria de interesse, em meio alcalino. A solução contendo os íons metálicos foi gotejada em uma solução de NaOH (0,64 molL-1 ) em ebulição sob agitação constante e vigorosa. O pH foi mantido em 12, com a intenção de evitar o desvio da estequiometria inicial dos íons e a formação de partículas não-magnéticas em valores de pH maiores (ARULMURUGAN et al., 2005). As nanopartículas formadas foram separadas do sobrenadante, lavadas e dispersas em água destilada. 2.2 Caracterização das nanopartículas A análise de difração de raios X da ferrita foi realizada em um equipamento XRD 6000 (Shimadzu) equipado com um tubo de radiação Cu-K. Os dados foram coletados em 2 de 20° a 70° e refinados pelo software Basic Process. O parâmetro de rede foi calculado com o software Unit Cell. O diâmetro médio das nanopartículas foi estimado a partir da largura a meia altura do pico de difração (311) através da fórmula de Debye-Scherrer (CULLITY, 1978). Para determinar a estequiometria das nanopartículas obtidas foram realizadas medidas de espectroscopia de absorção atômica usando um espectrofotômetro Perkim Elmer 5000. 2.3 Funcionalização das nanopartículas As nanopartículas dispersas em água foram tratadas com soluções de cada um dos ligantes, de modo que a concentração final da suspensão foi de 0,05 molL-1 . As misturas foram submetidas à agitação mecânica por 12 horas para promover a funcionalização e, após esse período, foram dialisadas para remoção de ligante em excesso. O pH foi ajustado para 7,4 e as suspensões foram centrifugadas para remoção de agregados. 2.4 Caracterização das nanopartículas funcionalizadas As medidas de magnetização das nanopartículas secas foram realizadas a temperatura ambiente em um campo de 18 kOe utilizando um magnetômetro de amostra vibrante (VSM) da GMW Magnet Systems 3472-70. Foram medidos os valores de potencial zeta das nanopartículas em suspensão usando medidas de mobilidade eletroforética e o diâmetro hidrodinâmico
  • 3. foi determinado por espalhamento dinâmico de luz em um equipamento Zetasizer Nano ZS90 (Malvern Instruments). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Caracterização das nanopartículas A Figura 1 apresenta o padrão de DRX da ferrita sintetizada, que mostra picos característicos de uma única fase cristalina cúbica do tipo espinélio. O parâmetro de rede calculado foi de a = 8,459 Å, que se aproxima do valor encontrado na literatura para a ferrita de manganês e zinco: a = 8,461 Å (PDF 74-2399). O diâmetro médio estimado das partículas foi de aproximadamente 9 nm. 20 30 40 50 60 70 (440) (511) (422) (400) (311) (220) Intensidade(u.a.) 2 (graus) Figura 1. Padrão de DRX das nanopartículas de ferrita de manganês dopadas com zinco sintetizadas. Os resultados de análise por espectroscopia de absorção atômica indicaram a formação de ferrita não estequiométrica: a proporção Zn:Mn:Fe foi de 0,49:0,66:2. Antic et al. (2004) sugerem que o desvio na estequiometria de ferritas pode ser devido a capacidade dos cátions ferro e manganês mudarem seus estados de valência e ocupar sítios tetraédricos e octaédricos sem controle. A dopagem com zinco também pode resultar na ferrita não estequiométrica em que íons Zn2+ , que devem ocupar sítios tetraédricos, estão desordenados entre sítios octaédricos e tetraédricos (JANG et al., 2009). 3.2 Caracterização das nanopartículas funcionalizadas As curvas de magnetização das nanopartículas antes e após a funcionalização com os ligantes são apresentadas na Figura 2(A). A ausência de campos coercitivos indica que as nanopartículas são superparamagnéticas.
  • 4. (A) (B) Amostra MS(emu/g) Ferrita 40,1 FMZ-DMSA 26,3 FMZ-CIT 28,0 FMZ-FOS 17,0 Figura 2. (A) Curvas de magnetização das nanopartículas funcionalizadas obtidas a 300 K. (B) Valores de magnetização de saturação. Como observado na Figura 1(B), a ferrita pura apresentou MS comparável ao descrito para nanopartículas de ferrita de manganês (YANG et al., 2010). A MS da ferrita sintetizada inferior à MS de MnFe2O4 bulk pode ser devido à presença de íons Zn2+ em sítios octaédricos, que contribuem para a diminuição da magnetização (JANG et al., 2009). Nota-se também que a MS diminuiu quando as nanopartículas foram funcionalizadas, devido a contribuição diamagnética dos ligantes. Os altos valores negativos do potencial zeta mostrados na Tabela 1 evidenciam que houve funcionalização da superfície das nanopartículas com os ligantes utilizados, originando suspensões coloidais estáveis em pH fisiológico. A superfície das nanopartículas funcionalizadas adquire altos valores de carga negativa, provindos dos grupos carboxilato (FMZ-DMSA e FMZ-CIT) e dos grupos fosfato (FMZ-FOS). Tabela 2. Características físico-químicas das nanopartículas estudadas. Amostra Potencial zeta (mV) Diâmetro hidrodinâmico (nm) FMZ-DMSA -40,1 58,9 FMZ-CIT -35,8 51,6 FMZ-FOS -49,1 56,3 Os valores de diâmetro hidrodinâmico e de potencial zeta indicam a formação de suspensões com alta estabilidade coloidal. A existência dos maiores valores de potencial zeta negativo confere maior repulsão eletrostática entre as nanopartículas e reduz a aglomeração destas, resultando em baixos valores de diâmetro hidrodinâmico (JIANG; OBERDÖRSTER; BISWAS, 2009). -15000 -10000 -5000 0 5000 10000 15000 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 Ferrita FMZ-CIT FMZ-DMSA FMZ-FOS Magnetizaç‫م‬o(emu/g) Campo magnético (kOe)
  • 5. 4 CONCLUSÃO Os resultados obtidos no trabalho mostram que foi possível a preparação de nanopartículas superparamagnéticas de ferrita de manganês dopadas com zinco e sua posterior funcionalização com diferentes ligantes para dispersão em meio aquoso. O método de síntese é promissor por favorecer a formação de nanopartículas com uma única fase cristalina, que apresentam potencialidades para aplicações biológicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTIC, B.; KREMENOVIC, A.; NIKOLIC, A. S.; STOILJKOVIC, M. Cation distribution and size-strain microstructure analysis in ultrafine Zn-Mn ferrites obtained from acetylacetonato complexes. The Journal of Physical Chemistry B, v. 108, p. 12646-12651, 2004. ARULMURUGAN, R.; JEYADEVAN, B.; VAIDYANATHAN, G.; SENDHILNATHAN, S. Effect of zinc substitution on Co-Zn and Mn-Zn ferrite nanoparticles prepared by co-precipitation. Journal of Magnetism and Magnetic Materials, v. 288, p. 470- 477, 2005. AUZANS, E.; ZINS, D.; BLUMS, E.; MASSART, R. Synthesis and properties of Mn- Zn ferrite ferrofluids. Journal of Materials Science, v. 34, p. 1253-1260, 1999. CULLITY, B. D. Elements of X-ray diffraction. 2. ed. Canada: Addison-Wesley, 1978. HUH, Y.; LEE, E.; LEE, J.; JUN, Y.; KIM, P.; YUN, C.; KIM, J.; SUH, J.; CHEON, J. Hybrid nanoparticles for magnetic resonance imaging of target-specific viral gene delivery. Advanced Materials, v. 19, p. 3109-3112, 2007. JANG, J.; NAH, H.; LEE, J.; MOON, S. H.; KIM, M. G.; CHEON, J. Critical enhancements of MRI contrast and hyperthermic effects by dopant-controlled magnetic nanoparticles. Angewandte Chemie, v. 48, p. 1234-1238, 2009. JIANG, J.; OBERDÖRSTER, G.; BISWAS, P. Characterization of size, surface charge, and agglomeration state of nanoparticle dispersions for toxicological studies. Journal of Nanoparticle Research, v. 11, p. 77-89, 2009. KHANDHAR, A. P.; FERGUSON, R. M.; KRISHNAN, K. M. Monodispersed magnetite nanoparticles optimized for magnetic fluid hyperthermia: implications in biological systems. Journal of Applied Physics, v. 109, 07B310, 2011. YANG, H.; ZHANG, C.; SHI, X.; HU, H.; DU, X.; FANG, Y.; MA, Y.; WU, H.; YANG, S. Water-soluble superparamagnetic manganese ferrite nanoparticles for magnetic resonance imaging. Biomaterials, v. 31, p. 3667-3673, 2010. Órgãos Financiadores: CNPq; INCT-Nanobio; FUNAPE; FINEP.