Compromisso público com a sociedade e deputados estaduais
Tará, o maior ídolo do Santa Cruz com gols e amor à camisa
1. 6/12/2013
19:04
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Recife, 8 de dezembro de 2013
Não bastou ser o maior artilheiro
bola com a mesma eficiência e,
que, apesar de baixinho, tinha
uma impulsão capaz de torná-lo
gigante diante dos grandalhões zagueiros, não se tornou um monstro sagrado da história do Santa
‘apenas’ pela imensa quantidade
de gols marcados.
O destino tratou de emparelhar a história do clube e do jogador. Ambos vieram ao mundo no
ano de 1914. O time de garotos
que havia desbancado o preconceito e as barreiras sociais do início do século e feito história ao ser
o primeiro nortista a bater uma
equipe do Sudeste demorou a
encontrar o caminho do título.
O Santa precisou esperar 17
anos, a idade com que Tará chegou ao clube para transformá-lo
num colecionador de troféus. O
primeiro deles foi o 1931. Depois
o de 1932, 1933. E por aí caminharam os tricolores após a chegada do jovem goleador, que
ainda faturaria os de 1935 e 1940.
COM SEUS
gols, Tará
ajudou a
colocar o
Santa no
caminho dos
títulos
1924
A década tinha início de forma positiva para o
Santa Cruz. No último semestre de 1924, a equipe
coral goleou o Náutico por duas oportunidades. Em
6 de julho, 5x1 para o Santa. Em 10 de agosto,
4x1 para o Tricolor. Fechando a temporada, o
clube do povo ainda venceu a Seleção
Pernambucana por 4x2, no dia 19 de novembro.
1926
No dia 9 de setembro, o Santa Cruz enfrentou o campeão baiano de 25, o Ipiranga. A
rivalidade Bahia x Pernambuco estava em
alta. O jogo valia muito. E o Tricolor conseguiu a vitória por 1x0, com gol de “virada”
marcado por Sebastião. Foi daí que surgiu
o apelido de um dos maiores ídolos corais.
1931
Mas não foi “só”. Sabe aquele tal
de “amor à camisa”, que se fala
até hoje? O center-forward tinha
de sobra pelo Santa Cruz. “A
minha mãe sentia ciúme”, lembra
o coronel Humberto Viana Filho,
que herdou de Tará o nome e a
patente militar. “Meu pai colocava ela, o Santa e a PM no mesmo
patamar”, completa, abrindo um
largo sorriso.
E como acontece com todo
amor, às vezes, ele estremece.
Aconteceu em 1943. O diretor e
jornalista do “Diario da Manhã”,
José Pimentel, acusou Tará de
estar fazendo corpo mole, numa
época em que o goleador estava
com lesão no joelho. Sentindo-se
traído, não pela instituição, mas
pela diretoria do clube, ele rompeu com o Santa e decidiu se dedicar apenas à carreira militar.
A insistência do irmão, que jogava no Náutico, o não menos
craque Orlando Pingo de Ouro,
com passagens posteriores brilhantes pelo Fluminense e Seleção Brasileira, Tará aceitou formar um ataque familiar no
Timbu, depois de passar por
uma cirurgia de menisco e ligamentos. Cinco anos depois, no
entanto, as pazes foram feitas e
o goleador retornou ao Santa.
“Meu pai disse na época que ‘a
gente sempre volta ao amor da
vida’”, relembra o filho.
Em 13 de dezembro de 1931, o Mais Querido
finalmente chegava onde merecia. Pela primeira vez
em sua história, o clube do povo consagrava-se
campeão pernambucano. A partida foi diante da
equipe do Torre. O time coral venceu por 2x0. O
resultado garantiu o troféu ainda faltando uma
rodada para terminar o campeonato.
Muito além das botinadas dos zagueiros
As botinadas dos zagueirões dos
anos 1930 e 1940 não foram as
únicas formas de violência
enfrentadas pelo jovem Tará. Em
1932, aos 18 anos, o então soldado
Humberto Viana foi convocado para
defender o “governo provisório” de
Getúlio Vargas da rebelião que ficou
conhecida como a Revolução
Constitucionalista, em São Paulo.
“Meu pai chegou a ter o seu barco
metralhado e afundado no rio Tietê.
Ele precisou nadar até a margem
para escapar da morte”, relembra
Humberto Viana Filho.
A vida militar foi uma das paixões
de Tará, que aprendeu a conciliar,
nem sempre sem atrito, com a
carreira de jogador de futebol.
Várias vezes, o artilheiro deixou de
jogar uma partida por não
conseguir negociar com os seus
superiores a liberação da sua escala
de serviço no quartel - dá para
imaginar quanto gols a mais ele
teria feito se não houvesse este
impedimento?
Mas a Academia Militar também
ajudou o então franzino atacante,
que chegou ao Santa Cruz com 17
anos, um ano antes de se alistar.
Numa época em que a preparação
física praticamente não existia no
futebol, Tará ganhou, fora dos
gramados, um condicionamento
diferenciando da maioria dos seus
companheiros e adversários, algo
que explica o seu arranque e
velocidade, qualidades elogiadas
por quem o viu jogar.
Tará não atingiu a maior patente
possível apenas no Santa Cruz. Ele
se aposentou como coronel da
Polícia Militar.
A última entrevista dada
à Folha de Pernambuco
A última entrevista dada por Humberto Viana
a um jornal foi publicada no dia 29 de
novembro de 1998, na Folha de Pernambuco,
dois anos antes de sofrer um ataque cardíaco e
falecer. Ao repórter Leonardo Guerreiro, Tará
relembrou fatos marcantes da sua vida, como
a sua chegada ao Santa Cruz, levado pelo
jornalista Aristófanes da Trindade.
Contrário à ideia de vê-lo como jogador, o
seu pai, o tenente Thomaz Clementino Viana,
se viu constrangido de negar o pedido do
então presidente tricolor: Carlos Afonso de
Mello, um major da PM. O respeito a um
superior deu ao Santa Cruz o seu maior ídolo.
Levado ao Arruda para a seção de fotos, o
ídolo coral contou também que o apelido o
1932
O Santa fez um Pernambucano perfeito. Até a final
do Estadual, foram dez jogos e dez vitórias, com
43 gols marcados e apenas 11 sofridos. Na decisão, o Santa Cruz enfrentou o Íris, que havia
superado Sport e Náutico. No dois jogos, goleadas
do Tricolor por 4x1 e o bicampeonato conquistado.
E ainda com 100% de aproveitamento dos pontos.
acompanhou desde a infância, quando
brincava imitando os filmes de bang-bang. Do
som dos imaginários tiros dos revólveres saía o
‘tará-tará-tará’, que seria levado para a sua
carreira de jogador.
O golaço marcado do meio de campo contra
o Náutico, com cinco segundos de jogo, foi
uma das suas façanhas relatadas na edição de
domingo da Folha de Pernambuco. "Foi um
chute despretensioso", contou, humilde, o
autor do gol que Pelé não fez.
Tará falou também do futebol moderno, no
caso o até então realizado em 1998: “O futebol
do meu tempo tinha melhores jogadores. Não
concordo que Ronaldinho seja o melhor do
mundo. Prefiro Romário”, opinou.
FOLHA PE trouxe entrevista com Tará para a
série "Cadê você?", em novembro de 1998
1933
O Santa Cruz continuava mandando no futebol
pernambucano. O Mais Querido conseguiu
passar por Sport e Náutico na primeira fase do
Estadual, garantindo vaga na decisão. O adversário da finalíssima era o Varzeano. A melhor de
três teve apenas dois jogos: duas vitórias por
5x2 e o primeiro tricampeonato.
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M
uitos jogadores
escreveram os
seus nomes na
história de um
clube com os gols
que marcaram,
ou os que evitaram. Outros entraram de vez da memória do torcedor pela importância que teve
para o time em determinada
época, pelos títulos que conquistaram. Há ainda aqueles que se
tornaram inesquecíveis pela sua
devoção absoluta às cores defendidas. Poucos, muito poucos,
conseguiram reunir a santíssima
trindade da idolatria numa só carreira.
No Santa Cruz, este cidadão
ficou conhecido pelo apelido de
Tará. Humberto de Azevedo Viana
foi o maior artilheiro da história do
clube. Foram nada menos que 207
gols marcados de pé direito, pé esquerdo e cabeça.
Mas o velocíssimo atacante,
que batia com as duas pernas na
Rogério França/Arquivo Folha
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