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espiral
                                                boletim da associação                   FRATERNITAS MOVIMENTO
                                                                 Nº 20 - Julho / Setembro de 2005




                       TEMPO                              DE                FÉRIAS
Esperado com uma certa ansiedade por muitos, desejado por        profunda realidade de membros da Fraternitas. Se assim for,
todos, nem sempre o sabemos aproveitar em todas as suas          estamos ambos a perder o nosso tempo: eu a escrever e vós a
potencialidades. Corremos o sério risco de chegar ao fim e       ler. Não é justo, e por isso gostaria que encarásseis apenas
nos encontrarmos tanto ou mais vazios do que quando as           esta minha reflexão como uma partilha fraterna daquilo que a
começámos. E pos-sivelmente nem sequer nos encontraremos         mim próprio me faz pensar neste momento.
mais repousados, mais libertos, mais reforçados, mais
disponíveis para um novo ano de trabalho.                        Claro que não somos diferentes dos outros, quaisquer que eles
                                                                 sejam, mas há na nossa história de vida alguma coisa de
E porquê? Claro que não há receitas mágicas nem pro-gramas       específico que não podemos ignorar. Como casais cristãos
infalíveis. O que nos falta sobretudo é profun-didade naquilo    com um passado muito concreto, há valores de cultura,
que fazemos, e as férias são um bom teste para a nossa           espiritualidade e visão da vida e do mundo que temos uma
capacidade interior. Senão vejamos.                              obrigação imperiosa de pôr em comum com muitos que nos
                                                                 vão rodear neste período de férias. E seria uma pena que não
E ou não verdade que durante o ano nos falta tempo pa-ra         o fizéssemos, como seria uma pena ainda maior que não nos
conviver, para nos extasiarmos com tanta coisa bela que a        procurássemos enriquecer com as vivências daqueles com
natureza nos oferece, para termos conversas inte-ressantes       quem tivermos oportunidade de conviver. Quantas e quantas
com gente interessante, para lermos livros que nos ajudam a      vezes as conversas em que participamos podem ter um rumo
reflectir ou simplesmente nos descansam, para fruir da vida                                                  (continua na pág. 2)
familiar e de amizade, e para conversar calmamente com
Deus? Então nas férias, porque não nos organizamos um pouco
para desfrutar disso tudo com serenidade?                                               Sumário:

Alguém pode estar a ler estas palavras e pensar que não passam       Novos Sócios | Breves... | Quotas                     2
de lugares comuns, e que nada têm a ver com a nossa mais             Padres casados com fé na abolição do celibato         3
                                                                     Aquela ponte! | Grito                                 4
                CURSO FRATERNITAS                                    XII Encontro Nacional da Associação Fraternitas 5
    Fátima, 11 a 13 de Novembro de 2005                              Habemus papam?                                        6
Tema:   QUE PROCURAMOS EM IGREJA?                                    Cartas... | Ecos do Espiral                           7
 Orientador:     Doutor JOÃO DUQUE (UCP BRAGA)
                                       ,                             Dentro da Igreja!... E fora da Igreja?!...            8
  Inscrições:    Secretariado da Fraternitas
2                                                                                                                        espiral

Tempo de Férias                                                  deve dar espaço para O podermos escutar serena-mente?
(continuação da pág. 1)
                                                                 Porque não entrarmos com recolhimento e devo-ção neste
                                                                 imenso templo Seu, que é a natureza que nos rodeia, espanta,
de seriedade e reflexão que as torne diferentes do mero bate-
                                                                 serena ou interpela, de coração aberto e olhos límpidos, e nos
papo sem interesse. E pode estar nas nossas mãos fazê-las
                                                                 sentirmos parte integrante deste mundo espantoso em que Ele
tomar rumos mais positivos, discre-tamente, naturalmente e
                                                                 nos faz viver, sentindo que na nossa pequenez somos também
sem qualquer presunção.Aqui-lo que estudámos, reflectimos,
                                                                 com Ele formadores do Reino que há-de vir, mas que já é?
lemos, orámos, rejubi-lámos ou sofremos, pode perfeitamente
dar aos nossos contactos de férias uma dimensão mais rica e
                                                                 Um livro, uma música, um encontro, uma conversa, um afecto,
positiva, sem beliscar sequer o ambiente descontraído e sereno
                                                                 tudo podem ser momentos de oração e contem-plação que
deste tempo mais livre de formalidades e normas que o resto
                                                                 nos deixarão mais cheios e fortes, prontos para enfrentar novas
do ano. Porque não experimentar?
                                                                 tarefas e comprometimentos no ano que depois disto vai
                                                                 começar. Mas procuremos não viver tudo isto sozinhos, talvez
Metidos na vida profissional “stressante” e citadina, a maior
                                                                 como em tempos passados da nossa história de solidão.Agora
parte do tempo nem podemos sequer ver a natureza tão diversa
                                                                 que somos casal (e neste momento não posso deixar de pensar
e bela que nos rodeia. Porque não aproveitar estas semanas
                                                                 naqueles e naquelas que este ano perderam a presença física
especiais para nos delei-tarmos com ela, para descobrirmos
                                                                 doseucônjuge…masqueosentirãopresentedoutrafor-ma…),
novas maravilhas, com um olhar e um coração que
                                                                 temos a possibilidade e o dever, a alegria e o prazer de viver
provavelmente perdemos desde a nossa extasiada mas já
                                                                 isto em conjunto, com a Mulher, com o Marido, com os Filhos,
longínqua infância?
                                                                 uma mais-valia que é um dom inestimável que tantas vezes
                                                                 não sabemos apreciar devidamente!
Pressionados por horários, compromissos e afazeres, durante
o ano nem temos tempo para orar com paz e frontalidade face
                                                                 Boas Férias para todos e até ao nosso regresso. Deus fique
ao nosso Deus, sempre desejoso de conversar connosco. E
                                                                 connosco, e nós O saibamos sentir em cada momento!
agora que estamos menos espartilhados por horários rígidos e
massacrantes, porque não entabular um diálogo, olhos nos                                                 Vasco Fernandes
olhos com Ele, e fazermos em nós aquele tão raro silêncio que



    b r e v e s . . .
                                                 NETOS (b):                               PRÉMIO
        NETOS (a):                          Também o Luís e Eduarda Cunha, nos-           INTERNACIONAL:
    O Carlos Leonel, da Direcção, e a Ma-   sa Secretária, estão naturalmente mui-    O Alberto Videira, autor do nosso
    ria Guilhermina estão muito gratos a    to felizes e babados pelo nascimento      logótipo, obteve o 2º Prémio Inter-
    Deus pelo dom de mais uma netinha.      da Mafalda.                               nacional de Arte em Pequim, China.
    Felicidades.                            Vida longa e venturosa .                  Muitos Parabéns!



                   Novos Sócios da FRATERNITAS                                                    QUOTAS
                                                                                        Agradecemos o favor de
                                                                                        serem pagas as quotas
 Nº 104 -ANTÓNIO JÚLIO SAMPAIO VERÍSSIMO             e   DILCARINA RODRIGUES            para o nosso Movimento.
         VERÍSSIMO                                                                      A única fonte de receita
                                                                                        são os nossos contributos
                                                                                        e, quando faltam, o
 Nº 105 -FERNANDO JORGE FÉLIX FERREIRA e MARIA JOSÉ BIJÓIAS MENDONÇA
                                                                                        tesoureiro vê-se em
                                                                                        apertos...
espiral                                                                                                                             3


                                                                                         considera o “celibato belo e um óptimo
Padres casados                                                                           testemunho de Deus”. Para o antigo
com fé na abolição do celibato*                                                          padre “trata-se de uma questão disci-
                                                                                         plinar da Igreja, e não teológica e de fé”
                                                                                         e como tal, “a sua obrigatoriedade devia
                                                                                         ser repensada”.

Religião. O celibato é uma das               encontro, “onde se possam sentir            Com a mudança na liderança da Igreja,
principais razões que levam os padres a      compreendidos e encorajados”, lê-se no      a questão volta a estar na ordem do dia.
pedirem dispensa do exercício do             site da associação.                         O Presidente da Fraternitas não tem
ministério. A Fraternitas é uma              Sem ter saudades daquilo que foi, Vasco     dúvidas de que “é muito cedo para prever
associação composta por cerca de cem         Fernandes diz que “desempenhou o            como vai ser o papado de Bento XVI”,
padres que abandonaram o                     papel de padre com toda a sinceridade”.     ainda assim mostrou esperança em que
sacerdócio para constituírem                 Mudar de vida foi uma tarefa facilitada     as coisas evoluam nesta matéria. “Estou
família.                                     pelo apoio familiar, todavia não esconde    expectante e não acho impossível um
                                             um sorriso perante a perspectiva de         rumo diferente do actual”, disse.
Vasco Fernandes foi padre jesuíta            exercer novamente o sacerdócio, caso
durante 22 anos. Hoje é presidente da        fosse possível. A questão do celibato é,
Associação Fraternitas, uma entidade de      sem dúvida, um ponto sensível para os                          * SANDRA CARDOSO
padres dispensados do exercício do           padres dispensados. Vasco Fernandes                             scardoso@destak.pt

ministério. Depois de ter sido missionário
em África, padre/operário em Paris e            CELIBATO – A OPINIÃO DA IGREJA
professor em colégios, sentiu
necessidade de mudar o rumo da sua
vida: a solidão e falta de afectividade       Contra.                                    A Favor.
eram difíceis de suportar. Enviou o           “O celibato tem de ser urgentemente        Para o padre José Cardoso “celibato é
pedido de dispensa para o Vaticano            banido como lei obrigatória, porque é      um dom de Deus, tal como o
alegando motivos de ordem pessoal. A          um atentado aos direitos humanos” A        casamento”. Encara a sua opção com
resposta foi rápida. Um ano e meio            opinião é do Padre Manuel Vilas Boas       naturalidade, visto que foi fruto de um
depois estava casado. Hoje tem 70 anos,       que considera que a sua abolição           grande período de reflexão e
dois filhos e afirma sentir-se realizado.                                                discernimento. “Foi uma opção
                                              “aumentaria a saúde psicológica dos
                                              sacerdotes”. O Padre considera a           pessoal, sinto-me feliz, não me imagino
Como Vasco Fernandes outros padres                                                       casado”, explica ao Destak. O
                                              Fraternitas “uma associação de boa
sentiram a necessidade de ponderar a                                                     eclesiástico não vê o celibato como um
                                              vontade, mas que não resolve os
sua decisão. Com nove anos de                                                            “dogma”, explica ao Destak,
                                              problemas” e acredita que estes padres
existência a Fraternitas conta com cem                                                   relembrando que os padres não são
membros e é reconhecida pela                  voltariam ao sacerdócio se a Igreja o
                                              permitisse. “A Igreja mostra-se            celibatários desde o início, ainda assim
Conferência Episcopal.                                                                   não acredita numa mudança na
                                              prepotente ao não aceitar o trabalho de
                                                                                         legislação quanto a este ponto. “Trata-
O facto de alguns padres abandonarem          padres preparados, que se mantêm
                                                                                         -se de uma questão mediática, mas
o sacerdócio para constituírem família        quietos, mudos e surdos”, acusa.
                                                                                         dentro da Igreja não é um problema”,
está normalmente associado à ideia de         Relativamente à posição do Sumo
                                                                                         reflecte e acrescenta que “acabar com
choque com a Igreja, mas nem sempre           Pontífice em relação à questão, Vilas      o celibato não traz mais vocações nem
é assim. “A Fraternitas não te um papel       Boas diz que “Bento XVI não tem            o fim dos escândalos sexuais que
contestatário” revela o presidente ao         capacidade para fazer uma alteração        envolvem membros da Igreja porque
Destak e sublinha “somos Igreja”. Os          da lei” e sustenta que “só um Papa do      essas questões são problemas de
objectivos do organismo são ajudar            3º Mundo o poderá fazer”.                  formação”.
espiritualmente os seus membros,
proporcionando-lhes um espaço de                              * (textos retirados do jornal diário de distribuição gratuita Destak)
4                                                                                                                      espiral




Aquela                                         Ponte!
(No aniversário da queda da Ponte Hintz Ribeiro, em Entre-os-Rios)

     E já lá vão quatro anos. Memória?    região olhavam e não viam. Não viam       razões, com as suas vastas e profundas
Saudade? A velha Ponte de Entre-os-       os sinais de fraqueza? Ou não queriam     ideias de homens importantes e não viam
-Rios, Hintze Ribeiro, soçobrou às        ver? E quando se associam os “media”      os sinais de velhice que a velha e cente-
cheias, às tormentosas correntes, aos     então é que os homens ficam desnor-       nária Ponte não escondia: o piso, o supor-
maus tratos de longos anos… Rebentou      teados, cegos… “Os homens só vêem         te, os pilares, a ferrugem, os buracos, o
de velhinha! Não aguentou a passagem      na medida dos seus interesses…” Este      leito do rio, a extracção das areias, a
de um autocarro…                          problema é grave! Os homens impor-        responsabilidade irresponsável dos que
     Era uma vez a Ponte!...              tantes, circunspectos… só olham coisas    deviam e tinham responsabilidade pela
     A velha Ponte, já mostrava sinais    importantes. E não olharam a Ponte!       conservação e responsavelmente de-
de cansaço. Os homens, os responsáveis,   Serviam-se constantemente dela,           viam zelar pelo seu bom estado de
os homens sérios deste país e da nossa    argumentavam nas suas vastas e eruditas   ponte…
                                                                                          Depois… conclusão douta dos mais
                                                                                    entendidos na matéria: causas naturais.
                                                                                    Pois… porque não? Se a água corre para
                           GRITO                                                    níveis mais baixos… se é Inverno… se
                                                                                    a torrente é tumultuosa… se a lei da
                                                                                    gravidade é real… se o poder erosivo
    Quantas vezes vou desesperando!...                                              das águas é evidente… se o autocarro
    Lembro então a palavra de Amor                                                  escolhesse outra hora de passagem…
    que em minh’alma rebrilha e cintila,                                            se os interesses fossem outros… se se
    em apelo p’ra Ti, meu Senhor.                                                   cuidasse das coisas públicas com
                                                                                    cuidado e carinho… se quem tem o dever
    Essa estrela é Luz e é Fé                                                       de zelar, zelasse… se se pudesse mudar
    que ao meu peito aquece e se inflama,                                           a história… oh! hoje, felizes,
    em torrentes de Luz e Esp’rança:                                                celebraríamos mais um aniversário da
    quem confia e espera é porque ama.                                              velha Ponte Hintze Ribeiro.
                                                                                          Como o “se” é condição, neste
    Quanto mais cintilante essa Luz                                                 caso irredutível… não podemos mudar
    no recôndito brilha e aquece,                                                   o curso à história. Lamentar é a solução
    o meu todo oscila, estremece,                                                   dos fracos. E não estamos sós! …
                                                                                    Preferia prevenção, responsabilidade
    e, na noite, Te grita, Jesus,                                                   assumida de quem governa e de quem
    bem ardente e sentida esta prece:                                               julga … e muitas graças daríamos a
    “Só o Teu Sol no meu ’scuro reluz!”                                             Deus que nos tinha enviado homens
                                                                                    sábios, capazes de dar o progresso
                                                A. de Oliveira Marinho
                                                                                    merecido a esta tão martirizada terra!
                                                       Elvas, 03.09.2004
                                                                                                                J. Soares
espiral                                                                                                                                              5


e c o s                                                                  d o                                    . . .
          . . . xii encontro nacional da associação fraternitas movimento

De 22 a 25 de Abril de 2005 teve lugar
                                                Direcção
em Fátima, na Casa de N.ª Sr.ª do Carmo,
                                                Presidente      –        Vasco Jorge Santos Fernandes (Porto)
o XII Encontro Nacional daAssociação
                                                Vice-presidente –        Carlos Leonel Pereira dos Santos (Lisboa)
Fraternitas Movimento com a presença
                                                Secretária      –        Eduarda Garcia de Oliveira e Cunha (Viseu)
de oitenta participantes.
                                                Tesoureiro      –        Serafim Rodrigues (Cinfães)
Do programa constava uma parte
                                                Vogal           –        Salomão Duarte Morgado (Porto)
formativa – que tem sido uma constante
em todas as reuniões deste género – e a         Mesa da Assembleia Geral
reunião da Assembleia Geral da                  Presidente  – Jacinto de Sousa Gil (Leiria)
Fraternitas para o cumprimento das              Secretário  – Manuel Batista Calçada Pombal (Viana do Castelo)
exigências estatutárias e para proceder         Vogal       – Alípio MartinsAfonso (Chaves)
à eleição dos corpos gerentes da                Conselho Fiscal
associação para o próximo triénio.              Presidente   – José Serafim Alves de Sousa (Lisboa)
A parte formativa, que percorreu todo o         Secretária   – Cibele da Silva Carvalho Sampaio (Chaves)
encontro e foi orientada pelo sócioArtur        Relator      – Luís da Luz e Cunha (Viseu)
da Cunha Oliveira, tinha como tema “S.
Mateus — o Evangelista do Ano A”.           Logo após a eleição destes titulares, teve              momentos de oração, celebração
Baseado num livro de sua autoria com        lugar a cerimónia da tomada de posse                    eucarística pelo P. João Caniço e
este título, o Artur, para além de desen-   dos respectivos cargos, posse que lhes                  momento de arte e cultura pelo colega
volver os assuntos a tratar, organizou      foi conferida pelo Presidente da                        Francisco Fanhais. Todo o encontro foi
tópicos específicos para o trabalho de      Assembleia Geral cessante.                              um saudável convívio entre todos.
grupos, moderou criticamente as conclu-     No seu conjunto, este encontro foi uma                  Também não foram esquecidos os
sões dos grupos, respondeu a questões,      jornada de muitas horas, com longos e                   ausentes nem aqueles que Deus já
esclareceu dúvidas, tirou conclusões.       agradáveis momentos de estudo,                          chamou para Si.
Na tarde de domingo, dia 24, reuniu a
Assembleia Geral para tratar os vários
pontos da agenda. Começou pela
apreciação e votação do relatório e
contas relativos ao ano de 2004, do plano
de actividades para 2005 e da corres-
pondente previsão orçamental, docu-
mentos que foram aprovados por unani-
midade.Aprovou também uma proposta
de aumento da quota anual, bem como
um donativo de •500 à Fundação Cónego
Filipe de Figueiredo, de Estarreja, como
homenagem ao nosso fundador e
assistente.
Por último, procedeu-se à eleição dos
corpos gerentes da Fraternitas para o
próximo triénio. Como resultado, os         Mangas arregaçadas, pose desportiva... Parecem de férias, mas não! Estão aqui é para trabalhar! São o rosto
novos titulares são os seguintes:                                 da Fraternitas: a nossa Direcção eleita para este triénio.
6                                                                                                                         espiral




      Habemus Papam?
     Não, com Bento XVI, quem              sabilidades e (talvez ao contrário do seu   docente foi ele. Portanto, é lícita alguma
assumiu o leme da Igreja não foi           antecessor) também humilde, ele assu-       ansiedade por saber se e de que modo
seguramente alguém que pudesse ser um      miu com extrema seriedade este dever        esta faceta do seu carácter vai sobressair
“Pai” para os padres casados e suas        de defesa contra desenvolvimentos que,      nesta sua nova função.
mulheres. Com maioria de razão sob a       a seu ver, contenham algo de perigoso.
sua direcção nada mudará no que            Ainda na homilia da eucaristia de                 Neste contexto seria interessante e
respeita à obrigatoriedade do celibato.    abertura do conclave foi central a adver-   importante lançar um olhar rectros-
Seria, aliás, ingénuo lamentar, pura e     tência contra o “individualismo” que ele    pectivo não só para o Ratzinger prefeito
simplesmente por este motivo, a decisão    equipara ao egoísmo.                        da Congregação para a Doutrina da Fé,
pessoal do conclave: com qualquer outro                                                mas também para o anteriormente bispo
candidato seria exactamente a mesma                                                    de München und Freising. De qualquer
coisa.                                                                                 maneira não se conhecem desse tempo
                                              Se houve um docente                      nenhumas medidas restritivas sensacio-
     É, no entanto, fundamental ser-se                                                 nais do género das que, naAlemanha de
                                              de teologia que
cauteloso nos prognósticos sobre as                                                    hoje, são habituais para alguns bispos de
                                              soubesse transmitir
consequências desta eleição papal.                                                     nomeação de João Paulo II.
Compreensívelmente os comentadores            não só
partem da actuação de Ratzinger               conhecimentos sobre                           Já por força da sua idade, Bento
enquanto prefeito da Congregação para         a fé, mas também                         XVI será um papa de transição;
a Doutrina da Fé. Neste cargo era tarefa      alegria na fé, esse                      provavelmente foi o que pensaram os
sua intervir contra desvios (factuais ou      docente foi ele.                         seus eleitores. Justamente neste último
supostos) da doutrina da fé católica; o       Portanto, é lícita                       quarto de século João Paulo II permitia,
sistema está totalmente orientado para a      alguma ansiedade                         se não mesmo forçava, que, na
defesa.                                                                                percepção pública, a Igreja se identi-
                                              por saber se e de que
                                                                                       ficasse cada vez mais com a persona-
                                              modo esta faceta do
    Seria, aliás, ingénuo                                                              lidade do papa. Disso ela tem de come-
                                              seu carácter vai                         çar por se refazer. O que é que está pro-
    lamentar, pura e                          sobressair nesta sua                     priamente contra a que nesta situação o
    simplesmente por                          nova função.                             papa Bento XVI tenha sido a escolha
    este motivo, a                                                                     certa?
    decisão pessoal do
    conclave: com                            Como papa, ele já não se pode
    qualquer outro                     limitar a uma atitude de escrupulosa e                            Ernst Sillmann,
    candidato seria                    constante prontidão defensiva.Aliás, ela                        presidente da VkPF
    exactamente a                      não corresponde ao seu perfil intelectual.            (associação alemã dos padres
    mesma coisa.                       As suas aulas em Tübingen tinham um              católicos casados e suas esposas).
                                       estilo totalmente diferente. Se houve um                              21 Abril 2005.
                                       docente de teologia que soubesse
     Porque Ratzinger é um servidor da transmitir não só conhecimentos sobre a            [origem: http://www.nwn.de/vkpf/
sua Igreja consciente das suas respon- fé, mas também alegria na fé, esse                                    aktuelles.htm]
espiral                                                                                                                        7



                                                                                    Cartas...
    Quando recebo o “Espiral”, não o
trato como mais uma publicação à espera      reflexão dialéctica entre o nosso              Vê-se que o Espírito Santo está
de tempo para a ler. Leio-o imedia-          Movimento e a Igreja (nas suas              connosco!
tamente, como carta de um amigo ou           estruturas), sobretudo, no seu caminhar.                         J. Silva Pinto
amigos, e logo destes, de vós!... [...]      Entretanto, eu continuo, em acto de Fé,
    A escritura diz (mais ou menos) que      a afirmar: “Creio na Igreja, Una, Santa,
                                                                                         N. E.: Esta carta, assaz longa, do nosso
“o homem de Deus tira, do seu tesouro,       Católica, Apostólica e Romana”. [...]
                                                                                         amigo e companheiro Silva Pinto, já
coisas novas e velhas...”. Foi o que fez o       Estas “cartas”/Espiral são sempre
                                                                                         há bastante tempo que estava em nosso
Simão. [...] Conheço-o bem e sei que         bem-vindas. Mas, não poderiam ter sido      poder, esperando oportunidade
não perde “pitada” para fazer um acto        enviadas mais cedo? Desculpa, Osório!       (= espaço) para ser publicada. Como
de Fé: “Deus anda por aí”! [...]                 Parabéns aos irmãos, autores e          simpaticamente nos autorizou a fazer
    Algumas das suas afirmações [do          editores — e não são poucos —, pela         “cortes”, partilhamo-la agora com
João Simão] poderão servir para uma          qualidade e oportunidade dos temas! [...]   todos.




e c o s                                      d o             . . .



“... Agradeço a oferta do Boletim e          “...a agradecer mais um número de           “Recebi os dois números de Espiral que
felicito-o [Vasco] pela confiança            Espiral e a solidarizar-me, na comunhão     muito agradeço. Permite-me contactar
depositada na sua pessoa pelos membros       de Igreja, com o que o Vasco tão            com uma realidade viva da nossa Igreja
da Associação, e faço votos para que         rectamente sublinhou no Editorial. Só       e acompanhar os caminhos da
possa ajudar todos a encontrar o seu         com Comunhão e Amor do Evangelho,           Associação com fraterna estima e atenta
lugar na Igreja, como membros de pleno       e com as pessoas concretas do nosso         oração.”
direito, sempre prontos para o serviço       dia-a-dia, é possível dar “razões de                             Carlos Azevedo
aos irmãos.”                                 Esperança” É necessário escrever, com-
                    António Vitalino         prometendo-nos com este serviço de
                                             Honra! Desejo a todos a prossecução
                                             feliz duma caminhada-movimento onde
                                             a fraternidade é sinal e fascínio. Não há
                                             melhor carta de apresentação!”
                                                       Januário Torgal Ferreira


“Venho agradecer-lhe o “Espiral” que li                                     . . .                 espiral
de fio a pavio como sempre. Convenço-
-me que nada lhe vai faltar para
continuar no mesmo ritmo. Que o nosso                                                    “Agradeço ao novo presidente de
Deus os abençoe e que o vosso e nosso                                                    Fraternitas o envio do Boletim, com vo-
desejo se tornem quanto antes numa                                                       tos de que continue a ser um bom
atitude da mãe Igreja.”                                                                  instrumento de ligação e formação.”
                     Manuel Martins                                                                           Manuel Falcão
DENTRO DA IGREJA!... E FORA DA IGREJA?!...

                   ou contar-vos hoje uma pequena história de          Estou a falar do perdão. Entrosados numa cruel «lei de
                   Maurice Bellet:                               Talião» que nos comanda desde a família até à profissão e à
                          Houve uma vez um grande                política, falta-nos a coragem de viver uma das evidências
Congresso de musicólogos. Por isso o tema era a música. Os       mais incontestadas do Evangelho, como é o perdão! Podem
participantes foram tão numerosos quanto eminentes. Houve        dizer-me que se insiste exageradamente nesta falta de
discursos até fartar, colóquios subtis, mesas-redondas,          coerência entre o que se diz e o que se faz. Mas tem mesmo
conferências de imprensa, resmas de papéis policopiados, e       que se insistir. É esta incoerência que provoca as maiores
até textos impressos.                                            desilusões na vida de quem procura a felicidade. Quando não
         No conjunto o Congresso foi um êxito! Só parece ter     há um ponto de referência na vida, cai-se na satânica confusão
destoado um pequeno incidente: No decurso de uma sessão          de não se saber já o que se quer. E a infelicidade é isso: não
plenária, alguém começou a tocar flauta! Tentou-se fazê-lo       sabermos o que queremos, e matarmo-nos por o conseguir! É
compreender que devia acabar imediatamente com esse som          luta de náufragos!... Ora vejam:
inoportuno. Mas, inconsciente ou cínico, ele não entendeu.             Jesus estava, um dia, em casa do fariseu Simão, que O
Foi preciso fazê-lo sair. Porque as coisas são o que são: não    convidara para um jantar. Entrou na sala uma pecadora, que
convém que a música perturbe algo de tão sério como a            todos conheciam... Pesado como chumbo, caiu um silêncio,
musicologia!...                                                  quase tétrico, naquela sala! Era uma mulher e, ainda por cima,
      É a história da incoerência e da contradição. Vou aplicá-  pecadora! Para os homens daquele tempo (e para os de
-la à nossa vida concreta.                                       hoje?!...) era inadmissível tal atrevimento!... Mas ela avançou,
      Imagino-me numa igreja. Ressoa, pelos venerandos           corajosa, sem pedir licença a ninguém! Atravessou a sala e
espaços, uma límpida cascata de vozes convictas, ritmadas,       foi cair de joelhos aos pés de Jesus! Não disse nada. Não
possuídas da alma das palavras. A oração é simples, como é       pediu nada, porque aquele gesto, na sua mudez, dizia tudo! Os
simples o diálogo com Deus: É o «Pai Nosso». E o eco das         olhares esquivos dos presentes rezaram-lhe a sentença
vozes da assembleia esvoaça, de mansinho, pelo vasto templo:     condenatória! Quantos, que agora a condenavam, a tinham
«Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a        procurado, aumentando-lhe o fardo dos seus pecados?!...
quem nos tem ofendido»... Depois vem o abraço da paz, que        Sentiam-se incomodados ali!...
pretende ser símbolo da nossa união com Deus e com os                  O homem nunca é tão grande como quando se ajoelha
outros. Há um misto de silêncio e de festa, em sorrisos, a       diante de Deus! E aquela mulher tornou-se tão grande que
ciciar um desejo: «A paz de Cristo esteja contigo». Tudo         esmagou todos os presentes com a sua coragem. Todos não!...
parece um claro compromisso!...                                  Jesus falou e acolheu essa mulher, oferecendo-lhe o perdão
      Mas chega o momento de sair da igreja e entrar no          que só ela entendeu. Para os restantes não passou de um
concreto da vida. Aí começa a contradição! Agora já o coro é     exotismo sem sentido nem etiqueta.
diferente! No congresso de música não se devia tocar flauta,           Os discursos, as palavras, que hoje pronunciam tantos
como na vida já parece não se dever ser cristão. Quantos de      que não as vivem, também as sabiam os presentes naquele
nós teremos a coragem de repetir, em gestos concretos, no        jantar. Mas não haviam descoberto esse fio de música mágica,
nosso dia-a-dia, o que expressamos em palavras, dentro da        que era, afinal, o segredo da alegria e de humanidade. Esse
igreja?!... Será que o cristianismo não passa de palavras        fio é o perdão.
bonitas, entaipadas dentro dos templos?!                               Vamos a ver se, ao menos nós, que cantamos e rezamos
                                                                                      em casa e na igreja, somos capazes de
                                                                                      aprender a lição: «...Assim como nós
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         espiral                           associação fraternitas movimento
                                                                                      perdoamos a quem nos tem ofendido»...
                                                                                           Vale a pena pensar nisto!... Para não
          Rua Lourinha, 429 - Hab 2
            4435-310 RIO TINTO             Responsável: Alberto Osório de Castro      fazermos de palhaços idiotas!...
     e-mail: a-osorio-c@clix.pt                   Nº 20 - Julº/Setº de 2005                                    Manuel Paiva

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Tempo de férias: aproveitar para orar, refletir e conviver

  • 1. espiral boletim da associação FRATERNITAS MOVIMENTO Nº 20 - Julho / Setembro de 2005 TEMPO DE FÉRIAS Esperado com uma certa ansiedade por muitos, desejado por profunda realidade de membros da Fraternitas. Se assim for, todos, nem sempre o sabemos aproveitar em todas as suas estamos ambos a perder o nosso tempo: eu a escrever e vós a potencialidades. Corremos o sério risco de chegar ao fim e ler. Não é justo, e por isso gostaria que encarásseis apenas nos encontrarmos tanto ou mais vazios do que quando as esta minha reflexão como uma partilha fraterna daquilo que a começámos. E pos-sivelmente nem sequer nos encontraremos mim próprio me faz pensar neste momento. mais repousados, mais libertos, mais reforçados, mais disponíveis para um novo ano de trabalho. Claro que não somos diferentes dos outros, quaisquer que eles sejam, mas há na nossa história de vida alguma coisa de E porquê? Claro que não há receitas mágicas nem pro-gramas específico que não podemos ignorar. Como casais cristãos infalíveis. O que nos falta sobretudo é profun-didade naquilo com um passado muito concreto, há valores de cultura, que fazemos, e as férias são um bom teste para a nossa espiritualidade e visão da vida e do mundo que temos uma capacidade interior. Senão vejamos. obrigação imperiosa de pôr em comum com muitos que nos vão rodear neste período de férias. E seria uma pena que não E ou não verdade que durante o ano nos falta tempo pa-ra o fizéssemos, como seria uma pena ainda maior que não nos conviver, para nos extasiarmos com tanta coisa bela que a procurássemos enriquecer com as vivências daqueles com natureza nos oferece, para termos conversas inte-ressantes quem tivermos oportunidade de conviver. Quantas e quantas com gente interessante, para lermos livros que nos ajudam a vezes as conversas em que participamos podem ter um rumo reflectir ou simplesmente nos descansam, para fruir da vida (continua na pág. 2) familiar e de amizade, e para conversar calmamente com Deus? Então nas férias, porque não nos organizamos um pouco para desfrutar disso tudo com serenidade? Sumário: Alguém pode estar a ler estas palavras e pensar que não passam Novos Sócios | Breves... | Quotas 2 de lugares comuns, e que nada têm a ver com a nossa mais Padres casados com fé na abolição do celibato 3 Aquela ponte! | Grito 4 CURSO FRATERNITAS XII Encontro Nacional da Associação Fraternitas 5 Fátima, 11 a 13 de Novembro de 2005 Habemus papam? 6 Tema: QUE PROCURAMOS EM IGREJA? Cartas... | Ecos do Espiral 7 Orientador: Doutor JOÃO DUQUE (UCP BRAGA) , Dentro da Igreja!... E fora da Igreja?!... 8 Inscrições: Secretariado da Fraternitas
  • 2. 2 espiral Tempo de Férias deve dar espaço para O podermos escutar serena-mente? (continuação da pág. 1) Porque não entrarmos com recolhimento e devo-ção neste imenso templo Seu, que é a natureza que nos rodeia, espanta, de seriedade e reflexão que as torne diferentes do mero bate- serena ou interpela, de coração aberto e olhos límpidos, e nos papo sem interesse. E pode estar nas nossas mãos fazê-las sentirmos parte integrante deste mundo espantoso em que Ele tomar rumos mais positivos, discre-tamente, naturalmente e nos faz viver, sentindo que na nossa pequenez somos também sem qualquer presunção.Aqui-lo que estudámos, reflectimos, com Ele formadores do Reino que há-de vir, mas que já é? lemos, orámos, rejubi-lámos ou sofremos, pode perfeitamente dar aos nossos contactos de férias uma dimensão mais rica e Um livro, uma música, um encontro, uma conversa, um afecto, positiva, sem beliscar sequer o ambiente descontraído e sereno tudo podem ser momentos de oração e contem-plação que deste tempo mais livre de formalidades e normas que o resto nos deixarão mais cheios e fortes, prontos para enfrentar novas do ano. Porque não experimentar? tarefas e comprometimentos no ano que depois disto vai começar. Mas procuremos não viver tudo isto sozinhos, talvez Metidos na vida profissional “stressante” e citadina, a maior como em tempos passados da nossa história de solidão.Agora parte do tempo nem podemos sequer ver a natureza tão diversa que somos casal (e neste momento não posso deixar de pensar e bela que nos rodeia. Porque não aproveitar estas semanas naqueles e naquelas que este ano perderam a presença física especiais para nos delei-tarmos com ela, para descobrirmos doseucônjuge…masqueosentirãopresentedoutrafor-ma…), novas maravilhas, com um olhar e um coração que temos a possibilidade e o dever, a alegria e o prazer de viver provavelmente perdemos desde a nossa extasiada mas já isto em conjunto, com a Mulher, com o Marido, com os Filhos, longínqua infância? uma mais-valia que é um dom inestimável que tantas vezes não sabemos apreciar devidamente! Pressionados por horários, compromissos e afazeres, durante o ano nem temos tempo para orar com paz e frontalidade face Boas Férias para todos e até ao nosso regresso. Deus fique ao nosso Deus, sempre desejoso de conversar connosco. E connosco, e nós O saibamos sentir em cada momento! agora que estamos menos espartilhados por horários rígidos e massacrantes, porque não entabular um diálogo, olhos nos Vasco Fernandes olhos com Ele, e fazermos em nós aquele tão raro silêncio que b r e v e s . . . NETOS (b): PRÉMIO NETOS (a): Também o Luís e Eduarda Cunha, nos- INTERNACIONAL: O Carlos Leonel, da Direcção, e a Ma- sa Secretária, estão naturalmente mui- O Alberto Videira, autor do nosso ria Guilhermina estão muito gratos a to felizes e babados pelo nascimento logótipo, obteve o 2º Prémio Inter- Deus pelo dom de mais uma netinha. da Mafalda. nacional de Arte em Pequim, China. Felicidades. Vida longa e venturosa . Muitos Parabéns! Novos Sócios da FRATERNITAS QUOTAS Agradecemos o favor de serem pagas as quotas Nº 104 -ANTÓNIO JÚLIO SAMPAIO VERÍSSIMO e DILCARINA RODRIGUES para o nosso Movimento. VERÍSSIMO A única fonte de receita são os nossos contributos e, quando faltam, o Nº 105 -FERNANDO JORGE FÉLIX FERREIRA e MARIA JOSÉ BIJÓIAS MENDONÇA tesoureiro vê-se em apertos...
  • 3. espiral 3 considera o “celibato belo e um óptimo Padres casados testemunho de Deus”. Para o antigo com fé na abolição do celibato* padre “trata-se de uma questão disci- plinar da Igreja, e não teológica e de fé” e como tal, “a sua obrigatoriedade devia ser repensada”. Religião. O celibato é uma das encontro, “onde se possam sentir Com a mudança na liderança da Igreja, principais razões que levam os padres a compreendidos e encorajados”, lê-se no a questão volta a estar na ordem do dia. pedirem dispensa do exercício do site da associação. O Presidente da Fraternitas não tem ministério. A Fraternitas é uma Sem ter saudades daquilo que foi, Vasco dúvidas de que “é muito cedo para prever associação composta por cerca de cem Fernandes diz que “desempenhou o como vai ser o papado de Bento XVI”, padres que abandonaram o papel de padre com toda a sinceridade”. ainda assim mostrou esperança em que sacerdócio para constituírem Mudar de vida foi uma tarefa facilitada as coisas evoluam nesta matéria. “Estou família. pelo apoio familiar, todavia não esconde expectante e não acho impossível um um sorriso perante a perspectiva de rumo diferente do actual”, disse. Vasco Fernandes foi padre jesuíta exercer novamente o sacerdócio, caso durante 22 anos. Hoje é presidente da fosse possível. A questão do celibato é, Associação Fraternitas, uma entidade de sem dúvida, um ponto sensível para os * SANDRA CARDOSO padres dispensados do exercício do padres dispensados. Vasco Fernandes scardoso@destak.pt ministério. Depois de ter sido missionário em África, padre/operário em Paris e CELIBATO – A OPINIÃO DA IGREJA professor em colégios, sentiu necessidade de mudar o rumo da sua vida: a solidão e falta de afectividade Contra. A Favor. eram difíceis de suportar. Enviou o “O celibato tem de ser urgentemente Para o padre José Cardoso “celibato é pedido de dispensa para o Vaticano banido como lei obrigatória, porque é um dom de Deus, tal como o alegando motivos de ordem pessoal. A um atentado aos direitos humanos” A casamento”. Encara a sua opção com resposta foi rápida. Um ano e meio opinião é do Padre Manuel Vilas Boas naturalidade, visto que foi fruto de um depois estava casado. Hoje tem 70 anos, que considera que a sua abolição grande período de reflexão e dois filhos e afirma sentir-se realizado. discernimento. “Foi uma opção “aumentaria a saúde psicológica dos sacerdotes”. O Padre considera a pessoal, sinto-me feliz, não me imagino Como Vasco Fernandes outros padres casado”, explica ao Destak. O Fraternitas “uma associação de boa sentiram a necessidade de ponderar a eclesiástico não vê o celibato como um vontade, mas que não resolve os sua decisão. Com nove anos de “dogma”, explica ao Destak, problemas” e acredita que estes padres existência a Fraternitas conta com cem relembrando que os padres não são membros e é reconhecida pela voltariam ao sacerdócio se a Igreja o permitisse. “A Igreja mostra-se celibatários desde o início, ainda assim Conferência Episcopal. não acredita numa mudança na prepotente ao não aceitar o trabalho de legislação quanto a este ponto. “Trata- O facto de alguns padres abandonarem padres preparados, que se mantêm -se de uma questão mediática, mas o sacerdócio para constituírem família quietos, mudos e surdos”, acusa. dentro da Igreja não é um problema”, está normalmente associado à ideia de Relativamente à posição do Sumo reflecte e acrescenta que “acabar com choque com a Igreja, mas nem sempre Pontífice em relação à questão, Vilas o celibato não traz mais vocações nem é assim. “A Fraternitas não te um papel Boas diz que “Bento XVI não tem o fim dos escândalos sexuais que contestatário” revela o presidente ao capacidade para fazer uma alteração envolvem membros da Igreja porque Destak e sublinha “somos Igreja”. Os da lei” e sustenta que “só um Papa do essas questões são problemas de objectivos do organismo são ajudar 3º Mundo o poderá fazer”. formação”. espiritualmente os seus membros, proporcionando-lhes um espaço de * (textos retirados do jornal diário de distribuição gratuita Destak)
  • 4. 4 espiral Aquela Ponte! (No aniversário da queda da Ponte Hintz Ribeiro, em Entre-os-Rios) E já lá vão quatro anos. Memória? região olhavam e não viam. Não viam razões, com as suas vastas e profundas Saudade? A velha Ponte de Entre-os- os sinais de fraqueza? Ou não queriam ideias de homens importantes e não viam -Rios, Hintze Ribeiro, soçobrou às ver? E quando se associam os “media” os sinais de velhice que a velha e cente- cheias, às tormentosas correntes, aos então é que os homens ficam desnor- nária Ponte não escondia: o piso, o supor- maus tratos de longos anos… Rebentou teados, cegos… “Os homens só vêem te, os pilares, a ferrugem, os buracos, o de velhinha! Não aguentou a passagem na medida dos seus interesses…” Este leito do rio, a extracção das areias, a de um autocarro… problema é grave! Os homens impor- responsabilidade irresponsável dos que Era uma vez a Ponte!... tantes, circunspectos… só olham coisas deviam e tinham responsabilidade pela A velha Ponte, já mostrava sinais importantes. E não olharam a Ponte! conservação e responsavelmente de- de cansaço. Os homens, os responsáveis, Serviam-se constantemente dela, viam zelar pelo seu bom estado de os homens sérios deste país e da nossa argumentavam nas suas vastas e eruditas ponte… Depois… conclusão douta dos mais entendidos na matéria: causas naturais. Pois… porque não? Se a água corre para GRITO níveis mais baixos… se é Inverno… se a torrente é tumultuosa… se a lei da gravidade é real… se o poder erosivo Quantas vezes vou desesperando!... das águas é evidente… se o autocarro Lembro então a palavra de Amor escolhesse outra hora de passagem… que em minh’alma rebrilha e cintila, se os interesses fossem outros… se se em apelo p’ra Ti, meu Senhor. cuidasse das coisas públicas com cuidado e carinho… se quem tem o dever Essa estrela é Luz e é Fé de zelar, zelasse… se se pudesse mudar que ao meu peito aquece e se inflama, a história… oh! hoje, felizes, em torrentes de Luz e Esp’rança: celebraríamos mais um aniversário da quem confia e espera é porque ama. velha Ponte Hintze Ribeiro. Como o “se” é condição, neste Quanto mais cintilante essa Luz caso irredutível… não podemos mudar no recôndito brilha e aquece, o curso à história. Lamentar é a solução o meu todo oscila, estremece, dos fracos. E não estamos sós! … Preferia prevenção, responsabilidade e, na noite, Te grita, Jesus, assumida de quem governa e de quem bem ardente e sentida esta prece: julga … e muitas graças daríamos a “Só o Teu Sol no meu ’scuro reluz!” Deus que nos tinha enviado homens sábios, capazes de dar o progresso A. de Oliveira Marinho merecido a esta tão martirizada terra! Elvas, 03.09.2004 J. Soares
  • 5. espiral 5 e c o s d o . . . . . . xii encontro nacional da associação fraternitas movimento De 22 a 25 de Abril de 2005 teve lugar Direcção em Fátima, na Casa de N.ª Sr.ª do Carmo, Presidente – Vasco Jorge Santos Fernandes (Porto) o XII Encontro Nacional daAssociação Vice-presidente – Carlos Leonel Pereira dos Santos (Lisboa) Fraternitas Movimento com a presença Secretária – Eduarda Garcia de Oliveira e Cunha (Viseu) de oitenta participantes. Tesoureiro – Serafim Rodrigues (Cinfães) Do programa constava uma parte Vogal – Salomão Duarte Morgado (Porto) formativa – que tem sido uma constante em todas as reuniões deste género – e a Mesa da Assembleia Geral reunião da Assembleia Geral da Presidente – Jacinto de Sousa Gil (Leiria) Fraternitas para o cumprimento das Secretário – Manuel Batista Calçada Pombal (Viana do Castelo) exigências estatutárias e para proceder Vogal – Alípio MartinsAfonso (Chaves) à eleição dos corpos gerentes da Conselho Fiscal associação para o próximo triénio. Presidente – José Serafim Alves de Sousa (Lisboa) A parte formativa, que percorreu todo o Secretária – Cibele da Silva Carvalho Sampaio (Chaves) encontro e foi orientada pelo sócioArtur Relator – Luís da Luz e Cunha (Viseu) da Cunha Oliveira, tinha como tema “S. Mateus — o Evangelista do Ano A”. Logo após a eleição destes titulares, teve momentos de oração, celebração Baseado num livro de sua autoria com lugar a cerimónia da tomada de posse eucarística pelo P. João Caniço e este título, o Artur, para além de desen- dos respectivos cargos, posse que lhes momento de arte e cultura pelo colega volver os assuntos a tratar, organizou foi conferida pelo Presidente da Francisco Fanhais. Todo o encontro foi tópicos específicos para o trabalho de Assembleia Geral cessante. um saudável convívio entre todos. grupos, moderou criticamente as conclu- No seu conjunto, este encontro foi uma Também não foram esquecidos os sões dos grupos, respondeu a questões, jornada de muitas horas, com longos e ausentes nem aqueles que Deus já esclareceu dúvidas, tirou conclusões. agradáveis momentos de estudo, chamou para Si. Na tarde de domingo, dia 24, reuniu a Assembleia Geral para tratar os vários pontos da agenda. Começou pela apreciação e votação do relatório e contas relativos ao ano de 2004, do plano de actividades para 2005 e da corres- pondente previsão orçamental, docu- mentos que foram aprovados por unani- midade.Aprovou também uma proposta de aumento da quota anual, bem como um donativo de •500 à Fundação Cónego Filipe de Figueiredo, de Estarreja, como homenagem ao nosso fundador e assistente. Por último, procedeu-se à eleição dos corpos gerentes da Fraternitas para o próximo triénio. Como resultado, os Mangas arregaçadas, pose desportiva... Parecem de férias, mas não! Estão aqui é para trabalhar! São o rosto novos titulares são os seguintes: da Fraternitas: a nossa Direcção eleita para este triénio.
  • 6. 6 espiral Habemus Papam? Não, com Bento XVI, quem sabilidades e (talvez ao contrário do seu docente foi ele. Portanto, é lícita alguma assumiu o leme da Igreja não foi antecessor) também humilde, ele assu- ansiedade por saber se e de que modo seguramente alguém que pudesse ser um miu com extrema seriedade este dever esta faceta do seu carácter vai sobressair “Pai” para os padres casados e suas de defesa contra desenvolvimentos que, nesta sua nova função. mulheres. Com maioria de razão sob a a seu ver, contenham algo de perigoso. sua direcção nada mudará no que Ainda na homilia da eucaristia de Neste contexto seria interessante e respeita à obrigatoriedade do celibato. abertura do conclave foi central a adver- importante lançar um olhar rectros- Seria, aliás, ingénuo lamentar, pura e tência contra o “individualismo” que ele pectivo não só para o Ratzinger prefeito simplesmente por este motivo, a decisão equipara ao egoísmo. da Congregação para a Doutrina da Fé, pessoal do conclave: com qualquer outro mas também para o anteriormente bispo candidato seria exactamente a mesma de München und Freising. De qualquer coisa. maneira não se conhecem desse tempo Se houve um docente nenhumas medidas restritivas sensacio- É, no entanto, fundamental ser-se nais do género das que, naAlemanha de de teologia que cauteloso nos prognósticos sobre as hoje, são habituais para alguns bispos de soubesse transmitir consequências desta eleição papal. nomeação de João Paulo II. Compreensívelmente os comentadores não só partem da actuação de Ratzinger conhecimentos sobre Já por força da sua idade, Bento enquanto prefeito da Congregação para a fé, mas também XVI será um papa de transição; a Doutrina da Fé. Neste cargo era tarefa alegria na fé, esse provavelmente foi o que pensaram os sua intervir contra desvios (factuais ou docente foi ele. seus eleitores. Justamente neste último supostos) da doutrina da fé católica; o Portanto, é lícita quarto de século João Paulo II permitia, sistema está totalmente orientado para a alguma ansiedade se não mesmo forçava, que, na defesa. percepção pública, a Igreja se identi- por saber se e de que ficasse cada vez mais com a persona- modo esta faceta do Seria, aliás, ingénuo lidade do papa. Disso ela tem de come- seu carácter vai çar por se refazer. O que é que está pro- lamentar, pura e sobressair nesta sua priamente contra a que nesta situação o simplesmente por nova função. papa Bento XVI tenha sido a escolha este motivo, a certa? decisão pessoal do conclave: com Como papa, ele já não se pode qualquer outro limitar a uma atitude de escrupulosa e Ernst Sillmann, candidato seria constante prontidão defensiva.Aliás, ela presidente da VkPF exactamente a não corresponde ao seu perfil intelectual. (associação alemã dos padres mesma coisa. As suas aulas em Tübingen tinham um católicos casados e suas esposas). estilo totalmente diferente. Se houve um 21 Abril 2005. docente de teologia que soubesse Porque Ratzinger é um servidor da transmitir não só conhecimentos sobre a [origem: http://www.nwn.de/vkpf/ sua Igreja consciente das suas respon- fé, mas também alegria na fé, esse aktuelles.htm]
  • 7. espiral 7 Cartas... Quando recebo o “Espiral”, não o trato como mais uma publicação à espera reflexão dialéctica entre o nosso Vê-se que o Espírito Santo está de tempo para a ler. Leio-o imedia- Movimento e a Igreja (nas suas connosco! tamente, como carta de um amigo ou estruturas), sobretudo, no seu caminhar. J. Silva Pinto amigos, e logo destes, de vós!... [...] Entretanto, eu continuo, em acto de Fé, A escritura diz (mais ou menos) que a afirmar: “Creio na Igreja, Una, Santa, N. E.: Esta carta, assaz longa, do nosso “o homem de Deus tira, do seu tesouro, Católica, Apostólica e Romana”. [...] amigo e companheiro Silva Pinto, já coisas novas e velhas...”. Foi o que fez o Estas “cartas”/Espiral são sempre há bastante tempo que estava em nosso Simão. [...] Conheço-o bem e sei que bem-vindas. Mas, não poderiam ter sido poder, esperando oportunidade não perde “pitada” para fazer um acto enviadas mais cedo? Desculpa, Osório! (= espaço) para ser publicada. Como de Fé: “Deus anda por aí”! [...] Parabéns aos irmãos, autores e simpaticamente nos autorizou a fazer Algumas das suas afirmações [do editores — e não são poucos —, pela “cortes”, partilhamo-la agora com João Simão] poderão servir para uma qualidade e oportunidade dos temas! [...] todos. e c o s d o . . . “... Agradeço a oferta do Boletim e “...a agradecer mais um número de “Recebi os dois números de Espiral que felicito-o [Vasco] pela confiança Espiral e a solidarizar-me, na comunhão muito agradeço. Permite-me contactar depositada na sua pessoa pelos membros de Igreja, com o que o Vasco tão com uma realidade viva da nossa Igreja da Associação, e faço votos para que rectamente sublinhou no Editorial. Só e acompanhar os caminhos da possa ajudar todos a encontrar o seu com Comunhão e Amor do Evangelho, Associação com fraterna estima e atenta lugar na Igreja, como membros de pleno e com as pessoas concretas do nosso oração.” direito, sempre prontos para o serviço dia-a-dia, é possível dar “razões de Carlos Azevedo aos irmãos.” Esperança” É necessário escrever, com- António Vitalino prometendo-nos com este serviço de Honra! Desejo a todos a prossecução feliz duma caminhada-movimento onde a fraternidade é sinal e fascínio. Não há melhor carta de apresentação!” Januário Torgal Ferreira “Venho agradecer-lhe o “Espiral” que li . . . espiral de fio a pavio como sempre. Convenço- -me que nada lhe vai faltar para continuar no mesmo ritmo. Que o nosso “Agradeço ao novo presidente de Deus os abençoe e que o vosso e nosso Fraternitas o envio do Boletim, com vo- desejo se tornem quanto antes numa tos de que continue a ser um bom atitude da mãe Igreja.” instrumento de ligação e formação.” Manuel Martins Manuel Falcão
  • 8. DENTRO DA IGREJA!... E FORA DA IGREJA?!... ou contar-vos hoje uma pequena história de Estou a falar do perdão. Entrosados numa cruel «lei de Maurice Bellet: Talião» que nos comanda desde a família até à profissão e à Houve uma vez um grande política, falta-nos a coragem de viver uma das evidências Congresso de musicólogos. Por isso o tema era a música. Os mais incontestadas do Evangelho, como é o perdão! Podem participantes foram tão numerosos quanto eminentes. Houve dizer-me que se insiste exageradamente nesta falta de discursos até fartar, colóquios subtis, mesas-redondas, coerência entre o que se diz e o que se faz. Mas tem mesmo conferências de imprensa, resmas de papéis policopiados, e que se insistir. É esta incoerência que provoca as maiores até textos impressos. desilusões na vida de quem procura a felicidade. Quando não No conjunto o Congresso foi um êxito! Só parece ter há um ponto de referência na vida, cai-se na satânica confusão destoado um pequeno incidente: No decurso de uma sessão de não se saber já o que se quer. E a infelicidade é isso: não plenária, alguém começou a tocar flauta! Tentou-se fazê-lo sabermos o que queremos, e matarmo-nos por o conseguir! É compreender que devia acabar imediatamente com esse som luta de náufragos!... Ora vejam: inoportuno. Mas, inconsciente ou cínico, ele não entendeu. Jesus estava, um dia, em casa do fariseu Simão, que O Foi preciso fazê-lo sair. Porque as coisas são o que são: não convidara para um jantar. Entrou na sala uma pecadora, que convém que a música perturbe algo de tão sério como a todos conheciam... Pesado como chumbo, caiu um silêncio, musicologia!... quase tétrico, naquela sala! Era uma mulher e, ainda por cima, É a história da incoerência e da contradição. Vou aplicá- pecadora! Para os homens daquele tempo (e para os de -la à nossa vida concreta. hoje?!...) era inadmissível tal atrevimento!... Mas ela avançou, Imagino-me numa igreja. Ressoa, pelos venerandos corajosa, sem pedir licença a ninguém! Atravessou a sala e espaços, uma límpida cascata de vozes convictas, ritmadas, foi cair de joelhos aos pés de Jesus! Não disse nada. Não possuídas da alma das palavras. A oração é simples, como é pediu nada, porque aquele gesto, na sua mudez, dizia tudo! Os simples o diálogo com Deus: É o «Pai Nosso». E o eco das olhares esquivos dos presentes rezaram-lhe a sentença vozes da assembleia esvoaça, de mansinho, pelo vasto templo: condenatória! Quantos, que agora a condenavam, a tinham «Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a procurado, aumentando-lhe o fardo dos seus pecados?!... quem nos tem ofendido»... Depois vem o abraço da paz, que Sentiam-se incomodados ali!... pretende ser símbolo da nossa união com Deus e com os O homem nunca é tão grande como quando se ajoelha outros. Há um misto de silêncio e de festa, em sorrisos, a diante de Deus! E aquela mulher tornou-se tão grande que ciciar um desejo: «A paz de Cristo esteja contigo». Tudo esmagou todos os presentes com a sua coragem. Todos não!... parece um claro compromisso!... Jesus falou e acolheu essa mulher, oferecendo-lhe o perdão Mas chega o momento de sair da igreja e entrar no que só ela entendeu. Para os restantes não passou de um concreto da vida. Aí começa a contradição! Agora já o coro é exotismo sem sentido nem etiqueta. diferente! No congresso de música não se devia tocar flauta, Os discursos, as palavras, que hoje pronunciam tantos como na vida já parece não se dever ser cristão. Quantos de que não as vivem, também as sabiam os presentes naquele nós teremos a coragem de repetir, em gestos concretos, no jantar. Mas não haviam descoberto esse fio de música mágica, nosso dia-a-dia, o que expressamos em palavras, dentro da que era, afinal, o segredo da alegria e de humanidade. Esse igreja?!... Será que o cristianismo não passa de palavras fio é o perdão. bonitas, entaipadas dentro dos templos?! Vamos a ver se, ao menos nós, que cantamos e rezamos em casa e na igreja, somos capazes de aprender a lição: «...Assim como nós boletim da espiral associação fraternitas movimento perdoamos a quem nos tem ofendido»... Vale a pena pensar nisto!... Para não Rua Lourinha, 429 - Hab 2 4435-310 RIO TINTO Responsável: Alberto Osório de Castro fazermos de palhaços idiotas!... e-mail: a-osorio-c@clix.pt Nº 20 - Julº/Setº de 2005 Manuel Paiva