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Risco: conceitos e aplicações para
a medicina de família e
comunidade
Michael Schmidt Duncan
Adelson Guaraci Jantsch
1
Conceitos
• Risco:
2
Probabilidade de ocorrer um desfecho indesejado.
• Fatores de Risco: Características que estão associadas a
um aumento no risco.
F D
Aplicações
• Etiologia
• Diagnóstico
• Tratamento
– Estratificação de risco
– Riscos do tratamento
• Prognóstico
• Prevenção
3
Modelo da causa suficiente
4
Modelo da causa suficiente
5
Modelo da causa suficiente
6
Modelo da causa suficiente
7
GENÉTICA
AMBIENTE
COMPORTA
MENTO
HIPERTENSÃO
OBESIDADE
DESNUTRIÇÃO
DOENÇAS
CARDÍACAS
DIABETES
INTERVENÇÕES PROMOCIONAIS,
PREVENTIVAS CURATIVAS E
REABILITADORAS
DETERMINANTES
DISTAIS
FATORES DE
RISCOS
PROXIMAIS
RISCOS
FISIOLÓGICOS DANOS E
DOENÇAS
FATORES
SÓCIO-
ECONÔMICO
S
MORTALIDADE
MORBIDADE
INCAPACIDADE
MODELO DE INTERVENÇÃO NAS
DOENÇAS CARDIOVASCULARES E
NO DIABETES
FONTE: WORLD HEALTH ORGANIZATION (2004)
RESULTADOS
Causas proximais e distais:
mortalidade infantil
9
Causas distais
Causas proximais
Renda
Escolaridade materna
Cobertura de serviços de saúde
Cuidados de pré-natal
Acompanhamento de puericultura
Tabagismo na gestação
Baixo peso ao nascer
Infecções respiratórias e gastroenterites
Desnutrição
O PROGRAMA DE SAÚDE DA
FAMÍLIA E A MORTALIDADE
INFANTIL NO BRASIL
• AUMENTO DE 10% NA COBERTURA DE
EQUIPES DE PSF IMPLICA A
DIMINUIÇÃO DE 4,6% NA TAXA DE
MORTALIDADE INFANTIL
• AUMENTO DE 10% NO ACESSO A AGUA
IMPLICA A DIMINUIÇÃO DE 3,0% DA
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL
• AUMENTO DE 10% NOS LEITOS
HOSPITALARES IMPLICA A DIMINUIÇÃO
DE 1,3% NA TAXA DE MORTALIDADE
INFANTIL
FONTE: MACINKO ET ALII (2005)
Determinantes da Saúde
Walgren e Whitehead
Fatores que dificultam o estudo
do risco
• Pode haver longo período de latência
• Exposições muito comuns
• Baixa incidência de doenças
• Causas e efeitos múltiplos
• Os fatores de risco não precisam ser causais
• Causas e efeitos múltiplos
12
Causas e efeitos múltiplos
13
FATORES DE RISCO
Hipercolesterolemia
História familiar
Deficiência de tiamina
Doença vascular
Infecção viral
Fumo
Diabetes
Álcool
Hipertensão
Insuficiência
cardíaca
congestiva
DOENÇAS
Aterosclerose
AVC
Insuficiência renal
Infarto do miocárdio
Medidas de efeito
14
Medidas de efeito
15
Ferramentas de predição de risco
• Combinam diversos fatores de risco em um
escore
• Auxiliam na estratificação de risco
• Avaliação das ferramentas:
– Calibração: quão bem a ferramenta determina as
proporções de pessoas que irão ou não
desenvolver a doença (E/O)
– Discriminação: quão bem a ferramenta identifica
os indivíduos que irão ou não desenvolver a
doença (estatística-C)
16
Fatores de risco vs. Fatores
prognósticos
• Perfis diferentes de pacientes
• Desfechos diferentes
• Taxas diferentes
• Os fatores podem ser diferentes
17
Risco reduzido
de morte
Risco aumentado
de morte
Fatores de risco e fatores prognósticos
no primeiro infarto
18
0
1
2
3
4
5
Fatoresderisco
Razão de chances ajustada (IC 95%)
0,5 1,0 1,5 2,0
O que é anormal?
• Anormal = incomum
• Anormal = associado a doença
• Anormal = tratar a condição leva a um melhor
desfecho clínico
19
Reduzindo o risco: atividades
preventivas
• Quando fazer?
• Como fazer?
• Há limites?
20
Ideias de Geoffrey Rose
• Contínuo de risco e
severidade
• Estratégia Preventiva de
Alto-Risco
• Estratégia Preventiva de
Amplitude Populacional
21
Contínuo de Risco e Severidade
• Doenças: o que são?
• O que mudou no conceito de doença nas
últimas décadas?
• Hepatite A
• AVC
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O que é uma pessoa saudável?
• É alguém que ainda não foi avaliado
completamente…
Meador CK. The Last Well Person. NEJM. 1994
Identificando uma pessoa saudável
O que é paradoxal na nossa grande capacidade
diagnóstica é que ainda não há um teste que
distinga uma pessoa saudável de uma pessoa
doente. Ser saudável é uma condição que não
pode ser rastreada. Não há substância no
sangue ou na urina cujo nível seja
confiavelmente elevado ou baixo em pessoas
saudáveis.
Identificando uma pessoa saudável
Nenhuma sombra ou imagem radiológica
indica alguém saudável. Não há tecido que
possa ser submetido a biópsia para provar
que uma pessoa está bem. Estar saudável é
algo que não pode ser medido, e ainda
assim, buscamos avaliá-lo com métodos
analíticos.
Em que nível deve-se intervir?
MEDICALIZAÇÃO
Armando Norman 2013 27
Aprendizado
• ‘Um grande número de pessoas sujeitas a
um pequeno risco gera mais casos de
doenças do que um pequeno número de
pessoas sujeitas a um grande risco’
(Rose, 2010)
Armando Norman 2013 28
Estratégia Preventiva de Alto Risco
Vantagens Desvantagens
Apropriada ao individuo Dificuldades e custo do rastreamento
Sujeito mais facilmente motivado Paliativo e temporário – não radical
Profissionais de saúde mais facilmente
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b) populacional
Custo efetivo
Relação risco benefício favorável Comportamentalmente inapropriado
Armando Norman 2013 29
Armando Norman 2013 30
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Estratégia Preventiva de Amplitude Populacional
Vantagens Desvantagens
Radical Pequeno benefício individual
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população como um todo
Baixa motivação dos indivíduos
Comportamentalmente apropriada Baixa motivação dos profissionais de
saúde
Relação risco benefício ‘desfavorável’
Armando Norman 2013 32
Paradoxo da Prevenção
• A medida preventiva que traz maior
benefício a população oferece pouco
benefício a cada indivíduo participante.
Armando Norman 2013 33
Estratégia de Amplitude Populacional e
Estratégia de Alto Risco
• No contato com o paciente
individualmente, o médico precisa abordar
aqueles com alto risco, mas nas políticas
de saúde a ênfase deve ser sobre a
exposição da população como um todo;
Armando Norman 2013 34
Geoffrey Rose
Armando Norman 2013 35
• Whitehall Study I foi produzido para
ser o “Framingham Britânico”.
Mostrou que os marcadores
tradicionais (hipertensão,
colesterol, diabetes, obesidade,
etc) explicavam apenas 1/3 da
diferença de morbimortalidade
entre os servidores públicos
situados no topo do organograma
administrativo e aqueles que
ocupavam níveis mais baixos da
mesma instituição pública.
Whitehall Study II (década de 80)
• População alvo: servidores públicos de 20
departamentos do Whitehall
• Homens e mulheres
• Idade de entrada: 35 a 55 anos
• Amostra alcançada: 10.308 3.413 (M); 6.895 (H)
• Função: auxiliares administrativos (clerical) e outros
profissionais de apoio; executivos intermediários e
executivos seniores
Armando Norman 2013 36
Armando Norman 2013 37
Armando Norman 2013 38
Principais resultados do WH II
• Foi possível confirmar a relação inversa entre a posição
socioeconômica e DAC, DM e Síndrome Metabólica
• Forneceu evidência adicional de processos específicos
fisiopatológicos, comportamentais e psicológicos – incluídos
mecanismos neuroendócrinos, inflamatórios e homeostáticos –
que contribuem para a iniquidades em saúde.
Armando Norman 2013 39
Michael Marmot O baixo controle sobre o processo de
trabalho é um preditor de Doença Arterial
Coronariana (DAC), independentemente do
status social, e é responsável por metade
do gradiente social para doenças
cardiovasculares.
Para Marmot, três principais fatores
influenciam o gradiente social em saúde: o
senso subjetivo de controle sobre suas
circunstâncias de vida (laboral e familiar), o
grau de coesão social e a rede de suporte
(família, amigos e/ou colegas de trabalho).
Segundo ele, quanto maior a coesão social,
melhores os desfechos em saúde, tanto
para ricos como para pobres. Nas
sociedades menos desiguais, o senso de
pertencer, de coesão social e de segurança
são maiores e por isso, os efeitos benéficos
sobre a saúde ocorrem também para os
mais ricos nestas sociedades.
Armando Norman 2013 40
Armando Norman 2013 41
Armando Norman 2013 42
Armando Norman 2013 43
Armando Norman 2013 44
Armando Norman 2013 45
Armando Norman 2013 46
Armando Norman 2013 47
• Perigo?
• Risco?
• Medo?
Armando Norman 2013 48
Perigo, Risco, Medo!!!
• Entre as comunidades rurais nigerianas existe um
antigo costume de esfregar esterco de gado no
coto umbilical dos recém-nascidos, apesar de 1/3
deles morrerem de tétano
• Nas comunidades modernas ocidentais ainda
persiste o costume de se comer de forma muito
imprudente, apesar de 1/3 da população morrer
de doenças cardiovasculares;
• O comum tem sido confundido com o saudável e
por vezes o comum pode ser doentio.
Armando Norman 2013 49
Paradoxo da popularidade
• O paradoxo da popularidade:
• Quanto maior o sobre-
diagnóstico e sobre-tratamento,
mais as pessoas acreditam que
devem sua saúde ou mesmo
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Medidas de efeito
51
Aprendizado
• ‘Um grande número de pessoas sujeitas a
um pequeno risco gera mais casos de
doenças do que um pequeno número de
pessoas sujeitas a um grande risco’
(Rose, 2010)
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Se você não parar de
fumar você vai ter um
INFARTO!
De acordo com nossas
previsões o risco de você
ter uma evento cardíaco
em 10 anos é de 20%!
Se você não tratar
a pressão você
pode ter um
derrame!
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BARBARA STARFIELD:
“É útil ainda esse conceito de
prevenção cada vez mais
focado em uma doença em
particular e fatores de risco,
do que na saúde em seu aspecto geral?”
“Se ainda muitas pessoas carecem
de acesso aos serviços de saúde
quando sentem a necessidade
de buscá-lo, é justificável que consultas
de rotina para check up constituam
quase metade das consultas médicas
nos Estados Unidos?”
The concept of prevention: a good idea gone astray?
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  • 1. Risco: conceitos e aplicações para a medicina de família e comunidade Michael Schmidt Duncan Adelson Guaraci Jantsch 1
  • 2. Conceitos • Risco: 2 Probabilidade de ocorrer um desfecho indesejado. • Fatores de Risco: Características que estão associadas a um aumento no risco. F D
  • 3. Aplicações • Etiologia • Diagnóstico • Tratamento – Estratificação de risco – Riscos do tratamento • Prognóstico • Prevenção 3
  • 4. Modelo da causa suficiente 4
  • 5. Modelo da causa suficiente 5
  • 6. Modelo da causa suficiente 6
  • 7. Modelo da causa suficiente 7
  • 8. GENÉTICA AMBIENTE COMPORTA MENTO HIPERTENSÃO OBESIDADE DESNUTRIÇÃO DOENÇAS CARDÍACAS DIABETES INTERVENÇÕES PROMOCIONAIS, PREVENTIVAS CURATIVAS E REABILITADORAS DETERMINANTES DISTAIS FATORES DE RISCOS PROXIMAIS RISCOS FISIOLÓGICOS DANOS E DOENÇAS FATORES SÓCIO- ECONÔMICO S MORTALIDADE MORBIDADE INCAPACIDADE MODELO DE INTERVENÇÃO NAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES E NO DIABETES FONTE: WORLD HEALTH ORGANIZATION (2004) RESULTADOS
  • 9. Causas proximais e distais: mortalidade infantil 9 Causas distais Causas proximais Renda Escolaridade materna Cobertura de serviços de saúde Cuidados de pré-natal Acompanhamento de puericultura Tabagismo na gestação Baixo peso ao nascer Infecções respiratórias e gastroenterites Desnutrição
  • 10. O PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA E A MORTALIDADE INFANTIL NO BRASIL • AUMENTO DE 10% NA COBERTURA DE EQUIPES DE PSF IMPLICA A DIMINUIÇÃO DE 4,6% NA TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL • AUMENTO DE 10% NO ACESSO A AGUA IMPLICA A DIMINUIÇÃO DE 3,0% DA TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL • AUMENTO DE 10% NOS LEITOS HOSPITALARES IMPLICA A DIMINUIÇÃO DE 1,3% NA TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL FONTE: MACINKO ET ALII (2005)
  • 12. Fatores que dificultam o estudo do risco • Pode haver longo período de latência • Exposições muito comuns • Baixa incidência de doenças • Causas e efeitos múltiplos • Os fatores de risco não precisam ser causais • Causas e efeitos múltiplos 12
  • 13. Causas e efeitos múltiplos 13 FATORES DE RISCO Hipercolesterolemia História familiar Deficiência de tiamina Doença vascular Infecção viral Fumo Diabetes Álcool Hipertensão Insuficiência cardíaca congestiva DOENÇAS Aterosclerose AVC Insuficiência renal Infarto do miocárdio
  • 16. Ferramentas de predição de risco • Combinam diversos fatores de risco em um escore • Auxiliam na estratificação de risco • Avaliação das ferramentas: – Calibração: quão bem a ferramenta determina as proporções de pessoas que irão ou não desenvolver a doença (E/O) – Discriminação: quão bem a ferramenta identifica os indivíduos que irão ou não desenvolver a doença (estatística-C) 16
  • 17. Fatores de risco vs. Fatores prognósticos • Perfis diferentes de pacientes • Desfechos diferentes • Taxas diferentes • Os fatores podem ser diferentes 17
  • 18. Risco reduzido de morte Risco aumentado de morte Fatores de risco e fatores prognósticos no primeiro infarto 18 0 1 2 3 4 5 Fatoresderisco Razão de chances ajustada (IC 95%) 0,5 1,0 1,5 2,0
  • 19. O que é anormal? • Anormal = incomum • Anormal = associado a doença • Anormal = tratar a condição leva a um melhor desfecho clínico 19
  • 20. Reduzindo o risco: atividades preventivas • Quando fazer? • Como fazer? • Há limites? 20
  • 21. Ideias de Geoffrey Rose • Contínuo de risco e severidade • Estratégia Preventiva de Alto-Risco • Estratégia Preventiva de Amplitude Populacional 21
  • 22. Contínuo de Risco e Severidade • Doenças: o que são? • O que mudou no conceito de doença nas últimas décadas? • Hepatite A • AVC • Neoplasias Armando Norman 2013 22
  • 23. O que é uma pessoa saudável? • É alguém que ainda não foi avaliado completamente… Meador CK. The Last Well Person. NEJM. 1994
  • 24. Identificando uma pessoa saudável O que é paradoxal na nossa grande capacidade diagnóstica é que ainda não há um teste que distinga uma pessoa saudável de uma pessoa doente. Ser saudável é uma condição que não pode ser rastreada. Não há substância no sangue ou na urina cujo nível seja confiavelmente elevado ou baixo em pessoas saudáveis.
  • 25. Identificando uma pessoa saudável Nenhuma sombra ou imagem radiológica indica alguém saudável. Não há tecido que possa ser submetido a biópsia para provar que uma pessoa está bem. Estar saudável é algo que não pode ser medido, e ainda assim, buscamos avaliá-lo com métodos analíticos.
  • 26. Em que nível deve-se intervir? MEDICALIZAÇÃO
  • 28. Aprendizado • ‘Um grande número de pessoas sujeitas a um pequeno risco gera mais casos de doenças do que um pequeno número de pessoas sujeitas a um grande risco’ (Rose, 2010) Armando Norman 2013 28
  • 29. Estratégia Preventiva de Alto Risco Vantagens Desvantagens Apropriada ao individuo Dificuldades e custo do rastreamento Sujeito mais facilmente motivado Paliativo e temporário – não radical Profissionais de saúde mais facilmente motivados Potencial limitado: a) individual b) populacional Custo efetivo Relação risco benefício favorável Comportamentalmente inapropriado Armando Norman 2013 29
  • 32. Estratégia Preventiva de Amplitude Populacional Vantagens Desvantagens Radical Pequeno benefício individual Tem grande potencial para a população como um todo Baixa motivação dos indivíduos Comportamentalmente apropriada Baixa motivação dos profissionais de saúde Relação risco benefício ‘desfavorável’ Armando Norman 2013 32
  • 33. Paradoxo da Prevenção • A medida preventiva que traz maior benefício a população oferece pouco benefício a cada indivíduo participante. Armando Norman 2013 33
  • 34. Estratégia de Amplitude Populacional e Estratégia de Alto Risco • No contato com o paciente individualmente, o médico precisa abordar aqueles com alto risco, mas nas políticas de saúde a ênfase deve ser sobre a exposição da população como um todo; Armando Norman 2013 34
  • 35. Geoffrey Rose Armando Norman 2013 35 • Whitehall Study I foi produzido para ser o “Framingham Britânico”. Mostrou que os marcadores tradicionais (hipertensão, colesterol, diabetes, obesidade, etc) explicavam apenas 1/3 da diferença de morbimortalidade entre os servidores públicos situados no topo do organograma administrativo e aqueles que ocupavam níveis mais baixos da mesma instituição pública.
  • 36. Whitehall Study II (década de 80) • População alvo: servidores públicos de 20 departamentos do Whitehall • Homens e mulheres • Idade de entrada: 35 a 55 anos • Amostra alcançada: 10.308 3.413 (M); 6.895 (H) • Função: auxiliares administrativos (clerical) e outros profissionais de apoio; executivos intermediários e executivos seniores Armando Norman 2013 36
  • 39. Principais resultados do WH II • Foi possível confirmar a relação inversa entre a posição socioeconômica e DAC, DM e Síndrome Metabólica • Forneceu evidência adicional de processos específicos fisiopatológicos, comportamentais e psicológicos – incluídos mecanismos neuroendócrinos, inflamatórios e homeostáticos – que contribuem para a iniquidades em saúde. Armando Norman 2013 39
  • 40. Michael Marmot O baixo controle sobre o processo de trabalho é um preditor de Doença Arterial Coronariana (DAC), independentemente do status social, e é responsável por metade do gradiente social para doenças cardiovasculares. Para Marmot, três principais fatores influenciam o gradiente social em saúde: o senso subjetivo de controle sobre suas circunstâncias de vida (laboral e familiar), o grau de coesão social e a rede de suporte (família, amigos e/ou colegas de trabalho). Segundo ele, quanto maior a coesão social, melhores os desfechos em saúde, tanto para ricos como para pobres. Nas sociedades menos desiguais, o senso de pertencer, de coesão social e de segurança são maiores e por isso, os efeitos benéficos sobre a saúde ocorrem também para os mais ricos nestas sociedades. Armando Norman 2013 40
  • 48. • Perigo? • Risco? • Medo? Armando Norman 2013 48
  • 49. Perigo, Risco, Medo!!! • Entre as comunidades rurais nigerianas existe um antigo costume de esfregar esterco de gado no coto umbilical dos recém-nascidos, apesar de 1/3 deles morrerem de tétano • Nas comunidades modernas ocidentais ainda persiste o costume de se comer de forma muito imprudente, apesar de 1/3 da população morrer de doenças cardiovasculares; • O comum tem sido confundido com o saudável e por vezes o comum pode ser doentio. Armando Norman 2013 49
  • 50. Paradoxo da popularidade • O paradoxo da popularidade: • Quanto maior o sobre- diagnóstico e sobre-tratamento, mais as pessoas acreditam que devem sua saúde ou mesmo suas vidas ao programa. NNT
  • 52. Aprendizado • ‘Um grande número de pessoas sujeitas a um pequeno risco gera mais casos de doenças do que um pequeno número de pessoas sujeitas a um grande risco’ (Rose, 2010) Armando Norman 2013 52
  • 53. Se você não parar de fumar você vai ter um INFARTO! De acordo com nossas previsões o risco de você ter uma evento cardíaco em 10 anos é de 20%! Se você não tratar a pressão você pode ter um derrame! Armando Norman 2013 53
  • 54. BARBARA STARFIELD: “É útil ainda esse conceito de prevenção cada vez mais focado em uma doença em particular e fatores de risco, do que na saúde em seu aspecto geral?” “Se ainda muitas pessoas carecem de acesso aos serviços de saúde quando sentem a necessidade de buscá-lo, é justificável que consultas de rotina para check up constituam quase metade das consultas médicas nos Estados Unidos?” The concept of prevention: a good idea gone astray? J Epidemiol Community Health 2008; 62:580-583