O documento classifica e descreve vários tipos de erros ortográficos cometidos por estudantes, incluindo: 1) erros de representação da fala na grafia, 2) erros de supercorreção ao corrigir erros de transcrição, 3) erros por desconsiderar regras contextuais da língua portuguesa.
1. CLASSIFICAÇÃO DE ERROS
ORTOGRÁFICOS
ORTOGRAFIA – Carraher
Com relação a esse aspecto, observou-
se uma tendência muito grande de
representação da fala na grafia das
palavras. Isso ficou evidente na escrita
das palavras: entrá, para entrar;
resoveu para resolveu; coelinho
para coelhinho e outras.
2. ERROS POR SUPERCORREÇÃO
Esse tipo de erro surge à medida qm
que a criança vai compreendendo a
distinção entre a língua falada e a
escrita. Nesse processo evolutivo, ela
revela-se capaz de corrigir os erros de
transcrição da fala, resultando, em
conseqüência, o erro denominado
super correção. Esse erro apareceu na
grafia de palavras como: vio para viu;
voutou para voltou; pegol para
pegou; altora para autora e em
outras palavras.
3. ERROS POR DESCONSIDERAÇÃO
DAS REGRAS CONTEXTUAIS
No sistema ortográfico da língua portuguesa, não
podemos nos esquecer de que a seqüência dos sons e sua
representação não ocorre sempre muma mesma direção,
ou seja da esquerda para a direita. Há casos em que a
pronúncia de uma determinada letra exige que
consideramos a que vem depois. Nessa regra enquadra-se
a pronúncia da letra g, que difere se esta for seguida por
a, o, u ou por e e i.
Há ainda o erro por desconsiderar a regra de que
não emprega-se ç antes de e e de i ou no início da
palavra.
Constatamos o erro por desconsideração das regras
contextuais na escrita de algumas palavras, como por
exemplo: ningém para ninguém; de rrepente para
repente; e comceguia para conseguia e outras.
4. ERROS POR NÃO REPRESENTAÇÃO DA NASALIZAÇÃO e
POR TROCA DO TIL PELO N
Segundo o professor Daniel Alvarenga, da
UFMG, a criança tende a omitir na escrita de
palavras a letra n para representar a
nasalização, embora não o faça na leitura.
Apesar de não Ter havido maior incidência
desse tipo de erro, ele apareceu em algumas
palavras como: nuca, (nunca); casado
(cansado); loge (longe0; quando
(quando); encotrou (encontrou) e outras.
Em outras situações, em que o til é
empregado para representar a nasalização,
ocorre a sua troca pela n. Nesse caso, a
representação da nasalização não corresponde
à oficial, como podemos verificar na escrita da
palavra ranzinha para rãzinha.
5. ERROS POR TROCA DAS
HOMORGÂNICAS
Esses erros geralmente, surgem
em decorrência da não distinção
entre as consoantes surdas e
sonoras. Exemplos: vugir (fugir);
costosa (gostosa); fuchiu
(fugiu); espandado
(espantado); alvaces (alfaces).
6. ERROS RELACIONADOS À ORIGEM DA
PALAVRA
Há palavras cuja grafia não permite ao indivíduo
valer-se da regra contextual, para que possa
registrá-la corretamente. Palavras dessa natureza
exigem a memorização e não provocam
dificuldades na leitura, mas na escrita. São
exemplos dessa dificuldade o emprego do J ou G
antes de e e de i, o emprego do H no início das
palavras, o X com som de Z ou do C, o emprego
do Ç ou SS etc.
Esses erros foram evidenciados na grafia
das palavras: deichou para deixou; orta para
horta; lonje para longe; xegou para chegou;
pençar para pensar; nesça para nessa.
7. ERROS NAS SÍLABAS DE ESTRUTURA
COMPLEXA
É comum enfatizar-se, no processo de
alfabetização, a escrita de palavras
formadas por sílabas contando uma
consoante e uma vogal. Quando a
palavra apresenta sílabas de estrutura
diferente ou seja, composta de duas
consoantes e uma vogal ou de uma ou
mais consoantes após a vogal, o erro
ortográfico pode ocorrer. Exemplo:
mania (manhã) nenum (nenhum) e
peto (perto).
8. ERROS DE SEGMENTAÇÃO INDEVIDA
Observamos no ditado, uma pequena
incidência de erros de segmentação
indevida, como nas palavras a tras
(atrás) e sa io (saiu). No entanto,
esse tipo de erro ocorreu mais nas
produções de textos, na escrita das
palavras: a trás (atrás), com segui
(conseguiu), em draram (entraram),
da qui (daqui) e a quele (aquele).
9. ERROS POR AUSÊNCIA DE
SEGMENTAÇÃO
Esse tipo de erro foi bastante
considerável e mais freqüente de que
o erro anteriormente mencionado, de
modo particular nas composições.
Foram os seguintes: adona (a dona);
denovo (de novo); docaminho (do
caminho); aprocura (à procura);
soqueria (só queria); tipeguei (te
peguei); tepor ( te por) e
nuncamais (nunca mais).
10. ERROS POR TROCA DE ÃO POR AM
A troca do ão por am deu na grafia da palavra comilam para comilão.
O ditado constituiu-se de sentenças cujas palavras não foram
previamente treinadas pela professora e envolvendo dificuldades
diversas:
O cachorro correu atrás do gato.
Paulo chutou a bola.
A rãzinha saiu a passear perto do lago.
O menino pulava na grama molhada.
Sua aplicação foi feita pela supervisora pedagógica, com a
classe toda, num total de 30 alunos, sendo a leitura de cada sentença
feita duas vezes.
As sentenças foram lidas de modo fluente e as palavras
pronunciadas sem artificialismo, a fim de evitar alterações, pois as
pesquisas têm comprovado que a leitura natural tende a facilitar a
grafia correta das palavras.
A Língua Portuguesa, embora apresente uma única forma de
representação na escrita, varia na pronúncia nas diversas regiões do
país.
11. Continuação
Desse modo, quando o professor dita a palavra menino como se
pronúncia mininu, a criança registra como se fala. Esse fato é
conseqüência do artificialismo na pronúncia das palavras, pois
normalmente o professor dita meninô, julgando ser esta uma
maneira eficaz de se evitar o erro ortográfico. É obvio que no
ditado isso impede o aluno de revelar esse tipo de erro.
Contudo, ele vem à tona na escrita espontânea ou no registro
de uma palavra pronunciada naturalmente.
Daí a necessidade de se enfatizar a pronúncia natural das
palavras para que o aluno perceba a distinção entre língua
escrita e língua falada. Assim os erros do tipo transcrição da fala
tendem a diminuir.