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           Breves Traços



             Da Vida


                Do



      Padre Giácomo Cusmano



             Fundador



                Do




      “BOCADO DO POBRE”




             Palermo




     Gráfica “Bocado do Pobre”
               1914
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        Estes “Breves Traços da Vida do Pe. Giácomo”, que vieram à luz a mais ou
menos vinte e cinco anos após a morte do Beato padre, estão entre os escritos mais
preciosos que dão testemunho dele.
        O anônimo livrinho que recolhera o que fora publicado no periódico “La
Caritá”, deve ser atribuído sem dúvida aos primeiros Missionários Servos dos Pobres
que redigiam o periódico, de modo particular ao Pe. Miguel Fici, que cuidou da
publicação em 1914.
        Estes padres conviveram com o Pe. Giácomo e foram testemunhas oculares da
caridade heróica e sem limites, que o levou a consumir a vida no trabalho, contínuo e
sem pausas, a fim de levar de novo o pobre àquela dignidade humana e cristã,
desvirtuada pela necessidade e pelo vício.
        Estas páginas possuem também outra preciosidade, a da língua. Embora já
passados tantos anos, conservam o frescor de uma obra recente.
        O que nos leva a re-imprimir esta obra é, antes de mais nada, o motivo de não
deixar que se perca um documentos histórico tão importante, e de facilitar o primeiro
encontro com o Pe. Giácomo aos jovens de nossas casas de formação e aos devotos fiéis
que querem conhecê-lo em sua autêntica espiritualidade.
        Em apêndice, para completar o que foi narrado na obra, publicamos, na tradução
portuguesa, o decreto promulgado pelo Santo Padre João Paulo II a cerca da heroicidade
das virtudes do Beato Padre, o discurso pronunciado por ele no dia da Beatificação e a
Carta Apostólica com a qual ele levou ao conhecimento de todo o mundo cristão a
realizada Beatificação.

       Palermo, 25 de julho de 1991,

                                                           Pe. Giuseppe Giorgio, sdP.
                                                                 Superior Geral
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                                     AO LEITOR

       A coleção ordenada e resumida do que fora publicado em várias partes,
especialmente em “La Caritá”, periódico da pia obra “O Bocado do Pobre” a cerca do
fundador desta mesma obra providencial, deu origem a estes: Breves traços da vida do
Pe. Giácomo Cusmano.
       Na espera de uma história completa que ilustre as virtudes pessoais deste grande
Servo de Deus e da pia Obra por ele fundada, achamos por bem imprimir estes breves
traços de sua vida, por ocasião da transladação de seus restos mortais para o Orfanato
feminino de Terre Rosse. Estes servirão, esperamos, a relembrar em tempos de
exagerado egoísmo a luminosa figura deste grande herói da caridade, cuja memória é
abençoada.
       Conforta-nos pois na publicação deste pequeno trabalho o lisonjeiro parecer que
deu o Revmo. Mons. Cônego Nicolau Crisafi, encarregado pela revisão eclesiástica.
       Este, após o Nihil Obstat escrevia estas palavras, que nós com gratidão
publicamos para provar a verdade histórica dos fatos que narramos:
       “Estou feliz de atestar minha complacência ao autor destes Breves traços da vida
do Pe. Giácomo Cusmano.
       É um escrito em perfeita língua, historicamente verdadeiro até nos mínimos
detalhes, sem nenhum artifício retórico, ágil e simples em sua dicção, comove
permitindo-nos admirar cada vez mais a grande virtude daquele grande Servo de Deus e
dos Pobres que foi o Pe. Giácomo Cusmano”.
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                                     CAPÍTULO I

              Nascimento – Adolescência – Estudo do Pe. Cusmano


        De Giácomo Cusmano e Madalena Patti casados no civil e no religioso e
ornados de excelentes virtudes cristãs, nasceu o Pe. Giácomo em Palermo aos 15 de
março de 1834; foi batizado na tarde do dia seguinte na Paróquia de São Nicolau na
Albergueria.
        Ele foi o quarto de cinco filhos que o casal Cusmano tiveram, duas mulheres e
três homens. A primogênita Vincenzina foi a mais válida colaboradora nas obras de
caridade do Servo de Deus, e a que melhor copiou em si as santas e heróicas virtudes do
irmão. A outra irmã, Giuseppina, casada com o Senhor Salvador Marocco, deu ao Pe.
Giácomo três de suas filhas que vestiram o hábito de Servas dos Pobres, duas delas
ainda estão vivas. Também o irmão mais velho, Pedro, ofereceu três filhas, que, mortas
com o hábito de Servas dos Pobres, deixaram grande saudade na obra do Bocado do
Pobre. A mais velha destas, Irmã Madalena, foi entre as primeiras que recebeu o hábito
religioso pelas mãos do Pe. Giácomo e substituiu a tia, Irmã Vincenzina, no cargo de
Superiora Geral das Servas dos Pobres.
        O irmão mais novo, Giuseppe, logo que foi criada a comunidade dos Servos dos
Pobres, vestiu o hábito de irmão, tomando o nome de seu Santo irmão.
        Com a idade de três anos, o Pe. Giácomo perdeu sua mãe que morreu de cólera
em julho de 1837; parece que a providência quis provar o pequeno Giácomo com uma
tão grande desventura para formar desde o amanhecer de sua vida a sua alma com os
sentimentos de compaixão para com os infelizes.
        O vazio deixado na família pela morte da boa Madalena foi logo preenchido pela
filha mais velha Vincenzina, a qual assumiu o governo interno da casa.
        Foi ela que cuidou da primeira educação do pequeno Giácomo; este cresceu sob
seus joelhos e recebeu no coração os germes do amor divino, que mais tarde, deviam
produzir frutos abundantes de caridade.
        Desde criança o nosso Giácomo começou a demonstrar como a graça antecedeu
em seu coração a santa educação que recebeu por parte da pia irmã Vincenzina; nele a
piedade era tão notável que parecia quase inata.
        Mas o que pareceu verdadeiramente extraordinário e maravilhoso neste filho da
bênção, foi o seu engenhoso amor para com os pobres, amor com o qual devia se
identificar por toda a sua vida.
        Alguns detalhes da sua infância, contados pela sua mesma irmã Vincenzina, nos
revelam que grande alma possuía este tenro mocinho, que ainda ignorava as infinitas
misérias que afligem a humanidade.
        Suas primeiras ações foram as esmolas. Era ainda garotinho, e um dia viu que
um infeliz menino não tinha camisa para cobrir seu corpo inocente. O pequeno Giácomo
não agüenta, chama perto de si o pobrezinho, leva-o até a esquina, tira seu paletó, tira a
camisa e a dá ao menininho, veste rapidamente o paletó e volta para sua casa.
        Outro dia se encontrava na sacada, e viu que um garotinho que passava não tinha
sapatos. Giácomo o chamou, tirou os seus e os jogou embaixo ao pobrezinho.
        Ao ver um indigente despido ou faminto se afligia e então dava tudo, isto é, dava
o que naquela idade podia ter, seu pão, seu dinheiro. Freqüentemente, quando tomava
café ia à janela esperando que passasse algum pobre e todo feliz o dava ao primeiro que
se apresentasse.
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         Algumas vezes, como se lê na vida de São Vicente de Paulo, baseando-se na
caridade dos seus parentes da qual freqüentemente era testemunha, tirava
escondidamente o que recebia para comer, para vestir, o dinheiro que ganhava, e os
distribuía aos necessitados, ao ponto que seus parentes tiveram que chavear tudo,
porque Giácomo à vista de um pobre não teria hesitado em dar até os talheres de prata
da mesa.
         Giácomo recebeu as primeiras noções escolares à sombra do santuário
doméstico por um pio e inteligente sacerdote, Pe. Francisco Li Bassi, que lhe ensinou a
ler, a escrever e as primeiras lições de gramática.
         O pai que o via tão inteligente e de boa vontade, logo o mandou estudar no
Colégio dos Padres Jesuítas, e com professores tão iluminados e preparados, quais são
os beneméritos padres da Companhia de Jesus, a juízo dos mesmos adversários, fez com
honra os estudos de letras italianas e latinas e as disciplinas filosóficas, dando prova de
inteligência pronta e perspicaz e de uma penetração de mente extraordinária.
         Porém, mesmo com esta cultura intelectual que possuía e que cada dia
aumentava enriquecendo sua mente, não se distraía, como acontece normalmente com
os jovens, das suas práticas de piedade e de religião, nem sequer prejudicou os germes
de virtude que a graça tinha colocado abundantemente em seu coração, pelo contrário
serviu para elevar e embelezar seu espírito.
         As leituras que o jovem Giácomo mais gostava era as cartas dos missionários,
especialmente os dos países infiéis.
         Natureza ardente, capaz de teimosas e generosas resoluções e sacrifícios,
desejou sempre dedicar-se às Missões estrangeiras. Quem teve a sorte de conviver com
ele, muitas vezes o escutaram falar, até o final de sua vida, com ardentes palavras, dos
perigos, dos sofrimentos, das fadigas enfrentadas pelos missionários, do bem e das
conversões realizadas por eles no meio dos povos infiéis e bárbaros, em invejar sua
sorte, e aspirar também o martírio, ou como ele brincando dizia “camiseta vermelha”!
         Contamos um fato de quando Giácomo era ainda estudante de humanidades na
escola do Colégio dos Padres Jesuítas, fato que saindo das vias ordinárias, encontra-se
somente na adolescência de alguns santos e grandes homens.
         Giácomo naqueles dias estava lendo sobre as missões nas Montanhas Rochosas.
         Terminando as tarefas escolares se ajoelhava e fazia aquelas leitura com o maior
espírito de recolhimento e piedade. Eis que se acende nele o mais vivo desejo de tornar-
se missionário. Começa logo a entrar em contato com os Padres da Companhia de Jesus,
os quais conhecendo a alma pia e fervorosa do jovenzinho, encorajaram-no neste
ardente desejo.
         Naquele tempo viera a Palermo o Pe. Geral da Companhia, e o pequeno
Giácomo quis absolutamente fixar sua viagem no mesmo dia em que o Pe. Geral
viajaria para Roma. Chegando o dia por ele tanto suspirado, vai embarcar-se
escondidamente. Sabendo disso Pe. Mora, Jesuíta, amigo da casa Cusmano, corre a
informar a seu pai, o qual mandou o irmão mais velho Pedro, que o reconduziu para
casa xingando e batendo nele. Giácomo naquela época não tinha mais que quatorze
anos.
         Terminado o curso de letras e filosofia com a idade de dezessete anos, do
Colégio passou para a Universidade e se matriculou na faculdade de medicina.
         Ele teve para com a arte médica um culto apaixonado, e esta sua inclinação
natural, favorecida pelo engenho vivo e penetrante, ajudou-o a progredir nas disciplinas
médicas, sendo sempre o primeiro com a admiração dos mesmos professores que
previam as mais felizes realizações por parte do Cusmano. A sua índole doce e
camarada, o seu caráter franco, leal, generoso, a fisionomia aberta e atraente lhe
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cativaram o afeto de todos, e logo Giácomo se tornou o centro da escola. Era sempre
rodeado pelos melhores entre seus companheiros, os quais gostavam de estar-lhe perto,
conversar com ele, confiar a ele os segredos mais íntimos de seus corações, e
aconselhar-se com ele em seus negócios mais importantes: e dado que ele se mostrava
um grande gênio nas ciências que aprendia, os mais estudiosos se reuniam ao seu redor,
e a sua casa foi transformada em sala anatômica. Disso renderam testemunho os mesmo
seus companheiros, entre os quais alguns se tornaram ilustres e gloriosos na arte
médica; muitos destes fatos da sua juventude contavam o mesmo Pe. Giácomo nos
últimos dias de sua vida, quando conversava com o Dr. Giovanne Piazza, que vinha
visitá-lo quase todos os dias, e que gostava de entreter-se longamente com o amigo
íntimo dos seus primeiros anos.
        O Cusmano, como afirmava todos os seus antigos colegas, se tivesse continuado
nos estudos se tornaria com certeza grande perito nas artes médicas e celebre naquelas
ciências.
        Entre os companheiros de estudo do Pe. Giácomo durante o curso universitário,
recordamos Henrique Albanese, famoso cirurgião, merecidamente celebrado em
Palermoe fora pela sua valentia.
        Por aquela afinidade de natureza que une freqüentemente as almas, entre
Albanese e o Cusmano se criou uma amizade tal que somente a morte pode quebrar.
Tinham recebido os dois uma alma elevada, fervorosa, capaz de amar até o sacrifício e
se amaram de verdade com afeto tenaz e sincero. Quando adulto, por vários motivos,
tiveram que separar; o Albanese não cessou de amar o seu antigo companheiro, e
mesmo tende se tornado adversário feroz de Giácomo quanto aos princípios, sempre o
estimou e venerou grandemente.
        Logo que Giácomo começou a freqüentar a Universidade foi visitado por uma
grave desventura bem no mais profundo do coração.
        Aos 27 de julho de 1852 o Senhor Cusmano morria por prolongada doença,
suportada com paciência cristã, deixando seus cinco filhos inteiramente órfãos.
        O nosso Giácomo naquela época tinha 18 anos, idade na qual o amor filial põe
profundas raízes e por isso se torna mais doloroso o encontro com a morte. Se a morte
do pai amargurou a carreira dos seus diletos estudos, por isso nem sequer foi distraído,
porque os prosseguiu e cultivou com o mesmo ardor até completá-los na Universidade.
        Terminado portanto o estágio teórico e prático começou a exercer a profissão de
médico em Palermo, mas dado que interesses familiares o obrigavam freqüentemente a
morar em San Giuseppe Jato, esta cidade ganhou as vantagens provenientes da rara
inteligência e bondade de alma do jovem médico. Verdadeiramente naquele breve
tempo em que exerceu a medicina foi o gênio benéfico daquele município. De sua
perícia médica se contam muitas coisas, como por exemplo cirurgias e curar realizadas
quase sempre com ótimos resultados: isso lhe adquiriu demasiadamente o afeto e a
estima daquele podo a tal ponto que a memória e a impressão perduram até hoje.
        O nosso Giácomo entendeu o exercício da sua profissão como o alívio,
especialmente dos Pobres, em favor dos quais dirigiu a inteligência, a atividade e
freqüentemente os seus bens, nunca aceitando deles a mínima doação, mas recebendo
como compensação de suas fadigas, a alegria de beneficiá-los.
        Os doentes o procuravam em multidão antes de amanhecer, pelo fato que eram
camponeses e deviam ir para a roça.
        Ele mesmo contou várias vezes que os doentes de lá não lhe davam sossego; um
dia, voltando para Palermo estava a quase um quilômetro da cidade quando percebeu
que uma pobre mulher corria, esforçando-se para alcança-lo. Mandou então o cocheiro
parar, e conhecido o motivo pelo qual aquela pobrezinha o procurava, sem perder tempo
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pagou a viagem e a pé voltou à cidade para fazer os curativos no marido daquela mulher
que havia sido ferido no pé por um tiro. Estupendas manifestações de um coração que
vive de caridade!
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                                    CAPÍTULO II

              Abraça o estado Eclesiástico – Começa a pensar numa
              instituição religiosa a serviço dos Pobres


         Embora o Pe. Giácomo, terminados os seus estudos de medicina, começasse a
recolher os primeiros frutos na assistência dos enfermos pobres, coisa que satisfazia sua
irresistível tendência de ajudar os infelizes, sentia em si que não era aquela a meta
prefixada por Deus.
         Desde quando era estudante, interrogado pela irmã Vincenzina se estudava com
gosto a medicina, respondia: Sim, estudo-a com prazer, mas tenho o pressentimento que
não serei sempre médico. Então, como aconteceu sua transformação de médico dos
corpos em médico das almas? De que modo o Senhor lhe manifestou sua vontade?
         Um dia, enquanto ainda freqüentava a Universidade, um querido amigo seu,
Michele De Franchis, talvez por desejo manifestado por ele mesmo, apresentou-o ao
cônego Domênico Turano, que havia pregado os Exercícios Espirituais aos jovens
universitários. Aquele grande apóstolo de Palermo, quando o encontrou ficou admirado
da fisionomia aberta, inteligente e do olhar puríssimo do jovem Cusmano; amou-o, leu
em seu rosto os desígnios da Providência e se sentiu inspirado a cativá-lo para o
sacerdócio. Com a sua quente e influente palavra exerceu tamanha influência sobre o
jovem doutor, que nunca mais se apagou durante a sua vida. “Eu – contava o cônego -
senti algo no coração, e ainda não sei expressar o que provei naqueles momentos, e que
incêndio se despertava no meu coração”. Giácomo o escolheu por seu pai e mestre
espiritual e confiou inteiramente sua alma nas suas mãos. O Pe. Giácomo disse depois,
que o Turano começou exortando-o a comungar todos os dias, e que ele tirou grande
fruto daquela comunhão diária. De fato, logo que seu diálogo com o Senhor se tornou
mais freqüente, e o Deus escondido pode entreter-se com ele de coração a coração,
sentiu aquela palavra divina, que nem todos podem ouvir, aquela palavra que o chamava
a uma vida de completo sacrifício e abnegação e que o queria todo para si. O Cusmano
sentiu em seu coração aquela voz pela qual se decidiu a pedir ao seu guia a bênção para
entrar numa ordem mendicante como simples frade leigo. Mas o Senhor, se por um lado
se comprazia em ver os sentimentos de humildade e amor no coração de seu escolhido,
por outro, não deixava de inspirar seu Diretor Espiritual a conduzi-lo por um caminho
diferente.
         Foi assim que por obediência ao seu Diretor Espiritual, aos 8 de dezembro de
1859 vestia o hábito talar na Paróquia de são Giácomo, à beira mar, agora destruída, e
ingressava na Associação Clerical de Santa Maria do Fervor.
         Em um ano completou os estudos teológicos indispensáveis para a sagrada
ordenação, sob a guia do Monsenhor Pedro Boccone, atual Vigário Geral da
Arquidiocese de Palermo e então simples sacerdote.
         Recebeu a Tonsura clerical e as ordens menores aos 18 de março de 1860; o
Subdiaconatoaos 24 do mesmo mês e o Diaconato aos 22 de setembro. E finalmente aos
22 de dezembro do mesmo ano era ungido sacerdote com o Crisma sagrado.
         Todavia aceitou com relutância e grande senso de temor a sagrada ordenação, e
com freqüentemente ele mesmo dizia em sua profundo humildade: “eu sou o chamado
da última hora”.
         Logo que se tornou sacerdote entendeu mais claramente aquilo ao qual o Senhor
o destinava; compreendeu sua missão. Numa carta dirigida em 1882 ao Pe. Daniel de
Bassano, confessor Papa Leão XIII e seu amigo, escrevia: “Chamado à última hora, e
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elevado por vontade de Deus ao sacerdócio em dezembro de 1860, senti em minha alma
o desejo de consagrar-me aos Pobrezinhos, assumir suas misérias, tirá-los de seus
terríveis sofrimentos e aproximá-los de Deus”.
        Seria muito bonito poder registrar o programa da vida deste grande Servo de
Deus com suas mesmas palavras! Ele foi fiel a este seu programa, não houve um
instante em sua vida em que se afastasse dele. A partir deste momento começou a traçar
as primeiras linhas do grande ideal que queria realizar numa congregação religiosa;
deste vivíssimo sentimento ele sempre tirou imensa força com a qual resistiu a todos os
obstáculos e a todos superou.
        O programa não podia ser com certeza mais vasto. Basta ler aquelas suas
palavras para ver claramente que ele não fixou o olhar em algum tipo particular de
santidade para imitá-lo em tudo ou parcialmente; não: ele fixou seu olhar no divino
mestre e procurou encarnar em si aquele exemplar divino. Quando ele diz: “senti em
minha alma o desejo de consagrar-me aos Pobrezinhos”, ele não faz distinção entre
judeu e grego, entre servo e patrão, entre homem e mulher, mas abraça a todos, pobres,
sofredores, miseráveis, infelizes, seja a sua miséria espiritual ou corporal, porque todos
são uma só coisa na caridade de Jesus Cristo.
        Ele se fez tudo para todos, e nenhuma coisa no mundo poderá frear e limitar sua
caridade celeste.
        Quando ele acrescenta: “assumi suas misérias”, está estendendo a mão para
convidar a Santa Pobreza a celebrar as núpcias com ele.
        Ele compreende com o grande Francisco de Assis, que a miséria humilha e abate
o espírito do Pobre e entende que é necessário oferecer-lhe o conforto e descer para
encontra-lo em sua própria miséria; ele compreende que aliviará a angústia do faminto,
compartilhando com ele o pão da caridade; compreende que trará paz e consolação ao
miserável que não encontra vestuário para cobrir sua nudez, aproximando-se dele com
pobres e remendadas vestes; compreende que pode diminuir a vergonha do mendigo
mostrando-lhe que também ele é capaz de pedir o pão de porta em porta; compreende
que elevará o espírito abatido do Pobrezinho que vem procurá-lo em sua habitação,
acolhendo-o em sua pobre cela que, privada de qualquer objeto de luxo, aproxima-se
muito ao casebre do infeliz; compreende que lhe tornará menos amarga sua condição,
mostrando-lhe sua pobre caminha que na verdade é um simples saco, que sua comida é
uma sopa mal temperada junto a poucos pedacinhos de pão duríssimo, preto e até
embolorado. Por isso ele casou-se com a pobreza do seráfico Pai, amando-a sempre
como as pupilas dos seus olhos.
        Quando depois ele diz: “para tirá-los de seus terríveis sofrimentos para
aproximá-los de Deus”, ele está se lançando atrás da bandeira hasteada por Vicente de
Paulo, e quer correr nos hospitais, entrar nas prisões, acolher os recém nascidos e
rejeitados, procurar os órfãos abandonados, abrir casas de repouso para os velhos
enfraquecidos e para as velhas inválidas, estender os braços amigáveis e paternos às
transviadas e às moças que estão em perigo, para que correndo ao seu encontro pudesse
reconduzir suas almas a Jesus, que a todos comprou com seu divino sangue. É verdade
que ele oferecerá um pão ao faminto, mas ao mesmo tempo o alimentará com o pão
celestial que é a palavra de vida eterna; lavará e tratará também as chagas do enfermo
ulceroso, mas ao mesmo tempo levantará a mão para curá-lo de suas horríveis úlceras
que sujaram sua alma; estenderá a mão ao órfão, para procurar-lhe uma adequada
educação, mas não deixará de formar à escola do amor de Deus aquela alma inocente,
aquele coração cheio das graças da juventude; acolherá o velho moribundo, enquanto
procurará manter em vida aquele corpo que está apagando, cuidará de preparar a alma
para a grande viagem; apertará ao coração o infeliz para consolá-lo, e no mesmo abraço
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abrir-lhe-á o coração sacerdotal, pronto a receber a confissão de seus pecados e dar-lhe
o perdão por parte de Deus,
        O novo ungido do Senhor se sente então inspirado por estes nobres sentimentos.
É o Senhor que o vai formando à escola de sua divina caridade para depois servir-se
dele em benefício de seus filhos infelizes.
        O Pe. Cusmano no entanto sente aquele fogo que lhe abrasa o peito, dilata seu
pensamento para ver as necessidades de todo o gênero humano; grandiosos ideais
agitam seu coração. É ele mesmo que diz: “O meu desejo era de ver surgir uma
comunidade religiosa, a qual inspirando-se à caridade de Jesus Cristo, que assumiu
todas as misérias da humanidade, se dedicasse totalmente ao serviço dos Pobres, para
conduzi-los das misérias desta vida às alegrias do céu. Os membros de tal comunidade,
despojando-se de tudo para dá-lo aos Pobres devem achar uma grandíssima sorte
servir o mesmo Jesus Cristo no Pobre, trabalhando, mendigando o necessário,
colocando-se em tudo depois dos Pobres, preferindo faltar a eles as coisas necessárias
à vida do que aos Pobres”. E com maior clareza escrevia em outra ocasião, que ele
sempre almejara “uma instituição de Irmãos e Irmãs, que vivessem em verdadeira
pobreza e no espírito de abnegação evangélica, para reerguer a todos das misérias e
dos sofrimentos; uma instituição também de Missionários, dedicados à direção dos dois
Institutos e à evangelização apostólica dos Pobres; e enfim duas Congregações, uma de
Damas, outra de Senhores, os quais deveriam atrair pessoas em favor dos Missionários
e assim ganhá-las para Jesus Cristo”.
        A idéia, portanto de uma Instituição que estendesse sua obra a cada miséria
humana e tivesse os mesmos limites da terra, foi o pensamento sublime diante do qual
meditava a alma do Cusmano e que atormentou o seu espírito sete anos, dia e noite.
Sobre isto conversava freqüentemente com sua irmã Vincenzina, e às vezes, acordando
de manhã lhe dizia: Vincenzina, esta noite não pude dormir, e sabe por quê? Pensei no
que se poderia fazer para os Pobres.
        Mas ainda não tinha chegado o tempo decidido pela divina Providência, cujas
obras requerem como virtude essencial a paciência, a longanimidade, a provação.
        No momento ele se acontentava em correr à cabeceira dos moribundos passando
a noite inteira a reanimar aquelas almas angustiadas; acontentava-se em dirigir palavras
de conforto aos míseros que corriam a ele pedindo socorro; acontentava-se em dar a eles
tudo o que era seu, enquanto seu coração se partia à vista das miséria que afligiam os
seus irmãos.
        Foi neste período que em São Giuseppe Jato, superando indizíveis dificuldades,
envolvendo o povo e as autoridades, conseguiu fundar um Instituto de Filhas da
Caridade, que se tornou tão útil para aquelas populações rurais.
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                                          CAPÍTULO III

                  Como lhe nasce a idéia do “Bocado do Pobre” –
                  Provações às quais o Senhor o submeteu – consegue
                  fundar sua Obra.


        Um caso imprevisto determina muitas vezes a vocação dos homens bons, ou
pode ser um meio que a Providência apresenta a eles para atuar seus grandes projetos.
        Assim foi com a obra do Pe. Cusmano; teve início e também um nome por um
acontecimento praticamente acidental.
        Um dia foi visitar seu íntimo amigo Dr. Miguel De Franchis. Estava na hora do
almoço e ficou impressionado por um nobre gesto de caridade que se costumava
praticar diariamente naquela família. Viu que todos tiraram um bocado do próprio prato
pondo-o em outro colocado no meio da mesa, e que eles chamavam “o bocado do
pobre”.
        Terminando o almoço, entrava um pobre, sentava à mesa e os filhos se
apressavam em servi-lo.
        Foi aquela faísca que acendeu uma grande chama no coração do Pe. Giácomo.
        Ele lê naquele fato somente o projeto de uma obra benéfica que a Providência
lhe inspirava. “Entre as obras de são Francisco de Sales – escreve o Cantú1 – existe
também a do bocado do pobre; em cada almoço se tira um bocado e isto basta para
alimentar centenas de pobres”.
        Sabia disso o Dr. De Franchis e o seu jovem amigo sacerdote? Não, poderíamos
afirmá-lo. Uma coisa, porém está certa, que para o Pe. Cusmano aquele gesto foi como
que uma revelação totalmente nova; ele soube admirar o bonito daquele ato e tirar as
oportunas conseqüências. Dizia ele: “se metade da população de Palermo se associasse
para cumprir esta obra benéfica, privando-se de um bocado, poderiam-se alimentar até
sete mil pobres em um só dia”. Com um tal pensamento seu coração exultou.
        Ele descobriu o meio, um meio simples, para atuar seus grandes ideais; e já via
os pobrezinhos alimentados, salvas as órfãs desamparadas e educado para a família,
para a sociedade e para a Igreja o menor abandonado.
        Lê-se numa carta pastoral publicada por Monsenhor Naselli, então Arcebispo de
Palermo, em favor da nascente Instituição, aos 6 de abril de 1869: “A idéia foi
amadurecendo aos pés do crucifixo, foi submetida ao conselho de seu Diretor
Espiritual”. Mas este – diz o mesmo Pe. Cusmano – pôs à prova por sete anos aquele
desejo.
        Esta prova foi duríssima, e precisou da ajuda do Espírito Santo, do qual o santo
jovem era animado, para resistir e perseverar até o fim.
        O Pe. Cusmano escrevia a tal propósito: “Eu sentia ardentíssimo, em meu
coração, o desejo desta obra, e lutei tanto comigo mesmo durante sete anos sem podê-
lo extinguir. Eu era contrariado por meu Diretor Espiritual, o qual queria que,
esquecido tudo e apagado o meu desejo, dedicasse-me somente aos estudos. Mas aquele
desejo era tão forte no meu coração, tão firme estava aquela idéia na minha mente, que
era impossível vencer-me, e aplicar a outras coisas as forças da minha alma.
Naturalmente eu me acusava disso, e o meu Diretor achando que eu queria resistir na
luta contra a obediência, várias vezes chegou a deixar-me sozinho de joelhos no


1
    CATÚ, Buon senso e buon cuore, Conf. XII.
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confessionário. Imagine a amargura da minh’alma e as angústias que oprimiam meu
pobre coração”.
        Finalmente, porém, a prova devia ter seu término, faltava somente a ocasião para
atuar a obra tão desejada. E esta se ofereceu propícia.
        No ano de 1866 uma louca revolta popular e uma epidemia de cólera que a
acompanhou, a supressão das comunidades religiosas tinham acumulado imensas ruínas
sobre a cidade de Palermo. Muitas famílias definhavam e um triste dia apareceu nos
jornais a notícia de que numa casa uma jovem e um menino tinham morrido de fome.
        A alma do Pe. Giácomo ficou dolorosamente despedaçada. Corre ao Cônego
Turano, conta-lhe o piedoso caso e pede-lhe que lhe dê a suspirada permissão de iniciar
a obra em favor dos pobres, há muito tempo desejada. Recebida a bênção de joelhos, vai
rapidamente visitar as duas aflitas famílias.
        Bate à porta da primeira casa mas uma voz fraca de um pobre velho lhe faz
entender que não podia abrir porque os seus jaziam por terra, morrendo de fome, quase
nus. Voa para outra casa e encontra – é horrível dizer – algumas pessoas famintas, às
quais nada sobrou, a não ser um cachorro; tendo tirado a pele, devoravam-no cru.
Diante daquela cena repugnante não pode refrear o choro. Com ardente espírito de
caridade começa a visitar algumas pessoas amigas para recolher esmolas, roupas e
móveis para aquelas duas pobres famílias.
        Precisava porém pensar diariamente à sua subsistência; e ei-lo pelas ruas da
cidade com duas grandes mochilas subindo e descendo as escadas de manhã até à noite,
batendo de porta em porta e persuadindo a todos a fazer aquilo que ele tinha visto fazer
em casa de De Franchis. Outras famílias pobres, no entanto, estimulavam sua
compaixão: e ei-lo a multiplicar-se, recolhendo durante o dia os bocados de pão, restos
de massa, roupas e outras coisas velhas, levando-as para sua casa dos Santos Quarenta
Mártires; e isso se repetia três ou quatros vezes por dia.
        Antes de escurecer colocava tudo sobre uma mesa e separava por gênero, para
distribuir de noite escondidamente às famílias mais miseráveis.
        O Pe. Giácomo fazendo a coleta se servia no início da ajuda de pessoas pagas.
Depois, porém, atraídos pelas palavras e mais ainda pelo exemplo do Servo de Deus,
um bom número de leigos devotos e de sacerdotes uniram-se a ele para ajudá-lo na
coleta e na distribuição dos socorros. Entre estes destacavam-se: o Pe. José Guarino,
Cônego da Igreja de Magione, elevado depois à Sé episcopal de Siracusa e depois à Sé
metropolitana de Messina e por fim feito Cardeal; o Pe. Ignácia Zucchero que depois se
tornou Cônego da Catedral de Palermo, secretário do Cardeal Celesia e por fim Bispo
de Caltanissetta; o Pe. Antônio Pennino, feito Cônego pelo Cardeal Celesia e depois
nomeado como seu Vigário Geral; o Pe. Pedro Boccone, ainda vivo e atual Vigário
Geral do Cardeal Lualdi; o Pe. Francisco Mammana, que, tirado pela obediência do lado
do Pe. Giácomo para ocupar a tarefa de diretor espiritual do Seminário Diocesano de
Palermo e nomeado Cônego da Catedral Metropolitana, voltava a reunir-se, após ter
renunciado ao canonicato, ao seu amado pai e mestre em 1887, quando se inaugurava a
Casa dos Missionários Servos dos Pobres, e sucedendo-lhe depois na direção da Obra.
        Alma, porém, da nascente pia Obra era a irmã do Pe. Giácomo, a boa
Vincenzina. Ela se ocupava de separar tudo aquilo que era recolhido na coleta e depois
destiná-lo às várias famílias. A ela, após algum tempo, se uniu como colaboradora uma
jovem piedosa, repleta do Espírito de Jesus Cristo e da sua caridade; seu nome era
Maria Ana Delise. “Incansável, embora doente, escolheu para si quase todo o peso da
fadiga: ela classificava os alimentos e os repartia para os pobres, apontava os doentes
para serem socorridos; e recolhia os farrapos para fazer camisas, vestidos e outras coisas
úteis; preocupava-se até em manter ordenados os registros para que servissem de guia
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àqueles que depois tomariam seu lugar. A heróica jovem gastou dois anos neste
caridoso serviço; quando de repente uma grave doença a arrebatou do meio de suas
fadigas. Continuou até quando pode, com uma força que parecia prodigiosa. Na medida
que enfraquecia-se nela o vigor da natureza (era consumida pela tuberculose),
aumentava a sua caridade; sentia a dor e o peso da doença somente quando era distraída
dos seus trabalhos de verdadeira caridade cristã. nos seus últimos momentos relembrava
às outras colaboradoras, os recursos a serem distribuídos aos Pobres. Todos os Pobres
choraram sua morte porque quando não podia ajudá-los materialmente, sempre dava os
confortos da alma, infundindo o espírito de paciência, e exortando-os, como mãe
amorosa a confiar em Deus”2.
        Com tantos e zelosos cooperadores, a Obra ia se desenvolvendo.
        Uma associação, porém, de tamanha atividade à qual pertenciam um bom
número de eclesiásticos, numa época de muitas agitações políticas e de perseguição
contra a Igreja, não podia deixar de atrair a atenção suspeitosa da autoridade civil, de
modo que o Pe. Giácomo foi chamado pelo comandante da polícia de Palermo para dar
satisfações da Obra por ele fundada.
        Bastou um simples encontro para que o comandante da polícia se convencesse
logo das sinceras intenções caridosas do Servo de Deus e ao invés de impedi-lo na Obra
que havia empreendido, obrigou-o a apresentar um projeto ao governo para obter uma
casa e auxílios para o melhor desenvolvimento da mesma Obra. Foi então que ele em
maio de 1868 escreveu privadamente ao Santo Padre Pio IX por meio do seu amigo
beneditino, o Pe. Ercoli Tedeschi, que naquela época morava em Roma, “para obter –
são suas palavras – do Santo Padre a aprovação e autorização de apresentar ao
governo um pedido para aceitar alguma casa religiosa aonde fosse oferecida. Pediu ao
mesmo tempo uma grande bênção que confirmasse a Obra e a preenchesse de todos os
privilégios e indulgências concedidas a todas as Obras de São Vicente de Paulo,
desejando ao mesmo tempo que a Obra do Bocado do Pobre fosse filiada a ela,
desejando que aparecessem na Sicília, por meio desta pequena semente, todas aquelas
grandes obras que mudaram e melhoraram as condições da França. Tudo isso por
meio de contribuições adaptadas às circunstâncias, aos tempos, aos lugares, afim de
que se tornasse mais fácil a difusão da caridade no coração de todos, e enrobustecesse
a fé que parecia adormecida”.
        “O Senhor deveria relembrar – continua a falar, retornando sobre a sua idéia
fixa – quantas belas idéias se planejavam no início desta Obra. O pedido que Vossa
Reverência apresentará ao Santo Padre, deverá mostrar ao Santo Padre, deverá
mostrar as necessidades deste pobre e abandonado povo, e a paterna bênção Dele
imprimir nas almas destes afortunados e generosos (homens e mulheres) que querem se
tornar pobres por amor dos Pobrezinhos de Jesus Cristo e ter a sorte de se consagrar
ao seu serviço, aquela fé, aquele espírito, aquela caridade, que leve a termo, em nossos
tempos, uma Obra tão grande e tão difícil a ser realizada”.
        Dado que não queria fazer nada sem primeiro ter certeza de agradar a Deus,
fecha esta carta com estes sentimento que manifestam o homem de Deus: “O Senhor
seria cortês dizer-nos a acolhida que fará o nosso Santo Padre a estes nossos desejos,
os quais somos prontos a abandonar, se forem por ele minimamente desaprovados; pois
é querida a nós do que qualquer outra coisa a adorável vontade de Deus, por causa da
qual foi escrita esta presente. Se for a vontade de Deus que por meio do senhor seja
aprovado pelo Santo Padre todo desejo que aqui se manifestou, deixando ao zelo
caridoso de Vossa Reverência formular o pedido como achar conveniente, então nos

2
    Carta Pastoral de Mons. Naselli.
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será leve todo obstáculo e doce toda pena que encontrarmos, seguros de agradar a
Deus”.
         Após esta carta Sua Santidade Pio IX, após ter tomado as devidas informações
com o Ordinário, aos 5 de agosto de 1868, mandava-lhe sob forma de Decreto a
Apostólica Bênção sobre a Obra, e sobre todos os membros a ela agregados. No mesmo
dia do mesmo ano com documento da Sagrada Congregação dos Bispos e dos
Religiosos, ele recebia a faculdade de pedir ao Governo Italiano, Casas de Religiosos
para acolher os Pobres.
         Diante deste impulso dado pelo Sumo Pontífice, o Arcebispo Naselli, em
dezembro do mesmo ano instituía canonicamente a Obra sob o título de “Associação do
Bocado do Pobre”.
         Assim ela teve o início difícil. Naquela ocasião se leu um discurso inaugural
entre os associados e os cooperadores para estimular-se reciprocamente. O mesmo
Arcebispo propôs a criação de carteirinhas capazes de apresentar a Obra e seu
significado à primeira vista e ao mesmo tempo estimular o amor aos Pobres. Na
carteirinha foi representado o bom Jesus acolhendo de um lado os Pobrezinhos e de
outro as esmolas dos ricos que Ele recebia como feitas a si mesmo. A inscrição que
circundava a figura era conforme a idéia expressa na mesma: são as palavras de Nosso
Senhor: esurivi et dedistis mihi manducare: Quod uni ex minimis meis fecistis, mihi
fecistis. (Tive fome e me destes de comer: o que fizestes a um destes pequeninos, a mim
o fizestes).
          A forma, porém, que a Obra estava tomando não respondia de modo algum à
inspiração que o Pe. Giácomo tinha recebido de Deus. Ele não via surgir aquela
comunidade religiosa por ele desejada, “consumida na caridade para copiar em si a
vida de Jesus Cristo”. Isso se tornava para o seu coração motivo de grande sofrimento.
         Escrevia ele: “Eu sofria muito em servir-me de pessoas mercenárias e de outras
que, mesmo tendo vontade de cooperar, não tinham o desejo de unir-se em comunidade
para praticar a vida por mim desejada. Mas todavia este era o desejo dos Superiores.
As necessidades falavam mais alto, faltavam as vocações, nem ele podia suscitá-las.
Tive que me confortar com esta situação. O Arcebispo Monsenhor Naselli criou um
conselho diretivo para organizar as coletas; foram criados também escritórios de
contabilidade, arquivo, secretaria, inspetoria, e a Associação começou a tomar
proporções interessantes.”3
         A Carta Pastoral de Monsenhor Naselli nos informa sobre os felicíssimos
resultados daqueles primeiros tempos. Os auxílios dados em vinte e dois meses
chegaram a 48.428, isto é, se alimentaram mais de cem pobres cada dia, além das ajudas
em dinheiro para manter as órfãs nos orfanatos, as moças, as virgens dos Colégios de
Maria, sem contar os pobres enfermos curados em suas próprias casas e os remédios e
médicos oferecidos gratuitamente.




3
    Carta ao Pe. Daniel de Bassano.
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                                      CAPÍTULO IV

                   Novas provas às quais é submetido – Fica sozinho em
                   sustentar a Obra por ele fundada – Renuncia ser
                   pároco de Santo Hipólito – É nomeado membro do
                   Conselho de Administração do Depósito de
                   Mendicância – Renuncia ao Canonicato da Catedral de
                   Palermo – Monsenhor Turano o conduz consigo a
                   Agrigento – Passa as orfãzinhas para o Convento de
                   São Marcos.


        Aonde Deus opera é preciso que o homem desapareça ou se esconda.
        Foi por isso que enquanto a obra do Pe. Cusmano tomava um satisfatório
desenvolvimento, ele começava a sentir em si um grande desânimo que o mergulhava
numa angustiosa tristeza.
        Mais deixemos que ele mesmo nos descreva aquilo que então se passou no seu
coração. Suas palavras deixam transparecer toda a santidade do Servo de Deus: “A
partir daquele momento uma profunda dor começou a entristecer a minha alma, porque
a consciência me advertia que Deus não deixava surgir, pela minha indignidade a
desejada Comunidade; sobretudo contristava-me o pensamento que eu tivesse
começado a Obra com desejos que não eram pura e simples caridade, (oh santa, imensa
humildade do Servo de Deus!).
        De maneira que sentia um ardente desejo de voar aos pé do Santo Padre Pio IX,
confessar-lhe as graves iniquidades de toda a minha vida, manifestar-lhe os maus
desejos do meu coração, que pareciam estragar em mim o espírito de caridade, para
saber se aquele desejo que eu sentia era de Deus ou do demônio, e para decidir se
devia ou não continuar no caminho empreendido”.1
        Sublimes sentimentos de filial confiança para com o Pai comum dos Crentes
aqui na terra, o Santo Vigário de Jesus Cristo, lembra aquela confiança mostrada por
outros santos em semelhantes situações! Aqui aparece claramente como o espírito
humano desapareceu totalmente, para permanecer somente o espírito de Deus que se
serve do seu ministro como de um dócil instrumento. E tal foi a prova à qual o Senhor
quis submetê-lo que ele mesmo chegou a dizer: “Muitas vezes resolvi abandonar tudo
para fugir na solidão e chorar, por toa a vida, o meu horroroso passado”. Em seguida
continua narrando assim as coisas de então: “Todavia a Obra progredia, mais de vinte
sacerdotes partilhavam comigo a fadiga da coleta e da distribuição dos alimentos para
os Pobres a domicílio; um número razoável de leigos de ambos os sexos trabalhavam
também: em casas alugadas separadamente estavam reunidos meninos e meninas que o
Conselho me autorizava a recolher para que mais proveitosa para suas almas se
tornasse aquela esmola que com tanto sacrifício se recolhia, oferecendo-a juntamente
com a palavra de Deus, com a instrução catequética, com o ensinamento das letras e
das artes.

1
    Carta ao Pe. Daniel de Bassano.
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        Passaram mais ou menos quatro anos nesta feliz situação e não havia pobre que
conhecêssemos que não recebesse os benéficos auxílios da Obra, antes, chegava até a
estragar-se o pão e o macarrão pela abundância das esmolas, e era muito bonito ver
como por meio destas ajudas materiais se aproximavam as almas a Deus”.
        Mas quando o servo fiel do Senhor já começava a gozar um pouco em sua alma,
vendo que quase se realizavam os seus desejos, e as coisas se encaminhavam para um
êxito feliz, eis que o Senhor renova com mais dureza a provação, que qual fogo mais
vivo e ardente deve purificar nosso Pe. Giácomo de toda levíssima imperfeição. De fato
– é o Pe. Giácomo que escreve – “promovido ao bispado de Agrigento, o Cônego
Turano, Vice-presidente do Conselho Diretivo da Obra, e ao mesmo tempo elevado a
Arcebispo de Siracusa o Cônego Guarino, um dos mais zelosos conselheiros, e quase
todos promovidos a altos cargos eclesiásticos, aqueles sacerdotes que tanto se
afadigavam pelos pobres, encontrei-me de repente quase sozinho a sustentar com
minha miséria todo o peso e responsabilidade da Obra. A coleta começou a diminuir
em grande parte. Diminuíram as distribuições a domicílio, foi fechada a casa das
orfãzinhas, foram mantidas somente as órfãs internas pelo perigo de sua perdição.
Governo e Prefeitura, não obstante suas promessas, permaneceram na mais completa
indiferença, a coleta diminuía sempre, e parecia um milagre que por onze anos se pode
providenciar o sustento daquelas infelicíssimas criaturas”.
        Nestes onze anos, o Pe. Giácomo ficou sozinho com um simples leigo que o
ajudava nas escassas coletas, e somente algum sacerdote dos mais afeiçoados, como o
Pe. Vincenzo Datino e o Pe. Francesco Mammana, que vinham ainda para ajudá-lo um
pouco na assistência às órfãs. Estas eram confiadas à sua irmã Vincenzina e a outras três
boas moças que deixando as famílias queriam dedicar-se a servir Jesus nos seus
pobrezinhos, até o Senhor permitir o surgimento da desejada Comunidade. O Servo de
Deus, porém, estava fiel no lugar onde a Providência o tinha colocado, pronto a
permanecer como vítima do que dar um passo atrás.
        Na vida do Pe. Giácomo talvez é este o período no qual, melhor do que qualquer
outro, ele teve que mostrar aquela firme virtude que adornava seu nobre coração.
        Entretanto, enquanto o Pe. Cusmano levava sozinho a Obra que, como vimos se
reduzia em manter vinte órfãos, vindo a faltar em 1871 o pároco de Santo Hipólito, a
Câmara Municipal de Palermo que tinha o privilégio de nomear os párocos da cidade,
unanimemente o chamava àquele cargo, e encarregava o Cônego Professor Vicente Di
Giovanni, da Universidade de Palermo, então vereador municipal, de comunicar-lhe a
escolha que dele se fizera. Eis como o ilustre Professor, que em seguida foi consagrado
Bispo, narra o encontro tido e a impressão que teve: “O Pe. Giácomo me olhava fixo
com os seus olhos bondosos, na atitude de grande surpresa, e com o rosto pálido queria
falar, mas lhe faltava a palavra.
        Naquele momento com certeza passaram diante de seus olhos as suas orfãzinhas,
pensou na sua Obra; não sabia quais os planos da Providência com aquela nomeação.
Calando e sentindo grande confusão na alma, apareceram as lágrimas em seus olhos. A
única coisa que pode dizer-me foi: “Mas como, meu Padre? Eu não posso...” Entendi
tudo quanto se passava então naquela grande alma: ele era o Pai do Bocado do Pobre,
era a providência das orfãzinhas, e era aquele e não outro o lugar destinado-lhe por
Deus, querido pelo seu coração, exigido pelas condições dos tempos, necessitados de
novas formas de caridade, de nova operosidade evangélica, de nova ação do
cristianismo numa sociedade egoísta e materializada pelo lucro e pelos prazeres baixos
do sexo.
        Pedi-lhe, portanto, com muita comoção, que ficasse sereno, e que teria pedido
dos colegas da Câmara e ao Prefeito de Palermo de dirigir-se aos outros sacerdotes para
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providenciar um pároco para a paróquia vacante; e que ele ficasse no seu lugar de pai
amoroso das orfãzinhas, como um sinal luminoso da caridade urbana. Teria sido mais
fácil encontrar um pároco para uma paróquia, do que um pai para os Pobres e as órfãs
pelos quais fora instituído o Bocado do Pobre. O bom padre Giácomo sorriu às minhas
palavras com aquela doçura inefável dos lábios e das serenas pupilas; deixando-o, levei
comigo uma admiração ainda maior por aquela grande alma, por um coração que
palpitava somente pela caridade aos pobres, aos velhos, às orfãzinhas, imagens todos de
Jesus Cristo sobre a terra.
        De tais almas, (concluía o ilustre Monsenhor Di Giovanni), não se tem senão
raríssimo exemplo; e afortunados aqueles que puderam admirá-las de perto”.
        Depois da renúncia a ser pároco, a Câmara de Palermo com deliberação de 3 de
abril de 1871, nomeava-o membro do Conselho de Administração do Depósito de
Mendicância.
        Tratando-se de uma assistência a ser dada aos Pobres, ele aceitou e foi nesta
ocasião que pronunciou um discurso que em seguida foi publicado, no qual defendendo
a liberdade de consciência lesada por algumas deliberações daquele Conselho, deu
provas admiráveis de eloquência, mansidão e fortaleza sacerdotal.
        Foi naquele mesmo período que o Ex.mo. Cardeal Celesia querendo-o honrar
pelos seus méritos preclaros, com insistência lhe oferecia a dignidade de Cônego da
Catedral de Palermo. Mas ele soube suplicar tanto a seu venerável Pastor, que
conseguiu não ser tirado dos Pobres aos quais tinha jurado consagrar-se inteiramente.
Eis como relata este fato o mesmo Cardeal Celesia em ocasião 5º aniversário da morte
do Servo de Deus: “Como prova de nossa pastoral complacência por tão grande bem, e
mais como prova de estima pessoal, não como recompensa aos méritos que Deus
somente podia conceder-lhe, nós, de bom gosto lhe oferecemos com insistência as
honras eclesiástica em nossa Catedral. Mas fomos profundamente edificados pela
modéstia, aliás, pelo desprezo com que a si mesmo tratava, que se tornou mais
acentuado naquele momento em que prostrado no chão aos nossos joelhos, suplicou
para ser exonerado de tal honra, afirmando que, além de ser indigno, os Pobres, seus
filhos em Jesus Cristo, não podiam ficar sem sua contínua assistência e dos serviços de
todo o gênero que tinha jurado prestar a eles. Acontentamo-lhe pela sua insistência: mas
o amamos mais ainda e nunca mais foi-lhe negada a entrada em nosso palácio nem tão
pouco lhe negamos a entrada em nosso coração, abençoando-o em cada passo seu por
causa de sua Obra tão querida para Deus e para os homens”.
        Em 1872, consagrado como Bispo de Agrigento o seu Diretor Espiritual o
Cônego Turano, este quis conduzi-lo com ele naquela Sede para receber ajuda e
conselho no governo da Diocese.
        Obedecendo, o Pe. Giácomo, embora com o coração despedaçado por afastar-se
de suas orfãzinhas, deixa estas aos cuidados da irmã Vincenzina e segue o seu Pai e
Mestre para o novo campo destinado por Deus às suas fadigas apostólicas.
        O afastamento do Pe. Giácomo fez com que a Obra caminhasse para a ruína. O
Pe. Mammana, que por ele fora encarregado em substituí-lo durante sua ausência,
escrevia-lhe cartas de fogo, pressionando-o a voltar para Palermo se não quisesse que a
Obra se destruísse. O Pe. Giácomo, gemendo em seu coração, na oração e no silêncio,
esperava que se manifestasse a vontade de Deus por meio da obediência.
        Uma destas cartas caída nas mãos de Monsenhor Turano o deixou muito
impressionado. Foi então que ele, mesmo de má vontade, consentiu que o diletíssimo
Giácomo voltasse a Palermo para sustentar a moribunda Obra do Bocado do Pobre.
        Uma carta enviada pelo Monsenhor Turano ao Pe. Giácomo aos 17 de dezembro
de 1872, mostra todo o bem operado por ele em dois meses naquela Diocese. “Você foi,
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escreve-lhe, um rio de bênçãos que derramou a abundância na minha Diocese com a sua
benéfica estadia”. Numa outra carta, queixando-se de não poder tê-lo consigo diz:
“lembro-me que no ano de 1860, Monsenhor Cilluffo, apontando-te a mim, disse: eis o
teu Timóteo. Você será São Timóteo e até mais, mas não para mim...”
        O retorno do Pe. Giácomo a Palermo serviu para aquele germe que ainda
permanecia da Obra por ele fundada, não morresse, germe que ele devia regar e
fecundar som seus suores, suas lágrimas, seus gemidos, suas orações.
        Em 1873 conseguira transportar as orfãzinhas da incômoda casa dos Santos
Quarenta Mártires no mais amplo Conventinho de São Marcos, gratuitamente concedido
pela benemérita Confraria da Companhia de São Marcos Evangelista; mesmo assim, as
coisas não melhoraram muito,
        Vendo-o lutar contra toda esperança por tão longo período de tempo, não faltava
quem o chamasse de louco, de fanático, ou quisesse desviá-lo de seu caminho, mas ele
que não baixava a cabeça como um vencido, mas confiava no Senhor, suportando com
heróica mansidão toda maledicência e maldade, não deixava de renovar os esforços para
continuar, aliás, para fazer ressurgir aquela Obra bendita.
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                                   CAPÍTULO V

              Quer confiar as orfãzinhas a vários Institutos religiosos
              – Confortado por um sonho misterioso, dá o hábito às
              primeiras Irmãs Servas dos Pobres.


        Passaram-se onze anos, onze longos anos de luta e de sacrifícios, e vendo o Pe.
Cusmano faltar-lhe qualquer socorro, convicto que aquela Obra era querida por Deus,
começou a pensar em confiá-la a algum Pio Instituto entre os aprovados pela Igreja,
para impedir que a sua indignidade, como ele com profunda humildade dizia,
continuasse a ser um obstáculo.
        Dirigiu-se então a várias Instituições religiosas para confiar suas pequenas
orfãzinhas a piedosas Irmãs, às quais, mendigando de casa em casa o piedoso bocado,
as poderiam socorrer.
        Porém, nem as Filhas da Caridade, nem as Pequenas Irmãs dos Pobres quiseram
aceitar. Enquanto em seu coração pensava em recorrer às Estigmatinas, o Senhor que,
em seus planos quisera provar tão longamente sua constância veio consolá-lo de um
modo todo especial. Deixemos a ele a palavra da narração de um fato que teve uma
importância capital na vida do Servo de Deus e na existência da Obra por ele fundada:
        “No dia em que recebi esta outra recusa (a das Pequenas Irmãs dos Pobres do
Abade Lepailleur) cheguei ao cúmulo da minha dor. Havia terminado o meu trabalho –
era hora do meu descanso – na amargura do meu coração, estava iniciando uma carta
ao meu Diretor Espiritual para informá-lo sobre a resposta das Pequenas Irmãs dos
Pobres, e pedir-lhe licença de convidar as Estigmatinas e confiar a elas as orfãzinhas,
abandonando totalmente a idéia de querer conservar ainda a Associação do Bocado do
Pobre que eu, por minha indignidade, via já destruída. Estava no término da carta
quando um sentimento de mal estar unido ao sono, sem perceber, fez-me deitar na
cama que estava ao meu lado, e na quietude daquele repouso, parecia-me estar num
campo e na fenda de uma montanha que erguia-se à minha esquerda... Voltando o
olhar, via um grande antro, onde estavam reunidas minhas pequenas órfãs com as boas
senhoras que as tem sempre assistido. Atrás destas, distinguia uma outra Senhora a
mim desconhecida, também ela em trajes pobres, no ato de amamentar um menino.
Estas coisas se manifestavam a um mesmo tempo e foi extrema minha surpresa, quando
naquela Senhora reconheci a Grande Mãe de Deus! (...) Um alto grito e um rápido
impulso que me fez cair de joelhos aos pés da Mãe Santíssima, alertaram a todos, mas
eu, prostrando-me profundamente, beijava seus pés, sentindo-me confortado, seguro,
livre de qualquer perigo, como um menino no aconchego do seio materno.
        Teria permanecido ali toda a vida, se a meiga Senhora, soerguendo-me, não me
tivesse avizinhado ao seu seio materno, onde, pouco antes, havia visto um menino; e,
naquele instante, que não sei repensar sem comover-me, consolava-me da esperança de
que a Obra era aceita pelo Senhor e que, oportunamente seria levada ao grande fim
pelo qual a havia feito nascer.
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        Depois com o sentimento que aludia aos meus desalentos e à minha
indignidade: “É ao meu tenro Filho, é a Ele, a Ele só que tu deves tudo!” dizia-me
dirigindo seu doce olhar atrás dos meus ombros, olhar que tirou-me da posição em que
me encontrava; porque naquele mesmo instante, por um sentimento espontâneo de
reverência, de gratidão, de temor, voltei a procurar Aquele ao qual tudo devia; vi então
o menino na idade de quatro anos, com os olhos vermelhos, como quem havia tido um
grande pranto, recolhido, sério, que obrigou-me a prostrar-me, pedir perdão das
minhas ingratidões, e implorar piedade para as pobres criaturas a mim confiadas,
pedindo também a ajuda de sua Providência para saciar-lhes materialmente.
        Então me ergui e recolhi pedaços de pão, que constituía toda nossa provisão,
mas, ao retornar, vi somente a Mãe de Deus. Prostrando-me, supliquei-lhe de abençoar
aqueles restos de pães, para que fossem suficientes para a alimentação de todas as
órfãs, e a Mãe Santíssima, com benévolo aspecto acolheu minha prece e abençoou
aqueles sobejos. Contentíssimo, ergui-me para distribuir os pães às órfãs, quando,
voltando o olhar, vi duas grandes panelas de ferro em meio a grande fogo, e a água em
ebulição que cozinhava o macarrão, lancei-me sobre elas, sem proteger as mãos,
quando, a meiga Senhora me veio em auxílio. Quando acordei, surpreendi-me vestido
na cama sem saber como. Não pensava nada daquilo que havia sonhado, porém meu
coração não estava mais com aquelas angústias, que impeliam-me de escrever a carta,
que eu deixara começada sobre a escrivaninha.
        Aprecei-me rapidamente para a celebração da Santa Missa, e no
agradecimento, com nova surpresa, o sonho me veio à memória. Sinto ainda tanta
consolação só ao pensar no sonho. Contei tudo ao meu amigo sacerdote, ao qual, na
ausência do meu diretor espiritual, costumo dirigir-me para algum conselho (este era o
Cônego Antônio Pennino) e ele me proibiu de completar e enviar a carta começada,
exortando-me, pelo contrário, a não deixar de buscar a instituição das Irmãs e dos
Frades que deveriam sustentar a Obra conforme eu a tinha desejado, e não recorrer às
Estigmatinas, a não ser, quando, depois de se ter tentado tudo, visse claramente que o
Senhor não queria esta nova Instituição.
        Continuei a trabalhar pacificamente em meio às dificuldades nas quais vivia há
tantos anos, mas nenhum conforto humano via aparecer para iniciar a desejada
Instituição. Era um contínuo milagre da Providência a alimentação de tantos pobres
com a magra coleta que se ganhava durante o dia, a ponto de não ter coragem de
comer minha sopa, sem antes ter certeza de que todos da casa estivessem saciados;
após este período, a abundância começou a crescer a cada dia. Foi então que por
maior segurança de minha alma, e afim de conhecer melhor a vontade do Senhor, fui
consultar uma pia pessoa, que fora muito favorecida pelo Senhor e pela Virgem
Santíssima. (Esta era Melânia, que naquele tempo encontrava-se em Palermo). Após ter-
lhe contado os meus problemas, ela com grande humildade me encorajou a continuar
na Obra começada, servindo dos elementos que o Senhor tinha me dado sem procurar
outras Instituições para me ajudarem. Em seguida me animou a vestir as Irmãs e a
procurar reunir e iniciar a Comunidade daquele modo que o Senhor teria-me
inspirado, confiando muito na ajuda de Deus e de Maria Santíssima, afim de que as
coisas prosperassem para a sua glória e a salvação das almas.
        Entretanto eu estava esperando a volta do nosso Monsenhor Arcebispo que
estava fazendo uma visita pastoral, para pedir-lhe licença de vestir as primeiras Irmãs.
Chegando lhe relatei tudo, consegui a licença de vestir as primeiras Irmãs e na festa da
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Santíssima Trindade do ano de 1880 tive a sorte de vê-las já trabalhando com a
aprovação do Ordinário”. 1
        Assim finalmente o Senhor premiava a constância heróica do Pe. Giácomo, e a
partir daquele dia a Obra do Bocado do Pobre tomava sua verdadeira forma regular e
estável, como desde o princípio se apresentara mais no coração do que na mente do
Servo de Deus.
        Muitos dias antes da vestição religiosa, sua sobrinha Madalena sonhara estar já
vestida de Irmã: parecia-lhe estar trajada com um hábito preto, uma capa também preta,
um capuz branco, um amplo avental azul, e um terço de Nossa Senhora ao lado. Foi
aquele o hábito que o Pe. Giácomo adotou para as primeiras Irmãs, hábito que vestem
ainda hoje. O manto preto completa este hábito quando as Irmãs saem de casa. Durante
a coleta saíam com dois alforjes brancos, pareciam anjos de misericórdia andando pelas
ruas de casa em casa, recolhendo as ofertas da caridosa cidade.
        As primeiras Irmãs que receberam o hábito sacro e às quais o Pe. Giácomo deu o
título de Servas dos Pobres eram seis; primeira entre elas estava a Irmã Vincenzina.
Educada na escola das grandes virtudes por aquele grande mestre de vida interior,
Monsenhor Turano, foi o retrato perfeito de seu santo irmão e dividiu com ele a direção
da Obra por tantos anos, também ela vítima da caridade. Que doçura inefável ela
experimentou quando foi revestida do branco véu e do humilde hábito das Servas dos
Pobres! Levada por natureza à vida de clausura venceu heroicamente a si mesma e se
lançou na nova via que o Senhor lhe apontou, consagrando-se inteiramente ao serviço
dos Pobres. “Vê, dizia-lhe brincando o Pe. Giácomo, tu querias entrar num mosteiro
pequeno, ao invés o Senhor te quer num mosteiro grandíssimo. O mundo inteiro deve
ser para ti este mosteiro.” E ela permaneceu fiel no seu lugar até que em 1894 o Senhor
a chamou a receber o prêmio da sua caridade.




1
    Carta ao Pe. Daniel de Bassano
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                                   CAPÍTULO VI

              Conseguida do Prefeito de Palermo a Quinta Casa a
              beira mar, funda o primeiro Asilo de Pobres incapazes
              de trabalhar – sofre uma cirurgia – Suas relações com
              o Barão Turrisi.


        Logo que o Pe. Giácomo deu o hábito às primeiras Irmãs, com a bênção do
Arcebispo de Palermo e do seu Diretor Espiritual Monsenhor Turano, confortado pela
certeza de que a Instituição por ele a tantos anos desejada era querida por Deus, com
todo o impulso deu-se totalmente a todo tipo de obra de caridade.
        As Irmãs Servas dos Pobres, que com seu jeito humilde e modesto começaram a
andar por toda a cidade para recolher o “Bocado do Pobre”, tornavam sempre mais
popular o nome de seu Pai e mestre. A pequena Casa de São Marcos tornou-se em breve
um centro de bênção aonde acorriam todos os tipos de necessitados e infelizes porque
na inesgotável caridade do Servo de Deus encontravam ajuda e conforto. Foi assim que
se formou aquele ditado popular: “A caridade está em São Marcos”.
        Existia naquela época em Palermo um lugar desprezível chamado Refúgio, onde
estavam reunidos, sem nenhuma distinção de sexo ou de idade, um grande número de
pobres abandonados por todos.
        Era prefeito de Palermo o Barão Nicolau Turrisi, o qual informado da condição
desagradável daqueles infelizes e da situação indigna na qual se encontravam, pensou
resolver o caso assegurando a eles uma assistência mais humana. Movia-o a isso o fato
que, devendo chegar em breve em Palermo o Rei na ocasião das festas centenárias das
Vésperas Sicilianas, queria tirar das ruas o grande número de pobres mendigos, que
davam a impressão de um triste espetáculo.
        Mas onde coloca-los e a quem confia-los? Portanto tivessem estudado para
encontrar uma solução, não conseguiam chegar a cabo de modo satisfatório em
providencial à necessidade.
        Falaram-lhe do Pe. Cusmano e do seu espírito de caridade e de sacrifício; mas o
Barão Turrisi que, embebido de preconceitos contra a Igreja, não era muito tenro com os
padres, não quis ouvir. No entanto o tempo apertava e não se encontrava nenhuma
solução. Foi então que, apertado pela necessidade, decidiu-se finalmente dirigir-se ao
Pe. Cusmano, que nem conhecia. Apresentaram-lhe o Pe. Giácomo e bastou aquele
primeiro encontro para que o Prefeito Turrisi ficasse de tal modo impressionado que se
tornou um dos maiores admiradores e protetores dele.
        O Pe. Giácomo com o coração exultante oferece a si mesmo e suas filhas, as
Servas dos Pobres para assistir todos aqueles pobres que quisessem confiar-lhe; o Barão
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Turrisi lhe promete por parte da prefeitura, toda ajuda material e moral. Começou
dando-lhe a Quinta Casa à beira mar.
        Pertencia esta grande construção originariamente aos padres Jesuítas que a
utilizavam como Casa de retiro. Suprimida a Companhia de Jesus por Clemente XIV,
aquela Casa passou às mãos do governo Bourbônico, o qual a destinou primeiramente
como quartel e depois como cadeia dos endividados. Restaurada na Sicília a Companhia
de Jesus em 1804, a Quinta Casa ficou com o governo dos Bourbons, até que caído em
1860, esta passou a pertencer ao novo governo que acabou abandonando-a por causa do
mau estado no qual se encontrava. O Barão Turrisi a pediu e conseguiu por motivos
beneficentes.
        Conseguida a Casa, o Pe. Giácomo fez as necessárias reparações conforme a
nova destinação. Em março de 1881 todos os Pobres que se encontravam no Refúgio
foram levados até lá. Eram dez pobres velhos inválidos, quinze velhinhas, sete
orfãzinhas e vinte órfãos; era uma situação deplorável! Foi assim que as antigas
aspirações do Servo de Deus foram finalmente concretizadas; ele via por caminhos
totalmente providenciais à sua disposição uma grandíssima construção onde poderia
acolher todo tipo de Pobres abandonados.
        O pequeno grãozinho já começava a germinar; não passará muito tempo e
produzirá vigorosos rebentos.
        O Pe. Giácomo, porém, com grande pena não pode assistir à passagem dos
Pobres à Quinta Casa. Naquele dia ele estava constrangido a ficar na cama.
        As excessivas fadigas enfrentadas para preparar o local excitaram de tal modo
aquele mal que o atormentava desde os primeiros anos do seu sacerdócio e que de
verdade o tornara o homem das dores, a ponto de submeter-se a uma cirurgia. Tratava-
se de uma profunda fistula intestinal. E o Pe. Giácomo se submeteu àquele corte com tal
fortaleza e tranqüilidade de espírito, a tal ponto de maravilhar aqueles que o visitavam
após a dolorosíssima cirurgia.
        Mal tinha se restabelecido voou à Quinta Casa para dedicar-se aos serviços mais
humildes para com os Pobres que ali estavam, e os mais repugnantes eram os que mais
atraíam seus cuidados.
         Um dia foi admitido um pobre velho paralítico. A entrada de um novo Pobre era
uma festa para o Pe. Giácomo. Acolheu-o com gestos da mais viva alegria e, cingido
seu avental branco pôs-se a lavá-lo, penteá-lo e trocar-lhe a roupa. Arrumou a cama e
carregando-o no colo para deita-lo,olhou-o amorosamente e contemplando naquele rosto
emagrecido a bela imagem de Jesus Pobre e sofredor, tenramente o abraçou e o beijou.
        O pobre velho paralítico, como o velho Simeão, não se continha da alegria, e
dizia: “Agora posso morrer, não desejo mais nada, o Pe. Giácomo me deu um beijo!”
        O Barão Turrisi que naquele primeiro período da abertura do asilo da Quinta
Casa teve freqüentes ocasiões de aproximar-se do Servo de Deus, afeiçoou-se sempre
mais a ele,chamando-o de “o melhor dos meus amigos”. E o Pe. Giácomo que o
considerava como o maior benfeitor da sua Obra, olhou-o sempre com a mais viva e
afetuosa gratidão. E quando após alguns anos o Barão Turrisi sofreu uma paralisia que
lhe tirou também o uso da palavra, o Pe. Giácomo empenhou-se em reergue-lo daquela
terrível doença. Como um dos maiores sofrimentos do pobre Barão era o de não
conseguir deixar-se compreender em suas diversas necessidades, o Pe. Giácomo com
sua operosa caridade, mandou colocar ao lado de seu leito uma taboa onde estava
escrito em grandes caracteres tudo o que lhe pudesse ser útil, de maneira que o pobre
doente devia somente indicar com uma varinha o que precisava para logo ser servido.
        A caridade do Pe. Giácomo não se preocupava somente com os sofrimentos do
corpo do Barão Turrisi; ele queria a todo custo salvar-lhe a alma. Com estrema
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delicadeza, servindo-se da estima que gozava do Barão, começou a induzi-lo a pensar
em sua própria consciência. Com certeza teria conseguido se, nos últimos dias de sua
doença, não tivessem com sua imensa dor, fechando-lhe a porta da Casa Turrisi,
certamente não por vontade do pobre Barão.
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                                   CAPÍTULO VII

              Funda uma Casa de Misericórdia em Agrigento.


        Se grande consolação fora, para o Pe. Giácomo a fundação do Asilo da Quinta
Casa, não menor foi a alegria pelo insistente convite que lhe fazia seu venerado Padre
Monsenhor Turano de implantar a Obra em Agrigento. Existia naquela cidade um lugar
sujo, fedorento, infestado de insetos, com o teto e o piso em ruínas. Encontravam-se ali
internadas muitas mulheres e moças, sem governo nem disciplina; saiam e entravam por
conta própria e cada uma devia providenciar seu próprio sustento. Um leito de palha e
um fogão de barro eram os únicos móveis de cada quarto.
        Monsenhor Turano gemia em seu paterno coração e, após alguns graves
problemas aí ocorridos, tendo combinado com o Prefeito de Agrigento, dirigiu-se ao Pe.
Giácomo para confiar às Servas dos Pobres a direção e a reforma daquela casa. O Pe.
Giácomo entendeu rápido a dificuldade daquela missão. Como disciplinar aquelas
jovens a tantos anos habituadas a uma completa liberdade? Como manter
convenientemente aquelas pobres desamparadas numa absoluta deficiência de meios
materiais? Seu grande coração zeloso pela salvação das almas e a completa confiança
que tinha em Deus, fizeram com que ele não recusasse nem colocasse condições.
        Mas a quem entre as suas filhas confiar a árdua missão? Fazia-se mister a
presença de almas acostumadas ao espírito de sacrifício e prontas a imolar-se
inteiramente pela salvação do próximo. Primeira entre estas foi a própria irmã. E aos
cinco de janeiro de 1882 a boa Irmã Vincenzina com outras cinco companheiras,
acompanhadas pelo Pe. Giácomo chegam a Agrigento e tomam posse daquela Casa. A
boa madre andava entre aquela miséria, consolando aquelas jovens e animando-as a
rezar para que o bom Deus as ajudasse a melhorar sua condição.
        O Pe. Giácomo por sua vez derrama naquelas infelizes criaturas toda plenitude
da sua misericordiosa caridade procurando amansar aquelas jovens enfurecidas pelo
novo gênero de vida à qual queriam submete-las.
        No entanto faltam as camas para as Irmãs e de um ínfimo albergue alugaram-se
seis colchões de palha; mas onde coloca-los? Os quartos estão todos lotados; recorre-se
ao sótão, aí se encontra espaço. A Irmã Vincenzina é a primeira a caças os ratos, tirar a
teias de aranha e tampar as frestas com papel. Aquele ninho de ratos do qual através das
telhas podia-se ver as estrelas por muito tempo foi o dormitório das Irmãs. A boa Irmã
Vincenzina, como era alta, freqüentemente batia a cabeça no telhado, mas não se
importava com estes incômodos. O que mais angustiava seu coração eram as
dificuldades que encontrava na educação, moralização e formação religiosa daquelas
jovens ali reunidas. Um trabalho longo, paciente, doloroso, levado adiante com
abnegação e singular caridade foi o de derrubar os fogões, habituar as internas à mesa
comum, proibir as saídas, arrancar tantos hábitos péssimos, espantar os vícios e
incentiva-las à virtude. O que não teve de sofrer por vários anos a santa mulher
juntamente às heróicas Irmãs! Abertas revoltas, injúrias cotidianas, insultos, zombarias,
implicância, ameaças... e ela sempre doce, amorosa, caridosa, constante em promover
sua transformação. Era uma luta contínua entre pecado e graça, vício e virtude, brutal
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egoísmo e sublime caridade! Mas quem sustentava de fato aquelas heroínas era o Pe.
Giácomo que, tendo voltado a Palermo, com seu espírito permanecia sempre no meio
delas. Com sua palavra ardente ele não deixava de animar continuamente as Irmãs na
dificílima missão a elas confiadas de conforta-las em meio àquelas duríssimas
provações às quais tiveram que submeter-se. Assim de fato escrevia para a Irmã
Vincenzina em maio de 1882: “...Coragem e grande ânimo em todos os
acontecimentos. Não se deixem nunca abater, minha filhas e não entristeçam vossas
almas; procurem sempre novos recursos para responder às necessidades dos Pobres,
procurando sempre a salvação de todos. Quando pois suceder que as almas se
obstinam à ação da graça, e aos contínuos esforços da caridade, transformam em
veneno o leite das misericórdias de Deus, e tornam-se molestas não para vós, mas para
si mesmas e para as outras almas com suas desordens e escândalos, então convém
consentir à sua desaconselhada resolução de ir embora, esclarecendo para as outras
que são elas mesmas que querem se perder e não são vocês que as abandonaram...
        Eu me consumo no desejo de apascentar-vos com a Palavra de Deus, de
sustentar-vos e confortar-vos com seus santos conselhos, e assim que chegam vossas
caríssimas cartas, gostaria de respondê-las prontamente uma vez que não posso correr
em vossa ajuda. Mas o Senhor dispõe diversamente e tornam-se inúteis os meus
esforços. Deus quer formar o nosso espírito com toda prova, quer que nossa confiança
nele multiplique-se com os mesmos obstáculos que se interpõem claramente para
atrapalhar as mesmas obras da sua glória; quer que a nossa espera em sua ajuda seja
sempre maior e verás, na medida em que desaparecem as esperanças humanas que
confortam os nossos corações. Este Deus de bondade não quer ser vencido por
gentilezas, e estando vós prontas a responder ao seu convite e dedicar-vos ao seu
serviço, quer ser somente Ele vossa ajuda e vosso conforto. Teriam a ousadia de dizer-
me que não vos basta?
        Eu espero que não, antes faço votos que vossos corações exultem de ternura em
seu amor e em sua união. Não digo isso porque queira ser poupado ou porque esteja
longe de vós, mas porque sinto grandíssima pena em não ver vocês apreciarem, com
vossa inteligência os tesouros infinitos com os quais Deus vos estreita ao seu coração;
se pudesse tomar sobre mim vossos necessários sofrimentos e deixar em vossas almas
os tesouros de Deus que eles vos trazem, quereria a todo custo fazer o possível para
livrar-vos e ver-vos repletas do Espírito Santo, sem ter a dor de sentir-vos sofredoras...
        Nós somos chamados a ser vítimas por amor a Jesus, servindo-o e ajudando-o
em seus Pobrezinhos. Foi o Bispo que nos chamou a Agrigento e por conseguinte
estamos seguros de aí estarmos por vontade de Deus...
        Meus caminhos não são os vossos caminhos, diz o Senhor; e se a prudência
humana, minhas filhas, deve ajudar a formar a norma do nosso agir, mesmo assim
nunca devemos temer os homens quando nos encontramos empenhados nas obras de
Deus. Todos vos desprezam, ninguém se importa com vocês? No entanto vós, na
humildade e na paciência vos empenhais em amar o Bom Jesus desprezado e
abandonado na pessoa dos seus Pobrezinhos? Pois bem, a obra de Deus está completa,
o triunfo em todos os corações está seguro...
        Surgirá uma outra Instituição? Esta,o conseguirá melhor que vocês em operar
em Jesus Cristo, e então terão o conforto de confiar aos seus cuidados o importante
serviço de Jesus sofredor em seus Pobrezinhos, ou viverá dividindo vossas privações e
as imitarão santamente no serviço do Senhor, ou não será aprovada e acabará o
obstáculo que a prudência humana faz temer.
        De qualquer maneira,o que a nós convém é empenhar-nos com todo zelo e
caridade em cumprir santamente o ministério que Deus nos confiou, e até que Deus não
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nos tire desta situação, procuraremos fazer com toda fidelidade os nossos deveres, e o
Senhor se encarregará do resto...”.
        Para compreender bem o último trecho desta carta é preciso saber que nos
primeiros tempos que as Servas dos Pobres começaram a dirigir a Casa de Agrigento,
elas não foram acolhidas benevolamente pela população.
        Não eram conhecidas, não se entendia bem qual era sua missão, por isso, quando
saíam para a coleta, eram rejeitadas por todos.
        Naquele tempo um sacerdote de Agrigento tentou fundar uma outra Instituição
semelhante que no princípio atraiu a simpatia dos cidadãos. Tudo isso, enquanto
desanimava as pobres Irmãs, animava a fé do Servo de Deus, o qual, por sua vez,
procurava reanimar o ânimo abatido de suas filhas com contínuas cartas. E estas cartas
não eram recebidas em vão pelas Irmãs. Entre estas encontra-se uma dirigida à Irmã
Vincenzina em setembro de 1883, na qual aparece o quanto tiveram que sofrer em
Agrigento as primeiras Servas dos Pobres, verdades heroínas de caridade . Nesta carta,
após ter exortado a Irmã a estar tranqüila no meio da tempestade que a circundava,
aludindo ao seu antigo desejo das missões estrangeiras e do martírio, prossegue
dizendo: “Agrigento é o Noviciado da China, e eu não acredito que a tua alma não
aspire em preparar-se para a missão bárbara, onde, juntamente à alegre esperança de
ganha as almas que são possuídas pelo demônio, encontraras também a grande
consolação de poder dar a vida por Jesus Cristo na infinita sorte do martírio.
        Estar em Agrigento é um martírio seco, quer dizer, sem derramamento de
sangue, sem tortura material mas justamente por isso é um martírio mais elevado,
porque os instrumentos de tortura são morais, e o sacrifício se cumpre somente diante
de Deus que é a única testemunha dos enormes sacrifícios que se fazem por seu amor...
Coragem então, minha filha, e avante, com ânimo tranqüilo e cheio daquela calma que
o verdadeiro amor desinteressado é capaz de dar”.
        Fortalecidas por estas santas exortações as filhas do Pe. Giácomo ficaram firmes
em meio as mais duras provações materiais e morais. No entanto a Providência
dispunha-se em premiar a fé de seu fiel servo.
        Por ocasião de uma festa da cidade, houve uma caridosa pessoa que quis dae um
suntuoso almoço para todos os Pobres de Agrigento, incluindo as órfãs assistidas pelo
Pe. Giácomo.
        Na ocasião foi feito um grande convite entre as mais distintas Senhoras da
aristocracia agrigentina para que assistissem àquele. Estas acorreram em grande número
na Casa das Órfãs e ficaram fortemente impressionadas em ver o lugar onde moravam
as Servas dos Pobres. Não paravam de chamar aquelas Irmãs de anjos terrestres que,
movidas somente pela caridade viviam naquele lugar tão miserável em meio a tantas
privações.
        A nobre Senhora Margarida Montana conseguiu logo uma importância em
dinheiro para que a Irmã Vincenzina pudesse reformar aquele local sujo e em ruínas.
Muitas obras depois se empenharam para que as autoridades e toda a cidadania se
interessassem e viessem em ajuda daquela pobre Casa. O Pe. Giácomo , informado de
tudo, acorreu a Agrigento e para organizar este entusiasmo propôs a constituição do
Comitê das Damas de Caridade. Esta proposta foi acolhida com ímpeto. O Pe. Giácomo
convidou o Monsenhor Turano a dar uma palestra mensal àquelas nobres senhoras para
anima-as mais no espírito de caridade. Mas teve que sofrer muito em sua profunda
humildade quando o Monsenhor Turano lhe impôs por obediência dar ele mesmo a
palestra mensal. Dobrou a cabeça por obediência mas era uma tortura cada vez que
devia desenvolver algum tema diante daquelas pias senhoras. Pedia a este ou a outros
entre seu amigos para que lhe sugerissem uma idéia, dessem-lhe uma dica para
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desenvolver ou melhor, que lhe escrevessem toda inteira a palestra para decora-la e
recitá-la em Agrigento. Mas por quantos esforços fizesse para preparar-se ou
desenvolver algum tema sugerido por alguma amigo, nunca conseguia, no ardor do seu
falar acompanhar os conceitos preparados: suas palestras eram sempre espontâneas e
sempre eloqüentes, capazes de envolver e levar a qualquer sacrifício as pessoas que o
ouviam.
        Foi assim que em breve toda a Agrigento se entusiasmou pelo Pe. Giácomo e
pela sua Obra; a coleta começou a receber abundantes esmolas; todas as classes sócias
competiam em ajudar as pobres orfãzinhas, de modo que após algum tempo aquela
pobre Casa tornada quase nova, pode oferecer comodamente a hospitalidade a oitenta
orfãzinhas que, com sua piedade, tornaram-se a consolação do Servo de Deus.
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                                  CAPÍTULO VIII

              Funda um Orfanato Feminino em Terre Rosse – Abre
              uma Casa para as Órfãs, Pobres e Doentes em
              Valguarnera Caropepe, uma outra par Órfãs em
              Monreale e outra para Velhos e orfãzinhas em São
              Cataldo.


        Enquanto o Pe. Giácomo se ocupava da fundação da Casa de Agrigento, ia
aumentando o número das orfãzinhas na Quinta Casa. Compreendendo bem em sua
caridade iluminada que não era bom que as órfãs vivessem juntas com as velhinhas,
começou a procurar outro local para instalar as meninas.
        Foi-lhe oferecida a casinha de Sommariva com um pequeno jardim ao lado na
localidade de Terre Rosse a noroeste de Palermo. Precisavam, porém de 26 mil liras:
onde consegui-las?
        O novo Cottolengo encaminha o negócio confiando na Providência.
        Até a véspera do dia em que devia assinar o contrato, ele não sabia onde
encontrar aquele dinheiro. Mas como – lhe diz o Pe. Gambino, o primeiro sacerdote que
se uniu a ele para ajuda-lo em sua nobre missão – o senhor precisa de 26 mil liras e
amanhã se deve assinar o contrato!
        Respondeu ele: “O negócio é de grande importância, se Deus o quer, Ele o
providenciará”. E o Senhor providenciou. Naquele mesmo dia o nobre e piedoso Senhor
Barão Rafael Starrabba oferecia-lhe as 26 mil liras, a serem devolvidas quando pudesse.
Nesta Casa, a primeiro de maio de 1882 o Pe. Giácomo alojou trinta órfãs, e
separadamente os vinte órfãos que, como foi dito, tinham passado do Refúgio à Quinta
Casa junto aos velhinhos. Lá permaneceram por dois anos assistidos pelo próprio Pe.
Giácomo que por eles gastou as melhores horas do dia e com imensa alegria cuidava de
sua higiene, instrução e educação.
        Aquele Casa em seguida foi ampliada e totalmente restaurada por outro generoso
benfeitor que gastou mais de cem mil liras: o senhor Salvador Celestre, fervido
admirador do Pe. Giácomo, de maneira que em poucos anos pode acolher mais de
trezentas órfãs, além das Irmãs que cuidavam das meninas.
        O Monsenhor Domingos Lancia, da família dos Duques de Brolo, Arcebispo de
Monreale, no 5.º aniversário da morte do Pe. Giácomo, unindo a sua voz àquela dos
vários outros Bispos, que naquela circunstância quiseram honrar a venerada memória do
Servo de Deus, assim escrevia: “Recordo com prazer que convidado pelo Pe. Giácomo
fui a Terre Rosse para consagrar com as orações da Igreja e a Bênção episcopal, a
primeira pedra para a fundação de uma Casa beneficente. A esta feliz inspiração daquele
Servo de Deus, não parecia corresponder os recursos humanos.
        Contudo, não transcorrera muito tempo que eu passei por lá juntamente a ele, e
vi com surpresa que daquela pedra surgira, como por encanto, um magnífico edifício
onde encontram pão, trabalho, educação religiosa e civil centenas de inocentes órfãs.
Era a fé do sacerdote Cusmano que sabia realizar tais milagres”.
        Multiplicando-se, no entanto, o número de Órfãos e dos Pobres, aumentava
sempre mais no Pe. Giácomo o desejo de dar vida à Comunidade dos Irmãos Servos dos
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Pobres. Ele de fato teve que confiar os primeiros Pobres e Órfãos internados à Quinta
Casa a um piedoso capuchinho. Ele era Pe. Antonio de Petralia que, embebido do
espírito do seu Seráfico Pai São Francisco, mesmo após a supressão da Ordem
Franciscana, mantivera o hábito na espera de tempos melhores. Tendo conhecido o Pe.
Giácomo se apegou a ele, e após a inauguração do Asilo da Quinta Casa dedicou-se com
ardente zelo à assistência dos Pobres. Queria ligar-se à nova Instituição, mas como já
começavam reabrir-se vários conventos da sua Ordem, foi chamado pelos seus
superiores.
        O Pe. Giácomo, entretanto, colocava em Deus sua confiança, seguro que quem
lhe dera a possibilidade de reunir a família das Irmãs Servas dos Pobres, tornar-lhe-ia
fácil também a fundação dos Irmãos Servos dos Pobres, segundo seu antigo desejo.
        E o Senhor que queria servir-se dele para dar vida na Igreja a esta nova
Instituição, enviou-lhe um bom número de piedosos leigos que, atraídos pela fama de
santidade do Servo de Deus, acorreram a ele animados pelo nobre desejo de sacrificar-
se inteiramente sobre o altar da caridade.
        Foi assim que no mesmo ano de 1884 pode dar, juntamente com o hábito, o
título de Servos dos Pobres a nove jovens corajosos que formaram o primeiro núcleo da
nova família.
        A eles foram confiados no mesmo local da Quinta Casa, mas em
compartimentos separados, tanto os pobres inválidos como os orfãozinhos. Para estes
últimos, que trouxe de volta de Terre Rosse, alugou um local do lado da Quinta Casa e
deixou Terre Rosse somente para as Órfãs.
        Este novo local servia exclusivamente como dormitório para os órfãos. Durante
o dia, sob a direção dos irmãos ficavam no Asilo para estudar e trabalhar, já que o Pe.
Giácomo foi solícito em criar algumas oficinas para educar nas artes e no trabalho, os
pobres órfãos, afim de que pudessem tirar desta profissão, um dia, o sustento de sua
vida e tornar-se então úteis para si mesmos e para a sociedade.
        Por volta daquele período, outro sacerdote entre os admiradores do Pe. Cusmano
decidia-se a tudo deixar para seguira as pegadas do Servo de Deus. Este foi o Pe.
Salvador Boscarini, filho do Barão Antônio, de Valguarnera Caropepe. Jovem de bela
inteligência e entusiasta para as obras de caridade, tendo conhecido o Pe. Giácomo
aderiu a ele e acabou entrando em São Marcos, onde num pequeno quartinho, ao lado da
Igreja, morava o Servo de Deus. Não passou muito tempo e o Pe. Giácomo lhe confiava
a direção do Orfanato Feminino de Terre Rosse, assim como ao Pe. Salvatore Gambino
que o havia precedido, tinha confiado a direção do Asilo da Quinta Casa.
        O Pe. Boscarini, desejoso de ajudar as pobres órfãs de sua cidade natal, apressou
em apresentar o Pe. Giácomo a alguns nobres senhores daquela cidade. Tendo
conhecido o Servo de Deus e visitadas as Casas por ele fundadas em Palermo, ficaram
de tal modo entusiasmados, que fizeram todo o possível para ter, a todo custo, as Servas
dos Pobres em Valguarnera.
        Conseguiram da Prefeitura para o Pe. Giácomo um                   ex-Convento de
Franciscanos, distante meia hora da cidade, e com muita insistência pediram-lhe que ali
fundasse uma Casa de Misericórdia para as órfãs, os pobres velhos e os doentes da
cidade.
        O Pe. Giácomo, que já dispunha de um bom número de Irmãs, acolheu o convite
de bom coração em abril de 1883 viajou para Valguarnera com um grupo de Servas dos
Pobres. Enquanto estas preparavam a vasta casa para a beneficência e a santa
hospitalidade, ele girava pela cidade, pelas estreitas ruas, lugares de miséria, procurando
os pobres para interna-los. Por acaso encontrou um amigo que comovido grita-lhe: “Oh
Pe. Giácomo, o céu mandou-vos aqui”, e apontando-lhe uma porta em pedaços de uma
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parede velha e suja, disse: “Aí dentro estão dois infelizes precisando de ajuda”. O Pe.
Giácomo, com o coração palpitante, como se pela primeira vez assistisse a um triste
espetáculo, entrou naquele casebre e oh!... Que horrível cena!
        Num vão de escada incômodo, úmido, preto, onde o ar era abafado pelo mofo e
pelo mau cheiro igual ao que provém dos quartinhos sujos dos enfermos, sofria
terrivelmente uma mulher. Estava deitada numa esteira, que ocupava quase todo o
espaço, esteira formada por uma espécie de grelha de ramos cheios de nós, erguida
sobre quatro troncos fixos no chão; sem colchões nem cobertores. A pobre mulher
estava com a perna quebrada em três lugares. Diante da porta, numa grande sujeira,
estava sentada sua mãe. Tirada à força do lado da filha, sentada encolhida numa pedra
com a cabeça reclinada sobre o peito, chorava soluçando. O Pe. Giácomo dirigiu-lhe
afetuosamente a palavra. De repente a velha levantou o rosto; oh, que rosto horrendo!
Uma casca preta cobria-lhe a olheira; um câncer roia-lhe o olho direito. Não se via nada
de tão repugnante: um rosto tão deturpado e que no entanto levava a uma grande
compaixão. A pobre velha chorava com o outro olho e as lágrimas caíam sobre sua pele
ressequida e cheia de rugas, sobre seus lábios trêmulos e rachados, sobre suas mãos
amarelas e ásperas. Oh, infeliz criatura! O Pe. Giácomo estava inclinado amorosamente
sobre ela, com a mão sobre seu ombro. Não se pense que naquele momento o Pe.
Giácomo estivesse vencendo um sentimento de repugnância porque sua fé viva lhe fazia
ver nos Pobres o seu Jesus e os amava profundamente por causa disso; tinha em seu
coração o mesmo fogo que aquecia São Francisco quando curava os leprosos e beijava
suas chaga. No entanto uma carroça coberta de colchões estava esperando diante da
porta.
        A caridade dos cidadãos, que renasce por causa dos santos exemplos, reacendeu-
se naquele momento como um milagre. Bastou uma só palavra do Pe. Giácomo para que
todos acorressem para ajudar as infelizes. Porém, somente as Irmãs, as pias criaturas
que o Pe. Giácomo comparava às santas mulheres do Calvário, quiseram cumprir o
piedoso ofício.
        A triste caravana encaminhou-se lentamente ao Asilo entre as estreitas vias da
cidade, e pelas vias lamacentas do campo, em meio a uma comoção geral. E quando as
duas mulheres foram colocadas no leito, depois que as Irmãs lhes deram banho e as
vestiram com roupas limpas, o Pe. Giácomo assentou-se ao lado das camas e começou a
falar-lhes com aquele fogo e intensidade de afeto próprios dele, sobre a brevidade das
dores deste mundo e das delícias eternas do Paraíso.
        No dia seguinte, após a celebração da santa missa, chorando de alegria, o Pe.
Giácomo começou a andar pelas ruas desejoso de caçar os Pobres, como ele dizia
brincando. Encontrou um guia, um amigo que o conduzia até a cidade para socorrer
outro caso desesperador.
        Seguiram-no pelo caminho alguns senhores do laicato e do clero e muita gente
que soubera do gesto caridoso do dia anterior.
        Perto da casinha daquelas duas pobres mulheres, as primeiras internadas, num
beco sem saída, numa estrada lamacenta, apresentou-se outra cena angustiante.
        Sobre um leito de tábuas do mesmo comprimento do quartinho no qual se
encontrava, mas muito curta para a pessoa que estava deitada, jazia um jovem com a
metade do corpo paralisado. O infeliz devia ter sido forte antes, porque era bem robusto
e muito alto. Mas agora mexia somente um braço, sua única parte viva, que agitava de
cima para baixo como se estivesse tentando procurar alguma coisa ou expulsar suas
dores. Daquele casebre escuro saíam tristes gemidos. Eram de uma pobre velha, a mãe
que sentada aos pés do filho, lamentava-se pelos reumatismos que lhe atormentavam as
pernas.
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        O quarto era pequeno e não dava para se mexerem, nem se podia transportar o
enfermo sobre um carro, porque os solavancos o torturariam. Por isso pediu-se uma
maca. No entanto o tempo fechou-se e começou uma garoa fina, mas que aos poucos se
tornava mais forte. O céu escureceu e as nuvens estavam baixas.
        Chegou a maca trazida pelas Irmãs. Desta vez foi uma verdadeira e viva disputa:
“Não, elas não poderiam carregar este peso, pobres mulheres fracas e cansadas”.
Protestavam os senhores. Mas aquelas boas criaturas socorriam porque tinham a força
da alma. Lenta e delicadamente pegaram o enfermo, ajudadas pelo Pe. Giácomo e o
puseram sobre as almofadas da maca. No ato de erguer a maca com seus braços
delicados, quatro senhores fortes e robustos tiraram delas, quase à força bruta, a piedosa
carga. E assim, revezando-se, levavam pela via, felizes e orgulhosos sob a chuva que os
molhava e com os pés que atolavam na lama.
        Chegando ao Asilo o Pe. Giácomo tomou entre seus braços o enfermo e
colocando-o sobre uma poltrona começou a limpa-lo e penteá-lo com piedoso cuidado,
antes amável. Enquanto os outros, enojados profundamente, olhavam a cabeça daquele
infeliz que fervilhava de insetos; o Servo de Deus, sorrindo, passava o pente entre seus
cabelos emaranhados.
        Também ele, o Pe. Giácomo teve que trocar a roupa. Depois voltou sereno, feliz
e com o rosto transfigurado. Correu então até um senhor que tinha-se prestado com
maior entusiasmo em ajudar o transporte daquele paralítico, e com os olhos cheios de
lágrimas e voz trêmula, abraçou-o e beijou-o chamando-o com os doces nomes de
amigo, irmão e benfeitor... Todos então choravam ao seu redor.
        Aconteceram muitas cenas semelhantes a esta até que o Asilo ficou repleto de
todos os Pobres que podia conter.
        Foi então que o Pe. Giácomo voltou para Palermo deixando os habitantes de
Valguarnera cheios de admiração pela sua heróica caridade.
        Em Palermo encontrou o Pároco José Soldano que o convidou a enviar a
Monreale, sua cidade, algumas Irmãs para abrir o internato para as pobres órfãs.
Oferecia-lhe uma grande casa desabitada na estrema periferia da cidade, usada um
tempo como casa de Exercícios Espirituais, por isso chamada de Casa Santa.
        O Pe. Giácomo aceitou o convite e dispondo de tudo que precisava para o bom
êxito dessa nova fundação, no Natal do mesmo ano mandou a Irmã Vincenzina, que ele
chamara de Agrigento para a Casa Central de São Marcos, juntamente a outras Irmãs a
Monreale.
        Contemporaneamente recebeu um outro convite por parte do Prefeito de São
Cataldo, o Cavalheiro Salvatore Baglio.
        Tendo este conhecido as várias fundações feitas pelo Pe. Giácomo e querendo
providenciar uma melhor assistência aos Pobre de São Cataldo que se encontravam
internados num antigo Convento de Capuchinhos, assistidos por pessoas pagas, dirigiu-
se ao Pe. Cusmano para pedir-lhe as Irmãs. Também este convite ele aceitou de bom
grado, e em julho de 1884 inaugurou esta outra Casa de Misericórdia que, em seguida,
além dos Pobres, velhos e doentes, começou a hospedar também as meninas pobres.
        E assim, num período de quatro anos, o Pe. Giácomo tinha a consolação de ver a
sua Obra começar a difundir-se em toda a Sicília para a consolação de tantos Pobres.
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                                   CAPÍTULO IX

              Assiste as orfãzinhas de Terre Rosse durante a
              epidemia de cólera – Funda a Colônia Agrícola de São
              José Jato.


        Já chegamos, nestes breves traços da vida do Pe. Giácomo ao ano de 1885; isto
é, naquele ano de triste recordação no qual a bela cidade de Palermo vinha sendo
cruelmente provada pela epidemia asiática. Logo estourou a cólera os mortos pelo
contágio aumentavam cada dia vertiginosamente. O medo tomou conta de todos os
cidadãos; bem-aventurado se achava quem podia fugir da cidade. Fechadas a maioria
das lojas e parado o comércio, a cidade assumiu um aspecto desolador. A prefeitura,
para cuidar da saúde pública, elegeu uma comissão sanitária com plenos poderes,
chefiada pelo Dr. Henrique Albanese.
        No início da epidemia foram abertas várias enfermarias onde eram conduzidos à
força todos aqueles que eram atingidos pelo mal; precaução necessária mas que não
deixava de se tornar desoladora a quem a ele sujeitava-se. Como poder expressar o que
sofreu o Pe. Giácomo nesta triste circunstância! Além da precariedade dos meios
materiais de subsistência das órfãs e dos pobres por causa do enfraquecimento da coleta
devido aos tempos anormais, era atormentado pela idéia do que poderia acontecer às
órfãs e às Irmãs se o mal penetrasse nas três Casas já existentes em Palermo.
        O bom padre não sabia resignar-se à idéia de ver suas queridas filhas
transportadas a uma enfermaria pública em contato com todo tipo de pessoas. Como
fugir de tal perigo? Valendo-se de sua antiga amizade com o Dr. Albanese, conseguiu a
permissão para construir no jardim do Orfanato Feminino de Terre Rosse uma barraca
de madeira para ser usada como enfermaria, no caso de alguma Irmã ou Órfã se atingida
pelo mal.
        A barraca bem grande e capaz de conter vinte leitos e vários quartinhos para
isolar os casos mais graves, provida de tudo o quanto a ciência exigia para enfrentar a
terrível doença, surgiu como que por encanto. Aos 30 de setembro daquele ano, tendo já
se verificado entre as órfãs alguns casos suspeitos, o Pe. Giácomo toma a heróica
resolução de fechar-se juntamente a duas Irmãs escolhidas como enfermeiras e a duas
órfãs entre as mais adultas como assistentes. Faltavam ainda as janelas a serem
terminadas, enquanto um jovem marceneiro trabalhava nelas, viu no interior da barraca
uma pobre orfãzinha que vomitava. Ficou de tal forma impressionado que começou a
perturbar-se e também ele sentiu-se atingido pelo mal. O Pe. Giácomo corre em sua
ajuda, dá-lhe os primeiros remédios, convence-o a confessar-se e com uma carroça
manda-o para casa. Naquela mesma noite o pobre jovem faleceu.
        Todo o mês de outubro o Pe. Giácomo ficou trancado naquela barraca para
assistir às doentes que eram tratadas pelo Dr. Di Bella, o qual gratuitamente oferecia
seus serviços. Cerca de oitenta doentes foram transportadas àquela barraca, e entre elas
somente duas Irmãs e duas órfãs com imensa dor do bom padre, perderam sua vida. em
todo este tempo ele não tirou o seu hábito nem deitou-se. Todas as noites, após ter
respondido as cartas que recebia das outras Casas, preocupadas e com razão pela sua
preciosa saúde, dedicava o tempo que lhe sobrava para a oração. Permanecia de joelhos
aos pés do altar que erigira naquela barraca e onde todos os dias celebrava a santa
missa. Naquela mesma barraca, por meio de um porta-voz, ele dava suas disposições
para o governo da Congregação.
Breves traços do beato giácomo cusmano
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Breves traços do beato giácomo cusmano

  • 1. http://sdpbrasil.blogspot.com/ Breves Traços Da Vida Do Padre Giácomo Cusmano Fundador Do “BOCADO DO POBRE” Palermo Gráfica “Bocado do Pobre” 1914
  • 2. http://sdpbrasil.blogspot.com/ Estes “Breves Traços da Vida do Pe. Giácomo”, que vieram à luz a mais ou menos vinte e cinco anos após a morte do Beato padre, estão entre os escritos mais preciosos que dão testemunho dele. O anônimo livrinho que recolhera o que fora publicado no periódico “La Caritá”, deve ser atribuído sem dúvida aos primeiros Missionários Servos dos Pobres que redigiam o periódico, de modo particular ao Pe. Miguel Fici, que cuidou da publicação em 1914. Estes padres conviveram com o Pe. Giácomo e foram testemunhas oculares da caridade heróica e sem limites, que o levou a consumir a vida no trabalho, contínuo e sem pausas, a fim de levar de novo o pobre àquela dignidade humana e cristã, desvirtuada pela necessidade e pelo vício. Estas páginas possuem também outra preciosidade, a da língua. Embora já passados tantos anos, conservam o frescor de uma obra recente. O que nos leva a re-imprimir esta obra é, antes de mais nada, o motivo de não deixar que se perca um documentos histórico tão importante, e de facilitar o primeiro encontro com o Pe. Giácomo aos jovens de nossas casas de formação e aos devotos fiéis que querem conhecê-lo em sua autêntica espiritualidade. Em apêndice, para completar o que foi narrado na obra, publicamos, na tradução portuguesa, o decreto promulgado pelo Santo Padre João Paulo II a cerca da heroicidade das virtudes do Beato Padre, o discurso pronunciado por ele no dia da Beatificação e a Carta Apostólica com a qual ele levou ao conhecimento de todo o mundo cristão a realizada Beatificação. Palermo, 25 de julho de 1991, Pe. Giuseppe Giorgio, sdP. Superior Geral
  • 3. http://sdpbrasil.blogspot.com/ AO LEITOR A coleção ordenada e resumida do que fora publicado em várias partes, especialmente em “La Caritá”, periódico da pia obra “O Bocado do Pobre” a cerca do fundador desta mesma obra providencial, deu origem a estes: Breves traços da vida do Pe. Giácomo Cusmano. Na espera de uma história completa que ilustre as virtudes pessoais deste grande Servo de Deus e da pia Obra por ele fundada, achamos por bem imprimir estes breves traços de sua vida, por ocasião da transladação de seus restos mortais para o Orfanato feminino de Terre Rosse. Estes servirão, esperamos, a relembrar em tempos de exagerado egoísmo a luminosa figura deste grande herói da caridade, cuja memória é abençoada. Conforta-nos pois na publicação deste pequeno trabalho o lisonjeiro parecer que deu o Revmo. Mons. Cônego Nicolau Crisafi, encarregado pela revisão eclesiástica. Este, após o Nihil Obstat escrevia estas palavras, que nós com gratidão publicamos para provar a verdade histórica dos fatos que narramos: “Estou feliz de atestar minha complacência ao autor destes Breves traços da vida do Pe. Giácomo Cusmano. É um escrito em perfeita língua, historicamente verdadeiro até nos mínimos detalhes, sem nenhum artifício retórico, ágil e simples em sua dicção, comove permitindo-nos admirar cada vez mais a grande virtude daquele grande Servo de Deus e dos Pobres que foi o Pe. Giácomo Cusmano”.
  • 4. http://sdpbrasil.blogspot.com/ CAPÍTULO I Nascimento – Adolescência – Estudo do Pe. Cusmano De Giácomo Cusmano e Madalena Patti casados no civil e no religioso e ornados de excelentes virtudes cristãs, nasceu o Pe. Giácomo em Palermo aos 15 de março de 1834; foi batizado na tarde do dia seguinte na Paróquia de São Nicolau na Albergueria. Ele foi o quarto de cinco filhos que o casal Cusmano tiveram, duas mulheres e três homens. A primogênita Vincenzina foi a mais válida colaboradora nas obras de caridade do Servo de Deus, e a que melhor copiou em si as santas e heróicas virtudes do irmão. A outra irmã, Giuseppina, casada com o Senhor Salvador Marocco, deu ao Pe. Giácomo três de suas filhas que vestiram o hábito de Servas dos Pobres, duas delas ainda estão vivas. Também o irmão mais velho, Pedro, ofereceu três filhas, que, mortas com o hábito de Servas dos Pobres, deixaram grande saudade na obra do Bocado do Pobre. A mais velha destas, Irmã Madalena, foi entre as primeiras que recebeu o hábito religioso pelas mãos do Pe. Giácomo e substituiu a tia, Irmã Vincenzina, no cargo de Superiora Geral das Servas dos Pobres. O irmão mais novo, Giuseppe, logo que foi criada a comunidade dos Servos dos Pobres, vestiu o hábito de irmão, tomando o nome de seu Santo irmão. Com a idade de três anos, o Pe. Giácomo perdeu sua mãe que morreu de cólera em julho de 1837; parece que a providência quis provar o pequeno Giácomo com uma tão grande desventura para formar desde o amanhecer de sua vida a sua alma com os sentimentos de compaixão para com os infelizes. O vazio deixado na família pela morte da boa Madalena foi logo preenchido pela filha mais velha Vincenzina, a qual assumiu o governo interno da casa. Foi ela que cuidou da primeira educação do pequeno Giácomo; este cresceu sob seus joelhos e recebeu no coração os germes do amor divino, que mais tarde, deviam produzir frutos abundantes de caridade. Desde criança o nosso Giácomo começou a demonstrar como a graça antecedeu em seu coração a santa educação que recebeu por parte da pia irmã Vincenzina; nele a piedade era tão notável que parecia quase inata. Mas o que pareceu verdadeiramente extraordinário e maravilhoso neste filho da bênção, foi o seu engenhoso amor para com os pobres, amor com o qual devia se identificar por toda a sua vida. Alguns detalhes da sua infância, contados pela sua mesma irmã Vincenzina, nos revelam que grande alma possuía este tenro mocinho, que ainda ignorava as infinitas misérias que afligem a humanidade. Suas primeiras ações foram as esmolas. Era ainda garotinho, e um dia viu que um infeliz menino não tinha camisa para cobrir seu corpo inocente. O pequeno Giácomo não agüenta, chama perto de si o pobrezinho, leva-o até a esquina, tira seu paletó, tira a camisa e a dá ao menininho, veste rapidamente o paletó e volta para sua casa. Outro dia se encontrava na sacada, e viu que um garotinho que passava não tinha sapatos. Giácomo o chamou, tirou os seus e os jogou embaixo ao pobrezinho. Ao ver um indigente despido ou faminto se afligia e então dava tudo, isto é, dava o que naquela idade podia ter, seu pão, seu dinheiro. Freqüentemente, quando tomava café ia à janela esperando que passasse algum pobre e todo feliz o dava ao primeiro que se apresentasse.
  • 5. http://sdpbrasil.blogspot.com/ Algumas vezes, como se lê na vida de São Vicente de Paulo, baseando-se na caridade dos seus parentes da qual freqüentemente era testemunha, tirava escondidamente o que recebia para comer, para vestir, o dinheiro que ganhava, e os distribuía aos necessitados, ao ponto que seus parentes tiveram que chavear tudo, porque Giácomo à vista de um pobre não teria hesitado em dar até os talheres de prata da mesa. Giácomo recebeu as primeiras noções escolares à sombra do santuário doméstico por um pio e inteligente sacerdote, Pe. Francisco Li Bassi, que lhe ensinou a ler, a escrever e as primeiras lições de gramática. O pai que o via tão inteligente e de boa vontade, logo o mandou estudar no Colégio dos Padres Jesuítas, e com professores tão iluminados e preparados, quais são os beneméritos padres da Companhia de Jesus, a juízo dos mesmos adversários, fez com honra os estudos de letras italianas e latinas e as disciplinas filosóficas, dando prova de inteligência pronta e perspicaz e de uma penetração de mente extraordinária. Porém, mesmo com esta cultura intelectual que possuía e que cada dia aumentava enriquecendo sua mente, não se distraía, como acontece normalmente com os jovens, das suas práticas de piedade e de religião, nem sequer prejudicou os germes de virtude que a graça tinha colocado abundantemente em seu coração, pelo contrário serviu para elevar e embelezar seu espírito. As leituras que o jovem Giácomo mais gostava era as cartas dos missionários, especialmente os dos países infiéis. Natureza ardente, capaz de teimosas e generosas resoluções e sacrifícios, desejou sempre dedicar-se às Missões estrangeiras. Quem teve a sorte de conviver com ele, muitas vezes o escutaram falar, até o final de sua vida, com ardentes palavras, dos perigos, dos sofrimentos, das fadigas enfrentadas pelos missionários, do bem e das conversões realizadas por eles no meio dos povos infiéis e bárbaros, em invejar sua sorte, e aspirar também o martírio, ou como ele brincando dizia “camiseta vermelha”! Contamos um fato de quando Giácomo era ainda estudante de humanidades na escola do Colégio dos Padres Jesuítas, fato que saindo das vias ordinárias, encontra-se somente na adolescência de alguns santos e grandes homens. Giácomo naqueles dias estava lendo sobre as missões nas Montanhas Rochosas. Terminando as tarefas escolares se ajoelhava e fazia aquelas leitura com o maior espírito de recolhimento e piedade. Eis que se acende nele o mais vivo desejo de tornar- se missionário. Começa logo a entrar em contato com os Padres da Companhia de Jesus, os quais conhecendo a alma pia e fervorosa do jovenzinho, encorajaram-no neste ardente desejo. Naquele tempo viera a Palermo o Pe. Geral da Companhia, e o pequeno Giácomo quis absolutamente fixar sua viagem no mesmo dia em que o Pe. Geral viajaria para Roma. Chegando o dia por ele tanto suspirado, vai embarcar-se escondidamente. Sabendo disso Pe. Mora, Jesuíta, amigo da casa Cusmano, corre a informar a seu pai, o qual mandou o irmão mais velho Pedro, que o reconduziu para casa xingando e batendo nele. Giácomo naquela época não tinha mais que quatorze anos. Terminado o curso de letras e filosofia com a idade de dezessete anos, do Colégio passou para a Universidade e se matriculou na faculdade de medicina. Ele teve para com a arte médica um culto apaixonado, e esta sua inclinação natural, favorecida pelo engenho vivo e penetrante, ajudou-o a progredir nas disciplinas médicas, sendo sempre o primeiro com a admiração dos mesmos professores que previam as mais felizes realizações por parte do Cusmano. A sua índole doce e camarada, o seu caráter franco, leal, generoso, a fisionomia aberta e atraente lhe
  • 6. http://sdpbrasil.blogspot.com/ cativaram o afeto de todos, e logo Giácomo se tornou o centro da escola. Era sempre rodeado pelos melhores entre seus companheiros, os quais gostavam de estar-lhe perto, conversar com ele, confiar a ele os segredos mais íntimos de seus corações, e aconselhar-se com ele em seus negócios mais importantes: e dado que ele se mostrava um grande gênio nas ciências que aprendia, os mais estudiosos se reuniam ao seu redor, e a sua casa foi transformada em sala anatômica. Disso renderam testemunho os mesmo seus companheiros, entre os quais alguns se tornaram ilustres e gloriosos na arte médica; muitos destes fatos da sua juventude contavam o mesmo Pe. Giácomo nos últimos dias de sua vida, quando conversava com o Dr. Giovanne Piazza, que vinha visitá-lo quase todos os dias, e que gostava de entreter-se longamente com o amigo íntimo dos seus primeiros anos. O Cusmano, como afirmava todos os seus antigos colegas, se tivesse continuado nos estudos se tornaria com certeza grande perito nas artes médicas e celebre naquelas ciências. Entre os companheiros de estudo do Pe. Giácomo durante o curso universitário, recordamos Henrique Albanese, famoso cirurgião, merecidamente celebrado em Palermoe fora pela sua valentia. Por aquela afinidade de natureza que une freqüentemente as almas, entre Albanese e o Cusmano se criou uma amizade tal que somente a morte pode quebrar. Tinham recebido os dois uma alma elevada, fervorosa, capaz de amar até o sacrifício e se amaram de verdade com afeto tenaz e sincero. Quando adulto, por vários motivos, tiveram que separar; o Albanese não cessou de amar o seu antigo companheiro, e mesmo tende se tornado adversário feroz de Giácomo quanto aos princípios, sempre o estimou e venerou grandemente. Logo que Giácomo começou a freqüentar a Universidade foi visitado por uma grave desventura bem no mais profundo do coração. Aos 27 de julho de 1852 o Senhor Cusmano morria por prolongada doença, suportada com paciência cristã, deixando seus cinco filhos inteiramente órfãos. O nosso Giácomo naquela época tinha 18 anos, idade na qual o amor filial põe profundas raízes e por isso se torna mais doloroso o encontro com a morte. Se a morte do pai amargurou a carreira dos seus diletos estudos, por isso nem sequer foi distraído, porque os prosseguiu e cultivou com o mesmo ardor até completá-los na Universidade. Terminado portanto o estágio teórico e prático começou a exercer a profissão de médico em Palermo, mas dado que interesses familiares o obrigavam freqüentemente a morar em San Giuseppe Jato, esta cidade ganhou as vantagens provenientes da rara inteligência e bondade de alma do jovem médico. Verdadeiramente naquele breve tempo em que exerceu a medicina foi o gênio benéfico daquele município. De sua perícia médica se contam muitas coisas, como por exemplo cirurgias e curar realizadas quase sempre com ótimos resultados: isso lhe adquiriu demasiadamente o afeto e a estima daquele podo a tal ponto que a memória e a impressão perduram até hoje. O nosso Giácomo entendeu o exercício da sua profissão como o alívio, especialmente dos Pobres, em favor dos quais dirigiu a inteligência, a atividade e freqüentemente os seus bens, nunca aceitando deles a mínima doação, mas recebendo como compensação de suas fadigas, a alegria de beneficiá-los. Os doentes o procuravam em multidão antes de amanhecer, pelo fato que eram camponeses e deviam ir para a roça. Ele mesmo contou várias vezes que os doentes de lá não lhe davam sossego; um dia, voltando para Palermo estava a quase um quilômetro da cidade quando percebeu que uma pobre mulher corria, esforçando-se para alcança-lo. Mandou então o cocheiro parar, e conhecido o motivo pelo qual aquela pobrezinha o procurava, sem perder tempo
  • 7. http://sdpbrasil.blogspot.com/ pagou a viagem e a pé voltou à cidade para fazer os curativos no marido daquela mulher que havia sido ferido no pé por um tiro. Estupendas manifestações de um coração que vive de caridade!
  • 8. http://sdpbrasil.blogspot.com/ CAPÍTULO II Abraça o estado Eclesiástico – Começa a pensar numa instituição religiosa a serviço dos Pobres Embora o Pe. Giácomo, terminados os seus estudos de medicina, começasse a recolher os primeiros frutos na assistência dos enfermos pobres, coisa que satisfazia sua irresistível tendência de ajudar os infelizes, sentia em si que não era aquela a meta prefixada por Deus. Desde quando era estudante, interrogado pela irmã Vincenzina se estudava com gosto a medicina, respondia: Sim, estudo-a com prazer, mas tenho o pressentimento que não serei sempre médico. Então, como aconteceu sua transformação de médico dos corpos em médico das almas? De que modo o Senhor lhe manifestou sua vontade? Um dia, enquanto ainda freqüentava a Universidade, um querido amigo seu, Michele De Franchis, talvez por desejo manifestado por ele mesmo, apresentou-o ao cônego Domênico Turano, que havia pregado os Exercícios Espirituais aos jovens universitários. Aquele grande apóstolo de Palermo, quando o encontrou ficou admirado da fisionomia aberta, inteligente e do olhar puríssimo do jovem Cusmano; amou-o, leu em seu rosto os desígnios da Providência e se sentiu inspirado a cativá-lo para o sacerdócio. Com a sua quente e influente palavra exerceu tamanha influência sobre o jovem doutor, que nunca mais se apagou durante a sua vida. “Eu – contava o cônego - senti algo no coração, e ainda não sei expressar o que provei naqueles momentos, e que incêndio se despertava no meu coração”. Giácomo o escolheu por seu pai e mestre espiritual e confiou inteiramente sua alma nas suas mãos. O Pe. Giácomo disse depois, que o Turano começou exortando-o a comungar todos os dias, e que ele tirou grande fruto daquela comunhão diária. De fato, logo que seu diálogo com o Senhor se tornou mais freqüente, e o Deus escondido pode entreter-se com ele de coração a coração, sentiu aquela palavra divina, que nem todos podem ouvir, aquela palavra que o chamava a uma vida de completo sacrifício e abnegação e que o queria todo para si. O Cusmano sentiu em seu coração aquela voz pela qual se decidiu a pedir ao seu guia a bênção para entrar numa ordem mendicante como simples frade leigo. Mas o Senhor, se por um lado se comprazia em ver os sentimentos de humildade e amor no coração de seu escolhido, por outro, não deixava de inspirar seu Diretor Espiritual a conduzi-lo por um caminho diferente. Foi assim que por obediência ao seu Diretor Espiritual, aos 8 de dezembro de 1859 vestia o hábito talar na Paróquia de são Giácomo, à beira mar, agora destruída, e ingressava na Associação Clerical de Santa Maria do Fervor. Em um ano completou os estudos teológicos indispensáveis para a sagrada ordenação, sob a guia do Monsenhor Pedro Boccone, atual Vigário Geral da Arquidiocese de Palermo e então simples sacerdote. Recebeu a Tonsura clerical e as ordens menores aos 18 de março de 1860; o Subdiaconatoaos 24 do mesmo mês e o Diaconato aos 22 de setembro. E finalmente aos 22 de dezembro do mesmo ano era ungido sacerdote com o Crisma sagrado. Todavia aceitou com relutância e grande senso de temor a sagrada ordenação, e com freqüentemente ele mesmo dizia em sua profundo humildade: “eu sou o chamado da última hora”. Logo que se tornou sacerdote entendeu mais claramente aquilo ao qual o Senhor o destinava; compreendeu sua missão. Numa carta dirigida em 1882 ao Pe. Daniel de Bassano, confessor Papa Leão XIII e seu amigo, escrevia: “Chamado à última hora, e
  • 9. http://sdpbrasil.blogspot.com/ elevado por vontade de Deus ao sacerdócio em dezembro de 1860, senti em minha alma o desejo de consagrar-me aos Pobrezinhos, assumir suas misérias, tirá-los de seus terríveis sofrimentos e aproximá-los de Deus”. Seria muito bonito poder registrar o programa da vida deste grande Servo de Deus com suas mesmas palavras! Ele foi fiel a este seu programa, não houve um instante em sua vida em que se afastasse dele. A partir deste momento começou a traçar as primeiras linhas do grande ideal que queria realizar numa congregação religiosa; deste vivíssimo sentimento ele sempre tirou imensa força com a qual resistiu a todos os obstáculos e a todos superou. O programa não podia ser com certeza mais vasto. Basta ler aquelas suas palavras para ver claramente que ele não fixou o olhar em algum tipo particular de santidade para imitá-lo em tudo ou parcialmente; não: ele fixou seu olhar no divino mestre e procurou encarnar em si aquele exemplar divino. Quando ele diz: “senti em minha alma o desejo de consagrar-me aos Pobrezinhos”, ele não faz distinção entre judeu e grego, entre servo e patrão, entre homem e mulher, mas abraça a todos, pobres, sofredores, miseráveis, infelizes, seja a sua miséria espiritual ou corporal, porque todos são uma só coisa na caridade de Jesus Cristo. Ele se fez tudo para todos, e nenhuma coisa no mundo poderá frear e limitar sua caridade celeste. Quando ele acrescenta: “assumi suas misérias”, está estendendo a mão para convidar a Santa Pobreza a celebrar as núpcias com ele. Ele compreende com o grande Francisco de Assis, que a miséria humilha e abate o espírito do Pobre e entende que é necessário oferecer-lhe o conforto e descer para encontra-lo em sua própria miséria; ele compreende que aliviará a angústia do faminto, compartilhando com ele o pão da caridade; compreende que trará paz e consolação ao miserável que não encontra vestuário para cobrir sua nudez, aproximando-se dele com pobres e remendadas vestes; compreende que pode diminuir a vergonha do mendigo mostrando-lhe que também ele é capaz de pedir o pão de porta em porta; compreende que elevará o espírito abatido do Pobrezinho que vem procurá-lo em sua habitação, acolhendo-o em sua pobre cela que, privada de qualquer objeto de luxo, aproxima-se muito ao casebre do infeliz; compreende que lhe tornará menos amarga sua condição, mostrando-lhe sua pobre caminha que na verdade é um simples saco, que sua comida é uma sopa mal temperada junto a poucos pedacinhos de pão duríssimo, preto e até embolorado. Por isso ele casou-se com a pobreza do seráfico Pai, amando-a sempre como as pupilas dos seus olhos. Quando depois ele diz: “para tirá-los de seus terríveis sofrimentos para aproximá-los de Deus”, ele está se lançando atrás da bandeira hasteada por Vicente de Paulo, e quer correr nos hospitais, entrar nas prisões, acolher os recém nascidos e rejeitados, procurar os órfãos abandonados, abrir casas de repouso para os velhos enfraquecidos e para as velhas inválidas, estender os braços amigáveis e paternos às transviadas e às moças que estão em perigo, para que correndo ao seu encontro pudesse reconduzir suas almas a Jesus, que a todos comprou com seu divino sangue. É verdade que ele oferecerá um pão ao faminto, mas ao mesmo tempo o alimentará com o pão celestial que é a palavra de vida eterna; lavará e tratará também as chagas do enfermo ulceroso, mas ao mesmo tempo levantará a mão para curá-lo de suas horríveis úlceras que sujaram sua alma; estenderá a mão ao órfão, para procurar-lhe uma adequada educação, mas não deixará de formar à escola do amor de Deus aquela alma inocente, aquele coração cheio das graças da juventude; acolherá o velho moribundo, enquanto procurará manter em vida aquele corpo que está apagando, cuidará de preparar a alma para a grande viagem; apertará ao coração o infeliz para consolá-lo, e no mesmo abraço
  • 10. http://sdpbrasil.blogspot.com/ abrir-lhe-á o coração sacerdotal, pronto a receber a confissão de seus pecados e dar-lhe o perdão por parte de Deus, O novo ungido do Senhor se sente então inspirado por estes nobres sentimentos. É o Senhor que o vai formando à escola de sua divina caridade para depois servir-se dele em benefício de seus filhos infelizes. O Pe. Cusmano no entanto sente aquele fogo que lhe abrasa o peito, dilata seu pensamento para ver as necessidades de todo o gênero humano; grandiosos ideais agitam seu coração. É ele mesmo que diz: “O meu desejo era de ver surgir uma comunidade religiosa, a qual inspirando-se à caridade de Jesus Cristo, que assumiu todas as misérias da humanidade, se dedicasse totalmente ao serviço dos Pobres, para conduzi-los das misérias desta vida às alegrias do céu. Os membros de tal comunidade, despojando-se de tudo para dá-lo aos Pobres devem achar uma grandíssima sorte servir o mesmo Jesus Cristo no Pobre, trabalhando, mendigando o necessário, colocando-se em tudo depois dos Pobres, preferindo faltar a eles as coisas necessárias à vida do que aos Pobres”. E com maior clareza escrevia em outra ocasião, que ele sempre almejara “uma instituição de Irmãos e Irmãs, que vivessem em verdadeira pobreza e no espírito de abnegação evangélica, para reerguer a todos das misérias e dos sofrimentos; uma instituição também de Missionários, dedicados à direção dos dois Institutos e à evangelização apostólica dos Pobres; e enfim duas Congregações, uma de Damas, outra de Senhores, os quais deveriam atrair pessoas em favor dos Missionários e assim ganhá-las para Jesus Cristo”. A idéia, portanto de uma Instituição que estendesse sua obra a cada miséria humana e tivesse os mesmos limites da terra, foi o pensamento sublime diante do qual meditava a alma do Cusmano e que atormentou o seu espírito sete anos, dia e noite. Sobre isto conversava freqüentemente com sua irmã Vincenzina, e às vezes, acordando de manhã lhe dizia: Vincenzina, esta noite não pude dormir, e sabe por quê? Pensei no que se poderia fazer para os Pobres. Mas ainda não tinha chegado o tempo decidido pela divina Providência, cujas obras requerem como virtude essencial a paciência, a longanimidade, a provação. No momento ele se acontentava em correr à cabeceira dos moribundos passando a noite inteira a reanimar aquelas almas angustiadas; acontentava-se em dirigir palavras de conforto aos míseros que corriam a ele pedindo socorro; acontentava-se em dar a eles tudo o que era seu, enquanto seu coração se partia à vista das miséria que afligiam os seus irmãos. Foi neste período que em São Giuseppe Jato, superando indizíveis dificuldades, envolvendo o povo e as autoridades, conseguiu fundar um Instituto de Filhas da Caridade, que se tornou tão útil para aquelas populações rurais.
  • 11. http://sdpbrasil.blogspot.com/ CAPÍTULO III Como lhe nasce a idéia do “Bocado do Pobre” – Provações às quais o Senhor o submeteu – consegue fundar sua Obra. Um caso imprevisto determina muitas vezes a vocação dos homens bons, ou pode ser um meio que a Providência apresenta a eles para atuar seus grandes projetos. Assim foi com a obra do Pe. Cusmano; teve início e também um nome por um acontecimento praticamente acidental. Um dia foi visitar seu íntimo amigo Dr. Miguel De Franchis. Estava na hora do almoço e ficou impressionado por um nobre gesto de caridade que se costumava praticar diariamente naquela família. Viu que todos tiraram um bocado do próprio prato pondo-o em outro colocado no meio da mesa, e que eles chamavam “o bocado do pobre”. Terminando o almoço, entrava um pobre, sentava à mesa e os filhos se apressavam em servi-lo. Foi aquela faísca que acendeu uma grande chama no coração do Pe. Giácomo. Ele lê naquele fato somente o projeto de uma obra benéfica que a Providência lhe inspirava. “Entre as obras de são Francisco de Sales – escreve o Cantú1 – existe também a do bocado do pobre; em cada almoço se tira um bocado e isto basta para alimentar centenas de pobres”. Sabia disso o Dr. De Franchis e o seu jovem amigo sacerdote? Não, poderíamos afirmá-lo. Uma coisa, porém está certa, que para o Pe. Cusmano aquele gesto foi como que uma revelação totalmente nova; ele soube admirar o bonito daquele ato e tirar as oportunas conseqüências. Dizia ele: “se metade da população de Palermo se associasse para cumprir esta obra benéfica, privando-se de um bocado, poderiam-se alimentar até sete mil pobres em um só dia”. Com um tal pensamento seu coração exultou. Ele descobriu o meio, um meio simples, para atuar seus grandes ideais; e já via os pobrezinhos alimentados, salvas as órfãs desamparadas e educado para a família, para a sociedade e para a Igreja o menor abandonado. Lê-se numa carta pastoral publicada por Monsenhor Naselli, então Arcebispo de Palermo, em favor da nascente Instituição, aos 6 de abril de 1869: “A idéia foi amadurecendo aos pés do crucifixo, foi submetida ao conselho de seu Diretor Espiritual”. Mas este – diz o mesmo Pe. Cusmano – pôs à prova por sete anos aquele desejo. Esta prova foi duríssima, e precisou da ajuda do Espírito Santo, do qual o santo jovem era animado, para resistir e perseverar até o fim. O Pe. Cusmano escrevia a tal propósito: “Eu sentia ardentíssimo, em meu coração, o desejo desta obra, e lutei tanto comigo mesmo durante sete anos sem podê- lo extinguir. Eu era contrariado por meu Diretor Espiritual, o qual queria que, esquecido tudo e apagado o meu desejo, dedicasse-me somente aos estudos. Mas aquele desejo era tão forte no meu coração, tão firme estava aquela idéia na minha mente, que era impossível vencer-me, e aplicar a outras coisas as forças da minha alma. Naturalmente eu me acusava disso, e o meu Diretor achando que eu queria resistir na luta contra a obediência, várias vezes chegou a deixar-me sozinho de joelhos no 1 CATÚ, Buon senso e buon cuore, Conf. XII.
  • 12. http://sdpbrasil.blogspot.com/ confessionário. Imagine a amargura da minh’alma e as angústias que oprimiam meu pobre coração”. Finalmente, porém, a prova devia ter seu término, faltava somente a ocasião para atuar a obra tão desejada. E esta se ofereceu propícia. No ano de 1866 uma louca revolta popular e uma epidemia de cólera que a acompanhou, a supressão das comunidades religiosas tinham acumulado imensas ruínas sobre a cidade de Palermo. Muitas famílias definhavam e um triste dia apareceu nos jornais a notícia de que numa casa uma jovem e um menino tinham morrido de fome. A alma do Pe. Giácomo ficou dolorosamente despedaçada. Corre ao Cônego Turano, conta-lhe o piedoso caso e pede-lhe que lhe dê a suspirada permissão de iniciar a obra em favor dos pobres, há muito tempo desejada. Recebida a bênção de joelhos, vai rapidamente visitar as duas aflitas famílias. Bate à porta da primeira casa mas uma voz fraca de um pobre velho lhe faz entender que não podia abrir porque os seus jaziam por terra, morrendo de fome, quase nus. Voa para outra casa e encontra – é horrível dizer – algumas pessoas famintas, às quais nada sobrou, a não ser um cachorro; tendo tirado a pele, devoravam-no cru. Diante daquela cena repugnante não pode refrear o choro. Com ardente espírito de caridade começa a visitar algumas pessoas amigas para recolher esmolas, roupas e móveis para aquelas duas pobres famílias. Precisava porém pensar diariamente à sua subsistência; e ei-lo pelas ruas da cidade com duas grandes mochilas subindo e descendo as escadas de manhã até à noite, batendo de porta em porta e persuadindo a todos a fazer aquilo que ele tinha visto fazer em casa de De Franchis. Outras famílias pobres, no entanto, estimulavam sua compaixão: e ei-lo a multiplicar-se, recolhendo durante o dia os bocados de pão, restos de massa, roupas e outras coisas velhas, levando-as para sua casa dos Santos Quarenta Mártires; e isso se repetia três ou quatros vezes por dia. Antes de escurecer colocava tudo sobre uma mesa e separava por gênero, para distribuir de noite escondidamente às famílias mais miseráveis. O Pe. Giácomo fazendo a coleta se servia no início da ajuda de pessoas pagas. Depois, porém, atraídos pelas palavras e mais ainda pelo exemplo do Servo de Deus, um bom número de leigos devotos e de sacerdotes uniram-se a ele para ajudá-lo na coleta e na distribuição dos socorros. Entre estes destacavam-se: o Pe. José Guarino, Cônego da Igreja de Magione, elevado depois à Sé episcopal de Siracusa e depois à Sé metropolitana de Messina e por fim feito Cardeal; o Pe. Ignácia Zucchero que depois se tornou Cônego da Catedral de Palermo, secretário do Cardeal Celesia e por fim Bispo de Caltanissetta; o Pe. Antônio Pennino, feito Cônego pelo Cardeal Celesia e depois nomeado como seu Vigário Geral; o Pe. Pedro Boccone, ainda vivo e atual Vigário Geral do Cardeal Lualdi; o Pe. Francisco Mammana, que, tirado pela obediência do lado do Pe. Giácomo para ocupar a tarefa de diretor espiritual do Seminário Diocesano de Palermo e nomeado Cônego da Catedral Metropolitana, voltava a reunir-se, após ter renunciado ao canonicato, ao seu amado pai e mestre em 1887, quando se inaugurava a Casa dos Missionários Servos dos Pobres, e sucedendo-lhe depois na direção da Obra. Alma, porém, da nascente pia Obra era a irmã do Pe. Giácomo, a boa Vincenzina. Ela se ocupava de separar tudo aquilo que era recolhido na coleta e depois destiná-lo às várias famílias. A ela, após algum tempo, se uniu como colaboradora uma jovem piedosa, repleta do Espírito de Jesus Cristo e da sua caridade; seu nome era Maria Ana Delise. “Incansável, embora doente, escolheu para si quase todo o peso da fadiga: ela classificava os alimentos e os repartia para os pobres, apontava os doentes para serem socorridos; e recolhia os farrapos para fazer camisas, vestidos e outras coisas úteis; preocupava-se até em manter ordenados os registros para que servissem de guia
  • 13. http://sdpbrasil.blogspot.com/ àqueles que depois tomariam seu lugar. A heróica jovem gastou dois anos neste caridoso serviço; quando de repente uma grave doença a arrebatou do meio de suas fadigas. Continuou até quando pode, com uma força que parecia prodigiosa. Na medida que enfraquecia-se nela o vigor da natureza (era consumida pela tuberculose), aumentava a sua caridade; sentia a dor e o peso da doença somente quando era distraída dos seus trabalhos de verdadeira caridade cristã. nos seus últimos momentos relembrava às outras colaboradoras, os recursos a serem distribuídos aos Pobres. Todos os Pobres choraram sua morte porque quando não podia ajudá-los materialmente, sempre dava os confortos da alma, infundindo o espírito de paciência, e exortando-os, como mãe amorosa a confiar em Deus”2. Com tantos e zelosos cooperadores, a Obra ia se desenvolvendo. Uma associação, porém, de tamanha atividade à qual pertenciam um bom número de eclesiásticos, numa época de muitas agitações políticas e de perseguição contra a Igreja, não podia deixar de atrair a atenção suspeitosa da autoridade civil, de modo que o Pe. Giácomo foi chamado pelo comandante da polícia de Palermo para dar satisfações da Obra por ele fundada. Bastou um simples encontro para que o comandante da polícia se convencesse logo das sinceras intenções caridosas do Servo de Deus e ao invés de impedi-lo na Obra que havia empreendido, obrigou-o a apresentar um projeto ao governo para obter uma casa e auxílios para o melhor desenvolvimento da mesma Obra. Foi então que ele em maio de 1868 escreveu privadamente ao Santo Padre Pio IX por meio do seu amigo beneditino, o Pe. Ercoli Tedeschi, que naquela época morava em Roma, “para obter – são suas palavras – do Santo Padre a aprovação e autorização de apresentar ao governo um pedido para aceitar alguma casa religiosa aonde fosse oferecida. Pediu ao mesmo tempo uma grande bênção que confirmasse a Obra e a preenchesse de todos os privilégios e indulgências concedidas a todas as Obras de São Vicente de Paulo, desejando ao mesmo tempo que a Obra do Bocado do Pobre fosse filiada a ela, desejando que aparecessem na Sicília, por meio desta pequena semente, todas aquelas grandes obras que mudaram e melhoraram as condições da França. Tudo isso por meio de contribuições adaptadas às circunstâncias, aos tempos, aos lugares, afim de que se tornasse mais fácil a difusão da caridade no coração de todos, e enrobustecesse a fé que parecia adormecida”. “O Senhor deveria relembrar – continua a falar, retornando sobre a sua idéia fixa – quantas belas idéias se planejavam no início desta Obra. O pedido que Vossa Reverência apresentará ao Santo Padre, deverá mostrar ao Santo Padre, deverá mostrar as necessidades deste pobre e abandonado povo, e a paterna bênção Dele imprimir nas almas destes afortunados e generosos (homens e mulheres) que querem se tornar pobres por amor dos Pobrezinhos de Jesus Cristo e ter a sorte de se consagrar ao seu serviço, aquela fé, aquele espírito, aquela caridade, que leve a termo, em nossos tempos, uma Obra tão grande e tão difícil a ser realizada”. Dado que não queria fazer nada sem primeiro ter certeza de agradar a Deus, fecha esta carta com estes sentimento que manifestam o homem de Deus: “O Senhor seria cortês dizer-nos a acolhida que fará o nosso Santo Padre a estes nossos desejos, os quais somos prontos a abandonar, se forem por ele minimamente desaprovados; pois é querida a nós do que qualquer outra coisa a adorável vontade de Deus, por causa da qual foi escrita esta presente. Se for a vontade de Deus que por meio do senhor seja aprovado pelo Santo Padre todo desejo que aqui se manifestou, deixando ao zelo caridoso de Vossa Reverência formular o pedido como achar conveniente, então nos 2 Carta Pastoral de Mons. Naselli.
  • 14. http://sdpbrasil.blogspot.com/ será leve todo obstáculo e doce toda pena que encontrarmos, seguros de agradar a Deus”. Após esta carta Sua Santidade Pio IX, após ter tomado as devidas informações com o Ordinário, aos 5 de agosto de 1868, mandava-lhe sob forma de Decreto a Apostólica Bênção sobre a Obra, e sobre todos os membros a ela agregados. No mesmo dia do mesmo ano com documento da Sagrada Congregação dos Bispos e dos Religiosos, ele recebia a faculdade de pedir ao Governo Italiano, Casas de Religiosos para acolher os Pobres. Diante deste impulso dado pelo Sumo Pontífice, o Arcebispo Naselli, em dezembro do mesmo ano instituía canonicamente a Obra sob o título de “Associação do Bocado do Pobre”. Assim ela teve o início difícil. Naquela ocasião se leu um discurso inaugural entre os associados e os cooperadores para estimular-se reciprocamente. O mesmo Arcebispo propôs a criação de carteirinhas capazes de apresentar a Obra e seu significado à primeira vista e ao mesmo tempo estimular o amor aos Pobres. Na carteirinha foi representado o bom Jesus acolhendo de um lado os Pobrezinhos e de outro as esmolas dos ricos que Ele recebia como feitas a si mesmo. A inscrição que circundava a figura era conforme a idéia expressa na mesma: são as palavras de Nosso Senhor: esurivi et dedistis mihi manducare: Quod uni ex minimis meis fecistis, mihi fecistis. (Tive fome e me destes de comer: o que fizestes a um destes pequeninos, a mim o fizestes). A forma, porém, que a Obra estava tomando não respondia de modo algum à inspiração que o Pe. Giácomo tinha recebido de Deus. Ele não via surgir aquela comunidade religiosa por ele desejada, “consumida na caridade para copiar em si a vida de Jesus Cristo”. Isso se tornava para o seu coração motivo de grande sofrimento. Escrevia ele: “Eu sofria muito em servir-me de pessoas mercenárias e de outras que, mesmo tendo vontade de cooperar, não tinham o desejo de unir-se em comunidade para praticar a vida por mim desejada. Mas todavia este era o desejo dos Superiores. As necessidades falavam mais alto, faltavam as vocações, nem ele podia suscitá-las. Tive que me confortar com esta situação. O Arcebispo Monsenhor Naselli criou um conselho diretivo para organizar as coletas; foram criados também escritórios de contabilidade, arquivo, secretaria, inspetoria, e a Associação começou a tomar proporções interessantes.”3 A Carta Pastoral de Monsenhor Naselli nos informa sobre os felicíssimos resultados daqueles primeiros tempos. Os auxílios dados em vinte e dois meses chegaram a 48.428, isto é, se alimentaram mais de cem pobres cada dia, além das ajudas em dinheiro para manter as órfãs nos orfanatos, as moças, as virgens dos Colégios de Maria, sem contar os pobres enfermos curados em suas próprias casas e os remédios e médicos oferecidos gratuitamente. 3 Carta ao Pe. Daniel de Bassano.
  • 15. http://sdpbrasil.blogspot.com/ CAPÍTULO IV Novas provas às quais é submetido – Fica sozinho em sustentar a Obra por ele fundada – Renuncia ser pároco de Santo Hipólito – É nomeado membro do Conselho de Administração do Depósito de Mendicância – Renuncia ao Canonicato da Catedral de Palermo – Monsenhor Turano o conduz consigo a Agrigento – Passa as orfãzinhas para o Convento de São Marcos. Aonde Deus opera é preciso que o homem desapareça ou se esconda. Foi por isso que enquanto a obra do Pe. Cusmano tomava um satisfatório desenvolvimento, ele começava a sentir em si um grande desânimo que o mergulhava numa angustiosa tristeza. Mais deixemos que ele mesmo nos descreva aquilo que então se passou no seu coração. Suas palavras deixam transparecer toda a santidade do Servo de Deus: “A partir daquele momento uma profunda dor começou a entristecer a minha alma, porque a consciência me advertia que Deus não deixava surgir, pela minha indignidade a desejada Comunidade; sobretudo contristava-me o pensamento que eu tivesse começado a Obra com desejos que não eram pura e simples caridade, (oh santa, imensa humildade do Servo de Deus!). De maneira que sentia um ardente desejo de voar aos pé do Santo Padre Pio IX, confessar-lhe as graves iniquidades de toda a minha vida, manifestar-lhe os maus desejos do meu coração, que pareciam estragar em mim o espírito de caridade, para saber se aquele desejo que eu sentia era de Deus ou do demônio, e para decidir se devia ou não continuar no caminho empreendido”.1 Sublimes sentimentos de filial confiança para com o Pai comum dos Crentes aqui na terra, o Santo Vigário de Jesus Cristo, lembra aquela confiança mostrada por outros santos em semelhantes situações! Aqui aparece claramente como o espírito humano desapareceu totalmente, para permanecer somente o espírito de Deus que se serve do seu ministro como de um dócil instrumento. E tal foi a prova à qual o Senhor quis submetê-lo que ele mesmo chegou a dizer: “Muitas vezes resolvi abandonar tudo para fugir na solidão e chorar, por toa a vida, o meu horroroso passado”. Em seguida continua narrando assim as coisas de então: “Todavia a Obra progredia, mais de vinte sacerdotes partilhavam comigo a fadiga da coleta e da distribuição dos alimentos para os Pobres a domicílio; um número razoável de leigos de ambos os sexos trabalhavam também: em casas alugadas separadamente estavam reunidos meninos e meninas que o Conselho me autorizava a recolher para que mais proveitosa para suas almas se tornasse aquela esmola que com tanto sacrifício se recolhia, oferecendo-a juntamente com a palavra de Deus, com a instrução catequética, com o ensinamento das letras e das artes. 1 Carta ao Pe. Daniel de Bassano.
  • 16. http://sdpbrasil.blogspot.com/ Passaram mais ou menos quatro anos nesta feliz situação e não havia pobre que conhecêssemos que não recebesse os benéficos auxílios da Obra, antes, chegava até a estragar-se o pão e o macarrão pela abundância das esmolas, e era muito bonito ver como por meio destas ajudas materiais se aproximavam as almas a Deus”. Mas quando o servo fiel do Senhor já começava a gozar um pouco em sua alma, vendo que quase se realizavam os seus desejos, e as coisas se encaminhavam para um êxito feliz, eis que o Senhor renova com mais dureza a provação, que qual fogo mais vivo e ardente deve purificar nosso Pe. Giácomo de toda levíssima imperfeição. De fato – é o Pe. Giácomo que escreve – “promovido ao bispado de Agrigento, o Cônego Turano, Vice-presidente do Conselho Diretivo da Obra, e ao mesmo tempo elevado a Arcebispo de Siracusa o Cônego Guarino, um dos mais zelosos conselheiros, e quase todos promovidos a altos cargos eclesiásticos, aqueles sacerdotes que tanto se afadigavam pelos pobres, encontrei-me de repente quase sozinho a sustentar com minha miséria todo o peso e responsabilidade da Obra. A coleta começou a diminuir em grande parte. Diminuíram as distribuições a domicílio, foi fechada a casa das orfãzinhas, foram mantidas somente as órfãs internas pelo perigo de sua perdição. Governo e Prefeitura, não obstante suas promessas, permaneceram na mais completa indiferença, a coleta diminuía sempre, e parecia um milagre que por onze anos se pode providenciar o sustento daquelas infelicíssimas criaturas”. Nestes onze anos, o Pe. Giácomo ficou sozinho com um simples leigo que o ajudava nas escassas coletas, e somente algum sacerdote dos mais afeiçoados, como o Pe. Vincenzo Datino e o Pe. Francesco Mammana, que vinham ainda para ajudá-lo um pouco na assistência às órfãs. Estas eram confiadas à sua irmã Vincenzina e a outras três boas moças que deixando as famílias queriam dedicar-se a servir Jesus nos seus pobrezinhos, até o Senhor permitir o surgimento da desejada Comunidade. O Servo de Deus, porém, estava fiel no lugar onde a Providência o tinha colocado, pronto a permanecer como vítima do que dar um passo atrás. Na vida do Pe. Giácomo talvez é este o período no qual, melhor do que qualquer outro, ele teve que mostrar aquela firme virtude que adornava seu nobre coração. Entretanto, enquanto o Pe. Cusmano levava sozinho a Obra que, como vimos se reduzia em manter vinte órfãos, vindo a faltar em 1871 o pároco de Santo Hipólito, a Câmara Municipal de Palermo que tinha o privilégio de nomear os párocos da cidade, unanimemente o chamava àquele cargo, e encarregava o Cônego Professor Vicente Di Giovanni, da Universidade de Palermo, então vereador municipal, de comunicar-lhe a escolha que dele se fizera. Eis como o ilustre Professor, que em seguida foi consagrado Bispo, narra o encontro tido e a impressão que teve: “O Pe. Giácomo me olhava fixo com os seus olhos bondosos, na atitude de grande surpresa, e com o rosto pálido queria falar, mas lhe faltava a palavra. Naquele momento com certeza passaram diante de seus olhos as suas orfãzinhas, pensou na sua Obra; não sabia quais os planos da Providência com aquela nomeação. Calando e sentindo grande confusão na alma, apareceram as lágrimas em seus olhos. A única coisa que pode dizer-me foi: “Mas como, meu Padre? Eu não posso...” Entendi tudo quanto se passava então naquela grande alma: ele era o Pai do Bocado do Pobre, era a providência das orfãzinhas, e era aquele e não outro o lugar destinado-lhe por Deus, querido pelo seu coração, exigido pelas condições dos tempos, necessitados de novas formas de caridade, de nova operosidade evangélica, de nova ação do cristianismo numa sociedade egoísta e materializada pelo lucro e pelos prazeres baixos do sexo. Pedi-lhe, portanto, com muita comoção, que ficasse sereno, e que teria pedido dos colegas da Câmara e ao Prefeito de Palermo de dirigir-se aos outros sacerdotes para
  • 17. http://sdpbrasil.blogspot.com/ providenciar um pároco para a paróquia vacante; e que ele ficasse no seu lugar de pai amoroso das orfãzinhas, como um sinal luminoso da caridade urbana. Teria sido mais fácil encontrar um pároco para uma paróquia, do que um pai para os Pobres e as órfãs pelos quais fora instituído o Bocado do Pobre. O bom padre Giácomo sorriu às minhas palavras com aquela doçura inefável dos lábios e das serenas pupilas; deixando-o, levei comigo uma admiração ainda maior por aquela grande alma, por um coração que palpitava somente pela caridade aos pobres, aos velhos, às orfãzinhas, imagens todos de Jesus Cristo sobre a terra. De tais almas, (concluía o ilustre Monsenhor Di Giovanni), não se tem senão raríssimo exemplo; e afortunados aqueles que puderam admirá-las de perto”. Depois da renúncia a ser pároco, a Câmara de Palermo com deliberação de 3 de abril de 1871, nomeava-o membro do Conselho de Administração do Depósito de Mendicância. Tratando-se de uma assistência a ser dada aos Pobres, ele aceitou e foi nesta ocasião que pronunciou um discurso que em seguida foi publicado, no qual defendendo a liberdade de consciência lesada por algumas deliberações daquele Conselho, deu provas admiráveis de eloquência, mansidão e fortaleza sacerdotal. Foi naquele mesmo período que o Ex.mo. Cardeal Celesia querendo-o honrar pelos seus méritos preclaros, com insistência lhe oferecia a dignidade de Cônego da Catedral de Palermo. Mas ele soube suplicar tanto a seu venerável Pastor, que conseguiu não ser tirado dos Pobres aos quais tinha jurado consagrar-se inteiramente. Eis como relata este fato o mesmo Cardeal Celesia em ocasião 5º aniversário da morte do Servo de Deus: “Como prova de nossa pastoral complacência por tão grande bem, e mais como prova de estima pessoal, não como recompensa aos méritos que Deus somente podia conceder-lhe, nós, de bom gosto lhe oferecemos com insistência as honras eclesiástica em nossa Catedral. Mas fomos profundamente edificados pela modéstia, aliás, pelo desprezo com que a si mesmo tratava, que se tornou mais acentuado naquele momento em que prostrado no chão aos nossos joelhos, suplicou para ser exonerado de tal honra, afirmando que, além de ser indigno, os Pobres, seus filhos em Jesus Cristo, não podiam ficar sem sua contínua assistência e dos serviços de todo o gênero que tinha jurado prestar a eles. Acontentamo-lhe pela sua insistência: mas o amamos mais ainda e nunca mais foi-lhe negada a entrada em nosso palácio nem tão pouco lhe negamos a entrada em nosso coração, abençoando-o em cada passo seu por causa de sua Obra tão querida para Deus e para os homens”. Em 1872, consagrado como Bispo de Agrigento o seu Diretor Espiritual o Cônego Turano, este quis conduzi-lo com ele naquela Sede para receber ajuda e conselho no governo da Diocese. Obedecendo, o Pe. Giácomo, embora com o coração despedaçado por afastar-se de suas orfãzinhas, deixa estas aos cuidados da irmã Vincenzina e segue o seu Pai e Mestre para o novo campo destinado por Deus às suas fadigas apostólicas. O afastamento do Pe. Giácomo fez com que a Obra caminhasse para a ruína. O Pe. Mammana, que por ele fora encarregado em substituí-lo durante sua ausência, escrevia-lhe cartas de fogo, pressionando-o a voltar para Palermo se não quisesse que a Obra se destruísse. O Pe. Giácomo, gemendo em seu coração, na oração e no silêncio, esperava que se manifestasse a vontade de Deus por meio da obediência. Uma destas cartas caída nas mãos de Monsenhor Turano o deixou muito impressionado. Foi então que ele, mesmo de má vontade, consentiu que o diletíssimo Giácomo voltasse a Palermo para sustentar a moribunda Obra do Bocado do Pobre. Uma carta enviada pelo Monsenhor Turano ao Pe. Giácomo aos 17 de dezembro de 1872, mostra todo o bem operado por ele em dois meses naquela Diocese. “Você foi,
  • 18. http://sdpbrasil.blogspot.com/ escreve-lhe, um rio de bênçãos que derramou a abundância na minha Diocese com a sua benéfica estadia”. Numa outra carta, queixando-se de não poder tê-lo consigo diz: “lembro-me que no ano de 1860, Monsenhor Cilluffo, apontando-te a mim, disse: eis o teu Timóteo. Você será São Timóteo e até mais, mas não para mim...” O retorno do Pe. Giácomo a Palermo serviu para aquele germe que ainda permanecia da Obra por ele fundada, não morresse, germe que ele devia regar e fecundar som seus suores, suas lágrimas, seus gemidos, suas orações. Em 1873 conseguira transportar as orfãzinhas da incômoda casa dos Santos Quarenta Mártires no mais amplo Conventinho de São Marcos, gratuitamente concedido pela benemérita Confraria da Companhia de São Marcos Evangelista; mesmo assim, as coisas não melhoraram muito, Vendo-o lutar contra toda esperança por tão longo período de tempo, não faltava quem o chamasse de louco, de fanático, ou quisesse desviá-lo de seu caminho, mas ele que não baixava a cabeça como um vencido, mas confiava no Senhor, suportando com heróica mansidão toda maledicência e maldade, não deixava de renovar os esforços para continuar, aliás, para fazer ressurgir aquela Obra bendita.
  • 19. http://sdpbrasil.blogspot.com/ CAPÍTULO V Quer confiar as orfãzinhas a vários Institutos religiosos – Confortado por um sonho misterioso, dá o hábito às primeiras Irmãs Servas dos Pobres. Passaram-se onze anos, onze longos anos de luta e de sacrifícios, e vendo o Pe. Cusmano faltar-lhe qualquer socorro, convicto que aquela Obra era querida por Deus, começou a pensar em confiá-la a algum Pio Instituto entre os aprovados pela Igreja, para impedir que a sua indignidade, como ele com profunda humildade dizia, continuasse a ser um obstáculo. Dirigiu-se então a várias Instituições religiosas para confiar suas pequenas orfãzinhas a piedosas Irmãs, às quais, mendigando de casa em casa o piedoso bocado, as poderiam socorrer. Porém, nem as Filhas da Caridade, nem as Pequenas Irmãs dos Pobres quiseram aceitar. Enquanto em seu coração pensava em recorrer às Estigmatinas, o Senhor que, em seus planos quisera provar tão longamente sua constância veio consolá-lo de um modo todo especial. Deixemos a ele a palavra da narração de um fato que teve uma importância capital na vida do Servo de Deus e na existência da Obra por ele fundada: “No dia em que recebi esta outra recusa (a das Pequenas Irmãs dos Pobres do Abade Lepailleur) cheguei ao cúmulo da minha dor. Havia terminado o meu trabalho – era hora do meu descanso – na amargura do meu coração, estava iniciando uma carta ao meu Diretor Espiritual para informá-lo sobre a resposta das Pequenas Irmãs dos Pobres, e pedir-lhe licença de convidar as Estigmatinas e confiar a elas as orfãzinhas, abandonando totalmente a idéia de querer conservar ainda a Associação do Bocado do Pobre que eu, por minha indignidade, via já destruída. Estava no término da carta quando um sentimento de mal estar unido ao sono, sem perceber, fez-me deitar na cama que estava ao meu lado, e na quietude daquele repouso, parecia-me estar num campo e na fenda de uma montanha que erguia-se à minha esquerda... Voltando o olhar, via um grande antro, onde estavam reunidas minhas pequenas órfãs com as boas senhoras que as tem sempre assistido. Atrás destas, distinguia uma outra Senhora a mim desconhecida, também ela em trajes pobres, no ato de amamentar um menino. Estas coisas se manifestavam a um mesmo tempo e foi extrema minha surpresa, quando naquela Senhora reconheci a Grande Mãe de Deus! (...) Um alto grito e um rápido impulso que me fez cair de joelhos aos pés da Mãe Santíssima, alertaram a todos, mas eu, prostrando-me profundamente, beijava seus pés, sentindo-me confortado, seguro, livre de qualquer perigo, como um menino no aconchego do seio materno. Teria permanecido ali toda a vida, se a meiga Senhora, soerguendo-me, não me tivesse avizinhado ao seu seio materno, onde, pouco antes, havia visto um menino; e, naquele instante, que não sei repensar sem comover-me, consolava-me da esperança de que a Obra era aceita pelo Senhor e que, oportunamente seria levada ao grande fim pelo qual a havia feito nascer.
  • 20. http://sdpbrasil.blogspot.com/ Depois com o sentimento que aludia aos meus desalentos e à minha indignidade: “É ao meu tenro Filho, é a Ele, a Ele só que tu deves tudo!” dizia-me dirigindo seu doce olhar atrás dos meus ombros, olhar que tirou-me da posição em que me encontrava; porque naquele mesmo instante, por um sentimento espontâneo de reverência, de gratidão, de temor, voltei a procurar Aquele ao qual tudo devia; vi então o menino na idade de quatro anos, com os olhos vermelhos, como quem havia tido um grande pranto, recolhido, sério, que obrigou-me a prostrar-me, pedir perdão das minhas ingratidões, e implorar piedade para as pobres criaturas a mim confiadas, pedindo também a ajuda de sua Providência para saciar-lhes materialmente. Então me ergui e recolhi pedaços de pão, que constituía toda nossa provisão, mas, ao retornar, vi somente a Mãe de Deus. Prostrando-me, supliquei-lhe de abençoar aqueles restos de pães, para que fossem suficientes para a alimentação de todas as órfãs, e a Mãe Santíssima, com benévolo aspecto acolheu minha prece e abençoou aqueles sobejos. Contentíssimo, ergui-me para distribuir os pães às órfãs, quando, voltando o olhar, vi duas grandes panelas de ferro em meio a grande fogo, e a água em ebulição que cozinhava o macarrão, lancei-me sobre elas, sem proteger as mãos, quando, a meiga Senhora me veio em auxílio. Quando acordei, surpreendi-me vestido na cama sem saber como. Não pensava nada daquilo que havia sonhado, porém meu coração não estava mais com aquelas angústias, que impeliam-me de escrever a carta, que eu deixara começada sobre a escrivaninha. Aprecei-me rapidamente para a celebração da Santa Missa, e no agradecimento, com nova surpresa, o sonho me veio à memória. Sinto ainda tanta consolação só ao pensar no sonho. Contei tudo ao meu amigo sacerdote, ao qual, na ausência do meu diretor espiritual, costumo dirigir-me para algum conselho (este era o Cônego Antônio Pennino) e ele me proibiu de completar e enviar a carta começada, exortando-me, pelo contrário, a não deixar de buscar a instituição das Irmãs e dos Frades que deveriam sustentar a Obra conforme eu a tinha desejado, e não recorrer às Estigmatinas, a não ser, quando, depois de se ter tentado tudo, visse claramente que o Senhor não queria esta nova Instituição. Continuei a trabalhar pacificamente em meio às dificuldades nas quais vivia há tantos anos, mas nenhum conforto humano via aparecer para iniciar a desejada Instituição. Era um contínuo milagre da Providência a alimentação de tantos pobres com a magra coleta que se ganhava durante o dia, a ponto de não ter coragem de comer minha sopa, sem antes ter certeza de que todos da casa estivessem saciados; após este período, a abundância começou a crescer a cada dia. Foi então que por maior segurança de minha alma, e afim de conhecer melhor a vontade do Senhor, fui consultar uma pia pessoa, que fora muito favorecida pelo Senhor e pela Virgem Santíssima. (Esta era Melânia, que naquele tempo encontrava-se em Palermo). Após ter- lhe contado os meus problemas, ela com grande humildade me encorajou a continuar na Obra começada, servindo dos elementos que o Senhor tinha me dado sem procurar outras Instituições para me ajudarem. Em seguida me animou a vestir as Irmãs e a procurar reunir e iniciar a Comunidade daquele modo que o Senhor teria-me inspirado, confiando muito na ajuda de Deus e de Maria Santíssima, afim de que as coisas prosperassem para a sua glória e a salvação das almas. Entretanto eu estava esperando a volta do nosso Monsenhor Arcebispo que estava fazendo uma visita pastoral, para pedir-lhe licença de vestir as primeiras Irmãs. Chegando lhe relatei tudo, consegui a licença de vestir as primeiras Irmãs e na festa da
  • 21. http://sdpbrasil.blogspot.com/ Santíssima Trindade do ano de 1880 tive a sorte de vê-las já trabalhando com a aprovação do Ordinário”. 1 Assim finalmente o Senhor premiava a constância heróica do Pe. Giácomo, e a partir daquele dia a Obra do Bocado do Pobre tomava sua verdadeira forma regular e estável, como desde o princípio se apresentara mais no coração do que na mente do Servo de Deus. Muitos dias antes da vestição religiosa, sua sobrinha Madalena sonhara estar já vestida de Irmã: parecia-lhe estar trajada com um hábito preto, uma capa também preta, um capuz branco, um amplo avental azul, e um terço de Nossa Senhora ao lado. Foi aquele o hábito que o Pe. Giácomo adotou para as primeiras Irmãs, hábito que vestem ainda hoje. O manto preto completa este hábito quando as Irmãs saem de casa. Durante a coleta saíam com dois alforjes brancos, pareciam anjos de misericórdia andando pelas ruas de casa em casa, recolhendo as ofertas da caridosa cidade. As primeiras Irmãs que receberam o hábito sacro e às quais o Pe. Giácomo deu o título de Servas dos Pobres eram seis; primeira entre elas estava a Irmã Vincenzina. Educada na escola das grandes virtudes por aquele grande mestre de vida interior, Monsenhor Turano, foi o retrato perfeito de seu santo irmão e dividiu com ele a direção da Obra por tantos anos, também ela vítima da caridade. Que doçura inefável ela experimentou quando foi revestida do branco véu e do humilde hábito das Servas dos Pobres! Levada por natureza à vida de clausura venceu heroicamente a si mesma e se lançou na nova via que o Senhor lhe apontou, consagrando-se inteiramente ao serviço dos Pobres. “Vê, dizia-lhe brincando o Pe. Giácomo, tu querias entrar num mosteiro pequeno, ao invés o Senhor te quer num mosteiro grandíssimo. O mundo inteiro deve ser para ti este mosteiro.” E ela permaneceu fiel no seu lugar até que em 1894 o Senhor a chamou a receber o prêmio da sua caridade. 1 Carta ao Pe. Daniel de Bassano
  • 22. http://sdpbrasil.blogspot.com/ CAPÍTULO VI Conseguida do Prefeito de Palermo a Quinta Casa a beira mar, funda o primeiro Asilo de Pobres incapazes de trabalhar – sofre uma cirurgia – Suas relações com o Barão Turrisi. Logo que o Pe. Giácomo deu o hábito às primeiras Irmãs, com a bênção do Arcebispo de Palermo e do seu Diretor Espiritual Monsenhor Turano, confortado pela certeza de que a Instituição por ele a tantos anos desejada era querida por Deus, com todo o impulso deu-se totalmente a todo tipo de obra de caridade. As Irmãs Servas dos Pobres, que com seu jeito humilde e modesto começaram a andar por toda a cidade para recolher o “Bocado do Pobre”, tornavam sempre mais popular o nome de seu Pai e mestre. A pequena Casa de São Marcos tornou-se em breve um centro de bênção aonde acorriam todos os tipos de necessitados e infelizes porque na inesgotável caridade do Servo de Deus encontravam ajuda e conforto. Foi assim que se formou aquele ditado popular: “A caridade está em São Marcos”. Existia naquela época em Palermo um lugar desprezível chamado Refúgio, onde estavam reunidos, sem nenhuma distinção de sexo ou de idade, um grande número de pobres abandonados por todos. Era prefeito de Palermo o Barão Nicolau Turrisi, o qual informado da condição desagradável daqueles infelizes e da situação indigna na qual se encontravam, pensou resolver o caso assegurando a eles uma assistência mais humana. Movia-o a isso o fato que, devendo chegar em breve em Palermo o Rei na ocasião das festas centenárias das Vésperas Sicilianas, queria tirar das ruas o grande número de pobres mendigos, que davam a impressão de um triste espetáculo. Mas onde coloca-los e a quem confia-los? Portanto tivessem estudado para encontrar uma solução, não conseguiam chegar a cabo de modo satisfatório em providencial à necessidade. Falaram-lhe do Pe. Cusmano e do seu espírito de caridade e de sacrifício; mas o Barão Turrisi que, embebido de preconceitos contra a Igreja, não era muito tenro com os padres, não quis ouvir. No entanto o tempo apertava e não se encontrava nenhuma solução. Foi então que, apertado pela necessidade, decidiu-se finalmente dirigir-se ao Pe. Cusmano, que nem conhecia. Apresentaram-lhe o Pe. Giácomo e bastou aquele primeiro encontro para que o Prefeito Turrisi ficasse de tal modo impressionado que se tornou um dos maiores admiradores e protetores dele. O Pe. Giácomo com o coração exultante oferece a si mesmo e suas filhas, as Servas dos Pobres para assistir todos aqueles pobres que quisessem confiar-lhe; o Barão
  • 23. http://sdpbrasil.blogspot.com/ Turrisi lhe promete por parte da prefeitura, toda ajuda material e moral. Começou dando-lhe a Quinta Casa à beira mar. Pertencia esta grande construção originariamente aos padres Jesuítas que a utilizavam como Casa de retiro. Suprimida a Companhia de Jesus por Clemente XIV, aquela Casa passou às mãos do governo Bourbônico, o qual a destinou primeiramente como quartel e depois como cadeia dos endividados. Restaurada na Sicília a Companhia de Jesus em 1804, a Quinta Casa ficou com o governo dos Bourbons, até que caído em 1860, esta passou a pertencer ao novo governo que acabou abandonando-a por causa do mau estado no qual se encontrava. O Barão Turrisi a pediu e conseguiu por motivos beneficentes. Conseguida a Casa, o Pe. Giácomo fez as necessárias reparações conforme a nova destinação. Em março de 1881 todos os Pobres que se encontravam no Refúgio foram levados até lá. Eram dez pobres velhos inválidos, quinze velhinhas, sete orfãzinhas e vinte órfãos; era uma situação deplorável! Foi assim que as antigas aspirações do Servo de Deus foram finalmente concretizadas; ele via por caminhos totalmente providenciais à sua disposição uma grandíssima construção onde poderia acolher todo tipo de Pobres abandonados. O pequeno grãozinho já começava a germinar; não passará muito tempo e produzirá vigorosos rebentos. O Pe. Giácomo, porém, com grande pena não pode assistir à passagem dos Pobres à Quinta Casa. Naquele dia ele estava constrangido a ficar na cama. As excessivas fadigas enfrentadas para preparar o local excitaram de tal modo aquele mal que o atormentava desde os primeiros anos do seu sacerdócio e que de verdade o tornara o homem das dores, a ponto de submeter-se a uma cirurgia. Tratava- se de uma profunda fistula intestinal. E o Pe. Giácomo se submeteu àquele corte com tal fortaleza e tranqüilidade de espírito, a tal ponto de maravilhar aqueles que o visitavam após a dolorosíssima cirurgia. Mal tinha se restabelecido voou à Quinta Casa para dedicar-se aos serviços mais humildes para com os Pobres que ali estavam, e os mais repugnantes eram os que mais atraíam seus cuidados. Um dia foi admitido um pobre velho paralítico. A entrada de um novo Pobre era uma festa para o Pe. Giácomo. Acolheu-o com gestos da mais viva alegria e, cingido seu avental branco pôs-se a lavá-lo, penteá-lo e trocar-lhe a roupa. Arrumou a cama e carregando-o no colo para deita-lo,olhou-o amorosamente e contemplando naquele rosto emagrecido a bela imagem de Jesus Pobre e sofredor, tenramente o abraçou e o beijou. O pobre velho paralítico, como o velho Simeão, não se continha da alegria, e dizia: “Agora posso morrer, não desejo mais nada, o Pe. Giácomo me deu um beijo!” O Barão Turrisi que naquele primeiro período da abertura do asilo da Quinta Casa teve freqüentes ocasiões de aproximar-se do Servo de Deus, afeiçoou-se sempre mais a ele,chamando-o de “o melhor dos meus amigos”. E o Pe. Giácomo que o considerava como o maior benfeitor da sua Obra, olhou-o sempre com a mais viva e afetuosa gratidão. E quando após alguns anos o Barão Turrisi sofreu uma paralisia que lhe tirou também o uso da palavra, o Pe. Giácomo empenhou-se em reergue-lo daquela terrível doença. Como um dos maiores sofrimentos do pobre Barão era o de não conseguir deixar-se compreender em suas diversas necessidades, o Pe. Giácomo com sua operosa caridade, mandou colocar ao lado de seu leito uma taboa onde estava escrito em grandes caracteres tudo o que lhe pudesse ser útil, de maneira que o pobre doente devia somente indicar com uma varinha o que precisava para logo ser servido. A caridade do Pe. Giácomo não se preocupava somente com os sofrimentos do corpo do Barão Turrisi; ele queria a todo custo salvar-lhe a alma. Com estrema
  • 24. http://sdpbrasil.blogspot.com/ delicadeza, servindo-se da estima que gozava do Barão, começou a induzi-lo a pensar em sua própria consciência. Com certeza teria conseguido se, nos últimos dias de sua doença, não tivessem com sua imensa dor, fechando-lhe a porta da Casa Turrisi, certamente não por vontade do pobre Barão.
  • 25. http://sdpbrasil.blogspot.com/ CAPÍTULO VII Funda uma Casa de Misericórdia em Agrigento. Se grande consolação fora, para o Pe. Giácomo a fundação do Asilo da Quinta Casa, não menor foi a alegria pelo insistente convite que lhe fazia seu venerado Padre Monsenhor Turano de implantar a Obra em Agrigento. Existia naquela cidade um lugar sujo, fedorento, infestado de insetos, com o teto e o piso em ruínas. Encontravam-se ali internadas muitas mulheres e moças, sem governo nem disciplina; saiam e entravam por conta própria e cada uma devia providenciar seu próprio sustento. Um leito de palha e um fogão de barro eram os únicos móveis de cada quarto. Monsenhor Turano gemia em seu paterno coração e, após alguns graves problemas aí ocorridos, tendo combinado com o Prefeito de Agrigento, dirigiu-se ao Pe. Giácomo para confiar às Servas dos Pobres a direção e a reforma daquela casa. O Pe. Giácomo entendeu rápido a dificuldade daquela missão. Como disciplinar aquelas jovens a tantos anos habituadas a uma completa liberdade? Como manter convenientemente aquelas pobres desamparadas numa absoluta deficiência de meios materiais? Seu grande coração zeloso pela salvação das almas e a completa confiança que tinha em Deus, fizeram com que ele não recusasse nem colocasse condições. Mas a quem entre as suas filhas confiar a árdua missão? Fazia-se mister a presença de almas acostumadas ao espírito de sacrifício e prontas a imolar-se inteiramente pela salvação do próximo. Primeira entre estas foi a própria irmã. E aos cinco de janeiro de 1882 a boa Irmã Vincenzina com outras cinco companheiras, acompanhadas pelo Pe. Giácomo chegam a Agrigento e tomam posse daquela Casa. A boa madre andava entre aquela miséria, consolando aquelas jovens e animando-as a rezar para que o bom Deus as ajudasse a melhorar sua condição. O Pe. Giácomo por sua vez derrama naquelas infelizes criaturas toda plenitude da sua misericordiosa caridade procurando amansar aquelas jovens enfurecidas pelo novo gênero de vida à qual queriam submete-las. No entanto faltam as camas para as Irmãs e de um ínfimo albergue alugaram-se seis colchões de palha; mas onde coloca-los? Os quartos estão todos lotados; recorre-se ao sótão, aí se encontra espaço. A Irmã Vincenzina é a primeira a caças os ratos, tirar a teias de aranha e tampar as frestas com papel. Aquele ninho de ratos do qual através das telhas podia-se ver as estrelas por muito tempo foi o dormitório das Irmãs. A boa Irmã Vincenzina, como era alta, freqüentemente batia a cabeça no telhado, mas não se importava com estes incômodos. O que mais angustiava seu coração eram as dificuldades que encontrava na educação, moralização e formação religiosa daquelas jovens ali reunidas. Um trabalho longo, paciente, doloroso, levado adiante com abnegação e singular caridade foi o de derrubar os fogões, habituar as internas à mesa comum, proibir as saídas, arrancar tantos hábitos péssimos, espantar os vícios e incentiva-las à virtude. O que não teve de sofrer por vários anos a santa mulher juntamente às heróicas Irmãs! Abertas revoltas, injúrias cotidianas, insultos, zombarias, implicância, ameaças... e ela sempre doce, amorosa, caridosa, constante em promover sua transformação. Era uma luta contínua entre pecado e graça, vício e virtude, brutal
  • 26. http://sdpbrasil.blogspot.com/ egoísmo e sublime caridade! Mas quem sustentava de fato aquelas heroínas era o Pe. Giácomo que, tendo voltado a Palermo, com seu espírito permanecia sempre no meio delas. Com sua palavra ardente ele não deixava de animar continuamente as Irmãs na dificílima missão a elas confiadas de conforta-las em meio àquelas duríssimas provações às quais tiveram que submeter-se. Assim de fato escrevia para a Irmã Vincenzina em maio de 1882: “...Coragem e grande ânimo em todos os acontecimentos. Não se deixem nunca abater, minha filhas e não entristeçam vossas almas; procurem sempre novos recursos para responder às necessidades dos Pobres, procurando sempre a salvação de todos. Quando pois suceder que as almas se obstinam à ação da graça, e aos contínuos esforços da caridade, transformam em veneno o leite das misericórdias de Deus, e tornam-se molestas não para vós, mas para si mesmas e para as outras almas com suas desordens e escândalos, então convém consentir à sua desaconselhada resolução de ir embora, esclarecendo para as outras que são elas mesmas que querem se perder e não são vocês que as abandonaram... Eu me consumo no desejo de apascentar-vos com a Palavra de Deus, de sustentar-vos e confortar-vos com seus santos conselhos, e assim que chegam vossas caríssimas cartas, gostaria de respondê-las prontamente uma vez que não posso correr em vossa ajuda. Mas o Senhor dispõe diversamente e tornam-se inúteis os meus esforços. Deus quer formar o nosso espírito com toda prova, quer que nossa confiança nele multiplique-se com os mesmos obstáculos que se interpõem claramente para atrapalhar as mesmas obras da sua glória; quer que a nossa espera em sua ajuda seja sempre maior e verás, na medida em que desaparecem as esperanças humanas que confortam os nossos corações. Este Deus de bondade não quer ser vencido por gentilezas, e estando vós prontas a responder ao seu convite e dedicar-vos ao seu serviço, quer ser somente Ele vossa ajuda e vosso conforto. Teriam a ousadia de dizer- me que não vos basta? Eu espero que não, antes faço votos que vossos corações exultem de ternura em seu amor e em sua união. Não digo isso porque queira ser poupado ou porque esteja longe de vós, mas porque sinto grandíssima pena em não ver vocês apreciarem, com vossa inteligência os tesouros infinitos com os quais Deus vos estreita ao seu coração; se pudesse tomar sobre mim vossos necessários sofrimentos e deixar em vossas almas os tesouros de Deus que eles vos trazem, quereria a todo custo fazer o possível para livrar-vos e ver-vos repletas do Espírito Santo, sem ter a dor de sentir-vos sofredoras... Nós somos chamados a ser vítimas por amor a Jesus, servindo-o e ajudando-o em seus Pobrezinhos. Foi o Bispo que nos chamou a Agrigento e por conseguinte estamos seguros de aí estarmos por vontade de Deus... Meus caminhos não são os vossos caminhos, diz o Senhor; e se a prudência humana, minhas filhas, deve ajudar a formar a norma do nosso agir, mesmo assim nunca devemos temer os homens quando nos encontramos empenhados nas obras de Deus. Todos vos desprezam, ninguém se importa com vocês? No entanto vós, na humildade e na paciência vos empenhais em amar o Bom Jesus desprezado e abandonado na pessoa dos seus Pobrezinhos? Pois bem, a obra de Deus está completa, o triunfo em todos os corações está seguro... Surgirá uma outra Instituição? Esta,o conseguirá melhor que vocês em operar em Jesus Cristo, e então terão o conforto de confiar aos seus cuidados o importante serviço de Jesus sofredor em seus Pobrezinhos, ou viverá dividindo vossas privações e as imitarão santamente no serviço do Senhor, ou não será aprovada e acabará o obstáculo que a prudência humana faz temer. De qualquer maneira,o que a nós convém é empenhar-nos com todo zelo e caridade em cumprir santamente o ministério que Deus nos confiou, e até que Deus não
  • 27. http://sdpbrasil.blogspot.com/ nos tire desta situação, procuraremos fazer com toda fidelidade os nossos deveres, e o Senhor se encarregará do resto...”. Para compreender bem o último trecho desta carta é preciso saber que nos primeiros tempos que as Servas dos Pobres começaram a dirigir a Casa de Agrigento, elas não foram acolhidas benevolamente pela população. Não eram conhecidas, não se entendia bem qual era sua missão, por isso, quando saíam para a coleta, eram rejeitadas por todos. Naquele tempo um sacerdote de Agrigento tentou fundar uma outra Instituição semelhante que no princípio atraiu a simpatia dos cidadãos. Tudo isso, enquanto desanimava as pobres Irmãs, animava a fé do Servo de Deus, o qual, por sua vez, procurava reanimar o ânimo abatido de suas filhas com contínuas cartas. E estas cartas não eram recebidas em vão pelas Irmãs. Entre estas encontra-se uma dirigida à Irmã Vincenzina em setembro de 1883, na qual aparece o quanto tiveram que sofrer em Agrigento as primeiras Servas dos Pobres, verdades heroínas de caridade . Nesta carta, após ter exortado a Irmã a estar tranqüila no meio da tempestade que a circundava, aludindo ao seu antigo desejo das missões estrangeiras e do martírio, prossegue dizendo: “Agrigento é o Noviciado da China, e eu não acredito que a tua alma não aspire em preparar-se para a missão bárbara, onde, juntamente à alegre esperança de ganha as almas que são possuídas pelo demônio, encontraras também a grande consolação de poder dar a vida por Jesus Cristo na infinita sorte do martírio. Estar em Agrigento é um martírio seco, quer dizer, sem derramamento de sangue, sem tortura material mas justamente por isso é um martírio mais elevado, porque os instrumentos de tortura são morais, e o sacrifício se cumpre somente diante de Deus que é a única testemunha dos enormes sacrifícios que se fazem por seu amor... Coragem então, minha filha, e avante, com ânimo tranqüilo e cheio daquela calma que o verdadeiro amor desinteressado é capaz de dar”. Fortalecidas por estas santas exortações as filhas do Pe. Giácomo ficaram firmes em meio as mais duras provações materiais e morais. No entanto a Providência dispunha-se em premiar a fé de seu fiel servo. Por ocasião de uma festa da cidade, houve uma caridosa pessoa que quis dae um suntuoso almoço para todos os Pobres de Agrigento, incluindo as órfãs assistidas pelo Pe. Giácomo. Na ocasião foi feito um grande convite entre as mais distintas Senhoras da aristocracia agrigentina para que assistissem àquele. Estas acorreram em grande número na Casa das Órfãs e ficaram fortemente impressionadas em ver o lugar onde moravam as Servas dos Pobres. Não paravam de chamar aquelas Irmãs de anjos terrestres que, movidas somente pela caridade viviam naquele lugar tão miserável em meio a tantas privações. A nobre Senhora Margarida Montana conseguiu logo uma importância em dinheiro para que a Irmã Vincenzina pudesse reformar aquele local sujo e em ruínas. Muitas obras depois se empenharam para que as autoridades e toda a cidadania se interessassem e viessem em ajuda daquela pobre Casa. O Pe. Giácomo , informado de tudo, acorreu a Agrigento e para organizar este entusiasmo propôs a constituição do Comitê das Damas de Caridade. Esta proposta foi acolhida com ímpeto. O Pe. Giácomo convidou o Monsenhor Turano a dar uma palestra mensal àquelas nobres senhoras para anima-as mais no espírito de caridade. Mas teve que sofrer muito em sua profunda humildade quando o Monsenhor Turano lhe impôs por obediência dar ele mesmo a palestra mensal. Dobrou a cabeça por obediência mas era uma tortura cada vez que devia desenvolver algum tema diante daquelas pias senhoras. Pedia a este ou a outros entre seu amigos para que lhe sugerissem uma idéia, dessem-lhe uma dica para
  • 28. http://sdpbrasil.blogspot.com/ desenvolver ou melhor, que lhe escrevessem toda inteira a palestra para decora-la e recitá-la em Agrigento. Mas por quantos esforços fizesse para preparar-se ou desenvolver algum tema sugerido por alguma amigo, nunca conseguia, no ardor do seu falar acompanhar os conceitos preparados: suas palestras eram sempre espontâneas e sempre eloqüentes, capazes de envolver e levar a qualquer sacrifício as pessoas que o ouviam. Foi assim que em breve toda a Agrigento se entusiasmou pelo Pe. Giácomo e pela sua Obra; a coleta começou a receber abundantes esmolas; todas as classes sócias competiam em ajudar as pobres orfãzinhas, de modo que após algum tempo aquela pobre Casa tornada quase nova, pode oferecer comodamente a hospitalidade a oitenta orfãzinhas que, com sua piedade, tornaram-se a consolação do Servo de Deus.
  • 29. http://sdpbrasil.blogspot.com/ CAPÍTULO VIII Funda um Orfanato Feminino em Terre Rosse – Abre uma Casa para as Órfãs, Pobres e Doentes em Valguarnera Caropepe, uma outra par Órfãs em Monreale e outra para Velhos e orfãzinhas em São Cataldo. Enquanto o Pe. Giácomo se ocupava da fundação da Casa de Agrigento, ia aumentando o número das orfãzinhas na Quinta Casa. Compreendendo bem em sua caridade iluminada que não era bom que as órfãs vivessem juntas com as velhinhas, começou a procurar outro local para instalar as meninas. Foi-lhe oferecida a casinha de Sommariva com um pequeno jardim ao lado na localidade de Terre Rosse a noroeste de Palermo. Precisavam, porém de 26 mil liras: onde consegui-las? O novo Cottolengo encaminha o negócio confiando na Providência. Até a véspera do dia em que devia assinar o contrato, ele não sabia onde encontrar aquele dinheiro. Mas como – lhe diz o Pe. Gambino, o primeiro sacerdote que se uniu a ele para ajuda-lo em sua nobre missão – o senhor precisa de 26 mil liras e amanhã se deve assinar o contrato! Respondeu ele: “O negócio é de grande importância, se Deus o quer, Ele o providenciará”. E o Senhor providenciou. Naquele mesmo dia o nobre e piedoso Senhor Barão Rafael Starrabba oferecia-lhe as 26 mil liras, a serem devolvidas quando pudesse. Nesta Casa, a primeiro de maio de 1882 o Pe. Giácomo alojou trinta órfãs, e separadamente os vinte órfãos que, como foi dito, tinham passado do Refúgio à Quinta Casa junto aos velhinhos. Lá permaneceram por dois anos assistidos pelo próprio Pe. Giácomo que por eles gastou as melhores horas do dia e com imensa alegria cuidava de sua higiene, instrução e educação. Aquele Casa em seguida foi ampliada e totalmente restaurada por outro generoso benfeitor que gastou mais de cem mil liras: o senhor Salvador Celestre, fervido admirador do Pe. Giácomo, de maneira que em poucos anos pode acolher mais de trezentas órfãs, além das Irmãs que cuidavam das meninas. O Monsenhor Domingos Lancia, da família dos Duques de Brolo, Arcebispo de Monreale, no 5.º aniversário da morte do Pe. Giácomo, unindo a sua voz àquela dos vários outros Bispos, que naquela circunstância quiseram honrar a venerada memória do Servo de Deus, assim escrevia: “Recordo com prazer que convidado pelo Pe. Giácomo fui a Terre Rosse para consagrar com as orações da Igreja e a Bênção episcopal, a primeira pedra para a fundação de uma Casa beneficente. A esta feliz inspiração daquele Servo de Deus, não parecia corresponder os recursos humanos. Contudo, não transcorrera muito tempo que eu passei por lá juntamente a ele, e vi com surpresa que daquela pedra surgira, como por encanto, um magnífico edifício onde encontram pão, trabalho, educação religiosa e civil centenas de inocentes órfãs. Era a fé do sacerdote Cusmano que sabia realizar tais milagres”. Multiplicando-se, no entanto, o número de Órfãos e dos Pobres, aumentava sempre mais no Pe. Giácomo o desejo de dar vida à Comunidade dos Irmãos Servos dos
  • 30. http://sdpbrasil.blogspot.com/ Pobres. Ele de fato teve que confiar os primeiros Pobres e Órfãos internados à Quinta Casa a um piedoso capuchinho. Ele era Pe. Antonio de Petralia que, embebido do espírito do seu Seráfico Pai São Francisco, mesmo após a supressão da Ordem Franciscana, mantivera o hábito na espera de tempos melhores. Tendo conhecido o Pe. Giácomo se apegou a ele, e após a inauguração do Asilo da Quinta Casa dedicou-se com ardente zelo à assistência dos Pobres. Queria ligar-se à nova Instituição, mas como já começavam reabrir-se vários conventos da sua Ordem, foi chamado pelos seus superiores. O Pe. Giácomo, entretanto, colocava em Deus sua confiança, seguro que quem lhe dera a possibilidade de reunir a família das Irmãs Servas dos Pobres, tornar-lhe-ia fácil também a fundação dos Irmãos Servos dos Pobres, segundo seu antigo desejo. E o Senhor que queria servir-se dele para dar vida na Igreja a esta nova Instituição, enviou-lhe um bom número de piedosos leigos que, atraídos pela fama de santidade do Servo de Deus, acorreram a ele animados pelo nobre desejo de sacrificar- se inteiramente sobre o altar da caridade. Foi assim que no mesmo ano de 1884 pode dar, juntamente com o hábito, o título de Servos dos Pobres a nove jovens corajosos que formaram o primeiro núcleo da nova família. A eles foram confiados no mesmo local da Quinta Casa, mas em compartimentos separados, tanto os pobres inválidos como os orfãozinhos. Para estes últimos, que trouxe de volta de Terre Rosse, alugou um local do lado da Quinta Casa e deixou Terre Rosse somente para as Órfãs. Este novo local servia exclusivamente como dormitório para os órfãos. Durante o dia, sob a direção dos irmãos ficavam no Asilo para estudar e trabalhar, já que o Pe. Giácomo foi solícito em criar algumas oficinas para educar nas artes e no trabalho, os pobres órfãos, afim de que pudessem tirar desta profissão, um dia, o sustento de sua vida e tornar-se então úteis para si mesmos e para a sociedade. Por volta daquele período, outro sacerdote entre os admiradores do Pe. Cusmano decidia-se a tudo deixar para seguira as pegadas do Servo de Deus. Este foi o Pe. Salvador Boscarini, filho do Barão Antônio, de Valguarnera Caropepe. Jovem de bela inteligência e entusiasta para as obras de caridade, tendo conhecido o Pe. Giácomo aderiu a ele e acabou entrando em São Marcos, onde num pequeno quartinho, ao lado da Igreja, morava o Servo de Deus. Não passou muito tempo e o Pe. Giácomo lhe confiava a direção do Orfanato Feminino de Terre Rosse, assim como ao Pe. Salvatore Gambino que o havia precedido, tinha confiado a direção do Asilo da Quinta Casa. O Pe. Boscarini, desejoso de ajudar as pobres órfãs de sua cidade natal, apressou em apresentar o Pe. Giácomo a alguns nobres senhores daquela cidade. Tendo conhecido o Servo de Deus e visitadas as Casas por ele fundadas em Palermo, ficaram de tal modo entusiasmados, que fizeram todo o possível para ter, a todo custo, as Servas dos Pobres em Valguarnera. Conseguiram da Prefeitura para o Pe. Giácomo um ex-Convento de Franciscanos, distante meia hora da cidade, e com muita insistência pediram-lhe que ali fundasse uma Casa de Misericórdia para as órfãs, os pobres velhos e os doentes da cidade. O Pe. Giácomo, que já dispunha de um bom número de Irmãs, acolheu o convite de bom coração em abril de 1883 viajou para Valguarnera com um grupo de Servas dos Pobres. Enquanto estas preparavam a vasta casa para a beneficência e a santa hospitalidade, ele girava pela cidade, pelas estreitas ruas, lugares de miséria, procurando os pobres para interna-los. Por acaso encontrou um amigo que comovido grita-lhe: “Oh Pe. Giácomo, o céu mandou-vos aqui”, e apontando-lhe uma porta em pedaços de uma
  • 31. http://sdpbrasil.blogspot.com/ parede velha e suja, disse: “Aí dentro estão dois infelizes precisando de ajuda”. O Pe. Giácomo, com o coração palpitante, como se pela primeira vez assistisse a um triste espetáculo, entrou naquele casebre e oh!... Que horrível cena! Num vão de escada incômodo, úmido, preto, onde o ar era abafado pelo mofo e pelo mau cheiro igual ao que provém dos quartinhos sujos dos enfermos, sofria terrivelmente uma mulher. Estava deitada numa esteira, que ocupava quase todo o espaço, esteira formada por uma espécie de grelha de ramos cheios de nós, erguida sobre quatro troncos fixos no chão; sem colchões nem cobertores. A pobre mulher estava com a perna quebrada em três lugares. Diante da porta, numa grande sujeira, estava sentada sua mãe. Tirada à força do lado da filha, sentada encolhida numa pedra com a cabeça reclinada sobre o peito, chorava soluçando. O Pe. Giácomo dirigiu-lhe afetuosamente a palavra. De repente a velha levantou o rosto; oh, que rosto horrendo! Uma casca preta cobria-lhe a olheira; um câncer roia-lhe o olho direito. Não se via nada de tão repugnante: um rosto tão deturpado e que no entanto levava a uma grande compaixão. A pobre velha chorava com o outro olho e as lágrimas caíam sobre sua pele ressequida e cheia de rugas, sobre seus lábios trêmulos e rachados, sobre suas mãos amarelas e ásperas. Oh, infeliz criatura! O Pe. Giácomo estava inclinado amorosamente sobre ela, com a mão sobre seu ombro. Não se pense que naquele momento o Pe. Giácomo estivesse vencendo um sentimento de repugnância porque sua fé viva lhe fazia ver nos Pobres o seu Jesus e os amava profundamente por causa disso; tinha em seu coração o mesmo fogo que aquecia São Francisco quando curava os leprosos e beijava suas chaga. No entanto uma carroça coberta de colchões estava esperando diante da porta. A caridade dos cidadãos, que renasce por causa dos santos exemplos, reacendeu- se naquele momento como um milagre. Bastou uma só palavra do Pe. Giácomo para que todos acorressem para ajudar as infelizes. Porém, somente as Irmãs, as pias criaturas que o Pe. Giácomo comparava às santas mulheres do Calvário, quiseram cumprir o piedoso ofício. A triste caravana encaminhou-se lentamente ao Asilo entre as estreitas vias da cidade, e pelas vias lamacentas do campo, em meio a uma comoção geral. E quando as duas mulheres foram colocadas no leito, depois que as Irmãs lhes deram banho e as vestiram com roupas limpas, o Pe. Giácomo assentou-se ao lado das camas e começou a falar-lhes com aquele fogo e intensidade de afeto próprios dele, sobre a brevidade das dores deste mundo e das delícias eternas do Paraíso. No dia seguinte, após a celebração da santa missa, chorando de alegria, o Pe. Giácomo começou a andar pelas ruas desejoso de caçar os Pobres, como ele dizia brincando. Encontrou um guia, um amigo que o conduzia até a cidade para socorrer outro caso desesperador. Seguiram-no pelo caminho alguns senhores do laicato e do clero e muita gente que soubera do gesto caridoso do dia anterior. Perto da casinha daquelas duas pobres mulheres, as primeiras internadas, num beco sem saída, numa estrada lamacenta, apresentou-se outra cena angustiante. Sobre um leito de tábuas do mesmo comprimento do quartinho no qual se encontrava, mas muito curta para a pessoa que estava deitada, jazia um jovem com a metade do corpo paralisado. O infeliz devia ter sido forte antes, porque era bem robusto e muito alto. Mas agora mexia somente um braço, sua única parte viva, que agitava de cima para baixo como se estivesse tentando procurar alguma coisa ou expulsar suas dores. Daquele casebre escuro saíam tristes gemidos. Eram de uma pobre velha, a mãe que sentada aos pés do filho, lamentava-se pelos reumatismos que lhe atormentavam as pernas.
  • 32. http://sdpbrasil.blogspot.com/ O quarto era pequeno e não dava para se mexerem, nem se podia transportar o enfermo sobre um carro, porque os solavancos o torturariam. Por isso pediu-se uma maca. No entanto o tempo fechou-se e começou uma garoa fina, mas que aos poucos se tornava mais forte. O céu escureceu e as nuvens estavam baixas. Chegou a maca trazida pelas Irmãs. Desta vez foi uma verdadeira e viva disputa: “Não, elas não poderiam carregar este peso, pobres mulheres fracas e cansadas”. Protestavam os senhores. Mas aquelas boas criaturas socorriam porque tinham a força da alma. Lenta e delicadamente pegaram o enfermo, ajudadas pelo Pe. Giácomo e o puseram sobre as almofadas da maca. No ato de erguer a maca com seus braços delicados, quatro senhores fortes e robustos tiraram delas, quase à força bruta, a piedosa carga. E assim, revezando-se, levavam pela via, felizes e orgulhosos sob a chuva que os molhava e com os pés que atolavam na lama. Chegando ao Asilo o Pe. Giácomo tomou entre seus braços o enfermo e colocando-o sobre uma poltrona começou a limpa-lo e penteá-lo com piedoso cuidado, antes amável. Enquanto os outros, enojados profundamente, olhavam a cabeça daquele infeliz que fervilhava de insetos; o Servo de Deus, sorrindo, passava o pente entre seus cabelos emaranhados. Também ele, o Pe. Giácomo teve que trocar a roupa. Depois voltou sereno, feliz e com o rosto transfigurado. Correu então até um senhor que tinha-se prestado com maior entusiasmo em ajudar o transporte daquele paralítico, e com os olhos cheios de lágrimas e voz trêmula, abraçou-o e beijou-o chamando-o com os doces nomes de amigo, irmão e benfeitor... Todos então choravam ao seu redor. Aconteceram muitas cenas semelhantes a esta até que o Asilo ficou repleto de todos os Pobres que podia conter. Foi então que o Pe. Giácomo voltou para Palermo deixando os habitantes de Valguarnera cheios de admiração pela sua heróica caridade. Em Palermo encontrou o Pároco José Soldano que o convidou a enviar a Monreale, sua cidade, algumas Irmãs para abrir o internato para as pobres órfãs. Oferecia-lhe uma grande casa desabitada na estrema periferia da cidade, usada um tempo como casa de Exercícios Espirituais, por isso chamada de Casa Santa. O Pe. Giácomo aceitou o convite e dispondo de tudo que precisava para o bom êxito dessa nova fundação, no Natal do mesmo ano mandou a Irmã Vincenzina, que ele chamara de Agrigento para a Casa Central de São Marcos, juntamente a outras Irmãs a Monreale. Contemporaneamente recebeu um outro convite por parte do Prefeito de São Cataldo, o Cavalheiro Salvatore Baglio. Tendo este conhecido as várias fundações feitas pelo Pe. Giácomo e querendo providenciar uma melhor assistência aos Pobre de São Cataldo que se encontravam internados num antigo Convento de Capuchinhos, assistidos por pessoas pagas, dirigiu- se ao Pe. Cusmano para pedir-lhe as Irmãs. Também este convite ele aceitou de bom grado, e em julho de 1884 inaugurou esta outra Casa de Misericórdia que, em seguida, além dos Pobres, velhos e doentes, começou a hospedar também as meninas pobres. E assim, num período de quatro anos, o Pe. Giácomo tinha a consolação de ver a sua Obra começar a difundir-se em toda a Sicília para a consolação de tantos Pobres.
  • 33. http://sdpbrasil.blogspot.com/ CAPÍTULO IX Assiste as orfãzinhas de Terre Rosse durante a epidemia de cólera – Funda a Colônia Agrícola de São José Jato. Já chegamos, nestes breves traços da vida do Pe. Giácomo ao ano de 1885; isto é, naquele ano de triste recordação no qual a bela cidade de Palermo vinha sendo cruelmente provada pela epidemia asiática. Logo estourou a cólera os mortos pelo contágio aumentavam cada dia vertiginosamente. O medo tomou conta de todos os cidadãos; bem-aventurado se achava quem podia fugir da cidade. Fechadas a maioria das lojas e parado o comércio, a cidade assumiu um aspecto desolador. A prefeitura, para cuidar da saúde pública, elegeu uma comissão sanitária com plenos poderes, chefiada pelo Dr. Henrique Albanese. No início da epidemia foram abertas várias enfermarias onde eram conduzidos à força todos aqueles que eram atingidos pelo mal; precaução necessária mas que não deixava de se tornar desoladora a quem a ele sujeitava-se. Como poder expressar o que sofreu o Pe. Giácomo nesta triste circunstância! Além da precariedade dos meios materiais de subsistência das órfãs e dos pobres por causa do enfraquecimento da coleta devido aos tempos anormais, era atormentado pela idéia do que poderia acontecer às órfãs e às Irmãs se o mal penetrasse nas três Casas já existentes em Palermo. O bom padre não sabia resignar-se à idéia de ver suas queridas filhas transportadas a uma enfermaria pública em contato com todo tipo de pessoas. Como fugir de tal perigo? Valendo-se de sua antiga amizade com o Dr. Albanese, conseguiu a permissão para construir no jardim do Orfanato Feminino de Terre Rosse uma barraca de madeira para ser usada como enfermaria, no caso de alguma Irmã ou Órfã se atingida pelo mal. A barraca bem grande e capaz de conter vinte leitos e vários quartinhos para isolar os casos mais graves, provida de tudo o quanto a ciência exigia para enfrentar a terrível doença, surgiu como que por encanto. Aos 30 de setembro daquele ano, tendo já se verificado entre as órfãs alguns casos suspeitos, o Pe. Giácomo toma a heróica resolução de fechar-se juntamente a duas Irmãs escolhidas como enfermeiras e a duas órfãs entre as mais adultas como assistentes. Faltavam ainda as janelas a serem terminadas, enquanto um jovem marceneiro trabalhava nelas, viu no interior da barraca uma pobre orfãzinha que vomitava. Ficou de tal forma impressionado que começou a perturbar-se e também ele sentiu-se atingido pelo mal. O Pe. Giácomo corre em sua ajuda, dá-lhe os primeiros remédios, convence-o a confessar-se e com uma carroça manda-o para casa. Naquela mesma noite o pobre jovem faleceu. Todo o mês de outubro o Pe. Giácomo ficou trancado naquela barraca para assistir às doentes que eram tratadas pelo Dr. Di Bella, o qual gratuitamente oferecia seus serviços. Cerca de oitenta doentes foram transportadas àquela barraca, e entre elas somente duas Irmãs e duas órfãs com imensa dor do bom padre, perderam sua vida. em todo este tempo ele não tirou o seu hábito nem deitou-se. Todas as noites, após ter respondido as cartas que recebia das outras Casas, preocupadas e com razão pela sua preciosa saúde, dedicava o tempo que lhe sobrava para a oração. Permanecia de joelhos aos pés do altar que erigira naquela barraca e onde todos os dias celebrava a santa missa. Naquela mesma barraca, por meio de um porta-voz, ele dava suas disposições para o governo da Congregação.