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Versar
  Iran Maia




            5
  Rio de Janeiro/RJ
        Iran Maia
        2010
6
Iran Maia
Iran Maia nasceu na Bahia em 19 de
setembro de 1991. Aos quatro anos
de idade sua mãe já havia o
ensinado a ler e escrever e lhe
comprava toda semana várias                       Edição e diagramação:
revistas em quadrinhos. Um tio dele                                     Iran Maia
amava levá-lo para passear porque o
achava muito inteligente e gostava                                        Contato:
de exibi-lo para os amigos, por
algum motivo isso atraia as                   iranmaia@hotmail.com.br
mulheres. Cresceu passando manhãs
a fio entre leituras obrigatórias e                   twitter.com/IranMaia
caligrafia antes da escola, muito
mais que matemática.                    poeta-andarilho.blogspot.com
Foi nesse ambiente onde leitura e
escrita tinham tanta importância que
a obrigação se juntou ao amor e
muito cedo começou a escrever os
primeiros versinhos (de amor do
tipo: “Meu amor, você é uma flor” e
as primeiras historinhas que
geralmente tinham pessoas fortes
que voavam ou seres estranhos que
se transformavam e ficavam com
uma roupa com capacete,
geralmente oriundos de desenhos
japoneses.
Na 5ª série (atual 6º ano) se
apaixonou por uma linda garotinha,
sua colega de classe, o grande amor
de sua vida, para quem escreveu
seus poemas mais românticos.
Aluno muito aplicado passou em 3º
lugar no CEFET-BA uned Valença,
no curso de informática, na cidade
onde morou por cinco anos, graças
ao ótimo desempenho que teve com         Copyright © 2009. Todos os direitos reservados. Você
as ciências não exatas. Atualmente       pode copiar, exibir, distribuir, executar. Não pode criar
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grandes planos para o futuro, planos Qualquer a devida permissão do autor. Clique aqui.
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esses que a vida ainda não lhe deu
tempo de realizar.
Para o único e grande amor da minha vida,
grande amiga e sempre amada a quem dedico todo
versar e viver.
       Para minha mãe, sem seu apoio nada me
seria possível.




                        8
                    Iran Maia
Sumário

09-Eu te amo                 41-Definição de mim
11-Desejo de amor            42-Piedade!
12-À amada                   43-Amores que amei
13-Na praia                  44-Desabafo
14-A falta                   45-Soneto de amor
16-Sofrer                    46-Tua imagem
17-Nau                       47-Campos da vida
18-O andarilho               48-Vem minha amada
19-Quem é ela?               49-Cantarei
20-Eu ladrão                 50-Ardente paixão
21-Minha bela                51-Brado
22-Bons sentimentos          52-Jurema
23-Olá tristeza              53-Na tarde que quebra
24-Querida                   54-Fim
25-Grande desejo             55-Lucy
26-Teu nome                  56-À bela
27-Ao amor                   57-Meu sol
28-Afrodite                  58-Turmas nebulosas
29-O que me importa?         59-Serafins
30-Maria                     61-Tua caligrafia
31-Felicidade em mim         62-Júlia
maior                        64-A hélice
32-Eu disse                  65-Marina
33-Horas a fio               66-Bela amizade
34-Momento                   67-Mãe negra
35-Tenho medo de te          68-Eu sou
amar                         69-Não serei
36-Palavras à toa            71-O poeta
37-Dia-a-dia                 72-Espanto
38-Poema da dor total        73-Do povo
39-Todo amor que tive        74-Verdadeiro hino
40-Quero cantar a            nacional
mulher                       77-Mentira!
                         9
                   Qualquer Versar
78-Histórias perdidas          89-Poema inexpressivo
79-A morte do poeta            90-Maldade
80-Doces doidices              91-Por que choras?
81-Vida                        92-Infância
82-Desabafo do melro           93-Pião
83-Dor infantil                94-Outono
84-Eu fui à lua                95-Noite soturna
85-Os fortes                   96-Eu que era o menino
86-O caminho                   puro
87-Jogo da vida                97-Clara
88-Confusão




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                        Iran Maia
6
Iran Maia
Eu te amo


Quando me vierem as marcas,
dos lábios teus,
alegres a dizer-me que acabou,
morrerei por dentro,
chorarei o perdido intento de te amar,
pois não serão nos meus.
Correrei pro infinito
e findarei lá,
romperei em meus braços o mar
em um nado insano no intuito de afogar
lágrimas que teimarão em descer doidamente,
atravessarei esse oceano de inutilidades
pungentes
e lamentarei esse amor da gente,
que nunca existiu.

Mas, ai,
basta-me ouvir de teus lábios um ai
para empenhar-me num nado sagaz
em regresso a esse cais,
essa marina onde aporta o amor.
Em tua presença,
outrora eu sozinho,
quando teus olhos derem-me lágrimas
por outro ser que te negou carinho,
desgraçado que chamastes amorzinho,
te direi agora baixinho,
num terno abraço,

                    9
                Iran Maia
teu ninho e regaço:
– Não chora tanto
que esse teu pranto
é mais duro que as cadeias de aço
que rompi pra te amar.
Eu sofro, me desgraço,
mas vem pros meus braços,
pois eu te amo.




                     10
                 Iran Maia
Desejo de amor


Te amei mais que o amor,
te admirei a todo instante.
Não cante...
o verbo amar é sofrer.

Disse que o amor é belo.
Queria eu o amor.. o teu.
Agora vejo que ele é cego.
Brisa que acalma, dor que faz crescer.

Cresci,
e continuei amando a dor insana
e admirando te ver, vivi.
Não cante o instante, amante,
olha agora, o passado se foi.




                     11
               Qualquer Versar
À amada


Amada,
não se engane com meu jeito imaturo,
pois sou porto seguro
em rotas de escuro, iluminado pelo teu olhar.
Verso teu sexo – mulher – minha dor.
Entenda, aprenda a prenda que é meu amor.

Linda,
quando tua luz se acende
meu ser entende
que eternidade está por vir.
Tua é minha glória e todo o universo
compreenderá que meu verso
está anexo a ti.

Entenda,
minha poesia tornar-te-á lenda,
então alegria haverá como jamais houve.
Mas ouve,
meus versos trarão contenda
e eterna comigo serás.




                      12
                  Iran Maia
Na praia


A lua banha com sua sólida solidão,
o vento acalenta dando alento, consolo.
Ruge o mar um lamento, diz que profundos amores
não morrem, tornam-se em profundos ódios e
dores.

Conto estrelas pra lembrar de esquecer
que só falta você
pra não me faltar mais nada,
então falta-me tudo.

Aluí com esse amor que é minha força e covardia
e meu pesar cintila, sem alegria,
na areia do cais,
corro parado como se não fosse ser feliz jamais.

A noite me impede de te ver numa distância
desmedida.
Quero que saibas, querida,
que não és mais razão do meu viver,
e sim toda minha vida.




                    13
              Qualquer Versar
A falta


Um anjo, o que és,
que me caiu de algum lugar, alguma vez
e desse lugar não me saiu, vez alguma.
Eu quem parti para um destino incerto de te ver,
e o que me resta... não sei.

Fiquei com esse caminhar vago,
essa imensa falta de afago,
essa saudade, sentimento fosco e mau pago
que só eu posso compreender.

Fiquei com esse olhar no luar
quando era teu olhar que eu queria ver.
Esse respeito pela noite a me chamar,
medo da imensidão ao cantar,
medo de perder... de te perder.

Fiquei com esse coração queimado,
amargura sangrenta querendo me afogar nas
vagas do mar,
perdido e magoado
na cidade cinzenta,
essa cólera que me quer matar.

Fiquei com essa impiedade de mim mesmo,
essa vontade de chorar diante de tua beleza,
esse som de passos que dou a esmo
tendo como companhia a tristeza

                      14
                  Iran Maia
quando queria que fosse você.

Fiquei com esse vagar solto,
essa inércia incorrigível,
essa resignação que me deixa envolto
na consciência do meu ser desprezível,
essa falta inconcebível de você.

Fiquei com essa vontade do que foi tornar a ser,
esse sonho irreprimível que não quer se perder,
essa incoerência da vida, esse nunca poder.
Quem vê diz que tenho tudo,
na verdade, me falta você.

Me falta ver teu sorriso,
sentir teu abraço aqui comigo,
ouvir tua voz me chamando amigo.
Me falta sentir teus olhos nos meus
e ser feliz. Me falta você.




                     15
               Qualquer Versar
Sofrer


                   Só,
                 Então.
               Meu irmão,
              Por hoje só.
             Diga que sofri,
            Que me acalmei,
             Que desandei,
               Desesperei
              Porque amei,
             Eu me afoguei
             E se eu chorei
              Foi por amor,
              Pela tristeza
               E pela dor
              De te perder,
              Mas eu lutei
              Por ti, enfim.
Por Deus, por mim, diga que ela regresse,
  Que ouça essa minha prece de amor.
              Quero te ver,
              Quero te ter,
              Quero viver,
              Quero sorrir
               E te sentir
             E se eu morrer
               É de amor
                  Por ti,
                   Só.

                 16
             Iran Maia
Nau


               Nau
             errante
            á deriva,
         sob vento forte,
          belo mar azul,
    não foges porque sabes:
   não é um destino a morte,
  é um tufão que vem do norte
e ao sul a minha senhora chora,
              sofre,
               luta
             e ama.
Nau, navegas uma vida heróica,
 depois essa aventura histórica
    se afogará em triste mar.
   Vê, o vento que vem vaga,
  cheio de choro o mar chega.
    Chega! Não, não chora!




           17
     Qualquer Versar
O andarilho


Saudoso o andarilho
anda sobre os trilhos
por onde a cidade fumegante vai e vem.
O trem que morre,
a multidão que corre,
mas é tudo vivo.
Talvez os gris da vida
sejam reflexos dum interior repleto de vazio.
Acima o firmamento
sopra ríspido vento
em seus olhos quase a chorar.
Não lamento,
estranho a saudade que me consola,
assola é a multidão
mesquinha e vil,
pois ninguém viu
o talento com que o amor massacra.
Saudoso o andarilho
perde o brilho
pois não gastou todas as infinitas palavras,
nem expressou infinitamente o que sente no peito
e agora, longe, nos longes,
tanto quanto se pode chegar,
deseja a amada,
nem que seja um olhar.
Um caloroso e amigo abraço o levaria à glória,
mas seus lábios é que não saem da memória
e o matariam de tanto amar.

                     18
                 Iran Maia
Quem é ela?


Olho pela janela.
Quem é ela, quem é ela
que vem a sorrir e dançar?
Ou seu andar que é a dança mais bela?

Quem é ela que dança?
Quem é ela que canta?
Quem é ela que encanta?
É a musa do amor.

Quem é ela que sorri com graça?
Sou sabiá e te dou o que posso dar de graça.
Canto o canto de tua existência num canto da
praça
e convoco a grande massa a te admirar.

Num canto da praça, canto a graça.
Quem é ela, quem é ela?
É luta espanhola, formosura brasileira,
pedaço de Inglaterra, mais bela que a terra, és
bandeira do mar.

Vejo a beleza do sol, vejo a beleza no ar.
Vejo que és a principal beleza.
Não consigo os olhos fechar.
Olho pela janela. Quem é ela? É a coisa mais bela
de se olhar.


                     19
               Qualquer Versar
Eu ladrão

Por mais que eu diga que te amo
não olharás para mim,
sujeito simples como eu,
porque és deusa, bela flor.

Mesmo que eu cante a mais bela canção
não olharás para mim,
logo eu,
um mero ladrão.

Eu quem roubo as palavras
da mais triste escuridão,
revelo-as á luz
pra enaltecer-te, meu amor.

Mas perdão, perdão
pelos deslizes, se meus versos soam tristes
como eu,
mas te dou de coração.




                     20
                 Iran Maia
Minha bela


Aproxima- se a minha bela...
diz-me , oh reis, inúteis e embasbacados,
se há maior beleza que ela.

O dia brilha, é lindo o sol.
Feliz e saltitante te recebo,
alimentas o sol e a vida deste bardo mancebo.

Abre-te, depois dos idos em casulo
vem, deveras, o brilho difuso
de tuas asas doiradas.

A ti idílios e odes,
sonetos em moldes
de elogios com amor.

Sou prisioneiro sim, de tua beleza.
Grades de ouro, prisão da nobreza.
Sou igarapé a penetrar no verde do teu olhar.

Já te abracei e estou dúctil,
minha alegria imensa não é inútil.
Sou Páris, amiga, deixo as outras e venho te
versar.




                     21
               Qualquer Versar
Bons sentimentos


Se os bons sentimentos
não marcassem tanto,
não estaria aqui em meu canto
escrevendo palavra sem encanto.

Lamentado sentimentos
que esqueci de sentir,
talvez por medo
da dor que poderia vir.

Lamentando sentimentos
que em meu peito se perderam,
tendo medo de momentos
que lembro como doeram.

Se os bons sentimentos
não doessem tanto,
não teria tanto medo.
Medo que mantenho em segredo.

Das palavras não faria canto,
do medo não faria um manto,
se os bons sentimentos
não marcassem tanto.




                     22
                 Iran Maia
Olá Tristeza


Olá Tristeza,
aí está você...
olha que sol,
olha que céu...
pensei que não viesse me ver,
já estava por me entristecer.
Sente-se, vamos beber.
Embriaguemos-nos um pouco,
eu sei que sou louco,
mas em meu coração só há você.
Por favor, não se engane, Tristeza,
acho que ainda não te amo.
Não, não fique triste, por favor.

Chegue mais pra cá,
deixa-me te falar
das Tristezas que tenho conhecido.
Bebe comigo desta amargura em meu copo,
me dá teu ombro,
me deixa chorar,
mas não se vá
que eu não tenho mais amor,
não tenho mais nada.
Só me resta você.




                     23
               Qualquer Versar
Querida


Acordei, hoje, feliz, querida,
meu primeiro pensamento foi você.
Fiquei com muita vontade de te ver.
Confundo-te com minha própria vida.

Pena que não posso te beijar,
sentir em meus lábios os teus.
Nós prontos para amar.
Deixa-me sonhar.

As vezes invejo teu namorado.
Sem ti sou um desesperado.
Só eu sei o quanto gostaria
de por ti ser amado.

Mas me diz teu sorriso
igualando meu amor a neve
gelada numa noite sem luz,
mas caindo de leve.

Mas me diz teu sorriso
igualando meu amor a neve,
sufocando relvosos pensamentos,
deixando-os cada vez mais breves.




                     24
                 Iran Maia
Grande desejo


Como desejo Sol,
mas cai é chuva,
então acendo o farol
e ilumino as curvas.

Ai que vontade
de te dar eternos abraços,
sentir tua face, teu calor,
tocar teus traços.

Que felicidade,
que vontade de rir,
de dizer que te amo.
Tenho que falar, admitir.

Tenho pressa no meu carrinho
e vou correndo,
sedento de carinho.

Beije-me e vamos estudar.
Concluamos nossa filosofia
que diz pra gente se amar.




                     25
               Qualquer Versar
Teu nome


Cantarei teu nome
pra natureza,
anunciarei com prazer
tua beleza.

Cantarei teu nome
até o horizonte,
correrei o mundo,
secarei a fonte
de palavras
pra te elogiar,
escreverei mil versos,
mil poemas
sobre o teu belo olhar.

Louvarei tal cúmulo de beleza
que nem a natureza
de ti pode ganhar.




                      26
                  Iran Maia
Ao amor


Amor, em que corações te encontras?
A quais dais preferência para que reines
e faças constantemente felizes teus súditos?
Quero tê-lo em meu coração vazio que não te
afrontas.

Confesso que ditei mal minha história,
também que tracei errado meu caminho.
Lamento não ter me entregado ao carinho.

Se maravilhosamente de amor nascemos
e por amor sofremos,
porque sofro por não ter amado?




                    27
              Qualquer Versar
Afrodite


Esmero-te em verso
e morro por dentro com teu desdém.
Vê minha beleza, te peço!
És Afrodite e não me gostas porém.

Meu olhar te acompanha,
danças solitária a amar o ítalo vadio.
Acordei com medo após um pesadelo.
Temendo que não me vejas, suei frio.

O sonho me deixou pasmo, mudo
e te versei apesar de tudo.
Desculpe-me, estava por enlouquecer.
Mas o que fazer se tua existência é meu viver?

Eu só quero uma chance
pra te mostrar que eu realmente te amo.
Por favor, meu amor, não agüento mais esse lance
de te amar e não te ter, olha, é o que clamo.




                     28
                 Iran Maia
O que me importa?


O que me importa tua tristeza
se eu sou mais triste?
Não me importa perdoar-te.
Já perdoei e não me ouvistes.

O que me importa agora,
se antes eu quis te amar?
O que me importa teu carinho
depois de tanto chorar.

Como ter piedade do teu sofrer
se eu também sofro.
Não me interessa teus beijos,
nem teu carinho ou amor.

Não te entregues a mim.
O que me importa tua beleza agora?
Cansei de sofrer,
fiquei até mais bela.




                    29
              Qualquer Versar
Maria


Quase amei Maria,
quase até o fim,
até que quase um dia
quase me dei fim.
Findei o amor.

Quase fui feliz,
quase sonhei,
quase me fiz,
quase desejei
Maria. Ó Maria.

Hoje eu quase sorriu,
quase escrevo
este quase poema
que deixo quase incompleto,
tentando lembrar Maria.




                       30
                   Iran Maia
Felicidade em mim maior


Mas quem disse que eu sou triste?
Engana-se, amigo,
sou o homem mais feliz do mundo.
Não sabes o que digo,
mas carrego comigo
todos os segredos sagrados
que todos sabem e não sabem que sabem,
mas a vida sussurrou só pra mim.
Eu que, de olhar profundo, tenho a tarde a me
banhar
nos raios dos mais belos brilhos de olhar,
nos braços de mulheres doidas para amar,
no amor que teima em me esperar
e eu amo aqui e acolá,
um novo amor, em novos abraços todo dia.
Sem lar certo
impossível ser deserto,
eu sou uma multidão que em mim existe.
Mas quem disse que eu sou triste?




                    31
              Qualquer Versar
Eu disse


Eu disse a você
Do meu jeito rude,
Da minha atitude
De quem não se ilude
Com qualquer querer.

Eu disse a você
Do meu jeito errante,
Desse ser cantante,
Meu eu inconstante
Que costumo ser.

Eu disse a você,
Sou filho da massa,
Que a vida me caça,
Mas essa fumaça
Vem, é só viver.

Eu disse a você,
Olha, eu não presto,
Eu e todo o resto.
Amor, me detesto,
Pra que me querer?




                      32
                  Iran Maia
Horas a fio


Passei horas a fio
tentando gritar sentimentos fustigantes,
gritos tortos,
desesperados e fatigantes.

Sofri a explosão sórdida
de desejos e frustrações.
Cansei,
mas não as emoções.

Escrevi sobre um olhar, um jeito, um calor.
Só Deus sabe o meu pesar, o de um sujeito em
dissabor.
Mas continuo a versar, que como efeito me trás
dor.
Queria mesmo era amar enquanto escrevia sobre
amor.

Gritei horas a fio
e o meu grito falhou,
cantei, então, um triste canto no frio
até que o sol raiou.




                      33
                Qualquer Versar
Momento


Essas palavras que não digo,
esse ser que não ligo,
esse saber que não sigo,
esse eu mendigo
esperando amigo
o toque teu.

Mas a hora é triste,
e toca o tempo tardo.
Meu coração não resiste,
dobra o bronze e eu ardo.
Tum, Tum, Tum, faz o infeliz.




                      34
                  Iran Maia
Tenho medo de te amar


Tenho medo de te amar.
Mesmo desesperado meu desiderato
sei ser tolo o ato
de esconder esse amor enquanto sabes.

Conheces, sabes da conflagração que tomou meu
peito,
mas não agis enquanto sem jeito,
resigno-me ao efeito
do quanto te amo.

Enlevo-me com tua beleza
que tanto me conquista,
mas com toda franqueza,
minha nobreza é amar-te e te ver feliz.

Sou teu amigo e amante.
Roubou-me a vida teu olhar hipnotizante,
és escultura fascinante,
por favor, só te peço que me ames.




                     35
               Qualquer Versar
Palavras à toa


Quantas palavras desperdiçadas
com um amor inútil e inexistente!
Quantas expressões gastas
com um tolo e amargo sofrer!

Quantas lágrimas noturnas
derramadas sem mais nem menos.
Este rio que corre é por ti,
nem mais nem menos.

Quantos desejos versados,
resignados,
desertados,
coitados, nesse estúpido amor.

Também não é culpa do amor
se não te ter me causa dor,
eu é quem choro demais, sofro demais,
não escondo mais, vai, que vou chorar.




                      36
                  Iran Maia
Dia-a-dia


O sol invade janela adentro.
Fora, pássaros cantam,
liberam profusos lamentos.
O vento promulga a vida, e a vida o talento
que há em viver.

Prolongo a prolixa história, e risos.
Proponho confuso a confusão,
propicio a prosódica canção,
induzo à poética superior e piso,
sapateio a tristeza porque sorrir é viver.

Sob o azul do céu
voam, livres, pássaros libertinos
e, apressados, aviões levam destinos
traçando estradas nubladas num vôo fino
e a demente púrpura é nada com as manobras ao
léu.

Todo toque se prolonga.
Quão profundo e verde olhar.
Teu toque se difunde.
Teu olhar confunde
e não sofro... não sofro.




                      37
                Qualquer Versar
Poema da dor total


Melhor te ver vencida em meus ais
e tua morte, morte de amor veraz,
que te ver iludida, lançada em indiferença,
inebriada em teu vazio fulgor fugaz.

Teu outono será penalizante
e num inútil suicídio errante
não vês, querida, que morro de amor,
que sofro de amor, que vivi essa dor, não nego
mas.

Na escuridão da existência eu vago,
vago como o teu olhar.
Sem poética para me encher a vida.
Trago comigo o prazer de viver por ti, querida.

Carrego, por ti, esse amor etéreo, sublime e vão,
esperando que vejas a beleza em meus atos então.
Até que não seja em vão
que eu sofra a excelsa e total dor de amar.




                      38
                  Iran Maia
Todo amor que tive


Todo amor que tive
foi apenas ilusão.
Toda alegria, se tive,
não mais que forçosa emoção.

Mas amor agora sinto
e amar sei que é viver.
Se me perguntas minto,
a primeira em minha vida é você.

Sou grato e me espanto.
Jogastes-me em amor abissal.
Se me der um clavicórdio até canto
a canção que tirei do soneto vital.

Te amo,
envolve-me e me ama.
Digamos o inefável
às emoções do teu corpo afável.
Que seja grande nosso amor.




                     39
               Qualquer Versar
Quero cantar a mulher


Quero cantar a mulher
que é minha vida e ilusão.
Quero poetizar seus caminhos,
versar seus carinhos,
de tudo ser mais atenção.

Quero cantar a mulher,
decodificá-la em versos
com as mais belas linhas.
Quero amar porque ela merece
e fazer sempre a prece:
– Vem, não me deixes, não me deixes.

Quero cantar a existência
e esquecer que o mundo existe.
Quero afagar aquela que é amor.
Quero beijar quem me acende amor.
Quero me afogar em amor.
Mulher é tudo, é amor e amor.




                    40
                Iran Maia
Definição de mim

Eu, carbono,
filho das estrelas,
perco o sono,
sem brilho ou centelhas.
Nem sou dono
desse meu olhar.

Eu, só poeira,
não passo de tal.
Mais que eu queira,
os lábios de Kau,
vida inteira,
não pude beijar.

Eu, só eu,
sem bastar ser nada,
quis ser meu
o sorrir da amada
e o amor seu
que fico a esperar.




                     41
               Qualquer Versar
Piedade!


Sorris enquanto choro.
Te amar é meu defeito,
mas por favor, te imploro,
respeita o que trago no peito.

Não estou a tua altura.
Nem vem que não vou chorar.
Por favor, piedade desse ser que atura
a sina e delírio de te amar.




                      42
                  Iran Maia
Amores que amei


De principio amei.
Amei amores inalcançáveis,
tão cansáveis
que quando alcançáveis
cansei de amar.

Amei amores insensatos
e vagos, inconscientes.
Tão sem senso de atos
que quando dei por mim
desisti de amar.




                    43
              Qualquer Versar
Desabafo


De tudo fica apenas arrependimento,
porque a boba mágoa que eu tinha
era pura tolice minha,
bobo momento.

Queria, na verdade, te abraçar e beijar,
fazer o que minha burrice não deixou.
Cresci, tudo mudou.
Antes eu era o bardo que nunca amou.
(Agora te amo).

Te desejo intensamente.
Quero te possuir, amar-te, que arte querer-te.
O importante é ter você.
(Mesmo que só um pouco).

Mesmo que por um instante
queria enlouquecer com tua doçura.
Quero ceder ao teu encanto
e que saibas que te gosto tanto.
Me perdoa.




                      44
                  Iran Maia
Soneto de amor

Amor, sabes porquê te amo tanto?
Me explica por favor, causa esse espanto
que ignoro esse sorriso e doce pranto
visto que é puro canto tonto amar.

Não me importa mais nada se me és tudo
e quando estás por perto fico mudo
e me é curta distância forte escudo
mesmo que eu louco, já, por te beijar.

Mas vê, todo universo que aí existe
fala comigo às noites que ele é triste
por não ver, em teus braços, me queimar.

E eu nem sei se essa vida é, sim, tão bela,
se finjo e falo a ti de ti como ela.
Se o coração apela e chora mar.




                     45
               Qualquer Versar
Tua imagem


Eu deleitava-me
perante tua face
que resplandecia como o sol
de verão em fogo,
abrasando toda areia da praia.

Que seque o mar,
não me importo,
pois a mais bela paisagem
que torna estonteante o lugar
é a tua imagem.

Estou ressequido como a relva
em sol ardente,
mas não faço caso,
pois nem na selva
estaria tão contente.




                     46
                 Iran Maia
Campos da vida

Aceito meias verdades,
tuas mentiras sinceras,
conheço todas as cidades,
vivi todas as eras.
Já me afoguei no mar
dos teus segredos,
me arrepiei com teus medos.
Eu quero você! Te amar
pra vida inteira.
O que falam de nós é besteira,
vem passear, correr, viajar
por campos verdejantes,
róseos céus brilhantes,
novas terras, correr o mundo,
correr a vida.
Querida, que linda é você.
E esses pássaros azuis, Celeste,
vão me dizer belas canções,
ventos me trarão do leste
todas as razões
pra eu cantar pra você.




                    47
              Qualquer Versar
Vem minha amada


Ergue-te, minha amada,
não abstenha-te em falar
na profunda calada
da noite sombria,
sim, escura e fria,
quando não penso em nada.

Agora finda o inverno
e se derrete a neve
sobre a terra de tempo eterno
que aos poucos floresce,
sim, é terno esse tempo.

Ergue-te amada minha,
minha bela
e vem.
É chegada a primavera.
Vem, ao amor caminha
enquanto apaixonado
observo, aprisionado,
a vida em nossa esfera,
sim, estou a tua espera.




                      48
                  Iran Maia
Cantarei


Queria poder cantar
uma canção de rei.
Queria poder sonhar,
mas te amar
é mais que ilusão.

Consigo fintar a morte
só pra te ver.
Me transformo no mais forte
no prazer de ter você.

Cantarei, então,
a mais bela canção,
os deuses me raptarão
e ficarei mais perto de você.




                     49
               Qualquer Versar
Ardente paixão


Minha amada
tem um jeito bom,
sua voz tem um som
que até quando reclama
faz uma bela canção.

Gosto do seu belo caminhar,
seu jeito de dançar
que conquista meu coração
quando combinado
com a batida do meu violão.

Derreto com o seu belo olhar
e o seu jeito de amar
mistura-se com uma ardente paixão.




                     50
                 Iran Maia
Brado


Bradava o espírito de um morto,
agitado em um porto
com um pensamento e um amor torto.

Morreu sentado o pobre defunto,
a expressão triste em sua face
falava como se entendesse do assunto.

Talvez seu coração tivesse dito
o que sentia, tão aflito,
talvez pro amor tivesse dado um grito.

Talvez tivesse falado com a paixão,
Revelado sua solidão.
Só sei que parou o pobre coração.

Pra que gritar
se nem vivo me ouviam?
Meu destino é vagar.

Bradava o espírito de um morto
agitado em um porto
com um pensamento e um amor roto.

Roto e sem esperança.
Roto e sem saída.
Roto e sem vida.


                     51
               Qualquer Versar
Jurema

Minha amada Jurema,
te escrevo um poema
pra falar do dilema,
pequeno problema,
que trancou-se em meu ser.
É um amor que teima,
ai como queima
pra teu corpo eu poder aquecer.
Subi em montanhas alturas,
sofri penas duras
pra te encontrar,
agora, Jurema querida,
serei tua guarida,
não posso mais agüentar.




                     52
                 Iran Maia
Na tarde que quebra


Na tarde que quebra as ondas ondulam,
meninas doces, meninos pulam,
no horizonte a imagem desse sol,
refratado fingindo estar lá,
em mim não há nada, no céu nada há.

O amor é esse vazio entre céu e terra,
essa paz sem motivo, pós guerra,
esse pesar calado ao subir a serra,
essa esperança que em mim se encerra.
Já vai tarde, basta-me ficar e só.

Ah! como cansa o amor que não posso.
Deleto todo discurso que esboço
vendo-os inúteis no quanto me esforço.
Tantos jeitos que existem,
tantas formas de dizer o quanto amo, e não digo.

É que eu já sei a resposta negativa,
tenho muito medo.




                     53
               Qualquer Versar
Fim


Ai! Estou tão triste e tremo todo,
o tempo tarda e à toa temo.
Sofri sorrindo e saí sem soldo,
sem séquito, nem sentença ou remo.

Varei em ver verdes vastidões,
vaguei com ventos e vistas vãs,
vi nas vagas, vagas emoções,
vi na vida vazios afãs.

Sim, cheguei, chamei, chamei, chorei.
Chequei, xinguei, não senti teu cheiro.
Chega! Que charada essa que achei!
Ai, chama que chama-me inteiro!




                      54
                  Iran Maia
Lucy

Já disse a Lucy:
– Querida, guarde pra si
esse avexamento,
sorri um momento
que teu riso conforta.
Abre teus braços,
firma nossos laços,
vem, vamos dançar
que as flores te invejam.
Vê como te fita o pai das cores,
são tantos os fervores,
tantos os amores
que podem te amar.




                     55
               Qualquer Versar
À bela


Por que mentias
bela e doce indomável,
se assim fazias
meus sonhos cada vez mais desejáveis?

Por que dizias que não me amava
refletindo palavras no mais cativante olhar?
Dissimulavas em tua face, em teu corpo,
em teu ser, o ser em sentimento que em ausência
me quebrantava.

Em ti palavras tornam-se nas mais doces,
e sentimento, elementos tais
o mais nobre se de amor fosses.
E és!

Agora guardo lânguido sentimento,
Cheio de dúvidas, me atormento,
Mas em latente amor que deseja me aparecer,
quero amar-te.




                     56
                 Iran Maia
Meu sol


Ilumina-me um sorriso
e o sol é nada,
e me queima um abraço
e o sol faz nada.
As flores se voltam à beleza
e o sol se esconde em tristeza
por sua inutilidade (coitado).

Mas pra que o bailar das flores
se andas pra mim?
Mas pra que o combinar das cores
se teus olhos me encantam?
Mas pra que o mundo e todos os fatores
se só me importa você?
Nem eu me importo mais.

O dia é vago
e eu vago sem destino
se não te vejo.
E se me atrevo a te perder
(ou um beijo)
é que é imenso meu desatino,
sim estou louco (coitado).




                     57
               Qualquer Versar
Turmas nebulosas


Turmas nebulosas.
O sol me esconde, em seu núcleo cruel,
coisas anelosas,
rosas frondosas
negras como a noite,
como a preta formosa
que disse não me querer ver.
Por isso me escondo
em trovas e prosas,
chorando fragrâncias cheirosas
que o sol me esconde cruel.
Mas são essas nuvens pomposas,
essas manchas lácteas no céu,
nebulosas,
essas águas nebulosas,
suas atitudes nebulosas
mesmo com minhas olhadelas teimosas
que me impedem de a ver.
E eu chovo sem consolo.
E eu morro feito um tolo.
E eu corro, corro e corro
nessas noites de sofrer.




                     58
                 Iran Maia
Serafins


Quando os serafins
me raptaram e, assim,
me mostraram o fim,
criei asas e voei a fim
de mostrar que pra mim
só importa o começo e eternidade
do amor de verdade
que sinto por ti.
E se tropecei em teu caminho,
não foi por maldade
mas te peço perdão.
O que eu tento dizer,
e cansei,
é que não sei
o que dizer
e se tinha o que fazer,
cessei.
E se não fiz por entender
é que passei
e o ponto esperado
estava em me calar.
O que existir
sem desistir
se já me existes?
Quem conseguirá amar
já que no ar
não existe amor,
posto que te amo com todo amor do mundo?

                   59
             Qualquer Versar
Não me importa se, cego,
aproveito e pego
em tuas mãos e não nego
o quanto te amo.




                    60
                Iran Maia
Tua caligrafia


Olho, toco, amo tua caligrafia perfeita
que desenha as cartas que já me escrevestes.
Há cheiro de mofo onde havia teu cheiro certa feita.
Mas ainda lembro do teu aroma,
maravilhoso idioma
que me faz sonhar.
Ah, te amo tanto...




                     61
               Qualquer Versar
Júlia


O mundo está se acabando
E a vida se isola sem medo.
Sem medo de temer o tirano,
Sicrano, fulano, beltrano,
Bonzinho como todos nós.

A vida se enrola em seu próprio enredo
E os pássaros passando passados com tanto,
Que passam cantando nesse passaredo,
Sou eu e você preenchidos de espanto,
Somos nós, na noite, marchando pra vida e fim.

Ó Júlia,
Bem vês que a patrulha
Que chega e passa
Apesar de ser pulha
É de gente da massa.

Quando chega me amassa,
Amarrota a camisa
E eu sigo a rota da brisa,
Sem destino marcado,
Só e desesperado,
Eu arrasto a humanidade,
Adentro a eternidade e fim.

Idéias se batem,
Homens se matam,

                     62
                 Iran Maia
Homens se humilham,
Se beijam, torturam
E a vida faz fagulha,
Mas, Júlia,
A vida não é assim.




                    63
              Qualquer Versar
A hélice
                Tá,
              já sei!
            Tá, tá, tá!
        Coração tomba,
       bate tanta bomba
    que parece até samba,
 mas não tem graça, caramba.
   Esta guerra, esta guerra,
    estes pássaros de aço!
Céus! Nem sei mais o que faço.
  Me cansei desse cansaço,
     de já não ter abraço,
      já não ter regaço...
          Tá, tá, tá, tá!
            Tá, tá, tá!
              Tá, tá!
                 O
            problema
            é só meu!
          Esse não ser
         que há dias sou
    é só mais um ninguém,
    e se fui alguém, irmão,
      perdi toda a razão.
 Perdi todos os meus sonhos
  e meus amigos risonhos,
     ai! com aquele avião!
   E se eu choro é em vão,
         e viver, sei não!
           Até então...
            Tá, tá, tá!
              Tá, tá!
                Tá!

           64
       Iran Maia
Marina


Estamos em mundo pleno,
pleno espaço.
Doido no vácuo,
douto vago, vago sereno.
Brinca o tempo – águia de aço.
Dias, saudades, não sei o que faço!
Por um laço abraço me deixo levar.
Vida, me leva?

Estamos em mundo pleno.
Acima o firmamento,
em ti o pensamento,
a turba é, da vida, o elemento.
Teus cabelos são ouro
que em abundância reluz em saudade fenecida.
E a amizade é maior que o vácuo e todo lamento.
E a saudade, fria como o vento, um dia acaba,
querida.

Donde venho? Pra onde vou?
Não sei meu rumo se é infinito o espaço.
Mar em alto.
Amor é laço!
Ri-se amiga!
Igual aos homens é a vida.
Nau errante perdida.
Abram-se as asas que homens não findam, voam!


                    65
              Qualquer Versar
Bela amizade


Teus louros cabelos abrasam e encantam.
Tais raios de luz me espantam.
Tão serena luz para tão pequeno ser
que és, magnífica entre as belas.

Teu olhar é o amor do poeta,
qual castanhos aos versos conduz.
Diz-me, bela, se és apenas minha musa
ou já a flor do bardo andaluz.

Meiga, meiga...
que sorriso encantador!
Teu jeito suave me afaga.

Que essa amizade ainda traga,
frio para amenizar verão
e, por vez do inverno, todo calor.




                      66
                  Iran Maia
Mãe negra


Clama aos prantos a mãe negra.
Chafurdada em lama,
completamente sem esperança,
aos prantos a mãe negra clama.

Clama aos prantos a mãe negra.
Seu caráter desfigurado,
seu destino está traçado,
é morrer ou morrer.

Clama aos prantos a mãe negra.
Reclama da má sorte.
Sua tristeza é forte,
mais frágil apenas que a morte.

Clama aos prantos a mãe negra.
Numa intensa desesperança.
Da vida só fica a lembrança
e do perdão... a vontade de perdoar.




                     67
               Qualquer Versar
Eu sou


Eu sou aquele menino feio
de tuas ruas estreitas,
que vive às espreitas,
com medo de te admirar.

Eu sou aquele menino feio
de tua ponte desengonçada,
que corria na chuva
com a vida ameaçada.

Eu sou aquele menino pobre.
De barriga vazia,
mas coração nobre,
a quem a tristeza angustia e encobre.

Eu sou teu filho, minha cidade.
A quem, de reconhecer, tens receio.
Eu sou aquele menino pobre.
Eu sou aquele menino feio.




                     68
                 Iran Maia
Não serei


Não serei a diva
de um mundo cego,
não serei o cantor
de um mundo surdo,
tampouco serei
poeta de um mundo caduco.

Olho para os meus amigos
e percebo que estão taciturnos,
subalternos do mais lúgubre
recinto de seus soturnos
pensamentos de grandeza.

Não serei cantor da mulher,
da beleza, da força escondida
atrás da ilusória fragilidade,
pela qual me apaixono
e um dia, manso, me envolvo
em seus braços suaves.
Não serei poeta de um sonho,
de uma ilusão efêmera,
de uma límpida paixão maluca,
de uma patente orgia de sabedorias vitais,
de um erro, de uma vida,
nem mesmo,
do homem que me faço valer.

Olho para mim mesmo e percebo

                     69
               Qualquer Versar
que estou manietado à vida,
à ilusão, à mulher.
E a morte é o destino
que não posso evitar,
porém, a única prova de que vivi,
a única que serei capaz de deixar.




                      70
                  Iran Maia
O poeta


Oh! terrível
esse ser sofrível,
desprezível,
reprimível,
dor incrível
que me olha do espelho.
Mar vermelho
que é a hemorragia do teu ser.
Quase não ser,
coitado de ti, infeliz,
me diz:
pra quê?
Esse versar,
esse versar,
esse versar.
Vai, transborda tanto,
até que eu te seque o pranto.
Inunda teus versos livres.
Afunda, prisioneiro, afunda.




                    71
              Qualquer Versar
Espanto

Espantei meus medos,
meus temores, meus tremores,
estou feliz com minha dores.
Só me dói a saudade.

A alegria me invadiu,
sou vadio, cachorro no cio.
Nunca mais senti frio.
O que me aquece é o amor.

Abri sorriso pra esperança,
poesia será a herança
que minha doce bonança
me fará deixar.




                      72
                  Iran Maia
Do povo


Quando olhares pro teu céu anil
e a púrpura demente da tua terra,
quero que te lembres de mim,
quero que te lembres o que eu amo e o que eu
odeio.
Eu sou o povo.

Quero que sintas em teus lábios
que derrama sangue com palavras,
o sabor do meu sangue
envenenado contra mim mesmo.
Eu sou fruto das tuas mentiras.
Eu sou a mutação que aprendeu a sobreviver
aos golpes cruéis do teu podre sistema.

Quero que sintas culpa pela minha miséria
quando comeres esse saboroso pão
posto em tua mesa farta do meu suor.
Quero que te lembres que a minha raça negra,
branca, amarela e vermelha te dá poder.
Eu sou a África, Europa, Ásia e América.
Quero que morras de remorsos
sempre que me matares, sabendo que és como eu.




                    73
              Qualquer Versar
Verdadeiro hino nacional


Ouviu-se no Ipiranga às margens plácidas,
De um povo heróico, o brado flácido,
E o sol da liberdade, em raios cálidos
Queima um povo que chora até esse instante.

Se o penhor dessa igualdade,
conseguíssemos conquistar com braço forte,
Em teu seio, oh! Liberdade,
Nutriríamos nossas crianças as livrando da morte!

Oh! Pátria amada,
Idolatrada,
Salve-me!
Salve-me!

Brasil, eu sonho imerso em pena de quem tem
vivido,
Meu amor e minha esperança apenas descem,
Se o teu formoso céu, risonho e límpido
Um dia servir pra comer o povo agradece.

Os ricos são donos de tua natureza,
Às custas da minha miséria eles enchem os bolsos,
E o teu futuro é essa tristeza.

Terra adorada,
Entre tiros de fuzil,
És tu, Brasil,

                        74
                    Iran Maia
Oh! pátria amada!

Pés no solo, eu sigo, oh! Mãe Gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Deixado abertamente ao chão estendido,
Ao som de metralhadoras e confuso,
Figura de um Brasil furão da América,
Morre mais um cidadão no novo mundo.

Nessa terra mais garrida
Teu risonho, lindo povo tem mais dores;
Nossas florestas têm mais vida
Sendo destruída por lenhadores.

Oh! Pátria amada,
Idolatrada,
Salve-me!
Salve-me!

Brasil, de dor, eterno sejas, símbolo,
Por enquanto estou no meio de um fogo cruzado.
Digo em poesia – minha flâmula:
Educação, saúde e liberdade, tenho buscado.

Mas te ergues na injustiça e me oprimes forte,
Mesmo assim eu vou à luta,
Nem que provoques a minha morte.

Terra adorada,
Entre tiros de fuzil,

                       75
                 Qualquer Versar
És tu, Brasil,
Oh! Pátria amada!

Pés no solo, eu sigo, oh! Mãe Gentil,
Pátria amada,
Brasil!




                      76
                  Iran Maia
Mentira!


Arranquem-me as mentiras agora
porque se faço nesta hora
imito a todos os exemplos de outrora
que me enganaram dizendo que a vida é bela.
Porque se faço não é como os homens nela
que me arrancam o suor até a última gota.
E meu cansaço é por saber de cor
o fim da minha novela,
iludir meu filho que sua roupa rota
é previsão livre e solta
de um futuro melhor.
E se eu amo é mentira.
E se eu choro é mentira.
E se eu morro é mentira.
E meu sofrimento é conversa fiada,
me ensinaram que bondade existe
e eu vejo que é tudo piada,
me forçaram a um destino triste
e eu achei melhor que nada.




                    77
              Qualquer Versar
Histórias perdidas


Gostaria de expressar meus pensamentos,
Falar meus sentimentos,
Descobrir onde o infinito acaba,
Quando o fim desaba.

Poderia mostrar meus sentimentos,
Mirar meus tormentos
E com olhos mortais,
Mostrar minha superioridade, mais e mais.

Poderia gravar minha vida sofrida
E dizer que a morte é melhor.
Poderia cantar,
Mas discos arranham e quebram.
Poderia escrever,
Mas as palavras
Não sabem gritar, nem falar,
Esperam que as leiam.
Mas o homem não sabe se interessar.
Mais uma forma de me descartar
Até que eu suma na história.

Nem a música, nem a escrita
Podem gritar
O que o meu coração grita.
Apenas somem ou quebram.



                     78
                 Iran Maia
A morte do poeta


Vês?! Morre minha inspiração,
e quando tento dar vazão
aos meus planos de ação
calam-se meus sentimentos,
junto aos lamentos
de um poeta que jaz zumbi,
que sonha acordado ao dormir,
que fantasia a obra perfeita
e a joga no lixo depois de feita,
indignado com sua imaginação estreita.
Olha! Quem me respeita?
Padeço, vou em busca da receita.
Luto, corro,corro, subo o morro.
Vês como eu morro?
O que mais me dói é a indiferença.
Tratam-me de louco, idiota em inteira presença,
mas não passam de inebriados em tola crença
que os fazem mendigar a vida.
E ainda o que me deixa mais irritado
é que eu quero ser amado,
desejado, subtraído
por essa esfera fétida e sem sentido.
Vês como eu morro?




                     79
               Qualquer Versar
Doces doidices

Sarar será fins,
serenos serafins
saem serenatam.
Correm léguas,
dormem éguas,
morrem águas
nos leitos de Iara,
nos peitos de Sara
será sorrir pra sempre.
Marchar. Não serve
manchar a breve
dança, leve vida.




                      80
                  Iran Maia
Vida


Que te fazes assim,
estúpida entre as damas?
Que te fazes assim,
complexa entre os gênios?

Medíocre,
que te fazes assim?
Insana e desleal,
por que me fazes assim?

Vida,
por que és assim?
Que te fiz?
Por que me bates, maltratas?
Por que me humilhas?
Por que me tratas assim?




                    81
              Qualquer Versar
Desabafo do melro


Eu sou um mero,
um mero pensador em desespero
sem saber o que quero.

Odeio à Nero.
Talvez por inveja ou desprezo.
Ou apenas por ser mero.
Acho que porque ele teve o que quero.

Eu sou um mero,
um mero melro
que o que sente vai melrando
e o mais mero ser vai alegrando.
Mas não quero ser melro.

Talvez queira ser
imperador como Nero,
importante como Lutero
e até poeta como Homero,
mas só sou um mero melro.




                     82
                 Iran Maia
Dor infantil


Tomo as dores
de um pequeno ser
que chances não teve de ser
um perito da vida.

Para onde me leva
a Morte em suas trevas:
triste, mal amada.

Eis os reclames
da alma da pobre criança
que grita pra esperança.

Não deixe que a morte
me resvale a vida,
não deixe que a fome
me entorpeça
e do meu corpo
ainda reste résquia,
não um breve sonho.

Não me deixe ser
triste animal doentio.
Grite não à morte,
me resvale do vazio,
me leve onde encontro novo berço
e me embalo em novo ser,
onde eu possa crescer.

                    83
              Qualquer Versar
Eu fui à lua


Eu fui à lua,
inacreditável,
mas eu fui pra lua.
Quem disse que ela é nua?
Ela é coberta de prata
e composta de queijo.
Comi, comi
o quanto pude
até matar meu desejo.
Eu fui pra lua!
Não acreditam em mim?
É verdade sim.
De lá
a terra
é mais bonita.
Não vemos guerra,
nem fome,
tudo some.
Fiquei sem oxigênio
e voltei.
Sou um gênio, eu sei.




                    84
                Iran Maia
Os fortes


Os fortes também sentem dor,
também pensam,
também amam
e são seres
que de tanto ser,
são fortes.

Os fortes também caem em dores,
também caem em ciladas,
também vivem horrores
e de tanto viver são seres
que de tanto ser,
são fortes.




                    85
              Qualquer Versar
O caminho


Menininho,
no que você se transformou?
Num passarinho
que teve vontade e não voou?

Tua hora há de chegar,
tira toda tristeza
do viver, do pensar.
Não penses no caminho
que não fostes trilhar.

Esquece aquele caminho,
aquele que não tomastes.
Ouve-me, menininho.

Esquece também aquele carinho.
Sei que lembras.
O que não ganhaste.

Pra que amar o passado?
Toma... toma o amor,
aquele que sonhastes.




                     86
                 Iran Maia
Jogo da vida


Mas mal mar cola,
cala fala rala, rola.
Caro faro, paro mola.
Miro tiro, firo bola.
Casa casa, coca-cola.




                    87
              Qualquer Versar
Confusão


Sou inculpável das tramas
alheias que me deixam inerte
perante situações algozes dos dramas
que escrevem com a minha vida.

Não, eu não morri, mas sou feliz. Sou?
Se felicidade é ter um amor ao lado
e poder ouvir seus suspiros ao anoitecer
e quedo ao ofegante momento de amor
permanecer.
Não, não sou feliz, acho que estou morto. Estou?

Mentira da retrograda imaginação humana.
Estou mais vivo que nunca
e tudo que pensei, vivi, senti passou.
Agora são fúteis lembranças por ter passado.




                     88
                 Iran Maia
Poema inexpressivo


Pensei durante horas
num poema inefável
que eu não soube expressar.

Pensei pensamentos singelos,
versos belos,
mas só me expressei com essas palavras
inexpressivas.




                    89
              Qualquer Versar
Maldade


Hoje caminhei pela minha cidade
E presenciei muita maldade.
Pensei:
“Deus, essa é a humanidade...”.

Olha quanta injustiça.
Envergonho-me dessa alegria postiça.
Porque depois...
Não sei, pois.

Pergunto-me:
“Por que sou humano?”
Egocêntrico que sou
Procuro respostas no lugar errado... eu.




                      90
                  Iran Maia
Por que choras?


Por que choras?
Logo tu, que tens tanta beleza?
Pra que tanta tristeza?

Se soubesses criar
Não haveria motivos para chorar.
A não ser de felicidade.
Mas olha,
É a tristeza quem te invade.

Lembra-te do Marquinho?
Aquele menino, coitado, tão sozinho
Que só queria um carrinho e um carinho.

Hoje é engenheiro
E só pensa em dinheiro.
Uma carência
se transformou em malícia.

Por que o colocaste no mundo
Se foi para sofrer?
Ele queria pouco pra viver.

És dona de tanta beleza.
Por que choras, natureza?
Por que tanto tormento?
De que vale o arrependimento?


                     91
               Qualquer Versar
Infância


Pula corda a Aninha,
se mistura com a molecada a Paulinha,
enquanto a Carlinha
olha a bola que rola.

Troca figuras Pedrinho
que chama Antônio sozinho
pra brincar com os outros no parquinho
bobos com a bola que rola.




                     92
                 Iran Maia
Pião


          Olha o pião,
           roda, roda,
               pião
              roda.
Quando eu vejo o pião que roda,
junto com outros piões na roda,
   me ponho contente a rodar,
  rodo com o mundo que roda
      e não ligo, crio moda
    e depois dou mais corda
          pra ele girar.
          Olha o pião,
           roda, roda,
               pião,
              roda.




           93
     Qualquer Versar
Outono


Não acredito que eu seja esse rosto pálido.
E essas tremulas e rugosas mãos.
E essa paz inerte que me toma.
E essa tristeza que me soma.
(Não, subtrai).
E esse canto de melancolia.
E esse ser que não sou eu.
Seria a imagem de meu pai?

Eu não tinha essa voz outrora.
Fraca e esforçada.
Muito menos essa ausência de devassidão.
A única coisa que me resta dos meus idos.
Que se soma e que me toma.
(Até mesmo me subtrai).
É o medo de perder o minuto que me trai.
E é o mesmo medo que me retrai.

Maldito é o espelho que me fita.
Saudosa é a onda que se agita.
(E logo se vai).
Triste é a solidão porque amei.
Adeus lembranças na minha decrepitude.
Eu não tinha esse olhar raso e vago.
Disso eu sei.




                      94
                  Iran Maia
Noite soturna


Noite soturna.
O tempo passa arrastado.
Afora a multidão encarna o silêncio,
aqui dentro ele senta ao meu lado.

Os pássaros na madrugada
acovardam seu canto.
O azul que há pouco era manto,
agora é negro sem luar.

Noite soturna.
A moça feia sai pra janela
para ouvir alguém cantar uma canção tão bela
como se fosse só pra ela o cantar.

Longe, nos longes,
um gramofone toca uma valsa antiga,
prostitutas cantam uma velha cantiga
e eu morro, como as velas, nessa noite soturna.




                     95
               Qualquer Versar
Eu que era o menino puro


E eu que era o menino puro
das ruas valencianas
fui cair nos braços da morena
que nem morena era, era ruiva.
Dizia que era donzela,
mas não era,
era uma moça que dava
e era difícil resistir aos seus encantos.
E eu que era o menino triste
que costumava ler na Triana,
pus o rosto naqueles seios macios,
deitei naquele colo frio,
beijei aquele solo de amor.
Senti calafrios
e gemi sem dor.
Aquelas pernas abertas eram o auge da glória
e não me saem da memória
aqueles suspiros sem querer.
Tremi inteiro naquela cama,
Chamei-a de ama
porque me dominaria
e me dominou.
Era a ama dos meus sentidos,
foi a dama dos meus idos,
idos que não voltam jamais.




                     96
                 Iran Maia
Clara


Clara, minha preta,
é claro que no escuro
a alegria vence a tristeza,
a luz vence as trevas,
a vida vence a morte
e é uma sorte viver.

Nas coisas mais claras,
minha cara,
minha cara não vê verdade,
mas tu, minha Clara,
é claro que podes ver.




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  • 4. Para o único e grande amor da minha vida, grande amiga e sempre amada a quem dedico todo versar e viver. Para minha mãe, sem seu apoio nada me seria possível. 8 Iran Maia
  • 5. Sumário 09-Eu te amo 41-Definição de mim 11-Desejo de amor 42-Piedade! 12-À amada 43-Amores que amei 13-Na praia 44-Desabafo 14-A falta 45-Soneto de amor 16-Sofrer 46-Tua imagem 17-Nau 47-Campos da vida 18-O andarilho 48-Vem minha amada 19-Quem é ela? 49-Cantarei 20-Eu ladrão 50-Ardente paixão 21-Minha bela 51-Brado 22-Bons sentimentos 52-Jurema 23-Olá tristeza 53-Na tarde que quebra 24-Querida 54-Fim 25-Grande desejo 55-Lucy 26-Teu nome 56-À bela 27-Ao amor 57-Meu sol 28-Afrodite 58-Turmas nebulosas 29-O que me importa? 59-Serafins 30-Maria 61-Tua caligrafia 31-Felicidade em mim 62-Júlia maior 64-A hélice 32-Eu disse 65-Marina 33-Horas a fio 66-Bela amizade 34-Momento 67-Mãe negra 35-Tenho medo de te 68-Eu sou amar 69-Não serei 36-Palavras à toa 71-O poeta 37-Dia-a-dia 72-Espanto 38-Poema da dor total 73-Do povo 39-Todo amor que tive 74-Verdadeiro hino 40-Quero cantar a nacional mulher 77-Mentira! 9 Qualquer Versar
  • 6. 78-Histórias perdidas 89-Poema inexpressivo 79-A morte do poeta 90-Maldade 80-Doces doidices 91-Por que choras? 81-Vida 92-Infância 82-Desabafo do melro 93-Pião 83-Dor infantil 94-Outono 84-Eu fui à lua 95-Noite soturna 85-Os fortes 96-Eu que era o menino 86-O caminho puro 87-Jogo da vida 97-Clara 88-Confusão 2 Iran Maia
  • 7.
  • 9. Eu te amo Quando me vierem as marcas, dos lábios teus, alegres a dizer-me que acabou, morrerei por dentro, chorarei o perdido intento de te amar, pois não serão nos meus. Correrei pro infinito e findarei lá, romperei em meus braços o mar em um nado insano no intuito de afogar lágrimas que teimarão em descer doidamente, atravessarei esse oceano de inutilidades pungentes e lamentarei esse amor da gente, que nunca existiu. Mas, ai, basta-me ouvir de teus lábios um ai para empenhar-me num nado sagaz em regresso a esse cais, essa marina onde aporta o amor. Em tua presença, outrora eu sozinho, quando teus olhos derem-me lágrimas por outro ser que te negou carinho, desgraçado que chamastes amorzinho, te direi agora baixinho, num terno abraço, 9 Iran Maia
  • 10. teu ninho e regaço: – Não chora tanto que esse teu pranto é mais duro que as cadeias de aço que rompi pra te amar. Eu sofro, me desgraço, mas vem pros meus braços, pois eu te amo. 10 Iran Maia
  • 11. Desejo de amor Te amei mais que o amor, te admirei a todo instante. Não cante... o verbo amar é sofrer. Disse que o amor é belo. Queria eu o amor.. o teu. Agora vejo que ele é cego. Brisa que acalma, dor que faz crescer. Cresci, e continuei amando a dor insana e admirando te ver, vivi. Não cante o instante, amante, olha agora, o passado se foi. 11 Qualquer Versar
  • 12. À amada Amada, não se engane com meu jeito imaturo, pois sou porto seguro em rotas de escuro, iluminado pelo teu olhar. Verso teu sexo – mulher – minha dor. Entenda, aprenda a prenda que é meu amor. Linda, quando tua luz se acende meu ser entende que eternidade está por vir. Tua é minha glória e todo o universo compreenderá que meu verso está anexo a ti. Entenda, minha poesia tornar-te-á lenda, então alegria haverá como jamais houve. Mas ouve, meus versos trarão contenda e eterna comigo serás. 12 Iran Maia
  • 13. Na praia A lua banha com sua sólida solidão, o vento acalenta dando alento, consolo. Ruge o mar um lamento, diz que profundos amores não morrem, tornam-se em profundos ódios e dores. Conto estrelas pra lembrar de esquecer que só falta você pra não me faltar mais nada, então falta-me tudo. Aluí com esse amor que é minha força e covardia e meu pesar cintila, sem alegria, na areia do cais, corro parado como se não fosse ser feliz jamais. A noite me impede de te ver numa distância desmedida. Quero que saibas, querida, que não és mais razão do meu viver, e sim toda minha vida. 13 Qualquer Versar
  • 14. A falta Um anjo, o que és, que me caiu de algum lugar, alguma vez e desse lugar não me saiu, vez alguma. Eu quem parti para um destino incerto de te ver, e o que me resta... não sei. Fiquei com esse caminhar vago, essa imensa falta de afago, essa saudade, sentimento fosco e mau pago que só eu posso compreender. Fiquei com esse olhar no luar quando era teu olhar que eu queria ver. Esse respeito pela noite a me chamar, medo da imensidão ao cantar, medo de perder... de te perder. Fiquei com esse coração queimado, amargura sangrenta querendo me afogar nas vagas do mar, perdido e magoado na cidade cinzenta, essa cólera que me quer matar. Fiquei com essa impiedade de mim mesmo, essa vontade de chorar diante de tua beleza, esse som de passos que dou a esmo tendo como companhia a tristeza 14 Iran Maia
  • 15. quando queria que fosse você. Fiquei com esse vagar solto, essa inércia incorrigível, essa resignação que me deixa envolto na consciência do meu ser desprezível, essa falta inconcebível de você. Fiquei com essa vontade do que foi tornar a ser, esse sonho irreprimível que não quer se perder, essa incoerência da vida, esse nunca poder. Quem vê diz que tenho tudo, na verdade, me falta você. Me falta ver teu sorriso, sentir teu abraço aqui comigo, ouvir tua voz me chamando amigo. Me falta sentir teus olhos nos meus e ser feliz. Me falta você. 15 Qualquer Versar
  • 16. Sofrer Só, Então. Meu irmão, Por hoje só. Diga que sofri, Que me acalmei, Que desandei, Desesperei Porque amei, Eu me afoguei E se eu chorei Foi por amor, Pela tristeza E pela dor De te perder, Mas eu lutei Por ti, enfim. Por Deus, por mim, diga que ela regresse, Que ouça essa minha prece de amor. Quero te ver, Quero te ter, Quero viver, Quero sorrir E te sentir E se eu morrer É de amor Por ti, Só. 16 Iran Maia
  • 17. Nau Nau errante á deriva, sob vento forte, belo mar azul, não foges porque sabes: não é um destino a morte, é um tufão que vem do norte e ao sul a minha senhora chora, sofre, luta e ama. Nau, navegas uma vida heróica, depois essa aventura histórica se afogará em triste mar. Vê, o vento que vem vaga, cheio de choro o mar chega. Chega! Não, não chora! 17 Qualquer Versar
  • 18. O andarilho Saudoso o andarilho anda sobre os trilhos por onde a cidade fumegante vai e vem. O trem que morre, a multidão que corre, mas é tudo vivo. Talvez os gris da vida sejam reflexos dum interior repleto de vazio. Acima o firmamento sopra ríspido vento em seus olhos quase a chorar. Não lamento, estranho a saudade que me consola, assola é a multidão mesquinha e vil, pois ninguém viu o talento com que o amor massacra. Saudoso o andarilho perde o brilho pois não gastou todas as infinitas palavras, nem expressou infinitamente o que sente no peito e agora, longe, nos longes, tanto quanto se pode chegar, deseja a amada, nem que seja um olhar. Um caloroso e amigo abraço o levaria à glória, mas seus lábios é que não saem da memória e o matariam de tanto amar. 18 Iran Maia
  • 19. Quem é ela? Olho pela janela. Quem é ela, quem é ela que vem a sorrir e dançar? Ou seu andar que é a dança mais bela? Quem é ela que dança? Quem é ela que canta? Quem é ela que encanta? É a musa do amor. Quem é ela que sorri com graça? Sou sabiá e te dou o que posso dar de graça. Canto o canto de tua existência num canto da praça e convoco a grande massa a te admirar. Num canto da praça, canto a graça. Quem é ela, quem é ela? É luta espanhola, formosura brasileira, pedaço de Inglaterra, mais bela que a terra, és bandeira do mar. Vejo a beleza do sol, vejo a beleza no ar. Vejo que és a principal beleza. Não consigo os olhos fechar. Olho pela janela. Quem é ela? É a coisa mais bela de se olhar. 19 Qualquer Versar
  • 20. Eu ladrão Por mais que eu diga que te amo não olharás para mim, sujeito simples como eu, porque és deusa, bela flor. Mesmo que eu cante a mais bela canção não olharás para mim, logo eu, um mero ladrão. Eu quem roubo as palavras da mais triste escuridão, revelo-as á luz pra enaltecer-te, meu amor. Mas perdão, perdão pelos deslizes, se meus versos soam tristes como eu, mas te dou de coração. 20 Iran Maia
  • 21. Minha bela Aproxima- se a minha bela... diz-me , oh reis, inúteis e embasbacados, se há maior beleza que ela. O dia brilha, é lindo o sol. Feliz e saltitante te recebo, alimentas o sol e a vida deste bardo mancebo. Abre-te, depois dos idos em casulo vem, deveras, o brilho difuso de tuas asas doiradas. A ti idílios e odes, sonetos em moldes de elogios com amor. Sou prisioneiro sim, de tua beleza. Grades de ouro, prisão da nobreza. Sou igarapé a penetrar no verde do teu olhar. Já te abracei e estou dúctil, minha alegria imensa não é inútil. Sou Páris, amiga, deixo as outras e venho te versar. 21 Qualquer Versar
  • 22. Bons sentimentos Se os bons sentimentos não marcassem tanto, não estaria aqui em meu canto escrevendo palavra sem encanto. Lamentado sentimentos que esqueci de sentir, talvez por medo da dor que poderia vir. Lamentando sentimentos que em meu peito se perderam, tendo medo de momentos que lembro como doeram. Se os bons sentimentos não doessem tanto, não teria tanto medo. Medo que mantenho em segredo. Das palavras não faria canto, do medo não faria um manto, se os bons sentimentos não marcassem tanto. 22 Iran Maia
  • 23. Olá Tristeza Olá Tristeza, aí está você... olha que sol, olha que céu... pensei que não viesse me ver, já estava por me entristecer. Sente-se, vamos beber. Embriaguemos-nos um pouco, eu sei que sou louco, mas em meu coração só há você. Por favor, não se engane, Tristeza, acho que ainda não te amo. Não, não fique triste, por favor. Chegue mais pra cá, deixa-me te falar das Tristezas que tenho conhecido. Bebe comigo desta amargura em meu copo, me dá teu ombro, me deixa chorar, mas não se vá que eu não tenho mais amor, não tenho mais nada. Só me resta você. 23 Qualquer Versar
  • 24. Querida Acordei, hoje, feliz, querida, meu primeiro pensamento foi você. Fiquei com muita vontade de te ver. Confundo-te com minha própria vida. Pena que não posso te beijar, sentir em meus lábios os teus. Nós prontos para amar. Deixa-me sonhar. As vezes invejo teu namorado. Sem ti sou um desesperado. Só eu sei o quanto gostaria de por ti ser amado. Mas me diz teu sorriso igualando meu amor a neve gelada numa noite sem luz, mas caindo de leve. Mas me diz teu sorriso igualando meu amor a neve, sufocando relvosos pensamentos, deixando-os cada vez mais breves. 24 Iran Maia
  • 25. Grande desejo Como desejo Sol, mas cai é chuva, então acendo o farol e ilumino as curvas. Ai que vontade de te dar eternos abraços, sentir tua face, teu calor, tocar teus traços. Que felicidade, que vontade de rir, de dizer que te amo. Tenho que falar, admitir. Tenho pressa no meu carrinho e vou correndo, sedento de carinho. Beije-me e vamos estudar. Concluamos nossa filosofia que diz pra gente se amar. 25 Qualquer Versar
  • 26. Teu nome Cantarei teu nome pra natureza, anunciarei com prazer tua beleza. Cantarei teu nome até o horizonte, correrei o mundo, secarei a fonte de palavras pra te elogiar, escreverei mil versos, mil poemas sobre o teu belo olhar. Louvarei tal cúmulo de beleza que nem a natureza de ti pode ganhar. 26 Iran Maia
  • 27. Ao amor Amor, em que corações te encontras? A quais dais preferência para que reines e faças constantemente felizes teus súditos? Quero tê-lo em meu coração vazio que não te afrontas. Confesso que ditei mal minha história, também que tracei errado meu caminho. Lamento não ter me entregado ao carinho. Se maravilhosamente de amor nascemos e por amor sofremos, porque sofro por não ter amado? 27 Qualquer Versar
  • 28. Afrodite Esmero-te em verso e morro por dentro com teu desdém. Vê minha beleza, te peço! És Afrodite e não me gostas porém. Meu olhar te acompanha, danças solitária a amar o ítalo vadio. Acordei com medo após um pesadelo. Temendo que não me vejas, suei frio. O sonho me deixou pasmo, mudo e te versei apesar de tudo. Desculpe-me, estava por enlouquecer. Mas o que fazer se tua existência é meu viver? Eu só quero uma chance pra te mostrar que eu realmente te amo. Por favor, meu amor, não agüento mais esse lance de te amar e não te ter, olha, é o que clamo. 28 Iran Maia
  • 29. O que me importa? O que me importa tua tristeza se eu sou mais triste? Não me importa perdoar-te. Já perdoei e não me ouvistes. O que me importa agora, se antes eu quis te amar? O que me importa teu carinho depois de tanto chorar. Como ter piedade do teu sofrer se eu também sofro. Não me interessa teus beijos, nem teu carinho ou amor. Não te entregues a mim. O que me importa tua beleza agora? Cansei de sofrer, fiquei até mais bela. 29 Qualquer Versar
  • 30. Maria Quase amei Maria, quase até o fim, até que quase um dia quase me dei fim. Findei o amor. Quase fui feliz, quase sonhei, quase me fiz, quase desejei Maria. Ó Maria. Hoje eu quase sorriu, quase escrevo este quase poema que deixo quase incompleto, tentando lembrar Maria. 30 Iran Maia
  • 31. Felicidade em mim maior Mas quem disse que eu sou triste? Engana-se, amigo, sou o homem mais feliz do mundo. Não sabes o que digo, mas carrego comigo todos os segredos sagrados que todos sabem e não sabem que sabem, mas a vida sussurrou só pra mim. Eu que, de olhar profundo, tenho a tarde a me banhar nos raios dos mais belos brilhos de olhar, nos braços de mulheres doidas para amar, no amor que teima em me esperar e eu amo aqui e acolá, um novo amor, em novos abraços todo dia. Sem lar certo impossível ser deserto, eu sou uma multidão que em mim existe. Mas quem disse que eu sou triste? 31 Qualquer Versar
  • 32. Eu disse Eu disse a você Do meu jeito rude, Da minha atitude De quem não se ilude Com qualquer querer. Eu disse a você Do meu jeito errante, Desse ser cantante, Meu eu inconstante Que costumo ser. Eu disse a você, Sou filho da massa, Que a vida me caça, Mas essa fumaça Vem, é só viver. Eu disse a você, Olha, eu não presto, Eu e todo o resto. Amor, me detesto, Pra que me querer? 32 Iran Maia
  • 33. Horas a fio Passei horas a fio tentando gritar sentimentos fustigantes, gritos tortos, desesperados e fatigantes. Sofri a explosão sórdida de desejos e frustrações. Cansei, mas não as emoções. Escrevi sobre um olhar, um jeito, um calor. Só Deus sabe o meu pesar, o de um sujeito em dissabor. Mas continuo a versar, que como efeito me trás dor. Queria mesmo era amar enquanto escrevia sobre amor. Gritei horas a fio e o meu grito falhou, cantei, então, um triste canto no frio até que o sol raiou. 33 Qualquer Versar
  • 34. Momento Essas palavras que não digo, esse ser que não ligo, esse saber que não sigo, esse eu mendigo esperando amigo o toque teu. Mas a hora é triste, e toca o tempo tardo. Meu coração não resiste, dobra o bronze e eu ardo. Tum, Tum, Tum, faz o infeliz. 34 Iran Maia
  • 35. Tenho medo de te amar Tenho medo de te amar. Mesmo desesperado meu desiderato sei ser tolo o ato de esconder esse amor enquanto sabes. Conheces, sabes da conflagração que tomou meu peito, mas não agis enquanto sem jeito, resigno-me ao efeito do quanto te amo. Enlevo-me com tua beleza que tanto me conquista, mas com toda franqueza, minha nobreza é amar-te e te ver feliz. Sou teu amigo e amante. Roubou-me a vida teu olhar hipnotizante, és escultura fascinante, por favor, só te peço que me ames. 35 Qualquer Versar
  • 36. Palavras à toa Quantas palavras desperdiçadas com um amor inútil e inexistente! Quantas expressões gastas com um tolo e amargo sofrer! Quantas lágrimas noturnas derramadas sem mais nem menos. Este rio que corre é por ti, nem mais nem menos. Quantos desejos versados, resignados, desertados, coitados, nesse estúpido amor. Também não é culpa do amor se não te ter me causa dor, eu é quem choro demais, sofro demais, não escondo mais, vai, que vou chorar. 36 Iran Maia
  • 37. Dia-a-dia O sol invade janela adentro. Fora, pássaros cantam, liberam profusos lamentos. O vento promulga a vida, e a vida o talento que há em viver. Prolongo a prolixa história, e risos. Proponho confuso a confusão, propicio a prosódica canção, induzo à poética superior e piso, sapateio a tristeza porque sorrir é viver. Sob o azul do céu voam, livres, pássaros libertinos e, apressados, aviões levam destinos traçando estradas nubladas num vôo fino e a demente púrpura é nada com as manobras ao léu. Todo toque se prolonga. Quão profundo e verde olhar. Teu toque se difunde. Teu olhar confunde e não sofro... não sofro. 37 Qualquer Versar
  • 38. Poema da dor total Melhor te ver vencida em meus ais e tua morte, morte de amor veraz, que te ver iludida, lançada em indiferença, inebriada em teu vazio fulgor fugaz. Teu outono será penalizante e num inútil suicídio errante não vês, querida, que morro de amor, que sofro de amor, que vivi essa dor, não nego mas. Na escuridão da existência eu vago, vago como o teu olhar. Sem poética para me encher a vida. Trago comigo o prazer de viver por ti, querida. Carrego, por ti, esse amor etéreo, sublime e vão, esperando que vejas a beleza em meus atos então. Até que não seja em vão que eu sofra a excelsa e total dor de amar. 38 Iran Maia
  • 39. Todo amor que tive Todo amor que tive foi apenas ilusão. Toda alegria, se tive, não mais que forçosa emoção. Mas amor agora sinto e amar sei que é viver. Se me perguntas minto, a primeira em minha vida é você. Sou grato e me espanto. Jogastes-me em amor abissal. Se me der um clavicórdio até canto a canção que tirei do soneto vital. Te amo, envolve-me e me ama. Digamos o inefável às emoções do teu corpo afável. Que seja grande nosso amor. 39 Qualquer Versar
  • 40. Quero cantar a mulher Quero cantar a mulher que é minha vida e ilusão. Quero poetizar seus caminhos, versar seus carinhos, de tudo ser mais atenção. Quero cantar a mulher, decodificá-la em versos com as mais belas linhas. Quero amar porque ela merece e fazer sempre a prece: – Vem, não me deixes, não me deixes. Quero cantar a existência e esquecer que o mundo existe. Quero afagar aquela que é amor. Quero beijar quem me acende amor. Quero me afogar em amor. Mulher é tudo, é amor e amor. 40 Iran Maia
  • 41. Definição de mim Eu, carbono, filho das estrelas, perco o sono, sem brilho ou centelhas. Nem sou dono desse meu olhar. Eu, só poeira, não passo de tal. Mais que eu queira, os lábios de Kau, vida inteira, não pude beijar. Eu, só eu, sem bastar ser nada, quis ser meu o sorrir da amada e o amor seu que fico a esperar. 41 Qualquer Versar
  • 42. Piedade! Sorris enquanto choro. Te amar é meu defeito, mas por favor, te imploro, respeita o que trago no peito. Não estou a tua altura. Nem vem que não vou chorar. Por favor, piedade desse ser que atura a sina e delírio de te amar. 42 Iran Maia
  • 43. Amores que amei De principio amei. Amei amores inalcançáveis, tão cansáveis que quando alcançáveis cansei de amar. Amei amores insensatos e vagos, inconscientes. Tão sem senso de atos que quando dei por mim desisti de amar. 43 Qualquer Versar
  • 44. Desabafo De tudo fica apenas arrependimento, porque a boba mágoa que eu tinha era pura tolice minha, bobo momento. Queria, na verdade, te abraçar e beijar, fazer o que minha burrice não deixou. Cresci, tudo mudou. Antes eu era o bardo que nunca amou. (Agora te amo). Te desejo intensamente. Quero te possuir, amar-te, que arte querer-te. O importante é ter você. (Mesmo que só um pouco). Mesmo que por um instante queria enlouquecer com tua doçura. Quero ceder ao teu encanto e que saibas que te gosto tanto. Me perdoa. 44 Iran Maia
  • 45. Soneto de amor Amor, sabes porquê te amo tanto? Me explica por favor, causa esse espanto que ignoro esse sorriso e doce pranto visto que é puro canto tonto amar. Não me importa mais nada se me és tudo e quando estás por perto fico mudo e me é curta distância forte escudo mesmo que eu louco, já, por te beijar. Mas vê, todo universo que aí existe fala comigo às noites que ele é triste por não ver, em teus braços, me queimar. E eu nem sei se essa vida é, sim, tão bela, se finjo e falo a ti de ti como ela. Se o coração apela e chora mar. 45 Qualquer Versar
  • 46. Tua imagem Eu deleitava-me perante tua face que resplandecia como o sol de verão em fogo, abrasando toda areia da praia. Que seque o mar, não me importo, pois a mais bela paisagem que torna estonteante o lugar é a tua imagem. Estou ressequido como a relva em sol ardente, mas não faço caso, pois nem na selva estaria tão contente. 46 Iran Maia
  • 47. Campos da vida Aceito meias verdades, tuas mentiras sinceras, conheço todas as cidades, vivi todas as eras. Já me afoguei no mar dos teus segredos, me arrepiei com teus medos. Eu quero você! Te amar pra vida inteira. O que falam de nós é besteira, vem passear, correr, viajar por campos verdejantes, róseos céus brilhantes, novas terras, correr o mundo, correr a vida. Querida, que linda é você. E esses pássaros azuis, Celeste, vão me dizer belas canções, ventos me trarão do leste todas as razões pra eu cantar pra você. 47 Qualquer Versar
  • 48. Vem minha amada Ergue-te, minha amada, não abstenha-te em falar na profunda calada da noite sombria, sim, escura e fria, quando não penso em nada. Agora finda o inverno e se derrete a neve sobre a terra de tempo eterno que aos poucos floresce, sim, é terno esse tempo. Ergue-te amada minha, minha bela e vem. É chegada a primavera. Vem, ao amor caminha enquanto apaixonado observo, aprisionado, a vida em nossa esfera, sim, estou a tua espera. 48 Iran Maia
  • 49. Cantarei Queria poder cantar uma canção de rei. Queria poder sonhar, mas te amar é mais que ilusão. Consigo fintar a morte só pra te ver. Me transformo no mais forte no prazer de ter você. Cantarei, então, a mais bela canção, os deuses me raptarão e ficarei mais perto de você. 49 Qualquer Versar
  • 50. Ardente paixão Minha amada tem um jeito bom, sua voz tem um som que até quando reclama faz uma bela canção. Gosto do seu belo caminhar, seu jeito de dançar que conquista meu coração quando combinado com a batida do meu violão. Derreto com o seu belo olhar e o seu jeito de amar mistura-se com uma ardente paixão. 50 Iran Maia
  • 51. Brado Bradava o espírito de um morto, agitado em um porto com um pensamento e um amor torto. Morreu sentado o pobre defunto, a expressão triste em sua face falava como se entendesse do assunto. Talvez seu coração tivesse dito o que sentia, tão aflito, talvez pro amor tivesse dado um grito. Talvez tivesse falado com a paixão, Revelado sua solidão. Só sei que parou o pobre coração. Pra que gritar se nem vivo me ouviam? Meu destino é vagar. Bradava o espírito de um morto agitado em um porto com um pensamento e um amor roto. Roto e sem esperança. Roto e sem saída. Roto e sem vida. 51 Qualquer Versar
  • 52. Jurema Minha amada Jurema, te escrevo um poema pra falar do dilema, pequeno problema, que trancou-se em meu ser. É um amor que teima, ai como queima pra teu corpo eu poder aquecer. Subi em montanhas alturas, sofri penas duras pra te encontrar, agora, Jurema querida, serei tua guarida, não posso mais agüentar. 52 Iran Maia
  • 53. Na tarde que quebra Na tarde que quebra as ondas ondulam, meninas doces, meninos pulam, no horizonte a imagem desse sol, refratado fingindo estar lá, em mim não há nada, no céu nada há. O amor é esse vazio entre céu e terra, essa paz sem motivo, pós guerra, esse pesar calado ao subir a serra, essa esperança que em mim se encerra. Já vai tarde, basta-me ficar e só. Ah! como cansa o amor que não posso. Deleto todo discurso que esboço vendo-os inúteis no quanto me esforço. Tantos jeitos que existem, tantas formas de dizer o quanto amo, e não digo. É que eu já sei a resposta negativa, tenho muito medo. 53 Qualquer Versar
  • 54. Fim Ai! Estou tão triste e tremo todo, o tempo tarda e à toa temo. Sofri sorrindo e saí sem soldo, sem séquito, nem sentença ou remo. Varei em ver verdes vastidões, vaguei com ventos e vistas vãs, vi nas vagas, vagas emoções, vi na vida vazios afãs. Sim, cheguei, chamei, chamei, chorei. Chequei, xinguei, não senti teu cheiro. Chega! Que charada essa que achei! Ai, chama que chama-me inteiro! 54 Iran Maia
  • 55. Lucy Já disse a Lucy: – Querida, guarde pra si esse avexamento, sorri um momento que teu riso conforta. Abre teus braços, firma nossos laços, vem, vamos dançar que as flores te invejam. Vê como te fita o pai das cores, são tantos os fervores, tantos os amores que podem te amar. 55 Qualquer Versar
  • 56. À bela Por que mentias bela e doce indomável, se assim fazias meus sonhos cada vez mais desejáveis? Por que dizias que não me amava refletindo palavras no mais cativante olhar? Dissimulavas em tua face, em teu corpo, em teu ser, o ser em sentimento que em ausência me quebrantava. Em ti palavras tornam-se nas mais doces, e sentimento, elementos tais o mais nobre se de amor fosses. E és! Agora guardo lânguido sentimento, Cheio de dúvidas, me atormento, Mas em latente amor que deseja me aparecer, quero amar-te. 56 Iran Maia
  • 57. Meu sol Ilumina-me um sorriso e o sol é nada, e me queima um abraço e o sol faz nada. As flores se voltam à beleza e o sol se esconde em tristeza por sua inutilidade (coitado). Mas pra que o bailar das flores se andas pra mim? Mas pra que o combinar das cores se teus olhos me encantam? Mas pra que o mundo e todos os fatores se só me importa você? Nem eu me importo mais. O dia é vago e eu vago sem destino se não te vejo. E se me atrevo a te perder (ou um beijo) é que é imenso meu desatino, sim estou louco (coitado). 57 Qualquer Versar
  • 58. Turmas nebulosas Turmas nebulosas. O sol me esconde, em seu núcleo cruel, coisas anelosas, rosas frondosas negras como a noite, como a preta formosa que disse não me querer ver. Por isso me escondo em trovas e prosas, chorando fragrâncias cheirosas que o sol me esconde cruel. Mas são essas nuvens pomposas, essas manchas lácteas no céu, nebulosas, essas águas nebulosas, suas atitudes nebulosas mesmo com minhas olhadelas teimosas que me impedem de a ver. E eu chovo sem consolo. E eu morro feito um tolo. E eu corro, corro e corro nessas noites de sofrer. 58 Iran Maia
  • 59. Serafins Quando os serafins me raptaram e, assim, me mostraram o fim, criei asas e voei a fim de mostrar que pra mim só importa o começo e eternidade do amor de verdade que sinto por ti. E se tropecei em teu caminho, não foi por maldade mas te peço perdão. O que eu tento dizer, e cansei, é que não sei o que dizer e se tinha o que fazer, cessei. E se não fiz por entender é que passei e o ponto esperado estava em me calar. O que existir sem desistir se já me existes? Quem conseguirá amar já que no ar não existe amor, posto que te amo com todo amor do mundo? 59 Qualquer Versar
  • 60. Não me importa se, cego, aproveito e pego em tuas mãos e não nego o quanto te amo. 60 Iran Maia
  • 61. Tua caligrafia Olho, toco, amo tua caligrafia perfeita que desenha as cartas que já me escrevestes. Há cheiro de mofo onde havia teu cheiro certa feita. Mas ainda lembro do teu aroma, maravilhoso idioma que me faz sonhar. Ah, te amo tanto... 61 Qualquer Versar
  • 62. Júlia O mundo está se acabando E a vida se isola sem medo. Sem medo de temer o tirano, Sicrano, fulano, beltrano, Bonzinho como todos nós. A vida se enrola em seu próprio enredo E os pássaros passando passados com tanto, Que passam cantando nesse passaredo, Sou eu e você preenchidos de espanto, Somos nós, na noite, marchando pra vida e fim. Ó Júlia, Bem vês que a patrulha Que chega e passa Apesar de ser pulha É de gente da massa. Quando chega me amassa, Amarrota a camisa E eu sigo a rota da brisa, Sem destino marcado, Só e desesperado, Eu arrasto a humanidade, Adentro a eternidade e fim. Idéias se batem, Homens se matam, 62 Iran Maia
  • 63. Homens se humilham, Se beijam, torturam E a vida faz fagulha, Mas, Júlia, A vida não é assim. 63 Qualquer Versar
  • 64. A hélice Tá, já sei! Tá, tá, tá! Coração tomba, bate tanta bomba que parece até samba, mas não tem graça, caramba. Esta guerra, esta guerra, estes pássaros de aço! Céus! Nem sei mais o que faço. Me cansei desse cansaço, de já não ter abraço, já não ter regaço... Tá, tá, tá, tá! Tá, tá, tá! Tá, tá! O problema é só meu! Esse não ser que há dias sou é só mais um ninguém, e se fui alguém, irmão, perdi toda a razão. Perdi todos os meus sonhos e meus amigos risonhos, ai! com aquele avião! E se eu choro é em vão, e viver, sei não! Até então... Tá, tá, tá! Tá, tá! Tá! 64 Iran Maia
  • 65. Marina Estamos em mundo pleno, pleno espaço. Doido no vácuo, douto vago, vago sereno. Brinca o tempo – águia de aço. Dias, saudades, não sei o que faço! Por um laço abraço me deixo levar. Vida, me leva? Estamos em mundo pleno. Acima o firmamento, em ti o pensamento, a turba é, da vida, o elemento. Teus cabelos são ouro que em abundância reluz em saudade fenecida. E a amizade é maior que o vácuo e todo lamento. E a saudade, fria como o vento, um dia acaba, querida. Donde venho? Pra onde vou? Não sei meu rumo se é infinito o espaço. Mar em alto. Amor é laço! Ri-se amiga! Igual aos homens é a vida. Nau errante perdida. Abram-se as asas que homens não findam, voam! 65 Qualquer Versar
  • 66. Bela amizade Teus louros cabelos abrasam e encantam. Tais raios de luz me espantam. Tão serena luz para tão pequeno ser que és, magnífica entre as belas. Teu olhar é o amor do poeta, qual castanhos aos versos conduz. Diz-me, bela, se és apenas minha musa ou já a flor do bardo andaluz. Meiga, meiga... que sorriso encantador! Teu jeito suave me afaga. Que essa amizade ainda traga, frio para amenizar verão e, por vez do inverno, todo calor. 66 Iran Maia
  • 67. Mãe negra Clama aos prantos a mãe negra. Chafurdada em lama, completamente sem esperança, aos prantos a mãe negra clama. Clama aos prantos a mãe negra. Seu caráter desfigurado, seu destino está traçado, é morrer ou morrer. Clama aos prantos a mãe negra. Reclama da má sorte. Sua tristeza é forte, mais frágil apenas que a morte. Clama aos prantos a mãe negra. Numa intensa desesperança. Da vida só fica a lembrança e do perdão... a vontade de perdoar. 67 Qualquer Versar
  • 68. Eu sou Eu sou aquele menino feio de tuas ruas estreitas, que vive às espreitas, com medo de te admirar. Eu sou aquele menino feio de tua ponte desengonçada, que corria na chuva com a vida ameaçada. Eu sou aquele menino pobre. De barriga vazia, mas coração nobre, a quem a tristeza angustia e encobre. Eu sou teu filho, minha cidade. A quem, de reconhecer, tens receio. Eu sou aquele menino pobre. Eu sou aquele menino feio. 68 Iran Maia
  • 69. Não serei Não serei a diva de um mundo cego, não serei o cantor de um mundo surdo, tampouco serei poeta de um mundo caduco. Olho para os meus amigos e percebo que estão taciturnos, subalternos do mais lúgubre recinto de seus soturnos pensamentos de grandeza. Não serei cantor da mulher, da beleza, da força escondida atrás da ilusória fragilidade, pela qual me apaixono e um dia, manso, me envolvo em seus braços suaves. Não serei poeta de um sonho, de uma ilusão efêmera, de uma límpida paixão maluca, de uma patente orgia de sabedorias vitais, de um erro, de uma vida, nem mesmo, do homem que me faço valer. Olho para mim mesmo e percebo 69 Qualquer Versar
  • 70. que estou manietado à vida, à ilusão, à mulher. E a morte é o destino que não posso evitar, porém, a única prova de que vivi, a única que serei capaz de deixar. 70 Iran Maia
  • 71. O poeta Oh! terrível esse ser sofrível, desprezível, reprimível, dor incrível que me olha do espelho. Mar vermelho que é a hemorragia do teu ser. Quase não ser, coitado de ti, infeliz, me diz: pra quê? Esse versar, esse versar, esse versar. Vai, transborda tanto, até que eu te seque o pranto. Inunda teus versos livres. Afunda, prisioneiro, afunda. 71 Qualquer Versar
  • 72. Espanto Espantei meus medos, meus temores, meus tremores, estou feliz com minha dores. Só me dói a saudade. A alegria me invadiu, sou vadio, cachorro no cio. Nunca mais senti frio. O que me aquece é o amor. Abri sorriso pra esperança, poesia será a herança que minha doce bonança me fará deixar. 72 Iran Maia
  • 73. Do povo Quando olhares pro teu céu anil e a púrpura demente da tua terra, quero que te lembres de mim, quero que te lembres o que eu amo e o que eu odeio. Eu sou o povo. Quero que sintas em teus lábios que derrama sangue com palavras, o sabor do meu sangue envenenado contra mim mesmo. Eu sou fruto das tuas mentiras. Eu sou a mutação que aprendeu a sobreviver aos golpes cruéis do teu podre sistema. Quero que sintas culpa pela minha miséria quando comeres esse saboroso pão posto em tua mesa farta do meu suor. Quero que te lembres que a minha raça negra, branca, amarela e vermelha te dá poder. Eu sou a África, Europa, Ásia e América. Quero que morras de remorsos sempre que me matares, sabendo que és como eu. 73 Qualquer Versar
  • 74. Verdadeiro hino nacional Ouviu-se no Ipiranga às margens plácidas, De um povo heróico, o brado flácido, E o sol da liberdade, em raios cálidos Queima um povo que chora até esse instante. Se o penhor dessa igualdade, conseguíssemos conquistar com braço forte, Em teu seio, oh! Liberdade, Nutriríamos nossas crianças as livrando da morte! Oh! Pátria amada, Idolatrada, Salve-me! Salve-me! Brasil, eu sonho imerso em pena de quem tem vivido, Meu amor e minha esperança apenas descem, Se o teu formoso céu, risonho e límpido Um dia servir pra comer o povo agradece. Os ricos são donos de tua natureza, Às custas da minha miséria eles enchem os bolsos, E o teu futuro é essa tristeza. Terra adorada, Entre tiros de fuzil, És tu, Brasil, 74 Iran Maia
  • 75. Oh! pátria amada! Pés no solo, eu sigo, oh! Mãe Gentil, Pátria amada, Brasil! Deixado abertamente ao chão estendido, Ao som de metralhadoras e confuso, Figura de um Brasil furão da América, Morre mais um cidadão no novo mundo. Nessa terra mais garrida Teu risonho, lindo povo tem mais dores; Nossas florestas têm mais vida Sendo destruída por lenhadores. Oh! Pátria amada, Idolatrada, Salve-me! Salve-me! Brasil, de dor, eterno sejas, símbolo, Por enquanto estou no meio de um fogo cruzado. Digo em poesia – minha flâmula: Educação, saúde e liberdade, tenho buscado. Mas te ergues na injustiça e me oprimes forte, Mesmo assim eu vou à luta, Nem que provoques a minha morte. Terra adorada, Entre tiros de fuzil, 75 Qualquer Versar
  • 76. És tu, Brasil, Oh! Pátria amada! Pés no solo, eu sigo, oh! Mãe Gentil, Pátria amada, Brasil! 76 Iran Maia
  • 77. Mentira! Arranquem-me as mentiras agora porque se faço nesta hora imito a todos os exemplos de outrora que me enganaram dizendo que a vida é bela. Porque se faço não é como os homens nela que me arrancam o suor até a última gota. E meu cansaço é por saber de cor o fim da minha novela, iludir meu filho que sua roupa rota é previsão livre e solta de um futuro melhor. E se eu amo é mentira. E se eu choro é mentira. E se eu morro é mentira. E meu sofrimento é conversa fiada, me ensinaram que bondade existe e eu vejo que é tudo piada, me forçaram a um destino triste e eu achei melhor que nada. 77 Qualquer Versar
  • 78. Histórias perdidas Gostaria de expressar meus pensamentos, Falar meus sentimentos, Descobrir onde o infinito acaba, Quando o fim desaba. Poderia mostrar meus sentimentos, Mirar meus tormentos E com olhos mortais, Mostrar minha superioridade, mais e mais. Poderia gravar minha vida sofrida E dizer que a morte é melhor. Poderia cantar, Mas discos arranham e quebram. Poderia escrever, Mas as palavras Não sabem gritar, nem falar, Esperam que as leiam. Mas o homem não sabe se interessar. Mais uma forma de me descartar Até que eu suma na história. Nem a música, nem a escrita Podem gritar O que o meu coração grita. Apenas somem ou quebram. 78 Iran Maia
  • 79. A morte do poeta Vês?! Morre minha inspiração, e quando tento dar vazão aos meus planos de ação calam-se meus sentimentos, junto aos lamentos de um poeta que jaz zumbi, que sonha acordado ao dormir, que fantasia a obra perfeita e a joga no lixo depois de feita, indignado com sua imaginação estreita. Olha! Quem me respeita? Padeço, vou em busca da receita. Luto, corro,corro, subo o morro. Vês como eu morro? O que mais me dói é a indiferença. Tratam-me de louco, idiota em inteira presença, mas não passam de inebriados em tola crença que os fazem mendigar a vida. E ainda o que me deixa mais irritado é que eu quero ser amado, desejado, subtraído por essa esfera fétida e sem sentido. Vês como eu morro? 79 Qualquer Versar
  • 80. Doces doidices Sarar será fins, serenos serafins saem serenatam. Correm léguas, dormem éguas, morrem águas nos leitos de Iara, nos peitos de Sara será sorrir pra sempre. Marchar. Não serve manchar a breve dança, leve vida. 80 Iran Maia
  • 81. Vida Que te fazes assim, estúpida entre as damas? Que te fazes assim, complexa entre os gênios? Medíocre, que te fazes assim? Insana e desleal, por que me fazes assim? Vida, por que és assim? Que te fiz? Por que me bates, maltratas? Por que me humilhas? Por que me tratas assim? 81 Qualquer Versar
  • 82. Desabafo do melro Eu sou um mero, um mero pensador em desespero sem saber o que quero. Odeio à Nero. Talvez por inveja ou desprezo. Ou apenas por ser mero. Acho que porque ele teve o que quero. Eu sou um mero, um mero melro que o que sente vai melrando e o mais mero ser vai alegrando. Mas não quero ser melro. Talvez queira ser imperador como Nero, importante como Lutero e até poeta como Homero, mas só sou um mero melro. 82 Iran Maia
  • 83. Dor infantil Tomo as dores de um pequeno ser que chances não teve de ser um perito da vida. Para onde me leva a Morte em suas trevas: triste, mal amada. Eis os reclames da alma da pobre criança que grita pra esperança. Não deixe que a morte me resvale a vida, não deixe que a fome me entorpeça e do meu corpo ainda reste résquia, não um breve sonho. Não me deixe ser triste animal doentio. Grite não à morte, me resvale do vazio, me leve onde encontro novo berço e me embalo em novo ser, onde eu possa crescer. 83 Qualquer Versar
  • 84. Eu fui à lua Eu fui à lua, inacreditável, mas eu fui pra lua. Quem disse que ela é nua? Ela é coberta de prata e composta de queijo. Comi, comi o quanto pude até matar meu desejo. Eu fui pra lua! Não acreditam em mim? É verdade sim. De lá a terra é mais bonita. Não vemos guerra, nem fome, tudo some. Fiquei sem oxigênio e voltei. Sou um gênio, eu sei. 84 Iran Maia
  • 85. Os fortes Os fortes também sentem dor, também pensam, também amam e são seres que de tanto ser, são fortes. Os fortes também caem em dores, também caem em ciladas, também vivem horrores e de tanto viver são seres que de tanto ser, são fortes. 85 Qualquer Versar
  • 86. O caminho Menininho, no que você se transformou? Num passarinho que teve vontade e não voou? Tua hora há de chegar, tira toda tristeza do viver, do pensar. Não penses no caminho que não fostes trilhar. Esquece aquele caminho, aquele que não tomastes. Ouve-me, menininho. Esquece também aquele carinho. Sei que lembras. O que não ganhaste. Pra que amar o passado? Toma... toma o amor, aquele que sonhastes. 86 Iran Maia
  • 87. Jogo da vida Mas mal mar cola, cala fala rala, rola. Caro faro, paro mola. Miro tiro, firo bola. Casa casa, coca-cola. 87 Qualquer Versar
  • 88. Confusão Sou inculpável das tramas alheias que me deixam inerte perante situações algozes dos dramas que escrevem com a minha vida. Não, eu não morri, mas sou feliz. Sou? Se felicidade é ter um amor ao lado e poder ouvir seus suspiros ao anoitecer e quedo ao ofegante momento de amor permanecer. Não, não sou feliz, acho que estou morto. Estou? Mentira da retrograda imaginação humana. Estou mais vivo que nunca e tudo que pensei, vivi, senti passou. Agora são fúteis lembranças por ter passado. 88 Iran Maia
  • 89. Poema inexpressivo Pensei durante horas num poema inefável que eu não soube expressar. Pensei pensamentos singelos, versos belos, mas só me expressei com essas palavras inexpressivas. 89 Qualquer Versar
  • 90. Maldade Hoje caminhei pela minha cidade E presenciei muita maldade. Pensei: “Deus, essa é a humanidade...”. Olha quanta injustiça. Envergonho-me dessa alegria postiça. Porque depois... Não sei, pois. Pergunto-me: “Por que sou humano?” Egocêntrico que sou Procuro respostas no lugar errado... eu. 90 Iran Maia
  • 91. Por que choras? Por que choras? Logo tu, que tens tanta beleza? Pra que tanta tristeza? Se soubesses criar Não haveria motivos para chorar. A não ser de felicidade. Mas olha, É a tristeza quem te invade. Lembra-te do Marquinho? Aquele menino, coitado, tão sozinho Que só queria um carrinho e um carinho. Hoje é engenheiro E só pensa em dinheiro. Uma carência se transformou em malícia. Por que o colocaste no mundo Se foi para sofrer? Ele queria pouco pra viver. És dona de tanta beleza. Por que choras, natureza? Por que tanto tormento? De que vale o arrependimento? 91 Qualquer Versar
  • 92. Infância Pula corda a Aninha, se mistura com a molecada a Paulinha, enquanto a Carlinha olha a bola que rola. Troca figuras Pedrinho que chama Antônio sozinho pra brincar com os outros no parquinho bobos com a bola que rola. 92 Iran Maia
  • 93. Pião Olha o pião, roda, roda, pião roda. Quando eu vejo o pião que roda, junto com outros piões na roda, me ponho contente a rodar, rodo com o mundo que roda e não ligo, crio moda e depois dou mais corda pra ele girar. Olha o pião, roda, roda, pião, roda. 93 Qualquer Versar
  • 94. Outono Não acredito que eu seja esse rosto pálido. E essas tremulas e rugosas mãos. E essa paz inerte que me toma. E essa tristeza que me soma. (Não, subtrai). E esse canto de melancolia. E esse ser que não sou eu. Seria a imagem de meu pai? Eu não tinha essa voz outrora. Fraca e esforçada. Muito menos essa ausência de devassidão. A única coisa que me resta dos meus idos. Que se soma e que me toma. (Até mesmo me subtrai). É o medo de perder o minuto que me trai. E é o mesmo medo que me retrai. Maldito é o espelho que me fita. Saudosa é a onda que se agita. (E logo se vai). Triste é a solidão porque amei. Adeus lembranças na minha decrepitude. Eu não tinha esse olhar raso e vago. Disso eu sei. 94 Iran Maia
  • 95. Noite soturna Noite soturna. O tempo passa arrastado. Afora a multidão encarna o silêncio, aqui dentro ele senta ao meu lado. Os pássaros na madrugada acovardam seu canto. O azul que há pouco era manto, agora é negro sem luar. Noite soturna. A moça feia sai pra janela para ouvir alguém cantar uma canção tão bela como se fosse só pra ela o cantar. Longe, nos longes, um gramofone toca uma valsa antiga, prostitutas cantam uma velha cantiga e eu morro, como as velas, nessa noite soturna. 95 Qualquer Versar
  • 96. Eu que era o menino puro E eu que era o menino puro das ruas valencianas fui cair nos braços da morena que nem morena era, era ruiva. Dizia que era donzela, mas não era, era uma moça que dava e era difícil resistir aos seus encantos. E eu que era o menino triste que costumava ler na Triana, pus o rosto naqueles seios macios, deitei naquele colo frio, beijei aquele solo de amor. Senti calafrios e gemi sem dor. Aquelas pernas abertas eram o auge da glória e não me saem da memória aqueles suspiros sem querer. Tremi inteiro naquela cama, Chamei-a de ama porque me dominaria e me dominou. Era a ama dos meus sentidos, foi a dama dos meus idos, idos que não voltam jamais. 96 Iran Maia
  • 97. Clara Clara, minha preta, é claro que no escuro a alegria vence a tristeza, a luz vence as trevas, a vida vence a morte e é uma sorte viver. Nas coisas mais claras, minha cara, minha cara não vê verdade, mas tu, minha Clara, é claro que podes ver. 97 Qualquer Versar
  • 99. Qualquer Versar Iran Maia 99 Qualquer Versar