Relatório Caminhos para a produtividade - Indústria 4.0
Cooperação e redes de inovação
1. intercâmbio sobre suas ações em parceria e os
desafios desse processo.
O caso apresentado foi a prática de logística
reversa em refratários da Magnesita, empresa
participante do CRI. A pesquisadora da
FUNDAÇÃO DOM CABRAL Magnesita, Daniele Fonseca de Lima,
compartilhou com todos a oportunidade de
desenvolver uma nova plataforma de negócios
CENTRO DE REFERÊNCIA EM dentro da sua empresa, com foco na
INOVAÇÃO – MINAS sustentabilidade, tanto dos recursos naturais
que utiliza quanto da sua cadeia produtiva.
06/10/2011 O Caso de Inovação Magnesita já está em
produção pela equipe do CRI Minas e deverá
Um sistema de inovação é, por natureza, um
ser entregue no próximo encontro, dia 15 de
sistema de cooperação. É resultado de um
dezembro, para os integrantes, juntamente
conjunto de conhecimentos, tecnologias e
expertises que podem ser melhor gerados pela com os outros Casos que estão em fase final
integração entre atores: parceiros que sabem atuar de aprovação interna nas empresas onde
juntos em busca de inovação. foram gerados: Samarco e Alstom. As versões
impressas e online de cada Caso serão
“Cooperando para Inovar” foi o tema do disponibilizadas para todos dentro do objetivo
penúltimo encontro do ciclo 2011 do CRI MG. do CRI de partilhar e disseminar as
Um tema bastante rico, especialmente pela experiências e os estudos gerados pelo grupo
troca de experiências entre o grupo de e por cada empresa do grupo na criação de
empresas participantes do Centro de um ambiente propício para a inovação
Referência da Inovação Minas que, afinal, foi contínua em Minas Gerais.
criado pensando na eficiência de uma rede de
parcerias e cooperação quando o assunto é Na sequencia do encontro, Alexandre
inovação. Barragat, superintendente de relacionamento
com empresas da FINEP – Financiadora de
A primeira parte do encontro contou com Pesquisas e Projetos – aproveitou a
conceitos, reflexões e dados de pesquisa oportunidade de conhecer as grandes
sobre a prática de parcerias e interações com empresas mineiras e apresentar os fundos de
outros agentes e atores da inovação, financiamento da FINEP.
apresentados pelas professoras integrantes do
Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral, A agenda para 2012 do CRI Minas já está
Rosiléia Milagres e Hérica Righi. As duas definida e terá o encontro de abertura no dia
economistas trabalham com esse tema desde 22 de março, com presenças internacionais
2004 e acreditam que estratégia e inovação como Peter Skarzynski, co-fundador da
são faces de uma mesma moeda. Segundo empresa de consultoria Strategos. As
Rosiléia Milagres, “não tem como se empresas que ainda não definiram sua
posicionar estrategicamente dentro de um participação no CRI de 2012 são convidadas a
ambiente se você não pensar de forma não perder a oportunidade de estar, por mais
inovadora, se você não inovar nos seus um ano, no centro da discussão sobre
processos, produtos e modelos de negocio. E a inovação no estado.
inovação de um modelo de negócios pode ser
feita através da formação de redes e Inovação e Relacionamento com o Ambiente
parcerias”. Externo
Dentro do contexto que as duas professoras e
pesquisadoras apresentaram, as empresas A professora Rosiléia Milagres começou sua
foram convidadas a uma prática de apresentação com muita música e uma
2. redes e mídias sociais como fonte de
inteligência competitiva. São espaços para
conversar, comunicar-se com os seus
consumidores, pesquisar tendências de
consumo, capturar ideias e fidelizar clientes.
Instituições mais específicas podem usar as
redes inclusive para fazer negócios,
transações colaborativas.
As pessoas conectadas individualmente
também estão conectadas dentro de suas
organizações. E ali mesmo podem trocar
interessante analogia. A gravação da música conhecimentos, competências, habilidades,
exibida em vídeo pela professora foi feita em informações. Hoje, cada vez mais, as
diversos lugares do mundo, com músicos, organizações buscam as comunidades de
instrumentos e vozes espalhados, mas um prática internas para transferirem
único resultado: uma bela música, muito conhecimentos e informações que vão trazer
melhor executada do que se qualquer um vantagens competitivas. Para isso, é
deles tivesse gravando a mesma canção necessário criar espaços de encontro e
sozinho. Reunindo as competências, interação, para estimular a troca entre as
habilidades e experiências de vida de cada pessoas.
um dos participantes do projeto e uma
produção organizada pela tecnologia a tempo Indo além das comunidades internas, as
e a hora do mundo atual, o produto final saiu organizações podem estar conectadas entre
melhor, mais interessante e mais atrativo si, em redes inter organizacionais. Redes
para o consumidor, nesse caso, o apreciador assim podem se formar dentro da cadeia
de música. Partindo do conceito produtiva, por exemplo. As relações que são
subjetivamente exposto no vídeo, ficou clara estabelecidas ali têm características próprias,
a conexão entre essa experiência e o fluxos e conexões cooperativas. São joint
movimento mercadológico que está por trás ventures, alianças estratégicas, acordos para
das redes. troca de tecnologia, desenvolvimento de
novas tecnologias ou para acessar novos
Dentro do contexto global, de mercados.
compartilhamento, velocidade das
informações e troca de conteúdo, as redes Outros tipos de redes englobariam ainda
adquirem uma relevância ímpar no mundo dos diferentes atores como governo, instituições,
negócios. As redes ajudam as organizações a universidades, institutos de pesquisa, ONGs,
responderem aos desafios colocados nesse comunidade. A conexão entre esses tipos de
ambiente, a se manterem competitivas, atores pode ser um pouco mais complexa, já
construindo suas vantagens competitivas. No que envolve um conjunto diversificado de
entanto, redes podem existir em diferentes formas de atuação e propósitos. Um exemplo
estágios e diferentes níveis e formatos de são os consórcios que atuam no setor das
conexão. O primeiro deles parte da grandes construções. Por causar impacto
compreensão de que redes são formadas por ambiental, econômico e social, as
indivíduos conectados. Todos nós temos a organizações principais e o governo precisam
pré-disposição de estar conectados, passamos estabelecer diálogo e redes atuantes com
grande parte dos nossos dias nos relacionando todos os stakeholders, em especial as
através de redes, especialmente redes sociais comunidades no entorno da obra, através de
e virtuais, usando-as como meios de ONGs, institutos e mesmo as universidades
informação e de troca de conteúdos. As que podem ajudar no desenvolvimento de
organizações perceberam, então, que existia tecnologias apropriadas para a região. Hoje, a
ali uma oportunidade. E passaram a usar rede formada entre organização e
3. stakeholders é quase que obrigatória para que companhias usa recursos dos seus parceiros,
todos trabalhem de forma conectada e esteja ela gera uma vantagem competitiva, acessa
garantida não só a viabilidade da obra como novos mercados, ganha escala, reduz custos,
também uma situação em que todos ganham. adquire e repassa para os seus clientes as
vantagens que a rede proporciona, abrindo
Existe hoje um conjunto amplo de novas possibilidades de oferecimento de
possibilidades de conexão. Entre indivíduos, produtos e serviços. Na percepção dos
dentro das organizações, entre organizações, clientes, isso significa aumento de valor, ele
entre parceiros, ou com diferentes atores. passa a optar por determinada rede.
São redes com variadas formas, acordos,
intensidades, tipos de contratação, No entanto, enquanto parcerias podem ser
investimentos e alianças, sendo necessário extremamente vantajosas, também geram um
desenvolver diferentes mecanismos, recursos alto número de insucessos. Isso acontece
e instrumentos para gerir essas parcerias. porque é muito mais difícil gerir uma parceria
ou uma rede do que uma organização
Mas porque hoje? A ideia do trabalho em individualmente. A formação de uma rede
conexão existe na história há séculos. Há para cooperação vai exigir o desenvolvimento
muito que se sabe que a divisão do trabalho de estruturas específicas de gestão. Nesse
promove eficiência, que cada um pode ponto podem começar os problemas de
desenvolver um conhecimento específico e diferenças entre parceiros. Diferenças
depois trocar esses conhecimentos e ainda culturais, por exemplo com a origem do
atrair novos. O que mudou no início do século capital ou com a nacionalidade da empresa.
XXI foi a complexidade do ambiente, o Diferenças setoriais – setores raciocinam de
aprofundamento dos conhecimentos forma diferente, têm negociações, tempos e
específicos, exigindo cada vez mais vantagens tecnologias diferentes. Muitas vezes, nem os
competitivas diferenciadas de cada objetivos convergentes necessariamente
organização. Hoje o mundo tem cerca de 70% convergem. E esse é um dos mais graves
dos seus produtos gerados com base em motivos de rupturas da rede.
conhecimento. E à medida que esse
conhecimento se torna mais complexo, menos Depois de encontrada a oportunidade da
uma organização é capaz de dominar todas as parceria, vem todo um conjunto de
informações necessárias para enfrentar os atividades, dentro de unidades de negócios
desafios atuais. Mas em rede, com específicas, que vão ter que se conectar com
cooperação, ela não só saberá enfrentar outras e processos terão que ser
riscos e vencer desafios como entregará um desenvolvidos. Entre essas empresas circula
produto ou serviço muito melhor ao mercado. informação, conhecimento, cooperação. No
A parceria traz a possibilidade de entender entanto, não existe estrutura hierárquica,
melhor a demanda, ajustar processos, colar as poder que se sobressaia. Uma estrutura de
cadeias produtivas e estruturas confiança deve ser formada, com contratos
organizacionais e levar ao mercado um formais e também informais, que previnam
produto mais interessante do que estava comportamentos oportunistas.
levando antes. Ao mesmo tempo, por trás de
todos esses processos, a rede também está Para uma boa parceria acontecer, é
trocando informações sobre o padrão e perfil necessário criar fluxos, trabalhar as
de consumo de seus clientes. E com isso pode diferenças culturais, posicionar os objetivos
gerar ainda mais negócios. Isso muda o lócus convergentes, a integração entre processos, a
da competição, que deixa de ser uma governança e, especialmente, desenvolver
concorrência empresa X empresa para se boas lideranças. O trabalho para que a
tornar uma competição entre redes. Um bom parceria dê certo é árduo, mas os ganhos são
exemplo é o setor de aviação comercial, muitos.
formado por grandes alianças internacionais Até onde as empresas cooperam para inovar
entre companhias aéreas. Quando uma dessas
4. tecnológico e não conseguem articular o
conhecimento internamente com eficiência.
Sobre os tipos de parceiros com quem as
empresas cooperam, a maior parte respondeu
que é com os fornecedores. Em seguida, com
os clientes. A relação fornecedor/cliente é a
mais procurada por gerar uma espécie de lock
in, unindo os dois parceiros numa vantagem
também comercial. Em terceiro lugar,
aparece a parceria com universidades, que
trazem novos conhecimentos para a rede.
A professora e pesquisadora Hérica Righi Depois, vêm as empresas de consultoria.
trouxe para o grupo alguns dados
interessantes sobre o processo de inovação Os dados sobre os objetivos da cooperação
através da cooperação nas empresas são resultado de uma pesquisa feita com o
brasileiras. grupo de participantes do CRI. A maior parte
das respostas ligou os objetivos da
A primeira informação veio de uma pesquisa cooperação (seja com clientes, com
realizada entre os CEOs das maiores empresas fornecedores ou universidades) a P&D. Outras
no mundo. Eles foram perguntados sobre a resposta que surgiu algumas vezes foi
expectativa de inovação nas suas empresas “ensaios de testes para produtos”, que
para os próximos 3 anos. A maior parte deles normalmente são feitos em laboratórios
respondeu que espera desenvolver inovações especializados parceiros para aprovar a
com parceiros fora de suas organizações. Isso tecnologia que está sendo pesquisada ou
demonstra que já está no mind set das desenvolvida.
empresas que elas não vão desenvolver
inovações sozinhas. Algumas delas A cooperação para inovação vai ter diferentes
responderam que contam com ajuda de seus características e objetivos de acordo com o
governos e outras vão desenvolver em setor em que a empresa está inserida. As
conjuntos com diferentes instituições como diferenças setoriais estão centradas no tipo
universidade, institutos de pesquisa, órgãos de conhecimento que o setor demanda e o
de fomento, entre outros. Ou seja, a maior regime de propriedade tecnológica, nos
parte das inovações passará por integrações atores e nas redes daquele setor e nos marcos
com diferentes atores. estabelecidos: instituições, marcos
regulatórios, patentes, etc.
Outros dados apresentados são da Pintec –
2008 Pesquisa de Inovação Tecnológica A cooperação para a inovação passa pela
realizada pelo IBGE, observando um corte mesma ideia de cooperação para qualquer
feito especificamente sobre cooperação entre outra finalidade – juntar competências
empresas com foco em inovação. Segundo a distintas e criar algo de maior valor para o
pesquisa (2008), 41 mil empresas inovaram no mercado e com mais eficiência – e não se
Brasil. Dessas, apenas 4 mil inovaram com restringe somente às indústrias de alta
cooperação de um universo de mais de 100 densidade tecnológica. Muito menos se
mil empresas analisadas. Na divisão entre restringe ao tipo de inovação. A cooperação
pequenas, médias e grandes, as grandes pode estar presente em todos eles: produto,
inovaram significativamente mais que as processo, mercado ou modelo de negócio.
outras. Por terem um mercado maior, mais
condições de investir, conseguem atrair Os desafios para a cooperação
parceiros para a inovação e agir de maneira
disruptiva. As pequenas empresas, muitas
vezes, estão correndo atrás de um gap
5. interesses, com fluxos e instrumentos eficazes
de gestão das competências de uma parceria.
Caso Magnesita: Logística Reversa para a
Sustentabilidade
Os participantes foram convidados a discutir
entre si quais são os principais desafios que
hoje as empresas enfrentam para cooperar na
busca pela inovação. Com quem eles já
cooperam, com quem poderiam cooperar,
quais são as dificuldades na criação desta
rede? Vários dos conceitos de parceria, cooperação
e rede que foram apresentados e discutidos
Um dos parceiros mais citados foi a durante o encontro puderam ser constatados
universidade, em grande parte pelas na apresentação do Caso de Inovação da
dificuldades que essa relação impõe. Uma das Magnesita, que desenvolveu um projeto de
mais graves está na diferença de timing entre Logística Reversa para a reciclagem dos
a empresa e a academia. A urgência que a resíduos refratários gerados por seus clientes.
empresa tem de colocar os novos produtos no Um dos fatores de sucesso do projeto é
mercado encontra uma resistência na exatamente a conexão feita com diversos
universidade. Além disso, os dois falam atores, desde a pesquisa laboratorial sobre as
línguas diferentes, uma voltada para a rotas de reciclagem de cada material até a
velocidade e as demandas do mercado e a forte parceria com os clientes, que precisam
outra voltada para o academicismo do agir em conjunto com a Magnesita na coleta
desenvolvimento de conhecimento. É um seletiva e transporte dos materiais que vão
desafio trabalhar com as universidade, mas é ser reciclados.
também uma oportunidade. Cada uma tem a
sua função na sociedade e isso não vai mudar, Mais detalhes sobre o projeto e os
mas talvez as escolas possam ser melhor significativos resultados que a empresa tem
preparadas para receber e entender o projeto conseguido estarão no Caso de Inovação
das empresas e para gerar mão de obra Magnesita, documento em fase de aprovação,
específica para este mercado. O fluxo é que que será entregue para os participantes no
precisa ser melhor construído. próximo encontro.
Entre os demais atores, novamente os mais FINEP, Agência Brasileira da Inovação
citados foram os fornecedores e os clientes.
Nesse caso, os maiores desafios estão em Alexandre Barragat, Superintendente da Área
alinhar as diretrizes estratégicas de cada de Financiamento da Finep – Financiadora de
empresa envolvida, especialmente na questão Pesquisas e Projetos – fechou o encontro
dos objetivos, da confiabilidade e da apresentando a instituição e as suas linhas de
confidencialidade. Também é importante que financiamento e crédito às empresas. Criada
cada empresa envolvida na rede entenda os em 1967 para apoio ao desenvolvimento
processos, procedimentos e produtos da tecnológico, especificamente com crédito (a
outra. O segredo está em orquestrar todos os partir de 1976), a Finep passou por uma
revisão de planejamento estratégico no ano
6. passado e adotou a ambiciosa estratégia de Até a Próxima!
transformar o Brasil através da inovação. Para
Equipe CRI-MG
isso, atua com três formas de apoio:
financiamento não reembolsável (com Empresas associadas:
recursos dos fundos setoriais), Fundos de
capital de risco (ou subvenção econômica) e
Financiamento Reembolsável (Inova Brasil).
A Finep está estruturada para financiar
empresas em todos os níveis de maturidade e
em todos os níveis de desenvolvimento
científico, tecnológico e de inovação, desde a
fase inicial de pesquisa científica e
infraestrutura (com a modalidade de
financiamento não reembolsável FNDCT) até a
fase de expansão e consolidação (com as
modalidades de financiamento Crédito, ICT-
EMP e Subvenção Econômica).
Entre os Financiamentos Não Reembolsáveis
está a Subvenção Econômica, que apoia o
desenvolvimento de produtos, processos e
serviços inovadores brasileiros em áreas
consideradas estratégicas nas políticas
públicas federais. Já foram 4 editais de
Subvenção Econômica, com total aprovado de
R$1,6 bilhão para 825 projetos. Outros
financiamentos Não Reembolsáveis são os
Fundos Setoriais e o Prêmio Finep de Inovação
– que premia, com R$ 120 mil a R$ 2 milhões,
micro, pequenas, médias e grandes empresas
por seus esforços inovadores. Outro
instrumento da Finep são os Fundos de Capital
de Risco. Há 11 anos a Finep vem tentando
estimular uma indústria de capital de risco no
Brasil, ajudando a qualificar e investir, junto
com outros parceiros. O Inova Brasil é mais
um programa de crédito, de Financiamento
Reembolsável, sobre o qual a Finep recebeu
recursos de R$ 3,7 bilhões para operá-lo. O
público alvo desse programa são as empresas
de médio a grande porte. As propostas são
feitas de modo aberto, sem edital ou período
para ocorrerem e podem se encaixar entre
três linhas: Inovação Tecnológica, Capital
Inovador (para estrutura física de P&D) e Pré-
Investimento (para implantação de
engenharias e conhecimentos totalmente
novos). Entre 1999 e 2010, os recursos da
Finep cresceram quase 10x, divididos entre
FNDCT, Subvenção (a partir de 2006) e
Crédito.