SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 8
Descargar para leer sin conexión
ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais
Belo Horizonte, novembro de 2010
1
OS RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DE PROPOSTAS CURRICULARES
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS
Maria Carmen Silveira Barbosa
Faculdade de Educação - UFRGS
Prólogo
Este texto procura problematizar alguns dados encontrados numa pesquisa
denominada Mapeamento e análise das propostas pedagógicas municipais para a educação
infantil no Brasil, realizada no ano de 2009 (BARBOSA,2009). A intenção não é apresentar
os dados brutos e/ou as primeiras análises que estão ao alcance de todos no site do MEC,
mas, a partir desses dados, levantar questões que parecem pertinentes para qualquer
discussão futura sobre guias curriculares, isto é, procurar evidenciar o que a pesquisa
visibilizou sobre o tema Currículo na Educação Infantil.
A análise inicial dos documentos que foram encaminhados ao grupo de pesquisa a
partir de uma solicitação realizada pela UNDIME e coordenação da SEB/MEC aos
municípios evidenciou a dificuldade de compor uma amostra com características
semelhantes, pois há muita diversidade nos documentos curriculares produzidos no âmbito
municipal. Nossa amostra, composta por 48 propostas pedagógicas de municípios com
diferentes características, inclui quase todos os estados brasileiros, menos Roraima.
Muitos documentos das Propostas Curriculares apenas reproduziam o Referencial
curricular nacional para a Educação Infantil. Essa presença constante nos levou a constatar
a capilaridade que esse documento oficial obteve como uma política de governo que não
apenas formulou uma proposição curricular, como também apostou na sua ampla
divulgação por meio de material escrito e no processo de formação de professores e
coordenadores pedagógicos como multiplicadores. Paralelamente aos Referenciais, foi
publicada pelo Conselho Nacional de Educação a Resolução das Diretrizes Curriculares da
Educação Infantil, citadas genericamente nos documentos.
Os documentos elaborados pelos municípios apresentaram grande diversidade de
denominações e materializaram-se em diferentes suportes: livro, revista, artigo,
apresentações de power point, plano de estudos para os alunos ou mesmo o PPP de uma
escola da rede municipal. Para justificar a ausência de propostas, muitos municípios usaram
como argumento a falta de estrutura e recursos humanos das Secretarias Municipais de
Educação, bem como a concepção de que as propostas eram documentos em processo,
isto é, ainda não estavam finalizados. Emergiu também a demanda de assessoria para a
elaboração de propostas municipais e para a formação de professores para elaborar os PPP
das escolas. Por esses dados, pode-se constatar que ainda não é evidente a importância de
se ter uma proposição curricular como uma das políticas publicas de educação infantil.
Sobre as denominações utilizadas nos documentos curriculares
Nos documentos municipais de educação infantil, não é freqüente o uso da palavra
currículo. Tendo em vista que o sentido estrito do termo currículo é hegemônico nos
sistemas educacionais, para fazer referência à organização curricular, são usadas várias
ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais
Belo Horizonte, novembro de 2010
2
outras denominações, como proposta político-pedagógica, orientações curriculares,
propostas pedagógicas, propostas curriculares, ou seja, expressões mais abrangentes,
Quando se tem como objetivo geral a educação de crianças pequenas em um
espaço de vida coletiva não faz sentido ter como elemento curricular central apenas uma
das dimensões do vivido no cotidiano da educação infantil, a dimensão do conhecimento
científico. Parece que a complexidade dos saberes e conhecimentos contidos no dia a dia
de uma escola de educação infantil “não cabe” nas formas reducionistas de currículo. Assim,
a opção, no campo da educação infantil, foi a de utilizar expressões mais abrangentes e
inclusivas que o termo currículo.
Porém, nos últimos anos, a visão estrita de currículo - limitada aos “conteúdos” pré-
selecionados - começou a ser substituída por uma compreensão que procura incluir as
diferentes aprendizagens tecidas nos contextos interno e externo à escola, tanto aquilo que
pode ser considerado como currículo explicito quanto aquilo que não está evidente. Iniciou-
se um processo de avaliação de quais eram os conteúdos da cultura escolar que haviam
obtido relevância na educação infantil e o questionamento sobre este conhecimento que
muitas vezes apenas consolidava versões parciais ou ainda historicamente comprometidas
de mundo, ciência, arte. Também se passou a considerar que variáveis como tempo,
espaço, materialidades, organização metodológica, agrupamentos fazem parte da
consolidação de uma proposta curricular.
Com relação aos marcos legais
No material analisado foi possível constatar que já existe de parte dos municípios a
compreensão de que qualquer documento curricular precisa estar relacionado com os
documentos legais. Os documentos mais citados foram a Constituição Federal, o Estatuto
da Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica de Assistência Social, a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, as Diretrizes da Educação Infantil. A presença da Lei
Orgânica da Assistência Social evidencia o quanto as Redes municipais ainda tem na
assistência uma referência aos seus objetivos.
Também encontramos a efetiva presença de documentos oficiais: RECNEI (50% das
propostas), documentos relativos aos direitos das crianças, como a Carta de 1959 e a
Convenção de 1989 e, especialmente, os Critérios para atendimento em creches publicados
inicialmente em 1995 e recentemente re-editados pelo MEC.
Apesar de ficar constatada a importante vinculação entre proposta pedagógica ou
curricular e a legislação ou documentos oficiais, é importante enfatizar que há somente uma
apresentação dos elementos legais como referências, geralmente no inicio dos documentos,
mas essas referências não se consolidam quando se realiza a leitura dos documentos em
sua totalidade. É relevante observar que nem sempre o texto apresentado como referencial
teórico estará em sintonia com as proposições operacionais apresentadas ao longo do
documento.
A convenção de 1989 pode trazer para um documento curricular uma série de
aportes significativos, entre eles, os temas relacionados ao brincar, a relação entre gêneros,
as questões relativas às etnias, à religião, à participação social. Mas esses temas nem
sempre estão presentes no desenvolvimento curricular. Apenas o brincar ocupa um lugar de
destaque nas propostas lidas, tanto de modo abrangente e como base conceitual, quanto
como possibilidade operacional. Uma importante ausência é a do tema da alfabetização: a
ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais
Belo Horizonte, novembro de 2010
3
controvérsia em torno da questão ― alfabetiza-se ou não na educação infantil? ― parece
ter provocado um silenciamento sobre o tema.
Sobre as finalidades das Propostas curriculares
Quais são os motivos que levam os municípios a escrever suas propostas
pedagógicas? Nos documentos lidos, emergem dois aspectos que nos parecem
importantes, um da natureza política e outro de natureza educacional.
Do ponto de vista político, os municípios acreditam que um documento da secretaria
de educação pode tanto fortalecer as políticas públicas para a infância no município como
também construir um espaço para a educação infantil no interior das Secretarias Municipais
de Educação.
Do ponto de vista educacional, um documento pode ser importante tanto para
propiciar o registro daquilo que vem sendo realizado pela RME quanto para a promoção de
referências teóricas que subsidiem a elaboração dos Projetos Político-Pedagógicos (PPP)
das escolas, provoquem a reflexão dos professores e orientem o trabalho docente.
Um importante elemento que veio à tona em duas das propostas analisadas foi a da
importância do processo de construção participativa da proposta curricular, que possibilitou
ao município conhecer as demandas da comunidade e, ao mesmo tempo, realizar a
qualificação dos docentes no desenvolvimento do processo.
Uma justificativa importante para a existência de um documento curricular é que, em
uma instituição do tipo escolar, só existe processo pedagógico se houver intencionalidade ―
e a intencionalidade somente é conquistada mediante uma proposição curricular explícita.
Além dessa explicitação, é fundamental uma formação profissional sólida dos docentes, um
olhar sensível e atento do professor e a disposição em oferecer às crianças oportunidades
de conhecer aquilo de mais instigante e importante que o mundo apresenta à nossa
sensibilidade e racionalidade, em situações que, ao mesmo tempo, as desafiem e as
aconcheguem.
Das propostas analisadas, 48% usam o termo professor, 10% educador, 38% os
dois termos e 4% profissionais da educação, o que parece evidenciar a presença de outros
profissionais na educação infantil, além do docente. Os municípios assumem como tarefa a
formação pedagógica contínua para todos os profissionais da Educação Infantil.
As propostas apresentam a professora ou o professor como o coordenador do
trabalho pedagógico desenvolvido com as crianças, atribuindo-lhe preponderantemente os
papéis de mediador, parceiro, organizador, observador reflexivo e pesquisador. A pesquisa
aponta que estamos vivendo um momento de construção de identidade dos professores de
Educação Infantil ― o que é significa ser professor de bebês ou de crianças pequenas?
Sobre os referenciais teóricos
A primeira observação a ser feita é sobre as ausências, nos documentos analisados,
dos diferentes campos de conhecimento que oferecem as bases conceituais para a
compreensão e a realização da educação escolar ou da cultura escolar. Não há evidências
de uma discussão sobre o que é conhecimento, pedagogia, docência, didática,
aprendizagem, ensino, metodologia e outros. Apenas dois campos são chamados para
explicitar a concepção de educação infantil do município: a história e a psicologia. A história,
ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais
Belo Horizonte, novembro de 2010
4
através da obra de P. Áries, que apresenta uma concepção de infância, e dos estudos de
Moysés Kuhlman Jr., que apresenta elementos sobre a história das instituições e
concepções de educação infantil no Brasil.
No documentos, a concepção sobre o que é uma escola de educação infantil e qual
é o seu papel na sociedade contemporânea não é aprofundada ― repetem-se basicamente
os documentos legais. Não se explicita também a relação entre uma concepção universal de
educação infantil, como aquela apresentada por documentos legais ou oficiais, e o que
poderia ser compreendido como a contextualização, o registro local, o diagnóstico e as
perspectivas do município para sua rede de educação infantil, tendo em vista o contexto
mais próximo.
Os autores do campo da psicologia citados são basicamente os três grandes autores
da aprendizagem: L.S. Vygotsky, J.Piaget e H.Wallon. Ora, esses três grandes autores têm
em suas obras uma grande contribuição para pensar a educação das crianças pequenas,
pois trazem importantes discussões sobre a cultura e a instituição educacional, além de
reflexões sobre a aprendizagem. Porém, o que encontramos nos documentos foram
simplificações e repetições que enfatizavam não a teoria, mas alguns conceitos isolados,
como aprendizagem significativa, sociointeracionista, coconstrução de conhecimento, os
estágios e zona de desenvolvimento proximal. Alguns textos citam a importância de se
compreender que a aprendizagem está relacionada também à diversidade social, à cultura
e à identidade.
Do campo da pedagogia da educação infantil, encontramos principalmente autores
nacionais, um dado interessante, tendo em vista os inúmeros livros de autores
internacionais traduzidos. São citadas, com maior ênfase, autoras como Sonia Kramer e
Zilma M. de Oliveira.
Um conceito teórico evidenciado em 90% das propostas foi o de infância. Centrado
principalmente numa concepção histórica, como vimos anteriormente, a infância é
compreendida como uma construção histórica e social. A esse conceito amplo são
agregadas outras expressões: sujeito de direitos, de acordo especialmente com o ECA;
sujeito histórico ou sócio-histórico, vinculado à teoria Vygotskiana; sujeito em
desenvolvimento, usada especialmente pela psicologia, com base em teorias do
desenvolvimento infantil. Em alguma propostas, emerge ainda a noção de protagonismo das
crianças e crianças como produtoras de cultura, com base na sociologia da infância. Essa
última vertente aponta que as crianças precisam ser analisadas em suas variáveis sociais ―
gênero, raça, classe social ―, demonstrando a pluralidade de experiências de infância.
Outros dois conceitos teóricos que estão presentes nas discussões curriculares são
as teorizações sobre o binômio cuidar e educar: 88% das propostas enfatizam a sua
importância como algo característico de qualquer proposta de educação infantil. Apesar de
não termos a possibilidade de trabalhar exaustivamente com o tema, gostaríamos de
enfatizar que:
esse binômio abre um lugar diferenciado para a participação das famílias e
comunidades nos projetos educacionais;
a palavra educar, quando se trata da ação educativa com crianças pequenas, se
relaciona, principalmente, a temas vinculados à ludicidade e à cultura;
possibilita assumir temas ligados às ações de higiene, alimentação, descanso,
proteção, socialização como elementos de uma proposta curricular;
ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais
Belo Horizonte, novembro de 2010
5
há divergências e disputas na compreensão do binômio ― alguns enfatizam o
cuidado como elemento filosófico, como o ponto central na educação das crianças
pequenas; outros reivindicam que são os processos educacionais que marcam esse
olhar abrangente.
Sobre o currículo ou orientações curriculares
Como vimos anteriormente, a diversidade de terminologias utilizadas e o privilégio da
expressão proposta curricular para educação infantil significa adesão às concepções
curriculares mais abrangentes, em que as indicações de conhecimentos conceituais e
científicos para as crianças é apenas um dos elementos formativos a ser pensado. Entre as
concepções identificadas pela pesquisa, talvez uma das mais interessantes tenha sido
aquela que conceitualiza o currículo como “intenções, ações e interações presentes no
cotidiano”. Ter intenções significa afirmar que não há currículo sem haver uma proposição,
isto é, algo que diz respeito ao planejamento curricular, como documentos, guias, etc. A
referência a ações demonstra o quanto a experiência, isto é, aquilo que realmente acontece
no encontro entre crianças e adultos no cotidiano da escola, é expressão e consolidação do
currículo ― algo vivo e presente. Como tal, um currículo exige interações entre as pessoas
mediadas pelo conhecimento.
Talvez o desafio maior seja pensar no modo de escrever as indicações curriculares.
Na pesquisa, encontramos dois extremos: por um lado, uma concepção aberta, apontando
apenas para os princípios curriculares e, por outro, uma prescrição curricular extremamente
fechada, em que os municípios definiam não só qual o conteúdo a ser trabalhado, mas
também o como, isto é, através de qual metodologia e, em alguns casos, até o quando
deveria ser ensinado, demonstrando um intenso controle sobre o trabalho docente.
A ênfase na operacionalização escrita dos documentos curriculares municipais é a
de construir listagens de objetivos ou listagens de conteúdos acadêmicos divididos por
áreas de conhecimento com indicações para faixas etárias. Assim, se na concepção
curricular o que se anuncia é uma visão mais próxima das teorizações curriculares que
emergem após a década de 80 no Brasil, na hora da operacionalização encontramos um
retorno a matrizes curriculares mais antigas.
As propostas curriculares encontradas na pesquisa podem ser distribuídas em três
grupos: as que têm a normalização das crianças como eixo central (calendário de eventos e
controle social); as que têm a ciência como ponto fulcral (desenvolvimento humano e áreas
de conhecimento) e as que têm a relação sociedade, cultura e subjetividade como pontos
principais para a reflexão sobre a educação das crianças pequenas (contextos educativos,
núcleos temáticos e linguagens).
Currículos centrados na normalização das crianças: controle social e
calendário de eventos
Foi possível encontrar currículos em que os conhecimentos, os saberes e as
aprendizagens ocupam um lugar marginal. O objetivo principal é controlar as crianças,
guardá-las e ocupar o tempo com tarefas fragmentadas. É um currículo vazio de explicitação
e prenhe de submissão, disciplinamento dos corpos, moralização das mentes e das
ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais
Belo Horizonte, novembro de 2010
6
emoções. A imagem de infância predominante é a de que as crianças são naturalmente
indisciplinadas e precisam de muito controle
Muitas vezes o currículo das escolas de educação infantil é estabelecido para
contemplar um calendário de eventos, que a cada ano se torna maior. Assim, a professora
organiza sua prática educativa determinada pelo calendário religioso, civil e comercial.
Também os passeios, visitas, festas e sua preparação são os grandes objetivos curriculares
e conformam o dia-a-dia da escola.
Currículos centrados em concepções científicas: desenvolvimento humano e
áreas de conhecimento cientifico
Muitas proposições curriculares estão assentadas nas áreas e nos padrões do
desenvolvimento humano. Ao observar e estudar o desenvolvimento dos seres humanos, a
psicologia dividiu esse desenvolvimento em algumas dimensões: cognitiva, afetiva, social e
motora. Essa divisão serviu, e continua em voga, como referência para pensar a
organização da educação de crianças pequenas. Nesse sentido, o currículo deveria
oferecer, de modo progressivo, possibilidades de aquisição das competências e habilidades
identificadas como as adequadas para cada área do desenvolvimento em cada faixa etária.
A pauta de desenvolvimento também cumpria o papel de oferecer referências para a
avaliação das crianças. Embora o conhecimento do desenvolvimento infantil seja um
importante elemento na formação dos docentes, é importante assinalar que ele não é o
conteúdo central de aprendizagem das crianças. Por um lado, por fragmentar expressões
humanas que são conectadas; por outro, por estabelecer padrões muitas vezes
diferenciados dos contextos em que as crianças vivem.
Alguns currículos, utilizando como referência o modelo das disciplinas do ensino
fundamental (44%), organizam-se a partir da estrutura das disciplinas escolares. São
propostas que emergem da concepção de que a função do estabelecimento educacional é
ensinar no sentido de transmitir conhecimentos científicos ― prévia e linearmente
organizados ―, priorizando a informação. Sua explicitação se faz mediante listas de
conteúdos e respectivas atividades. Ora, a forma escolar ou ainda a cultura escolar da
educação infantil é diferente da do ensino fundamental; por esse motivo, transpor para as
crianças pequenas esse modelo acaba provocando a antecipação da escolaridade.
Currículos com base na relação: sociedade, cultura, conhecimento e
subjetividade
Tendo em vista que muitos aspectos importantes da vida cotidiana das crianças e
das instituições ficavam fora dos currículos oficiais, algumas propostas curriculares
incluíram, além de áreas de conhecimento, outras temáticas denominadas de contextos
educativos e/ou núcleos temáticos. A visibilidade dada a esses assuntos cotidianos emergiu
da necessidade de contemplar as especificidades da vida das crianças pequenas em seus
contextos, focalizando temas que auxiliam as crianças a compreenderem tanto a si mesmas
como as realidades em que vivem, tais como sexualidade, violência, morte, separação dos
pais, adoção, alimentação, religião. Esses temas, de grande complexidade, envolvem um
trabalho coordenado pelas professoras, mas articulado com as crianças, os pais e os
demais profissionais.
Currículos com essa estrutura geralmente se organizam a partir da escuta das
múltiplas vozes que compõem a comunidade escolar, especialmente das crianças,
ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais
Belo Horizonte, novembro de 2010
7
validando sua forma peculiar de ver o mundo. Tais currículos se materializam através de
desafios, experiências, linguagens, construção de contextos, temas geradores e projetos.
Nos últimos anos, também começaram a emergir muitas propostas pedagógicas
pautadas em linguagens. Uma vez que essa é uma nova abordagem, a apresentação das
bases teóricas ainda se apresenta muito sucinta e com compreensões diferenciadas, que
motivam uma série de questionamentos. Ora a linguagem é interpretada como um campo
disciplinar (linguagem verbal), ora cada linguagem corresponde a uma disciplina (a
linguagem musical, a linguagem plástica), ora ainda a formas de expressão relacionadas a
instrumentos, ferramentas e tecnologias, como a linguagem informática, a linguagem
cinematográfica.
As linguagens algumas vezes aparecem condensadas como, por exemplo, em
linguagens da arte ou linguagens artísticas; outras vezes, subdivididas, como a linguagem
do desenho, a linguagem da pintura, a linguagem da escultura. Na educação infantil, as
linguagens mais enfatizadas são, principalmente, as das artes visuais; do corpo e do
movimento ou da corporeidade; da música; da literatura; da linguagem oral; do letramento;
da natureza e da sociedade.
Independentemente da ausência de uma discussão mais contundente que permita
considerar a complexidade e ambigüidade do tema, a importância dessa proposição
curricular é que ela permite considerar a multidimensionalidade das crianças, pois as
linguagens ocorrem no encontro de um corpo que simultaneamente age, observa, interpreta
e pensa num mundo imerso em linguagens, com pessoas que vivem em linguagens, em um
mundo social organizado e significado por elas.
Em torno de todas essas proposições, diferentes questionamentos podem ser
formulados. Seria o controle social o currículo da escola? Seria o conhecimento científico
sistematizado o currículo da professora? As questões relativas aos contextos, à
subjetividade e à cultura representam aquilo que é central no currículo para as crianças? O
currículo é o documento ou o encontro?
A invisibilidade dos bebês e como eles questionam nossas proposições curriculares
Na pesquisa fica evidente a invisibilidade dos bebês e das crianças pequenas nas
propostas curriculares para a Educação Infantil. Cerca de 77% dos documentos não
evidenciam nenhum aspecto relativo ao tema. Os bebês são citados apenas em relação a
três aspectos: (a) a exigência de maior investimento quanto à proteção e aos cuidados
físicos, como saúde, higiene, alimentação e sono; (b) a afirmação da adaptação como um
dos processos pedagógicos que exige maior atenção quando a criança é um bebê,
principalmente no que se refere aos vínculos com a família; (c) a construção da concepção
de dependência das crianças pequenas da presença do professor.
Refletir sobre essa invisibilidade, sobre essa presença negada pode nos encaminhar,
após o reconhecimento, a novos parâmetros curriculares para a educação infantil. Como
propor um currículo para crianças bem pequenas? Quais são as funções específicas de uma
escola que atende bebês e crianças bem pequenas? Quais as estratégias consideradas
adequadas ao trabalho pedagógico com crianças pequenas? Quais possibilidades de
conhecimento podem ser desencadeadas e promovidas na creche?
Resistindo à tendência de fazer da educação infantil uma escola “elementar”
facilitada ou simplificada e investindo na proposição de outro modo de pensar e organizar o
cotidiano da escola para as crianças pequenas, propomos dar conta das interrogações dos
ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais
Belo Horizonte, novembro de 2010
8
bebês à educação através de uma reflexão que destaca o currículo como um lugar e um
tempo que tenha como foco não apenas a presença e a participação da criança pequena,
mas também a opção pedagógica de ofertar uma experiência de infância rica, diversificada,
complexificada pela intencionalidade de favorecer experiências lúdicas com e nas múltiplas
linguagens.
Os bebês, em seu humano poder de interagir, ou seja, em sua integralidade ―
multidimensional e polissensorial ― negam o “ofício de aluno” e reivindicam ações
educativas voltadas para a interseção do lúdico com o cognitivo nas diferentes linguagens. A
conciliação entre imaginação e raciocínio, entre corpo e pensamento, movimento e mundo
exige planejar e promover situações e experiências que possam ser vividas por um corpo
que pensa.
Encaminhamentos Finais
Assim, a função específica da escola, do ponto de vista do conhecimento e da
aprendizagem, é o de favorecer experiências que permitam aos bebês e às crianças
pequenas a imersão, cada vez mais complexificadora, em sua sociedade através das
práticas sociais de sua cultura, das linguagens que essa cultura produziu, e produz, para
interpretar, configurar e compartilhar sentidos que significam o estar junto no mundo.
A ampliação das concepções de conhecimento e aprendizagem para além da
racionalidade ocidental contribui para a compreensão e a valorização do pensamento das
crianças como outro modo de pensar. Nem inferior, nem inverossímil. As crianças pensam
― na corporeidade de suas mentes e de suas emoções ― a partir da ação, da fantasia, da
intuição, da razão, da imitação, da emoção, das linguagens, das lógicas e da cultura.
Trata-se de um radical desafio, pois exige compreender o currículo não apenas como
um plano prévio de ensinar a vida, mas também como abertura à experiência de viver, junto
com os bebês e as crianças pequenas, as situações propostas. A dificuldade está em mudar
nossa concepção de currículo como “fabricação” do humano para currículo como narração
do humano, que diz respeito ao agir. Empreender essa mudança implica priorizar a atitude
de respeito à condição humana de buscar sentidos para o viver junto. Trata-se de um
currículo comprometido com escolhas ― prudentes, mas também apaixonadas ― pelo que
efetivamente importa para o significado da vida, para aquilo que torna a vida digna de ser
vivida.

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Administração Comparada como Área Temática: periódicos brasileiros 1982 - 2000
Administração Comparada como Área Temática: periódicos brasileiros 1982 - 2000Administração Comparada como Área Temática: periódicos brasileiros 1982 - 2000
Administração Comparada como Área Temática: periódicos brasileiros 1982 - 2000MarianaBauer
 
O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...
O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...
O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...MarianaBauer
 
Elementos conceituais e metodológicos para a construção dos direitos de apren...
Elementos conceituais e metodológicos para a construção dos direitos de apren...Elementos conceituais e metodológicos para a construção dos direitos de apren...
Elementos conceituais e metodológicos para a construção dos direitos de apren...crisdelshine
 
Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul: uma contribuição para as ...
Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul: uma contribuição para as ...Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul: uma contribuição para as ...
Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul: uma contribuição para as ...MarianaBauer
 
Relat seb praticas_cotidianas coedi mec
Relat seb praticas_cotidianas coedi mecRelat seb praticas_cotidianas coedi mec
Relat seb praticas_cotidianas coedi mecproinfancia
 
Funcionários da educação pública: a concepção dos municípios
Funcionários da educação pública: a concepção dos municípiosFuncionários da educação pública: a concepção dos municípios
Funcionários da educação pública: a concepção dos municípiosMarianaBauer
 
Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 3
Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 3Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 3
Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 3Maria Galdino
 
Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul, Brasil: um olhar atento p...
Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul, Brasil: um olhar atento p...Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul, Brasil: um olhar atento p...
Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul, Brasil: um olhar atento p...MarianaBauer
 
DIVULGAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA NOVA DIDÁTICA PARA ESPAÇOS NÃO FOR...
DIVULGAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA NOVA DIDÁTICA PARA ESPAÇOS NÃO FOR...DIVULGAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA NOVA DIDÁTICA PARA ESPAÇOS NÃO FOR...
DIVULGAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA NOVA DIDÁTICA PARA ESPAÇOS NÃO FOR...fabrizioribeiro
 
Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 1
Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 1Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 1
Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 1Maria Galdino
 
Gestão da Educação Municipal: Composição dos Conselhos Municipais de Educação...
Gestão da Educação Municipal: Composição dos Conselhos Municipais de Educação...Gestão da Educação Municipal: Composição dos Conselhos Municipais de Educação...
Gestão da Educação Municipal: Composição dos Conselhos Municipais de Educação...MarianaBauer
 
PNAIC 2015 - Caderno 1 Currículo
PNAIC 2015 - Caderno 1 CurrículoPNAIC 2015 - Caderno 1 Currículo
PNAIC 2015 - Caderno 1 CurrículoElieneDias
 

La actualidad más candente (15)

Administração Comparada como Área Temática: periódicos brasileiros 1982 - 2000
Administração Comparada como Área Temática: periódicos brasileiros 1982 - 2000Administração Comparada como Área Temática: periódicos brasileiros 1982 - 2000
Administração Comparada como Área Temática: periódicos brasileiros 1982 - 2000
 
O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...
O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...
O Sistema Municipal de Ensino e suas implicações para a atuação do Conselho M...
 
Elementos conceituais e metodológicos para a construção dos direitos de apren...
Elementos conceituais e metodológicos para a construção dos direitos de apren...Elementos conceituais e metodológicos para a construção dos direitos de apren...
Elementos conceituais e metodológicos para a construção dos direitos de apren...
 
Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul: uma contribuição para as ...
Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul: uma contribuição para as ...Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul: uma contribuição para as ...
Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul: uma contribuição para as ...
 
Relat seb praticas_cotidianas coedi mec
Relat seb praticas_cotidianas coedi mecRelat seb praticas_cotidianas coedi mec
Relat seb praticas_cotidianas coedi mec
 
1º encontro
1º encontro1º encontro
1º encontro
 
Funcionários da educação pública: a concepção dos municípios
Funcionários da educação pública: a concepção dos municípiosFuncionários da educação pública: a concepção dos municípios
Funcionários da educação pública: a concepção dos municípios
 
Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 3
Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 3Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 3
Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 3
 
Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul, Brasil: um olhar atento p...
Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul, Brasil: um olhar atento p...Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul, Brasil: um olhar atento p...
Sistemas municipais de ensino no Rio Grande do Sul, Brasil: um olhar atento p...
 
Pesquisa - Regime de Colaboração no Ceará
Pesquisa - Regime de Colaboração no CearáPesquisa - Regime de Colaboração no Ceará
Pesquisa - Regime de Colaboração no Ceará
 
DIVULGAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA NOVA DIDÁTICA PARA ESPAÇOS NÃO FOR...
DIVULGAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA NOVA DIDÁTICA PARA ESPAÇOS NÃO FOR...DIVULGAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA NOVA DIDÁTICA PARA ESPAÇOS NÃO FOR...
DIVULGAÇÃO E POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA NOVA DIDÁTICA PARA ESPAÇOS NÃO FOR...
 
Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 1
Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 1Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 1
Referencial curricular nacional para ed. infantil vol 1
 
Gestão da Educação Municipal: Composição dos Conselhos Municipais de Educação...
Gestão da Educação Municipal: Composição dos Conselhos Municipais de Educação...Gestão da Educação Municipal: Composição dos Conselhos Municipais de Educação...
Gestão da Educação Municipal: Composição dos Conselhos Municipais de Educação...
 
PNAIC 2015 - Caderno 1 Currículo
PNAIC 2015 - Caderno 1 CurrículoPNAIC 2015 - Caderno 1 Currículo
PNAIC 2015 - Caderno 1 Currículo
 
Indag3
Indag3Indag3
Indag3
 

Destacado

Texto alfredo veiga neto
Texto alfredo veiga netoTexto alfredo veiga neto
Texto alfredo veiga netoMarisa Borges
 
A condição Humana - Hannah Arendt
A condição Humana - Hannah ArendtA condição Humana - Hannah Arendt
A condição Humana - Hannah ArendtKaroline Tavares
 
Cv000019.pdf desobediência civil henry david thoreau
Cv000019.pdf desobediência civil henry david thoreauCv000019.pdf desobediência civil henry david thoreau
Cv000019.pdf desobediência civil henry david thoreauNovas da Guiné Bissau
 
a-origem-da-familia-da-propriedade-privada-e-do-estado
a-origem-da-familia-da-propriedade-privada-e-do-estadoa-origem-da-familia-da-propriedade-privada-e-do-estado
a-origem-da-familia-da-propriedade-privada-e-do-estadoJoaquim Jaime José
 
Artigo espaços sustentáveis através da arte e educação by cei raio de sol joi...
Artigo espaços sustentáveis através da arte e educação by cei raio de sol joi...Artigo espaços sustentáveis através da arte e educação by cei raio de sol joi...
Artigo espaços sustentáveis através da arte e educação by cei raio de sol joi...José Antonio Klaes Roig
 
Historia portátil de la literatura infantil (ana garralón)
Historia portátil de la literatura infantil (ana garralón)Historia portátil de la literatura infantil (ana garralón)
Historia portátil de la literatura infantil (ana garralón)Jairo Antonio Santillan Flores
 
Walter benjamin o narrador
Walter benjamin   o narradorWalter benjamin   o narrador
Walter benjamin o narradorDanival Roberto
 
Walter benjamin magia e técnica, arte e política
Walter benjamin   magia e técnica, arte e políticaWalter benjamin   magia e técnica, arte e política
Walter benjamin magia e técnica, arte e políticaLuara Schamó
 
A literatura infantil e a crítica
A literatura infantil e a críticaA literatura infantil e a crítica
A literatura infantil e a críticamarimidlej
 
Seminário Final do Projeto de Pesquisa - 2013
Seminário Final do Projeto de Pesquisa - 2013Seminário Final do Projeto de Pesquisa - 2013
Seminário Final do Projeto de Pesquisa - 2013Fabiana Fabene
 
PHILIPPE ARIÈS UM HISTORIADOR MARGINAL (Autor: Marcos Silva - Departamento de...
PHILIPPE ARIÈS UM HISTORIADOR MARGINAL (Autor: Marcos Silva - Departamento de...PHILIPPE ARIÈS UM HISTORIADOR MARGINAL (Autor: Marcos Silva - Departamento de...
PHILIPPE ARIÈS UM HISTORIADOR MARGINAL (Autor: Marcos Silva - Departamento de...Simone Wanderley Lustosa Landen
 
Arquivo Fotográfico - ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Arquivo Fotográfico - ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTILArquivo Fotográfico - ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Arquivo Fotográfico - ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTILfelipehistory
 
A historia da criança e da familia aries
A historia da  criança e da familia   ariesA historia da  criança e da familia   aries
A historia da criança e da familia ariesDaniele Rubim
 
Espaços Da Educação Infantil
Espaços Da Educação InfantilEspaços Da Educação Infantil
Espaços Da Educação InfantilPaulo Fochi
 
Livro Virtual Nova Versão dos Três Porquinhos
Livro Virtual Nova Versão dos Três PorquinhosLivro Virtual Nova Versão dos Três Porquinhos
Livro Virtual Nova Versão dos Três PorquinhosSterCoracin
 
Educar para Crescer - George Bueno
Educar para Crescer - George BuenoEducar para Crescer - George Bueno
Educar para Crescer - George BuenoDental Cremer
 

Destacado (18)

Texto alfredo veiga neto
Texto alfredo veiga netoTexto alfredo veiga neto
Texto alfredo veiga neto
 
A condição Humana - Hannah Arendt
A condição Humana - Hannah ArendtA condição Humana - Hannah Arendt
A condição Humana - Hannah Arendt
 
Cv000019.pdf desobediência civil henry david thoreau
Cv000019.pdf desobediência civil henry david thoreauCv000019.pdf desobediência civil henry david thoreau
Cv000019.pdf desobediência civil henry david thoreau
 
a-origem-da-familia-da-propriedade-privada-e-do-estado
a-origem-da-familia-da-propriedade-privada-e-do-estadoa-origem-da-familia-da-propriedade-privada-e-do-estado
a-origem-da-familia-da-propriedade-privada-e-do-estado
 
Artigo espaços sustentáveis através da arte e educação by cei raio de sol joi...
Artigo espaços sustentáveis através da arte e educação by cei raio de sol joi...Artigo espaços sustentáveis através da arte e educação by cei raio de sol joi...
Artigo espaços sustentáveis através da arte e educação by cei raio de sol joi...
 
Historia portátil de la literatura infantil (ana garralón)
Historia portátil de la literatura infantil (ana garralón)Historia portátil de la literatura infantil (ana garralón)
Historia portátil de la literatura infantil (ana garralón)
 
Walter benjamin o narrador
Walter benjamin   o narradorWalter benjamin   o narrador
Walter benjamin o narrador
 
Walter benjamin magia e técnica, arte e política
Walter benjamin   magia e técnica, arte e políticaWalter benjamin   magia e técnica, arte e política
Walter benjamin magia e técnica, arte e política
 
A literatura infantil e a crítica
A literatura infantil e a críticaA literatura infantil e a crítica
A literatura infantil e a crítica
 
Seminário Final do Projeto de Pesquisa - 2013
Seminário Final do Projeto de Pesquisa - 2013Seminário Final do Projeto de Pesquisa - 2013
Seminário Final do Projeto de Pesquisa - 2013
 
PHILIPPE ARIÈS UM HISTORIADOR MARGINAL (Autor: Marcos Silva - Departamento de...
PHILIPPE ARIÈS UM HISTORIADOR MARGINAL (Autor: Marcos Silva - Departamento de...PHILIPPE ARIÈS UM HISTORIADOR MARGINAL (Autor: Marcos Silva - Departamento de...
PHILIPPE ARIÈS UM HISTORIADOR MARGINAL (Autor: Marcos Silva - Departamento de...
 
Arquivo Fotográfico - ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Arquivo Fotográfico - ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTILArquivo Fotográfico - ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Arquivo Fotográfico - ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
 
A historia da criança e da familia aries
A historia da  criança e da familia   ariesA historia da  criança e da familia   aries
A historia da criança e da familia aries
 
Espaços Da Educação Infantil
Espaços Da Educação InfantilEspaços Da Educação Infantil
Espaços Da Educação Infantil
 
Livro Virtual Nova Versão dos Três Porquinhos
Livro Virtual Nova Versão dos Três PorquinhosLivro Virtual Nova Versão dos Três Porquinhos
Livro Virtual Nova Versão dos Três Porquinhos
 
Educar para Crescer - George Bueno
Educar para Crescer - George BuenoEducar para Crescer - George Bueno
Educar para Crescer - George Bueno
 
Froebel
Froebel Froebel
Froebel
 
Org do tempo e espaço
Org do tempo e espaçoOrg do tempo e espaço
Org do tempo e espaço
 

Similar a 1.1 artigo mec_proposta_curricular_maria_carmem_seb

Indagações sobre o Curriculo
Indagações sobre o CurriculoIndagações sobre o Curriculo
Indagações sobre o CurriculoCristiano Pereira
 
Currículo e indagações
Currículo e indagaçõesCurrículo e indagações
Currículo e indagaçõesAli Nogueira
 
Indagações sobre curriculo
Indagações sobre curriculoIndagações sobre curriculo
Indagações sobre curriculoPactoAracatuba
 
Beauchamp, 2007 indag3
Beauchamp, 2007 indag3Beauchamp, 2007 indag3
Beauchamp, 2007 indag3UFRJ
 
Orientações curriculares para o ensino médio - história
Orientações curriculares para o ensino médio -  históriaOrientações curriculares para o ensino médio -  história
Orientações curriculares para o ensino médio - históriaLucas Guimarães
 
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraesRosyane Dutra
 
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraesGeuza Livramento
 
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraesRosyane Dutra
 
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraesPedro Henrique
 
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraesRc Andrade
 
Paradigmas para o Ensino da Matemática
Paradigmas para o Ensino da MatemáticaParadigmas para o Ensino da Matemática
Paradigmas para o Ensino da MatemáticaCival Alberto Alberto
 
1 Aprendizagem na infância diálogos entre os referenciais curriculares nacion...
1 Aprendizagem na infância diálogos entre os referenciais curriculares nacion...1 Aprendizagem na infância diálogos entre os referenciais curriculares nacion...
1 Aprendizagem na infância diálogos entre os referenciais curriculares nacion...ArticuladorPedaggico3
 

Similar a 1.1 artigo mec_proposta_curricular_maria_carmem_seb (20)

Indagações sobre o Curriculo
Indagações sobre o CurriculoIndagações sobre o Curriculo
Indagações sobre o Curriculo
 
Currículo e indagações
Currículo e indagaçõesCurrículo e indagações
Currículo e indagações
 
Curriculo e avaliação
Curriculo e avaliaçãoCurriculo e avaliação
Curriculo e avaliação
 
Indagações sobre curriculo
Indagações sobre curriculoIndagações sobre curriculo
Indagações sobre curriculo
 
Beauchamp, 2007 indag3
Beauchamp, 2007 indag3Beauchamp, 2007 indag3
Beauchamp, 2007 indag3
 
Indagações sobre currículo
Indagações sobre currículo Indagações sobre currículo
Indagações sobre currículo
 
diversidade e currículo
 diversidade e currículo diversidade e currículo
diversidade e currículo
 
Diversidade e currículo.
Diversidade e currículo.Diversidade e currículo.
Diversidade e currículo.
 
Orientações curriculares para o ensino médio - história
Orientações curriculares para o ensino médio -  históriaOrientações curriculares para o ensino médio -  história
Orientações curriculares para o ensino médio - história
 
Book volume 03_internet
Book volume 03_internetBook volume 03_internet
Book volume 03_internet
 
Book volume 03_internetx
Book volume 03_internetxBook volume 03_internetx
Book volume 03_internetx
 
Book volume 03_internet
Book volume 03_internetBook volume 03_internet
Book volume 03_internet
 
Portifolio
PortifolioPortifolio
Portifolio
 
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
 
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
 
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
 
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
 
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
2.1 curriculo educacao_infantil_zilma_moraes
 
Paradigmas para o Ensino da Matemática
Paradigmas para o Ensino da MatemáticaParadigmas para o Ensino da Matemática
Paradigmas para o Ensino da Matemática
 
1 Aprendizagem na infância diálogos entre os referenciais curriculares nacion...
1 Aprendizagem na infância diálogos entre os referenciais curriculares nacion...1 Aprendizagem na infância diálogos entre os referenciais curriculares nacion...
1 Aprendizagem na infância diálogos entre os referenciais curriculares nacion...
 

Último

Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autoresSociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autoresaulasgege
 
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimirFCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimirIedaGoethe
 
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaA Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaFernanda Ledesma
 
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfO guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfErasmo Portavoz
 
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosBingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosAntnyoAllysson
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Slides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdf
Slides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdfSlides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdf
Slides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdfpaulafernandes540558
 
Noções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdf
Noções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdfNoções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdf
Noções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdfdottoor
 
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxBaladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxacaciocarmo1
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfHenrique Pontes
 
As Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptx
As Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptxAs Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptx
As Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptxAlexandreFrana33
 
HABILIDADES ESSENCIAIS - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
HABILIDADES ESSENCIAIS  - MATEMÁTICA 4º ANO.pdfHABILIDADES ESSENCIAIS  - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
HABILIDADES ESSENCIAIS - MATEMÁTICA 4º ANO.pdfdio7ff
 
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxAula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxBiancaNogueira42
 
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfCurrículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfIedaGoethe
 
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parteDança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Dança Contemporânea na arte da dança primeira partecoletivoddois
 
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfPPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfAnaGonalves804156
 
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptxÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptxDeyvidBriel
 
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...LuizHenriquedeAlmeid6
 
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino FundamentalCartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamentalgeone480617
 

Último (20)

Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autoresSociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
Sociologia Contemporânea - Uma Abordagem dos principais autores
 
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimirFCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
FCEE - Diretrizes - Autismo.pdf para imprimir
 
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaA Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
 
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfO guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
 
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosBingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
 
Slides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdf
Slides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdfSlides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdf
Slides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdf
 
Noções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdf
Noções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdfNoções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdf
Noções de Orçamento Público AFO - CNU - Aula 1 - Alunos.pdf
 
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxBaladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
 
As Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptx
As Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptxAs Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptx
As Viagens Missionária do Apostolo Paulo.pptx
 
HABILIDADES ESSENCIAIS - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
HABILIDADES ESSENCIAIS  - MATEMÁTICA 4º ANO.pdfHABILIDADES ESSENCIAIS  - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
HABILIDADES ESSENCIAIS - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
 
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxAula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
 
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfCurrículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
 
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parteDança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parte
 
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfPPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
 
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptxÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
 
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
 
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino FundamentalCartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
 

1.1 artigo mec_proposta_curricular_maria_carmem_seb

  • 1. ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais Belo Horizonte, novembro de 2010 1 OS RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DE PROPOSTAS CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS Maria Carmen Silveira Barbosa Faculdade de Educação - UFRGS Prólogo Este texto procura problematizar alguns dados encontrados numa pesquisa denominada Mapeamento e análise das propostas pedagógicas municipais para a educação infantil no Brasil, realizada no ano de 2009 (BARBOSA,2009). A intenção não é apresentar os dados brutos e/ou as primeiras análises que estão ao alcance de todos no site do MEC, mas, a partir desses dados, levantar questões que parecem pertinentes para qualquer discussão futura sobre guias curriculares, isto é, procurar evidenciar o que a pesquisa visibilizou sobre o tema Currículo na Educação Infantil. A análise inicial dos documentos que foram encaminhados ao grupo de pesquisa a partir de uma solicitação realizada pela UNDIME e coordenação da SEB/MEC aos municípios evidenciou a dificuldade de compor uma amostra com características semelhantes, pois há muita diversidade nos documentos curriculares produzidos no âmbito municipal. Nossa amostra, composta por 48 propostas pedagógicas de municípios com diferentes características, inclui quase todos os estados brasileiros, menos Roraima. Muitos documentos das Propostas Curriculares apenas reproduziam o Referencial curricular nacional para a Educação Infantil. Essa presença constante nos levou a constatar a capilaridade que esse documento oficial obteve como uma política de governo que não apenas formulou uma proposição curricular, como também apostou na sua ampla divulgação por meio de material escrito e no processo de formação de professores e coordenadores pedagógicos como multiplicadores. Paralelamente aos Referenciais, foi publicada pelo Conselho Nacional de Educação a Resolução das Diretrizes Curriculares da Educação Infantil, citadas genericamente nos documentos. Os documentos elaborados pelos municípios apresentaram grande diversidade de denominações e materializaram-se em diferentes suportes: livro, revista, artigo, apresentações de power point, plano de estudos para os alunos ou mesmo o PPP de uma escola da rede municipal. Para justificar a ausência de propostas, muitos municípios usaram como argumento a falta de estrutura e recursos humanos das Secretarias Municipais de Educação, bem como a concepção de que as propostas eram documentos em processo, isto é, ainda não estavam finalizados. Emergiu também a demanda de assessoria para a elaboração de propostas municipais e para a formação de professores para elaborar os PPP das escolas. Por esses dados, pode-se constatar que ainda não é evidente a importância de se ter uma proposição curricular como uma das políticas publicas de educação infantil. Sobre as denominações utilizadas nos documentos curriculares Nos documentos municipais de educação infantil, não é freqüente o uso da palavra currículo. Tendo em vista que o sentido estrito do termo currículo é hegemônico nos sistemas educacionais, para fazer referência à organização curricular, são usadas várias
  • 2. ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais Belo Horizonte, novembro de 2010 2 outras denominações, como proposta político-pedagógica, orientações curriculares, propostas pedagógicas, propostas curriculares, ou seja, expressões mais abrangentes, Quando se tem como objetivo geral a educação de crianças pequenas em um espaço de vida coletiva não faz sentido ter como elemento curricular central apenas uma das dimensões do vivido no cotidiano da educação infantil, a dimensão do conhecimento científico. Parece que a complexidade dos saberes e conhecimentos contidos no dia a dia de uma escola de educação infantil “não cabe” nas formas reducionistas de currículo. Assim, a opção, no campo da educação infantil, foi a de utilizar expressões mais abrangentes e inclusivas que o termo currículo. Porém, nos últimos anos, a visão estrita de currículo - limitada aos “conteúdos” pré- selecionados - começou a ser substituída por uma compreensão que procura incluir as diferentes aprendizagens tecidas nos contextos interno e externo à escola, tanto aquilo que pode ser considerado como currículo explicito quanto aquilo que não está evidente. Iniciou- se um processo de avaliação de quais eram os conteúdos da cultura escolar que haviam obtido relevância na educação infantil e o questionamento sobre este conhecimento que muitas vezes apenas consolidava versões parciais ou ainda historicamente comprometidas de mundo, ciência, arte. Também se passou a considerar que variáveis como tempo, espaço, materialidades, organização metodológica, agrupamentos fazem parte da consolidação de uma proposta curricular. Com relação aos marcos legais No material analisado foi possível constatar que já existe de parte dos municípios a compreensão de que qualquer documento curricular precisa estar relacionado com os documentos legais. Os documentos mais citados foram a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica de Assistência Social, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as Diretrizes da Educação Infantil. A presença da Lei Orgânica da Assistência Social evidencia o quanto as Redes municipais ainda tem na assistência uma referência aos seus objetivos. Também encontramos a efetiva presença de documentos oficiais: RECNEI (50% das propostas), documentos relativos aos direitos das crianças, como a Carta de 1959 e a Convenção de 1989 e, especialmente, os Critérios para atendimento em creches publicados inicialmente em 1995 e recentemente re-editados pelo MEC. Apesar de ficar constatada a importante vinculação entre proposta pedagógica ou curricular e a legislação ou documentos oficiais, é importante enfatizar que há somente uma apresentação dos elementos legais como referências, geralmente no inicio dos documentos, mas essas referências não se consolidam quando se realiza a leitura dos documentos em sua totalidade. É relevante observar que nem sempre o texto apresentado como referencial teórico estará em sintonia com as proposições operacionais apresentadas ao longo do documento. A convenção de 1989 pode trazer para um documento curricular uma série de aportes significativos, entre eles, os temas relacionados ao brincar, a relação entre gêneros, as questões relativas às etnias, à religião, à participação social. Mas esses temas nem sempre estão presentes no desenvolvimento curricular. Apenas o brincar ocupa um lugar de destaque nas propostas lidas, tanto de modo abrangente e como base conceitual, quanto como possibilidade operacional. Uma importante ausência é a do tema da alfabetização: a
  • 3. ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais Belo Horizonte, novembro de 2010 3 controvérsia em torno da questão ― alfabetiza-se ou não na educação infantil? ― parece ter provocado um silenciamento sobre o tema. Sobre as finalidades das Propostas curriculares Quais são os motivos que levam os municípios a escrever suas propostas pedagógicas? Nos documentos lidos, emergem dois aspectos que nos parecem importantes, um da natureza política e outro de natureza educacional. Do ponto de vista político, os municípios acreditam que um documento da secretaria de educação pode tanto fortalecer as políticas públicas para a infância no município como também construir um espaço para a educação infantil no interior das Secretarias Municipais de Educação. Do ponto de vista educacional, um documento pode ser importante tanto para propiciar o registro daquilo que vem sendo realizado pela RME quanto para a promoção de referências teóricas que subsidiem a elaboração dos Projetos Político-Pedagógicos (PPP) das escolas, provoquem a reflexão dos professores e orientem o trabalho docente. Um importante elemento que veio à tona em duas das propostas analisadas foi a da importância do processo de construção participativa da proposta curricular, que possibilitou ao município conhecer as demandas da comunidade e, ao mesmo tempo, realizar a qualificação dos docentes no desenvolvimento do processo. Uma justificativa importante para a existência de um documento curricular é que, em uma instituição do tipo escolar, só existe processo pedagógico se houver intencionalidade ― e a intencionalidade somente é conquistada mediante uma proposição curricular explícita. Além dessa explicitação, é fundamental uma formação profissional sólida dos docentes, um olhar sensível e atento do professor e a disposição em oferecer às crianças oportunidades de conhecer aquilo de mais instigante e importante que o mundo apresenta à nossa sensibilidade e racionalidade, em situações que, ao mesmo tempo, as desafiem e as aconcheguem. Das propostas analisadas, 48% usam o termo professor, 10% educador, 38% os dois termos e 4% profissionais da educação, o que parece evidenciar a presença de outros profissionais na educação infantil, além do docente. Os municípios assumem como tarefa a formação pedagógica contínua para todos os profissionais da Educação Infantil. As propostas apresentam a professora ou o professor como o coordenador do trabalho pedagógico desenvolvido com as crianças, atribuindo-lhe preponderantemente os papéis de mediador, parceiro, organizador, observador reflexivo e pesquisador. A pesquisa aponta que estamos vivendo um momento de construção de identidade dos professores de Educação Infantil ― o que é significa ser professor de bebês ou de crianças pequenas? Sobre os referenciais teóricos A primeira observação a ser feita é sobre as ausências, nos documentos analisados, dos diferentes campos de conhecimento que oferecem as bases conceituais para a compreensão e a realização da educação escolar ou da cultura escolar. Não há evidências de uma discussão sobre o que é conhecimento, pedagogia, docência, didática, aprendizagem, ensino, metodologia e outros. Apenas dois campos são chamados para explicitar a concepção de educação infantil do município: a história e a psicologia. A história,
  • 4. ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais Belo Horizonte, novembro de 2010 4 através da obra de P. Áries, que apresenta uma concepção de infância, e dos estudos de Moysés Kuhlman Jr., que apresenta elementos sobre a história das instituições e concepções de educação infantil no Brasil. No documentos, a concepção sobre o que é uma escola de educação infantil e qual é o seu papel na sociedade contemporânea não é aprofundada ― repetem-se basicamente os documentos legais. Não se explicita também a relação entre uma concepção universal de educação infantil, como aquela apresentada por documentos legais ou oficiais, e o que poderia ser compreendido como a contextualização, o registro local, o diagnóstico e as perspectivas do município para sua rede de educação infantil, tendo em vista o contexto mais próximo. Os autores do campo da psicologia citados são basicamente os três grandes autores da aprendizagem: L.S. Vygotsky, J.Piaget e H.Wallon. Ora, esses três grandes autores têm em suas obras uma grande contribuição para pensar a educação das crianças pequenas, pois trazem importantes discussões sobre a cultura e a instituição educacional, além de reflexões sobre a aprendizagem. Porém, o que encontramos nos documentos foram simplificações e repetições que enfatizavam não a teoria, mas alguns conceitos isolados, como aprendizagem significativa, sociointeracionista, coconstrução de conhecimento, os estágios e zona de desenvolvimento proximal. Alguns textos citam a importância de se compreender que a aprendizagem está relacionada também à diversidade social, à cultura e à identidade. Do campo da pedagogia da educação infantil, encontramos principalmente autores nacionais, um dado interessante, tendo em vista os inúmeros livros de autores internacionais traduzidos. São citadas, com maior ênfase, autoras como Sonia Kramer e Zilma M. de Oliveira. Um conceito teórico evidenciado em 90% das propostas foi o de infância. Centrado principalmente numa concepção histórica, como vimos anteriormente, a infância é compreendida como uma construção histórica e social. A esse conceito amplo são agregadas outras expressões: sujeito de direitos, de acordo especialmente com o ECA; sujeito histórico ou sócio-histórico, vinculado à teoria Vygotskiana; sujeito em desenvolvimento, usada especialmente pela psicologia, com base em teorias do desenvolvimento infantil. Em alguma propostas, emerge ainda a noção de protagonismo das crianças e crianças como produtoras de cultura, com base na sociologia da infância. Essa última vertente aponta que as crianças precisam ser analisadas em suas variáveis sociais ― gênero, raça, classe social ―, demonstrando a pluralidade de experiências de infância. Outros dois conceitos teóricos que estão presentes nas discussões curriculares são as teorizações sobre o binômio cuidar e educar: 88% das propostas enfatizam a sua importância como algo característico de qualquer proposta de educação infantil. Apesar de não termos a possibilidade de trabalhar exaustivamente com o tema, gostaríamos de enfatizar que: esse binômio abre um lugar diferenciado para a participação das famílias e comunidades nos projetos educacionais; a palavra educar, quando se trata da ação educativa com crianças pequenas, se relaciona, principalmente, a temas vinculados à ludicidade e à cultura; possibilita assumir temas ligados às ações de higiene, alimentação, descanso, proteção, socialização como elementos de uma proposta curricular;
  • 5. ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais Belo Horizonte, novembro de 2010 5 há divergências e disputas na compreensão do binômio ― alguns enfatizam o cuidado como elemento filosófico, como o ponto central na educação das crianças pequenas; outros reivindicam que são os processos educacionais que marcam esse olhar abrangente. Sobre o currículo ou orientações curriculares Como vimos anteriormente, a diversidade de terminologias utilizadas e o privilégio da expressão proposta curricular para educação infantil significa adesão às concepções curriculares mais abrangentes, em que as indicações de conhecimentos conceituais e científicos para as crianças é apenas um dos elementos formativos a ser pensado. Entre as concepções identificadas pela pesquisa, talvez uma das mais interessantes tenha sido aquela que conceitualiza o currículo como “intenções, ações e interações presentes no cotidiano”. Ter intenções significa afirmar que não há currículo sem haver uma proposição, isto é, algo que diz respeito ao planejamento curricular, como documentos, guias, etc. A referência a ações demonstra o quanto a experiência, isto é, aquilo que realmente acontece no encontro entre crianças e adultos no cotidiano da escola, é expressão e consolidação do currículo ― algo vivo e presente. Como tal, um currículo exige interações entre as pessoas mediadas pelo conhecimento. Talvez o desafio maior seja pensar no modo de escrever as indicações curriculares. Na pesquisa, encontramos dois extremos: por um lado, uma concepção aberta, apontando apenas para os princípios curriculares e, por outro, uma prescrição curricular extremamente fechada, em que os municípios definiam não só qual o conteúdo a ser trabalhado, mas também o como, isto é, através de qual metodologia e, em alguns casos, até o quando deveria ser ensinado, demonstrando um intenso controle sobre o trabalho docente. A ênfase na operacionalização escrita dos documentos curriculares municipais é a de construir listagens de objetivos ou listagens de conteúdos acadêmicos divididos por áreas de conhecimento com indicações para faixas etárias. Assim, se na concepção curricular o que se anuncia é uma visão mais próxima das teorizações curriculares que emergem após a década de 80 no Brasil, na hora da operacionalização encontramos um retorno a matrizes curriculares mais antigas. As propostas curriculares encontradas na pesquisa podem ser distribuídas em três grupos: as que têm a normalização das crianças como eixo central (calendário de eventos e controle social); as que têm a ciência como ponto fulcral (desenvolvimento humano e áreas de conhecimento) e as que têm a relação sociedade, cultura e subjetividade como pontos principais para a reflexão sobre a educação das crianças pequenas (contextos educativos, núcleos temáticos e linguagens). Currículos centrados na normalização das crianças: controle social e calendário de eventos Foi possível encontrar currículos em que os conhecimentos, os saberes e as aprendizagens ocupam um lugar marginal. O objetivo principal é controlar as crianças, guardá-las e ocupar o tempo com tarefas fragmentadas. É um currículo vazio de explicitação e prenhe de submissão, disciplinamento dos corpos, moralização das mentes e das
  • 6. ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais Belo Horizonte, novembro de 2010 6 emoções. A imagem de infância predominante é a de que as crianças são naturalmente indisciplinadas e precisam de muito controle Muitas vezes o currículo das escolas de educação infantil é estabelecido para contemplar um calendário de eventos, que a cada ano se torna maior. Assim, a professora organiza sua prática educativa determinada pelo calendário religioso, civil e comercial. Também os passeios, visitas, festas e sua preparação são os grandes objetivos curriculares e conformam o dia-a-dia da escola. Currículos centrados em concepções científicas: desenvolvimento humano e áreas de conhecimento cientifico Muitas proposições curriculares estão assentadas nas áreas e nos padrões do desenvolvimento humano. Ao observar e estudar o desenvolvimento dos seres humanos, a psicologia dividiu esse desenvolvimento em algumas dimensões: cognitiva, afetiva, social e motora. Essa divisão serviu, e continua em voga, como referência para pensar a organização da educação de crianças pequenas. Nesse sentido, o currículo deveria oferecer, de modo progressivo, possibilidades de aquisição das competências e habilidades identificadas como as adequadas para cada área do desenvolvimento em cada faixa etária. A pauta de desenvolvimento também cumpria o papel de oferecer referências para a avaliação das crianças. Embora o conhecimento do desenvolvimento infantil seja um importante elemento na formação dos docentes, é importante assinalar que ele não é o conteúdo central de aprendizagem das crianças. Por um lado, por fragmentar expressões humanas que são conectadas; por outro, por estabelecer padrões muitas vezes diferenciados dos contextos em que as crianças vivem. Alguns currículos, utilizando como referência o modelo das disciplinas do ensino fundamental (44%), organizam-se a partir da estrutura das disciplinas escolares. São propostas que emergem da concepção de que a função do estabelecimento educacional é ensinar no sentido de transmitir conhecimentos científicos ― prévia e linearmente organizados ―, priorizando a informação. Sua explicitação se faz mediante listas de conteúdos e respectivas atividades. Ora, a forma escolar ou ainda a cultura escolar da educação infantil é diferente da do ensino fundamental; por esse motivo, transpor para as crianças pequenas esse modelo acaba provocando a antecipação da escolaridade. Currículos com base na relação: sociedade, cultura, conhecimento e subjetividade Tendo em vista que muitos aspectos importantes da vida cotidiana das crianças e das instituições ficavam fora dos currículos oficiais, algumas propostas curriculares incluíram, além de áreas de conhecimento, outras temáticas denominadas de contextos educativos e/ou núcleos temáticos. A visibilidade dada a esses assuntos cotidianos emergiu da necessidade de contemplar as especificidades da vida das crianças pequenas em seus contextos, focalizando temas que auxiliam as crianças a compreenderem tanto a si mesmas como as realidades em que vivem, tais como sexualidade, violência, morte, separação dos pais, adoção, alimentação, religião. Esses temas, de grande complexidade, envolvem um trabalho coordenado pelas professoras, mas articulado com as crianças, os pais e os demais profissionais. Currículos com essa estrutura geralmente se organizam a partir da escuta das múltiplas vozes que compõem a comunidade escolar, especialmente das crianças,
  • 7. ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais Belo Horizonte, novembro de 2010 7 validando sua forma peculiar de ver o mundo. Tais currículos se materializam através de desafios, experiências, linguagens, construção de contextos, temas geradores e projetos. Nos últimos anos, também começaram a emergir muitas propostas pedagógicas pautadas em linguagens. Uma vez que essa é uma nova abordagem, a apresentação das bases teóricas ainda se apresenta muito sucinta e com compreensões diferenciadas, que motivam uma série de questionamentos. Ora a linguagem é interpretada como um campo disciplinar (linguagem verbal), ora cada linguagem corresponde a uma disciplina (a linguagem musical, a linguagem plástica), ora ainda a formas de expressão relacionadas a instrumentos, ferramentas e tecnologias, como a linguagem informática, a linguagem cinematográfica. As linguagens algumas vezes aparecem condensadas como, por exemplo, em linguagens da arte ou linguagens artísticas; outras vezes, subdivididas, como a linguagem do desenho, a linguagem da pintura, a linguagem da escultura. Na educação infantil, as linguagens mais enfatizadas são, principalmente, as das artes visuais; do corpo e do movimento ou da corporeidade; da música; da literatura; da linguagem oral; do letramento; da natureza e da sociedade. Independentemente da ausência de uma discussão mais contundente que permita considerar a complexidade e ambigüidade do tema, a importância dessa proposição curricular é que ela permite considerar a multidimensionalidade das crianças, pois as linguagens ocorrem no encontro de um corpo que simultaneamente age, observa, interpreta e pensa num mundo imerso em linguagens, com pessoas que vivem em linguagens, em um mundo social organizado e significado por elas. Em torno de todas essas proposições, diferentes questionamentos podem ser formulados. Seria o controle social o currículo da escola? Seria o conhecimento científico sistematizado o currículo da professora? As questões relativas aos contextos, à subjetividade e à cultura representam aquilo que é central no currículo para as crianças? O currículo é o documento ou o encontro? A invisibilidade dos bebês e como eles questionam nossas proposições curriculares Na pesquisa fica evidente a invisibilidade dos bebês e das crianças pequenas nas propostas curriculares para a Educação Infantil. Cerca de 77% dos documentos não evidenciam nenhum aspecto relativo ao tema. Os bebês são citados apenas em relação a três aspectos: (a) a exigência de maior investimento quanto à proteção e aos cuidados físicos, como saúde, higiene, alimentação e sono; (b) a afirmação da adaptação como um dos processos pedagógicos que exige maior atenção quando a criança é um bebê, principalmente no que se refere aos vínculos com a família; (c) a construção da concepção de dependência das crianças pequenas da presença do professor. Refletir sobre essa invisibilidade, sobre essa presença negada pode nos encaminhar, após o reconhecimento, a novos parâmetros curriculares para a educação infantil. Como propor um currículo para crianças bem pequenas? Quais são as funções específicas de uma escola que atende bebês e crianças bem pequenas? Quais as estratégias consideradas adequadas ao trabalho pedagógico com crianças pequenas? Quais possibilidades de conhecimento podem ser desencadeadas e promovidas na creche? Resistindo à tendência de fazer da educação infantil uma escola “elementar” facilitada ou simplificada e investindo na proposição de outro modo de pensar e organizar o cotidiano da escola para as crianças pequenas, propomos dar conta das interrogações dos
  • 8. ANAIS DO I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO – Perspectivas Atuais Belo Horizonte, novembro de 2010 8 bebês à educação através de uma reflexão que destaca o currículo como um lugar e um tempo que tenha como foco não apenas a presença e a participação da criança pequena, mas também a opção pedagógica de ofertar uma experiência de infância rica, diversificada, complexificada pela intencionalidade de favorecer experiências lúdicas com e nas múltiplas linguagens. Os bebês, em seu humano poder de interagir, ou seja, em sua integralidade ― multidimensional e polissensorial ― negam o “ofício de aluno” e reivindicam ações educativas voltadas para a interseção do lúdico com o cognitivo nas diferentes linguagens. A conciliação entre imaginação e raciocínio, entre corpo e pensamento, movimento e mundo exige planejar e promover situações e experiências que possam ser vividas por um corpo que pensa. Encaminhamentos Finais Assim, a função específica da escola, do ponto de vista do conhecimento e da aprendizagem, é o de favorecer experiências que permitam aos bebês e às crianças pequenas a imersão, cada vez mais complexificadora, em sua sociedade através das práticas sociais de sua cultura, das linguagens que essa cultura produziu, e produz, para interpretar, configurar e compartilhar sentidos que significam o estar junto no mundo. A ampliação das concepções de conhecimento e aprendizagem para além da racionalidade ocidental contribui para a compreensão e a valorização do pensamento das crianças como outro modo de pensar. Nem inferior, nem inverossímil. As crianças pensam ― na corporeidade de suas mentes e de suas emoções ― a partir da ação, da fantasia, da intuição, da razão, da imitação, da emoção, das linguagens, das lógicas e da cultura. Trata-se de um radical desafio, pois exige compreender o currículo não apenas como um plano prévio de ensinar a vida, mas também como abertura à experiência de viver, junto com os bebês e as crianças pequenas, as situações propostas. A dificuldade está em mudar nossa concepção de currículo como “fabricação” do humano para currículo como narração do humano, que diz respeito ao agir. Empreender essa mudança implica priorizar a atitude de respeito à condição humana de buscar sentidos para o viver junto. Trata-se de um currículo comprometido com escolhas ― prudentes, mas também apaixonadas ― pelo que efetivamente importa para o significado da vida, para aquilo que torna a vida digna de ser vivida.