Balthazar é um cantor e compositor brega sergipano que mistura rock e música brega. Ele conta sua história musical desde a infância, quando começou a aprender violão sozinho observando seu pai, até se tornar um músico profissional gravando seu primeiro disco na década de 1970. Balthazar também fala sobre suas influências musicais como Dilermando Reis e sobre conhecer outros ícones da música brasileira como Raul Seixas.
1. MICROFONIA
Ano 1 .nº 04 MÚSICA .FILME .HQ .SHOW João Pessoa, Julho 2011
Balthazar - Do rock ao Brega
Balthazar é cantor e compositor brega, que com um es- (cantando). Logo depois conheci um cara chamado
pírito rock and roller, já andou o país inteiro ‘roubando’ Chico Xavier, que era diretor, o compositor de Sara, ele
um pedaço de cada fã espalhados por todo território era engenheiro, gostava de música, ele nunca quis gan-
nacional. Interceptamos essa figura quando cantou na har dinheiro com música, era engenheiro agrônomo da
cidade de Santa Rita no Bregarita na mesma noite de Petrobras.
Luzineide, Veronise e Roberto Miller em 16 de abril
desse ano. Confira a seguir um pedaço da estrada de Você é compositor. Como funciona letra e música?
Balthazar. Você faz letras? Porque você tem parceria com várias
pessoas...
Estávamos indo de Campina Grande para Mossoró Às vezes eu faço tudo e boto alguém de parceiro. Antiga-
com minha banda tocar por lá. E falei: tem um CD mente se fazia isso. Por exemplo: eu tenho uns rocks com
aqui do Balthazar, vamos ouvir! Raul, uns eu fiz sozinho e botei Raul, Se Ainda Existe
Como é que tá Cunha Lima? Amor é do Raul. Sara é de Chico Xavier e Nem. Nem é
Foto do Brega Blog Music um apelido que eu tenho. Na realidade quem fez a músi-
Rapaz, eu sei que estava muito frio... Cunha Lima eu ca com Chico Xavier fui eu. Mas tinha um engenheiro
não sei... do Reis e eu ficava olhando ele tocar, eu pequenininho agrônomo, eu já dou sorte com engenheiro agrônomo,
Campina Grande no mês de junho é muito frio. Fui uma com uns 5, 6 anos mais ou menos, mas me lembro como que era amigo dele chamado de Nem e que fazia música
vez lá de manga curta, querendo tirar uma onde de ga- se fosse hoje. Quando ele saia pros Correios, eu pegava com ele, como Chico na época não era um cara com gra-
rotão me fudi, não é brincadeira! Eu vi pingüim passar o violão, e ele tinha um ciúme tremendo do violão fabri- na e ele tinha uma condição social melhor do que o Chico
por mim de cachecol, malandro! (risos) cado por um cara lá de Aracajú que fazia os instrumentos, Xavier, hoje o compositor brasileiro padece, imagina
por sinal, instrumentos muito bons, que se chamava Ar- nessa época! Ele dava uma graninha pro Chico, foi um
E a gente ficou divagando a seu respeito. Uma das es- bolo. Quando meu pai saia eu pegava o violão e eu, por dos caras de me incentivou. Daí eu gravei um compacto
peculações era se você já tinha morado em Bayuex. mim mesmo, fui pegando notinha por notinha. Aí eu fui simples com uma música que fiz pro meu pai. Meu pai
Mas acabamos descobrindo que você estava morando na casa de um primo que era considerado um dos mel- tinha uns olhos aciganados, era místiço de cigano, todo
em Fortaleza... hores violonistas do Brasil, que se chamava Carnera, ele sergipano é, eles não gostam que seja dito isso não...
Eu morei em João Pessoa, depois eu vim pra Bayeux, e era representante da DiGiorgio em Aracaju. E eu falei: Como você conheceu Raul Seixas?
fiquei em casa de amigos. Ficava uma semana na casa de primo, eu já estou fazendo isso aqui no violão (toquei Eu morei com ele uns 8 anos. A gente se encontrava nos
um, daqui a pouco chegava um e logo depois chegava para ele). Ele olhou pra mim e disse: o que é que você corredores da gravadora no Rio de Janeiro. Quando meu
outro e dizia: essa semana você fica na minha casa. Era quer? Eu disse que queria aprender a tocar violão. Ele pai mudou de Sergipe pra São Paulo, meu irmão mais
um negócio lindo porque nego brigava pra eu ficar na disse: bom, só se for em outro século, porque você já tá velho morava lá, mas quando chegou lá ele pegou uma
casa deles porque eu como pouco, peido pouco, porque tocando, se brincar, mais do que eu! Eu ficava olhando pneumonia, em 68, não ficou nem 6 meses lá. Depois fo-
esse negócio de convidar um cara que fica peidando na ele tocar e fazia a mesma coisa. Nunca ninguém me disse mos pro Rio, meu pai tinha um irmão que serviu junto
sua casa é cruel! nada. Até porque nem podia dizer! Porque com meu pai com ele na Polícia Militar. Meu tio continuou e meu pai
era assim – ou eu ia ser político ou padre. Ele era muito fez concurso pros Correios. Eu conheci o Raul pratica-
Você é natural de onde? católico e político. Foi chefe do integralismo e eu não mente através da música Se Ainda Existe Amor...
Eu sou sergipano, nasci em Aracajú em 05 de março de fui uma coisa nem outra, porque pra ser político tinha
1952, filho de um cabra de lampião chamado Francisco que ser ladrão e eu não sei ser ladrão. Eu posso roubar
Balthazar Góes, que depois que passou a onda do canga- um pouquinho do sentimento de cada um com a minha “Abismo de Rosas” foi a
musicalidade, mas isso é um roubo de Deus, num é um
ço ele foi ser carteiro dos Correios e Telégrafos, na época
que andava de trem com aqueles malotes, entregando ci- roubo, roubo. Quando meu pai me viu tocando Abismo primeira música que toquei
dade por cidade, nas cidadezinhas do interior, aonde o de Rosas, que foi a primeira música que tirei no violão
só olhando ele tocar, mal e parcamente, mas aí eu mel- Você foi chamado para uma sala para ouvir a música,
trem ia passando, ele ia deixando as sacolas nas estações
horei! Escutei os discos, eu tinha aqueles de 78 RPM em foi isso?
ferroviárias, para alguém, de cada cidade, vir pegar e en-
casa, do Dilermando Reis, o cara tocava muito. Esse meu Veja bem, a editora intersong, que agora é Warner, que a
tregar as cartas.
primo era uma fera no violão, morou em São Paulo, to- gente chama de véia (WEA). Então o Chico Xavier era o
cou na rádio Nacional do Rio de Janeiro, era um profis- cara que recebia os compositores e gravava as canções.
Quando você começou a cantar?
sional. Quando eu mostrei a meu pai Abismo de Rosas, As que prestavam ele deixava gravado para mostrar aos
Fui calouro uma vez só na minha vida. Me inscrevi de
a primeira coisa que ele fez foi parar de tocar e me deu artistas das gravadoras. A editora levava até Roberto Car-
brincadeira, eu já cantava em casa...
o violão, e nunca mais ele pegou no violão. Não é tocar, los, etc o cara que gostasse gravava. Quando eu cheguei
nem pegar. Tome você nasceu pra isso, eu nasci para Cor- na intersong, o Toninho, que escolhia as músicas disse:
Esse foi o seu primeiro contato com a música?
reios e Telégrafos! Como meu pai era altamente radical, rapaz, o CX deixou uma música aqui e uma idéia: você
Praticamente sim. Não profissionalmente ainda, mas eu
naquele momento ele entregou os pontos comigo. Porque tem cara de judeu – eu sou metade cigano e metade ju-
ganhei um concurso de calouro na rádio Liberdade de
a idéia dele é que eu fosse ser médico, advogado... Dotô! deu – a gente vai botar você no Chacrinha vestido com
Sergipe, em Aracaju. E ganhei como prêmio de melhor
É que nem cocô, é a mesma coisa, hoje em dia tem mais uma túnica indiana e cantando uma música que ele fez
calouro um quilo de café Alagipio, o melhor café de Ser-
dotô que cocô, porque comer hoje em dia tá difícil... (risos). Eu namorava a filha do Raul Sampaio e morando
gipe. Fiquei tão puto que abri o pacote e despejei na porta
no Engenho Novo, eu descobri que ele morava lá. Com
da rádio todo o café e depois taquei fogo, ficou um cheiro
Era muito marginal ser músico... isso o RS me botou no meio de música. Um dia eu cheg-
de café insuportável! (risos)
E até hoje é! Eu me considero um marginal social total. uei no Jairo Pires que era o diretor da Polygram, quando
Não me considero uma pessoa normal socialmente não depois de uns 6 meses calhou dele me atender, e quem
Você ainda era amador...
porque eu não admito racismo, nem pobreza, acho que me apresentou a ele foi um cara chamado Marcus Pitter,
Foi a primeira vez que eu cantei
tudo vem de Deus e ele dá aquilo que você merece. Se que na época era ídolo com a música Maria Isabel. Eu
você chega prum cachorro e dá um osso e um monte de estava com o violão do lado e o MP me perguntou: você
Quando você começou a cantar profissionalmente?
bosta, ele vai comer bosta se quiser, o instinto natural toca violão? Quase que eu dizia: não rapaz, eu uso como
Profissionalmente, em termos de disco, participei de
dele vai ser partir pra comer o osso. Acho que é esse o bengala! A bengala é fininha e o violão dá mais apoio!
vários festivais, eu sou compositor, hoje em dia, depois
grande sentimento que tenho... Outro é a frustração do Passei uma harmonia de uma música dele. Era um cara
dessa novela aí fica até esquisito falar, mas eu sou o com-
meu pai de nunca aprender a tocar violão realmente. Eu bonito, na época da Jovem Guarda era mais beleza do
positor do hino da Revolução de 64: o povo brasileiro
me achei num direito, meio abestalhado, meu pai não que gogó, ninguém cantava, inclusive Roberto Carlos,
tem orgulho da nação (cantando)... Chama-se Menina
toca, mas eu vou aprender a tocar essa bexiga. Não sou mas depois ele aprendeu. Está cantando bem! Vocês já
Revolução, agora é Véia Cabação porque ninguém quis
um grande violonista... ouviram Joãozinho e Maria? Nem queiram! Nem Ro-
comer! (risos). A Menina Revolução até hoje é cabaço!
berto quer ouvir, acho que ele quebrou todos os discos,
Profissionalmente falando... mandou exterminar Joãozinho e Maria! Quem tem esse
Mas antes disso, o que foi que te levou pra música?
Mas aí já foi profissionalmente porque quando eu voltei disco está rico! Mas voltando ao MP... Depois de tocar,
Agora eu fiquei embananado porque ninguém nunca me
pra rádio depois de calouro, eu voltei com um contra- ele perguntou: você canta? Eu disse: é, canto. Então cante
perguntou isso... Eu venho de uma família de músicos
to. Gravando disco eu comecei em 72 apresentado por aí!Depois que cantei, ele disse: rapaz, você canta pacas,
frustrados. Meu pai era metido a tocar violão e não tocava
Raul Sampaio compositor de Meu Pequeno Cachoeiro vou lhe apresentar ao diretor agora. Seis meses passando
porra nenhuma, só tocava Abismo de Rosas de Dilerman-
2. 2 MICROFONIA
fome, eu e o Lourenço que era meu parceiro de músicas, A sua história com o rock começou aí?
não tenho vergonha de dizer. Sabe o que é você chegar e Quando eu gravei pela Polygram. Yes, Ten Years After,
ficar esperando o diretor na porta do edifício 311 que o Blood, Sweat and Tears, Crosby Still Nash and Young,
último da Avenida Rio Branco no Rio de Janeiro? Bem, tudo isso foi lançado pela Polygram e eu pegava nos ar-
o MP me levou lá, peguei o violão e cantei uma música quivos pra escutar. Foi logo depois de Woodstock, Janis
pro Jairo que não lembro qual era. O Jairo tirou o sapato e Joplin, que conheci no morro da Mangueira...
jogou na parede: Porra MP porque você não me mostrou Volta e meia você toca aqui. Você tem alguma relação
logo! Coincidentemente Evaldo Braga já tinha me apre- sentimental com a Paraíba?
sentado, mas ele... Aí o Evaldo morreu! Não dizem que Se eu tenho?! Eu adoro Bayeux, o povo da cidade tem
morre o boi pro bem do urubu? Claro que eu não queria um amor por mim incrível. Como em João Pessoa tam-
que Evaldo morresse porque ele era muito meu amigo. bém, e ainda morei em Mamanguape, Rio Tinto, Baía da
Você morou com ele? Traíção, todo esse pessoal
Sim, moramos juntos virgula: eu numa cama e ele lá na desses lugares me deram
outra. (risos). E aí eu gravei meu primeiro LP com Sara uma força. Vila Musical Centro (Centro Histórico)
que era a quinta faixa do lado B, gravei porque era do Lobão, em recente en-
Chico Xavier e eu o achava o maior barato. A primeira
Diego (83) 88757600
trevista quando de pas-
música que estourou foi Se Ainda Existe Amor do Raul Vila Musical Mangabeira (Em cima da Disk Oi)
sagem por João Pessoa,
e Verdade Pura Crua. E depois estourou o disco todinho! mencionou Odair José e Anderson (83) 88771681
Quando eu vi, em seis meses, o menino que num tinha Waldick Soriano como
dinheiro nem pra pegar o trem pra chegar na central e
caminhar da central até a Rio Branco, que deve dar uns
gênios. E daí perguntaram
onde ele via genialidade
EDITORIAL
3 quilometros, em seis meses eu fiquei rico, eu vendi um em Valdick e Odair. O nome brega ainda tem uma Surpresa, sexo e sertão são palavras que começam
milhão em seis meses, deu 5 discos de ouro e uns 10 de carga muito preconceituosa? com a décima nona letra do alfabeto. Ok, isso você
platina. Cheguei em casa com um monte de disco e meu O brega é o nome mais certo que existe. Eu vou lhe ex- sabe. O que você não sabe é que essa tríade encon-
pai disse: esse disco é de ouro mesmo? Não, é só pintado! plicar: eu sou gênio, só pra agüentar minha mulher e uma tra-se nesse # 4. Vejamos: Surpresa – Balthazar
(risos). O segundo disco foi Se Eu Parar de Cantar, o ter- banda doida dessa tenho que ser gênio ou então mato revela sua faceta rocker com atitude numa entrevis-
ceiro Transa de Amor, estourou tudo, um atrás do outro. eles, é o jeito! (risos) Meu gênio pode virar ao contrário! ta inédita. Washington Espínola em terras paraiba-
E daí eu fiz a besteira de sair da Polygram e pra CBS, Eu não acredito em gênio. Eu acredito numa pessoa nas fala sobre seu novo trabalho “Ice Cream Sun”.
aí declinou muito. A CBS tava um bagaço, isso em 78. dotada por Deus com mais ou menos luz. Então, eu acho
Depois fui pra Warner e tem uma história incrível que é Val Fonseca estréia no Amor à Queima Roupa com
que sou uma pessoa bem iluminada, me dou bem com
muito enrolada. Hoje em dia eu tenho uma graça muito todo mundo. Pra mim, gênio tem que fazer uma coisa só A Turma do Xaxado e o tema recorrente do sertão:
grande, porque faço meus shows, com uma banda linda! e muito! Tipo Chico Buarque de Holanda, Milton Nasci- a seca das terras nordestinas. André Cananéa saiu
mento, Jessé que tinha gogó e cantava brega mais do que do mainstream para o underground jornalístico na
Antes da entrevista você falou Beatles ou Rolling todo mundo junto! Um menino que canta muito é Vicente Fahrenheit 451, com o representante mais outsider
Stones... Qual a tua relação com o rock’n’roll? Neri. Você já viu um cantor de forró ser chamado de um do rock na mídia: Keith Richards. Sexo - Pegando
Raul Seixas! Eu fui produtor do Serguei. Eu conheci o grande cantor? Vicente Neri acende minha música! O a deixa do Richards, Atrás da Porta Verde vem de
Guimarães que foi o cara que lançou o Paulo Sérgio, e brega tá voltando em tudo que é lugar! Sabe por quê? verde e amarelo ‘Pisando Fundo’. Nas resenhas
ele queria fazer um disco comigo, mas antes ele tava en- Porque, por exemplo: quando um cantor de brega, na era
gatilhado com Serguei, era uma música chamada Ouro e o CD de estréia do Sodoma nas palavras de Wil-
da internet, tem 200 mil acessos por dia! Porque eu me
Prata. Serguei levou uns 2 dias pra botar voz numa músi- enturmei bem! liard Fragoso (filósofo e baixista) que dissecou um
ca, 2 dias! Porque ele esquecia de cantar. Agora imagina Você falou que tem acende, mas tem gente que apa- trabalho recheado de citações e sexo! É para ficar
nós dois num estúdio, só músico doido. De dois em dois ga... Kika Seixas, por exemplo... de quatro, no bom e no mau sentido! Divirta-se!
minutos todo mundo tossia, rolava um fumo solto, era Eu acho que a atitude da Kika de querer proibir eu regra-
uma loucura do cão! Não é brincadeira não, se a polícia var egoísta e burra, quem me deu a música para gravar foi
chegasse, nem entrava com medo de sair doidão! A gente o marido dela, Raul dos Santos Seixas, natural de Itan-
gravava no estúdio Hawai que ficava no pé do morro, era haém, 20 dias de jegue e 4 dias de trem, era assim que
só assoviar. Muita gente não tem a cara de pau de dizer, ele dizia do lugar onde ele morava. Raul era um produ-
mas eu digo, eu sou um cara com 59 anos, não preciso, tor pequeno na CBS e eu fiz da música dele Se Ainda
estou tomando cerveja sem álcool porque eu achei um Existe amor um sucesso! Como ela quer proibir, quem é
pedacinho de papel onde era o lugar do meu fígado que ela pra proibir. Por que ela herdou? Ela herdou o dinheiro
dizia: vale um fígado! do Raul e algumas centenas de chifres, essa foi a herança
que ela ficou. Hoje em dia eu conto com minha mulher
Eu não acredito em gênio que é uma pessoa que cuida de mim, como se eu fosse um
menininho, D. Marisa – a rainha do ‘vamos’! Ela toma
conta de tudo.
Qual foi o melhor momento da sua carreira?
Acho que todos os momentos das nossas vidas são os
melhores momentos. Onde existe vida, existe uma coisa EXPEDIENTE
boa. Profissionalmente foi quando eu recebi o meu pri- Editores Responsáveis: Adriano Stevenson /
meiro disco de ouro. Olga Costa (DRT – 60/85)
Colaboradores: Alex Alves, Beto L,
Você gravou um álbum recente, não foi? Jesuíno Oliveira, Williard Fragoso,
Eu gravei um breganejo com produção de Toninho, mas Editoração: Josival Fonseca e Olga Costa
esse disco não saiu. Foi uma coisa anti profissional, até Ilustração: Josival Fonseca
anti humana, um cara como Zezé de Camargo que está Agradecimentos: nossos colaboradores e
bilionário, ele não fuma, não bebe, nem come ninguém, Erivan
Contato/Anúncios: 3512 2330
então só guarda dinheiro, criou um problema porque E-mail: jornalmicrofonia@gmail.com
gravei quatro músicas dele sem autorização. Se eu fosse http://facebook.com/jornalmicrofonia
ele, eu teria orgulho, um cara bem mais velho, digamos, Twitter: @jmicrofonia
como se fosse Nelson Gonçalves gravando Carta de Tiragem: 3.000 exemplares
Amor que é uma música minha, eu iria ficar orgulhoso,
não queria nem grana, a satisfação maior era de um cara Enquanto isso na redação...
como ele gravar minha música. Mas ele não pensa da
mesma forma e ele vetou, acabou o disco. O engraçado
que os punhetas desses sertanejos gravaram músicas
minhas!
Quais foram as influencias de Balthazar?
As minhas influencias? Eu tive várias influencias doi-
das... Por exemplo, eu guri, minhas influencias eram bo-
leristicas, Carlos Alberto, Altemar Dutra, que era o que
tocava em Aracaju, não tinha rádio que tocasse rock, isso
não existia. Na rádio Globo eu cantava no programa do
Adelson Alves de vez em quando, e eu fui o único cantor
brasileiro que cantava versão italiana, num programa que
era só de samba!
3. MICROFONIA 3
El Mariachi
SODOMA - SEMPITERNO AGRESSOR (PB) Em mãos, o CD debut da banda Sodoma(Black/Death Metal).Desde o Coelhosomem (Wallace & Grommit) não me sentia tão
apavorado...Grande disco.Superando o trabalho apresentado anteriormente nas demos ‘Sadomazocristo’ (2005)e ‘Renascida em Trevas’ (2008), a Sodoma mostra um desenvolvi-
mento. As canções são certeiras, estruturalmente bem compostas e possuem vários ganchos melódicos que ressaltam a avalanche sonora desencadeada ao longo de Sempiterno
Agressor. Alternando blast-beats,mid e down tempos, o Sodoma dispara riffs e bases diretos que lembram os trabalhos iniciais de bandas como Mutilator, MX, Chakal, Necro-
mancia e chegam aos requintes de bandas mais atuais como Immortal e Behemoth. Os vocais de Daniel Hate são assombrosamente potentes e bem colocados. As guitarras estão
rítmica e melodicamente bem trabalhadas. A cozinha (baixo/bateria) é precisa. Músicas de destaque? Tarefa difícil. Entretanto, ‘Mentor da Fornicação’, ‘Estigmas Jorram Sê-
men’, ‘Suprema Ave Negra’ e ‘Agressor’ sobressaem-se. Ressalvas? (1) Produção burocrática, muito ‘certinha’: faltam graves robustos e, portanto, peso.(2) As letras: as boas
intuições carecem de maturidade de alguns malditos célebres (Baudelaire,Blake, Milton, Augusto dos Anjos, Bandeira, etc.); (3) A arte do disco deixa a desejar: é difícil identificar
o nome da banda, ‘entender’ a capa e ler as informações do encarte. Pena.De todo modo, trata-se de um disco que já nasce ‘cult’. Parabéns. O Coelhosomem está orgulhoso. W.F.
MAHATMA GANGUE - SURFE E DESTRUA (Capitão Lixo/Oxenti Records/Punchdrunk/Raw Recs/Cospefogo/Karasu Killer). Advindos da própria “crater city” – a calorenta
Mossoró, a quase 300 km da ensolarada Natal –, o power-punk-surf-trio formado por Ingrid (voz/guitarra), Pedro (baixo/voz) e Farofa (bateria) produz um ensandecido cruzamento
de surf music (sombras de Ventures e Centurions encharcam a instrumental “Cidade cratera surf” e “Chafurdo na praia”), garage punk à la Cramps (“Fora do ar”) e atitude punk-
ster em geral (ouça o refrão de “O gato” em altos decibéis: “Ainda preciso de mais! Quero armar barulho!”). E a turma do alto oeste potiguar consegue, erguendo micro-crônicas
sociais, como diz a letra de “Com o disco na mão”: “Lá na minha escola, o melhor é pular o muro / lá na minha escola, as garotas não me olham / e eu sou apenas um retardado
com um disco na mão”. Impossível um rocker original não se identificar com a verborragia. No som, riffs ora cadenciados (“Pedais ao infinito”) ora turbinados (“Sudeste 2009”,
em que o trio descreve sua turnê pela supracitada região do país). Gravação crua e suja, digna de nota. E mais: o disco foi lançado graças a seis gravadoras diferentes, sendo cinco
do Brasil e uma do Japão (Karasu Killer). Isso é que é cooperação global. O governo tupiniquim tem que aprender com o Mahatma em como fazer uma gangue correta. A.A.
CONTRATAQUE – CD (PE)
Celo, Adriano e Neilton são nomes que já acompanho a algum tempo no quesito produção. A primeira vez que vi esses nomes foi com o Matalanamão, depois com
a Nação Corrompida e agora Contrataque. Guardando as devidas proporções, eles são a versão HC brasileira de Sly Dunbar e Robbie Shakespeare (dupla jamai-
cana que produziu meio mundo de gente). Nesse trabalho com Contrataque, que é um trio sem baixista, comecei a questionar se o baixo é realmente necessário
nesse tipo de produção. Márcio (guitarra com afinação quase no chão) e Fábio (bateria) em sincronia formam uma ‘cozinha’ sem baixo e fazem a cama de gato para
Batata arregaçar no vocal. Destaques? Vários: Hey Canalha, Minha Igreja é uma Empresa e Minha Empresa é uma Igreja, Paluchiado da Cachaça (do disco Pilo-
gamia do Baião do Quinteto Violado de 1979). A música A Face tem a participação de Cannibal (Devotos). Se você tem mais de 30 tome um relaxante muscular! A.S.
WASHINGTON ESPÍNOLA - ICE CREAM SUN (IMP) O guitarrista paraibano Washington Espinola, atualmente radicado na Suiça, tem uma trajetória musical consistente, baseada na
divisão exata entre o talento e o trabalho. “Ice-Cream-Sun” é o seu disco mais recente e o que concretiza sua nova fase, no qual temos um compositor maduro com suas virtudes sonoras: a melo-
dia pop, a sofisticação instrumental e o rebuscado harmonico. W.E. concretiza nas oito faixas do disco todas suas referências marcantes desde o apelo popster dos Beatles - bem evidente na faixa
título que abre o disco - até a complexidade instrumental, seja erudita, jazzy, progressivo e popular - seria injusto não citar nomes como John McLaughlin, Santana, Yes, Paco de Lucia e Raphael.
Rabello; tudo bem embutido nas suas com-
posições. Ice Cream Sun é um quadro pintado com
as cores da pecualirade do artista que dosou per-
feitamente em partes instrumentais e cantadas. É
um artista persistente e perfeccionista no “modus
operandi”, resultando numa produção esmerada
- entre seus melhores trabalhos - e que deixa a
confirmação de sua busca em renovar e progredir
artisticamente. Interessante é saber que ele ao lado
de sua paixão pela guitarra e se aventura - com
desenvoltura - por novas texturas harmonicas,
ora tocando violão, ora piano eletrico, como por
exemplo nas faixas “La Donna Mata” e “3eme
Dimension”. È um trabalho exuberante, expondo,
de forma singela, toda as facetas sonoras do com-
positor. Excelente disco e super recomendado! J.O
mentos, problemas de saúde da minha nal do blues de ser sexual ou triste. arrumar um emprego, a história do toda hora eu me beliscando – rapaz
ENTREVISTA mãe, etc. Ao mesmo tempo eu estava Um blues alegre é a coisa mais difícil Clark Kent... Quando você está numa é verdade mesmo?! Foi fantástico!E
bem de saúde, mas foi um ano difícil. do mundo (risos). situação que quer fugir, deixar tudo, e o McLaughlin eu já encontrei umas
Washington Espínola Esse disco foi gravado durante todo é bem isso aí. cinco vezes. Dos cantores acho que
ano de 2010, na verdade. Comecei a Ice – Cream – Sun... não conheci nenhum de ficar muito
gravar em abril, maio. Uma música Eu gosto muito da letra. Ice-Cream- Essa música lembra uma do R.E.M. tempo conversando. Teve uma vez
foi gravada na França e as out- Sun É aquela história do inverno. A que tem o mesmo nome... O apelo num show de Sting, que o Abe La-
ras foram gravadas no estúdio Music minha idéia foi o seguinte: eu estava pop é o mesmo... boriel Jr. tocou com ele. Quando
Store, onde o Phil Collins ensaia. Ice em casa num inverno de lascar, só Bem, depois de percorrrer toda terminou o show fui no backstage e
Cream Sun eu compus no piano. É que tem dias lindos, um sol maravil- essa estrada, décimo terceiro disco, fui falar com o cara, a primeira coisa
uma música que começa com gui- hoso, mas ao abrir a janela é uma ge- quem das suas influencias, você que perguntei foi: bicho, como é to-
tarra, mas eu comecei pela primeira ladeira. A minha idéia era dizer que o gostou mais de ver no palco, de car com Paul McCartney? Ele super
parte, porque tem uma parte de piano sol é um sorvete de sol, mas eu queria conversar? simpático disse: eu fiz um teste, me
no meio, que é bem Supertramp... Eu que ele derretesse para ficar quente. E De conversar mesmo foi o John aceitaram e até hoje estou tocando.
Foto de Edival Varandas
não sei... Quando eu comecei a can- depois eu me dei conta do “I scream” Mclaughlin e Jan Akkerman (Fo- Falou que o disco preferido dele dos
tar em G.R.U.E., foi onde começou a que faz sentido também cus). Infelizmente perdi o contato Beatles era o Revolver...
grande mudança. A questão era mais com Jan Akkerman, não sei onde
escrever as letras, como me expressar Ice-Cream-sun são as duas partes ele anda, ele é meio esquisitão, não
e o que dizer, porque na verdade você de Washington Espínola, a neve gosta de avião... David Randall que
pode dizer I Love you, I Love you e onde você está hoje e o sol de onde é um cara de Liverpool que tem até
I Love you, tem mil maneiras e meu você veio... hoje The Musical Index, conversando
problema era esse, de dizer alguma Pode ser também! Eu sempre guardo com um dos meus melhores amigos
coisa séria e importante e ao mesmo o sol dentro de mim. As pessoas me lá na Suíça sobre o Focus, achamos
tempo não dizer porra nenhuma como perguntam como consigo rir, no in- na internet o contato desse cara, que
Na beira-mar numa tarde de sábado, “I am here as you are me”, só curtir verno de lá. E me perguntam: Tá rin- era o manager do Jan Akkerman e
sentado na calçadinha da praia do mesmo, usar as palavras apenas pela do por que? E responde: bicho, tem mandei um e-mail dizendo que era
Cabo Branco, com o cheiro da ma- sonoridade, como é o caso de Ka- que rir senão dou um tiro no ouvido um fã e que queria enviar alguns CDs Hoje eu estava contando para o
resia na atmosfera, o guitarrista e limera... ou pulo do primeiro avião. E tem o meus pro Akkerman. Depois de uma Adriano que, eu e você, fomos
compositor Washington Espínola, tal do vento mistral que entra até no semana recebi a resposta dizendo que numa viagem à Recife pegar uma
radicado na Suíça há mais de 10 Você é que nem o Geddy Lee, que pensamento! ele tinha gostado muito do meu tra- guitarra com o Herbert Vianna,
anos, falou pro Microfonia sobre seu nunca gostou de fazer letras... balho e perguntando o que eu estava lembra disso?
novo trabalho: Ice - Cream - Sun. Não, porque eu sempre quis fazer. Eu Vamos falar agora de outra música fazendo na Suíça. Bom, o cara deve Era uma guitarra de jazz, uma Aria,
Ice – Cream – Sun! sempre adorei cantar. Não sou can- chamada Superman... está sendo simpático, pensei. Um dia tenho umas fotos com ela com o meu
I scream very loud! (risos) tor, mas canto, tecnicamente eu não Essa música é interessante. Eu gosto recebi um outro e-mail dizendo que primeiro trio lá na Suíça... E ficamos
sou cantor. Meu problema era me dessa música. Tem um trabalho vo- o Akkerman iria tocar em Liverpool hospedados na casa do seu primo...
A que você atribui o fato desse seu expressar. Lembro de uma conversa cal... Detalhe, eu terminei a música e o manager disse que se eu quisesse
último CD ter elementos mais pop, com Sílvio Osias e eu indagava todinha, fiz no piano também, gra- poderia assistir ao show e que depois Isso! Até hoje ele lembra que a gui-
além da música instrumental e de exatamente isso, o que é que vou vamos tudo e eu só tinha a primeira ele me apresentaria ao Jan Akker- tarra do Herbert Vianna ficou na
todas outras influencias ao longo da dizer, pois, basicamente, tudo já foi frase: Wish I could be like a super- man. Eu eu fui! Desci no aeroporto sala dele por algumas horas... O
sua carreira... dito, depois de Dylan, depois de Chi- man/Fly away... E daí eu vou pra John Lennon airport. O J.A. não voa, que aconteceu com ela?
É difícil dizer porque 2010 foi um co Buarque... Mas ao mesmo tempo onde? Me perguntei... Em que lugar não gosta de voar e ele iria dirigir Tá lá em casa! Em cima da minha
ano muito difícil pra mim. Aliás você você tem a entonação, tem o sentido eu vou desenvolver isso? Um belo até New castle, que é longe, e na estante. Até pensei em traze-la pra cá
é a primeira pessoa com quem co- e depois eu descobri que podia contar dia, já estava mixando o disco, aí hora de dividir, o Randall disse: vá e usá-la no show, mas eu estava sem
mento isso.Tive vários problemas, histórias como em Blue Shoes do tra- veio o resto da letra da música, a se- ali com o JA! E fomos conversando um hard case, porque o soft case no
um deles foi ter dado bobeira e le- balho anterior. Até os ingleses gostam gunda parte: mesmo o super homem a viagem inteira, conversando sobre avião destrói o instrumento, achei
varam minha bolsa com meus docu- da letra, e foge do contexto tradicio- tem problemas como se apaixonar ou música e escutando o meu disco! E melhor não trazer nessas condições...
4. 4 MICROFONIA
Atrás da porta verde Amor À Queima Roupa Fahrenheit 451
Pisando Fundo
Série Celebridades (2009) 70 min.
O problema dos filmes nacionais é que não pas-
sam de cenas sem ligação. Pisando Fundo não Turma do Xaxado (Ed. IMEPH)
prova o contrário, mesmo com atrizes gostosís- Anos atrás já tinha conhecido o Xaxado, e no Editora Globo, 630 págs, R$ 60 em média
simas como Julia Paes e Cléo Cadillac, a frieza início deste ano ganhei de presente de uma Poucos caras personificaram tão bem o trinômio sexo,
das duas é uma constante. A cena que se pode amiga de trabalho quatro volumes da “Turma drogas e rock ‘n’ roll como Keith Richards: foi casado
destacar no filme é a inicial que, mesmo com do Xaxado” (Ed. IMEPH). Foi aqui que me fa- com as estonteantes Anita Pallenberg e Patti Han-
todo gelo das garotas, tem a vantagem de ambas miliarizei mais com o personagem criado pelo sen; é um dos mais famosos junkies da música pop;
terem corpos exuberantes, que a maioria dos e é autor dos riffs de grandes clássicos dos Rolling
baiano Antonio Cedraz, publicado primeira-
homens gosta. A cena começa numa banheira e Stones, a maior banda de rock em atividade no planeta.
mente no Caderno dos Municípios do jornal A A vida de um sujeito assim só poderia dar um bom
acaba numa cama, com as duas atrizes trocando Tarde, a partir de 20/01/1998, e quatro meses livro. E deu. ‘Vida’ autobiografia do roqueiro mais
beijos muito discretamente. As outras cenas são depois passou a ser publicado diariamente no figura de todos os tempos, é uma deliciosa nar-
desconectadas, como disse, mas elas se mostram Caderno 2, do mesmo jornal, e não parou mais. rativa cinematográfica, repleta de drama, paixão,
mais experientes. Mesmo assim, não deixe de Xaxado é neto de um dos cangaceiros de Lampião comédia, aventura, suspense e, claro, música.
assistir, pois os tarados de plantão (no bom e que através de suas tirinhas bem humoradas
sentido) irão se deliciar. Até a próxima e use mostra a realidade do povo nordestino. A seca, a E o que torna ‘Vida’ um livro delicioso é o fato de que:
camisinha!B.L. a) o texto (escrito pelo ghostwriter James Fox) tem a
fome, o coronelismo e a fé do povo sofrido são
fluência de um romance de Dan Brown; b) a verve ácida
retratados de forma triste como a conhecemos. de Richards provoca passagens hilárias e, c) não se trata
Mesmo com toda a beleza e maestria de sua escrita apenas do guitarrista do Rolling Stones, mas da pessoa
e cores, é forte o estigma da seca como plano de Keith Richards, camarada família que tem uma biblio-
fundo e que nos remete ao descaso como o nordes- teca incrível (revela que é louco por livros de História),
tino é tratado pelos políticos, que só pisam naquele uma cultura consistente, opinião formada sobre política
chão quando em busca de votos para se elegerem. e justiça e, acima de tudo, é um sujeito de coração ab-
Xaxado é uma obra pra crianças e também para erto, de paixões intensas, apaixonado e apaixonante.
adultos, sem sombra de dúvidas, é tão denso e
Como é de se esperar, Richards não tem papas na língua.
politizado quanto às tiras de Mafalda e outros Não se furta a nomear o professor pedófilo que havia na
personagens que abordam assuntos sérios por escola, fala sem restrição dos circos armados pela polí-
trás do bom humor. Xaxado e sua turma já ti- cia e a mídia, que o puseram (junto com os Stones) sob
veram materiais diversos publicados Brasil afora os holofotes, aborda abertamente seu relacionamento
e até no exterior, em revistinhas, livros didáti- turbulento com Anita Pallenberg (incluindo o chifre que
cos e uma série de outros produtos. Em abril de botou em Brian Jones, e também o que levou de Jagger)
2010, a Editora HQM lançou em banca uma re- e é inacreditavelmente franco quando fala sobre drogas,
e de como não foi trouxa de se deixar levar por elas.
vista mensal de 32 páginas ao preço de R$ 2,90.
Muitos dos episódios folclóricos envolvendo a car-
O tema em torno da seca do sertão é tão forte que reira de Richards estão lá, incluindo o mito sobre a
é abordado nas escolas e faculdades na educa- troca de sangue na Suíça e o escândalo de que ele
ção de nossa nação. Com uma leitura agradável, teria cheirado as cinzas do pai, misturadas a cocaí-
Xaxado dá o tom da simplicidade e do humor na (cheirado sim, com cocaína, não), além de dois
de uma realidade complexa e bem triste. J.F. acidentes graves que quase arruínam sua cabeça.
E claro que os maiores quiproquós envolvendo sua
Não Vamos a La Playa trajetória estão lá, na visão franca e ácida de Rich-
ards, incluindo a grande briga que ele teve com Jag-
ger, quando, segundo ele, a fama teria subido a ca-
beça do vocalista, mesmo depois de tantos anos.
E embora este não seja um livro sobre os Rolling
Stones, Keith Richards aproveita para revelar um
pouco dos bastidores de shows, músicas e discos, so-
bretudo entre o final dos anos 60 e o começo dos 80
(depois disso, tudo é muito pontuado, inclusive a
passagem da banda pelo Rio de Janeiro em 2006).
Não sendo um livro sobre os Stones, sobram páginas
para que Keith Richards possa compartilhar suas lem-
branças na França e também na Jamaica, onde chegou
a morar por um tempo. E encontra espaço para abrir
Av. Nego, 200, Tambaú (João Pessoa-PB) sua intimidade, como a relação com o primogênito
Telefone: (83) 3227.0656 Marlon ou um safári que fez com a família na África,
Email: vendas@comichouse.com.br até a decepção que teve com um de seus maiores ído-
Twitter: @Comic_House los, Chuck Berry, na época em que ajudou a produzir o
filme Hail! Hail! Rock’n’Roll (1987).
‘Vida’, essa autobiografia de Keith
Richards, só tem um problema: ela acaba!
André Cananéa - Jornalista, editor do caderno Vida
& Arte do Jornal da Paraíba, pai dedicado, cos-
tumava gastar 80% do salário em livros e dvds.