1. +ONDE INVESTIR EM 2012?
A SELIC VAI CAIR. E AGORA?
O investidor brasileiro sempre teve uma posição vantajosa e relativamente
confortável em relação ao resto do mundo. Durante muito tempo, nossa taxa
de juros foi a mais alta do globo. E agora com a projeção de queda da Selic
para um dígito, onde investir?
Até hoje investir nunca foi uma tarefa muito "árdua" para o brasileiro, mal acostumado com a
Selic, a maior taxa de juros (em termos reais e nominais) do mundo. Prova disso é a alta
concentração de investimentos na renda fixa. Os fundos de Pensão, por exemplo, podiam
tranquilamente cumprir suas metas atuariais simplesmente comprando títulos do tesouro ou
CDBs, sem tomar maiores riscos em aplicações na bolsa ou até mesmo em ativos de crédito
privado (mercado ainda embrionário no Brasil). Com a queda da Selic, o investidor - institucional
ou pessoa física - vai precisar buscar novas alternativas e possivelmente, tomar mais risco.
O grande desafio do investidor é fazer uma boa alocação de ativos, que consiste em escolher
quais classes de ativos devem entrar na carteira, bem como o peso de cada ativo na composição
total. Para tanto é necessário mapear as diversas oportunidades e compará-las - já que nosso
capital é limitado - para então evoluir na escolha, sempre levando em consideração a relação
risco e retorno, e claro, o cenário macro-econômico.
É sabido que a crise na Europa está longe de um fim. E que portanto a volatilidade na bolsa deve
continuar presente em 2012. Logo, simplesmente migrar da renda fixa para a renda variável em
busca de retornos mais robustos, talvez não seja o mais apropriado (confira meu texto da edição
de dezembro'2011). Pois bem, acredito que o grande desafio deste ano é buscar melhores
rendimentos e diversificar a carteira dentro da própria renda fixa. É importante saber que
existem diversas alternativas de diferentes riscos e retornos, e conhecê-las é primordial.
Para fazer qualquer comparação, o investidor deve ter em mente a diferença entre taxa de juros
real e nominal. A taxa de juros real pode ser obtida “subtraindo-se” o índice de inflação de
determinado período da taxa de juros nominal (via de regra, é essa a taxa publicada em
relatórios, sites, revistas e jornais).
Fórmula de Fischer:
(1 + taxa real) = (1 + taxa nominal) / (1+ taxa de inflação)
A taxa de juros real reflete a correção monetária necessária para compensar a desvalorização da
moeda gerada pela inflação, podendo até mesmo ser negativa. Por exemplo: se num
determinado período o juros nominal for de 4% e a inflação for 5%, a taxa de juros real será
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negativa, ou seja, não será suficiente para compensar a desvalorização da moeda. Para a
surpresa de muitos, já faz um tempo que a caderneta de poupança tem apresentado rendimento
real negativo! O que significa dizer que na realidade, os poupadores estão perdendo poder
aquisitivo, que está sendo corroído pela inflação. Portanto, apesar de simples, investir na
poupança está longe de ser uma boa opção.
Diante disso, podemos concluir que, as NTN-Bs são uma excelente forma de proteção ao
investidor e que devem fazer parte de sua carteira (em maior ou menor peso).
O investidor deve compreender que não há fórmulas prontas a serem seguidas. E mais do que
nunca é hora de dizer adeus às simplificações, sair da "zona de conforto" e encarar o desafio da
gestão ativa, isto é, estar atento às mudanças na conjuntura econômica e praticar reavaliações
periódicas da estratégia / alocação adotada.
Engana-se quem acredita que a renda fixa não tem riscos. Resumidamente, podemos dizer que os
riscos das operações com esses tipos de ativos estão na capacidade do emissor (governo no
caso dos títulos públicos; ou empresas, no caso dos títulos privados) honrar a dívida (risco de
crédito); na impossibilidade da venda do ativo ou na ausência de investidores interessados em
adquiri-lo (risco de liquidez); e na possibilidade da variação da taxa de juros e dos indexadores
(risco de mercado). No caso dos títulos privados, o risco de mercado também inclui o prêmio de
risco, inerente a capacidade de pagamento do emissor do título.
Observe o quadro comparativo abaixo; vamos desvendar essa "sopa de letrinhas" e analisar o
que pode ou não ser interessante ter em carteira.
Começando pelo CDB (Certificado de Depósito Bancário) seu rendimento está atrelado a um
percentual do CDI negociado no ato da compra. O risco desse investimento é do banco emissor,
portanto, bancos de segunda e terceira linha costumam oferecer taxas mais altas, sendo que
investimentos de até R$ 70 mil (por CPF e por banco) estão garantidos pelo Fundo Garantidor de
Crédito (FGC). Acredito que, assim como no caso das NTN-Bs, devemos ter uma parcela de nossa
carteira alocada em CDB (que renda à partir de 106% do CDI).
Alternativamente, as LF (Letras Financeiras) têm atraído um forte fluxo de investimentos de
investidores de longo prazo, já que têm oferecido retorno maior que o CDB e títulos do tesouro.
Porém, a liquidez é baixa, o investidor vai ficar preso no papel por no mínimo 2 anos.
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As LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) também devem ser consideradas como fortes candidatas
a entrar no portfólio. Apelidadas de "CDB Imobiliário" costumam apresentar em média um
rendimento líquido de 90% do CDI (rendimento isento de IR). À primeira vista pode não parecer
interessante, mas, se compararmos a um CDB de prazo digamos acima de 24 meses (alíquota de
IR de 15% ), seria equivalente ao rendimento bruto de uma aplicação que pagasse 105,88% do
CDI. Para um prazo menor, de até 6 meses, por exemplo, se igualaria a um CDB com rendimento
bruto de 116,3%, praticamente impossível de encontrar. O prazo mínimo para aplicação é de 2
meses e, a Caixa Econômica Federal adota uma política para aplicações pouco restritiva,
permitindo investimentos a partir de R$ 50 mil.
A mesma comparação se aplica as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio ), que rendem em
média 90% do CDI. Também conhecidas como "CDB Agrícola", diferentemente das LCIs
oferecem isenção de IOF para aplicações de menos de 30 dias. Isso torna esse ativo muito
interessante para quem busca opções de curtíssimo prazo, uma vez que o rendimento obtido com
outras aplicações seria bastante corroído pelos impostos.
Sua principal vantagem é possuir lastro em produtos físicos, como soja e milho no caso das
commodities ou mesmo máquinas e equipamentos. É definida como sendo um título de crédito
nominativo, de livre negociação, que representa uma promessa de pagamento em dinheiro. Em
caso de inadimplência, pode ser executado judicialmente. O investimento em LCA é restrito a
investidores qualificados, isto é, pessoas físicas que possuam investimentos financeiros em valor
superior a R$ 300 mil.
Geralmente, por apresentarem rendimentos bastante atraentes os bancos reservam suas LCIs e
LCAs para os clientes private.
Já os CRIs (Certificado de Recebíveis Imobiliários) são títulos lastreados em créditos
imobiliários, garantidos por imóveis e que apresentam promessa de pagamento em dinheiro,
com a venda de imóveis residenciais, comerciais ou de lotes urbanos e aluguéis de shopping
centers e prédios comerciais. Ao adquirir um CRI, o investidor está comprando, na verdade, o
fluxo de recebimento de crédito concedido para a efetivação do empreendimento imobiliário, ou
seja, o rendimento vai se basear no fluxo de recebíveis que, neste caso, são os créditos
decorrentes de operação de venda e compra a prazo, ou financiamento e locação de imóveis,
sejam estes residenciais, comerciais ou industriais.
São bem mais arriscados que as LCIs. Além da baixa liquidez, o risco de inadimplência é mais
alto, pois o investidor não se torna credor do banco, mas de quem financiou o imóvel,
indiretamente, via securitizadora. Se os devedores finais forem pessoas físicas, o risco é bem
maior do que se for uma empresa de grande porte, por exemplo. A única garantia é o imóvel.
Em 2011, a Caixa Econômica Federal vendeu CRIs com aplicação mínima de R$ 10 mil e retorno
de 10% ao ano mais TR (taxa referencial).
Uma outra alternativa a ser considerada são as Debêntures, que representam títulos de crédito
privado, mais uma forma das empresas se capitalizarem no mercado. Oferecem maior risco,
portanto, pagam melhores taxas. Papéis de grandes empresas como Petrobras, Vale ou até
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mesmo o BNDES, possuem menor risco que empresas pequenas e médias, obviamente. Apesar
de existir mercado secundário, a liquidez ainda é pífia e por conta disso "o pedágio de saída" é
muito alto.
Para quem busca um retorno mais alto e gosta de risco, os FIDCs (Fundo de Investimentos em
Direitos Creditórios ou Fundo de Recebíveis) oferecem rentabilidades bem atraentes. Os direitos
creditórios, principal ativo das carteiras de FIDC, são direitos e títulos representativos de crédito,
originários de operações realizadas nos segmentos financeiro, comercial, industrial, imobiliário,
de hipotecas, de arrendamento mercantil e de prestação de serviços. Sua rentabilidade costuma
estar atrelada a um percentual do CDI, tratando-se de uma “expectativa de remuneração”, que
dependerá da performance dos ativos adquiridos pelo fundo, bem como do formato da operação
e da qualidade dos prestadores de serviços nela envolvidos (administradora, gestora, consultora
responsável pela seleção dos recebíveis, custodiante, etc). Rendem em média 150% do CDI,
variando como já foi dito conforme a qualidade dos recebíveis do fundo. A aplicação em FIDC é
restrita a investidores qualificados.
O mercado imobiliário deve seguir forte em 2012 e num cenário de taxa de juros declinantes os
FII (Fundo de Investimento Imobiliário) podem ser uma aposta interessante - como alternativa de
diversificação - para quem quiser arriscar um pouco mais.
O lado bom é que o investidor terceiriza para o Fundo toda a "dor de cabeça" (administração do
imóvel, documentação, taxas e impostos, vacância, e por aí vai). Cada Fundo estabelece seu
investimento inicial mínimo, podendo começar em R$ 1.000,00. O cotista pode obter a
valorização de suas cotas, além de receber uma remuneração mensal, proporcional ao
investimento efetuado e que será depositada diretamente em sua conta.
Vale lembrar que, investir em cotas de fundos imobiliários não é uma boa idéia para quem
precisa de liquidez, que é baixa, mesmo tendo suas cotas negociadas em Bolsa ou mercado de
balcão organizado. Além disso, os fundos de investimento imobiliário têm a forma de condomínio
fechado, ou seja, não admitem a possibilidade de resgate das cotas, a saída é a venda no
mercado secundário. O objetivo do fundo não caracteriza compromisso ou garantia por parte do
administrador. Ainda que o gestor da carteira do fundo mantenha um sistema de gerenciamento
de riscos, não há garantia de completa eliminação de possibilidade de perdas patrimoniais
para o fundo e, conseqüentemente, para o investidor.
Concluindo a análise, para aqueles que gostam de investir em ações, a dica é a mesma de 2011,
montar uma boa carteira de dividendos.
Pronto, agora você tem uma bela lição de casa pela frente ... Conhecer mais a fundo cada um
desses produtos e escolher quais deles devem compor o seu portfólio. Lembrando sempre que
essa composição deve ser revista de temos em tempos. Desejo um feliz - e rentável - 2012 a todos
os leitores.
Perguntas, comentários, sugestões através do Twitter: @eugenioinvest ou do site
www.eugenioinvest.com.br
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Cláudia Augelli - Sócio fundadora da Eugênio Invest e agente autônoma de investimentos
certificada pela CVM. Possui especialização em Finanças (Yale School of Management) e em
Corporate Finance (New York University). MBA em Mercado de Capitais e Derivativos pela BM&F.
Graduou-se com honras em Administração. É palestrante e professora de Finanças e Gestão de
Custos no Ibmec. Possui mais de 18 anos de experiência atuando em mercado financeiro, nos
bancos Credit Commercial de France (CCF), Banque Nationale de Paris (New York), Banco
Garantia, Credit Suisse First Boston (CSFB), Bear Stearns (London) e Banco Fator; nas áreas de
Tesouraria, Administração de Recursos, Research e Sales / Sales Trading. Também ocupou a
posição de Gerente Financeiro na Parmalat Participações.
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