O espaço rural, com todas as suas assimetrias, convive actualmente com a força e vontade em reerguer os seus recursos endógenos e autóctones. Contudo, esta vontade é função única e quase exclusivamente feita por populações que se vem fixado, proveniente dos grandes centros urbanos à procura de uma descentralização que lhes confira uma maior proximidade com os recursos naturais, com os factores de produção agrícolas e com os costumes rurais. Esta mesma descentralização surge ainda na linha de procura em reerguer práticas ancestrais de uso e utilização dos recursos solo e água.
Vermicompostagem Profissional - Curso de Formação em E-learning
Vermicompostagem - Que papel para a gestão sustentável e multifuncional do espaço rural?
1. VERMICOMPOSTAGEM – QUE PAPEL PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL E
MULTIFUNCIONAL DO ESPAÇO RURAL?
Nelson Miguel Guerreiro Lourenço1
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BSc em Engenharia do Ambiente (ULHT), MSc em Gestão Sustentável dos Espaços
Rurais (UALG/FCT), Formador (n.º 523366/2010).
Futuramb – Gestão Sustentável de Recursos – DCEA / CPIV, Messines de Cima, caixa-
postal 5-S, 8375-047 S. B. Messines, Portugal.
Palavras-chave: Espaço rural, vermicompostagem.
O espaço rural, com todas as suas assimetrias, convive actualmente com a força e
vontade em reerguer os seus recursos endógenos e autóctones. Contudo, esta vontade é
função única e quase exclusivamente feita por populações que se vem fixado,
proveniente dos grandes centros urbanos à procura de uma descentralização que lhes
confira uma maior proximidade com os recursos naturais, com os factores de produção
agrícolas e com os costumes rurais. Esta mesma descentralização surge ainda na linha
de procura em reerguer práticas ancestrais de uso e utilização dos recursos solo e água.
O espaço rural permite ainda larga independência em bens e géneros alimentícios por
parte do produtor, desde produtos hortícolas, frutícolas e culturas cerealíferas. O desejo
pela independência de muitos bens, originando-se uma sustentabilidade económico-
produtiva é um desejo quase exclusivo das populações imigrantes que nele habitam. A
independência também é vista em relação aos factores de produção nomeadamente em
relação aos nutrientes para produção. Contudo, e salvo raras excepções, as propriedades
do factor solo não correspondem aos desejos do produtor.
O Barrocal Algarvio possui uma riqueza e património ambiental e rural riquíssimo.
Desde a existência de espécies arbóreas autóctones como sejam a alfarrobeira, a
amendoeira ou a figueira.
Contudo, o êxodo rural tem sido gradualmente um entrave ao desenvolvimento
económico sustentado da grande maioria das zonas marginais rurais. É um facto que a
produção hortícola de subsistência possui cada vez menos expressão em função do
também envelhecimento das populações locais. De modo a incrementar a quantidade de
matéria orgânica ao solo dever-se-ão desenvolver mecanismos de produção de
fertilizantes no próprio ecossistema agrícola, reciclando resíduos agro-pecuários ou
através da criação de quintas pedagógicas em espaço rural que despertem nas gerações
mais jovens e restante população local e exterior a prática de actividades que devolvam
a fertilidade ao solo, com o consequente aumento da sua produção.
Uma das formas, se não mesmo a mais importante e de reduzido investimento inicial
é a vermicompostagem, que utiliza a “Minhoca dos Resíduos Orgânicos” (classificação
taxonómica de Eisenia foetida ou Eisenia foetida) como agente biológico, com vista à
valorização de diversas fileiras e fluxos de resíduos orgânicos produzidos em espaço
rural e urbano (Fig. 1).
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2. Contudo, é de perspectivar que o principal input em resíduos seja gerado pelos
resíduos resultantes da exploração pecuária, avícola e dos resíduos provenientes das
culturas.
Fig. 1 – Canteiro de vermicompostagem em quinta pedagógica (Salir).
O Quadro 1 indica os principais resíduos, tipologia e respectivas características,
passíveis de utilizar em espaço rural.
Quadro 1 – Resíduos a utilizar em espaço rural para valorização por vermicompostagem e
respectivas características.
Resíduo Tipologia Observações
Resíduos provenientes
Hortícolas e Fonte de azoto, aumentando os valores de
das culturas
frutícolas humidade (excepto frutos secos)
hortofrutícolas
Fonte de carbono, elemento estruturante,
Resíduos
Restolho, culturas aumento dos teores de oxigénio e
provenientes
forrageiras porosidade. Aumento da capacidade de
das culturas
circulação e retenção de água
Fonte de azoto, potássio e fósforo.
Estrume suíno, equino,
Estrumes e Necessária estabilização prévia para
bovino, caprino,
chorumes eliminação de sementes de infestantes
ovino, aviário
(higienização)
Fonte de carbono, elemento estruturante,
Podas e bicadas de
Biomassa aumento dos teores de oxigénio e
formações aero-
florestal porosidade. Aumento da capacidade de
arbustivas, folhagem
circulação e retenção de água
Necessária estabilização prévia devido ao
Verdes Relva excesso de azoto e carência de carbono
através da adição de um elemento seco
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3. A vermicompostagem pode de facto funcionar como uma autonomia para o produtor
valorizando-se os resíduos produzidos na própria exploração como são exemplo os
estrumes (aviário, ovino, caprino, bovino, equino e suíno) bem como os excedentes das
culturas (culturas arvenses, cerealíferas, forrageiras, hortícolas e frutícolas). De forma a
inviabilizar a presença de organismos patogénicos e promover a eliminação de sementes
de infestantes recomenda-se a realização de um processo prévio de estabilização dos
estrumes.
O Quadro 2 faz referência aos produtos provenientes da actividade da
vermicompostagem bem como as suas utilizações e benefícios. O vermicomposto e o
chá de vermicomposto funcionam como correctivos, fertilizantes e supressivos
orgânicos contra pragas e doenças gerando mais-valias em termos ambientais.
Quadro 2 – Produtos da vermicompostagem e suas utilizações e soluções.
Principais Modo de
Produto Características Benefícios
aplicações produção
Remediação
e correcção
A puro ou em
de solos
Substrato Produção mistura com
Vermicomposto Aumento de
orgânico vegetal solo, turfa ou
fertilidade e
areia
produção
vegetal
Aumento da Extracto
fertilidade e aquoso de
Solução No solo,
produção vermicomposto
Chá de nutritiva e foliarmente
vegetal sujeito a
vermicomposto supressiva de ou em regime
Supressão de arejamento na
pragas e doenças de hidroponia
pragas e presença de
doenças nutrientes
Aumento do
Fotofóbicos ou Colocação em
arejamento,
fotossensíveis Bioremediaç substratos para
Minhocas drenagem e
Hermafroditas ão de solos vermicomposta
nutrientes do
incompletos gem
solo
Uma gestão multifuncional e sustentável do espaço rural passa por gerar
independência de factores externos como sejam a electricidade, nutrientes e géneros
alimentícios. De facto, um solo produtivo não pressupõe que seja fértil, ao passo que um
solo fértil com toda a certeza que será produtivo.
Passando por dar a conhecer este método de tratamento de resíduos no âmbito de
quintas pedagógicas de elevado interesse ambiental, alarga-se a vertente a todas as
faixas etárias. Esta vertente interpretativa vem ganhando cada vez mais defensores junto
das populações urbanas sendo estas as dinamizadoras do futuro espaço rural visto
englobarem as actividades de sensibilização, interpretação e manutenção dos valores
ambientais e rurais.
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