Este documento discute como os filósofos trabalham e pensam. Apresenta que a razão filosófica é argumentativa, utilizando teses, argumentos e contra-argumentos. Também discute critérios para avaliar a força dos argumentos, como consistência com a tese defendida.
2. Reflexões
Filosofia 10.º ano
Isabel Bernardo
Catarina Vale
Módulo Inicial – Iniciação à
atividade filosófica
Como trabalha o filósofo?
A razão filosófica como uma
razão argumentativa.
Teses, argumentos e contra-
argumentos.
Critérios para avaliar
argumentos.
A grande aventura de René Magritte (1930) (pormenor)
3. Reflexões
Filosofia 10.º ano
Isabel Bernardo
Catarina Vale
A razão filosófica como uma razão
argumentativa
Pensar com uma atitude filosófica implica refletir critica e
racionalmente.
Pensar racionalmente implica descobrir razões que não
sejam boas apenas para nós.
Pensar racionalmente implica usar uma autoridade
universal.
fundamentos que serão aceites não apenas por aquele que
pensa, mas por todos os que possam refletir igualmente sobre
o assunto.
4. Reflexões
Filosofia 10.º ano
Isabel Bernardo
Catarina Vale
A razão filosófica como uma razão
argumentativa
A maior parte dos filósofos tem a convicção de que as suas
teorias não são apenas boas para si.
a razão filosófica visa a intersubjetividade, ou seja, a
possibilidade de outros seres racionais aceitarem como boa a
teoria proposta.
a razão filosófica aspira à verdade, isto é, à possibilidade
de haver acordo entre o pensamento e o que efetivamente
acontece.
5. Reflexões
Filosofia 10.º ano
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Catarina Vale
Paul Cézanne,
A residência do Jas de Bouffan, 1878
Como sabe o filósofo que a sua
teoria é verdadeira?
Para provar a sua teoria, o filósofo
utiliza recursos linguísticos e
argumentativos a que podemos
chamar de método discursivo da
filosofia.
Por isso, podemos afirmar que a
razão filosófica é argumentativa.
A razão filosófica como
uma
razão argumentativa
6. Reflexões
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Catarina Vale
Argumentação
Tese
(perspetiva, posição, conjunto
articulado de proposições que
respondem a um problema colocado)
Argumentos
(razões, que se expressam em
proposições, que justificam,
fundamentam, provam uma tese)
Contra-Argumentos
(razões, que se expressam em
proposições, que procuram mostrar a
falsidade de uma tese ou de um
argumento)
7. Reflexões
Filosofia 10.º ano
Isabel Bernardo
Catarina Vale
Quem não tem umas tintas de filosofia é um homem que
caminha pela vida fora sempre agrilhoado [preso] a
preconceitos que se derivaram do senso comum, das
crenças habituais do seu tempo e do seu país, das
convicções que cresceram no seu espírito sem a
cooperação ou o consentimento da razão.
Bertrand Russell (1912). Os Problemas da Filosofia. Trad, António Sérgio, 2001
Lisboa: Almedina, pp. 147-148 (adaptado).
Lê o texto que se segue.
Qual o tema do texto? Qual é a tese defendida pelo autor?
8. Reflexões
Filosofia 10.º ano
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Dirck van Baburen,
Prometeu agrilhoado, 1623
Problema: “O que acontece ao
homem que não é um pouco
filósofo?”.
Tese: “Quem não é um pouco
filósofo vive preso a
preconceitos que lhe foram
transmitidos sem que a sua
razão os tenha aceite”.
9. Reflexões
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O mundo tende, para tal homem, a tornar-se finito,
definido, óbvio; para ele, os objetos habituais não erguem
problemas, e as possibilidades infamiliares são
desdenhosamente rejeitadas.
Bertrand Russell (1912). Os Problemas da Filosofia. Trad, António Sérgio, 2001
Lisboa: Almedina, p. 148 (adaptado).
Lê agora o texto com que o autor sustenta a sua tese.
Quais os argumentos utilizados pelo autor?
No primeiro argumento, o autor defende que para o
homem que não é filósofo, o mundo tornar-se-á finito
(fechado) e que tudo o que for novo é rejeitado.
10. Reflexões
Filosofia 10.º ano
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Catarina Vale
Pelo contrário, quando começamos a filosofar, imediatamente
caímos na conta de que até os objetos mais ordinários conduzem
o espírito a certas perguntas a que incompletissimamente se dá
resposta. A filosofia sugere numerosas possibilidades que nos
conferem amplidão aos pensamentos, descativando-os da tirania
do hábito. Aumenta em muitíssimo o conhecimento no que diz
respeito ao que as coisas podem ser, varre o dogmatismo, um
tudo nada arrogante dos que nunca chegaram a empreender
viagens nas regiões da dúvida libertadora; e vivifica o sentimento
de admiração, porque nos mostra que as coisas que nos são
costumadas num determinado aspeto que não o é.
Bertrand Russell (1912). Os Problemas da Filosofia. Trad, António Sérgio, 2001
Lisboa: Almedina, p. 148 (adaptado).
Que outros argumentos são utilizados pelo autor?
Lê atentamente o texto e formula-os.
11. Reflexões
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Catarina Vale
O argumento que estivemos a analisar é muito mais complexo.
Por vezes, para identificar bem um argumento, temos de o
decompor em partes.
Segundo argumento - A filosofia:
mostra-nos que o óbvio esconde inúmeras perguntas
abre-nos inúmeras possibilidades de interrogar, o que nos
liberta do hábito e do dogma
mantém-nos abertos para as imensas possibilidades de
novos conhecimentos.
12. Reflexões
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Catarina Vale
Porém, o texto completo, tem outros elementos que ainda
não analisámos.
Lê-os agora nos sublinhados… O que são e qual a sua
função na argumentação do autor?
A filosofia , se bem que incapaz de nos dizer ao certo qual venha
a ser a verdadeira resposta às variadas dúvidas que ela própria
evoca, sugere numerosas possibilidades que nos conferem
amplidão aos pensamentos, desactivando-os da tirania do hábito.
Embora diminua, por consequência, o nosso sentimento de certeza
no que diz respeito ao que as coisas são, aumenta em muitíssimo o
conhecimento no que diz respeito do que as coisas podem ser,
varre o dogmatismo...
Bertrand Russell (1912). Os Problemas da Filosofia. Trad, António Sérgio, 2001
Lisboa: Almedina, pp. 147-148 (adaptado).
13. Reflexões
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As duas frases sublinhadas são contra-argumentos.
Como vimos, a função de um contra-argumento é a de
rebater uma tese ou um argumento, ou seja, mostrar que
não são boas respostas aos problemas levantados.
Se assim é, porque coloca o autor do texto dois contra-
argumentos quando está a defender a sua tese?
Contra-argumentar, objetar, rebater, refutar consiste,
assim, em apresentar razões contra uma determinada
posição.
14. Reflexões
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Catarina Vale
Porque…
todo o filósofo visa a universalidade das suas teses
para isso deve discutir, testar as suas teses, antecipando
possíveis objeções
os dois contra-argumentos apresentados são duas das
objeções mais comuns levantadas à filosofia
ao apresenta-las e rebatê-las, o objetivo do autor é
diminuir a força dessas objeções e aumentar a força da sua
argumentação.
15. Reflexões
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Catarina Vale
Critérios para avaliar argumentos
Poderemos numa argumentação aceitar qualquer
argumento?
Se pretendemos que o argumento passe no crivo da razão,
não podemos.
Quando estamos perante um argumento devemos
perguntarmo-nos:
- É forte ou fraco?
- É consistente ou inconsistente com a tese que procura
defender?
16. Reflexões
Filosofia 10.º ano
Isabel Bernardo
Catarina Vale
Avalia, com o teu colega de carteira, a consistência dos
argumentos apresentados pelo autor do texto.
Existe acordo entre a posição defendida e os argumentos
apresentados?
Onde é visível esse acordo?
17. Reflexões
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Catarina Vale
A tese assenta na ideia de que a filosofia liberta
intelectualmente o homem de todas as imposições que se
abatem sobre ele se não fizer uso da razão
Podemos considerar a argumentação do autor
consistente, porque…
Os argumentos sublinham a ideia de libertação, de
abertura mental, de crítica às imposições, de abertura a
infinitas possibilidades, só possível a quem tem uma
atitude filosófica
Os recursos linguísticos opõem a ideia de finitude,
clausura, limitação, à ideia de infinitude, libertação e
possibilidades sem limites.
18. Reflexões
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Isabel Bernardo
Catarina Vale
Bibliografia
- Abbagnano, N. (1985).História da Filosofia, Vol. I.. Lisboa: Editorial Presença.
- Blackburn, S. (1997). Dicionário de filosofia. Lisboa: Gradiva.
- Blackburn, S. (2001). Pense. Uma introdução à filosofia. Lisboa: Gradiva, pp. 11-22.
- Copleston, F. (1994). Historia de la filosofia 1: Grécia e Roma. Barcelonoa: Editorial Ariel.
- Descartes, R. (1644), Carta Prefácio. In Os Princípios da Filosofia. Trad. Laura
Mascarenhas, 1995. Lisboa: Texto Editora, p. 18.
- Grayling, A. C. (2002). O significado das coisas. Lisboa: Gradiva, pp. 181-185.
- Nagel, T. (1997). O que quer dizer tudo isto? Uma iniciação à filosofia. Lisboa: Gradiva, pp.
7-11.
- Nagel, T. (1999). A última palavra. Lisboa: Gradiva, pp. 11-20.
- Savater, F. (1999). As perguntas da vida. Uma iniciação à reflexão filosófica. Porto:
Publicações D. Quixote, pp. 15-25 e 45-68.